O CRENTE Rogério Cericatto Dan, este livro é para você. Sua edificação
e para o ministério que Deus tem para sua vida. “E já está posto o machado á raiz das árvores; toda árvore,
pois que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo.”
Mat. 3.10 I A
música tocava alta. A densa neblina provocada pelo gelo seco mau permitia
enxergar um palmo diante no nariz. Os flashs coloridos eram os únicos
que conseguiam atravessá-la. Welington
mau conseguia ouvir o que Kelly falava. — Vou sentar um pouco! – gritou ele. Nunca
saberá o que ela entendeu. Caminhou até a mesa deixando-a na pista de dança. Olhou
para o relógio para certificar-se que já era muito tarde. 3:15h o relógio
confirmou. O
som techno estava alto e havia muita gente. Por
um segundo voltou aquele pensamento incriminador dizendo que ele não
deveria estar ali. Sentou-se
na cadeira, aproveitou que o garçom estava passando para beber alguma
coisa. A bandeja estava cheia e ele pegou uma “marguerita”. Kelly
ficou na pista de dança por mais duas músicas e depois veio sentar-se
com ele. —
Precisamos ir embora. – disse Welington assim que ela sentou-se. Ela
concordou e ambos pegaram suas coisas. Lá
fora o frio ainda era forte. As ruas estava vazias. Welington caminhou
até um orelhão e chamou um taxi. Meia
hora depois já estava em casa. Kelly continuou no taxi até a casa dela. Welington
abriu a porta, tudo estava quieto e silencioso. “Você
não devia ter ido lá.” Novamente
o pensamento apoderou da sua cabeça. —
Chega! – disse ele baixinho. Procurou
sua cama. Ela estava lá esperando ele. Deitou-se. Não demorou muito
para dormir. A luz continuou acesa.
II
Welington
levantou-se às 15:00h. Sua cabeça doía muito. Parecia que alguém havia
martelado ela a noite toda. Foi
ao banheiro e encontrou no caminho. —
Vai na igreja comigo? – perguntou ela. —
Não. – respondeu voltando para o quarto. Sua
mãe continuou a observá-lo. Já faziam mais de dois meses que Welington
não aparecia na Igreja. Desde que conheceu a Kelly nunca mais foi o
mesmo. Welington
sempre foi criado em um lar cristão e para ser um autêntico cristão,
as coisas estavam indo bem, mas ele foi em uma festa do colégio, certa
vez, e conheceu Kelly. Começaram a namorar e Welington esqueceu a igreja. Ninguém
acreditava nisso. Welington sempre foi um garoto bem participativo.
Era do grupo de Teatro e sempre freqüentou a Escola Bíblica. No
começo do namoro até continuou indo. Mas Kelly era de outra religião
e levantar pela manhã no domingo para ir à Igreja não era do seu feitio. Em
pouco tempo ele já não tinha mais ânimo para levantar e ir sozinho. Os
amigos da igreja, notaram a sua falta, foram em sua casa chamá-lo várias
vezes, mas ele não queria ir. Saia
sempre com Kelly e aos poucos começou a chegar tarde em casa. Estas
chegadas começaram a aumentar e Welington não se importava mais com
a Escola Bíblica e nem com mais nada da Igreja. Seu
pai não gostava nada desta idéia. Cobrou dele isso. Mas Welington não
estava afim de discutir. Estava conhecendo uma vida que nunca havia
conhecido mas que sempre desejou conhecer. Então tudo era dez. Kelly era muito linda e sensual. Estar com ela era melhor
do que muitos e muitos cultos, e Welington não iria trocar a Kelly pelo
banco da Igreja. Contudo, estes pensamentos de que tudo estava errado
não saiam de sua cabeça. Eles iam e vinham, sempre lembrando-o de que
algo estava errado. Welington
não sabia o que fazer, quando estes pensamentos apareciam, ele lembrava
de Kelly e aos poucos os pensamentos iam passando.
III
Tomou
o café e ligou para ela. Kelly
havia acabado de acordar também. Combinaram
de se encontrar mais à tarde. Welington estava de férias. Um bom tempo
para namorar. Como
haviam combinado, se encontraram no Bepe e comeram um pizza. Kelly disse
que queria comprar umas roupas novas e combinaram de fazer isso no Sábado. —
No Sábado não vai dar. Tenho que ir na Igreja. – disse ele. —
Igreja? – ela olhou-o incrédula. —
É, minha mãe não para de me perguntar: Quando é que você vai na Igreja?
Quando é que você vai na Igreja? E eu preciso aparecer por lá. —
Mas e eu? —
Vai comigo. —
Ah, não! Nem pensar! —
Por que? —
Sabe que eu não gosto da sua Igreja. Welington
sabia muito bem o que Kelly pensava a respeito da sua igreja. Ela já
havia sido motivo para muita briga entre eles. —
Então vamos fazer assim: Eu vou na igreja e você vai comprar as roupas,
você sabe que eu não tenho paciência para ficar esperando você provar
um monte de roupas e não levar nenhuma. —
Então tá. Quando a gente vai comprar roupas é bom mesmo não levar homens! —
Nada à ver! —
Tudo à ver! Vocês só incomodam! Os
dois riram. Terminaram
a pizza e Welington levou Kelly para casa. Em
seguida foi para a sua. Pensou em ter que ir na igreja novamente. Não
queria, mas tinha de ir. Teria que encarar os olhos curiosos dos outros
jovens pois fazia um bom tempo que não aparecia por lá e isso era muito
chato. Aquele bando de crentes invejosos! Bem,
voltou para casa. Sua mãe já havia chegado. E assim que ele se sentou
na mesa para conversar um pouco ela já despejou todo o sermão do Pastor. —
Hoje o Pastor falou sobre o oceano do Espírito Santo. Ele disse que
precisamos nos afundar cada vez mais... Welington tentou tranca o cérebro para não ficar ouvindo
mais nada. Tentava desconversar e mudar a rota da conversa, mas sua
mãe insistia: —
...e não podemos abandonar Deus de forma nenhuma. —
Mas quem disse que eu abandonei Deus? – questionou ele. —
Eu não vejo você nem fazendo oração mais! —
Isso não quer dizer. Eu faço orações todos os dias. Só não fico falando
alto para que até os vizinhos ouçam. – mentiu. —
Tudo bem, mas e o Teatro? —
Ah, tinha que tocar neste assunto novamente. —
Todo mundo pergunta de você. Querem saber porque você abandonou tudo. —
Eu não abandonei. Estou apenas cansado. Não estou de férias? Então.
Quero aproveitar e descansar bastante. E estou cansado do Teatro. —
Mas é um ministério abençoado! —
Eu sei, mas quero ajudar Deus de outra forma. —
Que forma? —
Não sei ainda. Mas não quero mais fazer Teatro. Sua
mãe voltou para os afazeres. Tentando digerir o que ele falava. Mas
a verdade é que não conseguia entender como o seu filho, um rapaz tão
crente, abandonasse tudo desta forma. —
E a Kelly? – perguntou ela. —
O que é que tem? —
Por que você não leva ela para a Igreja? Welington
sentiu-se encurralado. —
Mas ela vai. —
É? Quando? —
Sábado. – mentiu novamente. Kelly iria fazer compras, conforme eles
haviam combinado, mas ele pensou que se dissesse isto sua mãe não iria
lhe perguntar mais e na última hora ele anunciaria a mudança dos planos.
—
Filho, você sabe que eu gosto dela, mas ela não é crente. Ela não é
como você. Você tem que levar ela para a Igreja ou ela vai lhe levar
para o Mundo. —
Eu sei, mãe. Welington
se levantou e foi para a sala. Ligou a televisão e ficou assistindo
um filme que passava. Sua
mãe continuou nos afazeres, orando para que ele voltasse para os braços
de Jesus o mais rápido possível.
IV
A
semana acabou. E como havia prometido. Welington foi para o culto. Entrou
e sentou-se no seu lugar de costume. No fundo. As
poucos, os conhecidos vieram lhe cumprimentar. E perguntar a mesma coisa: —
Por que você está tão sumido? E
Welington respondia a mesma coisa. —
Sumido nada! É que estou sem tempo! “Idiotas”
pensou, só sabem perguntar isso! Por que vocês não vão cuidar da sua
vida? Bem,
o culto começou e Welington cantou as músicas com os outros. Aos poucos
foi ficando mais a vontade e até reconheceu que estava errando e deixar
Deus. Quando
o período de louvor acabou. Estava orando. —
Senhor, peço-lhe perdão pelo pecados que eu cometi. Me ajuda, Senhor,
pois bem sabes que eu gosto da Kelly, mas não tem sido fácil trazê-la
para sua casa. Sei que não posso lhe deixar, então Senhor, fica comigo,
mesmo que eu me esqueça de ti. Quando
terminou este período de oração. Welington sentou-se. O Pastor assumiu
o seu lugar no púlpito e começou a pregar. Falou
sobre amor, sobre o grande amor de Deus e Welington reconheceu que ali
era o seu lugar, não no mundo onde estava andando. Precisava de Deus
e precisava fazer um concerto com Deus. Tinha que voltar para a Igreja.
Sua natureza dizia que ele não devia viver com o mundo, nem com as coisas
pecaminosas que o mundo oferecia a ele, mas sim na casa de Deus, junto
com os outros membros. Tinha
que voltar para casa. Não havia outro lugar no mundo onde ele sentia
tanta paz. O
culto terminou e Welington ficou triste por isso. Voltou para casa,
animado e feliz. —
Não posso mais ficar faltando tanto assim na Igreja. – disse para seu
pai. —
Claro que não. Nós temos que ir nos cultos. Sabe que é a única forma
de edificação. —
É. Vou falar com o Ricardo e voltar a ajudar o pessoal de Teatro. Seus
pais ficaram alegres com esta afirmação. Welington havia voltado afinal
para os braços de Deus e isso era muito importante.
V
—
Não, Welington. Sabe que eu não gosto de ir lá! —
Kelly, mas vai ser bom. E eu estou de volta ao grupo de Teatro. —
Ué, vai você. —
Não, Kelly. Sabe que não é assim. Eu gosto de você e é uma forma de
agradarmos Deus juntos. —
Welington, eu agrado a Deus. Vou nas missas e... —
É diferente! Você sabe que é diferente. —
Não vou ficar discutindo com você! Esta é a minha última palavra. —
Mas por que? —
Eu não gosto. Welington
sabia que convencer Kelly era quase impossível. Mas continuou insistindo. —
Tá e você vai fazer o que Sábado então? —
Não sei. Neste próximo Sábado tem uma festa na casa da Gisele, e eu
já falei para ela que iria. —
E você vai sem mim? —
Eu já falei que ia. —
Tá e eu? —
Bem, vai na Igreja e depois vamos para a Festa. Welington
pensou. Tudo bem, ele estaria fazendo a parte dele indo ao culto. —
Tudo bem. A que horas nos encontramos? —
Lá pelas dez. —
Te pego em casa? —
Sim. Continuaram
o almoço. Welington estava um pouco chateado. Queria levar Kelly para
o culto, mas ela tinha um pensamento muito ruim a respeito dos crentes.
Tudo por que uma vez veio um homem em sua casa e se dizia ser crente.
Começou a falar um monte de coisas e inventar uma monte de histórias
dizia que Deus estava falando tudo para ele. Semanas
depois ela ficou sabendo que este mesmo homem havia sido preso por estupro. Crentes
não entravam mais na casa dela. Lógico, havia a exceção de Welington,
por que todos na casa dela gostavam dele. Mas desde que ele não tocasse
em religião. Bem,
chegaram a um acordo. Durante
a semana se encontraram todos os dias. E a cada encontro o amor entre
os dois ficava maior. Comprou
um pequeno presente para Kelly e foi levar na casa dela. Pelo caminho
encontrou dois rapazes que eram Hare Krishnas e um deles o abordou. —
Você, meu jovem. Já encontrou a paz consigo mesmo? Welington
sorriu. Seria uma boa oportunidade para defrontar de frente este jovem. —
Sim, eu encontrei a paz verdadeira. —
Como? – indagou o jovem. —
Através de Jesus. O
jovem riu. —
Nos oferecemos mais. – entregou um livrinho para ele. — Nós oferecemos
uma paz que vai fundo no seu ser. —
Mas eu já lhe disse, a verdadeira paz só existe em Jesus. —
Ih, já vi que você e daqueles... – tomou o livrinho da mão de Welington
e saiu de sua frente. Abordou outro Jovem que ia passando. Welington
continuou seu caminho até a casa de Kelly. Tentando imaginar o que o
jovem estaria pensando com as palavras do Hare Krishna. —
Eles vão onde você não está indo! Welington
parou para olhar a pessoa que havia dito isto. Voltou-se para o lado,
mas não viu ninguém. Olhou para o outro lado e não viu ninguém também. —
Que engraçado, parecia que alguém havia falado. Continuou
seu caminho. “Eles
vão onde você não está indo!” Que engraçado, parecia que realmente alguém
havia falado isso. Welington
parou. —
Meus Deus! Ele
realmente havia ouvido uma voz. Era a voz da sua consciência. Era Deus
falando com ele. Seu
coração batia apressadamente. —
Eles vão onde você não está indo! – repetiu ele. É
claro. Estes Hare Krishnas estão pregando sua religião, e o que ele
tinha feito pelo evangelho? Quando foi a última vez que pregou o evangelho
para alguém? Ficou
parado por alguns segundos. Olhou novamente o jovem e viu que ele havia
comprado o livrinho do Hare Krishna. Aquilo
lhe apertou o coração. O jovem estava vindo em sua direção. Ele precisava
dizer que aquilo que ele estava carregando nas mãos era um mentira.
O
jovem estava se aproximando. Ele precisava dizer que Jesus era a verdadeira
salvação, que Hare Krishna era uma mentira. Ele tinha que dizer isso! O
jovem passou por ele. Ele não abriu a boca.
VI
Welington
estava se sentindo péssimo. Chegou na casa de Kelly ela não estava.
Mandou sua mãe entregar o presente e disse que tinha que ir para casa. —
Fica mais um pouquinho. A Kelly já deve estar chegando. – disse ela. —
Muito obrigado dona Roberta, mas tenho que ir mesmo. Despediu-se
e saiu. Estava em cacos. Ficou
pensando naquele jovem. Ele teve a oportunidade de lhe pregar o evangelho.
Ele teve a oportunidade de falar do amor de Jesus para ele. Mas ficou
calado. Ficou com medo. Com vergonha. Ele
não se perdoava por isso. Pegou
o ônibus e foi para casa. Ficou orando pelo rapaz e pediu perdão a Deus
por ter deixado esta oportunidade passar. Quando
chegou em casa, tomou um banho e foi deitar-se. Sentiu muito sono e
dormiu logo. Umas
duas horas depois acordou com o som da voz de sua mãe. —
Viviane está no telefone. Ela quer falar com você. Welington
pegou o aparelho, ainda deitado na cama. —
Alo? – falou com uma voz sonolenta. —
Welington? - disse Kelly no outro lado da linha. —
Oi? Oi Kelly. —
Oi? Obrigado pelo presente! Eu
gosto muito de você, sabia? —
Ah, de nada. —
Você estava dormindo? Eu te acordei? —
Não, não estava. —
Ah, fala a verdade. Eu te acordei
né? —
É, eu estava cochilando. —
Ah, então volte a dormir. Agora
são cinco horas, mais a noite eu vou ai. —
Tá bom então. —
Então, vou desligar. Muito obrigada
pelo presente. —
Ah, que isso. Eu também gosto muito de você. —
Então até mais. —
Até. Welington
colocou o telefone no ganho e acomodou-se melhor na cama. Voltou a pensar
no episódio de hoje. Como uma coisa assim pode abalar tanto os seus
pensamentos? Afinal, nem conhecia o rapaz. Mas o sentimento de culpa
ainda batia em sua cabeça. Mas por que? Ele nem conhecia o rapaz. Não
demorou muito para voltar a dormir.
VII
A
semana transcorreu normalmente. Welington aos poucos foi esquecendo
este episódio. Kelly veio a semana toda em sua casa. Assistiram bastantes
filmes. Welington
foi na igreja mais cedo no Sábado. Ensaiou o Teatro com os outros jovens.
Assistiu o culto e depois foi na casa de Kelly. Tinham uma festa para
ir. Kelly
estava linda. Seu amor por ela era ainda maior. Foram
para a casa da Gisele. Já havia bastante gente por lá. Welington
foi cumprimentando um conhecido, depois outro e assim por diante. Tomou
uma “batida” depois outra e se deteve em um grupo de rapazes que estavam
contando piadas bem picantes. De
repente aquela voz novamente: “Você sabe que este não é o seu lugar”.
Welington
que estava dando risada de uma piada, parou imediatamente. Ficou pensando:
“Nossa, tem tanta gente nesta festa, mas nenhuma delas conhece o evangelho
como eu, e todas vivem de acordo com seus desejos carnais. Estas pessoas
precisam conhecer o evangelho. Precisam de alguém para pregar para elas.
Mas quem? Eu? Nem pensar! Mas se ninguém pregar, elas irão para o inferno!
O meu Deus o que eu faço?” —
Welington? Quer mais uma “batida”? – perguntou Kelly. —
Hã? —
Quer mais uma “batida”? —
Não, não. Quero ir embora. —
O que? —
Quero ir para casa. —
O que? —
Vamos embora? —
Welington, você tá brincando, né? —
Não, estou falando sério. —
Mas a festa nem começou. —
Eu sei, mas estou afim de ir para casa. —
Welington? —
Sério Kelly, vamos embora. —
Welington, eu não estou acreditando. —
Olha, se você quiser ficar, bem, pode ficar, mas eu estou indo embora. —
Não acredito. Welington
ficou olhando Kelly esperando que ela decidisse ir embora com ele. —
Não vou embora. – disse ela. —
Kelly? —
É verdade, Welington. Vou para casa por que? A não ser que você me dê
um bom motivo, eu vou ficar. —
Kelly. Eu não tenho nenhum motivo. Não aconteceu nada. Só que este lugar
não é para mim. —
O que? —
Não estou me sentindo bem aqui. —
Ué? Por que? —
Não sei. Não estou me sentindo bem aqui. Kelly
ficou pensando por um segundo. —
Você tem certeza? – disse enfim ela. —
Tenho. —
Então vamos. Welington
não sabia o que dizer. —
Vou me despedir então. – disse ela decepcionada. Kelly
foi se despedindo dos conhecidos, sem saber o que dizer quando era perguntada
porque estava indo embora. Welington
e Kelly saíram e seguiram para casa. —
O que aconteceu? – perguntou ela enfim. —
Não sei, Kelly. Sabe, mas de repente a festa perdeu a graça para mim.
Eu não me senti bem. Sabe, o Pastor falou... —
Ah, não! Este assunto de Igreja denovo? —
Espere, deixa eu falar... —
Não, Welington! Você não vai vir com este papo novamente, não é? Por
que nós não podemos ser um casal de namorados como todos os outros? —
Mas Kelly, nós somos, é que eu não aceito algumas coisas... —
Assim não dá, Welington! – ela estava furiosa — Você precisa escolher! —
Escolher o que? —
Ora, você precisa se decidir! Ou você fica comigo ou você vai para tua
religião! —
Kelly? —
É isso mesmo! Eu estou ficando cansada disso. Eu gosto de você e sei
que você gosta de mim, mas não dá para ficar te dividindo com a Igreja.
Veja só. Nem em uma festa você quis ficar. Tudo isso porque seu Pastor
falou... —
Não foi nada do que o Pastor falou! —
Então por que? Por que então nós não estamos lá na festa ao invés de
estar indo para casa? —
É que eu não estava me sentindo bem. Kelly
ficou olhando para Welington enquanto ele dirigia. Welington não se
atreveu a olhar para ela, pois seus olhos estavam soltando faíscas. —
Welington, você tem que escolher. —
Escolher o que? —
Ou você fica comigo, ou você fica com sua Igreja. Eu não vou seguir
você se você escolher a segunda opção. —
Por que Kelly? —
Eu não vou virar uma crente! —
Mas Kelly, que mal tem nisso. Eu sou crente e toda a minha família é... —
Mas eu não vou ser! Welington
novamente ficou sem palavras. Continuou
dirigindo até chegar na casa de Kelly. Ela desceu e bateu a porta. —
Kelly? – disse ele saindo do carro também. — Kelly? – repetiu. —
Welington, tome sua decisão. – repondeu ela entrando para dento de casa. Welington
ficou olhando ela entrar. Sabia que não adiantava ficar insistindo.
Ela era difícil de convencer. Voltou
para o carro e seguiu para sua casa. Precisava ficar um pouco só. Tinha
que conversar com Deus um pouco. Chegou
em casa, tomou um banho e foi para o quarto. Ajoelhou
e começou a orar. —
Senhor? O que está acontecendo comigo?
Por que estou assim? Por
que tudo isso está acontecendo comigo? Eu quero fazer a minha namoradinha
feliz, mas não estou conseguindo. Por que aquela festa perdeu a graça
para mim? Senhor, sei que só o Senhor pode me dar a resposta creio na
sua misericórdia. Então Senhor, me ajuda. Ilumina meus pensamentos. Pegou
a bíblia e abriu-a. —
Senhor, seja este texto as suas palavras para mim esta noite. Olhou o texto que estava na página onde a bíblia abriu. Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos,
ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do
evangelho, que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas,
e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições; e no
mundo vindouro a vida eterna. Welington
ficou olhando este texto por um bom tempo. —
Meu Deus. É isso que o Senhor quer de mim? Que eu vá e fale do seu evangelho
para os homens? Que eu abra mão de tudo o que tenho para servir na sua
grande obra? Se esta é a sua
vontade. Senhor, eu irei fazê-la. Continuou
orando e louvando a Deus e nem reparou quando adormeu, ainda de joelhos
no chão.
VIII
No
outro dia, seus joelhos doíam muito. —
Como foi que isso aconteceu? Havia
realmente dormido de joelhos. Ele nunca tinha feito isso antes. Mas
tudo bem. Aproveitou e jejuou durante o dia todo. Contou
toda a história para seu pai. Este lhe aconselhou a continuar orando.
Se Deus realmente queria isso dele, então ele devia pedir para Deus
confirmar isso no seu coração. Não
fez nada durante o dia todo, a não ser orar e ler a Bíblia. Aproveitou
uns livros que seu pai havia comprado a tempos e estudou bastante a
palavra de Deus.
IX
Kelly
ligou na manhã do outro dia. —
Welington? — Oi Kelly. —
Como você está? —
Estou bem, e você? —
Estou bem também. O que você está
fazendo? —
Agora, agora nada. Por que? —
Queria me encontrar com você.
Quero conversar. —
Tudo bem. Aonde? —
Que tal no Bepe? Assim agente
come uma pizza... —
Tudo bem. Que horas? —
Às cinco, pode ser? —
Tudo bem. Às cinco então. Conversaram
sobre o dia. Nada mais de especial. Welington precisava se encontrar
com Kelly, precisava dizer-lhe que Deus havia preparado uma obra para
ele fazer. Ele queria ir pregar o evangelho. Tinha que contar isso para
ela. Às
cinco horas Welington chegou no Bepe. Kelly já lhe aguardava. Ela estava
linda. Welington estava realmente apaixonado por Kelly. —
Tudo bem? – disse ele. —
Tudo, e com você? —
Tudo. Sentou-se
ao lado dela. —
Já pediu alguma coisa para comer? —
Não ainda. O que você vai querer? —
Para mim pode ser uma pizza de calabresa. —
Ótimo, eu também queria uma. Welington
chamou o garçom e pediu a pizza. Pediu um refrigerante também. Tomou
um gole e esperou o garçom sair para poder falar com Kelly. —
Kelly, eu tenho que lhe contar uma coisa. Eu sei que pode parecer estranho,
porque você não conhece o evangelho como eu conheço, mas eu quero que
você entenda. Sabe Deus tem um chamado para mim. Ele tem uma obra para
por nas minhas mãos. Ele quer que eu seja um evangelista, quer que eu
pregue a palavra para as pessoas. Ele quer que eu seja um instrumento
em suas mãos. Kelly
ouvia atentamente. —
Preciso buscar e conhecer melhor Deus para poder ser o que ele quer
de mim,. – continuou ele — Não posso voltar a trás, nem esconder meu
rosto desta responsabilidade. Na festa, passada, eu senti que precisava
falar de Jesus para aquelas pessoas, elas estavam indo para o inferno
e eu preciso fazer alguma coisa por elas. Kelly
continuava ouvindo. —
Não posso deixar milhões de pessoas irem para o inferno sem que eu lhes
diga algo. Sem que eu lhes fale do amor de Cristo. Vou ser um evangelista. Welington
esperou Kelly digerir tudo o que acabara de falar. —
E o que você pretende fazer? -
disse ela. —
Conhecer melhor nosso Deus. —
Não, eu digo sobre nós. Welington
se sentiu encurralado. Kelly não havia se convertido ainda. Como eles
poderiam fazer isso juntos? —
Que você me acompanhe... – começou ele. —
Welington, você sabe... —
Kelly, você precisa entender. Sem Jesus nós não somos nada. Não somos
ninguém. Nós precisamos pregar o evangelho... —
Welington. Até quando você vai insistir nisso? —
Kelly, esta é a minha vida. Eu não posso fugir disso! —
Welington, eu já lhe disse, eu não vou ser crente. E acho que você não
vai aceitar isso nunca não é? —
Kelly... —
Não, Welington. Entenda. Eu não vou ser crente. —
Mas... —
Eu já lhe disse. Você terá que escolher. —
Kelly? —
É isso mesmo, Welington. Ou eu ou a sua igreja. E pelo visto você já
fez sua escolha. Welington
não sabia o que dizer. Ficaria com Kelly ou iria pregar o evangelho? Por que não poderia ficar com as duas coisas? —
Não. – disse ele — Eu quero as duas! —
Não, Welington, não tem como e você sabe disso. Eu não vou ficar sacrificando
meus sábados e domingos na igreja. Sou jovem e tenho que curtir a vida. —
Curtir a vida? Mas isso é que é curtir a vida! Kelly
sorriu. —
Welington, acho melhor assim. Welington
entendeu que ela estava falando muito sério. —
Kelly? Você vai me abandonar? —
Welington, eu gosto muito de você, mas sou de outra religião. Não posso
te acompanhar. Olha, eu não sei muito bem como dizer isso, mas será
melhor para nós dois. Existem muitas pessoas ainda que precisamos conhecer
e não vamos ficar um prendendo o outro. —
Kelly, eu não posso acreditar nisso. —
Tenta entender Welington. Eu não vou ser crente. E você não vai abrir
mão disso. Então acho melhor, agente parar por aqui. Somos jovens e
só fazem dois meses e meio que estamos namorando. Não tem problema.
Vamos continuar amigos. Welington
tentou lutar consigo mesmo, mas sabia que ela estava com razão. Não
tinha como ele ficar com as duas. Ela insistia em dizer que nunca seria
crente, e por mais que ele orasse por isso e clamasse pela vida dela,
sabia que ela não iria aceitar. Infelizmente ele precisava seguir seu
rumo. Precisava dela também, mas tinha que fazer a vontade de Deus. O
garçom chegou com a pizza e ambos comeram. Para ambos a pizza não tinha
sabor de nada. Foi difícil descer para o estômago. Era
o fim do namoro.
X
No
caminho para casa Welington estava triste. Chegou a chorar. —
Deus, eu gosto muito da Kelly. Por que estou perdendo ela? Não
tinha resposta. —
Deus? Por que? Nada.
Nenhum som. Ele
ficou perguntando a Deus durante todo o caminho. Sentia uma tristeza
imensa, mas estava confiando em Deus. Ele não estava acreditando que
estava perdendo ela. Quando
chegou em casa, voltou a orar a Deus para que ele tivesse uma resposta,
abriu a Bíblia novamente e novamente a Bíblia caiu no mesmo versículo: Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos,
ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do
evangelho, que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas,
e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições; e no
mundo vindouro a vida eterna. Welington
chorou. Tinha
apenas uma certeza. Deus queria a fé dele. E ele estava depositando
tudo neste versículo. Se
Deus lhe desse cem vezes mais o que ele estava perdendo, ele com certeza
iria até o fim com Jesus. —
Senhor, sei que o Senhor sabe do meu amor pela Kelly, mas eu creio na
sua palavra, e sei que o Senhor irá me dar cem vezes mais o que eu estou
perdendo agora. Deus eu amo a Kelly e creio que um dia ela estará nos
seus caminhos também. Mas Senhor, faça a sua vontade e cumpra em mim
seus planos.
XI
Os
dias foram passando, as férias de Welington acabaram. Mas ele continuava
estudando e estudando a palavra de Deus. Quanto mais ele estudava, mas
vontade sentia de conhecer o Criador. Mais
e mais ele ia notando como seu Deus era grande e mais e mais ele entendia
o quanto ele era pequeno. —
Deus, sem ti eu não sou nada. Preciso de ti Senhor, pois sozinho não
sou ninguém! Durante
todo este tempo ele se lembrava da Kelly. Sentia sua falta e orava por
ela. Sabia que ela continuava indo nas festas de fim de semana, mas
mesmo assim não perdia esperança nas promessas de Deus. Voltou
ao Teatro e apresentou duas peças para cultos de missões. Conheceu num
destes cultos Giovanne que como ele, estava buscando a face de Deus. Giovanne
lhe apresentou Pedro e os três se reuniam na casa de Giovanne para discutir
e estudar a palavra. Aos
poucos, apesar de não estar com Kelly, Welington começava a adquirir
novamente confiança e alegria. Juntos os três estudavam bastante. Welington
começou a dar aulas na Escola Bíblica para crianças. Estava feliz assim,
mas ele queria mais. Ele queria sair das limitações da Igreja e ir atrás
das ovelhas desgarradas. Conversou com Giovanne e Pedro, mas ambos não
estavam pensando como ele. Eles não estavam querendo abandonar o aconchego
e a segurança da Igreja. Mas aceitaram ir com ele falar com o Pastor Welington
,Giovanne e Pedro então foram falar com o Pastor. Marcaram
uma reunião na quarta-feira à noite. Quando
chegaram na igreja o Pastor já estava lhes aguardando. —
Pastor, o senhor saber que estamos estudando assiduamente a palavra
de Deus não é? – disse Welington. —
Sim eu estou sabendo – disse ele. — E tenho ouvido muitos elogios dos
irmãos sobre o trabalho que vocês estão apresentando... —
Pois é, mas nós não queremos mais ficar só aqui na Igreja. Welington
disse isso, mas notou os olhares reprovadores de Pedro e Giovanne. —
Queremos ir pregar o evangelho em outros lugares também. – continuou
ele. — Nós queremos ser como Jesus e ir atrás das ovelhas perdidas. O
Pastor não queria de modo algum perder estes garotos, nem tão pouco
deixar que eles saiam da igreja. —
Veja bem Welington – disse ele — Vocês precisam pregar o evangelho,
mas precisam também cumprir suas obrigações aqui na Igreja. Não é simplesmente
sair para fora e gritar o nome de Jesus aos quatro cantos... —
Sabemos disso, Pastor – falou Welington — Mas queremos buscar mais pessoas
para a Igreja. —
Tudo bem, mas as lutas são grandes... —
Pastor, sabemos disso tudo. Queremos que o senhor nos ajude a formar
uma equipe para visitar orfanatos, hospitais e penitenciárias. Sabemos
que as lutas são muitas, mas as vitórias também são. Welington
queria dizer que sozinhos eles não iriam fazer nada. Mas com um grupo
de jovens eles poderiam fazer muito. Ele
começou a notar que Pedro e Giovanne não o ajudavam para argumentar
para o Pastor. Será que ele não estava agindo por conta própria? Será
que era isso mesmo que os outros queriam? O
Pastor propôs ajudar. Disse que iria fazer um desafio à mocidade. No
próximo culto ele iria deixar uma lista de nomes para participarem da
primeira visita que iriam fazer. Iriam visitar um hospital. Assim
foi feito. No primeiro culto que teve, o Pastor falou. —
Estamos fazendo uma visita para levar a palavra de Deus aos necessitados,
se você quiser participar, estamos indo ao Hospital José Bonifácio para
uma visita. Welington
ficou na porta com os bilhetinhos para serem preenchidos. Apenas uns
poucos foram preenchidos. Mas ele não desanimou. Continuou orando para
que Deus levantasse obreiros para fazer esta obra. Não
mostrou, mas estava decepcionado com a quantidade de pessoas que colaboram
com esta visita. De mais que quatrocentos membros da igreja, apenas
dez pessoas se propuseram a levar o evangelho aos necessitados do hospital. —
Onde está o compromisso desta Igreja? Onde estão os crentes? Ficava
se perguntando. Não
era possível que a quantidade de voluntários fossem tão pequena. Onde
este povo estaria na hora em que eles fossem no hospital? Provavelmente
em suas casas e assistindo televisão. É por isso que o evangelho anda
tão fraco. Não há quem pregue! Lembrou-se
dos Hare Krishnas que ele encontrou aquela vez. O sol estava forte e
o dia quente, mas eles estavam lá pregando sua doutrina. E nós os crente
onde estamos? Tentou
se conformar. Melhor dez do que nenhum.
XII
Quando
chegaram no hospital, foram falar com a recepção para receberem autorização. Não
demorou muito para serem informados que só poderiam entrar em grupos
de cinco pessoas. Assim
formaram dois grupos de cinco pessoas e entraram. Um grupo ficou com
a ala norte enquanto o outro grupo com a ala sul. Welington
não imaginava encontrar tanta gente e com tantos problemas. Passaram
em uns vinte ou trinta quartos. Oraram com os enfermos e com as famílias.
Muitos estavam abandonados pela família, outros ainda podiam desfrutar
da família ao seu redor, oraram com todos, distribuíram Bíblias e cantaram. Foi
um dia desgastante e gratificante. Quando
saíram do hospital já era tarde da noite. Mas estavam felizes e com
o sentimento de compromisso cumprido. Haviam feito a parte deles no
evangelho.
XIII
Na
outra semana, novamente foram no mesmo hospital. Desta vez o grupo foi
menor. Seis pessoas somente. Welington
estava muito indignado. —
Como pode ser isso? Ele
não acreditava que menos de dois por cento dos membros da igreja apareceram.
Desta
vez nem o Pastor apareceu. Bem,
foram lá e fizeram o evangelismo. Novamente o dia foi desgastante e
gratificante. Quando
terminou, Welington seguiu para casa, já era tarde da noite e ao passar
por um ponto de ônibus avistou uma pessoa conhecida. —
Quer uma caroninha? – perguntou ele. —
Claro. – responde Kelly. Ela
entrou no carro. —
Como você está? – quis saber ele. —
Estou bem, e você? Onde estava? —
Estou bem. Ah, eu estava no hospital. —
No hospital? Quem está doente? —
Ninguém conhecido. É que estou fazendo um trabalho de evangelismo lá. —
É mesmo? —
É, temos um grupo e vamos lá todos os fins de semana para pregar o evangelho.
Se você quiser pode ir um dia também. —
Obrigada pelo convite. —
E você? O que conta da vida? —
Estava na casa da Márcia. Estava estudando. Vamos ter prova amanhã. —
E está difícil? —
Ah, nem me fale. Welington
e Kelly foram conversando assuntos banais. Foi bom tê-la visto outra
vez. Serviu para ele se lembrar do amor que sentia por ela. E ainda
sentia muito. Continuaram
a conversar em frente a casa dela por um bom tempo. Mas por fim ela
se despediu e entrou. Seguiu
de carro para casa então. Quando
chegou, tomou um banho e orou novamente. —
Senhor, o Senhor tem me mostrado que o seu evangelho é a salvação de
muita gente. Senhor nos ajude. Ajude nossa igreja. Levante ali pessoas
realmente compromissadas com a palavra, que realmente vão onde as ovelhas
desgarradas estão. Que chorem com os que choram. Pois bem sabemos que
não é só de alegrias que devemos viver, mas devemos chorar também com
aqueles que choram. Então Senhor, levante homens e mulheres compromissadas
ali Senhor. Ajude-me para que sua obra continue. Em nome de Jesus. Quando
terminou esta oração. Adormeceu.
XIV
Quando
o fim de semana chegou novamente. Welington foi a igreja. Chegou um
pouco atrasado. Quase
teve um infarto quando viu Kelly sentada no bando de trás. Seu
coração começou a bater a mil por hora. Ficou
ansioso o culto todo para falar com ela. Quando
terminou ele foi correndo. —
Eu não acredito! – disse ele. —
Oi Welington! Tudo bem? —
Você por aqui? —
Pois é, vim outra vez. —
Veio para ficar? – perguntou ele sorrindo. —
Talvez. – disse ela sorrindo. Welington
não podia acreditar. Será que Kelly iria começar a freqüentar a igreja? Conversaram
bastante e Welington apresentou-a a todos os amigos e amigas. Kelly
se sentiu muito bem lá na igreja. E, prometeu que iria voltar. Welington
foi para casa naquela noite muito feliz. Se Kelly começasse a freqüentar
a igreja seria maravilhoso. No
outro dia ele foi no hospital novamente. O grupo havia ser reduzido
novamente e agora só era ele, Pedro e Giovanne. Os
três fizeram o trabalho e pregaram a palavra para todos quanto puderam. Welington
estava triste, e quando saiu do hospital, no fim da noite. Estava ciente
que muitos crentes não queriam que o evangelho fosse pregado. Por que
não vieram? O Pastor havia dado novamente o recado de que hoje eles
estariam no hospital. Estavam todos sabendo! Mas ninguém apareceu. Welington
voltou para casa. Ajoelhou
e chorou. —
Senhor, por que seu povo está tão distante dos seus mandamentos? Por que ninguém vai até os necessitados? Até
quando esta Igreja estará morta? O
que indignava Welington era o fato de ele ver os crentes da igreja se
reunirem nos fins de noite para irem juntos nas pizzarias e em festinhas,
mas nunca se reuniam para pregar o evangelho. Por que eles faziam isso?
Por que ninguém se preocupa em pregar o evangelho? Ficam fazendo intrigas
ente eles e disseminando inveja. Por que perder tanto tempo com festas
e com encontros? Por que não fazer o que é obvio? Pregar a palavra! Ele
chorava, pois sabia que sua igreja estava fria e morta. Eram poucos
os que tinham um compromisso com o evangelho. Começou
a ficar preocupado.
XV
No
outro dia, acordou com uma idéia nova. Ligou para Pedro e para Giovanne
e combinou de irem na presídio pregar o evangelho para os presos. Já
fazia um bom tempo que estavam pregando no hospital. E esta nova idéia
talvez fosse o ânimo que estava lhe faltando e faltando para os outros. “Estive
preso e não viestes me visitar” Este
texto estava martelando sua cabeça ele tinha que ir pregar para os presos
também. Combinaram
de ir os três. As três horas da tarde. Aconteceu
que esfriou muito e uma chuva forte começou a cair. Welington
chegou no lugar indicado às três e quinze, ou seja, quinze minutos atrasado,
mas não viu nenhum sinal dos outros. Avistou um orelhão e ligou para
Giovanne. Este estava em casa e disse que não tinha como ir. Ligou para
Pedro e ele também não poderia ir porque estava com visita. Welington
desistiu da idéia de ir no presídio e caminhou para casa, mas no meio
do caminho veio aquela voz novamente: “Você
precisa deles para ir pregar o evangelho?” Isso
foi como uma seta no seu coração. Welington parou e ficou pensando.
Volto ou não para casa? Estava no meio do caminho. O frio e a chuva
não iria parar de jeito nenhum, mas ele estava sozinho. E o que poderia
ele fazer?
XVI
Decidiu
ir assim mesmo para o presídio. Caminhou
até o ponto de ônibus continuou seguindo o seu rumo. Chegou
no presídio. Um
guarda veio lhe atender. —
Pois não senhor? —
Vim fazer uma visita aos presos. Vim pregar o evangelho! – disse. O
guarda o mediu de cima a baixo e
deixou-o entrar. Ele
não estava acreditando nesta história de evangelho e pediu para Welington
ir até a sala de revista. Welington
entrou em uma pequena sala de dois metros por dois. Dois
policiais entraram e começaram a resvistá-lo. Welington sentiu uma humilhação
profunda. —
O que eu estou fazendo aqui? – pensou. — Por que tenho que passar por
esta humilhação? Pelo
canto do olho ele pode ver pessoas trabalhando no presídio, indiferentes
a sua situação pois já estavam acostumados a verem outras pessoas sendo
revistadas. Mas para ele aquilo era o fim. —
Já chega, vou embora! – pensou. —
Não vou ficar aqui sozinho! Os
policiais acabaram de fazer a revista. —
Você veio fazer o que aqui mesmo? – perguntou um deles. —
Vim pregar o evangelho. – respondeu meio contragosto. —
Por que? – indagou o policia —
Por que aqui existem muitas pessoas que precisam ouvir o evangelho!
– Welington encontrou ânimo e decidiu continuar. O
policial sorriu e indicou o caminho que ele deveria entrar. Passou
por um pequeno corredor. Abriu uma porta ele entrou. Após isso a porta
que ficou atrás dele fechou-se. Ele caminhou mais um pouco e uma outra
porta se abriu, entrou e o processo se repetiu. Depois
seguiu para um labirinto de corredores e vielas até chegar no alojamento
onde os presos estavam. Subiu
dois degraus e estava novamente em outro corredor. Passou
por uma porta, mau pode ver o quem estava lá dentro estava tudo escuro.
Continuou a caminhar e chegou em outra porta o número da cela era 303. —
A paz do nosso Senhor Jesus! Boa tarde irmãos! Posso me chegar até vocês? Houve
um silêncio. Dentro da cela quatro homens mau encarados fitaram-no com
curiosidade. —
Por que? – perguntou um deles. —
Gostaria de falar do amor de Jesus para vocês! Eles
se entreolharam. —
Pode entrar. – respondeu outro. Welington
entrou na cela. Como ainda era o horário de visitas, o corredor principal
era aberto para os presos receberem seus parentes e amigos. Assim
Welington se misturou no meio deles. Welington
entrou e lhe indicaram uma cadeira para ele sentar. Sentou e abriu sua
Bíblia. —
Posso fazer uma oração antes de começar? Um
dos presos, com a cabeça, fez sinal que sim. —
Senhor... – disse Welington — Quero lhe entregar esta palavra que agora
o Senhor irá permitir que eu fale para estes irmãos. O Senhor conhece
todos os nosso pensamentos e nossas atitudes, então Senhor. Peço que
o Senhor venha falar aos nossos corações para que venhamos conhecer
do seu evangelho, e, sua face. Quando
Welington abriu os olhos. Os presos continuaram a fitá-lo curiosos. Welington
fez uma pergunta: —
Qual é a religião de vocês? —
Eu sou crente! – disse um deles rindo. —
Eu também! – disse o outro. —
Eu também! – disse o terceiro e depois o quarto. —
Bem, se todos somos crentes, vai ser fácil o nosso diálogo. Todos
riram. Um
dos presos, o que parecia ser o mais forte deles foi o primeiro a falar. —
Rapaz, eu sou Umbandista e os demais aqui são católicos. Welington
não se deixou abalar. —
Ótimo, mas eu queria chegar na seguinte questão: Todos vocês conhecem
um cara chamado Jesus não conhecem? Eles
concordaram. —
Eu queria lhes dizer que Jesus está aqui hoje. Ele veio comigo. —
Por que ele não entrou aqui? —
Claro que entrou! – respondeu Welington — Ele está aqui agora! Welington
foi falando para os presos e respondendo todas as dúvidas deles sobre
Jesus, sua pessoa e sua obra. Ficou
naquela cela por duras quatro horas falando e explicando para eles que
Jesus seria capaz de perdoar todos os seus pecados. E se eles se arrependessem,
Jesus poderia transformar suas vidas. Durante
este período os presos deram muitas risadas e fizeram muitas piadas
do que ele dizia. No
fim das quatro horas, Welington achou que tudo o que ele havia conversado
com os presos tinha entrado por um ouvido e saído para o outro. Como
estava ficando tarde. Agradeceu a atenção dos presos e despediu-se deles. Quando
ele saiu da cela a caminho da portaria do presídio ele ainda ouvia algumas
brincadeiras: —
Jesus está voltando pastorzinho! Não esqueça de pedir para ele passar
aqui! Welington
não se deixou abalar, e continuou sorrindo com eles. Sabia que não seria
da noite para o dia que os presos iriam aceitar o que ele estava dizendo.
Teria que trabalhar por um bom tempo naquela penitenciária se quisesse
que aqueles presos entregassem suas vidas na mão de Deus. mas não iria
desistir. Quando
ele chegou na rua, sentiu novamente o frio e a chuva. Caminhou
até o ponto de ônibus mas não viu quando passava ao lado de uma poça
de água. Um
carro passou em alta velocidade e lhe deu um banho! Encharcou
sua roupa. —
E este é o pagamento por eu ter pregado o evangelho! – sorriu para si
mesmo. O
ônibus chegou e ele entrou. Todos
os olhares se voltaram para aquele rapaz com uma Bíblia e todo molhado. Welington
sentou-se na primeira cadeira que encontrou. Chegou
em casa, tomou um banho e contou todo o episódio para seu pai. Seu
pai se compadeceu dele e reconfortou-o com palavra de apoio. Ele estava
orgulhoso do filho, que mesmo sozinho não desistiu de ir pregar o evangelho. Kelly
ligou. Disse que estava indo para a casa de Welington. Ela
chegou e ele contou para ela tudo o que havia passado durante o dia.
Kelly sorriu e pediu para ele orar por ela. Welington
esta feliz. Kelly estava reconhecendo que Jesus era o único salvador
de sua vida e estava se entregando à ele. Deus
estava lhe cumprindo a promessa. Logo logo ele iria ver Kelly nos braços
do Senhor. —
Welington, eu queria que você continuasse a orar por nós. – disse ela. —
Por nós? —
É, se você ainda gosta de mim. Continue a orar por nós. Naquela
noite Welington se sentiu muito bem. Dobrou os joelhos e chorou. Agradeceu
por Deus cumprir sua palavra na vida dele. Pediu perdão por Giovanne
e Pedro não terem ido com ele. Pediu para Deus perdoar os dois pois,
um dia eles iriam entender que o evangelho é mais importante do que
ficar em casa e que uma chuva não é suficiente para manter um servo
de Deus em casa. Um dia eles iriam entender o quanto é importante sofrer
uma chuva, um pouco, em nome de Jesus. Mas
orou principalmente por aqueles quatro jovens que ele havia pregado
no presídio. Sabia que não seria ele quem os iria convencer, mas o Espírito
Santo iria convecê-los. E orou par que Deus cumprisse sua vontade. Pois
um dia eles iriam se converter também. Por
fim pediu a Deus para continuar lhe dando forças para pregar o evangelho.
E que apesar do frio, da chuva e do banho que havia tomado, ele não
iria desistir de proclamar seu nome poderoso. Não
notou, mas acabou adormecendo de joelhos novamente, sonhando que um
dia ele iria ver os frutos do seu trabalho.
XVII
Welington
nunca soube, mas naquela noite, a chuva continuou a cair e o frio continuou
em toda a cidade. Mas na cela 304, ao lado de onde ele esteve, um homem
estava de joelhos chorando e sorrindo. Ele havia ouvido tudo o que Welington
estava falando para os outros quatro presos, mas era como se ele estivesse
falando para ele. Estava
condenado a quatorze anos de prisão por estupro seguido de homicídio.
E naquela noite ele iria se inforcar, mas depois de ouvir tudo aquilo
que aquele jovem havia dito, nada importava mais. Ele havia se arrependido
de todos os pecados que havia cometido, e, hoje ele sabia que havia
um Deus que se importava com ele. Sua família havia o abandonado a muitos
anos, mas Deus nunca o abandonou. Ele chorava e sorria, de joelhos e louvando este Jesus
que o jovem havia falado. A
corda que ele iria usar para se inforcar estava jogada em um canto.
Ele não iria mais fazer isso. As
cadeias poderiam prender suas mãos, os cassetetes dos guardas poderiam
ferir seus músculos, mas nada, no universo todo poderia prender sua
alma agora. Nada, no universo todo poderia separá-lo do Salvador, nada
no universo todo poderia separá-lo de Jesus. Naquela noite ele havia
conhecido a Salvação.
FIM
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera
coincidência.
Sua opinião é muito importante, por favor dê sua sugestão
sobre este livro. Escreva para: rogerio.cericatto@bol.com.br Alguns comentários sobre o livro: "Nós estamos utilizando este livro para a EBD dos Adolescentes e dos Jovens aqui na Igreja. Foi eles mesmos que sujeriram isso." - Pr.Jairo P. Mello "Rogério Cericatto abordou um tema muito sério e que muitas igrejas ignoram, de uma forma clara e objetiva. Parabéns!" - Fernanda Gomes Arruda "..li 'O CRENTE' e procuro utilizar basicamente tudo o que o autor descreveu. Acho que é um alerta para aqueles que se encontram adormecidos." Romulo G. "Li o livro e achei muito edificante. Parabéns pela obra. Que mais pessoas possam ter acesso a ele." - Jorge Carvalho "Agradeço por fazer parte da lista de irmãos amigos presenteado com esta publicação, com certeza será que grande valía." - Alci "...finalmente alguém escreveu algo sem interesses pessoais, mas levando as igrejas a visão que todo o cristão deve ter." - Bruno Ipiranga Galegatti "A minha esperança é que mais pessoas possam ter acesso a este livro, assim ninguém irá dizer que não estava sabendo. 'Eis que o machado está posto ao pé da árvore.!'" - Leonardo O. Santos "...e o mais interessante é que alguns jovens vieram me perguntar coisas que eles haviam lido no livro 'O CRENTE', até então eu ainda não havia lido, mas quando li, entendi claramente porque nossa igreja não estava fazendo missões e compreendi o que eles queriam saber." - Pr. Antonio do Carmo |
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