I – Introdução
- a questão do divórcio é uma das mais complicadas com a qual a igreja
precisa se ocupar nos últimos anos. Não basta queremos resolver os problemas
de nossa igreja e até de nossa família. Precisamos tentar achar os princípios
bíblicos que possam nos orientar para uma tomada de posição coerente
sobre este assunto. Nos últimos anos vemos uma escalada considerável
de divórcios a ponto de algumas estatísticas afirmarem que mais da metade
dos casamentos termina em divorcio, isso ainda sem contar nos casais
que moram juntos sem estarem legalmente casados. Mas os problemas da
sociedade são os problemas da igreja. Infelizmente a igreja copia muitas
coisas do mundo e por isso enfrenta as mesmas dificuldades. Também em
nosso trabalho evangelístico vamos nos deparar cada vez mais com famílias
destroçadas que precisam de ajuda divina. Que Deus nos ajude a pensar
profundamente sobre este assunto para termos alguns padrões que nos
ajudem a decidir estas questões
II – Antigo Testamento
- no AT o casamento era um contrato arranjado pelo pai da noiva, que
podia vetar qualquer decisão de casar sem a sua aprovação (Ex 22:16-17).
A família da noiva precisava receber uma oferta cujo valor era negociado
com a família. O pai da noiva por sua vez deveria dar um dote para a
sua filha (Sprinkle in DOTP 743)
A – Divórcio proibido em alguns casos
- o divórcio era permitido em algumas situações, mas o direito ao divórcio
também poderia ser tirado:
1 – Difamação. Alguém se casara e por algum motivo queria se ver livre
da esposa (parece que é logo depois que se casaram). Para atingir o
seu propósito o marido difamava a sua esposa dizendo que ela não era
virgem quando se casou, mas sem provas. Se for averiguado e o marido
for culpado de difamação ele precisava pagar uma multa e não poderia
se divorciar dela (“13 “Se um homem casar-se e, depois de deitar-se
com a mulher, rejeitá-la 14 e falar mal dela e difamá-la, dizendo: ‘Casei-me
com esta mulher, mas quando me cheguei a ela, descobri que não era virgem’,
15 o pai e a mãe da moça trarão aos líderes da cidade, junto à porta,
a prova da sua virgindade. 16 Então o pai da moça dirá aos líderes:
‘Dei a minha filha em casamento a este homem, mas ele a rejeita. 17
Ele também a difamou e disse: “Descobri que a sua filha não era virgem”.
Mas aqui está a prova da virgindade da minha filha’. Então os pais dela
apresentarão a prova aos líderes da cidade, 18 e eles castigarão o homem.
19 Aplicarão a ele a multa de cem peças de prata, que serão dadas ao
pai da moça, pois aquele homem prejudicou a reputação de uma virgem
israelita. E ele não poderá divorciar-se dela enquanto viver” [Deut
22:13-19]);
2 – Estupro. Se alguém violentasse uma moça que não estava comprometida
com ninguém este homem ficava sem a possibilidade de se divorciar dela
(“28 “Se um homem se encontrar com uma moça sem compromisso de casamento
e a violentar, e eles forem descobertos, 29 ele pagará ao pai da moça
cinqüenta peças de prata e terá que casar-se com a moça, pois a violentou.
Jamais poderá divorciar-se dela” [Deut 22:28-29])
B – Divórcio normalmente permitido
- de uma forma geral o divórcio era permitido no AT. Deut 24:1-4 não
permite que a mulher divorciada se case novamente com o marido divorciado:
“1 “Se um homem casar-se com uma mulher e depois não a quiser mais por
encontrar nela algo que ele reprova, dará certidão de divórcio à mulher
e a mandará embora. 2 Se, depois de sair da casa, ela se tornar mulher
de outro homem, 3 e este não gostar mais dela, lhe dará certidão de
divórcio, e a mandará embora. Ou se o segundo marido morrer, 4 o primeiro,
que se divorciou dela, não poderá casar-se com ela de novo, visto que
ela foi contaminada. Seria detestável para o SENHOR. Não tragam pecado
sobre a terra que o SENHOR, o seu Deus, lhes dá por herança”. Esse texto
parece indicar que uma mulher poderia ser divorciada com um processo
que envolvia um certificado de divórcio, um documento que permitia a
mulher a um novo casamento sem a acusação de adultério (Sprinkle in
DOTP 743)
C – Motivos para o divórcio
- um homem não poderia divorciar a sua mulher a não ser que houvesse
um comportamento inadequado (indecoroso/indecente) (erwat dabar) da
parte dela. Essa prerrogativa tendia a elevar a dignidade e posição
da mulher na sociedade de Israel. Não se sabe exatamente o que vem a
ser comportamento inadequado. Alguns acham que isso excluiria o adultério
pois este era motivo para execução da pessoa. Mas a palavra erwa era
freqüentemente usada para a relação sexual o que indica que havia uma
conotação sexual. Já que a execução exigia 2 ou 3 testemunhas (Deut
17:6-7) um homem poderia saber que sua esposa tinha cometido adultério
mas não podia provar. Casos de adultério que não podiam ser provados
pelo tribunal poderiam terminar em divórcio. Mas um homem não querendo
levar a sua esposa à morte poderia optar pelo divórcio (cf. José e Maria,
Mat 1:19) (Sprinkle in DOTP 744)
- mas precisamos lembrar que este texto não é uma legislação introduzida
para permitir o divórcio (cf. Mal 2:14-16), mas uma lei para regulamenta
a prática que já existia (Deut 24:4) (Harris)
- alguns argumentos favorecem que o comportamento inadequado possa incluir
o adultério:
1 – Jer 3:1-8 cita a lei de Deut 24:1-4 e a aplica por analogia para
o relacionamento entre Deus e Israel. . Ao invés de executar Israel
por causa do seu comportamento, Deus mandou Israel para o exílio com
u “certificado de divórcio” (Jer 3:8). Logo Jeremias entendeu
que o “comportamento inadequado” em Deut 24:1 se aplicaria a casos de
adultério (Sprinkle in DOTP 744)
2 – Prov 6:32-35 diz: “32 Mas o homem que comete adultério não tem juízo;
todo aquele que assim procede a si mesmo se destrói. 33 Sofrerá ferimentos
e vergonha, e a sua humilhação jamais se apagará, 34 pois o ciúme desperta
a fúria do marido, que não terá misericórdia quando se vingar. 35 Não
aceitará nenhuma compensação; os melhores presentes não o acalmarão”.
O adultério destrói o homem já que o marido da mulher não vai aceitar
o resgate/compensação nem um presente. Essa afirmação sugere que o marido
poderia aceitar dinheiro em troca pela execução do amante de sua esposa.
A opção do resgate em lugar da execução é explícita em alguns locais
(Ex 21:29-30 – no caso de um dono que permitia que o boi matasse outras
pessoas, mesmo depois de avisado. Ao invés de morrer poderia pagar o
exigido; 1 Rs 20:39 – vigiar um prisioneiro e este fugisse era pena
de morte, ou pagar o resgate) e possivelmente era permitido a não ser
que proibido explicitamente (Num 35:31: “Não aceitem resgate pela vida
de um assassino; ele merece morrer. Certamente terá que ser executado”).
Logo se o amante poderia pagar o resgate para ficar com vida, enquanto
a mulher poderia ficar com vida abrindo mão de receber o dote (Sprinkle
DOTP 744)
3 – As leis da Mesopotâmia e do Egito permitiam que o marido executasse
a mulher e o seu amante ou então nenhum dos dois. Se o resgate em troca
pela execução era possível com o adultério, a lei bíblica seria coerente
com o contexto do Antigo Oriente Médio, como normalmente acontece (Sprinkle
DOTP 744)
4 – A lei contra a testemunha falsa em Deut 19:15-19 (“dêem-lhe
a punição que ele planejava para o seu irmão”), sugere que o marido
que acusou falsamente a sua mulher de adultério (Deut 22:13-21) deveria
ser executado como ela deveria ter sido. Mas ele deveria ser castigado
(acoitado), multado e proibido permanentemente de se divorciar dela.
Se uma saída típica para o adultério era o divórcio abrindo mão do dote
da esposa, então a pena do homem seria comparável (Sprinkle DOTP 744)
- esses argumentos sugerem que o adultério da mulher poderia ser castigado
com a execução ou então com o divórcio com a perda do dote. Logo o adultério
era um dos principais motivos para o divórcio no AT (Sprinkle DOTP 744)
D – Divórcio ordenado por Deus
- em alguns casos o divórcio parece ser ordenado por Deus:
1 – A mulher escrava deve ser libertada se o marido (que tomou uma 2a.
mulher) se recusa a cumprir com as obrigações de dar a ela comida apropriada,
vestuário e possivelmente o direito conjugal (ona) (Ex 21:10-11 “10
Se o senhor tomar uma segunda mulher para si, não poderá privar a primeira
de alimento, de roupas e dos direitos conjugais. 11 Se não lhe garantir
essas três coisas, ela poderá ir embora sem precisar pagar nada”) (Sprinkle
DOTP 744)
2 – Uma mulher casada com o israelita depois que foi capturada em guerra,
da mesma forma deve ser liberta se o homem não quer mais viver com ela
como marido e mulher, pois ela não pode permanecer como escrava (Deut
21:10-14 “10 “Quando vocês guerrearem contra os seus inimigos e o SENHOR,
o seu Deus, os entregar em suas mãos e vocês fizerem prisioneiros, 11
um de vocês poderá ver entre eles uma mulher muito bonita, agradar-se
dela e tomá-la como esposa. 12 Leve-a para casa; ela rapará a cabeça,
cortará as unhas 13 e se desfará das roupas que estava usando quando
foi capturada. Ficará em casa e pranteará seu pai e sua mãe um mês inteiro.
Depois você poderá chegar-se a ela e tornar-se o seu marido, e ela será
sua mulher. 14 Se você já não se agradar dela, deixe-a ir para onde
quiser, mas não poderá vendê-la nem tratá-la como escrava, pois você
a desonrou.”) (Sprinkle DOTP 744)
- uma mulher que “foi libertada” depois do casamento deve (por implicação)
receber o certificado de divórcio. Da mesma forma Deus ordenou que Abraão
mandasse embora a sua mulher escrava Agar (Gen 21:8-14) porque a briga
entre ela e Sara impedia a execução das obrigações conjugais, e talvez
porque ela não se submetia à autoridade do marido. O verbo usado quando
Abraão manda Agar embora é o mesmo usado quando se fala sobre o divórcio
(Deut 22:19; 24:1-3) e o verbo usado por Sara quando pede que Abraão
a “mande embora” é o mesmo usado para o divórcio (Lev 21:7, 14; 22:13).
Isso certamente implica em divórcio nestes casos (Sprinkle DOTP 744)
- Deut 24:1-4 não permite que a mulher divorciada volte para o 1o. marido
nem mesmo após a morte da 2a. esposa dele. Não sabemos exatamente porque
existia essa lei. Mas é provável que isso quebrava as demarcações da
família. O marido havia desprezado a sua mulher de maneira a exigir
o seu dote, não poderia repetir o processo. A sua 1a. ação deveria ser
definitiva. Isso limitava o poder dos homens de fazerem o que queriam
com as mulheres e assim conferia dignidade a elas (Sprinkle DOTP 744-45)
- os rabinos no período do 2o. templo (depois da volta do exílio) se
concentravam em 2 textos: Gen 2:22-24 (com Gen 1:27) e Deut 24:1-4.
Segundo eles Deus criou macho e fêmea para uma união indissolúvel. Jer
3:1-5 que proíbe o novo casamento de uma mulher divorciada a seu 1o.
marido é uma extensão lógica contra casar com parentes próximos (Lev
18). I.é., um divórcio e novo casamento não anula o relacionamento familiar
que foi estabelecido pelo 1o. casamento (Wall in ABD 2:217-18)
- mas o fato é que o divórcio acontecia e era regulado por regras às
quais não temos acesso hoje. Os rabinos discutiam quais seriam os motivos
para o divórcio. A expressão erwat dabar (coisa indecente) praticado
pela esposa dava ao marido o direito de divorciá-la e dar assim o certificado
de divórcio. A escola de Shammai dizia que isso se referia a relações
sexuais ilícitas, o que parece que excluiria o adultério pois este era
castigado com a morte (Deut 22:22-24). A escola de Hillel era bem mais
abrangente o que incluía não dar ao marido filhos, ofensas cultuais
e até a falha de cumprir com tarefas do dia-a-dia (Wall in ABD 2:218)
II – Definição de termos e costumes
A – Imoralidade sexual (porneia)
- tanto na LXX como no NT, porneia pode se referir a diversas ações
com conotação sexual ilícita. Pode se referir a incesto (1 Co 5:1 e
possivelmente em At 15:20, 29; 21:25); adultério (Jer 3:9 – adultério
e porneia aparecem em paralelismo de sinônimos); prostituição (Mt 21:31-32;
Lc 15:30; 1 Co 6:13-18); imoralidade sexual em geral (Mc 7:21-22; Mt
15:19; 1 Co 6:9-11; 7:2); e inclusive uma metáfora para a idolatria
(Ap 17:1-5, 15-16). Alguns argumentam que porneia não pode corresponder
ao adultério já que existe uma palavra grega especial para adultério
que é moicheia e que é distinguida de porneia (Mc 7:21-22; Mt 15:19;
1 Co 6:9; Hb 13:4). Na verdade temos uma diferença entre as palavras
mas é de detalhes específicos. Moicheia é o termo específico para adultério,
enquanto que porneia é um termo mais inclusivo que significa ação sexual
ilícita. Os termos não são sinônimos, mas porneia inclui moicheia. Como
em Mt 5:32 e 19:9 temos a palavra porneia e está não está qualificada/mudada
não podemos limitá-la a incesto, infidelidade sexual, etc. Se refere
a uma ação sexual ilícita. A não ser que fosse especifica de forma diferente
as pessoas do tempo de Mateus entenderiam essa palavra significando
imoralidade sexual, qualquer atividade sexual proibida no AT. Alguns
alegam que não poderia ser adultério já que este era punido com a morte
no AT. Mas não sabemos se isto era executado ao pé da letra. Ao que
tudo indica havia também outras maneiras com as quais se lidava nestes
casos (Stein in DJG 195)
B – Divórcio e novo casamento eram vistos como uma coisa só?
- os textos mostram claramente que é possível se divorciar e não se
casar novamente. Logo não eram vistos como uma coisa só. Mas a pergunta
que fica é se as pessoas do tempo de Mateus entendiam que quem se divorciava
automaticamente tinha o direito ao novo casamento. A parte essencial
do certificado de divórcio entre os judeus consistia nas palavras: “Você
está livre para se casar com qualquer homem”. Esse seria o entendimento
normal de Mt 5:32 onde diz que o homem que se divorcia faz de sua esposa
uma adultera, i.é., ela se casa de novo e desta forma comete o adultério.
O certificado tomava como obvio que a mulher iria se casar novamente.
Mesmo que o novo casamento não era uma parte necessária do divórcio,
mas o direito ao novo casamento fazia parte integrante do divórcio.
Jesus poderia ter redefinido o divórcio excluindo a possibilidade do
novo casamento mas não o fez. Ou se o tivesse feito não o fez de maneira
clara a ponto de mudar o conceito que as pessoas tinham na sua época.
Dessa forma quando lemos divórcio, deveríamos ter em mente que isso
implicava no direito (mas não necessidade) do novo casamento (Stein
in DJG 195-96)
C – A possibilidade do divórcio
- “O divórcio era um fato da vida perfeitamente aceito nos tempos do
NT. O marido tinha plena liberdade de mandar embora a sua esposa na
condição de se seguir o processo legal apropriado de lhe dar a notificação
de divórcio. Mesmo assim disputavam-se os motivos justo para um homem
divorciar sua esposa, entre as duas escolas rabínicas” (Marshall in
NDITNT 1:673-74). Isso ainda não queria dizer que Deus se agradava do
divórcio. No AT foi uma permissão por causa da dureza dos seus corações.
Normalmente era permitido que o homem se divorciasse entre os judeus.
A mulher não tinha esse direito entre os judeus, mas entre os romanos
existia essa possibilidade. Um casamento romano poderia ser terminado
com mutuo consentimento ou então quando uma das partes declarava que
o casamento havia terminado (Keener 1991, 51). Por outro lado quando
havia adultério a lei romana exigia o divórcio, e esta também era a
prática em Israel neste tempo (era simplesmente obvio que o marido mandaria
a esposa embora em caso de adultério (Keener 1991, 51; Atkinson in EDT
347)
D – O casamento pode ser dissolvido?
- o casamento é idéia de Deus (Gen 2:18). Deus decidiu que o ser humano
não deveria permanecer sozinho e por isso criou macho e fêmea. O texto
nos mostra que o casamento se constitui quando os parceiros deixam pai
e mãe para se unirem e formarem uma só carne (Gen 2:24). Isso significa
que o relacionamento prioritário de agora em diante será entre os dois
e não mais com outras pessoas da família. Eles se unirão – não abandonará
o seu parceiro por qualquer motivo. Isso significa que cada parceiro
irá se dedicar ao outro. Eles se tornam uma só carne, indicando exteriormente
a união que aconteceu dentro deles. Mat 19:6 enfatiza que aquilo que
Deus uniu o homem não deve separar. Isso implica que Deus uniu as pessoas
no casamento (entendo que isso é para todas as pessoas e não somente
para os crentes). Há alguns relacionamentos que são proibidos por Deus.
Neste caso não podemos dizer que Deus está unindo as pessoas (Feinberg
& Feinberg 1993, 301-302)
- a pergunta que fica no ar é se o casamento pode ser dissolvido. Mt
19 nos mostra que Deus não quer que isso aconteça, mas não existe garantia
de que isso de fato vai acontecer
1. Argumentos que favorecem a dissolução
do casamento
a. O casamento é uma aliança e não
um contrato. Uma aliança não deveria ser quebrada enquanto que o contrato
pode ser quebrado. Certamente algumas alianças (com Abraão e Davi) não
podem ser quebrados. Mas isso se aplica a todos as alianças? (Feinberg
& Feinberg 1993, 303)
b. Se Deus uniu as pessoas, os seres
humanos não podem quebrar o que Deus uniu (Feinberg & Feinberg 1993,
303)
c. Com base em Deut 24:1-4 o casamento
estabelece relacionamento de sangue entre marido e mulher. Por isso
uma vez divorciado e unido com outro parceiro não se poderia voltar
para o 1o. parceiro. O argumento diria que o relacionamento que foi
formado era permanente e voltar ao parceiro implicaria em incesto (Feinberg
& Feinberg 1993, 303)
d. O relacionamento sexual é a forma
mais profunda de “dar-se” ao próximo. Isso cria uma união que não pode
ser quebrada. Ninguém pode voltar atrás no que já deu para o seu parceiro
e desta forma o casamento não pode ser dissolvido (Feinberg & Feinberg
1993, 303-304)
2. Argumentos contra a dissolução
do casamento
a. Gen 2:24 e Mat 19:6 falam do
ideal de Deus para o casamento. Eles dizem que o ser humano não deve
quebrar o que Deus estabeleceu, mas não dizem que isso não pode acontecer.
Mesmo que Deus não gostaria que isso acontecesse, isso ainda não é prova
de que não vá acontecer (Feinberg & Feinberg 1993, 304)
b. A morte de um dos parceiros de
fato quebra a união. Se a união não pode ser quebrada ela teria que
continuar na eternidade [talvez]. A Bíblia ensina que as viúvas/viúvos
podem se casar novamente (Rom 7:1-3; 1 Co 7:39). Se a união não fosse
quebrada pela morte, a Bíblia estaria aprovando a poligamia e poliandria.
(Feinberg & Feinberg 1993, 304)
c. Se a clausula de Mateus (e talvez
Coríntios) prevê um novo casamento para a parte inocente, isso implica
que existem situações onde o casamento é dissolvido. Parece que “imoralidade
sexual” dissolve o casamento, o que implica em possibilidade de novo
casamento (Feinberg & Feinberg 1993, 343)
III – Os textos principais do NT e seu significado
1 – Marcos 10: 2-12: “2 Alguns fariseus aproximaram-se dele para pô-lo
à prova, perguntando: “É permitido ao homem divorciar-se de sua mulher?
”3 “O que Moisés lhes ordenou?”, perguntou ele. 4 Eles disseram: “Moisés
permitiu que o homem lhe desse uma certidão de divórcio e a mandasse
embora”. 5 Respondeu Jesus: “Moisés escreveu essa lei por causa da dureza
de coração de vocês. 6 Mas no princípio da criação Deus ‘os fez homem
e mulher’. 7 ‘Por esta razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à
sua mulher, 8 e os dois se tornarão uma só carne’. Assim, eles já não
são dois, mas sim uma só carne. 9 Portanto, o que Deus uniu, ninguém
o separe”. 10 Quando estava em casa novamente, os discípulos interrogaram
Jesus sobre o mesmo assunto. 11 Ele respondeu: “Todo aquele que se divorciar
de sua mulher e se casar com outra mulher, estará cometendo adultério
contra ela. 12 E se ela se divorciar de seu marido e se casar com outro
homem, estará cometendo adultério”.
- os fariseus e escribas e possivelmente a maioria dos judeus concordava
que o divórcio era permitido com base em Deut 24:1-4: “1 “Se um homem
casar-se com uma mulher e depois não a quiser mais por encontrar nela
algo que ele reprova, dará certidão de divórcio à mulher e a mandará
embora. 2 Se, depois de sair da casa, ela se tornar mulher de outro
homem, 3 e este não gostar mais dela, lhe dará certidão de divórcio,
e a mandará embora. Ou se o segundo marido morrer, 4 o primeiro, que
se divorciou dela, não poderá casar-se com ela de novo, visto que ela
foi contaminada. Seria detestável para o SENHOR. Não tragam pecado sobre
a terra que o SENHOR, o seu Deus, lhes dá por herança.”
- a questão discutida no tempo de Jesus era em que situações o divórcio
seria permitido. De acordo com Shammai, “indecência grave” seria o único
motivo para o divórcio (Carson 1984, 411). Hillel por sua vez foi mais
longe dizendo que qualquer coisa que incomodava ou envergonhava o marido
era motivo para tal (Lane 1974, 353). Esse parece ter sido o motivo
da pergunta feita a Jesus. Vemos que em Marcos a intenção era colocar
Jesus à prova. Lane acha que é possível que os fariseus queriam que
Jesus tomasse partido junto com João Batista na questão do divórcio
de Herodes. Desta forma poderiam acusar a Jesus e quem sabe até se livrar
dele (Lane 1974, 354), ou ainda seria possível forçar Jesus a ir contra
a lei de Moisés (Carson 1984, 411).
- Jesus os pergunta o que diz a lei. Ele queria que se lembrassem de
Gen 2:24: “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua
mulher, e eles se tornarão uma só carne.” Mas eles prontamente se referem
a Deut 24 onde Moises permitiu o divórcio com a condição de que a mulher
recebesse o certificado de divórcio que autenticava a sua liberação
do contrato de casamento e afirmava o seu direito ao novo casamento
(Lane 1974, 354). Essa concessão foi dada especialmente para proteger
a esposa, que desta forma poderiam provar que realmente era divorciada
(Lane 1974, 354). Mas não podemos esquecer que o foco de Deut 24 é o
novo casamento e não o divórcio
- Jesus afirma que o divórcio nunca foi a intenção de Deus. O divórcio
pode, em alguns ser o “mal menor”, mas é sempre ruim. Jesus tenta mostra
que a intenção de Deut 24:1 não era para tornar o divórcio aceitável
mas para limitar a pecaminosidade e controlar as suas conseqüências
(Lane 1974, 355). Há uma diferença entre a “vontade absoluta de Deus”
e as provisões que levam em conta a pecaminosidade do ser humano e são
projetadas para limitar e controlar as suas conseqüências (Cranfield
1959, 319). A dureza de coração que permitiu essa situação é a determinação
deliberada de pessoas que não querem se conformar com a vontade de Deus
(Lane 1974, 355). Jesus apela para a intenção original de Deus com o
casamento, uma ordenança da criação. O casamento é uma instituição que
deriva a sua santidade do fato que por trás dela está a autoridade do
próprio (Cranfield 1959, 321).
- depois disso Jesus entra em detalhes com os seus discípulos. A pessoa
que divorcia e casa novamente comete o adultério. Se a mulher se divorciar
do seu marido ela comete adultério. Isso parece indicar que Jesus está
falando da deserção e novo casamento (Lane 1974, 358). A contribuição
singular de Marcos é “comete adultério contra ela” (Mc 10:11) (Stein
in DJG, 197).
2 – Lucas 16:18: “Quem se divorciar de sua mulher e se casar com outra
mulher estará cometendo adultério, e o homem que se casar com uma mulher
divorciada estará cometendo adultério”
- um homem que se divorcia de sua mulher e casa com outra comete adultério
e aquele que se casa com uma mulher divorciada comente adultério. Essa
afirmação é muito similar com Mat 5:31-32: “31 “Foi dito: ‘Aquele que
se divorciar de sua mulher deverá dar-lhe certidão de divórcio’. 32
Mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto
por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem se casar
com a mulher divorciada estará cometendo adultério”. Em Mateus diz que
o homem se casa novamente leva a mulher a cometer o adultério e em Lucas
o homem que casa novamente é culpado de adultério. Essa última parte
é muito parecida com Mc 10:11: “Todo aquele que se divorciar de sua
mulher e se casar com outra mulher, estará cometendo adultério contra
ela.”; e Mat 19:9: “todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto
por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher, estará cometendo
adultério” mesmo nas palavras usadas (Marshall 1978, 631). No entanto,
na lei judaica o homem que se divorciava de sua esposa e casava com
outra não era culpado de qualquer ofensa (Marshall 1978, 631). Mas Jesus
diz que isso é adultério. Parece que o 1o. casamento é visto como permanente.
- Marcos usa ho apolyon, “aquele que divorcia”, mas Lucas acrescenta
a palavra favorita dele pas, "todo aquele" (Fitzmyer 1985, 1120). Isso
poderia ser atribuído à sua redação. Em Lucas o divórcio não é permitido
em nenhuma circunstancia. Lucas ainda acrescenta que aquele que se casa
com a mulher divorciada comete adultério. Parece indicar que a “parte
inocente” não poderia contrair novo casamento. É difícil saber a ênfase
que esta passagem acrescenta ao ensino total de Jesus em Lucas.
3 – Mateus 5:31-32 “31 “Foi dito: ‘Aquele que se divorciar de sua mulher
deverá dar-lhe certidão de divórcio’. 32 Mas eu lhes digo que todo aquele
que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que
ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará
cometendo adultério”
- esta passagem vem do sermão do monte e por isso faz parte das normas
no Reino. Nela Jesus reinterpreta a lei para o povo com o propósito
de mostrar a intenção real da lei e também para corrigir distorções
que as interpretações havia proporcionadas (Murray 1993, 19).
- o homem que divorcia a sua esposa faz dela uma adúltera. Usa palavras
muito parecidas com Luc 16:18 (Davies & Allison 1988, 527). Aparentemente
entre os judeus, o divórcio era algo relativamente fácil e não era considerado
um delito grave (Davies & Allison 1988, 528). Há uma probabilidade
grande que e cláusula de exceção de Mateus foi uma adição acrescentada
(Cranfield 1959, 318). Parece que esta expressão é baseada no erwat
dabar de Deut 24:1 (Davies & Allison 1988, 528). Quando diz que
“faz com que se torne adúltera” (em contraste com Marcos onde diz comete
adultério) isso implica que a mulher vai casar novamente. Quem casa
com uma mulher divorciada comete adultério. Essa passagem admite que
a mulher seria “a parte culpada”. Fica claro que ela não pode casar
novamente. Gundry diz que existe uma ênfase especial para que o marido
não contribua para o adultério de sua esposa, o que aconteceria se ela
se casasse novamente, já que ele tinha se divorciado dela (Heth &
Wenham 1985, 69). Não fica claro se a “parte inocente” poderia se casar
novamente. Davies & Allison dizem que a questão do novo casamento
não pode ser resolvida com base na exegese do texto (1988, 529). Parece
que Mateus escreveu quando a escola de Shammai estava em decadência
e isso poderia indicar que o ensino de Jesus era mais severo do que
era aceito de um modo geral (Davies & Allison 1988, 530). Também
é possível que Mateus colocou esta exceção para eventualmente justificar
o pensamento de José que pretendia deixar Maria em secreto, e ainda
assim ser considerado uma pessoa justa (Davies & Allison 1988, 531).
- nesta passagem o ponto principal não é afirmar que o divórcio por
“imoralidade sexual” (porneia) é permitido, mas afirmar que o divórcio
por qualquer outro motivo não é permitido (Harris)
4 – Mateus 19:3-9: “3 Alguns fariseus aproximaram-se dele para pô-lo
à prova. E perguntaram-lhe: “É permitido ao homem divorciar-se de sua
mulher por qualquer motivo?” 4 Ele respondeu: “Vocês não leram que,
no princípio, o Criador ‘os fez homem e mulher’ 5 e disse: ‘Por essa
razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois
se tornarão uma só carne’? 6 Assim, eles já não são dois, mas sim uma
só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe”. 7 Perguntaram
eles: “Então, por que Moisés mandou dar uma certidão de divórcio à mulher
e mandá-la embora?” 8 Jesus respondeu: “Moisés permitiu que vocês se
divorciassem de suas mulheres por causa da dureza de coração de vocês.
Mas não foi assim desde o princípio. 9 Eu lhes digo que todo aquele
que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual [porneia],
e se casar com outra mulher, estará cometendo adultério”. 10 Os discípulos
lhe disseram: “Se esta é a situação entre o homem e sua mulher, é melhor
não casar”. 11 Jesus respondeu: “Nem todos têm condições de aceitar
esta palavra; somente aqueles a quem isso é dado. 12 Alguns são eunucos
porque nasceram assim; outros foram feitos assim pelos homens; outros
ainda se fizeram eunucos por causa do Reino dos céus. Quem puder aceitar
isso, aceite”
- esta é a passagem paralela de Marcos 10. As palavras também são bastante
similares. Stein arrola diversos motivos pelos quais podemos ter certeza
que os textos de Mt 19 e Mc 10 estão se referindo à mesma situação quando
Jesus está falando sobre este assunto (Stein 1979, 116). A diferença
é que Mateus cita a cláusula de exceção. Fica claro que Jesus não está
defendendo o divórcio. O divórcio não é somente algo que não é natural,
mas rebelião contra Deus (Carson 1984, 412). Quando Jesus faz menção
a Gen 1, 2, ele está usando o principio de “quanto mais original, mas
forte o argumento”(Carson 1984, 412). Carson acha que Deut 24 não poderia
se referir ao adultério pois este seria castigado com a morte. Mas como
não fica claro que a pensa de morte era imposta em casos como este,
provavelmente se referia a qualquer comportamento imoral e lascivo,
às vezes incluindo mas não se restringindo ao adultério (Carson 1984,
413)
- Jesus chama a atenção dos fariseus para a vontade perfeita de Deus
expressa em Gênesis. Deus queria a união permanente de duas pessoas,
mas fez uma concessão em Deut 24 por causa da “dureza de coração” das
pessoas. Também mostra que Deus está interessado no ser humano mesmo
depois que peque. Mesmo que existam texto que falem do divórcio como
algo que acontece comumente (Lev 21:7, 14; 22:13; Num 30:9; Deut 22:29;
Es 10; Ne 13) temos também a constatação que nem tudo está bem com o
divórcio (Lev 18:18 [?]; Deut 24:4; Mal 2:16). Além disso Lev 21:7 e
Ez 44:22 proíbem os sacerdotes de se casarem com divorciadas o que implica
que o divórcio é contrário à santidade. O AT permite mas não ordena
o divórcio. Os fariseus perguntam a Jesus porque Moisés “mandou dar”
o certificado de divórcio. Jesus os corrige dizendo que Moisés “permitiu”
o divórcio. Parece que Deus permitiu o “mal menor” em algumas circunstancias
(Davies & Allison 1997, 14-15)
- em Mat 19:9 encontramos problemas sérios. Temos muitas variantes textuais
o que mostra que os problemas com esta passagem não são recentes. Precisamos
de ajuda para esclarecer o significado de algumas palavras chaves vitais
para a nossa interpretação. Em Mat 5:32; 19:9 temos a palavra porneia
como cláusula de exceção. BAGD a define como infidelidade sexual de
uma mulher casada (693). Tem havido muitas tentativas de definir o significado
desta palavra como incesto, adultério, prostituição e fornicação nesta
passagem. O que parece ser consenso parcial é que se refere ao adultério.
Todas as passagens que falam sobre o divórcio, quando falam sobre o
novo casamento mencionam a palavra moicheia. Significa cometer adultério
(BAGD, 526). Há uma distinção entre porneia and moicheia, que é de especificidade.
Moicheia é um termo especifico e significa adultério; porneia é um termo
muito mais inclusivo e significa qualquer ação sexual ilícita. Esses
termos não são sinônimos, mas porneia inclui moicheia. Em outras palavras
o adultério é uma subespécie da “imoralidade sexual” que, ao não ser
que seja qualificado se refere a imoralidade sexual de modo geral. Já
que em Mt 5:32 e 19:9 o termo “imoralidade sexual” não é qualificado
ele não pode se limitar a incesto, infidelidade sexual no período do
noivado ou mesmo adultério (Stein in DJG 195). A palavra apolyo também
aparece em todas as passagens com o significado de divórcio ou mandar
embora (BAGD, 96). A pergunta que precisamos fazer é o que as pessoas
entendiam por esta palavra. Elas entendiam que tinham o direito ao novo
casamento? Isso estava implícito no significado da palavra? Mt 5:32
indica que sim, já que o divórcio tornaria a mulher adultera. Certamente
isso implica que ela poderia se casar novamente. Se Jesus quisesse passar
um significado diferente do divórcio que impediria a pessoa de casar
novamente ele teria deixado isso claro para a sua audiência (Stein in
DJG, 196). Mas se este for o caso precisamos nos perguntar porque a
igreja primitiva fazia distinção entre o direito da pessoa se divorciar
mas não de casar novamente.
- indo mais a fundo em algumas questões textuais vemos que Blomberg
acha que “me epi é uma elipse natural para ei/ean me epi e deveria ser
considerada a cláusula de exceção (Blomberg 1990, 175). Contra, Hagner
nos dá algumas razoes porque acha que esta não é uma cláusula de exceção:
ela suaviza/enfraquece a ética do Reino; ela está em tensão com o absolutismo
do v.6; enfraquece o argumento dos v.7-8; e faz com que as afirmações
dos v.10-12 sejam menos apropriados do que se tivéssemos uma proibição
absoluta (Hagner ??? 549). Cornes acha que a cláusula de exceção de
Mt 19:9 é um complemente e não deveria ser vista como uma regra, já
que o foco da passagem não está na cláusula de exceção (Cornes 1993,
236). Ele até admite a possibilidade de Jesus permitir o novo casamento
nessas circunstancias mas acha isso muito improvável por causa da reação
dos discípulos ao que Jesus falou em 19:10-12, além de que teria mudado
as prescrições de Shammai (Cornes 1993, 236). Por outro lado, Jesus
vai contra Shammai. Aquela escola permitia o novo casamento quando o
divórcio não estava de acordo com a sua Halakah (regras de conduta)
(in Carson 1984, 411). Jesus não permite isso e limita as pessoas que
têm permissão para um novo casamento (Carson 1984, 419). Stein argumenta
que Mt 19:10-12 não é uma interpretação da passagem anterior, antes
foi colocada lá por que foi ordenada por tópicos (Stein in DJG, 197).
Mas isso não convence já que se encaixa muito bem com os versículos
anteriores
- a questão complicada é entender o que me epi porneia (a não ser por
adultério) modifica: somente o divórcio, ou divórcio e novo casamento.
Heth and Wenham advogam que a prótase se refere apenas ao antecedente
mais próximo (somente o divórcio = “todo aquele que se divorciar de
sua mulher, exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher
[sem exceção], estará cometendo adultério”) enquanto que D.H.Small (1986,
118) diz que existem outros fatores com os quase precisamos contar além
da sintaxe, como contexto e considerações teológicas. Em sua opinião
esses fatores favorecem a idéia que a prótase se refere a ambas as partes
da frase (divórcio e novo casamento = “todo aquele que se divorciar
de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher
[exceto no caso de adultério do outro cônjuge], estará cometendo adultério”).
Heth diz que os pais da igreja nunca discutiram essa questão do ponto
de vista da sintaxe e por isso não deveríamos dar demais importância
a isto (1995, 97). Mas este argumento não é muito forte. De acordo com
Blomberg essa parte da frase poderia aparecer em 3 lugares na sentença:
no início dela; exatamente onde está; e no final da sentença. Se fosse
colocada no início da sentença seria para ênfase. Mas como Jesus quer
enfatizar a continuidade do casamento. Se estivesse no final da sentença
seria somente para situações onde o pecado sexual provocou um novo casamento
e divórcio. Logo se um escritor grego gostaria de passar a idéia que
a cláusula de exceção modifica ambos os verbos a posição em que aparece
agora seria o local menos ambíguo para isto (Blomberg 1990, 178). No
entanto, é possível que a cláusula de exceção modifica apenas o divórcio.
Carson acha que sintaticamente ela está ligada somente com o divórcio,
se bem que isso dificilmente é decisivo (1984, 416). Parece que temos
duas opções viáveis. Precisamos determinar qual delas se encaixa melhor
no contexto. Blomberg argumenta que o novo casamento seria permitido
já que era visto por virtualmente todos os judeus como um direito fundamental
deles. Logo deveríamos nos conscientizar que se Jesus quisesse que as
pessoas entendessem que estava proibindo o novo casamento ele teria
que ter dito isso muito mais claramente (1990, 179-180).
- nesse texto Jesus autoriza o divórcio por causa da “imoralidade sexual”
mas não o torna obrigatório. O divórcio é uma concessão por causa da
dureza dos corações (19:8). O caminho do perdão e da restauração é o
preferido (Harris)
- a razão pela qual temos a cláusula de exceção em Mateus que está ausente
em Marcos e Lucas é que:
1 – Marcos e Lucas estão enfatizando a essência do ensinamento de Jesus
– a santidade do casamento e o seu desencorajamento do divórcio;
2 – O adultério era considerado como sendo um motivo legítimo para o
divórcio no mundo, romano, grego e hebreu (Harris)
- um argumento forte contra o novo casamento é dado por Heth & Wenham
quando citam H. Crouzel que afirma que a única exceção em todos os textos
relevantes dos pais da igreja proíbem o novo casamento depois do divórcio
(Heth & Wenham 1985, 38; Davies & Allison 1997, 17). Mas essa
posição tem sido criticada por Pierre Nautin que afirma que os Pais
Latinos do séc. II a IV permitiam o novo casamento em caso de adultério
(1990, 180)
- será que o adultério ou novo casamento resulta em uma dissolução completa
do casamento? Será que o casamento pode ser dissolvido? Seria apenas
separação? Cornes diz que apolyo, divórcio não dissolve o casamento
mas apenas traz a separação (Cornes 1993, 216). Heth & Wenham argumentam
que essa palavra é usada 2 vezes no mesmo versículo (19:9) onde porneia
está envolvida e onde ela não está, já que precisa ser suprida do verso
anterior (Cornes 1993, 216). Neste caso o divórcio legal ainda não quebra
o vinculo estabelecido por Deus no casamento. Isso fica claro quando
a pessoa que casa novamente comete o adultério. Mas não creio que a
Bíblia é clara sobre a quebra ou não do vinculo criado por Deus no casamento.
Sabemos que a morte quebra esse vínculo. Se o casamento seria uma aliança
parecida com Deus e Israel sabemos que ela pode ser quebrada como aconteceu
com Israel em Jer 31:32. Logo não fica claro se esse vínculo pode ser
dissolvido
- é bem difícil tentar saber exatamente o que Jesus falou sobre o divórcio
já que temos diversas passagens supostamente ditas por Jesus com ligeiras
variações. Será que a cláusula de exceção era obvia para os outros escritores
e por isso foi mencionada apenas por Mateus (Carson 1984, 416)? O mais
provável é que temos interpretações apostólicas daquilo que Jesus falou
(Stein in DJG, 197).
- já que a questão do divórcio foi feita a Jesus em ambiente hostil,
é possível que Jesus exagerou para enfatizar o que queria dizer (Stein
in DJG, 197). Jesus estaria querendo dizer que o divórcio sempre foi
contra o propósito de Deus. A pergunta das pessoas estava focando sobre
o aspecto errado. Eles estavam perguntando quão longe poderiam ir da
vontade de Deus e ainda assim fazer o que Deus aceitaria. O que pode
nos indicar nessa direção é a cláusula de exceção que por si só já enfatiza
a regra. Será que a afirmação de Marcos seria uma regra geral mas que
não pretendia cobrir todos os casos? Se existem exceções, haveria outras?
Existem leis mais importantes que outras? Ao que tudo indica, sim. Mas
temo que ter cuidado para não afirmar algo baseado em nossa percepção
limitada e falha que talvez se baseia demais na cultura de demenos na
Bíblia.
5 – 1 Cor 7:10-16 “10 Aos casados dou este mandamento, não eu, mas o
Senhor: Que a esposa não se separe do seu marido. 11 Mas, se o fizer,
que permaneça sem se casar ou, então, reconcilie-se com o seu marido.
E o marido não se divorcie da sua mulher. 12 Aos outros, eu mesmo digo
isto, não o Senhor: Se um irmão tem mulher descrente, e ela se dispõe
a viver com ele, não se divorcie dela. 13 E, se uma mulher tem marido
descrente, e ele se dispõe a viver com ela, não se divorcie dele. 14
Pois o marido descrente é santificado por meio da mulher, e a mulher
descrente é santificada por meio do marido. Se assim não fosse, seus
filhos seriam impuros, mas agora são santos. 15 Todavia, se o descrente
separar-se, que se separe. Em tais casos, o irmão ou a irmã não fica
debaixo de servidão; Deus nos chamou para vivermos em paz. 16 Você,
mulher, como sabe se salvará seu marido? Ou você, marido, como sabe
se salvará sua mulher?”
- Paulo está falando aqui para pessoas da igreja que são convertidas.
Paulo diz 1o. que a mulher não deve se separar do marido. Quando a igreja
entrou no mundo greco-romano, algumas mulheres achavam que estavam culturalmente
livres para se divorciarem dos seus maridos, como acontecia neste ambiente.
No mundo judaico o divórcio era somente permitido para o marido. Mesmo
que culturalmente isso era permitido, Paulo deixa claro que na igreja
isso não é assim – ela não deve se divorciar do marido, e isso é ordem
de Jesus. Esse não era o plano inicial de Deus. Se porém isso acontecer
ela não deveria se casar outra vez. Parece que Paulo aqui faz algumas
concessões mesmo que não seja o ideal. Se ela não gostar de ficar solteira,
deve voltar para o seu marido e buscar a reconciliação (Hawthorne in
DPL 598). Mas quando o divórcio acontecer, os divorciados não deveriam
ser colocados para fora da comunidade, mas permanecer solteiros. Se
eles não podem se reconciliar dentro da comunidade são um mau testemunho
sobre esse assunto para o mundo (Fee 1987, 303?)
- mas havia ainda um outro caso onde é muito provável que um dos parceiros
havia se convertido depois de já estarem casados. Neste caso os cristãos
não devem tomar a iniciativa de se divorciar de seu parceiro não-cristão.
Mas se o descrente tomar a iniciativa o cristão não deve forçá-lo a
permanecer pois Deus nos tem chamado para a paz. Se possível o casamento
deveria ser mantido na esperança de ganhar o parceiro para Cristo. Resumindo:
Se o parceiro que não é convertido insiste na separação e toma a iniciativa
da separação (talvez motivado pela incompatibilidade espiritual), o
parceiro cristão, segundo Paulo (que não cita nenhuma palavra definitiva
de Jesus sobre esse assunto), não está preso (“debaixo da servidão”).
Não está preso: (1) à proibição do divórcio feita por Jesus; (2)
à abster-se do novo casamento; (3) a persistir buscando a reconciliação,
pois “Deus nos chamou para a paz” [isso seria porque o parceiro não-convertido
tomou a iniciativa do divórcio e o parceiro cristão não deve persistir
buscando a reconciliação porque o parceiro não-convertido tem o direito
ao divórcio]. O contexto favorece a 3a. opção (Harris). Por outro lado
temos que pensar que o parceiro incrédulo estaria livre para o novo
casamento – isso é assumido. A possibilidade de reconciliação se fecha
quando o parceiro se casou novamente. Isso abriria a porta para a parte
inocente estar livre para se casar? Essa decisão é muito complicada
- as pessoas discutem largamente se esse texto daria a oportunidade
para o novo casamento. Fee 1987, 303, diz que o texto não fala a respeito.
Com isso ele não quer dizer nem sim, nem não, simplesmente que não toca
no assunto. Além disso ao que tudo indica temos uma regra geral que
permite uma exceção para o divórcio (e talvez o novo casamento) quando
Paulo foi confrontado com uma situação real. Se alguém aproximasse a
Paulo com outras situações reais, tais como: abuso físico, crueldade,
etc., ele também abrira exceções? O texto não diz. Parece claro que
nenhuma decisão para o divórcio deveria ser realizada à parte da liderança
da igreja (Hawthorne in DPL 599)
Resumindo
- temos diversas posições de interpretação baseadas nos textos acima:
1. O divórcio motivado por imoralidade
sexual e permitido (não exigido) mas não o novo casamento
- neste caso Mat 19:9 seria: “todo aquele que se divorciar de sua mulher,
exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher [sem exceção],
estará cometendo adultério”. Isso significa que temos duas afirmações
nesse texto: a. a pessoa que se divorcia a não ser por imoralidade sexual,
comete adultério; b. a pessoa que se casa novamente sempre comete
adultério (Stein in DJG 193
- o propósito da cláusula de exceção não seria para permitir o novo
casamento, mas afirmar que no caso de imoralidade sexual, o divórcio,
i.é., separação de casa e cama não é adultério. No caso de imoralidade
sexual o divórcio seria permitido mas não o novo casamento (Stein in
DJG 193)
- o problema dessa interpretação é que não faz sentido que a pessoa
que divorcia a sua mulher ser considerado adúltero. Poderia ser algo
errado, mas não faz sentido se comiseramos isso sendo adultério. Somente
seria adultério se houvesse um novo casamento. Além disso o conceito
de divórcio que vinha do AT pressupunha o direito ao novo casamento.
Se Jesus quisesse que interpretassem de forma diferente teria que ter
dito isso claramente (Stein in DJG 193)
2. O divórcio e novo casamento são
permitidos nos casos de imoralidade sexual e deserção
- neste caso Mat 19:9 seria: “todo aquele que se divorciar de sua mulher,
exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher [exceto no
caso de adultério do outro cônjuge], estará cometendo adultério”.
- essa visão se baseia no contexto do mundo para o qual Jesus estava
ministrando onde o divórcio presumia o direito a um novo casamento.
Desta forma Jesus e Mateus usam a palavra divórcio da mesma forma que
as pessoas do seu tempo, com o mesmo significado (Stein in DJG 193)
- parece que Paulo tem uma opinião similar em 1 Co 7:12-15. Quando o
parceiro cristão é abandonado pelo parceiro não-cristão, ele “não está
em servidão” (1 Co 7:15). Ao que Paulo se refere aqui: (1) não está
mais preso ao parceiro não-cristão e por isso está livre para casar
novamente? Ou não está mais amarrada a lutar para manter o casamento?
Em 1 Co 7:39 Paulo diz que a esposa “está ligada” ao marido enquanto
ele vive, mas quando ele morre ela está livre para casar-se no Senhor.
Não temos a mesma palavra para “estar ligado” mas a idéia é a mesma
– está falando do novo casamento. Em Rom 7:5 também diz que a mulher
está livre para casar de novo quando o marido morre. Unindo os textos
podemos supor que Paulo assegura o direito ao novo casamento do parceiro
cristão quando este é abandonado pelo cônjuge não-cristão (Stein in
DJG 193-94)
- o problema desta interpretação é que Marcos como Lucas não apresentam
a cláusula de exceção. É verdade que omissão não significa necessariamente
exclusão, mas a leitura direta de Marcos e Lucas parecem indicar que
o divórcio não é permitido nem o novo casamento. Mas será que Jesus
está exagerando um pouco por causa do ambiente hostil de onde veio a
pergunta? Neste caso a omissão poderia ser explicada satisfatoriamente
(Stein in DJG 194)
3. O divórcio de casamentos ilegais
é permitido
- neste caso “imoralidade sexual” é entendido como algum problema marital
que acaba anulando o casamento. Poderia ser um casamento incestuoso
(Lev 18:6-18; Deut 27:22). A ponte é feita em que esta palavra usada
aparece em 1 Co 5:1 para incesto (= imoralidade sexual). Outra interpretação
vê a imoralidade sexual como infidelidade sexual antes do casamento
pela mulher no tempo do noivado (Deut 22:20-21). Nesse caso depois de
consumado o casamento ele seria anulado e não aconteceria o divórcio.
O argumento é que não houve um casamento correto e por isso poderia
ser anulado. Ainda outra possibilidade é ver o casamento ilegal entre
um judeu e um gentio que era expressamente proibido no AT. Mas 1 Co
7:12-15 argumenta contra essa visão já que diz que o parceiro crente
não deve se separar caso o seu cônjuge queira permanecer unido (Stein
in DJG 194)
- o problema com esta visão é que o conceito “imoralidade sexual” tem
uma abrangência muito grande e desta forma não podemos especificar casos
isolados como acima (Stein in DJG 194)
4. Imoralidade sexual não é uma
exceção
- nesta visão Jesus estaria dizendo que o divórcio e o novo casamento
sempre são adultério e que Jesus simplesmente não queria comentar sobre
a questão da imoralidade sexual – que é algo irrelevante para este assunto.
Nesse caso eliminamos toda e qualquer distinção entre os evangelhos
(Stein in DJG 194)
- o problema com esta visão é que ela não analisa bem a o conceito de
exceção (Stein in DJG 194)
5. Mateus acrescentou a cláusula
de exceção
- Mateus teria acrescentado essa exceção às palavras de Jesus, dessa
forma corrompendo o ensino de Jesus, para se tornar mais acessível aos
seus leitores. Por outro lado se olhamos para Mateus como inspirado,
ele poderia ter interpretado pelo Espírito as palavras de Marcos e Lucas.
1 Co 7:15 parece favorecer esta visão. Essa visão poderia ser positiva
no fato de que não tenta harmonizar de maneira artificial os textos.
Por outro lado parece dizer que Mateus contradiz os ensinos de Jesus
(Stein in DJG 194-95)
Conclusão
- a igreja está diante de um dilema. Ela sabe que Deus odeia o divórcio
e por isso nunca o divórcio será a vontade diretiva de Deus. O plano
inicial de Deus era diferente. Por outro lado o pecado entrou no mundo
e traz consigo a desgraça. Nesse mundo estragado pelo pecado, Jesus
se encarna para trazer redenção. Jesus nos limpa do pecado e ensina
novas regras de conduta – as regras do Reino. Mas ele também sabe que
apesar de redimidos ainda lutamos com o pecado. Existem situações onde
parece que temos concessões feitas pela palavra abaixo do ideal. Jesus
reenfatizou que deveríamos amar a todos como a nós mesmos. Esse mandamento
já existia no AT. Mas agora vem com nova força já que Jesus mesmo deu
o exemplo. Mas em algumas passagens temos uma concessão admitindo que
mesmo na igreja isso nem sempre vai ser possível: “12 Portanto, como
povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão,
bondade, humildade, mansidão e paciência. 13 Suportem-se uns aos outros
e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como
o Senhor lhes perdoou” (Col 3:12-13); “Esforcem-se para viver em paz
com todos e para serem santos” (Hb 12:14); “Façam todo o possível [no
que depender de vós] para viver em paz com todos” (Rom 12:18). Palavras
tais como compaixão, bondade, humildade, mansidão, paciência, suportar,
perdoar, esforçar-se, fazer todo o possível, no que depender de vós,
etc., indicam que mesmo sendo cristãos lutamos contra o pecado. Tudo
isso deveria ser absolutamente normal para nós que nem precisaria ser
relembrado. Mas a vida prática é outra. Lutamos contra o pecado a ponto
de que “amar uns aos outros” continua sendo a regra, mas às vezes por
causa do problema do pecado, fazemos a nossa parte e ainda não conseguimos
viver em paz com os outros a ponto de suportarmos uns aos outros (amar
à distância). Entendo que é a Bíblia lidando com pessoas reais de carne
e osso, tirando a consciência pesada quando o pecado estragou algo que
ao menos por enquanto não tem solução. Mas isso não tira de nós o ideal.
Sempre continuamos almejando ser como Cristo
- com relação ao divórcio e novo casamento ao que tudo indica temos
duas exceções que devem ser consideradas seriamente. Nos textos onde
aparentemente não temos exceção nenhuma podem ser vistos como exageros
para enfatizar o ensino de Jesus sobre a centralidade do casamento como
uma união permanente sobre a terra. Nos outros textos temos exceções
que são assumidas nos textos onde não aparecem. Também podemos questionar
se existem outras exceções além das citadas no texto. Temos que ter
em mente que Deus odeia o divórcio (Mal 2:16) e que um ensino muito
forte sobre este assunto da parte de Jesus somente enfatiza este ponto.
Não deveríamos considerar o divórcio como opção. Os efeitos são sempre
devastadores mostrando nosso fracasso em não alcançar os propósitos
de Deus. Mas podem haver situações onde o divórcio é o mal menor. Entendemos
que o divórcio e novo casamento é permitido em duas situações., mas
mesmo assim devem ser vistos como medidas drásticas, como a amputação
de um membro do corpo. Mas haveria outras situações parecidas a esta
onde o divórcio seria o mal menor? Da parte da Bíblia temos que olhar
para esta situação com muito tremor, sabendo que Deus odeia o divórcio
e sabendo que termos que justificar toda e qualquer coisa que fizermos
diante dele (Stein in DJG 198)
- a igreja precisa se posicionar. De um lado ela não quer abrir a porta
mais do que Jesus faria, pois estaria cedendo a pressões da cultura,
pessoas, etc. A igreja não quer baratear o evangelho pois isso não leva
ninguém a um encontro sincero com Deus. Além disso não quer dizer sim
para algo que possa ser pecado. Por outro lado a igreja pode estar colocando
um preço mais elevado sobre seguir a Jesus do que próprio Deus coloca,
estipulando que não haja possibilidade de um novo casamento em qualquer
situação (Atkinson in EDT 1008). Creio que precisamos orar e pedir a
ajuda divina neste assunto tão complicado e tomar uma decisão, mesmo
correndo o risco de errar. Se não o fizermos acabamos decidindo por
não lidar com esse problema que se tornou epidemia e não há prognósticos
positivos no futuro. Mexer com esse assunto significa sujar as mãos.
Mas temos que lembra que para resgatar pessoas do mundo teremos que
sujar as mãos assim como Jesus não teve medo de não somente sujar as
mãos mas o corpo todo quando se encarnou como ser humano
Questões complicadas para decisão
1. A cláusula de exceção de Mateus
abre a porta para o divórcio?
2. Mateus abre a porta para o novo
casamento da parte inocente? E da parte culpada?
3. Paulo abre a porta para o divórcio
em caso de abandono pelo parceiro não-convertido. Isso implica em novo
casamento do parceiro cristão?
4. Como lidar com outras situações
sobre as quais a Bíblia não fala. É fácil dizer que cada caso é diferente.
Mas quais são os princípios que vão nos orientar nesses casos. Acho
que precisamos estabelecer algumas normas básicas a serem seguidas nestas
situações
5. Se o casamento é indissolúvel
ou pode ser dissolvido por situações além da morte de um dos cônjuges.
Isso é relevante por causa da questão do adultério envolvido em qualquer
novo casamento
6. Se relacionamentos pré-conversão
são tratados da mesma forma que relacionamentos entre cristãos. Se existem
diferenças, quais seriam? Quando afirmamos que alguém era convertido?
Se a pessoa se afasta da igreja pode fazer o que quiser e depois a recebemos
de volta como pessoa arrependida?
Bibliography:
Blomberg, Craig L. 1990. Marriage, Divorce, Remarriage, and Celibacy:
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Catchpole, D. R. 1975. The Synoptic Divorce Material as a Traditio-Historical
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