www.uniaonet.com/bnovascronicas.htm
www.cronicasdopastor.hpg.com.br
ÍNDICE das Crônicas disponíveis :
1
- E ASSIM COMEÇOU O MEU NATAL
2 - QUANDO O CORAÇÃO AJUDA A MENTE
3 - LAZER E... HARRY POTTER
4 - ENCONTREI MEU NOME !
5 - MEU PEQUENO JASON.
6 - PREGAR: QUE BÊNÇÃO !
7 - CORAGEM.
8 - SE EU MORRESSE AMANHÃ
9 - E AINDA ESTOU AQUI...
10 - EM POUCAS LINHAS.
11 - É MAIS FÁCIL ASSIM...
12 - OS QUE CONFIAM NO SENHOR.
13 - QUEM SOU EU?
14 - MANTENDO-SE NAS ALTURAS.
15 - MEU COMPROMISSO.
16 - PROCURA-SE.
17 - OUSAR É PRECISO.
18 - UM DIA.
19 - O PORÃO.
20 - MEMÓRIAS DE UM PÚLPITO.
21 - DESAFIO PARA OS CRENTES.
22 - NATAL - UM MILAGRE!.
23 - O NATAL ATRAVÉS DOS SÉCULOS.
24 - DOIS TEMPOS DE NATAL.
25 - QUANDO TUDO PARECIA PERDIDO...
26 - NO LUGAR DO OUTRO.
27 - O ABECEDÁRIO DE DEUS.
28 - A ARMA SECRETA.
29 - 2002 - CINZAS OU ARCO-ÍRIS?
30 - CAMINHANDO NO PASSADO.
31 - EPÍLOGO
( em 26/02/2003
no endereço : www.cronicasdopastor.hpg.com.br)
Outros textos Disponíveis
nesta página :
32 _ UM DOMINGO
ANTES DO NATAL (12/2003)
33 _ Revendo o Caminho
(12/2003)
34
_ O TELEFONE TOCOU, ( NATASHA & LUCIANO )
35
_ Pastores Batistas Unidos
36 _ Crônicas de verão de 1 : AROMA
DE PINHO CAMPOS DO JORDÃO . 2 :TORNEIRAS SECAS . 3 :TÍTULOS
VAZIOS e 4 : PALAVRAS MEDICINAIS
37 _ SER PASTOR ( enviada em 07/02/06)
38 _ Flor de Maio ( 1 a 8)
( enviada de 02 a 29/05/07)
04.ENCONTREI MEU NOME!
Eu tinha apenas 14 anos,
e já notava o quanto as pessoas consideravam aquela senhora repulsiva.
Seu nome era Conceição. Trajava
uma blusa azul rasgada, uma muleta metálica toda esfolada, um
prendedor de cabelos amassado, um vestido até os joelhos e sempre
se sentava no último banco.
Sabíamos que nunca a igreja
ficaria fechada, fosse no Carnaval, com os retiros, fosse no dia
de Ano Novo, Natal, Dia da Pátria ou qualquer outro evento em
que quase todos viajassem. A irmã Conceição não faltaria. Isso
era tão certo quanto dizer que Belo Horizonte fica em Minas Gerais.
Mulher pobre, morava com uma filha solteirona.
Notava-se que tinha pouca
higiene, não por ser suja, mas por ser idosa e não haver pessoas
que cuidassem dela. Seus outros filhos eram todos já sessentões
e haviam seguido caminhos tortuosos, alguns eram bêbados, outros
vagabundos, enfim, não era o que se esperava de uma família cristã.
Ah, mas isso fora resultado
de uma vida sem Deus em outros tempos. Vinda de Portugal, Conceição
não tinha o temor do Senhor.
Viúva precoce, lutou como
poucas para sustentar os seus filhos. Lavou roupas, foi doméstica,
fez salgadinhos, ela foi uma heroína. Agora, idosa, já pelos 90
anos, estava na época de usufruir da gratidão dos filhos que,
infelizmente, não acontecia.
Há alguns anos Conceição
conhecera a Cristo durante um culto ao ar livre. O irmão Idelino
Lopes de Oliveira, hoje Pr. Idelino, pregava num culto da pracinha.
Conceição o ouvia com atenção, até que, não podendo mais evitar
a emoção e o desejo, entregou-se a Cristo, tornando-se naquela
tarde mais uma remida pelo Cordeiro de Deus.
Foi batizada e desde o início
tornou-se membro de nossa Igreja (Batista de Sumarezinho, São
Paulo, SP). Eu, convertido aos 14 anos, já a encontrei com anos
de igreja.
Mas eu percebia algo impressionante:
Conceição nunca fora eleita para cargo algum. Seu nome nunca fora
cogitado para nada, nunca compôs qualquer comissão, jamais
estivera à frente de qualquer atividade da igreja.
Aliás, as pessoas nem gostavam
muito dela, principalmente de pedir-lhe que orasse. Suas orações
eram longas, comovidas, sua voz era trêmula, suas palavras difíceis
de se entender, com mistura de sotaques.
Geralmente ela entrava muda
e saía calada, apesar de alguns a cumprimentarem quando não tinham
outra opção. Pela manhã e à tarde, ao abrir os portões,
a zeladora contemplava Conceição, a primeira a chegar. E ao término
das atividades, quando a bênção era impetrada, Conceição ia embora,
descendo a ladeira, mancando com sua velha bengala.
Quantos problemas nossa igreja
passara em 4 anos! Problemas com membros, problemas entre igreja
e pastor, problemas de saúde, problemas de assalto, problemas
de toda espécie.
Mas, miraculosamente, no
meio das aflições e da expectativa de estarmos no final da estrada,
sem a mínima possibilidade de solução, sem futuro, uma bênção
inesperada acontecia, um novo caminho e uma brilhante solução
despontava ante os olhos estarrecidos e estupefatos de toda a
congregação.
E, ao darmos graças, lá estava
Conceição, quietinha, lágrimas nos olhos e sempre uma palavra
de Conforto para nos dar.
Deixei a igreja para congregar
em outra. Foi lá na outra que recebi a notícia:
Conceição adoeceu e quer
vê-lo. Meu Deus, ela adoecera mais ainda? E agora? Fui visitá-la.
Tadinha, sofria tanto naquela cama, sem cuidados, mas estava tão
feliz e alegre! Ela orava, e orava, e orava!!! Não havia o que
confortá-la.
Eu é que saí confortado!
Certa noite o pastor disse que ela pediu para que deixassem-na
partir para a Glória Celestial, pois Jesus a chamava. E Jesus
a levou.
Passados os primeiros dias,
a igreja tomou conhecimento de um tesouro inigualável, algo assustador,
maravilhoso, celestial, impressionante. Entre os seus míseros
e parcos pertences (um móvel velho, sua cama quebrada, seus farrapos
de vestir, seus velhos objetos e bíblia), encontraram cadernetas.
Havia cadernos e mais cadernos,
cadernos surrados, cadernos velhos, rotos, costurados, amarelados,
com letras tão mal-escritas, à lápis, à caneta, à pena, cadernos
escritos por dentro e por fora. Eram os CADERNOS DE ORAÇÃO.
Descobrimos que Conceição
era muito mais do que qualquer um de nós poderia imaginar. Encontrei
o meu nome naquele caderno.
Encontrei quando entrei na
igreja como visitante, encontrei quando adoeci mortalmente em
1982, encontrei anotações de agradecimento, e pelo futuro ministério
que um dia teria. Encontramos os nossos nomes todos ali.
Aos poucos começamos a entender
porque Sumarezinho nunca sucumbira ante os ferrenhos ataques terroristas
do Diabo: Conceição não dormia, ela orava!
Ela clamava!
Vi o nome de quem nunca a
cumprimentou! Vi o nome de pessoas que a chamavam de "velha fedida"!
Vi o nome de gente granfina que nunca imaginou ser alvo das orações
de alguém.
Ali estava um tesouro incomensurável,
em "vasos de barro", em papel velho e amarelo, que representava
muito mais do que todos nós um dia já havíamos oferecido a alguém
ou a Deus.
O meu nome estava lá. Cada
situação, cada dificuldade, Cada desafio. Conceição orava por
mim. E por que? O que eu havia feito para merecer as suas orações?
O que os pastores que nunca
a recomendavam para cargo algum faziam para figurar em suas constantes
súplicas? Cada presidente da República, cada artista de TV, cada
pregador visitante, cada criancinha que nascia, estávamos todos
lá, sendo apresentados a Deus pela Conceição.
Minhas palavras na época
foram: "Meu Deus, quem ocupará o lugar dela?" Ninguém. Aliás,
ninguém de que se tenha notícia, pois pode bem acontecer de outra
Conceição ter se colocado "na brecha" e esteja orando, orando,
orando...
Como sinto vergonha, dor,
rubor de faces, ante a grandeza da Conceição e a minha pequenez!
Ela nunca pediu NADA para si, nada havia em seus cadernos por
si própria, mas pedia tudo para os outros! Que resignação, que
vida em prol do próximo, que abnegação desmedida!
Conceição é uma das heroínas
da fé que passearão com Cristo com vestes resplandecentes e coroa
na cabeça. Em lugar da muleta terá palmas para saudar o Rei por
quem viveu o tempo todo em que foi crente. Seu nome está não em
um caderninho, mas no Livro da Vida do Cordeiro!
E eu me pergunto: quem, além
da Conceição, foi tão esquecido quanto ela? Nós não éramos dignos
de uma mulher de sua qualidade e coração! Ela foi "um dom de Deus"
para nós, foi a nossa intercessora.
O que eu tenho sido nas mãos
de Deus? O que nós temos sido diante d'Aquele que um dia teve
aos Seus serviços uma serva como Conceição?
Quisera eu que mais Conceições
surgissem hoje. Talvez pela falta delas é que nossas igrejas
estão tão pobres espiritualmente, ainda que muitas tenham tesouros
que a traça corrói e os ladrões roubam! As riquezas que Conceição
buscava as nossas igrejas hoje têm esquecido, por isso cambaleiam
ante os "Boeings" que o Diabo-Terrorista atira contra as nossas
estruturas interiores.
"Senhor, obrigado porque
um dia houve uma Conceição que orou por mim". Obrigado porque
as orações dela foram atendidas. Ajuda-me, Senhor, a seguir o
exemplo daquela tua serva, há tantos anos dormindo em Cristo,
para que novos heróis e heroínas na fé se apresentem para ocupar
a
brecha que ficou vazia.
Em nome de Jesus. Amém."
Pr. Wagner Antonio de Araújo
Jorge Pedrosa_21/06/06
Prezado Pastor Wagner Antonio de Araujo, Li uma longa e linda
história sobre uma senhora de nome Conceição ( www.uniaonet.com/bnovascronicas.htm
) e
cujo relator era o senhor. Gostaria de saber se esta história
é real mesmo porque foi muito significativa para minha vida, certamente
esta história mudou o rumo da minha vida porque hoje sinto que
estou com uma doença grave, embora em alguns exames nada tenha
aparecido de relevante, mas tenho sentido e tenho orado muito
mesmo. Nunca orei tanto e como esta senhora citada, tenho orado
com muito amor por tantas pessoas, não tenho esquecido de ninguém.
Não tenho a intenção de trocar nada com Deus, pois sei bem que
um simples toque de Deus, estarei curado de qualquer que seja
a enfermidade e hoje já não sinto mais medo de morrer porque sei
que estarei no descanso eterno com o Senhor, mas quero fazer a
Obra de Deus. Só tenho 45 anos de idade e agora despertei definitivamente
para esta necessidade de servir verdadeiramente ao Senhor, muito
embora eu já estivesse dentro de Igreja Evangélica há muito tempo.
Chegou a hora de eu trabalhar, levar o Evangelho de Jesus, levar
a Palavra viva de Deus e que já estou fazendo. Por isso peço a
Deus mais uma chance de viver com saúde para serví-lo e mais nada.
Peço que o senhor ore por minha vida, para que Deus me cure de
qualquer possibilidade de estar com uma grave enfermidade e que
me escreva, por favor. Estarei, como a dona Conceição, orando
por sua vida e por sua família por muitos anos. Um grande abraço
e a Paz do Senhor Jesus! Jorge Antonio de Almeida Pedrosa Florianópolis/SC
recebi esta mensagem de uma irmã da Igreja Cristã Maranata
de Ubá/MG.
|
09 - E AINDA ESTOU AQUI...
Corria o ano de 1982. No auge dos meus 17 anos, lá estava
eu, buscando servir a Deus, na Igreja Batista de Sumarezinho.
Já havia sido professor de Escola Bíblica Dominical,
presidente da União de Jovens, líder de juventude na
associação de igrejas batistas da região oeste da capital,
etc. Eu não era o melhor. Havia muitas outras pessoas
melhores do que eu, mas, citando o poeta, "Havia gente bem melhor, mas o meu nome eu escutei..."
E, se eu escutara o meu nome, nada mais importante para
mim do que servir ao Senhor. Era estudante colegial
à noite e auxiliar administrativo no BCN SERVEL de Alphaville,
em Barueri, Grande São Paulo. Comecei ali como office-boy,
e, digo sem pestanejar: foi a melhor fase da minha vida,
em termos profissionais!
Contudo, era época de primavera. As rosas desabrochavam
nos jardins, mas as chuvas da primavera traziam também
alguns virus, algumas enfermidades. A molecada contraiu
catapora. Eu, que não era vacinado (no meu tempo de
bebê não havia o remédio disponível), acabei por contraí-la.
O médico da empresa deu-me uma semana de licença. "Que
bom! Vou descansar!" Descansar? Como? Coçava
tudo! Eu não parava de me coçar, tinha febre, e até
a fome havia perdido, o que realmente denota uma enfermidade
considerável para mim...
A semana passou rapidamente. Meu pai rumara para Salvador,
para participar do Centenário dos Batistas Brasileiros.
Fora com a Igreja Batista Betel, com o saudoso caravaneiro
Pr. Silas Mello. Mamãe e meu irmão é que estavam em
casa.
No dia marcado retornei. O médico, como de praxe, examinou-me
detalhadamente. Ao usar o estetoscópio no meu peito,
fez cara de suspense, ficou pálido e não parava de auscultar-me.
Perguntei-lhe o que era. Ele nem respondeu. Preparou
uma guia de internação para o ambulatório central. Gelei.
Caro leitor, você também não ficaria atônito? Eu fiquei.
Liguei para a minha mãe, que rumou logo para a Vila Mariana.
Eu fui de carro da empresa. Lá chegando, o outro médico
me examinou. Imediatamente tomou o telefone na mão:
ligou para uns 4 hospitais, gritando com os atendentes
que me arrumassem uma vaga, porque era caso de vida
ou morte. "Vida ou morte?!!"
Por fim, corremos ao pronto socorro do Hospital São Joaquim,
na Beneficência Portuguesa. O médico exigiu todos os
exames novamente. Surgiu em mim a esperança de que fosse
tudo um grande mal-entendido. Pedi à minha mãe que me
preparasse aquele bife à milanesa para o jantar, porque
tinha confiança de estar em casa à noite.
O médico, depois que obtivera o resultado dos exames,
chegou de mansinho, colocou a mão no meu ombro e disse:
"Está vendo aquela maca? Está vendo aquele soro? Está
vendo aquele enfermeiro? É tudo para você. Suba, porque
você será internado imediatamente na UTI."
Amigos, minha mãe, pobre mulher, começou a chorar desesperada.
Os filhos eram toda a sua riqueza. Mulher sofrida, de
corpo frágil pelas interpéries até então enfrentadas,
agora ficara frente à frente com um destino devastador!
O médico confidenciara-lhe que o meu caso era gravíssimo,
provavelmente irreversível. A catapora havia infeccionado
vários órgãos do meu corpo, principalmente o coração.
Não sabiam bem o que fazer, mas iriam tentar de tudo.
Incentivou-a, porém, a deixar as documentações em ordem,
a verificar preço para caixão, as formalidades de sepultamento,
etc. "Minha senhora, talvez ele não passe desta noite".
Eu, deitado naquela maca, imaginava um jeito de fugir
dali. Detestava hospitais, morria de medo de injeções,
tinha ânsia de vômito com o cheiro forte de éter, estava
no lugar onde eu realmente não queria estar.
O elevador demorava a chegar. Quando chegou, o enfermeiro
gritou com a ascensorista, dizendo: "Você quer que o moleque morra no elevador?"
Pensei: "Meu Deus, o que estará
acontecendo?" Ao chegar, obrigaram-me a
me despir. Fim do meu sonho de fuga! Fugir nu era demais
para mim. Resignadamente e à força, submeti-me ao hospital.
Logo colocaram-me um soro, deram-me umas seis injeções
doloridas, rasparam o meu peito, ligaram eletrodos,
três máquinas com o mapeamento do meu coração, cérebro
e outras funções. Enfim, virei um autêntico "ROBOCOP" enferrujado... Logo o companheiro
do lado veio a falecer - minha primeira experiência
dura com a morte! Vi várias ali. Escutei gritos aterrorizantes,
de pessoas que desciam da cirurgia, que não suportavam
a dor da enfermidade, e que partiam deste mundo cheias
de sofrimento. Logo depois transferiram-me para um quarto
isolado, pois eu era uma ameaça à saúde de todos: estava
convalescendo da varicela...
Lá fora, minha mãe tentava encontrar forças para voltar
para casa. Ligou para a Mocidade da igreja, que correu
ao hospital, visando receber informações, boletins médicos,
etc. Meu pai foi notificado e estaria voltando assim
que fosse possível. O pastor da igreja também estava
em Salvador. Segundo minha mãe, foi uma noite não dormida,
foi uma noite de vigília. No domingo, segundo dia de
UTC - UTI, o médico de nossa igreja foi visitar-me.
Ao falar com a junta médica, ao reunir-se com a equipe,
muniu-se de informações preciosas. Seu testemunho no
culto da noite em nossa igreja foi: "Irmãos, eu sou médico, falarei como profissional
da medicina. Nosso irmão Wagner está com uma enfermidade
terrível. Só um milagre poderá tirá-lo de lá. Oremos
para que ele parta em paz e que Deus console a família".
Comoção geral.
O meu coração batia sem ritmo. Parava um pouco, batia
um pouco, semelhante aquele comercial de companhia aérea,
onde diziam "viaja um pouquinho,
descansa um pouquinho, etc." Numa das passagens
de turno médico, (eu não dormi um minuto dos 3 dias
e meio de UTC - UTI), os médicos disseram: "Às três horas ele teve princípio de infarto; às 5
ele foi socorrido com medicamentos por ameaça de derrame,
etc". Enquanto diziam isso, o meu coração
disparou. Perceberam que estavam falando muito alto
e que eu estava ouvindo.
"Acho que vou morrer". Foi
a conclusão a que cheguei. Naqueles três dias fiquei
amarrado a 4 enfermeiras, cada uma com um turno de 6
horas. Elas eram as únicas pessoas com quem eu podia
conversar. Em sendo JESUS o meu grande assunto, acabei
por contar toda a história da criação, a formação do
povo de Deus, os reis, os profetas, o ministério de
Cristo, os atos dos apóstolos, as profecias do fim do
mundo, etc. Acredito piamente que, se eu ficasse um
pouco mais ali, as enfermeiras é que precisariam ser
internadas. Elas não me suportavam mais! Mas o que é
que eu podia fazer? A boca fala do que o coração está
cheio, e eu tinha que lhes falar como estava feliz por
ter Jesus no meu coração!
Fiz uma oração. Lembro-me dela, porque foi um verdadeiro "a.C./d.C."
na minha vida. Eu disse:
"Senhor, eu acho que vou morrer hoje. Talvez amanhã, não
tenho bem certeza, mas as coisas estão muito difíceis.
Quero agradecer-te pelos 17 anos que vivi. Senhor, quantas
coisas eu pude fazer! Estudei, brinquei, chorei, apanhei,
conheci lugares, me converti, trabalhei na igreja, falei
de Jesus, foi muita coisa boa. Muito obrigado. Quero
que o Senhor me perdoe as faltas que me são ocultas.
Mas gostaria de pedir-te uma coisa: gostaria de não
morrer. É possível, Senhor? Bem, se o Senhor achar que
é, então eu farei uma coisa, quando sair daqui: serei
pastor. Não estou chantageando a ti, ó, Deus. É uma
oferta de gratidão. Terei prazer em fazê-la. Em nome
de Jesus. Amém."
Acalmei o coração. Nessa hora entrou na UTC o Dr. Hugo,
um venezuelano. Levaram-me de cadeira de rodas à sala
de um moderno equipamento recém-instalado no hospital,
um tal de "ultra-som". Eu já não andava mais. Colocado
em outra cama, recebi aquela dose generosa de gosma
pelo peito. O médico começou a apertar uma espécie de
microfone na gosma espalhada, e via um monte de chuviscos
num monitor ligado ao equipamento. Enquanto ele passava
a máquina em mim, uma listagem saia do computador. Quando
ele leu a listagem, saiu correndo no corredor, gritando:
"Potássio! Potássio!" Logo
uma enfermeira, junto com ele, trouxeram outro soro.
Arrancaram o que estava em mim e puseram o novo. Quando
o líqüido correu a minha veia, eu gritei no corredor.
O médico mandou adicionarem xilocaína, mas, de forma
alguma deixassem de me injetar aquela substância.
A igreja orava. O povo clamava a Deus. Meu pai e o pastor
chegavam de viagem. A mocidade estava triste, apreensiva,
aguardando nas misericórdias do Senhor, que são a causa
de não sermos consumidos.
Após dois vidros de soro e umas 3 horas depois do início
do processo, o meu coração foi ganhando ritmo, ganhando
nova vida, entrando na normalidade, e eu fui sentindo
sono, um gostoso estado de sonolência benfazeja. Quando
acordei, estava num quarto. Era o sexto andar da ala
nova do hospital. Eu tivera melhora. Deus ouvira as
orações, em especial a minha, que era o maior interessado
no assunto. Ele concordara com o oferecimento que fizera.
Seláramos um acordo com aquela dedicação. Foram mais
9 dias de hospital. Fiquei sabendo do meu problema:
eu nascera com uma grave disfunção genética, má formação.
O nome das enfermidades que eu tivera: miocardite, endocardite,
taquicardia crônica, prolapso da válvula mitral, ausência
generalizada de potássio no sangue. Não sou médico,
não entendo disso, mas sei que eu deveria estar morto,
à luz das estatísticas. Mas estou aqui, vivo para a
glória de Deus. Bendito seja o Senhor, o médico dos
médicos, doutor dos doutores, que tudo faz como lhe
apraz!
Os nove dias de quarto normal foram inesquecíveis. Os
enfermeiros marcavam em seus relógios o horário das
22 horas. Vinham uns 15 no meu quarto. Lá eu pregava
num culto improvisado e só eu e outros 3 cantávamos,
porque os outros nada sabiam. Dos três que cantavam,
dois eram desviados do Evangelho e só um era crente
fiel. Ao final, bendito seja Deus, 8 decisões ao lado
de Cristo. Aleluia! Cheguei acompanhar a história de
alguns deles.
Setembro de 1982. Dezembro de 2001. Estou há 19 anos vivendo
um tempo extra. Cresci (e engordei também...). Tive
recaídas, tenho crises de quando em quando, tomo 18
comprimidos diários, faço acompanhamento, mas, quem
me vê, é incapaz de dizer: "ele é doente". Exceto pelos
exercícios físicos, dos quais sou proibido, levo uma
vida absolutamente normal. E por que? Porque Deus quis
assim.
E eu sou pastor. Ó, inaudita felicidade, pude cumprir
a minha parte da oração! É claro, eu já pensava nisso
desde os 14 anos, mas ali foi o meu chamado absoluto!
E aqui estou, com 10 anos de caminhada pastoral.
O futuro? O futuro para mim é Cristo. O passado? Dias
inesquecíveis com o Senhor. O presente? Bem, o presente
eu posso construir. A nossa vida é a colheita do que
semeamos. Quero continuar semeando boas sementes. Tenho
certeza de que elas produzirão muitos frutos. E eu ficarei
feliz em ver que não atravessei a vida em vão. Quero
viver cada dia no centro da vontade do meu Pai celestial.
Glórias, pois, a Ele.
E obrigado pela paciência, dileto leitor. Obrigado pela leitura.
Pr. Wagner Antonio de Araújo,
Igreja Batista Boas Novas, Osasco, SP.
|
MEMÓRIAS
PASTORAIS
número
10
32
. UM
DOMINGO
ANTES
DO NATAL
21/12/2003
Wagner Antonio
de Araújo
TENTAÇÃO
Geralmente
sofro uma grande tentação aos domingos: a carne, oposta ao espírito,
sente uma grande vontade de não ir ao culto. Satanás, que usa
a carne, enche o meu coração de má vontade e de desânimo. No princípio
eu achava que isso era bobagem, era apenas cansaço. Depois, verificando
minuciosamente, percebi que faz parte de um ataque maligno para
nos fazer esfriar na fé, desistir, enfraquecer. Então cheguei
à seguinte conclusão: O MELHOR
MOMENTO PARA SE IR A IGREJA É QUANDO NÃO SE TEM VONTADE. É justamente
quando estamos sem vontade que mais precisamos. Assim, por maior
que seja o desânimo, por maiores que sejam as justificativas para
não ir, eu vou. E como sou abençoado!
O que?
Pastores também sentem desânimo e vontade de não ir a igreja?
Claro! Somos seres humanos! Só que muitos não dizem. Eu digo.
E creio que, assim, acabo ajudando quem também sente e tem vergonha
de dizer. Então, ambos, o leitor e eu, faremos tudo para vencer
o desânimo!
NATAL DO PRIMEIRO
DE MAIO
"Cadê
o nosso povo?", foi o que perguntei às irmãs Júlia e Regina, a
primeira, cobrando a presença dos alunos da Escola Bíblica Dominical;
a segunda, cobrando participação no Natal que faríamos, uma vez
que ela tinha passado a madrugada arrumando os presentinhos.
Sim, o
nosso povo falhara. É preciso entender que as
pessoas têm parentes, têm férias, têm viagens, e que nem
sempre contamos com elas nos trabalhos. Mas quando a maioria delas
resolve ir para a praia no mesmo dia, então ficamos tristes e
preocupados. Nosso povo, comumente em número de 40, não passava
de 12 nesta manhã.
No dia
anterior, eu, o Jhonatan e o Washington fomos à Rua 25 de Março,
atacadista de miudezas, para comprar presentinhos de Natal para
as crianças do bairro Primeiro de Maio. Conseguimos comprar 50
acquaplay de bolso e 50 massinhas de modelar por R$90,00 (eu pechinchei
muuuuuito...). Iríamos até o bairro deles, numa escola, levar
a cantata e os presentes. Mas fomos alertados a tempo de que alguns
marginais poderiam colocar a perder a comemoração, provocando
uma tragédia. Então desistimos. Celebraríamos o Natal deles no
nosso templo mesmo. Um deles, o Donizete, possui uma Kombi, e
a encheria de crianças, trazendo-as. Era essa a nossa confiança
para esta manhã.
Eram 9:45
e não tínhamos mais do que 15 pessoas, e apenas 4 crianças. Vamos esperar mais um pouco. 9:50, 9:55,
às dez horas chegou uma kombi lotada
de crianças. Chegou, descarregou e foi embora, com a promessa
de trazer mais gente. Dez minutos depois mais uma kombi.
E até às 10:30 tivemos o templo cheio de crianças! Que beleza!
"Deus continua mudando e aumentando o auditório!" Como foi lindo
ver todas aquelas crianças! Certamente o Senhor viu o meu lamento,
quando em julho só tínhamos uma criança, a Bárbara. Hoje tínhamos
que conter a molecada para não derrubarem o templo... Que doce
bagunça!
UMA LINDA
CANTATA
A Bruna
e a Jaqueline fizeram um trabalho árduo e promissor: treinar crianças
do bairro, totalmente desconhecedoras da bíblia e do que era uma
igreja, ensinar-lhes a cantata, prepará-los com as vestimentas
e apresentá-los. Foi lindo! Tinha jogral, tinha dramatização,
cada um fez a sua parte e foi lindo! No final, aplaudimos de pé,
com longa duração!
PRESENTES?
Então
eu disse: "Bom, acabou a cantata, vão pra casa e voltem à noite,
e no dia 24 também tá?" Daí eles disseram: "Não, a gente quer
presente!" "Como? Presente? Pra que?" "Queremos presentes! Queremos
presentes!" Então Regina, Bruna, Jaqueline, Adriana, as nossas
responsáveis, entraram com os pacotinhos de presentes. Que alegria!
Que festa! Que lindo contemplar os olhinhos da molecada brilhando
porque ganharam um presentinho! Acredito que hoje elas nem dormir
irão, porque estavam deslumbradas! Algumas nunca ganharam presente
na vida! Aprenderam de Jesus, desaprenderam sobre Papai Noel (apesar
de ser um conto muito lindo), e festejaram o seu Natal! Pedimos
auxílio a empresários. Apenas dois se manifestaram. Mas não importa,
nós juntamos o dinheirinho e compramos lembrancinhas. Os
adultos ganharam um panetone e um Novo Testamento, e as crianças
ganharam massinha, acquaplay, roupinhas e livrinhos evangelísticos!
A IDADE DA
MAMÃE
Após algumas
caronas, vim para casa. Mamãe estava cochilando com a cabeça caída,
em sua poltrona de idosa, sozinha, enquanto a porta estava aberta.
Eu entrei, afaguei os seus cabelos e a saudei. Ela despertou,
disse que a Milú tinha ido comprar salsichas para o meu almoço
(estou em regime alimentar DE VEZ EM QUANDO...).
Eu olhei
bem para a minha mãe. 73 anos de idade, sofrimentos mil. Colheita
de café, milho, algodão, feijão, laranja, e, depois, quando jovem,
carregadora de caixas em indústria, pintora de peças de automóveis,
serviços pesadíssimos, que lhe custaram a
saúde das pernas e uma bela trombose. Depois, cuidar do meu pai
até a sua morte, em 1991. E, então, como uma vela se apagando,
ela não conseguiu mais descer as escadas de casa, e há dois anos
não sai mais da sala, do quarto e do banheiro. Meu Deus, como
eu gostaria de remoçar a minha mãe! Como eu gostaria de poder
fazer alguma coisa por ela! Ela festeja as notícias que trago,
ela se alegra com o meu irmão em sua vida empresarial, ela se
entristece com os cultos que perde em sua igreja (Igreja Batista
de Vila Pompéia, capital SP) e ouve a Rádio Melodia o tempo todo!
Meu Deus, como a minha mãe é preciosa!
EVOLUÇÃO
Depois
do meu segundo banho, o da tarde, pus-me à
caminho. Nuvens enormes, escuras e ameaçadoras cobriam a abóbada
celeste paulistana. Eram 17 horas. De minha casa até a igreja
são 25 quilômetros, pela Marginal do Rio Tietê. No caminho peguei
pouca chuva, mas pude olhar muito para o céu, que identificava
chuvas pesadas em outras áreas.
Então
pensei: Como pode um infeliz dizer que tudo no universo é mera
obra do acaso? Alí, diante dos meus olhos, estava um verdadeiro
sistema inteligente de hidratação e regação, um sistema complexo
e muito ordenado: o céu em cima estava escuro, muito escuro. Embaixo
circulavam em sentido contrário pequenas
nuvens claras, como se fossem soldados que buscavam ser a proteção
da retaguarda ou batalhão de suprimentos. Ao lado ficavam nuvens
de barulho, de onde saíam faíscas imensas e ribombavam trovôes
colossais. Nas beiradas ficavam nuvens que mais pareciam estar
levantando as abas do vestido ou da calça, exibindo um
cinza mais claro, que era a área atingida pela chuva. Bem,
como alguém ainda pode olhar esse sistema e acreditar que tudo
não passa de luta pela sobrevivência de espécies? Que espécie
estava ali lutando? A ACQUAS VIVUS NATURALIS? A NUVINEZIS DICHUVUS?
Não, meus amados leitores, o sistema evolutivo é perverso, é egoísta,
é a sobrevivência do mais forte. E é miseravelmente falso. Há
um Deus por trás de tudo isso! Aleluia!
Sim, Deus projetou
e criou todo o universo! Há uma ordem justa
e perfeita, arquitetada pelo grande Criador, que faz com que chuvas
tremendas alimentem e realimentem a terra. Que maravilha! Olhando
da janelinha do meu automóvel, eu cantava:
"Então minh'alma canta a ti, Senhor, grandioso és Tu, grandioso
és Tu!".
AUDITÓRIO
E TEMPESTADE
Tudo o
que Deus faz é perfeito. "Mas, Senhor, não poderia fazer a chuva
esperar uma hora apenas?" A resposta foi NÃO. Deus sabe o que
faz. Contudo, a igreja estava praticamente vazia às 18:45, faltando
15 minutos para o culto. "Confiemos nele já, vencedores nos fará",
a mensagem do lindo hino. Era o que eu precisava, sem dúvida alguma.
E valeu confiar!
Aos poucos
as pessoas foram chegando. O Donizete trouxe a sua kombi lotada de crianças do 1o. de maio. E adultos vieram. Gostaram dos panetones e
dos Novos Testamentos, decidiram voltar para agradecer (já pensou
se todos fossem assim?) A Izamara Oliveira, nossa preciosa e talentosa
treinadora de vozes e artes, membro da Igreja Batista Central
de Guarulhos, e apaixonada pela Boas
Novas, estava à frente. Destacou a Bruna e a Jaqueline para a
apresentação.
Mais uma
cantata. Que coisa bela! Que coreografia infantil linda, junto
à mangedoura, junto ao povo, mostrando na linguagem
de criança a realidade do Natal! Foi inesquecível! Após as apresentações,
todos aplaudimos calorosamente, obrigando-os a repetirem o último
hino, como fazem os conjuntos internacionais. E como foi gostoso
ver a molecada fazendo arte, cantando, brincando! Bruna e Jaqueline:
Vocês são ótimas!
Depois
ainda tivemos bolo e torta, com refrigerantes.
FIM DE NOITE
O meu
gabinete (aliás, nem sei se é meu mais, porque a turma o invade,
toma conta dos sofás, da minha mesa, do carpete, eu tenho que
pedir licença para entrar...) estava bem movimentado nesta noite.
Última sessão de fotos para o anuário, reunião com seis ex-membros,
que vieram nos visitar, reunião com o Pr. Aparecido e seu filho
Roger, reunião com a comissão de anuário, reunião sobre o passeio
do dia primeiro, muita coisa. É claro, algo aconteceu dentro de
cada um de nós: percebemos um VAZIO. E, para esses VAZIOS, o melhor
mesmo é UM JANTAR. E foi pra lá que fomos, eu, Izamara, Jhonatan
e Washington. Comer frango na tábua. Papear. Orar. Como foi bom!
E agora
vou agradecidamente deitar, dizendo ao Senhor: muito obrigado,
ó, Deus, por um domingo tão belo e tão bom!
Eu espero
que partilhar este domingo com os meus
diletíssimos leitores contribua para que orações sejam feitas
por mim, pela Igreja Batista Boas Novas de Osasco e que sirvam
de estímulo para quem se vê pequeno e se sente pequeno: é tempo
de viver intensamente a bênção da vida! Sejamos tudo aquilo que
o Senhor tenciona de nós!
Deus a
todos abençoe.
Wagner
Antonio de Araújo
pastor da
Igreja
Batista Boas Novas de Osasco, SP
bnovas@uol.com.br
|
MEMÓRIAS PASTORAIS
número 07
33.Revendo
o Caminho
"Jhow
(Jhonatan), escute-me com atenção", dizia eu, sentado numa cadeira
à porta da casa do Pr. Dionísio, em Luiziânia, "quem semeia amor,
amor colherá, quem semeia respeito, respeito obterá. É certo que
nem sempre é assim, mas no geral o é. Seja um jovem bondoso. Procure
valorizar as pessoas. Nunca deixe-se levar pelo orgulho e a presunção.
Respeite os mais velhos, reverencie a experiência. E nunca abandone
os seus verdadeiros amigos. Certamente Deus será com você".
Eu estava pensando
exatamente nessa frase, dita ao Jhonatan, meu companheiro de viagem,
no último domingo à tarde. Refletia sobre todas as coisas acontecidas
e as tremendas implicações da minha última aventura. Quero partilhá-la
com todos vocês.
NOV,
30, SÁBADO, 9:15 a.m.
Saí de
Osasco, rumo a Lins, interior de São Paulo. São 446 quilômetros
de distância. Para não ir sozinho, convidei o jovem vocalista
da banda Philos, meu discípulo no Discipulado Dinâmico, Jhonatan,
a quem trato como um filho por consideração. Ele não me deixaria
dormir no caminho.
Pelas
misericórdias do Senhor o carro estava em bom estado, a gasolina
daria para chegar ao destino. Fomos ouvindo as fitas mais preciosas
do momento: GRUPO ELO, GRUPO LOGOS, VENCEDORES POR CRISTO, BANDA
ÁGAPE, LOS ANGELES MASS CHOIR. O clima, frio e nublado, deu lugar
ao belo e maravilhoso azul do céu, logo após Sorocaba. Já era
possível tirar a blusa.
NOV, 30, SÁBADO, 11:15 a.m.
No quilômetro
198 da Rodovia Castello Branco, paramos para reabastecer - a barriga!
RODOSERV, que lugar excelente! Lá pudemos comer um bom "pão com
ovo e tomar uma tubaína". Claro, eu comi menos, porque o Jhow
está em plena fase de crescimento, aos dezoito anos. E eu estou
em fase de crescimento também ... sõ que dos lados... Gastamos
um tempinho para observar as enormes carpas criadas num lago dentro
do restaurante.
Depois
disso, estrada de novo. No 203 saímos rumo a Botucatu. Em Botucatu
pegamos a Rodovia Marechal Rondon e seguimos. Ah, como eu gosto
dessa região! Passamos pela saudosa São Manoel, cidade onde refugiei-me
por uma semana, quando mortalmente enfermo há 4 anos atrás. Depois
sentimos o odor forte de óleo de Lençóis Paulista, passamos por
Agudos, e, enfim, chegamos a Bauru.
Mas havia
ainda muito chão pela frente. Sem parar, fomos ganhando o interior.
Pedágios, pedágios, pedágios. Meu Deus, como são caras as nossas
estradas paulistas! Boas, porém, caras.
NOV, 30, SÁBADO, 2:30 p.m.
Chegamos
a Lins. Fomos diretos ao BarraVento, uma pousada bem no final
da avenida de entrada. Ali eu já fizera um retiro espiritual com
o Senhor. Ali ficaríamos por esses dois dias. Negociação de preços
(eu sou pechincheiro ao extremo), escolhemos o apartamento 6.
Malas fora do carro, bíblias à mão, ar condicionado ligado, enfim,
um pouco de descanso. E o que fazer, cansados e com sono, além
de estarmos com fome? "Primeiro o Reino de Deus". Fizemos o nosso
primeiro momento devocional. Joelhos em terra, bíblias abertas,
oramos, lemos a Palavra e cantamos a Deus. Dormir? Não, não havia
tempo hábil. Tentei localizar o Pr. Dionísio, de Luiziânia, onde
eu iria pregar no dia seguinte, mas o telefone não atendia. Logo,
só restava tempo para tomarmos banho, nos arrumarmos e irmos à
casa do noivo. Foi o que fizemos.
NOV, 30,
SÁBADO, 5:00 p.m.
Encontramos
o Pr. Timofei Diacov descansando e conversando com a parentada.
Casa cheia, muitos russos presentes. A família concentrou-se.
O povo de São Paulo, de Tupã, de Varpa, de toda a região, estava
chegando. Todos queriam dar um beijo no noivo. Perguntei se haviam
colocado a polícia federal nas saídas da cidade, para não deixarem
a noiva fugir, disseram que estava tudo em ordem, o delegado era
amigo da família...
Enquanto
conversávamos, a hora passava. O noivo estava tranqûilo, eu é
que me desesperava, pois já estávamos quase chegando às 18 horas
e o noivo não se arrumava. De repente chegaram parentes de Varpa
e Tupã, gente maravilhosa. Uma senhora muito distinta e elegante
apareceu. Seu nome: ZINA. O Pr. Timofei introduziu-me. Ela então
perguntou: "Esse é o Pr. Wagner da Boas Novas de Osasco, da viagem
para Goiânia, do virus no computador? Foi por ele que eu soube
que o senhor iria casar-se, Tio Timóteo!" Poxa, eu fiquei emocionado!
Até em Tupã sabiam do virus do meu velho micro! Que poder de comunicação
tem um computador na rede! Bem usado transforma-se em bênção!
NOV, 30, SÁBADO, 6:30 p.m.
O noivo
pegou carona comigo. E o outro pastor, que iria celebrar o casamento
(eu iria participar em algum momento), tinha mais um casamento
no mesmo horário, na cidade de Cafelândia e não poderia estar.
Logo, eu celebraria toda a cerimônia.
Cheguei
com o Pr. Timofei, a igreja estava cheia. Fiz um baita alvoroço
na entrada, buzinando muito e muito (eu gosto de um buzinaço...).
Claro que todos ficaram olhando para fora e desconfiaram que,
ou era alguém maluco, ou o noivo que estava chegando. Era só o
noivo.
Ao entrar
e contemplar o auditório, lembranças vieram-me à mente. Ali era
a IGREJA BATISTA ÁGAPE, a segunda da cidade. Muitas pessoas que
estavam presentes eram da PRIMEIRA IGREJA BATISTA. E eu conheci
o sorriso de alguns. Meu Deus, eram eles!
Lá estava
o Marcão, que me presenteou o seu quepe de soldado, ele servia
e eu tinha 14 anos, ele me deu de presente o boné! E agora ele
me apresentava os filhos de 16 e 18 anos! Lá no meio estava o
Elias, também soldado na mesma época, com uma linda família! À
frente estava a Silvana! Ah, Silvana, que moça bonita ela era,
e que mulher bonita continua sendo! Mas, espere, e esse aqui?
Wagner? Sim, Pr. Wagner Lucindo, seu esposo! E essa morena linda,
quem é? Sua filha??? Que jovem linda, meu Deus! E esse garotão?
Seu filho? Não acredito! Deixe andar mais um pouco... Boa tarde,
tudo bem? Olha a família Soler! Tia Rute! Como está? Ah, quantos
beijos e abraços de gente que me viu pequeno! A última vez em
que preguei na Primeira Igreja da cidade eu ainda tinha 16 anos!
A família Vigarani, O João Miguel, o povo de Cafelândia, gente
, que maravilha! Até o irmão Resende, de bengala e tudo! Como
a vida passa!
Infelizmente
esta é a única foto que funcionou. O meu excelente fotõgrafo é
excelente cantor, mas queimou todas as fotos de Lins, exceto essa...
Aí está a entrada do Pr. Timofei para o seu casamento.
A noiva,
irmã Rute, eu a conheci no altar. Que mulher graciosa e maravilhosa!
Sua beleza e fineza a todos encantava! A doçura com que olhava
para o Pr. Timofei era emocionante. Eu espero conhecê-la bastante,
daqui para frente. No momento, o que posso dizer é que tive a
melhor das impressões.
Muitas
músicas lindas. Um lindo dueto, outro lindo solo, entradas dos
padrinhos, daminhas, alianças, tudo impecável. Consegui até fazer
a irmã Zina cantar um hino em russo, em homenagem ao Pr. Timofei!
Pregar
no casamento de quem me batizou! Pregar no casamento do meu Pai
na Fé! Claro que me emocionei. Mas fui até o final. Na saída do
casal, exclamei, quando já estavam no final do corredor: "Irmã
Rute, Pr. Timofei, Deus lhes abençoe, e sejam felizes!" Aplausos
calorosos de todos.
Festa?
Um bolo impecável, muito refrigerante - nem senti falta das tubaínas...
- , muita gente bonita. Uma senhora metodista, de 82 anos, extremamente
elegante, tomou o meu braço, olhou-me firme e disse: "Pastor,
eu tenho 82 anos de vida, sempre fui metodista, meu pai era pastor,
tenho irmãos pastores. Eu nunca ouvi ou vi uma cerimônia e uma
mensagem como essa. Muito obrigado". Não preciso dizer que me
emocionei.
NOV, 30, SÁBADO, 10:30 p.m.
Jhow e
eu, após a festa e a lanchonete, nos recolhemos, aguardando algum
telefonema de Luiziânia. O que tocou foi o interfone, me chamando
na recepção. Era o André Soler, vice-presidente da Primeira Igreja
Batista de Lins, convidando-me para pregar pela manhã. André,
meu contemporâneo! Irmão do Adir, que namorou a mesma garota que
eu tinha namorado! Velhos tempos! Agora ele veio com uma esposa
muito bonita e nobre, e um lindo garotinho loiro nos braços! Que
alegria! Claro que eu aceitei!
Domingo,
01/12/2003, manhã
Jhonatan
e eu nos levantamos cedo, pois a pousada serviria um bom café
da manhã. De fato um café precioso. Mamão, suco de laranja,
geléia, queijo, pão, etc. (é bom eu parar por aqui, senão irei
assaltar a geladeira).
Descemos
a avenida e procuramos a igreja. Como sempre, me perdi um pouco,
mas, com jeito, acabei encontrando-a. Lá estava, como sempre,
a Primeira Igreja Batista, tão bonita, elegante e laboriosa!
O
André Soler estava dirigindo a Equipe de Louvor. Excelentes
cânticos, excelentes músicos. Logo a palavra foi entregue a
mim. Falei sobre A PARÁBOLA DAS LARANJEIRAS e, novamente, fui
chamado de PASTOR LARANJA no final do culto. Identifico-me tanto
com esse texto e essa parábola, que acabo também esperando o
final da mesma com emoção! Louvo ao Senhor pelos resultados.
Neide,
a esposa do André, lecionou para os jovens. Excelente aula sobre
mordomia. Ao final da Escola Bíblica Dominical, as despedidas
costumeiras. Um garotinho, o Gerson Júnior, veio me abraçar.
Me abraçou com tanto carinho e não me soltava mais! Um garotão
esbelto de 11 anos, não queria me deixar, e eu o abençoei ali!
De repente fiquei sabendo que era filho do Gérson, um contemporâneo,
hoje próspero empresário na região! Que carinho do menino, do
irmãozinho e do primo! Ao irmos embora, um carro sinalizou.
Paramos. Era o Gérson, que não estava junto dos filhos e esposa
(porque não freqûenta a igreja), mas que veio me dar um abraço
(e ouvir um sermão...). Junto dele o garotinho, me abraçando
com tanto afeto! Deus, abençoa essa família!
Domingo,
01/12/2003, hora do almoço
Estávamos
verdes de fome. Principalmente o Jhow, pois eu não sou de comer
muito... Fomos à casa do Pr. Timofei. A irmã Rute nos convidou
para comermos macarrão. Lá chegando, vimos que a parentada estava
quase toda por lá ainda. Pensei: será que vai dar pro Jhow comer?
Ah, e como
deu! O molho foi preparado pelo pastor e o macarrão pela irmã
Rute. Eles se completam, se combinam! Espero que seja sempre
assim. Serviram-nos macarrão, salada, carne, enfim, uma suculenta
refeição. Para sobremesa, sorvete de amendoim e creme. Que comidão!
Mas tivemos
que sair correndo, porque ainda iríamos para outra cidade.
Domingo,
01/12/2003, tarde
Corremos
à pousada, nos arrumamos correndo e "picamos mula", afundando-nos
mais ainda para o interior, via Marechal Rondon. Fomos até a
altura do 510, quase em Penápolis. Alí há uma estrada simples,
que marcava Alto Alegre, Luiziânia, Jatobá, Reginópolis. Era
lá mesmo.
O
sol estava quentíssimo. O verde dos campos brilhava no calor
da tarde. E eu estava preocupado, porque não sabia nem aonde
ficava a igreja, nem a casa do pastor e não tinha o número de
telefone. Mas, se a cidade fosse realmente pequena, acho que
o povo poderia nos ajudar.
Chegamos
a Luiziânia. Que lugar gostoso! Que pequenina cidade! Quatro
mil habitantes apenas. Vimos um sorveteiro e resolvemos parar
para perguntar. Ele nada sabia, mas indicou-nos a sorveteria.
Lá sim, fomos atendidos e informados: a igreja estava a 150
metros de distância! Que bênção! Mas, entre uma informação e
outra, tomamos sorvetes. E aproveitamos para instar com um jovem,
desviado da Assembléia de Deus, para que voltasse para o Senhor.
Achamos
a igreja. Uma fachada linda! Templo cheirando a carro zero quilômetro!
Como a porta estava aberta, entrei.
Logo
vi a minha querida Valéria, tocando órgão e ensaiando com a
moçada. Valéria é a esposa do Pastor Dionísio.
O
Pastor Dionísio foi meu seminarista na Igreja Batista Boas Novas
do Jardim Brasil, e eu tive o privilégio de encaminhá-lo ao
concílio examinatório, ordenatório e à Ordem dos Pastores Batistas
do Brasil. O tempo passou, mas ficou uma grande amizade.
Quando
foi pastor em Jardim Santana, zona leste de São Paulo, ou Piracicaba,
eu o visitei. Agora eu também fiz questão de vê-lo e prestigiá-lo
nessa nova empreitada pastoral. Na foto ao lado a Valéria está
ao meu lado e ao lado do Jhonatan.
Cansados,
mas felizes, Jhow e eu fomos até a casa do pastor, conhecer
seu barraquinho. Meu Deus, que barraquinho! Uma casa imensa,
com 3 quartos, sala, uma cozinha que dá 3 da minha, área de
serviços, quarto de bagunças, quintal do tamanho de uma pequena
quadra, enfim, uma casa magnífica! A igreja alugou para abrigá-lo.
Ele merece, é um bom homem, digno e fiel.
Conversamos
muito, muito e muito. Falamos sobre as oportunidades que ele
agora tem como pastor de uma igreja maravilhosa, com um povo
bom e próspero também.
Contou-me
que a igreja em poucos meses levantou o templo inteiro, completo!
Então eu fui conhecer o templo. Irmãos, que templo! O salão
de cultos abriga umas 150 pessoas. Os banheiros são finamente
acabados. Atrás temos salas de crianças, jovens e adolescentes.
Lá no andar de cima uma cozinha montada e uma área para lanchonete
ou sociabilidades que dá o tamanho do meu salão na Boas Novas!
E, aos fundos, outra área excelente para lazer! E então fui
conhecer o gabinete
do pastor... Que lugar fantástico! Ar condicionado, uma estante
de luxo, suas mobílias, tudo do bom e do melhor! Também pudera:
a cidade recebeu um pastor de ótima qualidade, faz jus ao investimento.
Na foto, estou um tanto que à vontade no gabinete do meu pupilo...
E, na foto ao lado, o Pr. Dionísio e eu, com gratidão ao Senhor
por esse encontro inesquecível!
Mas
o mundo realmente é muito pequeno. Eu jamais conheceria
a cidade se não fosse pela ida do meu amigo para lá. E quem
sairia perdendo seria eu, porque é um lugar maravilhoso. Mas
o Dionísio levou-me para ver uma família. O Sr. Jaime e a Dna.
Ana Célia, que são pais de um ex-ovelho meu na Boas Novas! O
Jaiminho, o filho, está em Maringá, no Paraná, e eles, os pais,
estão em Luiziânia! Que alegria reencontrá-los e travarmos um
gostoso diálogo! Que sítio maravilhoso é o deles! A foto mostra
a família.
A
igreja é pequena, porém, eclética e muito bem representada.
O prefeito e a esposa são membros. O médico da cidade também.
Há lavradores, cortadores de cana, comerciantes, donas de casa,
uma igreja maravilhosa. Poucos, mas com tudo para conquistar
outra parcela da cidade para Cristo. Um detalhe interessante:
Houve
uma história muito cômica, mas que mostra o prestígio dessa
igrejinha. Um dia desses aconteceu um tumulto no bar. O padre
foi chamado às pressas. Chegando lá, desabafou: "Mas que coisa!
Vê se tem alguém da igreja batista aqui! Só tem ovelha minha!
Vocês não têm vergonha de beberem e brigarem?" Numa outra ocasião
um grupo evangélico jogou uma pedra na vidraça. O padre falou
para os que estavam próximos: "com certeza não é ninguém da
batista". Que bom! Se o padre vê Cristo em nós, bendito seja
o Senhor! Quem sabe uma hora dessas o Dionísio come um pão com
ovo com o padre e o evangeliza evangelicamente.
EU
IA TERMINAR NESTE E-MAIL,MAS FICOU LONGO DEMAIS.
FAREI
UM OUTRO PARA ENCERRAR.
CULTO
DA NOITE, DOMINGO, 30/11/2003
(só
agora percebi que estou colocando datas erradas. Por favor,
considerem todas as demais com um dia a menos, pois domingo
foi dia 30 e não dia primeiro. Falha do computador...)
O culto da noite foi simplesmente
uma bênção para a minha vida. Aos poucos o povo foi chegando.
Jovens, famílias, crianças, não muita gente, mas gente
boa. Lá encontrei o Sr. João Soler, irmão do conhecidíssimo
Salvador Soler, pastor batista na capital. Lá encontrei
gente que foi do Jardim Brasil, da igreja do Pr. Josué
Nunes de Lima. E lá encontrei Deus, dentro de corações
tocados pelo Espírito do Senhor.
Preguei sobre
AMAS-ME?, baseando-me em João 21. Ao longo da mensagem,
acabei me emocionando. Então o Espírito Santo tocou em
meu coração para que eu fizesse um apelo aos presentes,
para que viessem à frente, manifestando a intenção de
amar de forma mais profunda ao Senhor Jesus. Que coisa
fabulosa! Cerca de trinta pessoas vieram, comprometendo-se
a santificar suas vidas em prol do Reino de Deus! A foto
ao lado mostra o momento das decisões. E a de cima o instante
do apelo.
Sim, ao final,
todos felizes e contentes, cumprimentando os ministros
do Evangelho à porta e seguindo para os seus lares. Alguns
iriam para as casas das ruas próximas, outros iriam para
os sítios, outros para a fazenda. Eu fiquei um pouco mais
com o Pr. Dionísio. Fomos ao gabinete conversar.
DÊ
VALOR À SUA PATERNIDADE
Mas,
enquanto conversávamos, bateram na porta. Era o Jhonatan.
Aproximou-se com respeito e cuidado. Pediu perdão por
ter incomodado, mas me falou:
- Pastor,
posso pedir uma coisa?
- Sim, filho,
o que é?
- Posso ir
até a praça, alí na sorveteria?
- Pode, mas
volte logo, porque temos que retornar para Lins. Você
tem dinheiro?
- Não, só
vou dar uma volta.
Então tirei
da carteira o dinheiro, coloquei em sua mão, dei-lhe um
beijo e disse:
- Tenha cuidado.
Vá com Deus.
E ele foi.
E, enquanto eu guardava a carteira, olhei para o Dionísio
e senti o rosto corado de emoção. Eu disse:
- Dionísio,
hoje eu fui PAI! Meu Deus, que gostoso ser pai!
Ah,
prezado leitor, um simples gesto como esse me trouxe tanta
alegria e felicidade! Ainda agora, quando me lembro, sinto
arrepiar-me o braço, pois é a melhor sensação do mundo
ser responsável por um filho, uma filha, por alguém, um
garoto ou menina que dependa de você! Como fui feliz naquele
instante! Obrigado, Senhor!
Bem, o Jhow
não foi passear na praça sozinho. Além de outras pessoas
queridas, estava uma linda princesa, uma jovenzinha consagrada
e fiel a Deus, muito bonita e simpática. A Andréia. Que
bonita amizade não surgirá de um sorvete? E o que o futuro
não reservará? Fiquei muito feliz e orgulhoso do meu filho.
VOLTA
AO LAR, 01/12/2003, SEGUNDA-FEIRA
Arrumar
a bagunça no apartamento foi difícil. Dois rapazes num
mesmo apartamento são um caso de polícia. Havia roupas
até no abajur! Garrafa de água, latinha de guaraná, vidro
de perfume Boticário, pasta de dentes, moedas, bíblia,
estava uma confusão! Mas em uma hora colocamos tudo em
ordem, isto é, tudo nas sacolas.
Ao
pagar a conta, a Dna. Alba, proprietária, fez perguntas
sobre a diferença da fé evangélica e da fé católica. Tive
a oportunidade de lhe expor as três bases da fé católica
(bíblia, tradição e santo magistério) e a única base da
fé evangélica (a bíblia). Falei sobre o papel de Cristo
como único Mediador, a impossibilidade de Maria ser onipresente,
etc. Ficamos por quase uma hora conversando. Foi muito
bom.
E
a volta foi boa, sem contratempos. Às sete da noite já
estávamos em nossas casas.
Bem,
espero que tenham sido edificados com a nossa viagem.
E eu agora vou dormir, porque já estou muito cansado.
Repartir com os meus amigos as aventuras no Reino é um
prazer. Espero não ter enfadado os leitores. Poderia viver
as experiências e guardá-las para mim. Mas o coração pede
e a mão funciona: tenho que escrever. Bem, feito está.
Já foi.
Que
Deus a todos abençoe.
Wagner
Antonio de Araújo
Igreja
Batista Boas Novas, Osasco, SP
|
34.O
TELEFONE TOCOU ( NATASHA
& LUCIANO.)
Alô. Luciano?
Sim. Quem é?
Não conhece mais a minha
voz?
Não estou conseguindo
identificar. Quem está falando?
Nossa, como foi fácil
pra você me esquecer... Acho que não tivemos muito significado...
Nathasha?!
Oi...
Que surpresa você me
ligar! Pra quem disse que queria me esquecer para sempre ...
Vai ofender? Eu desligo!
Fique à vontade, querida.
Quem ligou foi você mesmo...
Não, espere, não vou
desligar. Desculpe. É que estou aborrecida, só isso.
Tá. E o que você quer?
Nada. Eu só queria ouvir
sua voz.
Só? Então já ouviu. Mais
alguma coisa?
Espere, pare de ser grosso.
Não, desculpe, não desligue. É que eu estou me sentindo muito
sozinha.
Foi você quem quis assim,
querida. Sorva do seu próprio veneno.
Realmente você não muda.
Só sabe acusar...
Bom, vou desligar. Tchau...
NÃO, PELO AMOR DE DEUS,
não desligue, espere, preciso te dizer algo...
Fala logo, Natasha, tenho
que trabalhar.
Eu estava errada. Me
perdoe.
ERRADA? Você estava errada?
Tem certeza disso? Será que não é um pouco tarde pra dizer isso?
Mas agora eu reconheço...Por
favor, amor, me perdoe!
Agora? Depois que você
acabou comigo, querida? Até hoje eu pago o mico do papelão que
você me fez passar... Convites distribuídos, acampamento
alugado, comida encomendada, viagem paga, meu casamento com você,
tudo perdido... (Luciano suspira). Sofri, sofri mesmo. Queria matar você!
Droga, por que eu tive que amar você? Mas tudo bem. Já faz dois
anos... Ah, meu Deus, dois anos...
Luciano, pelo amor de
Deus, me perdoe!
Pra que você quer o meu
perdão? Você nem ligou pra dizer que já estava com outro cara.
Pra que perdão? Vai viajar com ele, vai viver com ele, meu bem...
Só me deixe em paz, por favor (Luciano chora baixinho).
Sem se dar conta, Luciano percebe uma
pessoa na porta do escritório. Era ela. Natasha estava olhando
pra ele. Ela falava do celular. Luciano fica perplexo, alegre
e triste - ela está linda, belíssima, muito elegante. Mas seu
rosto está abatido, cansado, doente. Na mão tinha uma sacola.
Aproximou-se da mesa de Luciano, e, com olhos lacrimejantes, desligou
o celular, olhou para ele e disse:
Oi, amor.
Oi, Natasha. Pare de
me chamar de amor. Você tá um caco, filha!
Olhos baixos, Natasha começa a tirar
da sacola algumas coisas: uma caixa do correio com um CD do Demmis
Roussos, que Luciano havia enviado de presente no aniversário,
uma boneca de porcelana numa casinha de papel, um celular pré-pago,
alguns livros devocionais, uma bíblia de Genebra e um pacote de
fotografias. Luciano a observava, perplexo, triste, e via as lágrimas
de Natasha molharem a fórmica da sua escrivaninha.
Cada objeto tirado era uma facada no
coração sofrido de Luciano. Algumas coisas lhe custaram caro,
ele fizera grande esforço para pagá-las. Mas, pensava ele, se
era pra ela, valeria à pena o esforço. Quando tudo terminara,
ele se arrependera de tanto gasto desperdiçado...
Pensei que você havia
jogado as coisas que lhe dei, Natasha...
Eu nunca me esqueci de
você, Luciano. Eu errei. Errei muito, me perdoe...
Luciano, jovem advogado, lutador com
as interpéries da vida, sabia que Natasha poderia estar mentindo,
como tantas outras vezes, quando namoravam e mesmo quando eram
noivos. Mas havia um quê de diferente no olhar vermelho de Natasha.
Por que você veio hoje
aqui, Natasha? Deu alouca? O que te traz aqui?
Natasha suspirou, chorou, recompôs-se
e disse:
Estou com câncer,
Luciano...
CÂNCER? Luciano
petrificou-se.
Sim,
amor, eu vim me despedir. Saí do hospital à força, pra falar com
você e pra morrer em casa...
Luciano não esperava por essa. Veio-lhe
à memória uma de suas discussões, onde Natasha, na hora do nervoso,
dissera: "E daí, Luciano? Que se dane a igreja, que se dane o
pastor, que se dane você, e se Deus achar que estou errada, que
me castigue..." Nossa, era como se a cena passasse de novo na
mente de Luciano.
Como foi, Natasha?
Depois que eu deixei
você, amor, fui caindo no abismo, afastei-me do Senhor, fui morar
com o André, abandonei a Cristo. Eu estava cega. Mas Deus me amava,
Luciano. Se eu não fosse dEle, estaria numa boa agora, bem com
o André, bem comigo e pronta pra ir pro Inferno. Mas, por amor,
Deus veio corrigir-me. Ele repreende e castiga a quem ama. Ele
me ama, Luciano! Estou doente. Mas estou bem, porque estou podendo
vir até você pra pedir perdão! Nunca fui feliz, nunca tive paz,
saí de casa com 3 meses de vida a dois. O André me batia, me traía,
eu fugi.
E ele não foi buscar
você de volta?!
O André foi assassinado,
Luciano. Tráfico de drogas.
Luciano estava perplexo.
Luciano, estou voltando
pro Senhor, estou me preparando pra partir. Mas tenho que receber
o seu perdão, amor! Sei que nunca irei compensar o que lhe fiz,
mas... por favor... ME PERDOA, AMOR!
Luciano olhou para aquele resto de
mulher - outrora tão orgulhosa, ostentando tanta beleza e auto-suficiência,
confiando tanto em seu corpo e em sua fulgurante beleza, e agora,
bonita ainda, mas notadamente pálida, enferma, cheia de hematomas
nos braços, pescoço e pernas, e triste, profundamente triste,
a implorar-lhe perdão para morrer em paz!
Cena patética! Ali estava quem Luciano
mais amara na vida, quem mais o fizera sofrer, a depender de uma
palavra apenas, para morrer em paz!
"Hora da vingança", veio-lhe à mente. Claro, agora seria a hora da revanche! Mas Luciano
era um moço crente, de bom coração, e seria incapaz de reter a
bênção para aquela a quem tanto amara e que, infelizmente, ainda
tanto amava e tanto o fazia sofrer...
Quer que eu perdoe você,
Natasha?
SIM, PELO AMOR DE DEUS,
Luciano! Nunca mais tomei a Ceia do Senhor, nunca mais louvei
ao Senhor com alegria, nunca mais fui membro de igreja, não agüento
mais! Aceito as conseqüências, mas, por favor, diga que me perdoa!
Enxugando as lágrimas, refazendo-se,
Luciano olhou-a no fundo dos olhos, tomou as suas duas mãos, que
estavam frias como as de um defunto, e lhe disse, num terno sorriso
misericordioso:
Querida: desde que você
foi embora eu já havia lhe perdoado. Mas, se você quer escutar
e sentir paz, ouça-me: EU PERDÔO VOCÊ POR TUDO QUE ME FEZ. VOCÊ
ESTÁ LIVRE EM NOME DE JESUS!
Natasha tremeu. Gritou "aleluia", sorriu, chorou, e caiu desmaiada.
Logo o assistente de Luciano veio ajudá-lo,
e, colocando-a no carro, levaram-na para o hospital. Luciano tinha
o telefone de toda a família ainda, ligou e avisou. Em uma hora
todos estavam ali na recepção, tristes, aflitos, alguns desesperados.
Chegou o pastor. A família implorou-lhe que fosse até a UTI orar
com ela. O pastor, que conhecia o Luciano, olhou bem pra ele,
pensou, fechou os olhos em oração, e, a seguir, falou:
Quem tem que entrar é o Luciano. Vá
lá, Luciano. Eu conheço o diretor da UTI, pedirei autorização.
EU, PASTOR?
Sim, filho. Ela é o seu amor.
FOI, PASTOR..
Não, filho. Deus o uniu a ela novamente,
ainda que seja na despedida.
Luciano não sabia o que fazer. A família,
desconsolada, chorava, mas a mãe, certa do que tinha que ser feito,
empurrou o Luciano até a porta, dizendo: "Vai, filho, corre, antes
que seja tarde!"
Ah, aquele corredor que dava para a
UTI parecia não ter fim! Cada passo dado era uma lembrança: o
primeiro beijo, a primeira maçã-do-amor, o primeiro jantar, o
primeiro por-do-sol juntos; o dia em que viajaram num encontro
missionário, o dia em que foram juntos à praia e que ele deu de
presente a primeira rosa! O jantar de noivado, os telefonemas,
tudo. Não sobraram recordações da tragédia, da traição, do desprezo.
Na verdade quem ama guarda as más experiências numa sacola furada.
E Luciano fez assim.
Vestido com o jaleco, a máscara e o
sapato de pano, Luciano entrou. Vários boxes onde pessoas definhavam.
Lá estava Natasha, no número 6. Estava no respirador artificial,
cuja sanfona funciona como um pulmão e faz um barulho horripilante.
Estava linda, mas totalmente ligada a aparelhos, notadamente cansada,
em coma, morrendo. Luciano sentiu sua dor. Chorou. Tremeu. Segurou
forte a mão de sua amada. Pensou em Cristo, que dera a vida pela
noiva, pensou em Oséias, que aceitou a esposa adúltera novamente,
pensou em Deus, que tantas e tantas vezes tratou a Jerusalém com
compaixão. Quem era ele para não perdoar? Quem era ele para não
acolher?
Então orou.
"Senhor, o que posso
dizer? Minha garota está morrendo! Ex-garota, claro. Mas mesmo
assim está doendo, Pai! E eu sou impotente diante de tudo isso!
Essas máquinas, esse cheiro de éter e de carnes inflamadas, esse
barulho infernal, meu Pai, o que posso dizer? Que deixe a minha
garota morrer em paz? Sim, Senhor, leve-a para a tua glória! Eu
a amo! Mas sei que tu a amas mais do que eu! Abençoa a Natasha.
Em nome de Jes...
Subitamente Luciano pensou em completar
a oração com o seguinte pedido:
"Mas, Senhor, se ainda
houver um espaço para ela viver para ti, recuperar parte do tempo
perdido, se na tua infinita misericórdia não for demais, por favor,
Senhor, cura a tua serva. Ela já sofreu bastante, ela aprendeu,
Senhor. Até eu, que fui o mais ofendido, já a perdoei! Por favor,
Senhor, se der, devolve-lhe a vida! Mesmo que não seja pra viver
comigo. E agora sim, em nome de Jesus. Amém".
Por favor, me avisem
- disse Luciano aos familiares - , me avisem quando tudo terminar.
Quero estar presente.
E foi embora. Tirou a
tarde para viajar, seu hobby preferido: foi pra uma cidadezinha
próxima, ver o por-do-sol.
Qual será o final,
dileto leitor? Quer sugerir-me? Apesar de estar pronto, quem sabe
a sua opinião possa fazer diferença no futuro de Luciano e também
no futuro de Natasha...
Escreva-me.
SÓ PRO MEU E-MAIL - NÃO RESPONDA NAS LISTAS...
bnovas@uol.com.br
PARTE FINAL
No caminho, ao longo da rodovia,
seus pensamentos corriam mais que o vento: por que tudo isso
estaria acontecendo? As coisas não poderiam ter sido mais fáceis?
E agora? Ele, no carro, ela no hospital, a lembrança daquelas
máquinas monstruosas de prolongar a vida não lhe saíam da memória...
As lágrimas corriam, misturadas à poeira do vento seco do caminho.
Revoltado com tudo isso, parou
o carro no acostamento. Encontrou uma estradinha de terra. Devagar,
como a seguir um féretro, entrou pela rota dos sitiantes. Subiu
devagar a montanha, encontrou um mirante. Parou, abriu a porta,
e, num grito de dor e lamento, chorou. Ah, como chorou! Seu
pranto escorria pela porta do carro. Os pássaros, assustados,
aquietaram-se nas árvores, contemplando aquele misto de dor
e revolta. Parecia que todo o mundo fazia silêncio em respeito
a tanta dor.
Deus, por
que? Por que? Por que? Por que tive que amá-la? Por que tive
que vê-la? E agora, Senhor, o que fazer? E se tu a levares?
O que será de mim? Eu já estava quase esquecendo, Senhor! Agora
tudo volta a doer! Senhor, Senhor...
Cansado de tanto chorar, entrou
no carro e deitou-se, estendendo o banco para o fundo. Travou
a porta, colocou uma fita de música clássica e desfaleceu. Ali
estava um moço de valor, que amava e que lutava entre sua vontade
e a vontade de Deus.
Sonhou durante o sono, no delírio
da febre. Sonhou estar na igreja. Viu o pastor a pregar, e,
ao seu lado estava Natasha, bonita e sorridente. Lá do púlpito
o pastor dizia: "Aquele que amar mais à sua mulher, mais do que a mim, não é digno
de mim - palavras de Jesus!" E, aos poucos,
o sorriso de Natasha foi sendo coberto por uma neblina e desaparecia.
Assim acordou.
Assustado e cônscio de que Deus
falara com ele, pôs-se a orar, dizendo:
Senhor, sei que
é difícil, mas tenho que fazer isso. Confesso que estou revoltado,
ó, Pai. Quero fazer a minha vontade, não a tua. Eu não estou
conseguindo aceitar a tua vontade, caso seja a de levá-la embora! Sei
que estou errado, Senhor, e sei que é isso que quisestes me
falar. Senhor, sou teu servo e quero te obedecer. Se irás tirar
a Natasha mais uma vez, tira-a, apesar de mim. Por mais que
isso doa, Senhor, prefiro assim: não quero perder-te Senhor.
Só me ajude e console o meu coração... Tu sabes o que será
melhor para ela, e também melhor para mim. Em nome de Jesus,
amém.
Voltou a dormir.
Toca o celular.
Alô?
Luciano?
Sim, sou eu.
Aqui é o pastor,
filho. Como você está?
Bem mal, pastor.
Mas sobrevivendo...
Eu orei por você, garoto.
Pedi a Deus para lhe fazer suficientemente forte para renunciar,
se preciso for. Você quer conversar sobre isso?
Pastor
- disse, sorrindo o rapaz, - já o ouvi pregar
agorinha mesmo no sonho, já renunciei a Natasha. Está doendo,
mas estou em paz. Obrigado.
Ótimo. Então volte
pro hospital, Luciano. A Natasha acordou e saiu do estado crítico.
Ela quer ver você...
O QUE???
SÉRIO, PASTOR?
Séríssimo. Vem com
calma, mas acelera, filho...
Não levou hora e meia e Luciano
estava entregando a chave do carro pro manobrista do hospital.
E a Natasha?
, perguntou à mãe dela.
Filho, corre, ela
está chamando por você! Vai, filho! Deus está agindo! Eu já
a vi, mas ela teima que quer ver-lhe!
Agora o corredor do hospital era longo
demais para ele. Se pudesse, daria três passos em um, para chegar
mais rápido e contemplar o rosto de sua amada. Seu coração estava
disparado, pensava no que ouviria e no que diria. O suor lhe
escorria pela face e as vistas estavam enfumaçadas. Correu a
vestir o jaleco, o sapato de pano, as luvas e a máscara. Box
06. Lá estava ela, e três médicos palestrando. Ao olharem o
rapaz, perguntaram:
Você é o Luciano?
Sim, doutor, sou
eu. Por que?
Converse um pouco
com ela. Ela gritou o seu nome por mais de meia hora e nos deixou
quase loucos! Isso é que é amor! Mas seja breve, ainda não entendemos
essa súbita melhora. Temos que medicá-la novamente.
Aproximou-se do leito. Os lábios
de Natasha estavam sangrados, a boca ferida, canos haviam saído
da garganta, o pescoço estava com fios, braços e pernas com
soro, sondas, enfim, uma cena dramática, mas não tanto quanto
na última vez. Pelo menos o respirador artificial estava desligado,
e em silêncio...
Lu..cia..no.. me.u...a..mor....
Fala, querida, eu
estou aqui!
Je..sus....veio..a..qui!
Eu..vi!
Luciano deixou as lágrimas verterem
de seus olhos, lágrimas quentes e profundas.
Você estava sonhando,
querida.
Nã..ão, meu ..a..mor,
Je..sus veio...me di..zer.. uma..coi..sa!
Um tanto alegre, mas também incrédulo,
Luciano pergunta:
E o que Jesus lhe
disse, amor?
Dis.se...que..
vo..cê..me ama..va e..que..es.ta...va... (cof! cof!)
es..ta..va. orando lá..num sí..tio.. por..mim...e
..lu..tan..do ...para me renun..ciar..
Luciano gelou. Natasha completou:
E..le.. me..dis..se..que..a.ceitou..a.sua..or.a..ção!
Agora ele estava arrepiado. Não
só isso, ele estava com as pernas totalmente moles e adormecidas,
num misto de medo e perplexidade.
E sobre você, amor,
ele disse alguma coisa?
Dis.se..pa..ra....que..eu
não ...pe..casse.. de nno..vo... - Natasha adormeceu.
Natasha!!! Natasha!!
Não morra!!!
Calma, garoto
- disse o médico - ela só adormeceu.
Fique tranqüilo, mas saia agora, temos que seguir os procedimentos
necessários.
E assim foi.
Natasha saiu do hospital em 20
dias. Sem explicação convincente, os médicos quiseram impetrar
a si mesmos um erro de avaliação e diagnóstico,dizendo que pensaram
que havia câncer onde nada existia, mas não sabiam explicar
as dúzias de exames, de biópsias, de ressonâncias e de quimioterapias
feitas. Claro, grande parte da medicina desconhece o poder de
Deus, a misericórdia do Altíssimo. E um câncer desaparecido
tem que parecer um mero "erro médico". Mas o milagre acontecera
de fato...
Outra tarde, fim de expediente
no escritório de Luciano, Natasha de pé em frente à escrivaninha
de trabalho dele.
Luciano, de agora
em diante eu viverei cada dia como um milagre do Senhor, e viverei
apenas e tão-somente para a glória dele.
Que bom, Natasha!
Espero que você seja feliz! Orarei sempre por você!
Luciano...
Fale, querida.
Quero pedir só mais
uma coisa.
Se eu puder atender...
Eu quero me
casar com você e ser a sua mulher, a sua companheira, e servir
ao Senhor ao seu lado. Eu te amo! Me perdoe por tudo que fiz!
Era tudo o que o rapaz queria
ouvir. Sorridente, abriu a gaveta da escrivaninha e tirou uma
linda boneca de porcelana, numa casinha de papelão, idêntica
à primeira, presenteada quando começaram a namorar. Levantou-se,
entregou-lhe a boneca, abraçou sua amada pela cintura,
trazendo-a para junto de seu rosto, e lhe disse, com um brilho
jamais visto em seu olhar:
Eu perdôo você e
quero recebê-la como minha esposa, amor. Eu te amo!
Também te amo, querido!
Não se podia descrever o que era
mais bonito e brilhante; se o brilho do sol da tarde, clareando
toda a sala pelas vidraças, ou se o brilho do beijo de Natasha
e Luciano, ao som da mais linda música que o mundo pode ouvir:
o palpitar de dois corações apaixonados. Aliás, apaixonados
por Deus primeiramente, e, por causa do Senhor, apaixonados
um pelo outro...
----
O resto?
Bem, essa já será uma outra estória,
para uma outra "PÁGINA SOLTA"...
Eu decidi republicar
o texto NATASHA & LUCIANO.
Enviei a primeira parte.
E os retornos novamente
surgiram.
Quero partilhá-los
com todos.
Obrigado.
Pr. Wagner Antonio
de Araújo.
Natasha está no hospital.
Luciano, após orar junto ao leito dela, vai para o interior,
ver o por-do-sol. Como acabará essa estória?
Os leitores participaram.
Aqui estão suas palavras:
=======
Olá Pastor...o
meu final seria com Deus atendendo a oração do rapaz,
pois o amor está a cima de tudo.
No amor de Cristo,
Rosâne
============
Pastor bom dia e muita paz,
Acho q. a Natasha deveria viver, pois
ela seria um bom testemunho p/ as nossas
jovens q. tem todo amor, dentro do seu lar e mesmo
assim pensam em dar essas cabeçadas.
Graça e paz em nome de Jesus,
Patrícia
dos Santos Duque
==============
Creio
que o Senhor é o Deus de milagres. Acho que ela foi curada
e o Senhor deu a eles a oportunidade de viver felizes!!!
Luciana Maia
=================
Porém o Senhor
tem planos que o coração do homem não
conhece.
No outro dia Luciano foi normalmente ao seu trabalho,
onde enfrentaria mais um dia numa selva onde o mais
importante era vencer.
Mas em nenhum momento ele conseguia tirar da sua cabeça
o ocorrido no dia passado, e descobrir que que é muito
bom poder perdoar, e sentir que é muito melhor dar do
que receber.
Às 13:23 , quando Luciano já saia para seu atrasado
almoço, Josefa, sua secretária e amiga, o para no
corredor dizendo ter uma mulher muito falante ao
telefone, dizendo ser tia de uma ex.
Naquele Momento passa por sua cabeças momentos
inesquecíveis: alegrias , brigas , festas ,
cultos,olhares e juras de amor que prometeram ser
eternas.Mas ......ao mesmo tempo vem em sua cabeça o
fim de uma vida , o escurecer da noite, últimas
palavras pronunciadas. Vem o fim.
Reluta em não atender, mas pensa que é melhor acabar
tudo de uma vez e ter coragem de por um ponto final em
uma estória que ele pensou que já tinha acabado e do
nada ressurgiu.
-Luciano falando!
-Oi Luciano .É Lídia , a tia da Natasha,lembrasse?
-Claro , como ela está?
-Temos boas notícias, os médicos falaram que ela estava
desacreditada pois nunca havia consultados médicos
especializados por falta de recursos.Como nós a levamos
para um bom hospital , já foi diagnosticado algo
diferente, e com boas probabilidades para o tratamento.
Vamos começar o mais rápido possível, a família já está
arrecadando dinheiro e vamos ajudá-la.
Antes de desligar o telefone , Luciano oferece ajuda
e
se despede.
A fome já havia passado , um nó na garganta tinha que
ser desatado.
Pegue o carro , todos acham que ele vai almoçar, mas o
destino é outro.Vai praticar seu hobby seu preferido:
ir para uma cidadezinha próxima e ver o sol se por, mas
agora não vai pedir a Deus, vai agradecer por dois
motivos:o milagre operado em Natasha, e a vontade de
viver um novo amor com um novo perdão.
Pastor , sei que está estória é fictícia, mas DEUS um
dia operou um milagre real em minha vida , por isto
sempre creio que podemos vencer tudo com Jesus ao nosso
lado.
Marco
|
memórias pastorais
13
35.
Pastores Batistas Unidos
Participar
do 59o. Retiro Espiritual de nossa Ordem dos Pastores Batistas
do Brasil - Secção São Paulo, foi simplesmente maravilhoso.
Às vezes só as fotos dizem tudo. E este é o caso. Foi como
se tivéssemos tido um vislumbre da doce e maviosa comunhão
celestial, aqui mesmo, na Terra!
Estávamos
em mais de três centenas de pastores. Obreiros do Senhor
das mais variadas linhas de ação, dos mais variados campos
de trabalho. Gente do campo, da cidade, gente simples, gente
altamente intelectual, outroz bastante modestos, pastores
novos, outros velhos, bonitos, feios, pobres, ricos, casados
(dois solteiros), enfim, um encontro inesquecível.
Fez-me
lembrar o ano em que eu fui admitido no grêmio da comunhão
de pastores. Era 1992 e eu estava muito ansioso por participar.
Como fui agradecido ao Pr. Jonas Alves Costa, que assinou
a minha primeira carteirinha!
Presenças
ilustres marcaram esse retiro, ocorrido nos dias 05, 06,
07 e 08 de janeiro. Na foto acima, o Pr. Sócrates, Secretário
Geral/Diretor Geral da CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA, homem
de uma intelectualidade e preparo inigualáveis e nem por
isso orgulhoso ou pedante; muito pelo contrário: tremendamente
humilde e simpático. Eu estou ao meio, e o Pr. Josué de
Melo Salgado, nosso brilhante conferencista e pastor da
IGREJA MEMORIAL BATISTA DE BRASÍLIA, um dos mais importantes
líderes batistas do país. Suas conferências foram simplesmente
transformadoras. Falou-nos sobre a o aspecto sacerdotal
na função pastoral, não retomando a prática do sacerdócio,
mas comparando-a à postura que deveríamos ter frente ao
chamado do Senhor. Seriedade, dedicação, consciência de
vocação, integridade, etc. Maravilhoso!
Quero
partilhar uma experiência por ele contada.
Contou-nos
que, em Olinda, Pernambuco, lá pelos anos 1981 e 1982, o
país atravessava uma grave crise de desemprego, e que, principalmente
a área da construção civil, atravessava um período ruim.
Ali, numa pequenina igreja, estava um jovem pastor, em início
de ministério, junto de sua querida esposa. Eles estavam
passando sérias dificuldades financeiras. Tomavam duas conduções
para ir até a igreja e nem esse dinheiro eles tinham naquela
tarde, para irem ao culto de oração. Assim, o jovem pastor
ligou para o vice-presidente, solicitando-lhe que dirigisse
o culto, sem explicar os motivos. Então conferenciou com
a esposa, perguntando o que fariam, pois estavam realmente
sem recursos para sobreviver. Surgiu-lhes a idéia de pedirem
emprestado para alguém o dinheiro mais urgente. Mas concluíram
que seria apenas deixar o problema em maior tamanho, pois,
se nada tinham agora, como pagariam a quem lhes emprestasse?
Então dobraram os joelhos e oraram, dizendo: "Pai, tu prometestes
que nos sustentaria. Confiamos em ti e aguardamos nos teus
cuidados". Era 23 horas e bateram à porta. Não era um horário
normal para receber visitas, pois a região era perigosa.
Ao abrirem a porta, viram a presidente da Sociedade Feminina
Missionária da igreja, com muitos víveres em forma de cesta
básica. Eles perguntaram o que era aquilo e porque ela estava
ali numa hora daquelas. Ela lhes disse que, durante o culto
de oração, Deus tocara em seus corações, em toda a igreja,
de que o pastor estava precisando, e estava precisando com
urgência; por isso não esperara nem o dia seguinte. Assim,
dispôs-se a trazer naquele mesmo momento. E realmente eles
estavam passando necessidades. Ali mesmo agradeceram os
cuidados do Pai celestial. Esse pastor era ele mesmo, Pr.
Josué de Melo Salgado e sua esposa.
Não
é preciso dizer que todos choramos naquele instante, agradecidos
ao Senhor por cuidados tão paternais.
Aqui
outra foto importante. Da esquerda para a direita, o Pr.
Ozeías, auxiliar na Igreja Batista do Jardim Iva, SP, atualmente
trabalhando com presídios no estado. Ao seu lado o Pr. Josué
de Melo Salgado, da Memorial Batista de Brasília. Depois
o Pr. Josué Nunes de Lima, uma coluna batista viva, um líder
e exemplo para todas as gerações. Ao seu lado o Pr. Natanael
Barros de Almeida, autor de diversos livros, entre eles
"Tesouro de Ilustrações", conhecidíssimo. Após mim o Pr.
Aparecido Donizete Fernandes.
Só
a eternidade irá computar o quanto esse encontro foi proveitoso
para todos nós.
Sou muito agradecido
a Deus, primeiramente, porque Ele, através de Cristo, salvou-me
dos pecados e do inferno, chamando-me para o Ministério
Pastoral. Sou agradecido a Deus por ter sido membro de boas
igrejas, Sumarezinho, Vila Mirante e Vila Souza, todas na
cidade de São Paulo, e por ter tido excelentes pastores-
Pr. Timofei Diacov, Pr. Manoel Waldemur Pereira Correia,
Pr. Antonio Mendes Gonçales, Pr. Albino Faustino, Pr. Rivaldo
Barreto e Pr. Bonifácio Freire Cavalcanti. E louvo a Deus
pelo preparo teológico que tive oportunidade de receber,
tanto na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, como
na Universidade Brasileira de Teologia. E louvo ao Senhor
também por ser membro de um colégio pastoral tão amplo e
bonito, vasto e abençoado, quando somos hoje mais de 1500
pastores em todo o estado paulista, e tantos milhares em
todo o Brasil. Somos a Convenção Batista do Estado de São
Paulo e a Convenção Batista Brasileira!
Somos
uma denominação, um povo, temos um propósito e um objetivo.
E mais uma vez deixamos isso claro para cada um de nós.
Ao retornarmos, cada um para a sua igreja, certamente o
fogo do entusiasmo, do amor pelas pessoas perdidas e o desejo
de acertar nos fará mais produtivos e submissos ao Senhor.
Talvez eu não possa
participar da CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA, em Belo Horizonte,
no próximo dia 20 de janeiro (como eu queria! Mas nem sempre
querer é poder, principalmente num tempo de tanta dificuldade
econômica). Mas desejo que ela seja uma bênção para todos
nós. Os que tiverem o privilégio de ir, por favor, aproveitem
muito!
E a todos os amigos
que leram estas memórias, o meu muito obrigado de coração!
Wagner Antonio
de Araújo.
Igreja Batista
Boas Novas de Osasco, SP
|
36.Crônicas
de Verão
04
- Quinta-feira, 05 de fevereiro de 2004
PALAVRAS
MEDICINAIS
Certa feita o Senhor Jesus Cristo falou: “pelas tuas palavras serás condenado, e pelas tuas palavras serás
justificado” (Mt 12.37). Tal juízo é sobremodo maravilhoso,
porque não tem apenas um sentido escatológico, para o fim dos
tempos, mas possui também um caráter presente, atual, dia após
dia.
Nós somos o que falamos. Em Provérbios
23.7 nós encontramos a afirmação: “Aquilo
que ele pensa, assim ele é”. Nós encarnamos as idéias
que temos de nós mesmos e do nosso futuro. “Faça-se
conforme a sua fé”, frase costumeira do Salvador (Mt
9.29), é real e atual, devendo ser usada hoje, já!
Portanto, temos que tomar conta de nossa boca (e de nossos pensamentos
também, porque não é apenas o que dizemos com os lábios, mas
o que dizemos em pensamento também). O Salmista diz: “coloca
um vigia nos meus lábios” (Salmos 141.3).
Se nós pensarmos em coisas boas,
elas terão solo fértil para acontecer, o que não significa que
deixaremos de passar por provações e lutas. O apóstolo Paulo
diz, em Fp 4.8: “Ocupem o pensamento de vocês com coisas boas, louváveis, elegantes,
virtuosas, puras e justas.” Mente sã, corpo são. Mente
bem ocupada, dia a dia bem vivido.
Há
palavras medicinais que podem operar maravilhas em nossos corações!
Precisamos aprender a usá-las e aplicá-las. Afinal, a tendência
da carne, pecaminosa, sofrendo a influência do maligno, é para
a depressão, para a derrota, para o fracasso, para a tristeza,
para o desânimo. Jesus afirmou que veio nos trazer vida, e vida
com abundância (Jo 10.10).
Eu, particularmente, se deixado ao léu da minha mente,
dos meus traumas (e quem não os tem?) e do meu coração, tenho
a tendência de entrar em tristeza e depressão. Como combato
e venço tais situações? Com palavras medicinais. A seguir, algumas
que me ajudam e me fazem “mais que vencedor por aquele que me amou”, conf. Rm 8.37:
Pensamento: “EU PERDI”. Remédio:
“Eu sempre sou conduzido em triunfo porque
estou no centro da vontade de Deus. Logo, não perdi, eu ganhei!”
(cf. II Co 2.14; 12..10).
Pensamento: “FUI ENGANADO”. Remédio: “Todas
as coisas contribuem para o meu bem, Deus permitiu essa tristeza
para que eu amadurecesse, e nada poderá me abalar, porque sou
como o Monte de Sião" (cf. Rm 8.28; 5.4 e Salmo 125.1).
Pensamento: “VOU DESISTIR”. Remédio:
“Jesus disse que aquele que perseverar até
o fim será salvo, logo, também salvarei esse projeto com perseverança;
em nome de Cristo eu salto muralhas, conquisto exércitos e tenho
uma mesa preparada na presença dos meus adversários. Eu já venci!”
(Cf. Mt 24.13; Salmo 18.29; Mt 23.12; Sl 23.5)
Pensamento: “FUI INJUSTIÇADO”. Remédio: “O Senhor
é quem pleiteia a minha causa, eu estou do lado do bem e da
justiça; não há causa perdida para aquele que confia no Senhor;
se alguém me lesou de um lado, eu receberei do Senhor muitas
vezes mais por outras fontes”. (Sl 43.1; I Pe 3.13; Pv
11.18)
Pensamento: “TENHO MEDO”. Remédio:
“O medo é uma forma maquiada de orar; assim,
se eu temer, estarei desejando o que temo. Portanto, nada temerei,
pois Jesus mandou eu não ter medo. Não estou sozinho, Cristo
está comigo, e pela fé eu já contemplo a vitória, sabendo que
a vontade de Deus prevalecerá. O meu amor é perfeito e já lançou
fora todo o medo.” (Mt 17.7; Mc 11.24; I Jô 4.18).
Bem, estas são as palavras medicinais que eu uso. Há muitas
outras. Mas eu lhe sugiro que escreva as suas. Baseie tudo na
Palavra de Deus, pois é ela que é viva e eficaz, e seja alguém
cheio de vida e sucesso!
Wagner Antonio de Araújo,
Igreja Batista Boas Novas
de Osasco, SP
03 - Quarta-feira, 04 de fevereiro de 2004
TÍTULOS VAZIOS
Recebi há pouco uma carta, convidando-me para um congresso em certa
igreja. No bojo do convite estava escrito: “Você
não deve e não pode perder o evento, porque não serão simples
pastores a ministrar a Palavra e a oração, mas bispos, profetas
e três apóstolos!”
Pensei comigo: já vi esse filme antes. Quer dizer, ver
eu não vi. Eu li.
Conta-nos
a bíblia, em Lucas 22.24-27, que os apóstolos estavam discutindo
e polemizando no dia em que Jesus celebrava com eles a Ceia.
Era um momento de extrema solenidade e grandioso significado.
E em quê estavam ocupados? Em saber quem era o líder, quem era
o maior. Jesus afirmou-lhes categoricamente: “Entre vós não
será assim, antes o maior entre vós seja como o menor, e quem
governa como quem serve”. (v. 26).
Em
outra ocasião, quando o Senhor fazia o célebre sermão contra
os fariseus, declarou em alto e bom som: “Vós, porém, não queirais
ser chamados Rabi; porque um só é o vosso Mestre, e todos vós
sois irmãos. E a ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque
um só é o vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem queirais
ser chamados guias; porque um só é o vosso Guia, que é o Cristo.”
Isto está em Mateus 23.8-10.
Ou
a minha bíblia está desatualizada (há tantas bíblias ao gosto
do freguês hoje em dia, não é mesmo?) ou então a igreja evangélica
brasileira entrou por uma estrada altamente perigosa. Jesus
disse: “Mas o maior dentre vós há de ser vosso servo. Qualquer,
pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer
que a si mesmo se humilhar, será exaltado”. (idem, 11 e 12)
É
que hoje vivemos a realidade defeituosa da “qualidade total”,
dos projetos megalomaníacos de ostentação de números e poder
em várias de nossas igrejas. É a sedução dos números e a sedução
dos poderes.
Para
demonstrar o poder de Deus apresentam um relatório do número
de pessoas que as freqüentam. E, para deixar mais oficial ainda,
hierarquizam os ministérios, nomeando pastores simples, pequenos
líderes de igrejas insignificantes, até os grandes apóstolos,
detentores de maior poder e maior unção. Meu Deus, a que ponto
estamos chegando! Por tantos anos lutamos contra a igreja
institucional, a igreja-hierarquia, o romanismo, e agora estamos
fazendo pior ainda, porque, não raras vezes, os chamados “apóstolos”
não possuem qualidades espirituais, intelectuais ou morais nem
para serem obreiros! É tão fácil virar apóstolo hoje em
dia!
Só fico pensando: o que virá, depois de apóstolo? Sim,
porque haverá uma hierarquia, isso está no ser humano. Será
superapóstolo? Será querubim? Ou então será o semideus? Meu
Deus...
Eu sou um pastor. E o que me faz maior ou melhor que
meus irmãos? Nada! Eu sou igual a eles, só recebi do Senhor
uma incumbência, uma responsabilidade, e sou duas vezes responsável:
responderei pelo que vivo e também pelo que ensino. Mas sou
um irmão, e só isso! Respeito o bispado das denominações historicamente
episcopais. Mas atualmente a questão não é essa. O que transforma
um pastor num bispo, nos novos cultos evangélicos, tem mais
a ver com abrangência, carisma e coleta, do que com administração.
“Arrecadam mais, ajuntam mais gente”. E aonde está escrito que
deveriam ser apóstolos quando alcançassem esses alvos?
Hoje,
ser pastor parece não ser mais suficiente. Missionário então,
só os remanescentes R.R. Soares e David Miranda. Agora a moda
é apóstolo, mesmo que não tenham sido testemunhas oculares do
ministério de Jesus. Aliás, foi tão difícil achar um substituto
para os doze, votaram em Matias, quando talvez Paulo devesse
figurar entre eles, e agora temos verdadeiras fábricas de apóstolos.
E
o que eles têm de diferente? Dizem que são mais ungidos, que
manipulam as forças espirituais com maior autoridade, etc. Claro:
o pretexto é a abrangência do significado da palavra: missionário,
fundador de trabalhos, pioneiro, etc. Ou então as novas profecias
que vão aparecendo, recomendando a ressurreição e restauração
do "ministério apostolar". E assim vamos caminhando, apostolando
a igreja evangélica.
Que Deus nos ajude a voltar às páginas da bíblia! Vamos
parar de encaixar pessoas no versículo que cita “apóstolos,
profetas, evangelistas, pastores e mestres” e vamos começar
a ter a humildade de dizer: “sou só um servo do Senhor, e nada
mais”. Paremos de ofuscar a beleza de Cristo com a feiura
da vaidade humana! Paremos de nos autopromover, sob o pretexto
da espiritualidade, e vamos fazer valer o nosso título de cristãos!
Ministros: sejamos só irmãos, só pastores, isso já basta.
Que Cristo cresça, e que nós diminuamos! Seja Deus engrandecido,
e que o Espírito Santo nos ajude! Amém.
Wagner Antonio
de Araújo, irmão em Cristo, chamado para servir como pastor
no rebanho de Deus.
Igreja Batista
Boas Novas de Osasco, SP
02
- Segunda-feira, 01 de fevereiro de 2004
TORNEIRAS SECAS
Outro dia eu me peguei admirando
a torneira da cozinha. Lembrei-me da semana em que ficamos sem
água em São Paulo: caixas d’água vazias, banheiros inutilizados,
banhos por tomar, um transtorno! Lembro-me que, ao passar em
frente da torneira, eu pensava: “nunca desejei tanto que uma torneira funcionasse! Funciona, torneira!
Funciona!” Mas ela não funcionava. Somente alguns dias
mais tarde a SABESP regularizou o abastecimento.
Às vezes nos assemelhamos às torneiras secas, em nossa vida cristã:
por mais que os registros estejam abertos, não há uma gota de
água, não há satisfação interior, não há o menor sentimento
da presença de Deus em nós. Parece que estamos num deserto,
num lugar árido. É como se o céu fosse de bronze e as nossas
orações não passassem da cabeça. Estamos secos, estamos com
sede.
As torneiras só vertem água porque
estão ligadas ao cano da distribuidora. Caso contrário, poderíamos
viver desejando e nunca veríamos a água chegar. Lembro-me de
Lawrence da Arábia, que, numa de suas viagens para a Europa,
levou amigos árabes do deserto para um hotel. Após sair
e retornar ao apartamento, encontrou-os arrancando a torneira
do banheiro. Ao questioná-los sobre o que faziam, disseram:
“Nós queremos levá-la para o deserto, assim teremos água abundante
sempre!” Claro que ele teve que explicar-lhes que não era simples
assim. Sem canos, sem água.
Mas
também é preciso que haja água para ser vertida! Podemos ter
o melhor encanamento do mundo: canos de primeira qualidade,
dobras, cotovelos e peças de conexão as mais caras e famosas.
Mas se não houver água para suprir a canalização, de que adiantará
tudo isso?
Vivemos como uma torneira seca:
queremos a presença de Deus, queremos ver maravilhas e milagres,
desejamos ser ricamente usados, mas nada acontece, parece que
estamos vazios, sozinhos, insípidos, mortos, fracassados.
Aquela comunhão de outrora deu lugar a um vazio tão grande e
tão intenso!
É preciso fazer a água escoar. É preciso que a distribuidora
celestial abra as comportas, os registros, os canos, e faça
novamente circular os “rios de águas vivas”,
as “fontes de água viva” dentro de
nós. Lembro-me bem que a SABESP só liberou a água quando
tudo estava em ordem, quando realmente o reservatório atingiu
o nível adequado. Às vezes a água quase chegava, mas não enchia
as caixas: o nível era baixo. Também conosco muitas vezes acontece
de querermos e de não conseguir uma comunhão plena com o Senhor,
porque o nosso nível de comunhão está baixo, está relegado aos
segundo plano!
Para que a nossa torneira seca receba
novamente a água da comunhão é preciso “voltar
ao primeiro amor” (Apocalipse 2.4), reconhecendo que
o Senhor já teve muito mais de nós do que tem agora. É preciso
sondar o coração “e ver se há algum caminho mau” (Salmo 139.23), pois Deus
não permite que a iniqüidade se misture com a santidade (Isaías
1.13). É preciso crer que Deus “é galardoador
dos que o buscam” (Hb 11.6) e buscá-lo com fé, que é
o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das
coisas que se não “vêm” (idem, 11.1).
Hoje a torneira seca é só uma página árida nas minhas
memórias. A água verte abundantemente por elas e nas caixas.
Que assim seja também em nossa vida com Deus: que a graça do
Senhor esteja derramada abundantemente sobre nós. Que estejamos
na plenitude da comunhão, consolados e consolando, felizes e
fazendo felizes os demais, que Jesus em nós seja uma realidade
constante!
Torneiras vivas, irmãos!
Pr.
Wagner Antonio de Araújo
Igreja
Batista Boas Novas de Osasco, SP
texto escrito
em 01/10/2003
01 - Domingo, 01 de fevereiro de 2004
AROMA DE
PINHO CAMPOS DO
JORDÃO
Na
manhã deste domingo eu visitei o ponto de pregação de nossa
igreja, situado no bairro de Vila Souza, zona norte da capital
paulista. Ali, na casa da irmã Leontina, pude servir ao Senhor,
pregando a Sua Palavra, como mensalmente o faço. Eu os visito
de quando em quando.
Ao
chegar, somente a dona da casa estava presente, aguardando
o início do culto. Porém, em seguida, chegou o querido irmão
Israel. Ele, com sua alegria peculiar, o seu jeito humilde
e simples, abraçou-me, dizendo: "bom dia pastor! Que bom estarmos
na Casa do Senhor!" E, com o seu abraço, veio também a nostalgia,
pois ele estava usando o Pinho Campos do Jordão.
Eu
conhecia o aroma, porque trabalhei em farmácia aos 13 anos.
Eu entregava remédios, aplicava injeções e limpava todas as
prateleiras, inclusive de perfumaria. Então, quando limpava
a parte dos cosméticos, abria a tampa dos desodorantes, para
conhecer os seus aromas. E o pinho era um desodorante bem
em conta, e de um cheiro duradouro. Por isso identifiquei
com facilidade o perfume do Israel.
Ele
estava bem alinhado. Um moço humilde, com os seus quarenta
e poucos anos, sem carro, sem casa, sem posses, dono apenas
de um excelente caráter e de uma vida ilibada, poderia gastar
o seu domingo dormindo, passeando, pescando, indo jogar bola,
enfim, fazendo o que quisesse. Mas escolheu servir ao Senhor,
mesmo cansado pela labuta diária do trabalho. E veio contente
à igreja, com um sorriso nos lábios, bíblia à mão e muita
fé no coração. Para ele, o ponto alto da semana é o Dia do
Senhor.
O
Israel me fez lembrar os crentes da roça. Ah, aqueles crentes
valiosos! Geralmente labutam na roça e na beira dos rios durante
toda a semana, de sol a sol, calejando as mãos no manuseio
de foices e enxadas, suando a face e criando couro na sola
dos pés. E, ao chegar o domingo, dia de descanso, acordam
bem cedinho, assim que o galo começa a cantar (lá para
as três da manhã), e se trocam, colocando uma marmita na sacola
e pegando a sua bíblia surrada e bem marcada. Com coragem
pegam a estrada.
E
andam, andam, andam. Os que têm cavalos conseguem fazer isso
com menor esforço. Mas, a grande maioria, vai à pé mesmo,
sem medir a distância por quilômetros, mas por léguas. Sobem
morros, descem barrancos, e vão caminhando. Lá pelas dez da
manhã chegam ao templo, perdido no meio do alto da montanha.
Abrem a igreja, varrem tudo, passam um pano nos bancos, afinam
a viola, recebem os outros que vão chegando, e louvam ao Senhor
longamente. Depois o pregador, pessoa simples e sem muito
estudo, abre a boca e fala tudo o que sabe, às vezes sem homilética
alguma, mas com toda a fé e boa vontade do mundo. Daí, após umas
duas horas, o culto termina e eles vão até o gramado, estendem
as toalhas e tiram a bóia fria para fora, comendo gostosamente
o seu arroz, feijão e ovo frito, ou um pedaço de frango e
uma boa fruta para sobremesa. As crianças brincam, os jovens
conversam, as mocinhas sonham, e logo o sol avisa que é hora
de picar a mula, seguindo de novo, pois não há tempo para
dois serviços na igreja num só dia. E lá vão os heróis da
roça, de volta para os seus rincões, não sem antes suar muito,
andando à pé e, não poucas vezes, descalços (o sapato e a
"roupa boa" é só para a hora do culto).
Se alguém tinha motivos para não servir a Deus, esse alguém era
o roceiro crente. Podia descansar, ficar em casa o dia todo!
Mas não, ele luta, labuta, se dedica. E, ao chegar em casa
depois da viagem, cansado, ainda tem qie arrumar a tralha
toda para pegar no batente cedinho, no dia seguinte. Tem
roçado pra cuidar, geralmente que nem dele é, uma vida muito
difícil! Porém, é esse mesmo roceiro que não mede esforços
para que chegue o próximo domingo. Ele serve a Deus por prazer!
Nós,
aqui da geração urbana, aprendemos a viver com facilidades.
E colocamos tanto empecilho no serviço do Senhor! Tudo é difícil!
Cantar no coral? Fazer evangelismo? Participar de atividades
especiais? Ir à igreja de manhã e à noite? Tenho conhecimento
de que duas igrejas internacionais muito conhecidas, estão
orientando os seus milhares de membros a não virem ao templo,
mas participarem do culto pela internet apenas, é mais fácil.
Lá no site eles encontram pregações para todos os gostos.
Será que tem oração específica também? Cada um faz o seu pratinho
de refeição espiritual. Seus líderes apenas solicitam
que os dízimos sejam enviados corretamente através do cartão
de crédito, não precisando mais preocuparem-se com nada. Eu aplaudo a tecnologia, eu também a utilizo (é por ela que envio os meus
textos!). Mas, será que é assim que Deus quer que o sirvamos,
isto é, solitariamente, sem esforço e inter-relações eclesiásticas? Um
serviço solitário, dentro da minha casa, fácil, cômodo, seguro,
num tempo livre que tiver, substituiria o esforço pelo Reino?
O
Israel é um exemplo pra mim. Para ele o Dia do Senhor é uma
bênção. Quando chega a tarde ele sai com um maço de folhetos,
deixando-os nas casas. E não tem preguiça. Ele diz que Jesus
fez muito mais por ele, portanto, tem prazer em servi-lo.
Como
precisamos de israéis em nossas igrejas! Como precisamos ser
israéis em nossa devoção!
Agora,
toda vez que eu sentir o aroma do pinho Campos do Jordão,
me lembrarei desse jovem valoroso, que ama a Jesus, e procurarei
também amar mais a Jesus, dedicando-me melhor e com mais empenho
ao Senhor.
Um
abraço a todos.
Pr.
Wagner Antonio de Araújo
Igreja
Batista Boas Novas de Osasco, SP
bnovas@uol.com.br
.
37.SER PASTOR
Qual o sentido dessa palavra? Ser pastor!
Uma afirmação tão pequena, mas repleta de tanto significado!
Ser pastor é muito mais que
ser um pregador. Está além de ser um administrador de igreja.
Muito além de professor ou conferencista. Ser pastor é algo
da alma, não apenas do intelecto.
Ser pastor é sentir paixão
pelas almas. É desejar a salvação de alguém de forma tão
intensa, que nos leve à atitude solidária de repartir as
boas-novas com ele. É chorar pelos que se mantém rebeldes.
É pensar no marido desta irmã, no filho daquela outra, na
esposa do obreiro, nos vizinhos da igreja, nos garotos da
rua. Ser pastor é tudo fazer para conseguir ganhar alguns
para Cristo.
Ser pastor é festejar a festa
da igreja. É alegrar-se com a alegria daquele que conquista
um novo emprego, daquele que gradua-se na faculdade, daquele
que recebe a escritura da casa própria ou do outro que recebeu
alta no hospital. Ser pastor é ter o brilho de alegria ao
ver a felicidade de um casal apaixonado, ao ver o sucesso
na vida cristã de um jovem consagrado, é festejar a conversão
de um familiar de alguém da igreja por quem há tempos se
vinha orando. Ser pastor é desejar o bem sem cobiçar para
si absolutamente nada, a não ser a felicidade de participar
dessa hora feliz.
Mas ser pastor também é chorar.
Chorar pela ingratidão dos homens. Chorar porque muitas
vezes aqueles a quem tanto se ajudou são os primeiros a
perseguirem-nos, a esfaquearem-nos pelas costas, a criticarem-nos,
a levantarem falso testemunho contra a igreja e contra nós.
É chorar com os que choram, unindo-nos ao enlutado que perdeu
um ente querido, é dar o ombro para o entristecido pela
perda de um amor, é ser a companhia do solitário, é ouvir
a mesma história uma porção de vezes por parte do carente.
Chorar com a família necessitada, com o pai de um drogado,
com a mãe da prostituta, com a família do traficante, com
o irmão desprezado.
Ser pastor é não ter outro
interesse senão o pregar a Cristo. É não se envolver nos
negócios deste mundo, buscando riquezas, fama e posição.
É saber dizer não quando o coração disser sim. É não ir
à casa dos ricos em detrimento dos pobres. É não dar atenção
demasiada para uns, esquecendo-se dos outros. É não ficar
do lado dos jovens, em detrimento dos adultos e vice-versa.
Ser pastor é não envolver-se em demasia com as pessoas,
ao ponto de se perder a linha divisória do amor e do respeito,
do carinho e da disciplina. Ser pastor é não aceitar subornos
nem tampouco desprezar os não expressivos.
Ser pastor é ser pai. É disciplinar
com carinho e amor, conquanto com a firmeza da vara, da
correção e, não raras vezes, da exclusão de pessoas queridas.
É obedecer a Bíblia, não aos homens. É seguir a Deus, não
ao coração. Ser pastor é ser justo. Ser pastor é saber dizer
não, quando a emoção manda dizer sim. Ser pastor é ter a
consciência de não ser sempre popular, principalmente quando
tiver que tomar decisões pesadas e difíceis, e saber também
ser humilde quando a bênção de Deus o enaltecer diante do
rebanho e diante do mundo. Os erros são nossos, mas a glória
é de Deus.
Ser pastor é levantar-se
quando todos estão dormindo e dormir quando todos estão
acordados, socorrendo ao necessitado no horário da necessidade.
Ser pastor é não medir esforços pela paz. É pacificar pais
e filhos, maridos e esposas, sogros e genros, irmãos e irmãs.
Ser pastor é sofrer o dano, o dolo, a injustiça, confiando
nAquele que é o galardoador dos que o buscam. Ser pastor
é dar a camisa quando lhe pedem a blusa, andar duas milhas
quando o obrigam a uma, dar a outra face quando esbofeteado.
Ser pastor é estar pronto
para a solidão. É manter-se no Santo dos Santos de joelhos
prostrados, obtendo a solução para os problemas insolúveis.
Ser pastor é não fazer da esposa um saco de pancadas, onde
descontar sua fragilidade e cansaço. Ser pastor é ser sacerdote,
mantendo sigilo no coração, mantendo em segredo o que precisa
continuar sendo segredo, e repartindo com as pessoas certas
aquilo que é "repartível". Ser pastor é muitas vezes
não ser convidado para uma festa, não ser informado de uma
notícia ou ser deixado de fora de um evento, e ainda assim
manter a postura, a educação, o polimento e a compaixão.
Ser pastor é ser profeta, tornar o seu púlpito um "assim
diz o Senhor", uma tocha flamejante, um facho de luz, uma
espada de dois gumes, afiada e afogueada, proclamando aos
quatro ventos a salvação e a santificação do povo de Deus.
Ser pastor é ser marido e
ser pai. É fazer de seu ministério motivo de louvor dentro
e fora de casa. É não causar à esposa a sensação de que
a igreja é uma amante, uma concorrente, que lhe tira todo
o tempo de vida conjugal. Ser pastor é amar aos seus filhos
da mesma forma que ensina aos pais cristãos amarem aos seus.
É olhar para os olhos de seus filhos e ver o brilho de seus
próprios olhos. É preocupar-se menos com o que os outros
vão pensar e mais no que os filhos vão aprender, sentir
e receber. É ver cada filho crescer, dando a cada um a atenção
e o amor necessários. É orgulhar-se de ser pai, alegrar-se
por ser esposo, servir de modelo para o povo. E, quando
solteiro, tornar a sua castidade e dignidade modelo dos
fiéis, enaltecendo ao Senhor, razão de sua vida.
Ser pastor é pedir perdão.
Se os pastores fossem super-homens, Deus daria a tarefa
pastoral aos anjos, mas preferiu fazer de pecadores convertidos
os líderes de rebanho, pois, sendo humanos, poderiam mostrar
aos demais que é possível ser uma bênção. Mas, quando pecarem,
saberem pedir perdão. A humildade é uma chave que abre todas
as portas, até as portas emperradas dos corações decepcionados.
A humildade pode levar o pastor à exoneração, como prova
de nobresa e integridade, como pode fazê-lo retomar seus
trabalhos com maior pujança e vigor. Há pecados que põem
fim a um ministério e ser pastor é saber quando o tempo
acabou. Recomeçar é possível, mas nem sempre. Ser pastor
é saber discernir entre ficar ou sair, entre continuar pastor
e recolher-se respeitosamente.
Ser pastor é crer quando
todos descrêem. Saber esperar com confiança, saber transmitir
otimismo e força de vontade. É fazer de seu púlpito um farol
gigantesco, sob cuja luz o povo caminha sempre em frente,
para cima e em direção a Deus. Ser pastor é ver o lado bom
da questão, é vislumbrar uma saída quando todos imaginarem
que é o fim do túnel. Ser pastor é contagiar, e não contaminar.
Ser pastor é inovar, é renovar, é oferecer-se como sacrifício
em prol da vontade de Deus. Ser pastor é fazer o povo caminhar
mais feliz, mais contente, é fazer a comunidade acreditar
que o impossível é possível, é fazer o triste ser feliz,
o cansado tornar-se revigorado, o desesperado ficar confiante
e o perdido salvar-se. As guerras não são ganhas com armas,
mas com palavras, e as do pastor são as palavras de Deus,
portanto, invencíveis.
Ser pastor é saber envelhecer
com dignidade, sem perder a jovialidade. É ser amigo dos
jovens e companheiro dos adultos. Ser pastor é saber contar
cada dia do ministério como uma pérola na coroa de sua história.
Ser pastor é ser companhia desejada, querida, esperada.
É saber calar-se quando o silêncio for a frase mais contundente,
e falar quando todos estiverem quietos. Ser pastor é saber
viver. Ser pastor é saber morrer.
E quando morrer, deixar em
sua lápide dizeres indeléveis, que expressem na mente de
suas ovelhas o que Paulo quis dizer, quando estava para
partir: "combati o bom combate, terminei a carreira, guardei
a fé". Ser pastor é falar mesmo depois de morto, como o
justo Abel e o seu sangue, através de sua história, de seu
exemplo, de seus escritos, de suas gravações. Ser pastor
é deixar uma picada na floresta, para que outros venham
habitar nas planícies conquistadas para o Reino do Senhor.
Ser pastor é fazer com que os filhos e os filhos dos filhos
tenham um legado, talvez não de propriedades, dinheiro ou
poder político, mas o legado do grande patriarca da família,
daquele que viveu e ensinou o que é ser um pastor.
Eu sou pastor.
|
38. FLOR DE MAIO . 01/05/2007
TEMPOS QUE NÃO MUDAM
A nossa vida é tão curta, tão rápida,
tão semelhante a um "conto ligeiro", tão parecida com a neblina da manhã,
que é difícil nos conscientizarmos de que "o tempo não para". O tempo
não aguarda que nos ajustemos a ele. Aquela canção "não vou me adaptar",
dos Titãs, expressa muito bem a surpresa de uma criança crescida, que
se vê no corpo de um adulto. E qual de nós não experimentou essa sensação,
ao menos uma vez na vida?
Diz o sábio Salomão, em um de seus célebres escritos, que "há tempo
para todas as coisas debaixo do Céu" (Ec 3.1). Sim, de fato, para tudo,
há um tempo determinado. Isto é, há coisas que só devem acontecem naquele
tempo. Por exemplo:
1) Uma semente só germina passados os
dias necessários para isso
2) O nascimento sadio de uma criança
leva nove meses de gestação;
3) Um bolo tem os minutos certos para
ficar assando no forno; se sair antes, sai cru, se sair depois, sai
queimado;
4) Um ser humano precisa de oito horas,
no mínimo, de sono saudável, diariamente;
5) Devemos ter três refeições ao dia,
e nossas barrigas sentem a chegada do horário de costume;
6) Há um vazio no peito do ser humano,
que tem o tamanho exato de Deus, e, enquanto não for preenchido, ele
acusará estar oco, necessitando de preenchimento, e esse tempo é a vida
toda.
Isso nos faz pensar sobre a forma com
que lidamos com o tempo, e a maneira que o gastamos, diante da vida
pós-moderna de um mundo globalizado. Nossas crianças têm tempo para
brincar? Nossos adolescentes têm tempo para aprimorar o que aprenderam?
Nossos adultos têm tempo para viver com alegria?
É meio difícil.
Nossas crianças vivem prisioneiras em
nossos apartamentos e casas, devido à necessária segurança contra balas
perdidas, seqüestros ou trânsito maluco. Assim, não sabem mais o que
é um carrinho de rolemã, um jogo de bola na rua ou, para as meninas,
uma brincadeira de amarelinha, de estátua ou de vai-e-vem.
Nossos adolescentes vivem grudados num
monitor de computador, experimentando a experiência alheia de vitória,
derrota, de matança ou de conquista, esparramada pelos jogos de videogame
nos comuns "playstation 3". São verdadeiras bombas-relógio, ou represas
que estão prestes a estourar, cheias de vitalidade e potencial não utilizado;
no dia em que estouram, o fazem mal, e escolhem a violência, a promisquidade
e o afastamento dos valores morais, éticos e cristãos.
Nossos adultos, casados e pais, talvez
não estivessem preparados para tal, e hoje padecem para alimentar a
família, para manterem-se empregados, para sustentar seu conforto, restando
pouco tempo para a família, para os amigos e para Deus. Vivem sob a
égide do "stress", andam no limite entre a sanidade e o ataque cardíaco.
A flor-de-maio é um exemplo para nós.
Iniciando em maio, suas flores são belíssimas. Mas não abrem em novembro
ou em fevereiro, se não forem forçadas geneticamente ou por técnicas
de invasão à sua natureza. Assim devemos respeitar o tempo de nossa
existência, vivendo bem cada uma das fases: tempo de ser crianças, tempo
de ser jovens, tempo de ser adultos. E, em cada um deles, lembrarmos
de que há coisas cujo tempo é "sempre", cuja prioridade é "total", cuja
prática é indispensável para o alcance da verdadeira felicidade:
1) É tempo de buscar a Deus! "Buscai
ao Senhor, enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto" (Is
55.6)
2) É tempo de perdoar! "Perdoai, e sereis
perdoados".(Mt 6.12)
3) É tempo de começar de novo! "Cairá
o justo sete vezes, mas não ficará prostrado".(Prov 24.16)
4) É tempo de encarar a eternidade, e
tomar decisões que nos aproximem de Deus: "louco, esta noite te pedirão
a tua alma...", "prepara-te para te encontrares com o teu Deus".(Lc
12.20; Am 4.12)
O Criador, o Grande Arquiteto do Universo,
o Deus Imanente e Transcendente, Santo, Justo, Perfeito, Eterno, Imenso,
Infinito, Pessoal, confiou a cada um de nós um tesouro incomensurável,
o dia de hoje, a vida que temos agora. Cabe a nós, no uso de nosso livre
arbítrio e sabedoria, escolher o melhor, isto é, escolher buscá-lo,
amá-lo e conhecê-lo, pois todas as outras coisas se ajustarão.
"O temor do Senhor é o princípio da Sabedoria";
"Buscai primeiro o Reino de Deus, e as outras coisas vos serão acrescentadas"
(Mt 6.33)
Que seja assim. Amém.
Wagner Antonio de Araújo
- - -
ANTES DE RECLAMAR
Eu gosto de reclamar. Você não gosta? Ah, qual de nós, por melhor que
seja, não sente cócegas na língua para reclamar de alguma coisa, ao
menos uma vez ao dia? “A comida está quente”, “o ônibus estava lotado”,
“o salário não deu”, “seu beijo não foi caliente”, “o tempo está mudado”,
etc.
Se eu deixar meu ser interior à dianteira da minha razão e do controle
do Espírito Santo em mim, passo o dia a reclamar de tudo. Reclamar de
mim, dos outros, do mundo, da vida, da eternidade, das roupas, e até
dos sonhos.
Contudo, tenho feito isto, e talvez ajude a você também.
Antes de reclamar do tempero, da temperatura, da quantidade, do aroma
da comida,
Lembro-me que há aqueles que não têm escolha, a única opção é passar
fome ou comer o que ainda resta.. Também me lembro dos cristãos, presos
nos cubículos fétidos das prisões, que ganham uma fatia de pão por semana
e um copo com água por dia. Então digo: “obrigado, Senhor!”
Antes de reclamar das lágrimas que verti por uma mulher, por um amor
perdido, uma paixão do passado, um sonho desfeito, uma mãe que morreu,
Lembro-me daqueles que nunca amaram, que nunca tiveram uma mãe ou um
pai, que foram renegados e relegados ao desprezo e ao abandono, que
vivem ou viveram sozinhos num mundo inóspito e desprezível. Então digo:
“obrigado, Senhor!”
Antes de reclamar da saúde, da dor nas costas, da hérnia de disco, do
nervo ciático, do problema do coração ou da pressão,
Lembro-me daqueles que adoecem num povoado ribeirinho, sem acesso aos
médicos, daqueles que não têm outros cuidados senão o de plantas e o
das orações, daqueles que padecem de males tão simples, mas sem socorro
nenhum, daqueles que sofrem nos hospitais, nos estágios terminais de
um câncer, aleijados, sem órgãos básicos à sobrevivência, e digo: “Obrigado,
Senhor!”
Antes de reclamar do país, do governo, do partido, do sistema, dos ladrões
engravatados, dos religiosos mentirosos, da estrutura falida da administração,
Lembro-me daqueles que vivem sob governos terroristas, na mira de uma
metralhadora, cujas mulheres não podem ser livres, e os jovens não podem
rezar por outra cartilha; lembro-me dos que são obrigados a servir o
exército e morrer sem confiar naquela causa, lembro-me dos que não têm
liberdade de ouvir o evangelho nem de portar uma bíblia, dos que não
podem expor publicamente a sua fé, e digo então: “Obrigado, Senhor!”
Antes de reclamar do pouco dinheiro, do salário insuficiente ou não
pago como deveria, antes de reclamar da conta corrente quase esgotada
e da carteira vazia,
Lembro-me dos que trabalham o mês inteiro para cortar cana, e recebem
menos do que tinham antes, que não conseguem mais fazer uma bóia quente,
porém, só fria; lembro-me dos que juntam o ano inteiro para comprar
um par de sapatos ou um sabonete de cheiro, lembro-me dos que dariam
tudo para ao menos terem uma cama quente no inverno e um refrigerante
gelado no verão, e não têm. Então eu digo: “Obrigado, Senhor!”
Mas, quando faço isso, sinto no peito uma dor, a dor de quem não merece
o que tem, e peço ao Pai: “Senhor, ajuda-me, neste dia que me dás, a
repartir a minha comida com alguém que atravessa a dor da fome, a dar
meu ombro a alguém que chora por um amor perdido ou um ente que se foi,
a curar a doença ou amenizar a dor física de um moribundo, a usar da
liberdade de meu país para divulgar a todos as boas-novas do Evangelho
libertador, de Jesus Cristo, ajuda-me a realizar o sonho de alguém que
é mais pobre do que eu, sem esperar por recompensas ou pagamentos. Afinal,
se tenho alguma coisa, devo tudo a Ti."
Então vivo muito mais feliz, muito mais contente, e, conquanto não possa
transformar todo o mundo do jeito que gostaria, posso fazer diferença
na minha vida, vivendo sob ações de graça, e posso interferir na penúria
de alguém, cujo caminho cruzar-se com o meu, e mostrar-lhe o quanto
é bom repartir e agradecer.
Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus
para convosco. (1Ts 5:18)
Que assim seja.
Amém.
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco SP
Crônicas FLOR-DE-MAIO - (03)
A MINHA ESTRELA
Hoje, enquanto ia para a igreja, contemplava
a beleza de um luar cor de prata! Ah, que prato cheio para os românticos!
Que beleza para os astrônomos nos observatórios! Que maravilha para
os caminheiros na roça dos rincões do Brasil! "Louvai-o, sol e lua;
louvai-o, todas as estrelas luzentes." (Sl 148:3)
É interessante que em noite de luar forte
as estrelas quase que desaparecem, salvo uma ou outra mais afoita, mais
cintilante. As demais ficam tímidas ao brilho de um luar tão belo! Somente
quando a lua se vai, as estrelas voltam a brilhar. E, tanto a lua quanto
as estrelas, exercem funções distintas e maravilhosas no Céu que nosso
Deus criou. "Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome sobre
toda a terra" (Sl 8:9)
Pus-me a pensar em algumas coisas. Afinal,
tudo que acontece, para o nosso bem é que ocorre. Pensei no brilho de
minha estrela. Cada um de nós é uma estrela, e, em certo sentido, tem
uma estrela, um brilho. Uns têm brilho cintilante, outros nem tanto;
uns participam na formação do Cruzeiro, da Ursa Maior, Menor, mas outros
têm seus papéis-solo, como a Estrela D'alva. "Uma é a glória do sol,
e outra a glória da lua, e outra a glória das estrelas; porque uma estrela
difere em glória de outra estrela." (1Co 15:41)
Imaginei que cada um de nós é uma estrela,
e cada um de nós tem o seu espaço. Deus nos criou com uma missão, e
cabe realizarmos bem a obra a nós confiada.
Para que a minha estrela brilhe, eu não
preciso apagar a sua.
Há pessoas que não suportam o brilho
das outras. Tais pessoas não são capazes de, por si só, executarem sua
missão. Elas querem apagar as outras ao seu redor. Querem ser o foco
das atenções. Não suportam concorrência.
No céu não há espaço para estrelas apagadoras
de estrelas. Cada uma pode brilhar, cintilar, emoldurar, embelezar.
Não é porque a sua estrela é bela que ninguém mais pode ter beleza.
Não é porque você deseja sucesso, que ninguém mais pode prosperar. Não
é por ser famoso que terá que denegrir a vida alheia, estragando a carreira
do seu companheiro de abóbada.
Que tristeza ver pastores concorrentes,
muitas vezes na própria denominação! Ver cantores que procuram perverter
a música dos outros, só para o seu cd vender mais e melhor! Igrejas
que se acham mais “apostólicas”, mais “ungidas”, mais “fundamentalistas”,
mais “dignas e santas”, e que, para provar tudo isso, gastam seu tempo
e atenção em criticar o trabalho dos outros. Creio que o que é bom se
exibe por si só, e o que é verdadeiro se prova com o tempo e qualidade.
Não precisamos destruir o castelo de areia do próximo. Podemos fazer
nossa obra e ainda desejar que o outro tenha bênçãos também. "Assim
que não nos julguemos mais uns aos outros; antes seja o vosso propósito
não pôr tropeço ou escândalo ao irmão." (Rm 14:13)
Para que a minha estrela brilhe, eu não
preciso brilhar mais que a sua.
Esse fanatismo pelo sucesso e a primazia
turba a vista para a beleza do universo. Já pensou se todas as estrelas
tivessem o mesmo brilho, tamanho, distância, luminosidade, posição,
etc? Seria um céu artificial, horroroso, sem beleza. Seria um painel,
não um céu. Contudo, Deus colocou cada estrela, de cada tamanho, distância,
beleza, grandeza, no lugar em que quis, e as abençoou. "Tudo fez formoso
em seu tempo; também pôs o mundo no coração do homem, sem que este possa
descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim." (Ec 3:11)
Também Deus deu talentos e limites para
cada um de nós, e nos abençoou. "E a um deu cinco talentos, e a outro
dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade..." (Mt 25:15)
É hora de pararmos com a cobiça, e fazermos o que temos que fazer, de
forma boa, bela, agradável, construtiva, e com a mente cooperadora,
não competitiva.
Brilhe o tanto que tiver que brilhar,
brilhe o seu máximo, mas não para se comparar com a estrela do outro.
Brilhar para sobrepujar o outro é vaidade, e é pecado. Devemos brilhar
de alegria, de contentamento, de felicidade, de fidelidade, de submissão.
Pouco nos importa que tamanho teremos, desde que seja o tamanho que
Deus determinou, e que a glória seja toda dele, nada nossa. No momento
em que a jactância e a presunção tomarem conta de nossos ministérios,
nosso negócio, nossa beleza física, nosso casamento, nosso patrimônio,
talentos naturais, cursos ou relacionamentos, ferimos e entristecemos
o Espírito de Deus e começamos nossa queda no abismo da derrota. "Como
dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes
que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu" (Ap 3:17)
Para terminar: só há um luminar na noite
que tem o direito de brilhar mais que nossa estrela: a Lua Cheia. Sim,
ela tem direito. É a rainha das noites, debaixo da qual nos subordinamos
com reverência. Claro que isso é simbólico: Jesus Cristo é a Luz Única
e Verdadeira, e as nossas devem se submeter à dele, isto é, importa
que Cristo cresça e que nós diminuamos. "É necessário que ele cresça
e que eu diminua." (Jo 3:30)
Assim, quando virem nosso brilho e quiserem
saber do que é feito, constatarão que nosso brilho mostra Cristo, nosso
brilho é manso, humilde, meigo, caridoso, benfazejo, cheio de altruísmo,
não cobiçoso de torpe ganância, não desejoso de fama, dinheiro, poder
e prazer. Poderemos dizer: a luz que em nós brilha reflete Aquele que
nos iluminou para sempre!
Daí o antigo cântico do Rev. Emílio Kerr
se cumprirá em nós:
“Que a beleza de Cristo se veja em mim;
toda a sua admirável pureza e amor. Ó, tu, chama divina, todo o meu
ser refina, ‘té que a beleza de Cristo se veja em mim”.
Que assim seja.
Amém.
FLOR-DE-MAIO - (04) levantarei ( 07/05/07)
Dia belíssimo vivi. Rever Minas Gerais é sempre um aroma de saudade
e um colírio de lembranças.
Em minha infância, vivi parte de cada ano em nossa casa da roça, na
Meia Légua, lugarejo do município de Cambuí. Trago no peito as marcas
dessa infância: meu cavalinho de pau, meus carrinhos de plástico, o
escorregador do morrinho, a cachoeira, o eco entre as montanhas, o meu
primeiro beijo e a primeira namorada, as missas que ajudava (era católico
e coroinha), o frio gelado e úmido do mês de julho, o motorádio do meu
pai, tocando às nove da noite o "Linha Sertaneja Classe A".
Fui hoje à tarde para lá, com o Pr. Alfred,
mostrar-lhe minhas origens. Passei por todo o estradão, desci até o
povoado, atravessei o mata-burros, parei junto à corredeira do riozinho,
contemplei o verde mineiro daquelas terras tão queridas.
Na subida, uma comprovação.
Há tempos atrás, quando compraram as terras de meu avô João Paulino
de Araújo, destruíram o bambuzal que ladeava a estrada, talvez
500 metros de vegetação fechada. Era dali que pegávamos a lenha de fogo
rápido para o fogão à lenha; não apenas nós, mas minhas tias, primas
e vizinhos. O bambuzal servia de refúgio para pássaros, refresco em
dias de calor intenso, abrigo contra chuva, beleza na paisagem, etc.
Quem comprou não viu beleza ou utilidade nele. Apenas quis desfazer-se
desse estorvo do caminho, para encher a terra de vacas e bezerros. Então
destruiu tudo, pedaço por pedaço, arrancou raízes, decepou brotos, destruiu
qualquer lembrança de bambus naquele lugar. Depois vendeu os bezerros,
matou as vacas e foi embora.
Entretanto, a força da vida é maior que o poder destrutivo da morte;
alguns restos de raízes arrebentaram na terra anos depois, e esse renovo
invadiu uma pequena fresta da estrada. Agora, talvez dois anos passados,
o bambuzal está grande, cheio, viçoso, bonito, e cobre metade do espaço
original. É o milagre da vida! Quem não viu nele qualquer serventia,
agora tira o chapéu e o chama de "professor de perseverança"!
Isso trouxe à minha mente a triste realidade de nossas vidas, quando
as interpéries, os amores não compreendidos, os fracassos financeiros,
as doenças degenerativas e a depressão corrosiva, destroem a nossa vida
e toda esperança de amor, alegria, felicidade, prosperidade. Julgam-nos
como os mais desprezíveis, gente sem valor, de sentimentos irrelevantes.
Sentimo-nos como se fôssemos seres de segunda categoria, pois nada dá
certo para nós, parece que a nossa estrela nasceu no pé, pois na testa
só a frase “infeliz”. Quanto mais queremos melhorar, progredir,
vencer, tanto mais os inimigos vêm sobre nós, arrancando nossas raízes,
decepando nossas esperanças, levando nossos amores nas enxurradas dos
choros incontidos. Somos um bambuzal desenterrado, salgado e cimentado.
Contudo, amados leitores, maior é o que está em nós, do que aquele que
está no mundo. "Filhinhos, sois de Deus, e já os tendes vencido; porque
maior é o que está em vós do que o que está no mundo." (1Jo 4:4)
Se é forte a força da morte, mais forte é o poder de Deus, e a força
do amor tem virtudes e poderes que transcendem a própria razão. Mesmo
morto, é possível ressuscitar! "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição
e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;" (Jo 11:25)
Se as águas derrubaram seus castelos de areia, não desanime: Deus trará
materiais mais duradouros para você construir seus sonhos! "Porque sete
vezes cairá o justo, e se levantará;" (Pv 24:16)
Se o tempo e o esforço destruíram sua saúde, não perca a esperança:
muito pode a oração de um justo em seus efeitos, e poderosa é a força
da esperança! Ademais, se nosso tabernáculo terrestre se desfizer, temos
morada no Céu, indestrutível! Aleluia! "Confessai as vossas culpas uns
aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita
por um justo pode muito em seus efeitos." (Tg 5:16); "Porque sabemos
que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos
de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus."
(2Co 5:1)
Se a vida lhe privou de oportunidades, não ignore esta, enquanto lê
esta crônica: não foi à toa que você encontrou este texto! Você começará
de novo, e do jeito certo! Quem disse que não dá?? É custoso, é difícil,
mas não é impossível! Levante-se! Anime-se! Agarre-se ao filete de vida
que sobrou! "Espera no Senhor, anima-te, e ele fortalecerá o teu coração;
espera, pois, no Senhor" (Sl 27:14); "Entrega o teu caminho ao Senhor;
confia nele, e ele tudo fará." (Sl 37:5)
Se o amor lhe fechou a porta e a solidão tornou-se companheira, lembre-se:
nada acontece por acaso, e Deus tem um plano em sua vida! Só Deus sabe
quais os bons planos tem para sua vida amanhã! Convém crer, agradecer
e se empenhar em fazer Sua vontade! "Porque eu bem sei os pensamentos
que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não
de mal, para vos dar o fim que esperais". (Jr 29:11)
Se o pecado ceifou sua esperança de vida eterna, e uma trágica expectativa
de inferno povoa seus mais secretos sonhos, turbando o sono e perturbando
o coração, acredite: ainda há perdão para você, no coração de Deus!
Confesse, abandone o erro, confie em Cristo, e ressurja das trevas!
"Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos,
e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso
Deus, porque grandioso é em perdoar." (Is 55:7)
Mais uma vez o bambuzal me trouxe esperança. E creio que trará para
o meu leitor também. Afinal, mesmo destruído, ele venceu. Mesmo desenterrado,
sobrou um pedacinho de vida. E esse pedacinho reinou. Deixe que o pedaço
bom de você, que ainda existe, tome conta do seu hoje e do seu amanhã.
"Porque há esperança para a árvore que, se for cortada, ainda se renovará,
e não cessarão os seus renovos." (Jo 14:7)
Que assim seja.
Amém.
Wagner Antonio de Araújo
FLOR-DE-MAIO - (05) _ 11/05/2007
A MINHA
PARTE
Nesta semana tão agitada, tantos compromissos, reuniões,
eventos e visitas, uma oração me tocou. Foi a do Serginho, no culto
matinal da terça-feira (a Boas Novas de Osasco SP reúne-se às 7 horas
desse dia para orar). Dizia ele ao Senhor: “Oh, Deus, dá-nos a graça
de fazermos a nossa parte em prol da salvação de nosso país, e da transformação
de nossa sociedade”. Amém!
Às vezes achamos que a nossa parte é tão pequena!
Afinal, não temos a mídia a nos observar, a publicar nossos feitos,
ditos e fotos nos sites e televisões. Consideramo-nos tão inexpressivos!
Mas isto não é verdade. Se uma alma vale mais do que todo o mundo, então
um bom exemplo e uma atitude construtiva também valem muito!
Podemos fazer a nossa parte quando mostramos boa
educação. “Com licença” é algo tão belo, ao nos sentarmos no lugar vago
do banco do ônibus, e tão poucos pedem! Dizer “Pode ir na minha frente”,
numa fila de banco, significa muito no conceito de alguém, e foi algo
tão pequeno! Às vezes ambos serão atendidos ao mesmo tempo! Contudo,
o sentimento benfazejo no peito de quem ganhou a vez é encorajador!
“Mas nem todos são dignos!” Sim, é verdade. Mas, e daí? Eu também não
fui digno do amor de Cristo, e mesmo assim, Ele me amou, e a si mesmo
se entregou por mim! E eu era um pecador! Sou ainda (miserável homem
que sou!), mas um pecador perdoado, graças a Deus!
No trânsito, não precisamos entrar no “mistério da
seta” – ainda estou para fazer um mestrado, no estudo comportamental
da seta na ansiedade e da prepotência humanas: basta sinalizar que vai
mudar de faixa, que o carro de trás acelera, buscando ocupar o lugar
que pedimos! Faça um teste, e veja se minto! Porém, se pararmos para
pensar, exigir esse lugar sinalizado é tão pouca coisa! E há gente que
morre ali, vitimado pela violência e por buscar fazer justiça com as
próprias mãos! Seria tão mais fácil ceder! Pode não parecer justo, podemos
nos sentir injustiçados, mas é o que deveríamos fazer, pois, em última
análise, não há um justo sequer. Assim, “dá a quem te pede” (Mt 5:42).
Dizer “bom dia”, “olá”, “como vai?”, “por favor”,
“um momento apenas”, “Deus lhe abençoe”, “com muito prazer”, é tão fácil,
mas tão em desuso em grandes capitais! Nas cidades do interior nem tanto,
mas em capitais, em metrópoles em ebulição, as pessoas passam pelas
outras, pisam em seus pés, esbarram, mas não cumprimentam. Que bom seria
se mudássemos isso em nossas ruas, bairros, empresas, igrejas, classes,
e cultivássemos a semeadura de bons hábitos, de gestos de cortesia,
de palavras de atenção, de manifestação de afeto! No começo pode parecer
ridículo, mas com o tempo, o bom exemplo “pega”.
Fazer a minha parte é também semear o evangelho de
Cristo. Não estou falando de combater a igreja do outro, porque isso
é fácil, e só provoca a guerra. Muitos combatentes desfalecem no caminho,
porque acabam por perceber que seus líderes religiosos eram tão
pecadores (ou mais) que os da igreja combatida, e desanimam até do Caminho.
Mas falo de semear a Cristo, a bíblia, a mensagem redentora, a palavra
de fé, encorajamento e conversão. Conheço alguém que mandou imprimir
em copos plásticos de água a frase “quem beber essa boa água, sede sentirá,
mas quem beber de Cristo, espiritualmente, nunca mais terá sede de Deus”.
E sai a distribuir água nos semáforos da avenida! Outro presenteia mensalmente
uma bíblia, a um colega de serviço. Ainda outro grava as mensagens do
pastor, e distribui os cds para os não crentes. Cada um pode inventar
o seu método de cristianizar seus arredores. O importante é usar um,
e não viver a discutir. Enquanto discutimos se é com vestido ou
calça comprida que deve se vestir, deixamos nus os que precisam de roupas.
Portanto, seria tão bom falarmos menos, e fazermos mais!
A oração do Serginho falou comigo. Creio que já achei
o meu caminho: pregar a Palavra de Deus, escrever minhas mal-traçadas
linhas, comunicar-me na internet, pastorear o pequenino rebanho de Cristo
aos meus cuidados, aconselhar, cantar nos cultos, tocar o pouco que
sei, fazer amizades das mais variadas vertentes, e orar. E usar das
coisas boas que aprendi, para melhorar os costumes, aumentar o bom relacionamento,
tornar o trânsito menos violento, ser um agente ativo nos propósitos
de Deus. Assim, terei vivido a minha vida com algum significado especial,
e deixarei algum fruto.
Quero fazer a minha parte.
E você?
Wagner Antonio de Araújo
MÃE
POSTIÇA
Segundo Dia das Mães com mãe ausente. Sim, ela está um tanto
ocupada no Céu, aliás, não voltará mais aqui, exceto no dia da grande
ressurreição. E acabou por deixar o Daniel e eu “desmãezados”, uma
palavra que acabei de inventar, cujo significado está na cara.
Alguns que me lêem também têm mães ausentes. Talvez morem muito longe
de suas mães, ou então suas mães são falecidas, como a minha. No dia
das mães, se casados, festejam com as sogras. Mas nem sempre as sogras
são grandes opções... E acabam por sentir solidão.
Bem, se as mães moram longe, isso não importa para um filho: as mães
merecem todo o esforço que um filho faça, nada é sacrificial demais.
Hoje, no culto, Eduardo nos contava que sua mãe Maria morreu ao dar
à luz a ele. Que lindo, e que real! O que pode ser mais forte
que isso?
Também é importante
que se diga que dia das mães é todo dia, e não apenas o que consta
no calendário oficial do comércio. Marque uma visita, faça uma surpresa,
fale por telefone, computador ou torpedo, mas não deixe de contatar
sua mãe. Mandar flores para encher o túmulo de plantas mortas não
resolverá a dor de sua consciência. Aproveite hoje a existência
de sua mãe!
Eu resolvi adotar uma mãe. Claro, por que apenas mães adotam filhos?
Filhos cujas mães estão indisponíveis podem homenagear mães postiças.
Podemos ter uma definitiva, ou cada ano poderemos adotar
uma nova, que pode ser velha mesmo, tanto faz. Mas alguém para festejar
conosco.
A Dona Justina está conosco aqui em casa. É a mãe da Milú, minha irmã
adotiva (chamo-a de irmã adotiva, porque trabalha conosco desde 1982
e não é mais funcionária, é membro da família, principalmente depois
de tudo o que fez de bom, cuidando da minha mãe). Dona Justina veio
passar uns três meses conosco e fazer companhia para a filha. Ela
mora na roça, em Januária, norte de Minas Gerais. E, de brinde, veio
alegrar minha casa e tornar as coisas menos tristes. Resolvi então
festejar.
Hoje pela manhã, tocaram a campainha. Milú atendeu. Era o entregador
da cesta de café da manhã que eu encomendara. Quando a Milú chamou
sua mãe, esta ficou boquiaberta com tanta guloseima junto. “é compra
do mês”? “Não, mãe, é um presente de dia das mães e do seu aniversário”.
Então ela nem sabia por onde começar: não sabia se comia uma fatia
de presunto, um risoli, um doce, uma bolacha, uma torrada, se bebia
um chá, um suco, ela ficou perdida no meio de tanta coisa! Por um
lado queria comer de tudo; por outro, não havia barriga suficiente,
nem tampouco saúde, pois ela é diabética. Então comeu um pouco (um
bando, conforme seu linguajar), e foi deitar. Daí levantou de novo
e veio tomar outro café. Ela estava feliz! E chorou de alegria.
E eu também fiquei feliz com sua felicidade. Eu e a Milú. Afinal,
essa também é uma heroína. E, já que a minha mamãe está com Jesus,
no Céu, além de homenagear a memória da minha mãe, posso encontrar
lugar no coração para honrar uma mãe postiça também. Quantas mães
a minha mãe honrou, meu Deus! Quanta gente ela ajudou durante sua
vida, e agora, com seu exemplo, continua a ajudar! Sigo os passos
dela. Eu, Milú e Daniel.
Desde cedo aprendi que no Reino de Deus não há lugar para solitários
e desamparados. Quem é órfão, encontra pais postiços; quem não tem
irmão, encontra um na igreja; também encontram-se irmãs, encontram-se
professores, alunos, amigos, colegas, etc. Só vive sozinho ou mantém-se
sozinho quem quer. Há muitos que encontram, inclusive, alguém com
quem formar uma família, ou reformar a própria vida, caso venha de
uma família terminada.
Louvo a Deus pelo evangelho. Em Cristo Jesus somos membros uns dos
outros e parte de um grande Corpo, cujo cabeça é Cristo, cujo fundamento,
alicerce e base é Cristo. Talvez essa segurança e essa realidade nos
dê condições de viver a vida de uma forma vitoriosa, pois em Cristo
não há derrota, só vitória. Aquilo que chamamos de derrota, nada mais
é que uma pequena perda temporária. Perde-se agora, para ganhar mais
tarde. Obtém-se menos agora, para ganhar-se mais amanhã. E, no nosso
caso, aqui é apenas o início. A nossa Pátria, cidade e derradeira
morada está nos Céus, de onde aguardamos o nosso Salvador e Senhor
Jesus Cristo. Mamãe já foi pra lá. Milú, Daniel e eu seguiremos logo.
Enquanto por aqui, queremos louvar ao Senhor através do amor.
Não espero e nem quero que Dona Justina se sinta amada apenas
hoje, dia das mães. Quero que ela e todas as mães, e as irmãs solitárias
da igreja, sem filhos, sintam-se amadas, estimadas, honradas e percebidas
durante todos os 365 dias do ano. Assim, que todos nós expressemos
o amor devido às nossas mães, e, quando não for possível (ou se houver
espaço em nossos corações), que amemos outras mães também, tornando
a vida de alguém mais feliz, mais realizada, mais valorizada.
Comecemos hoje.
Assim, no próximo Dia das
Mães, teremos construído um alicerce bem forte, para um dia maravilhoso,
e um ano feliz.
Que assim seja.
Amém.
FLOR-DE-MAIO
(7) principal (22/05/07)
Subindo a rua onde nossa
igreja mantém-se até que consiga um terreno (oh, Senhor, atende
a oração do teu povo!), vi um significativo aumento no
número de igrejas, as mais diversas. Algumas bem instaladas;
outras, nem tanto. Umas grandes; outras, pequenas. Umas, barulhentas;
outras, quietinhas. Algumas com ética, mantendo uma certa distância
da outra, para evitar “concorrência”. Outras, mais ousadas,
estabelecem-se de parede colada na outra, e ainda colocam placas
na porta, onde está escrito:”Aqui Deus cura mais rápido”, “Não
cobramos oferta, só dízimo”, “Não olhes para a direita...”,
que é onde estava a outra igreja. É uma invasão!
O rádio também tem sido invadido. Freqüência Modulada, quando
eu era menino, era a faixa do povo rico, onde poucas rádios
tocavam músicas instrumentais, bonitas, e só uns poucos
aparelhos possuíam a faixa. Hoje, FM tornou-se praticamente
a única faixa disponível no geral (ainda que exista a AM). Nas
noites paulistanas ou osasquenses, é vergonhoso o que ouvimos
na FM: dezenas e dezenas de igrejas, evangelistas, pastores
e profetas, cada um vendendo o seu peixe da forma mais analfabeta
possível, e, na maioria dos casos, em emissoras clandestinas,
contra a lei, dando um mal testemunho terrível. Dias atrás uma
dessas emissoras quase derrubou um avião em Guarulhos, pois
impediu importante comunicação entre a torre e a aeronave. Não
raras vezes, crentes conhecidos meus, da cidade, foram presos.
Não satisfeitos, reabriram seus estabelecimentos e estão por
aí...
Fiquei pasmo quando ouvi um profeta moderno: ele tem um laptop,
onde há o software REVELAÇÕES 1.0, e, através de um número que
o ouvinte fornece, adiciona-se o número do telefone, divide-se pela
data e o número da ligação, e então é escolhida uma revelação,
tipo caixinha de promessas. Pensei: “Espírito Santo agora
foi rebaixado à periquito de realejo ou búzio da sorte moderna!
E dá-lhe sincretismo!”
Se eu, crente, evangélico, já não suporto mais a invasão
religiosa; se eu, crente que sou, reparo no excesso de
igrejas numa rua só, o que dizer de um não-crente, de um católico,
espírita, ateu, que generaliza todas as igrejas e só percebe
que a quantia “passou da conta”? Eu acredito que a grande questão,
para quem não estiver furioso, e estiver do lado de fora, será:
"como saber qual dessas igrejas é genuína?"
Pela placa, pela denominação da dita igreja, não dá mais.
Dias atrás entrei em uma igreja batista. Seu pastor estava promovendo
a “tarde dos empresários”, e à noite teria a “corrente dos caçadores
do amor à dois”. Lamentei. Ainda sou do tempo que a placa significava
alguma coisa. Bem, vivemos num mundo híbrido, e não é de se
estranhar que a confusão reine. Em grande parte dos casos, com
boas exceções, só pelo nome da igreja não teremos garantia em
encontrar igrejas autênticas.
Creio que a solução é simples: além da prédica, a PRÁTICA!.
Jesus, ao final do sermão do monte, em Mateus 7, declara: quem
ouve e cumpre, é sensato e prudente, e é o tipo certo de cristão
(veja em Mateus 7. 24-27). Jesus, ao olhar para a avenida
onde a Boas Novas está, não procurará a mais bonita, ou a maior,
ou a mais barulhenta, ou a menor, mais quieta, mais feia. Ele
busca igrejas que não vivam só de “ouvir” a Palavra. Ele busca
igrejas que “cumpram” a palavra. Há grupos que se encantam por
ficar 10, 20, 30 horas em “louvor” ininterrupto, outras de ter
quarenta cultos semanais. De nada adiantará cantar, gritar,
orar, se não for seguido do fundamento de um cristianismo autêntico:
agir! Não fomos salvos para ouvir; fomos salvos para servir,
para viver, para cumprir. Se a Boas Novas não for cumpridora
da Palavra, não se enquadrará no tipo autêntico de Igreja de
Cristo!
E cumprir a Palavra é tão simples!! O saudoso Darcy Gonçalves
cantava uma canção, falando da “casa no interior”. Dizia ele
que ainda se lembrava do lar onde conheceu a bíblia e o seu
primeiro amor. Dizia que ainda era capaz de se lembrar dos salmos
que sua mãe lhe ensinara, bem como dos versículos decorados
quando pequeno. Quantas famílias cristãs não lêem a bíblia,
não oram juntas, não cantam juntas? Não há vergonha em assistir
programas indecentes, mas dá tanta vergonha abrir uma bíblia
ou fazer uma oração junto com a família, não é mesmo?
Não é preciso ser teólogo para se agradar a Deus. Basta ser
decidido e praticante. Muitas vezes um conhecedor básico da
Palavra é melhor cristão que um teólogo renomado ou um conceituado
religioso. Lembro-me da irmã Isabel. Ah, que falta me faz essa
irmã! No auge dos seus 87 anos, ela me chamava à sua casa, orava
por mim, aconselhava-me e orientava-me. E ela nunca fizera um
ginásio. Sua sabedoria simples de mãe, esposa, avó e cristã
era: “ande com Jesus, e faça o que ele disse pra fazer”. Tão
simples! Mas ela tinha algo que a qualificava: INTEGRIDADE.
A integridade dela gerou em mim a credibilidade que eu
precisava. Quantos de nós, por falta de integridade, não temos
credibilidade?
Nossa vida é uma casa, construída ao longo dos anos. Ela permanecerá
para sempre, se o seu fundamento for “praticar” o cristianismo,
semeando o evangelho, fazendo o bem, louvando a Deus e mantendo
limpa a nossa mente.
Quero ser assim. Desejo que a Boas Novas seja
assim. Desejo que o meu leitor, minha leitora, e sua querida
igreja, também o sejam.
Deus nos abençoe.
Amém.
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco SP
www.uniaonet.com/bnovas.htm
www.bnovasosasco.com.br
bnovas@uol.com.br
QUERO AGRADECER
CORDIALMENTE À QUERIDA ANGELAZINHA VIEIRA,
DE SÃO JOSÉ DO
RIO PRETO, QUERIDA ASSEMBLEIANA DO CORAÇÃO,
PELA LINDA TAG
QUE FEZ, PARA ABENÇOAR MEU TRABALHO E
"DESENFEIAR" AS
MENSAGENS (A TAG QUE EU ESTAVA USANDO
FORA OBRA MINHA
MESMO, E ESTAVA FEIA DEMAIS...)
BRIGADÃO, ÂNGELA!
|
FLOR-DE-MAIO (8) templo (29/05/07)
Onde está o nosso Altar? E onde está o nosso Templo?
Lembro-me que, ao visitar a igreja onde converti-me, estranhei
não encontrar um altar à frente, nem uma imagem para veneração, nem
o próprio símbolo da cruz. Chamei o pastor e reclamei-lhe: “pastor,
aonde está o altar? Aonde estão os santos?” Ele disse-me: “Wagner, o
altar está em nosso coração; nós não temos imagens”. Pensei: “Pois deveriam
ter!”.
Após aquele culto, eu me converti a Cristo, e só então pude entender
o que significava ter o altar dentro do coração. Altar era o lugar onde
se ofereciam sacrifícios. Eram repetidos continuamente, porque a eficácia
dos mesmos era apenas simbólica, pois o verdadeiro sacrifício estava
por vir. Um dia, porém, veio o Filho de Deus às águas do Jordão,
e João Batista disse: “Eis o Cordeiro de Deus”. Ali estava o sacrifício
a ser oferecido no altar.
Sim, no Altar de Deus. Altar que não era
de bronze, de ferro, de latão, de ouro ou pedra; Altar construído no
alto da montanha, composto de uma cruz sangrenta. Ali estava o autêntico,
legítimo e definitivo sacrifício. Cristo seria oferecido como Cordeiro
de Deus, em favor de todos os homens, de todas as gerações, de todas
as línguas, povos, raças, tribos, nações. Oh, Santo Amor de Deus, que
levou Seu Filho às últimas conseqüências na expressão de tão grande
amor!
Sacrificado, Cristo satisfez às exigências
da justiça divina. Ressuscitado ao terceiro dia, apareceu diversas vezes
e, no quadragésimo dia, subiu ao Pai. Dez dias depois o Espírito Santo
foi derramado sobre todo o que crê, tornando-se residente em Sua igreja,
e mostrou-se presente através de sinais e maravilhas. Agora "todos" somos
batizados em um mesmo Espírito, independente dos dons que o Senhor dá
para a edificação da Igreja.
E quem
é essa Igreja? Os chamados para fora do mundo, para dentro do Reino,
os salvos e redimidos. Os crentes num local determinado, que se reúnem
num edifício, numa palhoça, numa casa, num barco, não importa. E também
os crentes de toda a Terra, em todos os lugares. E onde estaria
o Templo Maior, o Templo Principal, a sede, a matriz? Em Jerusalém?
Judéia? Samaria? Roma? Confins da Terra? Não. O templo seria o corpo
de cada um de nós, os novos tabernáculos de Deus no mundo! Sagrado mistério,
insondável dádiva dos Céus!
A Igreja, como um todo, é um templo ambulante do Deus vivo.
Aonde estivermos, ali está também a Igreja de Cristo. Cada membro, em
particular é também um templo. Nossos corpos, antes servindo às paixões
e aos desejos diversos, chamados "desejos dos gentios", às vaidades e
às satisfações sensuais e culturais, tornaram-se santos, limpos moralmente,
e dignos de serem honrados como puros vasos onde o Espírito Santo habita,
de tal sorte, que a glória não esteja no vaso, mas em quem enche esse
vaso.
Assim, na teologia paulina,
discorre-se a tese de que os nossos corpos não são mais nossos, mas
de Deus! Que verdade fabulosa! Isso nos faz entender que não é lícito
continuar a servir às vis paixões e sensualidades físicas, às vaidades
de aparência ou embelezamentos estéticos com finalidades meramente estéticas
ou de vanglória. Agora os nossos corpos são extremamente importantes,
pois neles vivemos, e neles santificamos a Cristo como Senhor, através
da oração, da leitura bíblica, da verdadeira adoração, da pureza sexual.
Há em nós um altar, há em nós um templo!
O altar é o lugar onde
nós, ofertas vivas, diariamente oferecemos ações de graças e confessamos
o senhorio de Cristo em nossas vidas. O altar é o lugar onde renunciamos
às nossas vontades, pela vontade divina. O altar é o lugar onde o “não
se faça o que eu quero” acontece. É ali que Deus está. Quem procura
Deus numa sala, num oratório, numa parede, numa gruta ou numa cidade,
não o achará. Porém, se entrar no “Santo Lugar”, lugar de oração, adoração
íntima e contrita, o achará! Não precisa ser no Monte Sinai, Monte Horebe
ou Colinas do Vaticano. Pode ser numa favela, num beco, numa aldeia,
numa metrópole, num submarino, numa aeronave, num buraco. O Altar é
dentro do coração do crente.
E o templo? O templo também
não está num lugar geográfico, numa cidade, numa capital, num país.
O templo é o nosso corpo, limpo moralmente, dedicado integralmente à
adoração de Deus, não de acordo com os costumes pagãos que encontramos
em todo o sincretismo religioso do nosso mundo, mas dentro das determinações
do próprio Deus, contidas em Cristo, contidas nos princípios registrados
nos dois testamentos bíblicos. O cristianismo é uma nascente puríssima,
com águas cristalinas. Encontramo-lo em sua essência nas páginas sacrossantas
das Escrituras Sagradas. Quando o adaptamos ao belprazer de nossas culturas,
torcendo-o ao ponto de justificá-lo culturalmente, torná-lo mais autóctone,
mais colorido à luz de nossas lentes interpretativas, sujamo-lo, tal
qual um esgoto suja um rio puro.
Quem quer enfeitar o templo ao seu
bel-prazer, corre o risco de fazer um altar para Baal, uma igreja sincrética
que mais provoca ira do que glória ao Senhor. De noiva do Cordeiro será
chamada Jezabel e Babilônia. Para vergonha nossa o digo: talvez sejamos
mais Babilônia do que quem constantemente acusamos disso! Julgamos estar
em pé, mas amargamos algo pior que um magistério autoritário: abraçamos
uma "re-leitura" bíblica, tão em moda na década de 70, hoje com outros
(ul)trajes, mais modernos, mais "politicamente corretos". Não convém que
seja assim, amados!
Assim, ferir seu corpo,
tatuar-se, enfiar ferrinhos no nariz, umbigo, na testa e em outros lugares
escusos, ou grafar à ferro e fogo, ou à tinta e máquina o nome de Deus,
versos bíblicos ou manifestações religiosas, nomes de homens que não
são mais que meros cooperadores do evangelho (quando o são de fato),
se chama idolatria, é paganismo disfarçado de cristianismo, numa
continuidade crônica do sincretismo religioso do mundo. Faz-nos
lembrar Judá, que se consagrava tanto na época das perseguições, e se
emporcalhava pior do que antes, quando o profeta, juiz ou rei piedoso
morria. Precisaremos de uma boa perseguição para voltar à pureza de
Cristo?
Servir a Deus purifica. Servir a Deus simplifica.
Nossos corpos não precisam de símbolos ou embelezamentos culturais,
para bendizer a Deus. Pelo contrário, segundo é santo aquele que nos
chamou, devemos também ser santos. A nossa santidade deve também ser
simples, sem adaptações culturais. Todas as vezes que os hebreus ou
posteriormente os cristãos, buscaram adaptar Cristo à cultura, fazendo-o
imergir num batismo mundano, transformaram a igreja num paraíso maldito,
emporcalhando o nome de Cristo. Hoje Cristo é surfista, tatuado, superstar,
jogador de basquete, vôlei e futebol, guerrilheiro socialista e sabe-se
lá mais o que! Esse não é o verdadeiro Cristo. E esses não são os verdadeiros
cristãos.
Somos chamados a não perder tempo com símbolos,
com aparências, com bandeiras meramente humanas, mas a gastar tempo
com Deus, em oração; com o próximo, em serviço; com o perdido, em evangelização;
com o doente, em assistência; com o enlutado, em consolo; com o esfomeado,
em suprimentos; com o aprisionado, em libertação; com o irmão em edificação.
Na glória, quando ressuscitarmos, ganharemos
vestes alvas, sandálias e cintos dourados, coroa na cabeça e mais nada;
a nossa glória virá de dentro para fora, não de fora para dentro. E
assim devemos ser hoje: astros a brilhar, mostrando a glória de Cristo,
luzeiros neste mundo tenebroso.
Vamos imergir o mundo em Cristo, e transformar este século com o Evangelho!
Deixemos de fazer o contrário.
Que Deus nos fortaleça.
Amém.
wagner antonio
de araújo
.
.
|