03/08/2012

PORTUGAL/COIMBRA

http://www.uniaonet.com/msgmarcosamazonas.htm . Pr.Marcos Amazonas _ Mensagens recebidas no www.uniaonet.com

Outras mensagens sobre o Pr.Marcos Amazonas ver : www.uniaonet.com/euptcoimbra.htm

O Pr. Marcos Amazonas dos Santos, pastor da Igreja Evangélica Baptista de Coimbra, em Portugal, além de excelente pregador, é um exímio escritor. Seus textos, além de encantadores, são confortadores. Ele estará publicando seus sermões e escritos num grupo específico. PARA INSCREVER-SE Envie um e-mail em branco para artigosprmarcosamazonas-subscribe@yahoogrupos.com.br O sistema lhe enviará um pedido de confirmação. Reenvie do jeito que vier. Pronto. (Via _ Pr.Wagner/Osasco) 20/07/06

Índice das Mensagens Recebidas do Pr.Marcos Amazonas :

www.uniaonet.com/msgmarcosamazonas02.htm
01. A Base da Estabilidade Familiar é a Palavra de Deus (17/4/05)
02 . Obedeça o Senhor (
23/4/05 )
03. Reflectindo sobre a Família (01/05/05)
04 . A busca (15/5/05)
05. Fique Atento (22/5/05)
06. Igreja: Uma família para as famílias (29/5/05)
07. Ser Pastor (11/6/05)
08 : Firmes no Senhor 19/06/05
09: O Pão da Vida (26/06/05)
10: Propriedade exclusiva do Senhor
11. O motivo certo
12. Apertar o Cinto(10/7/05)
13. Egolatria (30/8/05)
14. Olhando para dentro de si mesmo (1/9/05)
15. Como exercer o ministério pastoral?(20/11/05)
16. Uma Igreja Vitoriosa (21/11/05)
17. Valorizando a comunhão (27/11/05)
18. Tema: A tarefa diária da Igreja (27/11/05)
19. Firmados na Palavra (03/12/05)
20. Tema: Cumpra-se em mim segundo a tua palavra (04/12/05)
21. Crescer é Preciso 10/12/05
22. O que desejar neste novo ano? (3/1/06)
23. Liberdade Ministerial 7/1/06
24. As consequências do pecado em relação a Deus
25. Pecado: o inimigo do discipulado (21/01/06)

www.uniaonet.com/msgmarcosamazonas03.htm
26. Nós a Igreja (1/2/06)
27. As consequências do pecado em relação ao meu próximo ( 05/02/06)
28. A Mensagem do Senhor (08/02/06)
29. Não me façam mentir! (10/02/06)
30. A queda do orgulhoso ( 15/02/06)
31. Perdão Leia Lucas 23.34 (16/02/06)

www.uniaonet.com/msgmarcosamazonas03.htm
Continuação :
32. Desculpas que Deus não aceita (17/02/06 )
33. Memória (20/02/06)
34. Não seja como Carolina (20/02/06)
35. Não sobra nada (22/02/06)
36. Preconceito (22/02/06)
37.Ontem foi o dia mundial da poesia. 22/03/06

38. Saudade da Igreja (26/03/06)

39. Meu Amigo
40. Meu irmão (29/03/06)
41. O Vento
42. Crueldade (30/03/06)
43. Silêncio (11/04/06)

44.A Família como Grande Centro Social
45.Cidade Maravilhosa
(15/04/06)
46. Há um tenor a cantar no céu . 07/05/06
47. O velho (10/05/06 )
48. Testemunhando em meio as tragédias da vida (04/06/06)
49. O que é isto na tua mão? (13/06/06)
50. A Resposta (10/07/06)
51. Meu Protesto - Set.1999 (recebio em 20/07/06)
52. Ana a pregadora 06/09/06
53. A separação das águas (10/09/06)
54. Desafios (10/09/06)
55. Nem herói, nem bandido
Nova criatura (16/09/06)
56. Pelegrinação (22/09/06)
57. O Amigo (02/10/06)
58.Vida Nova (03/10/06)
59.Insensatez (04/10/06)
60. Quem é Deus? (06/10/06)
61. Saudade (06/10/06)
62. Colcha de Retalhos(11/10/06)
63 . Vida ou Morte? (20/10/06)
64. Adolescência (20/10/06)
65. O Senhor Fala
Jonas 1.1-2 (27/10/06)


Mensagens desta página :

66. Começar de Novo (7/1/07)
67. Solucionando problemas
68. Manifestando a graça diante das tragédias da vida 10/01/07

69. Caminhando e anunciando (15/01/2007)
70.E Deus se Converteu (  28 Jan  2007)
71. Aborto ( 01/02/2007)
72. Dezesete anos de casamento ( 13/02/2007)
73. A Queixa (25.03.07 )
74. Botequim (28.03.07)
75. Assim vivem os transformados 16/06/07
76.  O Que o Pastor Espera de Deus? 23/08/07
77. O que Deus espera do pastor? 25/08/07
78. O que a Igreja espera do pastor? 05/09/07
79. Saudade 18/09/07
80. O que o pastor espera da Igreja? (15/10/07)


7/1/07 _ Queridos,
Permitam-me partilhar a minha primeira mensagem dominical do ano de 2007
Abraços, nEle, Marcos Amazonas
 
66. Começar de Novo
 
Jonas 3.1
 
Jonas orou e o Senhor ouviu a sua oração e o socorreu. Na realidade, Jonas não havia percebido que o Senhor estava a preservá-lo e a guardá-lo com vida. Contudo, quando ele chega no fundo do mar, sua fé é renovada e ele volta-se para o Senhor.
 
O Senhor estava a resgatar Jonas de si mesmo. Quando o Senhor viu que Jonas havia se quebrantado, disse ao monstro marinho que o atirasse na terra. Jonas foi vomitado e vai caminhando. O Senhor chama-o novamente. Deus não desiste do seu escolhido.
 
É interessante ver que o foco aqui não é o povo de Nínive, mas o profeta. Deus está interessado em Jonas.
 
É um novo começo. O Senhor chama Jonas para reiniciar o seu ministério. Ele vai começar de novo. Só que agora ele não agirá dentro da sua própria vontade, mas vai contar com o agir do Senhor. Isto me faz lembrar a letra da canção de Ivan Lins que diz o seguinte:
 
“Começar de novo
 
E contar comigo
 
Vai valer a pena
 
Ter amanhecido”
 
É isto mesmo, vale a pena começar novamente e contar com o Senhor. Sendo assim, vejamos as lições que aprendemos com este texto:
 
Deus não muda de ideia
 
O Senhor não desiste daqueles que são seus. Ele chamou Jonas e conta com Jonas. Jonas pode até ter se rebelado, mas isto não significa que o Senhor tenha desistido dele. Deus não muda. Ele não oscila porque fazemos as coisas ou deixamos de fazer. Ele faz a sua vontade se realizar em nós. É interessante ver o que diz Tiago: «Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” (Tg 1.17).
 
Jonas fugiu e teve que arcar com as consequências da sua atitude, mas o Senhor não lhe virou às costas e muito menos o abandonou. O Senhor continuou a ser Senhor e permaneceu fiel, pois ele não pode negar-se a si mesmo. Isto é muito importante, pois quando olhamos para os discípulos, todos eles viram às costas ao Senhor e foge, mas o Senhor não desiste e permanece fiel. Ele assume a cruz e paga o preço pelas nossas vidas.
 
Deus chama Jonas para reiniciar o seu ministério. Chama-o para começar de novo, mas agora de modo renovado. O Senhor também nos chama para começar novamente. Ele é fiel. Talvez estejamos a fugir como Jonas, quem sabe estamos a negar o Senhor como Pedro ou até mesmo a fugir como todos os discípulos. Contudo, o Senhor não muda. Ele continua a contar connosco. É gratificante ouvir as palavras de Paulo a Timóteo: “se somos infiéis, ele permanece fiel; porque não pode negar-se a si mesmo.” (2Tm 2.13). Não é pelo que fazemos, mas por causa da fidelidade e misericórdia do Senhor.
 
Deus não muda e os seus planos não são frustrados. Podemos traçar os nossos planos, podemos até tentar fugir do Senhor, mas é bom saber o que o Senhor nos diz em sua Palavra: “Muitos são os planos no coração do homem; mas o desígnio do Senhor, esse prevalecerá.” (Pv 19.21). O Senhor não muda. A sua vontade irá se realizar.
 
Deus sempre nos concede uma nova oportunidade
 
Começar de novo só é possível porque o Senhor nos concede uma nova oportunidade. Ele não desiste de nós. Agora é preciso ter cuidado, pois podemos pensar que se Deus não desiste de nós e vai nos dar uma nova oportunidade de começar de novo, vamos fugir e fazer o que desejamos. Isto é muito complicado. Deus é bondoso, mas «o fato de Deus ser bondoso, concedendo uma segunda uma segunda ocasião, não deve ser estímulo à recalcitrância. A obediência é a melhor maneira de prevenir desastres.»[1]
 
Jonas tentou fugir, perdeu seu dinheiro e foi parar no fundo do mar. Pedro negou o Senhor e entrou num processo de tristeza profunda. Notamos que nas opções escolhidas por Jonas e Pedro as consequências foram cruéis. Eles sofreram muito. Sendo assim, obedeça logo à primeira para não ter que sofrer. Também notamos que o Senhor concedeu uma nova oportunidade a ambos. O Senhor continuou a confiar em ambos.
 
Começar de novo só é possível porque o Senhor nos capacita e nos perdoa. Só é possível porque Ele na sua misericórdia nos salva e nos resgata para junto de si mesmo. Sem o Senhor, não há outra hipótese, não há como começar novamente. Sem o Senhor, estamos perdidos.
 
O Senhor nos concede uma nova oportunidade porque nos ama. No seu amor, Ele nos chama e concede uma nova oportunidade a dizer que nos perdoou e continua a contar connosco.
 
Já ouvimos o chamado do Senhor? Já experimentamos o perdão do Senhor?
 
Não fique a sofrer. Não chore mais. Aceite a nova oportunidade que o Senhor está a lhe conceder.
 
Guisa de Conclusão
 
Começar de novo é o desafio que temos pela frente. Mas é fundamental entendermos que só poderemos começar de novo se ouvirmos a voz do Senhor.
 
Começar de novo só é possível quando entendemos que o Senhor não muda e que seus planos não são frustrados. Quando compreendemos que é o Senhor quem nos concede uma nova oportunidade.
 
Esta nova oportunidade é baseada no amor do Senhor. Está fundamentada na sua misericórdia e graça.
 
O Senhor está a chamar-te para começar de novo. Ele está a dizer que te perdoa. Sendo assim, ouve a voz do Senhor e em obediência começa uma nova vida com o Senhor Jesus.
 
 
 
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[1] COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Jonas nosso contemporâneo: um estudo contextualizado do livro de Jonas 2ª
 
Edição JUERP, Rio de Janeiro 1994.

67. Solucionando problemas
Leia Génesis 21.22-33
Problemas relacionais todos enfrentam. Entretanto, conseguir resolvê-los é muito mais complicado. Há pessoas que preferem viver uma fachada a fazer de conta que não existem problemas ao invés de procurar solucioná-los.
Abimelque e Ficol procuram Abraão para fazer um pacto com ele. Eles pedem para que Abraão os trate com a mesma bondade que eles os tinham tratado. Abraão se compromete a fazer isto, mas diz que há um problema entre eles. Sendo assim, a situação deveria ser resolvida. É baseada nas lições que encontro neste texto que desejo reflectir como podemos solucionar os nossos problemas.
Os problemas só serão resolvidos se nós tratarmos do assunto sem medo. É interessante ver a atitude de Abraão, pois ele está a dirigir-se para o rei da terra. Ele é um estrangeiro ali, mas não teme dizer ao rei que o poço que os súbditos do rei tomaram dos seus escravos lhe pertencia. Ele não joga a poeira para baixo do tapete. Ele é claro. Se nós desejarmos solucionar os nossos problemas devemos ter a mesma atitude que teve Abraão e tratar dos assuntos de modo claro e sem medo.
Outra realidade que Abraão nos ensina é que os problemas só serão resolvidos se tratarmos da causa e não dos efeitos. O foco do problema de Abraão foi ter perdido um poço. Ele confronta o rei e diz que os escravos do rei tomaram o poço dele. Abraão não acusa o rei, mas mostra o verdadeiro problema. Ele foi privado de água para o seu gado. Ele não fica a dissimular diante do rei. Ele fala e expõe a situação. É este o nosso desafio. Se desejamos ter os nossos problemas resolvidos, precisamos ter a coragem de tratar dos mesmos e não os efeitos secundários que eles causam.
Resolvemos problemas quando os expomos às pessoas que estão envolvidos nos mesmos. É interessante ver o que diz o rei Abimeleque a Abraão. O rei diz claramente que não tinha conhecimento do assunto. Ele mostra que Abraão deixou a linha de comunicação fechada e por isso o problema se arrastou. Se desejamos resolver os nossos problemas devemos procurar aqueles que estão envolvidos no mesmo e não pensar que eles sabem que há um problema. Abimeleque pensava que estava tudo bem e se Abraão não tivesse a coragem de tratar do assunto, e tivesse ficado calado eles jamais teriam resolvido a situação. O que vemos aqui é que a solução dos problemas passa por uma boa comunicação e isto é fundamental.
Agora o ponto mais importante. Solucionamos os problemas quando olhamos para o outro e vemos na vida dele o agir de Deus. Abimelque olha para Abraão como um homem de Deus. Ele uma pessoa que é fundamental está próximo e desenvolver uma relação. Abraão vê em Abimelque um homem temente a Deus e por isso, eles celebram um pacto de amizade e deixam para trás o problema. A vida passa a ser dali para frente. Se desejamos resolver nossos problemas relacionais necessitamos ver o outro como alguém importante e acima de tudo zerar a situação e começar dali para frente.
 
Vamos orar:
Senhor, ajuda-nos a cada dia tratarmos das situações como elas devem ser tratadas. Dá-nos a coragem para que possamos enfrentar os problemas de frente e não permitas que fujamos dos mesmos.
Ajuda-nos para que possamos manter uma boa comunicação e assim possamos falar abertamente do que está a ser impeditivo para uma boa relação.
Capacita-nos para que possamos ver o outro como alguém importante e uma pessoa em que tu ages. É esta a nossa oração em nome de Jesus.
Amém

 
68.Manifestando a graça diante das tragédias da vida 10/01/07
Leia Génesis 40.19-23
Tragédias podem acontecer a qualquer pessoa. Até mesmo pessoas que são consideradas boas são atingidas. Quando vivemos estas situações ficamos enfraquecidos e naturalmente nos deixamos levar por estas situações e não manifestamos graça nestes momentos. Contudo, quando olhamos para a vida de José, descobrimos marcado pela tragédia, mas que vive acima da tragédia e mesmo a viver com sua dor e não se deixa abater. Sendo assim, vejamos como viver acima das tragédias da vida.
José nos ensina que é preciso manter a sua integridade. José é jogado ao cárcere por manter sua integridade. Ele não se deixa seduzir pela esposa de Portifar. No cárcere ele mantém sua integridade. Ele não se corrompe e ali na cadeia. Ele não se torna um revoltado. Ele mantém a sua integridade intocável. Quando estamos a viver nossos momentos difíceis e a passar por situações complicadas, não se deixe corromper. Mantenha a sua integridade intacta.
A segunda lição que José nos apresenta é que não podemos agir com as pessoas da mesma maneira como elas agem connosco. Ele é jogado no cárcere. Não é tratado decentemente, mas por manter sua dignidade e integridade consegue ganhar a confiança das pessoas que se encontram com ele. Ele acaba por cai na graça das pessoas. José é o tipo de pessoa que mesmo diante das tragédias manifesta graça. Ele vive procurando fazer o bem aos que estão à sua volta e é desta maneira que nós também devemos viver.
Outra realidade que aprendemos com José é que não devemos ficar a nos lastimar, mas trabalhar com afinco. É interessante ver que onde José chega lhe é conferido trabalho e ele o desenvolve sem ficar a se queixar que é um injustiçado. O único momento que ele fala sobre a sua situação é a pedir que o copeiro do rei, interceda por ele. O que ele nos ensina é que a tragédia não pode nos paralisar e tirar a vontade de viver. Devemos continuar a luar.
José nos ensina que devemos ser pessoas confiáveis. Todas as pessoas que se encontram com ele entregam-lhe actividades de confiança. Não tem problemas em dar coisas importantes a ele, pois sabem que ele é uma pessoa de confiança. Ele não se torna uma pessoa amarga e intransigente. Vive sua tragédia e sua dor, mas mostra-se uma pessoa em que os outros podem confiar. É desta maneira que nós também devemos viver.
 
Oremos:
Senhor, o nosso desejo e pedido é que possamos agir de modo correcto diante das adversidades da vida.
Nosso pedido é para que possamos achar graça diante das pessoas e manifestar graça a elas porque tu estás connosco.
Esta é a nossa oração em nome de Jesus.
Amém


69. Caminhando e anunciando (15/01/2007)

 
     Jonas 3.1-4
 
Jonas orou e assumiu um compromisso com o Senhor. Ele reconheceu que a salvação vem do Senhor. Ele fez um voto e disse que o cumpriria. O Senhor aceitou a oração de Jonas. Por este motivo, o Senhor lhe concede uma segunda oportunidade.
 
O Senhor fala novamente com Jonas é o comissiona para proferir sua mensagem na cidade de Nínive. «Nínive é chamada de “grande cidade” (3:3; 4:11). O seu perímetro era de mais ou menos cem quilômetros. Um escritor antigo descreveu Nínive como tendo um circuito de 480 estádios. Era muito maior do que Babilônia. As muralhas de Nínive, de trinta metros de altura, eram largas o bastante para permitir que três carruagens corressem lado a lado. Tinha 1.500 imponentes torres. Visto que havia mais de 120 mil crianças na cidade (4:11), estima-se a sua população em cerca de um Milão de habitantes. Uma cifra mais conservadora dá uma população de 600 mil. Não era uma cidade insignificante, e o bendito coração de Deus saiu em defesa de todos.»[1] A maneira do Senhor sair em defesa daquelas pessoas foi enviar o seu profeta para anunciar-lhes a sua Palavra.
 
Jonas levanta-se e sai caminhando e anunciando. Ele vai cumprir sua missão, mas como é que ele sabia que esta era sua missão? Como é que nós sabemos qual é a nossa missão? Vejamos quais são as respostas que o texto nos apresenta.
 
Só podemos sair caminhando e anunciando se ouvirmos a voz do Senhor
 
O texto é enfático. Veio a palavra do Senhor. Deus falou com Jonas. Não sabemos como foi esta manifestação do Senhor, mas sabemos que Ele falou e Jonas compreendeu que era o Senhor que falava. Nós devemos estar de ouvidos atentos ao que o Senhor nos diz. Só podemos ouvir o Senhor se mantivermos comunhão com Ele.
 
Somos a geração do barulho. Já não sabemos ficar em silêncio. Em todos os lugares encontramos telemóveis, leitores de mp3. Somos a geração que não sabe ficar em silêncio. E por causa do barulho à nossa volta, muitas vezes não conseguimos ouvir a voz do Senhor.
 
O Senhor disse ao povo de Israel: «Ouve, pois, ó Israel, e atenta em que os guardes, para que te vá bem, e muito te multipliques na terra que mana leite e mel, como te prometeu o Senhor Deus de teus pais. Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor.» (Dt 6.3-4). É fundamental darmos atenção à palavra do Senhor. É fundamental pararmos para escutar o Senhor a falar connosco. “Ouvir a Deus só será um fato confiável e inteligível em nossa vida se virmos suas palavras como um dos aspectos de sua presença conosco. Só a comunhão com Deus fornece o contexto apropriado para nossa comunhão com Ele.”[2] Jonas mantinha comunhão com o Senhor e confiava na Palavra do Senhor. Temos nós ouvido a Palavra do Senhor e mantido comunhão com Ele?
 
É momento para pararmos e ouvirmos o Senhor a falar connosco. Deus continua a dizer: Ouve ó Israel!
 
Para que possamos sair caminhando e proclamando a mensagem do Senhor, precisamos primeiramente parar para ouvir o Senhor a nos declarar esta mensagem.
 
Só podemos sair caminhando e anunciando se obedecermos o Senhor
 
O Senhor deseja a nossa obediência. Notemos que o Senhor falou novamente com Jonas, disse o que desejava e desta vez o profeta obedeceu. Sendo assim, vemos Jonas a levantar-se e sair caminhando para Nínive conforme a palavra do Senhor. E nós estamos a fazer conforme a palavra do Senhor?
 
Deus deseja obediência. Saul perdeu o reinado de Israel por causa da sua desobediência. É bom meditarmos no que Samuel diz: «Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à voz do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, do que a gordura de carneiros, Porque a rebelião é como o pecado de adivinhação, e a obstinação é como a iniqüidade de idolatria. Porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou, a ti, para que não sejas rei.” (1 Sm 15.22-23). Deus deseja obediência.
 
Nos tornarmos religiosos e praticantes de todos os cultos, mas isto não tem sentido. É fácil sermos religiosos, mas estarmos fora da vontade do Senhor. Podemos estar numa igreja dominicalmente, mas estar a ser desobedecer ao que o Senhor nos diz. O Senhor deseja obediência. A obediência é fruto da nossa confiança no Senhor. Quando obedecemos mostramos que não dependemos de nós mesmos, mas sim dependemos do Senhor e do seu agir. Estamos a obedecer o Senhor?
 
Só podemos sair caminhando e anunciando a Palavra do Senhor
 
Jonas levantou-se e saiu caminhando e proclamando a mensagem do Senhor. Ele faz isto por saber que «O profeta é o porta-voz de Deus. Não tem direito de acrescentar ou de suprimir seja o que for da Palavra.»[3] É este o nosso desafio. Foi este o desafio de Paulo a Timóteo. Paulo escreveu a Timóteo e disse: “prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda longanimidade e ensino.” (1 Tm 4.2). 
 
Encontramos sempre na Palavra o Senhor a enviar o seu povo para manifestar sua graça aos que estão em pecado. Quando o povo do Senhor se fecha está em desobediência. Quando estamos na igreja, mas no dia-a-dia não manifestamos a graça do Senhor estamos a desobedecê-lo, pois estamos a fugir das pessoas que ele deseja que nos encontremos.
 
O Senhor falou a Jonas e ele saiu e começou a «pregar, e seu caminho de três dias não foi nenhum turismo. Não ouvimos no texto se sua pregação foi extraordinária no respeito à retórica, pois era (e é) exclusivamente a palavra de Deus que produz o efeito. Não ouvimos de hostilidade da parte da população, e se houve, Jonas não se deixou impressionar ou intimidar.»[4] Nós devemos seguir o exemplo de Jonas e não nos deixar intimidar. O Senhor Jesus nos comissionou também. Ele disse: “Portanto ide (indo), fazei discípulos de todas as nações, baptizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mt 28.19-20). Somos comissionados para irmos ao encontro das pessoas. Para estarmos com elas e ensinar-lhes a observar os mandamentos do Senhor. Jesus afirmou que somos o sal da terra. O sal deve está inserido na comida. Ele não faz efeito dentro do saleiro. Ficar fechados dentro da igreja não faz sentido. Temos que sair caminhando e proclamando a Palavra do Senhor.
 
Guisa de Conclusão
 
O Senhor fala. O profeta ouviu e obedeceu. O Senhor também fala connosco, devemos ouvir e obedecer.
 
O Senhor deseja que eu e você saiamos caminhando e proclamando a sua graça às pessoas que estão a viver em suas nínives. Estas pessoas precisam invocar o nome do Senhor para que sejam salvas (Rm 10.13), mas a pergunta que o apóstolo Paulo fez no passado ainda está em vigor em nossos dias: “Como pois invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? assim como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam coisas boas!” (Rm 10.14-15). Eles só ouvirão falar se nós sairmos caminhando e proclamando. Nós fomos enviados pelo Senhor. Portanto, em obediência ao nosso Senhor e a reconhecer que ouvimos sua voz, saiamos caminhando e proclamando a mensagem da salvação.
 
Que Deus nos abençoe.
 
 
 
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[1] FEIBERG, Charles L. Os Profetas Menores, - Editora Vida, Miami 1988
 
[2] WILLARD, Dallas. Ouvindo Deus: desenvolvendo um relacionamento de diálogo com Deus, 1ª edição, Textus
 
Editora, Rio de Janeiro, 2002
 
[3]
 
[4] KUNSTMANN, Walter G. Os Profetas Menores, - Concórdia Editora, Porto Alegre, 1983
70.E Deus se Converteu (  28 Jan  2007)
 
Jonas 3.10
 
O povo de Nínive se arrependeu e se converteu. Deus viu a mudança de atitude do povo e também mudou de atitude. Aqui entramos numa situação delicada, pois Deus não muda, nele não há sombra de variação (Tg 1.17).
 
O nosso texto diz que Deus viu o arrependimento do povo. Deus é um Deus presente, que vê o que estamos a fazer. Ele é um Deus misericordioso, que não tem prazer na destruição humana.
 
O texto que estamos a estudar é o tema central do livro. “O Deus de Israel é um Deus misericordioso para todas as nações. A misericórdia não é propriedade do povo de Israel. Não se pode limitar a atuação divina ao povo eleito. Nem o povo eleito tem privilégios especiais. Se a salvação é anunciada ao povo de Jerusalém depois de sua contrição e conversão, como mostra por exemplo, o texto de Jl 2,2-18, ela igualmente anunciada à cidade de Nínive.”[1] Deus não é racista!
 
Mas o que significa o arrependimento de Deus?
 
Primeiro é fundamental dizer que a teologia criou um termo para falar deste assunto. Todas as passagens que falam que Deus se arrependeu, a teologia declara que é um antropopatismo, isto é, a atribuição de um sentimento humano a Deus. Sendo assim, vejamos o que não é o arrependimento de Deus
 
Não é o arrependimento de um pecador arrependimento
Não é arrependimento por ter cometido algum erro
O que significa então este arrependimento de Deus?
 
O arrependimento de Deus é algo singular nele.
O arrependimento de Deus expressa sua misericórdia e graça
O arrependimento de Deus não muda o seu carácter
É preciso lembrar o que nos diz a Bíblia: “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele dito, não o fará? ou, havendo falado, não o cumprirá?” (Nm 23.19). Deus é Deus e age sempre da melhor forma. Este texto remete-nos para a doutrina da imutabilidade de Deus. Deus não muda, mas podemos ver textos nas Escrituras que nos falam da mutabilidade de Deus. Como entendê-los? A melhor maneira de compreendermos estas passagens é compreendendo o seguinte: “As passagens que aparentemente atribuem mudanças na natureza de Deus podem ser explicadas de várias maneiras. A imutabilidade de Deus não significa uniformidade fixa nas atividades do Senhor na história. Na sua perfeita justiça, e na sua infinita sabedoria, ele vê e entende perfeitamente, em contraste com as limitações humanas. A justiça de Deus, por exemplo, opera no ambiente complicado das injustiças humanas. Se poupa a cidade de Jerusalém no tempo de Isaías, e permite a sua destruição no tempo de Jeremias, é porque as condições espirituais do povo de Jerusalém mudaram-se, enquanto a justiça de Deus permanecia imutável.”[2]
 
O que podemos aprender com este texto?
 
Deus não é insensível
 
Aqui nos encontramos um Deus que reage as nossas acções. Deus vê a nossa atitude e mediante a nossa atitude ele age. Quando olhamos para este versículo podemos notar que há uma interligação no agir de Deus com a acção humana. «Deus ameaça com castigos, caso as pessoas não se convertam; se as pessoas se convertem, porém, Deus também se converte, desistindo do castigo que pretendia aplicar.»[3] Deus não deseja a morte dos pecadores. Ele deseja que todos se convertam. É esta mensagem do profeta Ezequiel: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho, A justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele. Mas se o ímpio se converter de todos os seus pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e preceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá. De todas as suas transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela sua justiça que praticou viverá. Tenho eu algum prazer na morte do ímpio? Diz o Senhor Deus. Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva?” (Ez 18.20-23). Quem se arrepende experimenta a misericórdia do Senhor.
 
Deus viu o arrependimento do povo e retirou sua ameaça. Mas porque o Senhor fez isto? Encontramos a resposta no profeta Jeremias. “Se em qualquer tempo eu falar acerca duma nação, e acerca dum reino, para arrancar, para derribar e para destruir, e se aquela nação, contra a qual falar, se converter da sua maldade, também eu me arrependerei do mal que intentava fazer-lhe.” (Jr 18.7-8). “Diz-se que Deus, segundo a maneira de entender e sentir do homem, arrepende-se quando altera a ação proposta ou procede diferente daquele esperado tendo em vista suas promessas e advertências. A ameaça de condenação, nesse caso, estava condicionada ao arrependimento. Satisfeita e cumprida essa condição, Deus não tinha necessidade alguma de executar a advertência.”[4] Portanto, Deus se sensibiliza com o arrependimento humano e não manifesta sua justiça sobre o ser humano arrependido. Deus é um Deus de amor e bondade.
 
Deus é misericordioso e gracioso
 
Não podemos esquecer que o contexto aqui presente é um povo que está humilhando-se diante do Senhor. Um povo arrependido do mal que estava a fazer. Sendo assim, quando o texto diz que Deus se arrependeu, na realidade poderíamos dizer que Deus manifestou misericórdia e graça aos ninivitas. O povo não é salvo porque se arrependeu. Não é salvo porque se humilhou diante do Senhor. O povo é salvo por causa da misericórdia e graça do Senhor. Sendo assim, convém definir o que seja misericórdia e graça.
 
Misericórdia é Deus não dando pecador culpado aquilo que ele merece (Lm 3.22), enquanto graça é dar ao pecador aquilo que ele não merece. Tanto misericórdia, como graça estão ligadas a bondade do Senhor. Elas estão fundamentadas no amor imutável de Deus.
 
Deus manifesta misericórdia aos que se arrependem. Ele condiciona o seu julgamento. Se houver arrependimento, a destruição não se manifesta. Se te arrependes dos teus pecados, o castigo que mereces é retirado. A condenação eterna que pesa sobre ti é tirada e te é concedido vida. É esta a promessa do Senhor. Paulo escreve o seguinte: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rm 6.23). Paulo afirma que merecemos a morte, a separação eterna de Deus, mas se nos arrependermos e crermos no Senhor, Ele nos concede vida por meio de Cristo Jesus. Ele manifesta misericórdia e graça.
 
Deus aceita o pecador arrependido
 
Quando o texto nos diz que o Senhor se arrependeu, ele está a dizer que o Senhor aceitou o povo de Nínive. Ele retirou o castigo merecido e lhes deu aquilo que eles não mereciam. Ele manifestou graça.
 
Que coisa maravilhosa é saber que o Senhor aceita o pior pecador, desde que este esteja arrependido dos seus pecados. “Não importa quão grandes sejam os nossos pecados, ele sempre está prestes a nos perdoar se nos arrependermos e clamarmos por perdão. Bendito seja Deus! Ele é “compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade”, no dizer de Jonas, e se arrepende do mal.”[5]
 
Deus é justo. Ele não tolera o pecado mas ama o pecador. É maravilhoso saber que o Senhor nos ama independente dos nossos pecados. É maravilhoso saber que se nos arrependermos ele aceita-nos. Ainda bem que Deus não age como nós agimos.
 
Permitam-me concluir esta linha de pensamento a contar-vos um episódio que aconteceu com Philip Yancey. Em seu livro «Alma Sobrevivente: Sou cristão apesar da igreja», ele conta que ouviu uma pessoa dizer que os cristãos apresentam uma tendência a ficar irados com os que não são como eles. Ele afirma que percebeu esta realidade depois de ter escrito um livro onde narrava sua amizade com Mel White, um ex-ghost writer de cristãos famosos, que agora era um activista gay. Por causa disso ele recebeu muitas cartas a condenarem-lhe e a perguntarem como é que ele poderia ser amigo de um pecador como aquele? Mediante a isto Yancey declara: «Pensei muito sobre o assunto e saí com diversas respostas que creio serem bíblicas. A resposta mais sucinta, porém, é outra pergunta: como Mel White pode continuar sendo amigo de um pecador como eu? A única esperança para cada um de nós independentemente de nossos pecados particulares, reside na inabalável confiança num Deus que inexplicavelmente ama pecadores, inclusive aqueles que pecam de maneiras diferentes das nossas.»[6] Não importa qual seja o pecado que tenhamos cometido. Se nos arrependermos e clamarmos ao Senhor, Ele na sua infinita misericórdia e graça nos aceita e perdoa. Já aceitaste o perdão do Senhor?
 
Guisa de Conclusão
 
Deus se converteu. Ele mudou o seu juízo e manifestou graça.
 
O arrependimento do Senhor nos ensina o seguinte:
 
O Senhor não é insensível. Ele vê o nosso arrependimento e é tocado por ele
 
O Senhor é misericordioso e gracioso. Quando nos arrependemos Ele retira o castigo que merecemos e nos conceda o perdão que não merecemos
 
O Senhor aceita-nos se nos arrependermos. Ele traz sua mensagem de justiça, mas esta também é a mensagem da graça. Se nos arrependermos, Ele nos aceita porque Ele é amor e não deseja que ninguém se perca.
 
Já te arrependeste do teu pecado? Se te arrependeres o Senhor se arrepende e se converte a ti.
 
A pergunta que tens que responder é a seguinte: O Senhor já se converteu a ti?
 
Que Deus nos abençoe.
 
 
 
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[1] KILPP, Nelson. Jonas – Editora Vozes, Petrópolis, RJ Editora Sinodal São Leopoldo, RS 1994.
 
[2] CRABTREEE, Asa Routh. Teologia do Velho Testamento, 3ª edição, JUERP Rio de Janeiro, 1980
 
[3] BALANCIN, Euclides Martins e STORNIOLO, Ivo. Como ler o livro de Jonas. Deus não conhece fronteiras, 2ª
 
Edição Edições Paulinas, São Paulo 1991
 
[4] FEIBERG, Charles L. Os Profetas Menores, - Editora Vida, Miami 1988
 
[5] COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Jonas nosso contemporâneo: um estudo contextualizado do livro de Jonas 2ª
 
Edição JUERP, Rio de Janeiro 1994.
 
 
 
[6] YANCEY, Philip. Alma Sobrevivente: Sou Cristão, Apesar da Igreja, 1ª edição Mundo Cristão São Paulo 2004
 
71. Aborto ( 01.02.2007) .
marcosamazonas@netvisao.pt
Queridos,
 
 
Estou a enviar-vos três crónicas que escrevi sobre a questão do aborto. Escrevi-as porque teremos um referendo aqui em Portugal sobre esta questão.
Sei que não é bom enviarmos vários texto, por isso, peço-lhes que me perdoem, mas também espero que leiam os textos e façam críticas ao mesmo.
 
Abraços,
 
nEle,
 
 
Marcos Amazonas ( 01/02/2007)
 
 
 
Direito de escolha
 
Vejo um debate na televisão sobre a questão do aborto. Há uma pessoa que apoia o aborto e outra que é contra. Na discussão o apoiante diz que é uma questão de escolha e de direito. A mulher tem que ter o direito de escolher e optar. Numa democracia plena, as mulheres devem ficar livres para escolher abortar ou não.
 
Escuto na rádio que a liberalização do aborto é uma questão fulcral, até mesmo para combater a corrupção e fundamentalmente o dinheiro que circula sem ser tributado. A preocupação de uma defensora do sim é com a questão fiscal. Na mesma toada, Manuel Alegre, deputado pelo partido socialista diz que é uma questão de liberdade. As mulheres devem ter o direito de optar ou não por ter uma criança. Fiquei a pensar nestes aspectos e se é uma questão de opção e liberdade, alguém que deseja praticar a eutanásia também tem este direito de escolha e esta liberdade. É uma questão de democracia.
 
Creio que acima de tudo, o aborto passa por uma questão moral. Contudo, vivemos num país de tradição cristã, mas que não vive a moral cristã. O país é laico, apesar de forte influência católica. A igreja católica assume uma postura beligerante e pede para que as pessoas votem pelo não. O povo evangélico por ser minoria, a sua voz quase não se ouve. É um facto que também é a favor do não, mas creio fundamentalmente que, tanto católicos como evangélicos precisamos ser enfáticos na nossa luta contra o aborto, mas precisamos ser pessoas que demonstram amor profundo para com as pessoas.
 
Antes de seguir este pensamento, quero voltar a questão da escolha. A mulher tem o direito de escolher abortar. Mas e o pai? Será que o pai não tem o direito de querer ver nascer o seu filho? O homem é esquecido em toda a questão. É triste ver que o pensamento é unilateral. Não quero nem falar no direito do feto. Contudo, enquanto penso neste aspecto lembro-me da canção de Vinícius de Moraes e Toquinho «O filho que eu quero ter». Mas e se a mulher não quiser, como é que ele fica?
 
O aborto é uma questão muito séria e delicada. Deve ser discutido abertamente, mas creio que devemos seguir o exemplo do doutor C. Everett Koop que era um absolutista em questões como aborto e homossexualidade que aprendeu «durante o exercício da função de chefe do Departamento de Saúde, que os absolutos cristãos não podem ser sempre impostos sobre aqueles que não compartilham dos pontos de vista cristãos. Ele aprendeu, porém, a compaixão e a misericórdia para com os excluídos e amor pelos inimigos.» É fundamental condenarmos o aborto, mas amarmos as mulheres que abortam.
 
Particularmente sou contra o aborto. Contudo, como alguém que já viveu esta experiência de perto, sabe o sofrimento e a dor que as mulheres sofrem, solidarizo-me às mulheres, mesmo não aprovando o que fazem. Contudo, minha maior luta é contra aqueles que enriquecem às custas do sofrimento destas mulheres que por uma decisão pessoal, levadas por uma série de contingências são exploradas pelas clínicas da morte. Porém, engana-se quem pensa que a legalização do aborto irá fazer com que o aborto clandestino deixe de existir. Ele continuará existindo, pois muitas jovens e mulheres maduras não terão a coragem de assumir publicamente que irão abortar porque elas têm muitas coisas que preservar.
 
Sou contra o aborto. Sou contra aqueles que o realizam. Contudo, amo e Deus sabe que é verdade, as pessoas que recorrem a tais práticas. Desejo que elas conheçam a misericórdia do Senhor.
 
Abomino as clínicas abortivas. Não concordo com os profissionais que se deixam seduzir pelo dinheiro e passam a matar crianças ainda por nascer e muitas vezes mulheres que em desespero os procuram. Não concordo com tal atitude, mas amo o ser humano que se encontra a agir assim. Sei que se ele conhecer a graça de Deus, toda a sua vida será transformada. Também é verdade que amo os profissionais que o realizam. Amo-os enquanto seres humanos e sinceramente, peço a Deus que eles possam vir a mudar de opinião e de vida. Espero que eles sejam como o doutor Bernard Nathanson, que ficou conhecido como o rei do aborto e por fim reconheceu que havia feito a pior escolha. Espero que estes profissionais possam dizer como Bernad Nathanson: «Não posso dizer como estou agradecido nem a dívida tão impagável que tenho com todos aqueles que rezaram por mim durante todos os anos nos quais me proclamava publicamente ateu. Rezaram teimosa e amorosamente por mim. Estou totalmente convencido de que suas orações foram escutadas. Conseguiram lágrimas para os meus olhos.» Que os profissionais digam isto, mas que nós cristãos intercedamos por eles diariamente.
 
A grande maioria diz que é um direito de escolha. Concordo plenamente. Eu escolho a vida. Escolho lutar pela vida das mulheres, das crianças e dos muitos profissionais que estão perdidos e seduzidos por ganhar o mundo inteiro, mas não percebem que estão a perder suas almas. Quero unir minha voz aos que afirmam que é uma questão de escolha e juntamente com eles dizer que escolho a vida. Escolho amar a todo ser humano e prezá-lo pelo que ele é.
 
Livremente e no meu direito de escolha digo não ao aborto. Contudo, de coração aberto recebo as pessoas e quero caminhar com elas para ajudá-las a tratar das suas feridas. Eu escolho livremente criar pontes que me unem ao meu semelhante e não vou abrir mão disso.
 
Sou cristão e como cristão quero viver coerentemente com a minha fé, mas sei que os meus valores não são os valores da minha sociedade. Não me deixarei vencer pelos padrões da sociedade, mostrarei a graça do Senhor na esperança que eles livremente possam optar pela vida. Jesus veio para trazer vida e espero que esta vida brote no coração das pessoas que jazem perdidas.
 
Eu escolho dizer não ao aborto. Escolho dizer sim às pessoas e amá-las independente de qualquer coisa. É esta a minha escolha e a faço livremente, faço-a seguindo o exemplo do meu Senhor que odiou o pecado, mas amou o pecador.
 
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Uma questão de fé
 
Em breve estaremos a participar de um referendo sobre a despenalização do aborto. Tive o privilégio de estar presente em um debate. Os argumentos foram apresentados de modo claro e objectivos. Cada um dos oradores defendeu seu ponto de vista. Estava um sociólogo e um jurista a expor a questão. Claro que se procurou evitar a questão religiosa, mas foi em vão.
 
Sei que a questão é muito polémica. Houve pontos em que concordei com o sociólogo e adepto do sim, mas isso não justifica o sim. Também tive muitos pontos em concordância com a posição do jurista. Contudo, creio que nesta discussão toda, o essencial está a ser posto de lado. É verdade, que os adeptos da liberalização dizem que as questão de fé não podem ser tidas em consideração neste assunto será?
 
Duas questões devem ser respondidas: O que é a vida? Qual é a origem da vida? Quaisquer que sejam as respostas para estas perguntas teremos uma premissa de fé. Senão vejamos, o criacionista dirá que a vida é um dom de Deus e tem sua origem em Deus. É uma resposta baseada na sua fé. Um ateu, ou agnóstico dirá que a vida é fruto de um processo evolutivo, é obra do acaso. É uma premissa de fé e de muita fé, pois está baseada numa teoria e não numa lei científica. Portanto, a questão sempre passará pela defesa da fé.
 
Se me perguntarem se eu quero que uma mulher que abortou seja presa, minha resposta será não. Não deseja que uma mulher que tomou uma decisão delicada venha sofrer ainda mais. Partindo do pressuposto que o aborto praticado foi algo ponderado e acompanhado de muito sofrimento. Não foi uma decisão de ânimo leve. O que na maioria dos casos não é verdade.
 
Se me perguntam se sou a favor do aborto, minha resposta é não. É uma questão de fé? Claro que sim. Creio que a vida é dom de Deus e somente Ele pode determinar o fim da mesma. Há casos excepcionais? Claro que sim, mas a excepção deve ser tratada como tal e não como regra.
 
É claro que sou a favor do planeamento familiar. Sou completamente a favor de uma educação sexual, mas esta feita de modo saudável e com princípios. Tendo um absoluto como premissa.
 
Eu sou a favor da vida, não importa se ela tem apenas um minuto. Não importa se ela é intra-uterina. É uma vida que está presente. É um ser criado à imagem e semelhança de Deus. É uma questão de fé? É claro que é, mas uma fé racional que valoriza o ser humano e toda a criação.
 
Sou pela vida e se assim não for, terei que relativizar e todo relativismo é tendencioso. Hoje posso lutar pela liberalização do aborto, amanhã pelo infanticídio. Posso também começar a defender a eutanásia, pois é uma questão de escolha. Quem irá determinar o que é certo e errado? Como escreveu Dostoiévsky: «Se não há Deus tudo é permitido». Se não há Deus, viveremos pela lei do mais forte. Teremos um sistema de salve-se quem puder.
 
O que é a vida? Continuo a concordar com Gonzaguinha quando na sua canção afirmou que a vida “é o sopro do Criador, numa atitude repleta de amor”. É isto mesmo. A vida é dom de Deus. Ela pertence a Deus.
 
A questão sobre o aborto não é uma questão ideológica. Não é uma questão filosófica. É fundamentalmente uma questão de fé. Não há como fugir disto. Uns tem fé que o homem pode definir tudo e decidir tudo, pois é o senhor do universo, é o seu próprio deus. Outros afirmam que Deus é o Criador de todas as coisas e que a vida é uma dádiva deste Criador e por isso, somente Ele pode tirá-la.
 
Eu prefiro ter fé em Deus. Prefiro depender da graça de Deus e viver em conformidade aos seus padrões do que a instabilidade humana. Deus não muda. Ele é o mesmo. O ser humano é instável e falho. Basta olharmos para a história e vermos as incoerências e as muitas atrocidades cometidas no decorrer da história. Basta olharmos para as opções que eram tomadas como sendo verdades e que depois foram mudadas.
 
A minha fé explica o que é a vida e qual a sua origem. Ela é consistente. Defende o ser humano em todos os sentidos. A minha fé valoriza a existência humana e isto porque ela afirma que Deus é o autor da vida.
 
Pois é, vamos referendar o aborto. Na realidade, iremos dizer que tipo de fé nós temos, pois tudo é uma questão de fé.
 
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Por que eu opto pela vida?
 
Muita coisa tem sido dita nestes dias pré referendo. Argumentação de ambos os lados e ninguém pode dizer que as argumentações são inconsistentes. É claro que sempre existe os extremistas e estes se fazem presentes tanto nos que defendem o sim, como também nos que defendem o não.
 
Eu sou defensor do não. Não desejo ver a liberalização do aborto. Contudo, não quero ser um extremista. Penso que a lei que temos já comporta os casos excepcionais. Portanto, o que se deseja neste momento é simplesmente a legalização plena do aborto, tornando-o num método contraceptivo. É esta a minha opinião e respeito quem pensa diferente.
 
Não vou entrar em polémicas. Quero apenas responder a pergunta: Por que eu opto pela vida? Sendo assim, permitam-me traçar algumas linhas que são esclarecedoras do meu ponto de vista.
 
Eu opto pela vida porque ela é o sopro de Deus ao homem. A vida não é uma obra do acaso. O ser humano é o único ser vivente que recebeu o sopro do Criador. Deus lhe soprou o fôlego de vida. Isto me faz lembrar a música de Gonzaguinha, onde ele afirma que «a vida é o sopro do Criador numa atitude repleta de amor». Sendo assim, se eu opto pela destruição da vida, estou a dizer que não desejo a manifestação do amor do Criador. Digo que sou contra o projecto de Deus e em sã consciência não posso agir assim.
 
Eu opto pela vida porque somos feitos à imagem e semelhança de Deus. E se eu pensar o contrário, estarei a destruir a imagem de Deus. Nós somos criados à imagem e semelhança de Deus. Mas o que é isto de imagem e semelhança de Deus?
 
O homem nos lembra Deus. Ele é uma escultura que representa o modelo, mas não é como Deus. Jesus Cristo sim, é a expressa imagem de Deus e nós só seremos como ele quando formos glorificados e o pecado for superado. Mas o que significa a imagem de Deus?
 
Há pelo menos oito declarações que apontam onde o ser humano é imagem de Deus.
 
1) O homem se assemelha a Deus em sua natureza racional.
 
2) O homem se assemelha a Deus na sua natureza moral
 
3) O homem se assemelha a Deus na sua natureza emocional
 
4) O homem se assemelha a Deus no facto de possuir vontade
 
5) O homem se assemelha a Deus no facto de ter liberdade
 
6) O homem se assemelha a Deus na liberdade original do pecado e sua propensão à santidade
 
7) O homem se assemelha a Deus na capacidade de exercer domínio sobre ordens inferiores
 
8) O homem se assemelha a Deus na sua imortalidade. Não é eternidade, mas imortalidade.
 
Por tudo isto, eu opto pela vida, pois o ser humano que foi gerado tem todas estas capacidades e elas reflectem à imagem de Deus.
 
Eu opto pela vida porque o ser humano foi criado para gerar vida. É interessante ler o livro do Génesis e ver que a mulher é chamada a mãe dos viventes. Ela é geradora de vida e não de morte. A mulher é fonte de vida.  Sendo assim, nem ela e muito menos o homem podem decidir pela morte de um outro ser que está para chegar. A vida que está nela gerada tem o sopro do Criador. É um ser que traz consigo à imagem e semelhança de Deus.
 
Estas são as razões básicas porque eu opto pela vida. Sei que cada ser humano é livre de fazer sua escolha, mas também sei que cada um deve se responsabilizar pela escolha que fez. As consequências dos nossos actos são uma realidade. Podemos até não desejá-las, mas elas são reais. Portanto, eu assumo todas as consequências que possam vir por ter a coragem de assumir publicamente que sou pela vida.
72. 17 anos de casamento .

Queridos,
 
Estou a enviar-vos a crónica que escrevi para celebrar os 17 anos de casamento com minha querida esposa. Grande abraço, nEle, Marcos_ 13/02/2007
 
 
 

Ainda é presente
 
 
 
O tempo passa a correr. E com ele caminhamos nós. Muitas vezes, nos acomodamos às situações, outras lutamos e não nos conformamos. Há coisas que queremos esquecer, outras que desejamos perpetuar em nossa memória. Há situações que fazem parte do passado e desejamos que elas fiquem lá enterradas, outras queremos tê-las sempre presente.
 
Faz dezassete anos que nos casamos e parece que foi hoje. Ainda é presente e não passado. Nós mudamos. O nosso amor também mudou. Hoje é muito mais forte do que o era no passado. Hoje amo-te muito mais do que amava-te a dezassete anos atrás, mas amo-te muito menos do que amanhã.
 
Foi um dia maravilhoso. Ali estavam todos os nossos queridos. Hoje, muitas pessoas que partilharam este momento connosco já não se encontram em nosso meio. Muitos já estão na glória com Jesus. É melhor não enumerar, pois isto iria trazer-nos tristeza e hoje é dia de muita alegria. É facto também que, hoje temos nossos filhos que são a expressão máxima do nosso amor. São uma prenda de Deus para nós.
 
Naquela noite à lua estava cheia, era um postal a celebrar o nosso amor. Hoje estamos aqui, numa noite fria, mas com os nossos corações aquecidos. Não temos festa, não temos todos os amigos à nossa volta. Estamos os quatro em casa, com corações agradecidos porque Deus nos tem abençoado.
 
O dia ficou para trás. A data é um marco no tempo. Contudo, nossa relação e amor ainda fazem parte do presente. Não é passado, não é memória. Não é rotina, antes e pelo contrário é uma aventura vivida a cada dia pela graça e misericórdia de Deus.
 
Dezassete anos atrás nós assumimos publicamente o nosso amor e casamos. Não tínhamos nada. Não sabíamos o que nos aguardava o futuro. A única certeza que havia era a de fazer a vontade de Deus. Deixamos nossas famílias, fomos para a Itália. Ficamos uma semana em Roma e de Roma viemos para Portugal. Ali em Penafiel, mas precisamente na Quinta da Bela Vista, lá em Canelas, nós nos deixamos gastar cooperando para a recuperação de toxicodependentes.
 
Depois descemos para Viseu e mais um ano investimos à cooperar com a REMAR. Que tempo precioso. Quantas experiências adquirimos. Contudo, houve necessidade de regressarmos ao Brasil. Lá fomos nós certos de que Deus estava a dirigir nossas vidas. Passamos cinco anos em Manaus. Muitas vitórias, muitas lutas. Muitas alegrias, mas também muitas tristezas, mas em todas estas coisas podemos dizer que somos mais que vencedores.
 
Hoje estamos novamente em Portugal. Já faz dez anos que regressamos. Deixamos tudo para trás, na certeza de que o Senhor estava a nos orientar e a guiar-nos até aqui. Quantas lutas enfrentamos nestes anos, mas também é verdade, quanta demonstração de amor nós tivemos. Lutas terríveis. Dores e sofrimento, mas sempre o Senhor esteve connosco e enviou os seus anjos para nos consolar e confortar.
 
É claro que as alegrias foram muito maiores que as tristezas. As vitórias sobrepujaram nossas aparentes derrotas. Continuamos os mesmos. Hoje amamo-nos muito mais. Amamos mais o nosso Senhor e continuamos com a mesma convicção de que não temos nada e nada teremos, pois estamos na disposição de sempre fazer o que Ele determinar para as nossas vidas.
 
Dezassete anos e continuo a pensar que estamos a começar agora. Contudo, eu quero dizer como Gonzaguinha: "Começaria tudo outra vez, se preciso fosse meu amor". Graças a Deus não é preciso começar novamente, pois nunca terminou. Não é preciso começar de novo porque continuamos a nutrir o nosso amor. Não é necessário começar novamente porque ainda é presente e nós vivemos este presente na certeza de que ele precisa ser vivido dentro da vontade do Senhor.
 
Dezassete anos se passaram, mas eu quero dizer-te o seguinte: "Eu amo-te!"
 
Que venham mais dezassete e depois mais 34 e mais 68 e daí por diante, pois nosso amor é presente e não passado. É presente que vive a esperança do futuro que será presente.

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( Parabens pelos 17 anos de matrimônio , compartilhamos contigo nossa canção de amor  :
 
Quando se junta a areia com o cimento , E a água penetra no meio deles
O mesmo ocorreu quando se uniu : eu você  e Deus .
Concreto armado , bem firmado , Na vontade do meu Senhor :
" Como foi bom te encontrar , que legal foi te achar ... Deus nos Uniu...
 
Já vencemos   todas barreiras , que cruzaram nosso caminho
Os problemas são tão pequenos . comparados ao amor
Que sinto por ti minha querida , que sentes por mim meu grande amor
Quero cuidar de ti ! Queres cuidar de mim , Deus cuidará de Nós
 
Não existe lugar perfeito , sem você bem do meu lado .
Tudo contigo tem mais sentido , eu sou feliz só com você .
 
Como é lindo você me amar , que prazer é te abraçar .
Você me completa amor , eu faço parte de ti .Deus está em nós .
 
Para ouvir a melodia acesse : http://www.uniaonet.com/espmusmeta16.wma ) Yro
73. A Queixa (25.03.07 )
 
Estou com vontade de queixar-me. Quero reclamar e tenho motivos para isto. Estou chateado e neste momento só me apetece queixar-me. Mas queixar-me-ei de que?
 
Como ser humano que sou, posso iniciar as minhas queixas contra as outras pessoas. Posso dizer que elas não são justas comigo, que não me tratam como deveriam tratar e seguir por aí.
 
Também posso reclamar da igreja. Eu sou religioso e sendo assim, posso encontrar um monte de defeitos na religiosidade e na igreja. Posso culpar Deus daquilo está a suceder na minha vida e eu não concordo. Posso acusar os que fazem parte da igreja de não copiarem o exemplo do Senhor da igreja.
 
A verdade é que não quero e nem desejo queixar-me contra ninguém. Não quero e não tenho nada contra as pessoas. Também não tenho nada contra a igreja. Muito menos contra o Senhor que tem sido gracioso para comigo.
 
Se assim é, contra o que desejo queixar-me? Este descontentamento é contra o que?
 
Minha queixa é dirigida a mim mesmo. Meu lamento e desencanto é comigo próprio. Hoje estou vestido de Jonas, mesmo sem o sol e o vento. Estou como Elias enclausurado na caverna e fechado para o mundo. Estou fechado para balanço. E o meu balanço está negativo. Por isso, venho queixar-me não contra os outros, mas contra mim mesmo.
 
Jeremias quando estava no cativeiro escreveu suas lamentações. Ali encontramos as seguintes palavras: “Por que se queixaria o homem vivente, o varão por causa do castigo dos seus pecados? Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los, e voltemos para o Senhor.” (Lm 3.39-40). Quero esquadrinhar os meus caminhos. Quero ver a minha vida em profundidade.
 
Sou pecador e sou o pior de todos eles. Sempre lutei para não abraçar o ministério pastoral. Em consequência disto, causei dor e sofrimento à minha família. Desperdicei anos maravilhosos da minha adolescência e juventude vivendo só para mim, sem me preocupar com o que acontecia à minha volta. Desperdicei dinheiro e fiz minha família desperdiçar dinheiro. Menti e muito às pessoas que mais amo neste mundo.
 
Enganei e fui engano. Enganei os meus e os outros. Deixei me levar pelo prazer e por ele fui consumido. Também fui enganado por pessoas sem escrúpulos, que como eu, usaram-me e por mim foram usadas.
 
Fugi de Deus. Procurei estar o mais longe possível dos seus caminhos, mas Ele não desistiu de mim. Mas eu não sou digno de um Senhor tão misericordioso assim. Eu não mereço a graça do Senhor. Não posso fazer parte da igreja e muito menos ser líder da mesma. Como posso? Eu que tanto enganei, que sou tão fraco que não consigo lidar com os meus dilemas.
 
Como posso liderar os outros se não consigo vencer as minhas angústias?
 
Como orientar os outros e aconselhá-los se estou sentado para ver o que acontece? Não quero sair da caverna. Desejo ficar aqui fechado sem olhar para mais nada.
 
O que eu tenho feito?
 
Minha família é a primeira a sentir e ver minhas debilidades. Como encará-los e sorrir para eles se estou revoltado comigo mesmo?
 
Vinte anos a batalhar, mas o que tem acontecido?
 
Meus sonhos insistem em não se tornar realidade. Pelo menos a grande maioria deles. Quantas coisas foram deixadas para trás?
 
Os sonhos mais parecem pesadelos. Estão engavetados, encaixotados. Estão no armário a ganhar traça e será que algum dia sairão de lá?
 
Estou cansado. Estou cansado de ver os outros a levarem com a culpa toda. Estou cansado de dizer que a igreja está do jeito que está por causa de picaretas que se dizem apóstolos e enriquecem às custas do povo.
 
Estou cansado de dizer que a igreja não vive em comunhão. É lógico que não. Eu tenho estado em comunhão com as pessoas? Tenho estado com elas?
 
Estou cansado de dizer que falta profundidade bíblica, mas o que eu tenho feito para sair da superfície?
 
Não quero olhar para ninguém. Quero apenas olhar para mim mesmo.
 
Que tempo tenho dedicado à minha família? Estou preso a tanta burocracia. O corre-corre do dia está a me roubar o prazer de uma boa leitura. Está a roubar-me o precioso tempo de estar com a família.
 
Para que preparar tanta coisa se elas ficam arquivadas e fechadas? Para que investir tanto tempo a digitar textos que ninguém deseja publicar e que na realidade são divagações de um caboclo que se formou em teologia, mas que ficou por aí. Um caboclo que nunca quis seguir para uma faculdade, nunca desejou coisas ousadas. Como parar para ler textos de alguém que sempre imaginou que passaria sua vida toda no mesmo lugar e que jamais sairia dali.
 
Como aprofundar, se eu não me aprofundo. Se faz dez anos que não faço um curso de aprimoramento. Como poderei exigir dos outros aquilo que eu próprio não faço?
 
Tenho que olhar para mim mesmo. Tenho que ficar aqui sentado na minha cabana ou então na minha caverna e esperar. Vou ficar aqui e dizer como Habacuque: “Sobre a minha torre de vigia me colocarei e sobre a fortaleza me apresentarei e vigiarei, para ver o que me dirá, e o que eu responderei no tocante, a minha queixa” (2.1).
 
Não quero mais sonhar. Não quero viver preocupado com minha reputação e com a minha imagem. Não estou mais desejoso de ficar a culpabilizar os outros. O problema da igreja não é a apatia e falta de interesse dos outros. O problema da igreja sou eu e somente eu, o maior de todos os pecadores. Chega de ficar a arranjar culpado para tudo. É verdade que a culpa não pode morrer solteira. Sendo assim, eu assumo. A culpa é minha e é esta a minha queixa.
 
Neste momento de luta conta mim mesmo. Neste momento de acusação pessoal escuto a resposta do Senhor nos seguintes textos: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.” (2 Co 12.10). É a graça de Deus que me basta e não as muitas coisas que posso vir fazer.
 
Eu não sou nada. Não tenho nada em que me gloriar. Também não quero nada, já passei da idade de almejar e desejar títulos. Quero ser apenas eu mesmo, um cristão autêntico, apesar de suas lutas e limitações. Não tenho glória própria, mas não preciso, pois minha glória está em Cristo Jesus. Nele eu me glorio. Digo como Paulo: “Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor. Porque não é aprovado aquele que se recomenda a si mesmo, mas sim aquele a quem o Senhor recomenda.” (2 Co 10.17-17). A Jesus toda glória!

74. Botequim (28.03.07)
 
 
 
Leia Mateus 9.35-38
 
Chego em Manaus para pregar no aniversário da igreja em que fui membro a maior parte da minha vida. A igreja que me viu crescer. Voltar a Manaus é sempre um prazer e uma alegria. É a minha terra amada, querida. Lá tenho meus amigos de infância. Lá cresci e me formei. Se sou o que sou é por causa de grandes experiências ali vividas.
 
No aeroporto, meu irmão me aguarda. Diz-me que os meninos desejam me ver e falar comigo. Acho graça, pois os meninos já são trintões e quarentões. Mas para os amigos, como acontece com os pais, seremos sempre os meninos. Crescemos juntos. Vivemos histórias que os anos não poderão apagar. Criamos laços, apesar de na vida termos seguido por estradas diferentes. Disse ao meu irmão que teria o maior prazer de ir me encontrar com os «meninos». O problema é que eu ia para passar poucos dias e estes estavam comprometidos com a igreja. Local impensável para eles. Como resolver este impasse?
 
Fui para falar no aniversário da igreja, mas não podia virar às costas aos meus amigos. Não podia virar às costas a minha história. Sendo assim, decidi ir ao encontro dos amigos. Quem conhece Manaus sabe que o ponto de encontro lá é um botequim. É o bar da esquina. Entretanto, o nosso ponto de encontro não ficava na esquina, mas era um dos bares que existia na minha zona residencial. Nesta situação, fiquei a pensar o que diriam os membros da igreja ou de outra igreja que me vissem ali naquele bar. Por um instante, confesso que fiquei preocupado, mas decidi quebrar o protocolo para poder estar com meus amigos.
 
Numa sexta-feira, depois do culto, dirigi-me ao ponto de encontro. Quando chego ao bar vejo muitas caras novas. Estas ficam tão assustadas, até parece que viram um fantasma. Os «meninos» me chamam. Uns gritam meu nome, outros meu apelido de infância. Sento-me com eles. As conversas são triviais, banais. Uns desejam saber tudo sobre Portugal. Há aqueles que ainda não acreditam que eu seja pastor e muito menos que tenha largado tudo para pregar o evangelho em Portugal.
 
Ali naquele botequim, vejo solidariedade. Pessoas que expressam verdadeira preocupação. Sou chamado de parte e me informam que uma amiga querida de nossa infância havia rompido sua relação e estava ali a necessitar de ajuda. Pedem-me para falar com ela. Ela estava a fumar. Contudo, ela estava fumada pela vida. Seu aspecto era triste, sofrido. Ela tentou esboçar alegria quando me viu, mas ninguém que sai de uma relação sai sorridente. Conversamos um pouco. Ela perguntou-me sobre o projecto de Deus para os relacionamentos. Tive a oportunidade de pregar a graça, com graça. Ela diz-me que na sua igreja não encontrou compreensão. Foi julgada e posta de parte. Disse-me que se sentia rejeitada por Deus, pela igreja e pelo homem que havia rompido a relação. Mostrei-lhe que Deus a amava e aceitava. Falei-lhe do sacrifício de Jesus na cruz por ela. Falei também que a igreja é local de acolhimento e nunca de exclusão. Disse também que tinha consciência que há momentos em que pessoas são desprezadas e postas de parte. Como homem da religião via isto acontecer. Contudo, pude dizer-lhe que Jesus jamais nos vira às costas. Ele jamais nos abandona.
 
Ela ficou mais calma. Até sorria. Meu irmão estava radiante. Os «meninos» ali, uns a viverem a mesma vida dos tempos passados. Outros casados, pais de filhos. Estavam ali para um encontro fraternal. Para desfrutarem da companhia uns dos outros. Eu estava ali. Vi meu passado amargo diante de mim, mas ali não fui julgado. Recebi afecto e carinho. Demonstrei amor àquelas pessoas que se encontravam naquele botequim. Não sei quantas horas fiquei ali. Mas foram horas agradáveis. Elas falaram-me da graça e de como Deus pode transformar um pecador como eu num pregador das boas novas.
 
Aquele botequim tem histórias tristes da minha vida. Mas naquele dia, foi como viajar ao passado e dizer que há um caminho diferente. Há esperança apesar do caos e da dor que possamos estar a viver. Ali onde muitas vezes afoguei o vazio que havia dentro de mim, pude falar que há uma fonte de água viva que nos enche sem nos afogar. Uma fonte de nos alivia e não uma fonte que nos deixa com ressaca no dia seguinte.
 
Estava na mesa com os «meninos» e fiquei a pensar se passasse alguém da igreja. Talvez pensasse que eu estava sentado na roda dos escarnecedores. Talvez dissessem que eu estava a comer com os pecadores. E eu estava mesmo. Estava e sempre que for a Manaus estarei, pois sou pecador como eles. Há uma diferença, eu conheci a graça e fui transformado por ela e eles ainda não. Se algum membro de igreja me visse ali pediria minha exclusão e até que fosse excluído do pastorado. Foi neste momento que lembrei de Jesus que sentava com pecadores. Que esteve junto deles. Manifestou graça, não os condenou. Abominou o pecado deles, mas os amou.
 
No botequim eu compreendi na minha vida o que significa ter o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus. Ali eu me despojei da minha religiosidade. Dos meus argumentos teológicos que apontavam para meus amigos como párias que não são dignos de conviver com pessoas religiosas. Não me preocupei com o que os outros diriam. Não liguei para a minha reputação e com a minha imagem. Como pensar nisto se o que fiz durante muito tempo foi apenas ser um pária?
 
Estava ali e entendi o que a Bíblia diz quando fala que Jesus se encheu de compaixão pelas pessoas. Eu estava cheio de compaixão por aquelas pessoas. Falei-lhes da graça e demonstrei-lhes graça. Talvez tenha sido por isso, que alguém disse que estaria na igreja no dia seguinte. Disse e cumpriu sua palavra.
 
Botequim nem sempre é um lugar onde se afogam as mágoas. Pode ser um lugar onde se nasce para vida. Isto é possível se a graça jorrar com humildade e compaixão.
 

marcosamazonas@netvisao.pt 16/06/2007 22:23     Mensagem de amanhã  
 
Queridos,
 
Depois de um longo silêncio, regresso enviando a mensagem que irei pregar amanhã
Esta é a última de uma sequência se desejarem as outras é só dizer
 
 
Abraços,
 
 
Marcos
 
 
75. Assim vivem os transformados
 
Actos 2.41-47;4.32-47
 
Estivemos a falar sobre pessoas que tiveram suas vidas transformadas pelo Senhor Jesus. Pessoas que foram regeneradas por Deus. Não foi algo que elas produziram, mas que o Senhor fez nelas como nos diz João: “Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.” (Jo 1.12-13). A salvação é um processo divino. É a da vontade de Deus que nós sejamos regenerados.
 
Temos reflectido sobre a vida de várias pessoas que foram transformadas. Agora queremos meditar sobre como é que eles viviam. Ao ver como eles viviam, teremos o nosso modelo. Sendo assim, devemos nos voltar para o livro de Actos, pois ele tem essas informações para nós.
 
Antes de prosseguir quero fazer uma breve introdução sobre o livro de Actos para que possamos compreender o seu contexto, o objectivo pelo qual foi escrito e para quem foi escrito. Sendo sabedores destas informações poderemos caminhar de modo mais acurado sobre este belo livro.
 
Na realidade, o livro de Actos é uma continuação do evangelho de Lucas. Estes dois livros juntos narram a história dos primórdios do cristianismo. Lucas escreve a Teófilo, com o objectivo de instruí-lo com a mais completa base histórica da sua fé. Ele não desejava que Teófilo tivesse uma fé cega e vazia. Sendo assim, podemos afirmar que Actos e Lucas tem o mesmo “propósito geral de confirmar a fé pessoal e de fornecer um inteligível registo histórico da revelação de Deus aos homens pela obra de Cristo, tanto pela Sua carreira pessoal como através da Sua igreja.”[1] Contudo, é importante dizer que “o propósito principal do livro de Atos foi o de traçar o triunfal progresso do evangelho, a partir de Jerusalém, onde teve início, até Roma, a capital do império.”[2]
 
O livro de Actos é de suma importância para nós. “A informação contida nele não se encontra em nenhum outro livro do Novo Testamento. Alguma informação pode ser colhida das epístolas, acerca da igreja primitiva; mas, é somente quando colocamos as epístolas dentro da estrutura de Atos que podemos reconstruir, até certo ponto, a história da igreja que emergia. Muita coisa do Novo Testamento só é entendível quando vista à luz do cenário histórico encontrado em Atos.”[3]
 
Agora, sendo conhecedor do pano de fundo histórico e o objectivo que tem o livro podemos aplicar a mensagem do texto às nossas vidas. Agora podemos ver como é que vivem as pessoas que foram transformadas pelo Senhor Jesus e assim, ver como nós também devemos viver.
 
Todos os que têm vidas transformadas pelo Senhor permanecem firmes na doutrina bíblica
 
O que caracteriza alguém que tem sua vida transformada?
 
O que caracteriza um cristão?
 
O que é um cristão?
 
Quem tem a vida transformada persevera na doutrina dos apóstolos. É alguém que permanece fiel ao ensino que foi ministrado. O termo utilizado para perseverar na doutrina é a palavra grega (προσκαρτεροῦντες  proskarterountes) que tem como pano de fundo permanecer firme, resolutamente, ser constante, inabalável neste ensino.
 
Pessoas que foram transformadas pelo Senhor Jesus são pessoas abertas à instrução da Palavra de Deus. São pessoas que sabem explicar sua fé. “Os cristãos podem dizer porque são cristãos, e se você não puder dar uma razão, se você não puder dizer “Eu creio nisto e naquilo” você não é um cristão.”[4] É fundamental compreendermos que necessitamos aprender e estudar a Palavra de Deus. Devemos conhecer bem as nossas doutrinas. Precisamos estar aptos para dar explicação da nossa fé. Quem tem a vida transformada pelo Senhor sabe da explicação da sua fé. Pedro diz o seguinte: “antes santificai em vossos corações a Cristo como Senhor; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3.15). És cristão? Estás preparado para responder a razão da esperança que há em ti?
 
O cristão verdadeiro não é contra o ensino. Um cristão autêntico estuda com afinco e deseja aprender cada vez mais sobre a Palavra de Deus. “O antiintelectualismo e a plenitude e a plenitude do Espírito são mutuamente incompatíveis, pois o Espírito Santo é o Espírito da Verdade. Esses primeiros discípulos também não pensavam que, devido ao fato de terem recebido o Espírito, esse era o único professor que precisavam, podendo dispensar os mestres humanos. Pelo contrário, eles se assentavam aos pés dos apóstolos, ansiosos por receberem instruções, e nisso perseveravam.”[5]
 
Quem tem a vida transformada é firme na Palavra. Conhece o Senhor e vive de acordo com a sua Palavra e persevera nela. É assim que devemos viver. Tu vives assim?
 
É bom lembrarmos o que é dito dos crentes de Beréia: “Ora, estes eram mais nobres do que os de Tessalônica, porque receberam a palavra com toda avidez, examinando diariamente as Escrituras para ver se estas coisas eram assim.” (Act 17.11). Um cristão é uma pessoa que está com a sua Bíblia aberta a conferir o ensino que está a ser ministrado. Não aceita qualquer coisa.
 
A característica de uma igreja cristã é a seguinte: “Uma Bíblia aberta e cultos onde esta é devidamente explicada por aqueles a quem Deus concedeu o espírito de sabedoria é o que devemos ter em nossas igrejas, para que os crentes sejam bem instruídos e possam dar razão da esperança que os anima e por que depositam sua confiança em Cristo.”[6]
 
O cristianismo não é um clube que nós aderimos. Também não é mais uma filosofia, um passatempo intelectual. O cristianismo não é emocionalismo. Não é uma questão de sentimentos. Não é uma questão de vontade própria. E muito menos algo chato e castrador. Se pensarmos assim diremos que o cristianismo é negativo. Quando temos esta visão, o cristianismo é entediante. Nas palavras de Martyn Lloyd-Jones: “A prática religiosa é um sério dever que você tem que cumprir, e, quanto mais cedo terminar, melhor. Não há felicidade em ponto algum junto desta versão do cristianismo; não há alegria; muito ao contrário. É um ensino que, nas palavras de Milton, leva você a “desprezar os prazeres e viver dias laboriosos”. Você tem que ir àquela reunião da igreja no domingo – portanto, vamos tentar fazer um movimento de reforma para reduzir as reuniões a uma por domingo! E fazer o culto mais cedo para, em todo o caso, podermos ter o resto do dia livre.”[7] Isto não é cristianismo e muito menos a atitude de um cristão. O cristão é alguém que nasceu de novo. É alguém que foi regenerado pelo poder do Espírito Santo de Deus. É alguém que se viu culpado diante de Deus e tendo ouvido a mensagem do evangelho se arrependeu e pediu perdão ao Senhor. És cristão? Já te arrependeste dos teus pecados? Já pediste perdão ao Senhor?
 
Todos os que têm vida transformadas pelo Senhor vivem a vida com grande alegria e singeleza de coração
 
Quem tem sua vida transformada pelo Senhor é alguém que vive feliz. É uma pessoa que não teme pela vida. Não vive sob o peso da culpa. É uma pessoa que vive a desfrutar da graça do Senhor.
 
Quem tem sua vida transformada pelo Senhor vive uma vida plena. Tudo para ele é santo. Não existe o sagrado e o profano. Este conceito é da nossa herança grega, mas a igreja não se fundamenta na cultura helénica. A igreja está fundamentada na Palavra de Deus. E quando olhamos para a Palavra vemos que a vida era vivida como um acto pleno de adoração ao Senhor. É muito importante para nós que tenhamos consciência do seguinte aspecto: “O ensino do Antigo Testamento é que toda a vida interessa a Deus. Não há distinção entre sagrado e profano. A vida é toda dele. “Tudo vem de ti”, disse Salomão (1 Cr 29.14), e isto não se refere apenas às ofertas. A vida toda é um dom de Deus.”[8]
 
Aquele que foi transformado pelo Senhor olha para sua vida com prazer e vive-a na perspectiva de que ela é uma prenda de Deus e tem prazer na vida que o Senhor lhe concedeu. Ele se alegra e desfruta da vida porque sabe que sobre si não há mais nenhuma condenação. É este o ensino de Paulo: “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Rm 8.1). Quem está em Cristo é livre. É grato e feliz. Jesus mesmo afirmou que o seu desejo é que o nosso gozo seja completo. Quando Ele dava suas últimas instruções aos discípulos ele disse: “Estas coisas vos tenho dito, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.” (Jo 15.11). Jesus viveu com alegria e deseja que nós, seus servos, sejamos pessoas alegres. Alegria plena e completa é o que o Senhor deseja para todos que são transformados por Ele. Já foste transformado pelo Senhor? Vives esta alegria no teu dia-a-dia?
 
É triste ver as pessoas a dizerem que os cristãos são pessoas infelizes e tristes. Mais triste que isto é ver que muitos parecem viver esta realidade, mas a questão é será que estes são realmente cristãos. A alegria é uma das marcas mais fortes de um cristão. O verdadeiro cristão, que foi transformado pelo Senhor é uma pessoa feliz. Aquele que foi transformado pelo Senhor e que recebeu o Espírito Santo em sua vida irá manifestar o fruto do Espírito que é caracterizado pelo amor, alegria e felicidade e estas características são as que mais o mundo necessita em nossos dias. Paulo diz que o fruto do Espírito é: “Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade. A mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não há lei.” (Gl 5.22-23). Estás a manifestar este fruto em tua vida. Tens manifestado alegria e amor aos demais? És cristão? Foste transformado pelo Espírito Santo de Deus?
 
Aqueles que foram transformados pelo Senhor louvam e exaltam o Senhor com alegria. São pessoas que manifestam a graça do Senhor. São pessoas temem ao Senhor e por ter o Espírito Santo agindo nas suas vidas, as maravilhas de Deus são manifestas.
 
Alegria é a marca de um cristão autêntico, mesmo que tenha que passar por alguns momentos de tristeza como nos diz Pedro: “Nisto vós exultais, ainda que no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações.” (1 Pe 1.6). “Alegria! Gozo! Você se dá conta que escapou do inferno. Não vai mais para a perdição: você é filho de Deus. Seu coração se comove. Você tem agora uma grande, gloriosa e grandiosa vida, e se regozija nela.”[9] Já és filho de Deus? Estás a exultar na alegria da salvação?
 
Todos os que têm vidas transformadas pelo Senhor vivem dedicados aos outros e preocupados com suas necessidades
 
Tem coisa impressionante é ver esta realidade aqui no texto. Todos os que foram transformados pelo Senhor vivem vidas preocupadas com o seu próximo. Vivem vidas direccionadas aos outros. Não são pessoas egoístas. São pessoas que compreenderam que o amor devido a Deus é também o amor que deve ser demonstrado ao semelhante. É interessante ver o que João escreveu: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu.” (1 Jo 4.20). Quando olhamos para a igreja primitiva vemos este amor. É importante dizer que as pessoas não eram obrigadas a dar. As pessoas não eram obrigadas a vender suas propriedades, elas faziam motivadas pelo amor e pelo interesse genuíno que tinham uma pelas outras. Quem era rico, continuava rico, o pobre continuava pobre, mas o princípio era o da igualdade. É interessante ver o que Paulo afirma quando da oferta feita pelas igrejas da Macedónia para a igreja em Jerusalém, oferta não apenas financeira, mas de vida (2 Co 8.5). Agora Paulo apela aos coríntios que façam o mesmo, mas eis o princípio existente no seu apelo: “Pois digo isto não para que haja alívio para outros e aperto para vós, mas para que haja igualdade, suprindo, neste tempo presente, na vossa abundância a falta dos outros, para que também a abundância deles venha a suprir a vossa falta, e assim haja igualdade” (2 Co 8.13-14). Todos os que são transformados pelo Senhor manifestam preocupação autêntica com os seus irmãos e não é apenas com os que estão perto, mas também com os que se encontram distantes.
 
Um cristão autêntico é alguém que no seu viver manifesta respeito pelos outros. Sua fé não é vivida no vazio. Alias, a “fé deve se expressar em atitudes corretas, em vida limpa, em caráter santo. A verdadeira vida cristã não se mostra em frase estereotipadas, tipo “paz do Senhor” ou “meu amado”. Manifesta-se num caráter social, que respeita o próximo e produz uma atitude nas relações sociais. Um cristão não explora nem compactua com a exploração. Choca-se, indigna-se e protesta, em nome de Deus.”[10]
 
Quando olhamos para vida destes cristãos primitivos vemos um amor desinteressado. Um cristão é uma pessoa que ama o amor. Que busca a cada dia desfrutar da misericórdia do Senhor. O cristão é alguém que manifesta misericórdia ao seu semelhante. Contudo, devemos ter bem claro o que seja misericórdia.
 
“Misericórdia” é o hebraico hesed, um dos termos mais ricos do idioma. É um amor profundo, intenso, que a Bíblia na Linguagem de Hoje traduziu, no texto de miquéias como “amemos uns aos outros com dedicação”. É amor dedicado. Iahweh não está pedindo que o povo simplesmente pratique a misericórdia, está pedindo que ame a misericórdia. Parece um tanto sem sentido. O homem deve amar o amor, é o que nos diz o profeta. O amor deve ser algo buscado, amado e não apenas praticado. Sua prática pode cessar por algum motivo, mas quando ele é amado e buscado, não cessa.”[11] Aqueles que têm suas vidas transformadas amam o amor. Eles amam a Deus e Deus é amor (1Jo 4.8). Quem ama a Deus, ama também o seu próximo.
 
Aqueles que tem vidas transformadas demonstram através de sua entrega e dedicação ao Senhor e ao próximo. Já foste transformado pelo Senhor. Estás a preocupar-te com o teu semelhante?
 
Quem tem sua vida transformada pelo Senhor irá manifestar com uma preocupação séria e intensa pelo seu próximo. Irá demonstrar com dedicação e comunhão com o seu semelhante.
 
As pessoas que tem vidas transformadas vivem a proclamar a mensagem do Senhor
 
É interessante ver isto no texto. Os apóstolos testemunhavam ousadamente do Senhor. A mensagem era pregada com ousadia. Sendo assim, podemos afirmar que um cristão é alguém que não tem medo da perseguição. É importante notarmos que entre o capítulo dois e o quatro de Actos que narram como vivia a igreja, encontramos a luta que aconteceu por causa da cura do paralítico na porta do templo. A igreja cresce e desperta a perseguição, mas o testemunho continua. As pessoas que tiveram suas vidas transformadas assume claramente que agora pertencem a Jesus e não negam este facto.
 
Eles agora são completamente diferentes. Até poucos dias antes essa gente gritava: Crucifica-o, crucifica-o, mas agora vive unida a louvar a e adorar o Senhor. Vivem unidos a proclamar a graça de Jesus.
 
Eles passaram a enfrentar o perigo. Eles sabiam e tinham convicção que seu líder fora crucificado no madeiro semanas antes. “Todavia, dispuseram-se a juntar-se a eles e a continuar com eles. Continuaram perseverante com eles – não queriam deixá-los. Estavam arriscando tudo. Sabiam que seus parentes iam ficar enfezados, que provavelmente seriam deixados no ostracismo por aqueles que lhes eram caros; não importava. Sujeitaram-se ao batismo público, alinharam-se a estas pessoas desprezadas. Seja o que quer que acontecesse, tinham que ficar com elas.”[12] Estavam juntos e assim proclamavam a mensagem do Senhor. Não temiam o que lhes podia acontecer. Não se preocupavam com o que diriam deles.
 
E tu, estás junto do povo de Deus? Estás preocupado com a tua reputação e com o que dirão de ti? Os que foram transformados tinham como preocupação agradar o Senhor e obedecer suas ordens, tu o que farás?
 
Anunciar a mensagem do Senhor não é um convite. Não é algo que devemos fazer aos domingos. É uma tarefa diária e contínua. É interessante ver o que é dito sobre o que são aqueles que se entregam ao Senhor Jesus: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samária, e até os confins da terra.” (Act 1.8). Os que são transformados têm o Espírito Santo e testemunham do Senhor onde quer que se encontrem.
 
A mensagem que é proclamada é que o Senhor Jesus veio em carne, morreu na cruz por nossos pecados e ao terceiro dia ressuscitou e depois subiu aos céus e vai voltar para julgar justos e injustos. Tens anunciado esta mensagem. Tens proclamado a graça de Jesus? És cristão?
 
Guisa de Conclusão
 
Teria muito mais para dizer, mas não desejo ser maçador. Mas antes de terminar é fundamental dizer o seguinte:
 
A igreja é constituída de pessoas que se arrependeram dos seus pecados e pediram perdão ao Senhor. Já te arrependeste? Já entregaste tua vida a Jesus?
 
Aqueles que se arrependeram e foram transformados pelo Senhor trazem nas suas vidas marcas distintas a saber:
 
São pessoas que estão firmados na doutrina bíblica e não se deixam enganar
 
São pessoas que alegres e com singeleza de coração
 
São pessoas que se preocupam com seu próximos e procuram ajudar nas suas necessidades
 
São pessoas que testemunham da graça do Senhor.
 
És cristão? Já foste transformado pelo Senhor? Como tens vivido?
 
Ser cristão não é estar dominicalmente na igreja. Ser cristão é viver Cristo diariamente. É viver a manifestar a graça do Senhor diariamente a todos que cruzam contigo. É assim que tens vivido?
 
Se não és cristão, se não tens vivido assim, arrepende-te e entrega-te ao Senhor Jesus.
 
Que Deus nos abençoe.
 
 
 
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[1] TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento, sua origem e análise 2ª Edição Edições Vida Nova, São Paulo 1989
 
[2] GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento, 4ª Edição Edições Vida Nova, São Paulo 1989
 
[3] HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento, 3ª Edição JUERP Rio de Janeiro 1989
 
[4] LLOYD-JONES, Martin. Cristianismo Autêntico: Sermões nos Atos dos Apóstolos Vol 1 1ª Edição Editora PES, São
 
Paulo 2005
 
[5] STOTT, John R. W. A Mensagem de Atos, 1ª Edição ABU Editora, São Paulo, 1994
 
[6] VARETO, Juan C. Los Hechos de Los Apostoles Explicado – Editorial Evangélica Bautista, Buenos Aires 1952
 
[7] Op.Cit.
 
[8] COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Descubra agora: a ética dos profetas para hoje – Exodus Editora, São Paulo 1997
 
[9] Op.Cit.
 
[10] Op.Cit.
 
[11] Op.Cit.
 
[12] Op.Cit.
 
= =

Queridos,
 
Depois de um longo silêncio, volto a escrever-vos.
Este silêncio foi proposital. tive necessidade de ficar na quietude e assim ouvir o silêncio.
Como resultado deste silêncio surgiu um série de reflexões. Estas estão baseadas em perguntas simples, mas que para mim são muito sérias e profundas. Eis as perguntas:
O que Deus espera do pastor?
O que o pastor espera de Deus?
O que a igreja espera do pastor?
O que o pastor espera da igreja?
Para onde caminhamos?
Cehguei a algumas conclusões. Agora estou a escrever as respostas que encontrei. Sendo assim, quero partilhar o texto que escrevi baseado na primeira pergunta.
Aguardo vossa opinião e comentário.
 
Abraços,
 
 
nEle,
 
Marcos Amazonas _ 23/08/07
 
76. O Que Deus Espera do Pastor?
 
 
Vivemos na era da informática, nosso tempo é marcado pelas grandes mudanças. Não existem mais padrões e valores absolutos, pois na sociedade de consumo, tudo muda rapidamente e temos que acompanhar este ritmo frenético se desejarmos estar inseridos no mundo actual. Neste corre-corre, vemos que os líderes religiosos estão a procurar se adaptar à nova situação. Muitos já não desejam ser chamados de pastor e arranjam títulos esquisitos para si mesmos. Outros há, que por ter vergonha de assumir o que são intitulam-se gestores, educadores, mas nunca pastores.
 
No afã e desejo de ser relevante, muitos estão deixando de lado a essência. Há pastores que procuram tirar o máximo de proveito das situações. Manipulam pessoas, brincam com as emoções alheias e se julgam semi-deuses para não dizer deuses. São pessoas megalómanas, que pensam que podem fazer tudo. “Tal como os construtores da torre de Babel, nós também vivemos, pensamos e falamos, como “se nada fosse impossível” para nós.”[1] Este é o nosso tempo. É o tempo de realizar o que parecia impossível e esta mentalidade está a tomar conta de muitos líderes religiosos. Os pastores estão em luta. Luta uns com os outros, mas principalmente em luta com a mentalidade cultural do momento e estão a deixar que o conceito secular tome conta da igreja. Vemos cada vez mais que os pastores estão a se profissionalizar e assumir a postura de administradores de empresa. Os pastores agora desejam títulos bonitos e já não desejam se apresentar como servos do Senhor. Recordo-me de um certo pregador que ao ser convidado para pregar em determinada igreja, exigia que o seu curriculum fosse lido e seus muitos títulos fossem enunciados. Diante de tal atitude e mentalidade que invadiu a igreja, podemos afirmar que se os apóstolos estivessem presentes em nossos dias, eles não teriam oportunidade de proclamar a mensagem do Senhor em nossas igrejas. Contudo, o pastorado continua a ser a obra sobremodo excelente (1 Tm 3.1), não obstante todas as lutas que devem ser enfrentadas por aqueles que trilham o caminho ministerial. Ser pastor nos dias actuais é um desafio. É necessário ser alguém dependente do Senhor e que tenha consciência de que o “ofício do pastor não parece valorizado pela sociedade. Não ganhamos muito dinheiro. Não exercemos uma função específica que contribua diretamente para o produto interno bruto ou para os índices dos principais indicadores econômicos. A profissão dos cléricos fica próxima ao do coletor de lixo na lista das carreiras mais valorizadas pelos alunos no final do primeiro grau.”[2] Esta desvalorização não é fruto apenas da secularização. Ela é fruto também do descaso dos pastores e principalmente dos grandes escândalos que estão a ser promovidos por pessoas que deveriam ser um exemplo e um marco na sociedade.
 
É preocupado com a realidade pastoral que me pus a reflectir sobre quais seriam as expectativas de Deus em relação ao pastor. Contudo, a primeira coisa que me veio à mente foi que Deus não tem expectativas sobre os pastores porque Deus é Soberano, Omnisciente; sendo assim, já sabe todas as coisas e não tem necessidade de criar expectativas sobre os seus servos. Entretanto, lendo a Bíblia atentamente, encontrei aspectos interessantes, que valem a pena ser pensados e avaliados por nós.
 
Não é meu desejo criar algo novo. Não é meu desejo inventar uma nova onda, mas sim pensar sobre a vida pastoral. Reflectir sobre o que temos feito e como temos nos conduzido e ver o que o Senhor nos orienta e nos ensina. Nossos dias são confusos, dias em que as palavras ditas por Paulo a Timóteo estão a ser uma realidade constante em nosso meio. Infelizmente, vemos que os homens são amantes de si mesmos, são pessoas que estão a buscar o seu próprio interesse e não estão a desejar dar glória a Deus. Isto não é novo. É a realidade que foi predita por Paulo. Senão, vejamos o que ele diz:
 
“Sabe, porém, isto, que nos últimos dias sobrevirão tempos penosos; pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a seus pais, ingratos, ímpios, sem afeição natural, implacáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder. Afasta- te também desses.” (2 Timóteo 3.1-5)
 
Paulo diz que devemos fugir deste tipo de pessoas. Não podemos compactuar com uma liderança que busca a sua própria glória e tenta tirar proveito dos outros. Devemos ter cuidado e espírito crítico para podermos avaliar cada situação e liderança que nos aparece pela frente. Em nossos dias, devemos clamar ao Senhor suplicando que Ele nos conceda o dom do discernimento para não nos deixarmos enganar e ser seduzidos por líderes gananciosos. Não podemos negar que a advertência de Paulo é uma realidade que tem sido vivida em nossos dias. É triste ver que em nossos dias há pastores que estão a encarnar esta descrição em sua vida. Isto acontece porque a Bíblia é verdadeira. É a verdade, pois é a Palavra de Deus, mas isso, deve nos fazer viver com temor e tremor, fazendo-nos suplicar para que o Senhor tenha misericórdia de nós e não permita que façamos parte desta lista de líderes que se afastam do Senhor e seguem o caminho do egoísmo.
 
Para nós, que exercemos liderança, fica o desafio de viver comprometidos com o Senhor e a lutar para não nos deixarmos seduzir pelas muitas tentações que aparecem e tentam nos seduzir e assim nos afastar do caminho do Senhor. O desafio que temos pela frente é o de vivermos vidas rectas diante do Senhor. Não podemos ceder ao pensamento moderno que descredibiliza o ministério pastoral, não podemos querer ser chamados de mestres, gestores ou educadores. Precisamos resgatar a excelência do ministério pastoral. Não podemos esquecer que somos os arautos do Senhor numa terra carente. Somos seus mensageiros, os seus profetas e não devemos esquecer que “o profeta deve ser um escravo da Palavra. O profeta é o homem que se prende à Bíblia, fala o que ela fala, não a diminui, não a ultrapassa. E deve encorajar o povo a permanecer fiel no compromisso com Deus, a confiar nele e a se lembrar de sua missão neste mundo.”[3] Quando entendemos esta realidade e a vivemos de modo pleno, podemos ter a certeza de que o que dizemos não são meras palavras. Quando somos fiéis ao Senhor e dizemos somente o que Ele deseja e permanecemos firmados em sua Palavra, podemos ter certeza do seguinte: “Nossas palavras não são meras palavras. Com elas liberamos verdades poderosas e impetuosamente imprevisíveis do evangelho, transformando vidas aqui e agora – e para sempre.”[4] Este é o resultado da nossa mensagem se formos fiéis ao evangelho do Senhor.
 
É aqui que entram as expectativas de Deus. O Senhor espera que tenhamos uma postura correcta. Que o nosso viver espelhe o seu carácter, para que isso aconteça, creio que devemos persistir em alguns pontos que eu traço como as expectativas de Deus para nós. Sendo assim, vejamos quais são as expectativas que o Senhor tem para nós.
 
Deus espera que os pastores o conheçam. Esta declaração parece ser ridícula, pois mostra aquilo que é o óbvio, porém, muitas vezes o óbvio não é uma realidade em nossas vidas. Há pastores que afirmam não acreditar em Deus. Não paramos para reflectir sobre esta realidade e procurar saber quantos há em nosso meio que não conhecem realmente o Senhor. Há muitas pessoas que conhecem teoricamente. Sabem falar sobre Deus, mas não experimentaram a graça de Deus em suas vidas. O profeta Oséias diz: “Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra.” (Os 6.3). O desafio que nos é lançado é que nos tornemos para o Senhor. Conhecer o Senhor significa ter intimidade com Ele. O termo conhecer tem uma conotação com uma relação íntima e profunda. Este termo é o mesmo utilizado em Génesis quando diz que Adão conheceu Eva. O profeta diz que devemos conhecer e continuar a conhecer o Senhor. Sinceramente, estamos procurando conhecer o Senhor. Como conhecemos o Senhor?
 
Nosso grande problema actualmente é que o nosso conhecimento é fundamentalmente racional, algo fundamentalmente intelectual, mas não experimental. Este conhecimento experimental deve ser baseado na intimidade que nutrimos com o Senhor. Não está fundamentado nos muitos livros, não está sustentado nos ensinos dos mestres teológicos. Este é um conhecimento pessoal, fruto da nossa busca pelo Senhor. É o nosso desejo de estar cada vez mais com o Senhor. É desejar o Senhor como diz o salmista: “Como o cervo anseia pelas correntes das águas, assim a minha alma anseia por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e verei a face de Deus?” (Sl 42.1-2). Infelizmente, nos nossos dias actuais, nós conhecemos o Senhor através dos estudos, mas não da experiência pessoal com Ele. É o momento de tirar o Senhor dos nossos estudos e passar a ter intimidade com Ele. Orlando Boyer escreveu o livro “Heróis da Fé”, no qual traça a biografia de 20 homens que conheceram intimamente o Senhor. Um destes homens foi Jorge Müllerm e devemos procurar seguir o seu exemplo, pois ele escreveu: “O Senhor me ajudou a abandonar os comentários e usar a simples leitura da Palavra de Deus como meditação. O resultado foi que, quando à primeira noite, fechei a porta do meu quarto para orar e meditar sobre as Escrituras, aprendi mais em poucas horas do que antes durante alguns meses. A maior diferença, porém, foi que recebi, assim, força verdadeira para a minha alma.”[5] É este tipo de experiências que precisamos ter com o Senhor. Não podemos virar intelectuais da fé. É claro que não estou contra o estudo. Não estou contra o aprofundar das questões, o que estou a dizer é que não podemos virar pensadores e intelectuais e assim virar às costas a uma relação íntima e profunda com o Senhor.
 
É facto que existem os que conhecem o senhor da filosofia, mas não o Senhor da História, o Senhor que se revela ao homem. Aqui cabe as palavras de Emil Brunner: “Qualquer que seja o conteúdo das ideias filosóficas de Deus em seus detalhes, um traço característico é comum a todas: é um pensamento humano de Deus, um Deus que é encontrado por meio do pensamento, ou, negativamente, não é um Deus que se revela na história. Esta é a distinção naqueles dizeres de Pascal que é parte do famoso documento encontrado, em sua morte, costurado em suas vestes, o qual foi chamado de seu testamento espiritual, “Dieu d’Abraham d’Isaac et Jacob non des philosophes.”, o Deus da filosofia não é o mesmo Deus da revelação bíblica. Mesmo que não soubéssemos nada da ideia filosófica de Deus além disto, esta seria alcançada ou adquirida pelo pensamento filosófico, saberíamos por isso a coisa mais essencial, ou seja, que este Deus não é o Deus da revelação.”[6]
 
            Em nosso momento actual, alguns procuram conhecer Deus através da ciência. Só para termos uma ideia desta realidade, quero citar dois cientistas que escrevem sobre Deus. Schoroeder escreveu o livro “Deus e a Ciência: A Bíblia explicada por um cientista”[7], outro autor é o físico Frank Tipler que desenvolveu uma teoria chamada o Ponto Ómega que ele diz que na realidade é Deus. O livro que Tipler escreveu é “A Física da Imortalidade”[8], contudo devemos entender que Deus não é instrumento de um tubo de ensaios. Aqui fica muito bem a declaração de Isaltino que diz: “Deus não é matéria da ciência. Nem da filosofia. E o máximo que a ciência nos pode dar é um ser criador, e assim mesmo nada nos revelar sobre o seu amor e sua revelação, bem como o seu propósito para o mundo. E a Filosofia, no máximo nos pode dar uma Razão, um Motor, uma Causa não Causada, mas não um Deus de amor. Pode-se ter, na especulação científica e filosófica, um Deus impessoal, uma causa não causada, mas nunca um Deus de amor e moral, com propósitos definidos para o homem. Isso só a Bíblia pode nos dar. Por isso que as tentativas de provar a existência de Deus nem sempre serão satisfatórias.”[9] Nós precisamos nos voltar para a Bíblia, para o Deus que revela-se a si mesmo e nos dá acesso a Ele. É este Deus que nós precisamos conhecer.
 
Este é o grande desafio para os pastores. Deus espera que nós O conheçamos. Conhecê-lo de modo íntimo e pessoal. Conhecê-lo como o conheciam os profetas que sabiam discernir a voz do Senhor e falavam em nome do Senhor. Conhecê-lo ao ponto de não ter outro deus além do Senhor. É isto que diz a Palavra do Senhor: “eu sou o Senhor teu Deus desde a terra do Egito; portanto não conhecerás outro deus além de mim, porque não há salvador senão eu.” (Os 13.4). É esta a expectativa de Deus para connosco, que O conheçamos e conhecê-lo é ter “conhecimento experiencial, emocional, relacional e profundo. Deus não é matéria de razão pura. É por isto que temos uma Bíblia: ele se revelou. Ele se deu a conhecer. Ele se manifestou na pessoa de Jesus de Nazaré. Podemos conhecer a Deus porque ele se deu a conhecer.”[10] Ele espera que nós o reconheçamos como o nosso Senhor e Salvador.
 
Deus espera que os pastores o conheçam. Esta é a expectativa do Senhor. Mas o que é conhecer a Deus dentro da perspectiva bíblica?
 
Uma boa resposta para esta pergunta nos é dada por Smith que diz: ““Conhecer a Deus” significava ter um entendimento intelectual de quem ele era, ter um relacionamento pessoal e emocional com ele e ser obediente à sua aliança e mandamentos. Um verdadeiro conhecimento de Deus sempre resultava numa conduta ética.”[11]
 
Deus espera que o pastor o conheça de modo pessoal, íntimo, relacional e não teórico. Conhecê-lo desta maneira é ter a consciência dos seguintes aspectos:
 
O Senhor espera que os pastores reconheçam à sua santidade. Deus é santo. Mas o que é a santidade de Deus? “A santidade de Deus consiste na sua própria disposição incondicional, em seu desejo de ser o único Deus e Senhor, não dividindo sua honra com ninguém, mas desejando ter o mundo cheio da sua glória.”[12] A santidade de Deus nos fala que Ele é completamente diferente de nós. Ele é completamente outro e nada pode se comparar a Ele. Deus é independente da criatura. A santidade de Deus fala-nos da sua soberania absoluta. “Dizer que Deus é santo é dizer que Deus é Deus. Santidade sugere o poder, o mistério, a transcendência – mas não a inatingibilidade – de Deus.”[13]
 
Reconhecer a santidade de Deus é entender que Ele é transcendente. Ele é completamente diferente de nós. Contudo, Ele é o Deus que se revela e se dá a conhecer a nós. Por isso, só podemos conhecê-lo à medida da sua revelação a nós.
 
O Senhor espera que os pastores reconheçam que Ele é amor. A essência de Deus é amor (1 Jo 4.8). Deus não necessita da criatura para ser amado e para amar, pois Ele é puro amor. Ele é o Deus de amor. É isso que a ciência e a filosofia não podem expressar. Deus é amor. Ele é o amor e não está preso à sua criação. Harold Kuschner errou quando escreveu que Deus se sentiu solitário e criou o homem para matar sua solidão. Deus não necessita do homem, pois na trindade Ele vive em plena harmonia e amor. É na trindade que reside o verdadeiro amor. O amor é a essência de Deus. Ele não necessitava de ninguém, pois Ele é o amor e o amado.
 
Saber que Deus é amor é ter bem certo que o Senhor escolhe, protege, disciplina, redime. É ter consciência de que este amor é profundo e permanente. Não pode aumentar nem diminuir, pois Deus é amor. Contudo, quando estamos diante da santidade de Deus e do Deus que é amor, não podemos deixar de dizer que Ele é justiça. É fundamental entendermos que sobre nós pesa a ira de Deus. A ira de Deus não faz parte da sua essência, mas a humanidade está sob o efeito da ira divina por causa do pecado. Entretanto, tenhamos a certeza de que “pela morte de Cristo a realidade da ira divina foi removida, mas Deus é o sujeito e não o objeto dessa ação reconciliadora.”[14]
 
Deus é Santo, Deus é amor. Mas o que é então a ira de Deus? Só poderemos entender a ira de Deus, sabendo que Ele é amor e é santo. Sendo assim, “a ira de Deus é um efeito de sua santidade, mas não pertence à sua essência; por outro lado, a santidade de Deus não é idêntica ao seu amor, mas sua vontade santa encontra cumprimento total na realização do amor. Portanto, é o amor de Deus que faz sobressair toda a história da revelação, e é o amor de Deus que conduz à cruz do Salvador. Este amor, entretanto é revelado de tal forma que ao mesmo tempo a santidade de Deus em sua inexorável severidade se torna manifesta.”[15]
 
Deus espera que os pastores proclamem sua santidade, digam que Ele é amor, mas também que anunciem que Ele é justo e recto e por causa da sua rectidão, pesa sobre a humanidade a ira de Deus. O pecado separa o homem de Deus (Rm 3.23). Portanto, na cruz, Deus manifesta todo o seu amor e misericórdia ao homem, para que este possa através da manifestação da graça do Senhor, possa voltar-se para o Senhor. Na cruz que tem sua ira aplacada e o homem agora pode encontrar graça, pois o preço foi pago (Rm 6.23).
 
Deus espera dos pastores obediência. Ninguém gosta de obedecer. O ser humano gosta de mandar, mas não de obedecer. Entretanto, o Senhor espera de nós obediência. Foi justamente isso que Samuel disse a Saul: “Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à voz do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, do que a gordura de carneiros.” (1Sm 15.22). O nosso chamado é um chamado à obediência. Não devemos estar preocupados em tarefas e assumir muitos compromissos. Não somos chamados estar envolvidos em muitas actividades e a viver uma religiosidade feita de sacrifícios. Nosso chamado é para obedecermos o Senhor.
 
Um outro facto importante é que Deus espera que os pastores conduzam o seu povo em seus caminhos. Pastores segundo o seu coração. Pastores que ensinem o povo com ciência e com inteligência (Jr 3.15). Deus espera que os pastores ensinem o seu povo e o preparem para andar no seu caminho. Os pastores não podem buscar os seus próprios interesses. O Senhor afirma que estes pastores devem tomar cuidado. É isto que encontramos na sua Palavra: “Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto, diz o Senhor.” (Jr 23.1). Pastores não são para destruir o rebanho do Senhor, são para cuidar e ensinar em todo o conhecimento do Senhor. O texto de Jeremias é muito claro e diz: “e vos darei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com ciência e com inteligência.” (Jr 3.15). Duas palavras aqui são importantíssimas para nós. O Senhor diz que pastores segundo o seu coração apascentam o rebanho com ciência. Será que Deus está interessando em cientistas? Será que os pastores devem estar envolvidos nas questões científicas para poderem ensinar o povo de Deus? Não é isso que Ele nos diz em sua Palavra?
 
O termo ciência (deah), significa a verdade divina concernente a Deus e os seus melhores interesses em relação ao homem. Deus deseja a salvação do homem e que este mantenha uma relação íntima com Ele. O outro termo utilizado é inteligência (haskeil), que quer dizer entendimento. A capacidade para fazer a interpretação completa de cada ponto que tem sido recebido da vontade do Senhor. É esta interpretação que conduzirá a sabedoria, santidade e felicidade. O Senhor espera que possamos levar o povo a estas realidades. Ele deseja que tenhamos conhecimento e entendimento. Que seus pastores sejam sábios, não na sabedoria humana, mas nos caminhos do Senhor. É sempre bom lembrar que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Pv 1.7). Pastores devem temer o Senhor. Devem obedecê-lo e assim, terão condições de ser pastores segundo o coração de Deus.
 
O Senhor espera que os pastores tenham consciência de sua debilidade. Este é um aspecto muito importante para nós. Não podemos pensar que somos fortes e auto-suficientes, nós somos débeis e frágeis. Somos seres humanos falhos e não semi-deuses. Por isso, Paulo declarou: “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não da nossa parte.” (Co 4.7). O barro mostra a nossa fragilidade, mas também mostra como podemos ser moldados pelo Senhor. Deus espera que estamos aptos para sermos pessoas moldáveis, pessoas que podem ser trabalhadas e que, apesar das nossas falhas possamos ser burilados.
 
É fundamental que termos consciência das nossas fraquezas e que é através delas que podemos ver o poder e a graça do Senhor a se manifestarem de modo poderoso em nosso vida. É somente quando estamos fracos que podemos ouvir o Senhor a dizer-nos que a sua graça nos basta (2 Co 12.9). Deus está no comando de nossas vidas, mas nós devemos entender que continuamos a ser pessoas falhas, mas apesar dessas debilidades e fraquezas, nada nem ninguém nos separará do amor de Deus em Cristo Jesus (Rm 8.31-39).
 
O Senhor espera que reconheçamos as nossas debilidades. Espera que sigamos o caminho do nosso Senhor Jesus. O chamado do Senhor é para que tomemos à cruz e o sigamos (Lc 9.23). Contudo, devemos sempre lembrar o seguinte: “A cruz, o símbolo principal de nossa fé, convida-nos a ver graça onde há dor; a ver ressurreição onde há morte.”[16] A graça e a vida estão no Senhor e tudo o que de bom que fazemos é pela graça de Deus. Mas não podemos esquecer de quem somos e como somos. Paulo nunca esqueceu quem ele era, por isso, ele dizia: “Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24). Esta era a consciência do apóstolo e deve ser a nossa também. Não podemos esquecer a nossa debilidade e fragilidade. Nosso chamado é para desfrutarmos da graça de Deus e manifestá-la aos demais, sem nunca esquecer que somos pecadores. Somos dos piores que existem. Era assim que Paulo se via e é assim que devemos nos ver. Devemos dizer juntamente com Paulo: “Fiel é esta palavra e digna de toda a aceitação; que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais sou eu o principal” (1 Tm 1.15). Não podemos esquecer que somos miseráveis pecadores e que a graça se manifestou a nós. Portanto, o nosso viver de ser numa constante atitude de gratidão ao Senhor e sempre conscientes da nossa fragilidade e debilidade. Enfrentar nossas debilidades é lutar contra o pecado. É lutar contra nós próprios. Sendo assim, ao realizar esta luta, estamos a fazer as amputações humanas, estamos a nos auto limitar, mas esta é uma decisão pessoal, “é autocirurgia, é autoamputação. Tem a ver com a sua vontade, com sua decisão. Saiba de uma coisa. Quem as faz, não se reduz, só cresce, expande-se, torna-se mais pleno, torna-se mais gente, torna-se mais realizado, torna-se completo.”[17]
 
Deus, o Senhor espera que nós vivamos a vida cristã de modo coerente. Ele espera que nós pastores tenhamos bem claro o nosso chamado. Precisamos viver a vida de modo consciente para não virmos a ser achados no grupo daqueles que se afastaram da caminhada e estão à procura de fama e sucesso. O nosso chamado é para conhecermos o Senhor e andarmos com Ele, sabendo das nossas fragilidades e descansando em sua graça.
 
Que assim seja e se faça assim para honra e glória de Jesus.
 

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[1] HORTON, Michael (ed.) Religião de Poder, 1ª Edição Editora Cultura Cristã, São Paulo 1998
 
[2] PRICE, Donald E. (org.) O Pastor, profeta de Deus, 1ª Edição Edições Vida Nova, São Paulo, 2002
 
[3] COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Descubra agora: a ética dos profetas para hoje – Exodus Editora, São Paulo 1997
 
[4] Op.Cit
 
[5] BOYER, Orlando. Heróis da Fé: Vinte homens extraordinários que incendiaram o mundo, 1ª Edição CPDA Rio de
 
Janeiro 2005
 
[6] BRUNNER, Emil. O Escândalo do Cristianismo, - Editora Cristã Novo Século Ltda, São Paulo 2004
 
[7] Este livro em Portugal foi publicado pela Publicações Europa-América
 
[8] Este livro em Portugal foi publicado pela Editora Bizâncio
 
[9] COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Teologia Sistemática I www.ibcambui.org.br
 
[10] COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Pastoral da Igreja Baptista do Cambuí 22/08/07 em www.ibcamui.org.br
 
[11] SMITH, Ralph. Teologia do Antigo Testamento. História, Método e Mensagem, 1ª Edição Edições Vida Nova, São
 
Paulo, 2005
 
[12] Op.Cit
 
[13] Ibid
 
[14] Op.Cit.
 
[15] Ibid.
 
[16] NOUWEN, Henri. Transforma meu pranto em dança, 2ª Edição Textus Editora Rio de Janeiro, 2003
 
[17] D’ARAÚJO FILHO, Caio Fábio. A Misericórdia de Deus e as amputações humanas, 4ª Edição Editora SEPAL, São
 
Paulo 1995


Meus queridos,
 
Acabei de escrever a minha segunda reflexão.
Confesso que não fiz a correcção da mesma, mas desejo partilhá-la com os queridos assim mesmo.
Um abraço,
 
nEle,
 
Marcos Amazonas
 
 
77. O Que o Pastor Espera de Deus?
 
 
O  ministério pastoral é algo fascinante. Estou envolvido com esta realidade já faz mais de 20 anos. Entretanto, reconheço que tenho apenas dez anos de consagração e ministério efectivo como pastor titular de uma igreja. Tenho procurado viver cada dia como se fosse o último da minha vida. Contudo, em todos estes anos, tenho chorado por situações complexas que tive que atravessar e principalmente por ver meus filhos que não foram chamados para o ministério serem arrastados em momentos delicados que deveriam ser vivenciados por mim. É verdade, que durante este período de tempo, em cada momento tenho visto o agir de Deus em nossas vidas. Temos exultado e nos alegrados pelas misericórdias do Senhor que se renovam a cada manhã. É somente por causa das misericórdias do Senhor que estamos aqui, pois tenho consciência da minha debilidade e fraqueza.
 
            Eu não queria ser pastor. Fugi desta realidade e na minha fuga, tornei-me como o pródigo que causou dano à sua família, mas muito mais a si mesmo. É isto mesmo, fiz meus pais sofrerem e muito. Dei muitas preocupações aos meus irmãos, mas neste processo todo, eu era o que estava a ficar completamente destruído. Fugi, mas um dia desejei regressar e sei que este desejo foi agir de Deus em minha vida. Tenho consciência que foi em resposta às muitas orações intercessórias que eram feitas ao Pai por mim. Voltei arrependido, fui recebido como filho. Fui acolhido, amado e agraciado. Meu ser se encheu de alegria, a vida passou a ter outra cor. Entretanto, as marcas do passado estavam presentes, a luta foi constante. Aconteceram quedas, mas minha mãe estava ali para ajudar-me e amparar-me. Não posso esquecer que meu regresso foi da inteira responsabilidade daquela senhora frágil de voz meiga, mas que era mulher de oração como poucas.
 
            Minha mãe foi deixando bombas de efeito retardado em meu caminho. Ela orava e suplicava para que o Senhor me guardasse onde quer que eu estivesse e ela sabia que eu estava a fazer coisas completamente despropositadas. Estava a viver envolto no pecado, mas ela calada intercedia. Contudo, ela manteve sua coerência, na igreja pediu que eu fosse disciplinado. Não tinha vida para continuar como membro da igreja. Não dá para imaginar a dor que ela sentiu ao ter que tomar tal atitude, mas o fez por amor à igreja e por seu filho.
 
            O Senhor atendeu à súplica da minha mãe. Ele me resgatou. Aliás, eu sabia que não ficaria para sempre naquela vida de pecado. Eu tinha consciência do chamado de Deus, mas eu não queria obedecê-lo. Eu tinha consciência que dia menos dia, estaria a servir o Senhor, só não queria que fosse como pastor. Não queria uma responsabilidade tão grande para mim. Não a queria, porque via na minha família as lutas de um pastor. É verdade, faço parte de uma família pastoral. Meu avô paterno era pastor, seu filho mais velho também. Meu pai também seguiu o ministério pastoral. Tenho um primo pastor e ainda uma tia que casou com um pastor. Pensava que a cota de pastores na família já estava completa. Entretanto, o Senhor não pensava assim e ainda bem que não. Regressei como o pródigo e desejei dedicar toda a minha vida ao serviço do Senhor. Já se passaram vinte e poucos anos e continuam com o mesmo desejo. A única coisa que almejo nesta vida é servir o Senhor com todas as forças do meu ser.
 
            Desde o meu regresso, tenho procurado servir o Senhor. Este desejo levou-me a desejar a obra sobremodo excelente (1 Tm 3.1). Desejei o pastorado. Não quis ser outra coisa na vida. Aliás, a vida não teria sentido se não fosse no ministério. Com todas as minhas imperfeições e debilidades o Senhor aceitou o meu desejo. Fui para o seminário e ali aprendi bastante, mas movido pelo desejo de fazer algo urgente, casei nos encaminhamos para Portugal. Ficamos dois anos a servir na REMAR, uma obra que muito nos ensinou sobre viver na dependência do Senhor. Dois anos depois regressamos para o Brasil e na cidade de Manaus conclui o meu curso. Não quis ser consagrado ao ministério, pois dizia que só o seria quando houvesse uma igreja para pastorear. Não queria o título de pastor. Não queria e não quero títulos. Meu desejo é apenas ser um servo que está a realizar a obra do seu Senhor. Foi assim que recebi o convite para regressar a Portugal e pastorear uma missão na pequena cidade de Oliveira do Hospital. Depois de um tempo em oração aceitamos o desafio e já se passaram dez anos. Passamos seis anos em Oliveira do Hospital e já faz cinco que estamos em Coimbra. Cada dia é uma aventura nova. Mas como cantava Gonzaguinha: “Começaria tudo outra vez se preciso fosse”, assim eu também digo.
 
            Sou pastor e quando assumi o pastorado, assumi-o cheio de expectativas. Assumi-o desejando ser eu mesmo. Não queria ser cópia de ninguém. Mas assumi-o olhando para o alto, na certeza de que o Senhor era comigo. Entrei para uma jornada diária com Deus. E nesta jornada eu trilho na expectativa de que Deus vai fazer algumas coisas. Eu espero muito de Deus para o meu ministério pastoral. Estas minhas expectativas, creio que não sejam somente minhas, mas de todos os que exercem liderança na igreja. Sendo assim, o que um pastor espera de Deus?
 
Não irei trabalhar fundamentado numa ordem lógica, mas apenas traçarei as expectativas que como pastor eu tenho traçado e espero que Deus me conceda cada uma destas realidades. Sendo assim, quero começar afirmando que o pastor espera que Deus o sustente. Essa é uma realidade que está a fugir do nosso controle. Vivemos com contas a pagar, com livros para comprar, filhos para sustentar e queremos ter um vencimento que dê para suprir todas as coisas. Sendo assim, muitas vezes o pastor se envolve num activismo religioso para ganhar «nome» e galgar uma posição melhor e ser um gestor e administrador de uma grande igreja e com isso ter garantido um bom vencimento no fim do mês. Hoje queremos apresentar o nosso «curriculum vitae» e com ele dizer que somos dignos de auferir um bom soldo. Quando assim fazemos, deixamos de depender do Senhor. Somos nós que estamos agindo. E se não dependemos do Senhor, nos tornamos empregados da igreja, por mais que isso nos custe. Não podemos depender da igreja. Não podemos esperar chegar a uma posição de destaque e assim ter um vencimento fabuloso e viver a vida como se isso nos bastasse.
 
            Como pastor devemos esperar que o Senhor nos sustente. Ele é quem supre as nossas necessidades. É interessante ver o que David diz: “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.” (Sl 23.1). A parte final deste verso é de uma força extraordinária. Nada me faltará. David diz que por ter Deus como seu Pastor, como seu dono, tudo lhe é provido. E aqui é bom pensar em tudo mesmo. David diz que depende do Senhor para suprir todas as suas carências. O pastor deve esperar que o Senhor, o seu supremo Pastor o sustente em todas as áreas de sua vida. O pastor deve depender da provisão do Senhor e não dos homens. Lembro-me ainda dos meus tempos de seminário. Certa vez uma colega perguntou ao professor o que o pastor deveria fazer quando a igreja não estivesse a remunerá-lo dignamente. O professor então disse claramente: “Fale com o seu patrão”. Apresente a situação ao Senhor e espere por Ele. Se o Senhor achar que a situação é real, Ele irá tocar alguém na igreja para tratar deste assunto. Se a igreja não der ouvidos, o Senhor enviará outra igreja, mas se Ele achar que é o suficiente, viva na dependência do Senhor.” Fundamentado neste princípio, adoptei para mim que nunca pedirei aumento de salário, nunca falarei sobre o meu sustento. Este é um assunto que o meu Pastor toma conta. Ele é o meu Sustentador.
 
            Não estou a dizer que devemos fugir da realidade de ter um salário. Não é isso. Estou afirmando é que não podemos por nossa dependência no salário e naquilo que a igreja se comprometeu connosco. Deus é quem nos sustenta. Gosto de ler a vida de Jorge Müller, um homem de fé, que esperou em Deus e viu todas as suas necessidades serem supridas. No início de seu ministério, ele colocou uma caixa no salão e disse aos membros da igreja que deveriam deitar ali as ofertas que seriam o seu sustento. Ele não queria um vencimento da igreja porque afirmava que estaria a confiar no dinheiro em caixa em vez de confiar em Deus. Não sou Jorge Müller e não tenho uma caixa onde os irmãos ofertam para que eu tenha o meu vencimento, mas tenho aprendido a confiar no Senhor e esperar que o meu sustento venha da parte dEle.
 
            O pastor deve esperar que o Senhor dirija sua vida por todos os caminhos. O Senhor deve ir à nossa frente. É o Senhor quem deve nos conduzir e dirigir. Voltemos mais uma vez ao salmo 23, mas não vamos fazer uma análise do salmo e muito menos a exegese do mesmo, vamos ver o que David diz simplesmente que mostra esta realidade. Vejamos o salmo:
 
O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.
 
Deitar-me faz em pastos verdejantes; guia-me mansamente a águas tranqüilas.
 
Refrigera a minha alma; guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome.
 
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
 
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos; unges com óleo a minha cabeça, o meu cálice transborda.
 
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias.
 
            Este salmo sobejamente, mas nós não temos o hábito de contemplá-lo. Sempre gostei deste salmo, mas quando estive a viver em Oliveira do Hospital, uma região de pastoreio, tive o privilégio de contemplar o salmo. Recordo-me das vezes que passava e via os pastores a guardar o seu rebanho. Ficava a imaginar David a escrever seu salmo. Muitas vezes parei à beira da estrada e fiquei a contemplar os pastores que não se afastavam do seu rebanho. Eles estavam sempre com suas ovelhas. Este quadro bucólico transportou-me para o Senhor Jesus que disse claramente ser o bom Pastor. E se meditarmos em suas palavras vemos que Ele afirma que estará a dirigir suas ovelhas por todos os caminhos.
 
            É o Senhor quem nos conduz nos momentos de tranquilidade. É Ele quem nos concede a tranquilidade e o descanso para podermos parar e relaxar. O Senhor nos leva aos locais tranquilos para que possamos repousar e refazer as nossas energias.
 
            Não obstante quando estamos a enfrentar as dificuldades, quando estamos a atravessar o nosso pântano, podemos seguir em segurança, pois o Senhor vai à nossa frente. David tinha essa convicção e foi ela que o fez dizer que passaria pelo vale da sombra e da morte, mas não ficaria nele. O Senhor estava a conduzi-lo através daquela situação. Precisamos ter essa consciência de que o Senhor está connosco e a conduzir-nos em todos os caminhos.
 
            Ser pastor é uma caminhada fabulosa e estimulante, mas só faz sentido se o Senhor estiver connosco. É interessante ver o desejo de Moisés. Ele pede para que o Senhor revele os seus propósitos a ele. O Senhor garante que irá acompanhá-lo e então Moisés diz ao Senhor: “Se não fores connosco, não nos envies.” (Êx 33.15). Este também deve ser o nosso desejo. Que o Senhor siga connosco. Que Ele vá a nossa frente guiando-nos abrindo o caminho. Se não for assim, se for para caminhar sozinho e não esperar no Senhor, será melhor abdicar do ministério e da vida, pois ela deixa de fazer sentido. A vida e o ministério só fazem sentido se o Senhor for connosco.
 
            Um pastor espera que o Senhor fale através dele. O ministério pastoral é sobremodo excelente, mas é um ministério sobrenatural. Ele não é exercido fundamentado na capacidade humana, mas sim espiritual. É comum em nossos dias, vermos pastores falando. É comum ouvirmos belos discursos e sermões homileticamente perfeitos. Estamos a viver na era dos extremos, pois temos excelentes exegeses bíblicas, mas também temos aberrações que destroem o texto e o seu significado. Mas o pastor não pode querer falar. O pastor não tem voz, ele precisa ser apenas o canal que Deus utiliza para manifestar sua mensagem. Muitas vezes precisamos ficar calados, ou então ter a coragem de dizer que aquelas palavras não são do Senhor, mas nossas. Paulo fez isso e fê-lo conscientemente. Ele reconheceu que suas palavras eram meras palavras e não tinham nada de divino nelas. Contudo, quando vinha do Senhor ele ensinava na autoridade do Senhor, e não precisava dizer mais nada.
 
            Esperar que o Senhor fale através de nós é um desafio, pois muitas vezes teremos que ficar calados porque não teremos nada para dizer. Elias é um exemplo desta realidade. Quando lemos a história deste grande servo de Deus ficamos impressionados porque ele fala e desaparece. Passa três anos calado, sem ter nada para dizer e não entra em crise, pois a única coisa que ele desejava era que o Senhor falasse através dele. Nossa realidade é diferente, queremos sempre ter algo que dizer ao povo, mas é de fundamental importância entender que “Deus não fala sempre que falamos em nome dele. Nem se revela sempre que produzimos teo-LOGIAS.”[1]
 
            O nosso grande problema é que hoje queremos pregar, queremos ser iluminados pelo Senhor para poder interpretar o texto, mas nosso desejo maior deve ser o de que o Senhor fale através de nós. Precisamos ser como João o baptista, apenas uma voz que clama no deserto. O problema é que não gostamos e nem queremos ser apenas uma voz. Queremos ser aquele que fala, mas o pastor não pode falar. Ele deve ser apenas a voz. Quem deve falar é o Senhor. Contudo, se “Deus não falou, o melhor que faço é estar calado. Ou então ter a coragem de falar apenas em meu próprio nome. No silêncio de Deus é melhor falar como ateu sensato do que como profeta devoto que põe na boca de Deus lindas palavras que ele não disse.”[2]
 
            O pastor deve esperar que o Senhor fale. Aliás, o pastor precisa ter a coragem de dizer abertamente como Jeremias: “eu não sei falar” (Jr 1.6), mas mesmo sem saber falar, precisa estar disponível e na expectativa de que o Senhor o use. Como pastor devemos estar desejo de ouvir o Senhor a falar e dizer-nos o que disse a Jeremias: “Eis que ponho as minhas palavras na tua boca.” (Jr 1.9). É isso que eu espero, que o Senhor fale através de mim. Quero apenas ser uma voz e nada mais.
 
            O pastor espera que Deus o console. Nos dias actuais as livrarias evangélicas estão repletas de livros que falam como ser um pastor bem sucedido. Há livros que tratam de tudo, mas sempre na perspectiva do sucesso. Os pastores estão a virar astros, são administradores ocupadíssimos. O ministério está a ser vivido dentro de uma visão de grande sucesso e prazer. É verdade que ainda hoje existem muitos que olham para o ministério pastoral e acham ser uma coisa sem valor. Dizem que a pessoa não conseguiu ser nada na vida e então seguiu para o pastorado. Mas o pastorado não é nem uma coisa nem outra. O pastorado é a obra sobremodo excelente, mas ele deve ser exercido na perspectiva da cruz. Sendo assim, quando pensamos na vida pastoral devemos pensar no sofrimento, na dor que daí virá.
 
            É importante voltarmos a contemplação do pastor. Ver que ele tem que ficar exposto ao sol, sair pelos terrenos para conhecer cada situação para depois levar o seu rebanho em segurança. Mas o pastor passa pelo sofrimento de ter que desbravar o caminho, de muitas vezes perder ovelhas e em meio às suas dores, precisa encontrar o consolo no Senhor. O pastor deve esperar que o Deus de toda consolação o console. Diante do banquete, rodeado pelos inimigos, o Senhor faz com que o nosso cálice transborde, Ele nos consola e nos guarda.
 
            Não tenho desejo maior do que o de ser consolado pelo Senhor. Isso porque o ministério pastoral é feito em lágrimas. É fabuloso ver o que diz o salmista: “Aquele que sai chorando, levando a semente para semear, voltará com cânticos de júbilo, trazendo consigo os seus molhos.” (Sl 126.6). O pastor é um semeador. É um andarilho e a caminhada é cansativa e dolorosa, mas há o consolo do Senhor e a certeza de que a volta será frutífera e com resultados.
 
            O pastor espera que Deus o use apesar das suas debilidades. Não somos perfeitos. Somos seres humanos falhos e cheios de pecados. A nossa caminhada não será perfeita. Teremos muitas falhas. Cometeremos muitos erros, mas apesar disso, contamos com a misericórdia do Senhor e esperamos que Ele na sua graça nos use apesar das nossas fraquezas. Dizer isso, não é assumir uma atitude de relaxamento e conivência com o pecado, longe disso. O que pretendo é que tenhamos presente nossas fraquezas e tentações e que saibamos que o pecado é real, mas o Senhor que nos chamou e que não desiste de nós usar-nos-á, se nos arrependermos e confessarmos os nossos pecados (1 Jo 1.9). O Senhor concede-nos sempre uma nova oportunidade.
 
            Elias foi um profeta tremendo, mas num determinado momento desistiu da vida, mas também se achou como o único que estava para ser representante de Deus. Depois ele pensa que era devia morrer porque não era melhor que ninguém. Apesar disso, o Senhor usou Elias poderosamente. David que nós admiramos tanto que deixamos de ver a tragédia de pai que ele foi, esquecemos o péssimo esposo e o amigo infiel que ele foi. Nós esquecemos todas estas situações da vida de David justamente pelo facto do Senhor o ter usado apesar das suas debilidades. Contudo, não podemos esquecer o quebrantamento de David, o modo como ele reconhecia o seu pecado e pedia perdão ao Senhor.
 
            Nós temos dificuldade em perdoar alguém que pecou. Não queremos dar uma nova oportunidade. Nos nossos dias actuais os discípulos de Jesus jamais teriam outra oportunidade. Gostamos de acusar Pedro, mas o facto é que todos fugiram e abandonaram o Senhor. Somente João esteve presente na crucificação e isto porque as mulheres o obrigaram a levá-las para perto do Senhor. Para nós, aqueles onde apóstolos estariam desqualificados, mas o Senhor os perdoou e apesar daquela debilidade os usou poderosamente. O diálogo do Senhor com Pedro, que é narrado por João é fabuloso. Não há censura, não há reprimenda. Jesus abre a porta da reconciliação. Pedro declara seu amor ao Senhor e o Senhor diz para ele apascentar suas ovelhas. O Senhor continuou a contar com os apóstolos apesar de suas debilidades. O pastor deve esperar que o Senhor o use apesar das suas debilidades.
 
            As nossas fraquezas indicam que precisamos estar atentos e que não somos deuses. Elas apontam para a nossa condição de criaturas dependentes do Sumo Pastor. Sendo assim, que possamos esperar e desejar que apesar dos nossos pecados, o Senhor nos use para sua honra e glória.
 
            Quero concluir com uma resposta que resumirá tudo o que foi dito em relação a pergunta: O que o pastor espera de Deus?
 
            O pastor espera ser um servo usado para honra e glória do Senhor.
 
 
 
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[1] D’ARAÚJO FILHO, Caio Fábio. Elias está nas ruas, 1ª Edição, Editora Betânia, Belo Horizonte, 1990
[2] Ibid
 

Queridos,
 
Depois de um tempo ausente por motivos ministério, regresso com o meu mais recente texto sobre as reflexões pastorais.
Espero que o mesmo sirva para a vossa reflexão e se desejarem criticar e comentar o mesmo eu agradeço.
Ainda não parei para revisá-lo. Desejo primeiro escrever todos os textos e depois ire revisar com calma.
 
Um abraço,
 
nEle, o nosso Bom Pastor.
 
 
Marcos
 
 
 
 
 
78. O que a Igreja espera do pastor?
05/09/07
 
 
U ma das coisas que eu mais tenho prazer em fazer é participar de uma boa conversa. Gosto de conversar, mas não gosto de ficar a tratar tudo com seriedade. A vida não é aborrecida. Não somos chamados para ser pessoas chatas e emburradas. Contudo, vejo que há muita gente que pensa que a igreja é um grupo de pessoas chatas e que estão de mal com a vida. Não posso deixar de concordar com este aspecto, pois tenho consciência de que há muitos crentes que vivem amargurados, com raiva da vida. Não desfrutam da graça do Senhor. No entanto, o apóstolo Paulo diz: “Toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfémia sejam tiradas dentre vós, bem como toda a malícia.” (Ef 4. 31). A igreja necessita a aprender a retirar essas coisas do seu meio. E o que estou a dizer aqui está relacionado a minha pessoa também, pois eu sou igreja. Não estou desejando atirar pedra nos outros, antes e pelo contrário, estou a olhar para mim mesmo. Eu necessito fazer muitas retiradas em minha vida. Não sou perfeito, e minha caminhada é feita de altos e baixos. Mas eu continuo a ser igreja do Senhor e como Igreja, tenho o privilégio de exercer o ministério pastoral. Contudo, antes de ser pastor, estive do outro lado. Fui daqueles que questionavam os pastores. Fui um dos mais céleres críticos dos pastores. Como o meu pai sofreu com as minhas críticas!
 
            Hoje faço parte do grupo dos criticados. Estou do outro lado, mas será que existe outro lado? É claro que não, mas nós agimos como se houvesse o lado dos pastores e o lado da igreja. Perdemos a visão de que somos um e que este um, é a igreja que deve viver em unidade. Li num dos livros de Martyn Lloyd-Jones que nós só destruímos a unidade e tenho que concordar com ele. A unidade quem promove é o Espírito Santo, nós simples mortais e pecadores só a destruímos com as nossas esquisitices e birras. Mas o nosso chamado é para sermos pacificadores. Não somos chamados para fazer parte daqueles que causam problemas, mas infelizmente, na maioria das vezes temos causado muitas dores a nossos irmãos.
 
            Eu sirvo a igreja como pastor, mas o que a igreja espera de mim? O que a igreja espera do pastor? É fundamental reflectir sobre este aspecto. O que a igreja deseja que seu pastor faça?
 
            Nossos dias são dias de incertezas. A confusão é tanta, que muitas vezes, pastores perdem o rumo e igrejas também não sabem o que esperar de um pastor. Numa conversa com um bom amigo ele certa vez disse-me: “Nossa igreja deixou de ter um pastor e ganhou um pregador.” É verdade que também já ouvi que a igreja tem um pastor, mas não tem um pregador. Como pode ser isto? Penso que em muitos casos a igreja deseja um discurso bem elaborado, quer que seu pastor tenha uma boa retórica, mas será isto pregação? Uma boa definição de pregação nos é apresentada por Blackwood que declara que a pregação é “verdade divina através da personalidade ou a verdade de Deus apresentada por uma personalidade escolhida, para ir ao encontro das necessidades humanas.”[1]
 
            O ministério pastoral é um ministério de contacto. É uma caminhada lado a lado com a igreja, mas acima de tudo com Deus. Essa caminhada será essencialmente focalizada no púlpito, onde o pastor tem a oportunidade de transmitir os ensinamentos da Palavra de Deus, mas o grande problema é que a pregação em nossos dias está a ser desacreditada. Para muitas pessoas pregação é sinónimo de discurso e nós devemos resgatar a excelência da pregação. A mensagem deve ser considerada por nós “a mais nobre tarefa que existe na terra. Aquele que é chamado por Deus para proclamar o Evangelho deveria destacar-se como o homem mais importante na sua comunidade, e tudo quanto fizesse para Cristo e para a Igreja deveria manifestar-se na sua pregação. No púlpito ele poderá fazer muito do seu melhor trabalho para o tempo e para a Eternidade. Em geral devemos empregar nossos superlativos parcimoniosamente, mas não quando falamos da obra do pregador.”[2] Mas isso só pode ser real se o pregador estiver consciente da importância da pregação. Cabe ao pregador priorizar o seu tempo e não se deixar prender por aspectos que mesmo sendo importantes, não podem roubar-lhe da prioridade da sua vida que deve ser a oração e o ministério da Palavra (Act 6.4). Creio que grandes problemas poderiam ser evitados se nós estivéssemos atentos a esta realidade.
 
            Um pastor que tenha como prioridade a oração e o estudo da Palavra será um pastor que corresponderá aos anseios da igreja e suas expectativas. Mas quais são os anseios e desejos de uma igreja em relação ao pastor?
 
            A igreja espera que o pastor tenha amor por ela. Este é um aspecto muito importante, pois o pastor que deseja ser relevante e estar no centro da vontade de Deus, deve amar a igreja em que está a servir. A luta é ponto de tensão neste momento é que o ministério pastoral está a ser misturado com profissão. Há pastores que estão agindo como profissionais da religião e também há igrejas que desejam um profissional da religião e não um pastor. Quando isso acontece a relação deixa de ser uma relação íntima e profunda. A relação que existe é fria e distante. Existem horários para todas as coisas e o pastor torna-se um líder, um administrador ou até mesmo um bom psicólogo, é tudo menos um pastor.
 
            É muito interessante lermos o capítulo 10 de João, pois o mesmo surge num contexto de uma discussão com a liderança nos dias de Jesus. Nesta discussão Jesus declara-se o Bom Pastor e diz que o bom pastor ama as suas ovelhas e dá a sua vida por elas. Entretanto, Ele também afirma que os que não são pastores, estão apenas ali para tirar proveito e não estão interessados na vida das ovelhas. Nós somos seguidores de Cristo. O nosso desejo é copiar o seu exemplo, e, sendo assim, devemos ter em nós a mesma atitude, o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus (Fp 2.5-8). Ter a mesma atitude que houve no Senhor Jesus significa amar a sua igreja. Amar profundamente e desinteressadamente. É doar-se a ela com todas as suas forças. É amar sem nunca desistir. João diz que o Senhor Jesus amou os seus até o fim (Jo 13.1) e é desta maneira que os pastores devem agir.
 
            O ponto de partida para que possamos vir a desenvolver um amor sadio e autêntico, fundamenta-se na nossa capacidade avaliativa de vermos nossa indignidade e o modo maravilho como o Senhor nos perdoou (Lc 7.36-50). Quando vemos nossos pecados como terríveis e a maneira como o Senhor nos perdoou, nós o amamos e amamos muito. Nós o amamos porque Ele nos amou primeiro (1 Jo 4.19). Aprendemos a amar quando estamos em Deus e Deus age em nós. O pastor deve ter uma visão correcta de si mesmo. Quando olhamos para os nossos irmãos como sendo superiores (Fp 2.13), isso porque temos consciência dos nossos pecados e nos vemos como o pior de todos (1 Tm 1.15). Se nutrirmos esta atitude, olharemos para nossos irmãos com misericórdia e não com uma atitude acusatória. É preciso que tenhamos consciência de que nossas igrejas estão a passar por momentos complicados e “uma das maiores necessidades da igreja hoje é o amor, que os crentes devem demonstrar entre si e pelos que os cercam.”[3] E este amor deve primeiramente demonstrado pelo pastor e como é que isso se torna concretizável?
 
            O pastor que ama está disposto a entregar-se completamente à sua igreja. Ele doa-se completamente. Nosso problema é que estamos limitando o nosso ministério pastoral ao relógio. Queremos que as pessoas marquem hora, queremos ter um tempo para nós. Devemos olhar para a vida de Jesus, que mesmo quando saia para estar sossegado e as pessoas vinham ter com Ele, elas era recebidas e acolhidas com amor. O Senhor interrompia o seu sono, o seu cansaço e recebia as pessoas e creio sinceramente que as igrejas desejam pastores que estejam disponíveis a ter esta atitude. Elas estão desesperadas e muitas vezes o seu desespero apresenta-se nas horas mais incómodas para nós, mas é justamente neste momento que devemos estar presentes e entregando-nos a elas em amor.
 
            O pastor que ama é aquele que perdoa. Perdão não é algo simples e fácil. Perdão é um acto de misericórdia ao agressor e um acto de injustiça ao agredido. O agredido inocenta o culpado e o justifica. O pastor que ama deve ser alguém disposto a perdoar. Este acto de perdoar direcciona as injustiças que são dirigidas a ele próprio, mas também ao pecado que seus irmãos cometem. Perdoar é restaurar vidas. O nosso chamado é para restaurar os caídos, é para promover cura e não destruição. Quem ama perdoa e quem perdoa levanta o caído.
 
            O perdão distingue-se pela capacidade de suportar o sofrimento. Quem ama resiste ao sofrimento. É por isso que Paulo diz aos coríntios que o amor tudo suporta. Para termos uma ideia desta capacidade de sofrimento, vou reproduzir aqui uma pastoral que o pastor Darci Dusilek escreveu para a Igreja Batista de Itacuruçá. Já não tenho mais o boletim, por isso, não poderei dizer a data do mesmo. Contudo, o mais importante é o texto e ei-lo na íntegra:
 
O Amor sofre
 
O amor tudo sofre. No que essa afirmação difere da encontrada logo no início de Coríntios 13.4? Ali se afirma que o amor é sofredor. A palavra que Paulo usa no verso 4 é makrotumia e significa a capacidade do amor resistir ao sofrimento durante um processo longo. Agora ele utiliza outra palavra – stego, no grego – cujo significado é a capacidade de dar suporte em qualquer atuação ajudando a levantar e restaurar o que se encontra abatido. Em 1 Pe 4.8 temos um outro sentido de stego: o amor cobre uma multidão de pecados.
 
            No texto de 1 Pedro 4:8 verifica-se que o amor detesta escândalos. O amor ágape bloqueia a nossa tendência de falar demais sobre os assuntos. Ajuda-nos a manter a boca fechada sobre a falha dos outros não para fazer vista grossa mas para ajudar no processo da cura e restauração daquele que errou.
 
            O amor tudo sofre destaca o sentido da solidariedade que devemos mostrar na comunidade da fé. Significa que ao vermos o sofrimento de alguém nos colocamos ao seu lado para ajudá-lo a carregar o peso daquele fardo. Quer dizer, também, o amor de Deus que em nós opera nos leva a invadir a privacidade do sofrimento do próximo afim de torná-lo mais leve. Quando nos colocamos ao lado do que sofre, ajudamos a remover aquele sofrimento.
 
            É o amor que une e dá sentido a todas as coisas, que as sustenta e que as mantém em movimento. A menos que a sociedade seja mantida pelo amor, o que tem uma organização eficiente. A lei sozinha não sustenta uma sociedade. Necessita de amor. A justiça somente pode responder as necessidades reais das pessoas quando administradas com base no amor. O poder pode tornar-se desumano se não for exercido com amor. O amor ágape tem a capacidade de manter o equilíbrio na aplicação das leis, da justiça e no exercício do poder.
 
            Em Cristo somos parte do projeto do amor de Deus para este mundo. Um projeto que ultrapassa os limites e confinamento do tempo e que tem a sua consumação prevista na inauguração de um novo tempo, uma nova terra, onde todas as coisas serão completamente dominadas pelo amor de Deus.[4]
 
            Estamos a necessitar de pastores que vivam esta realidade nas suas vidas. Igrejas estão desejosas de pastores que estejam preparados para restaurar os seus feridos, acolhê-los e ampará-los, promovendo cura, mas acima de tudo, que sejam pessoas que estejam dispostas a dar suporte aos seus liderados.
 
            O pastor que ama é um pastor que corrige. A correcção é bíblica. Ela não visa a destruição, mas a volta para o caminho certo. Deus, o nosso Senhor, corrige aquele a quem ama (Hb 12.6) e nós pastores, que somos aqueles que devem espelhar-se no exemplo do Senhor para poder conduzir o seu povo, devemos ter a coragem de corrigir aqueles que estão a sair do caminho. A correcção é fruto do amor.
 
            O pastor que ama a sua igreja entrega-se a ela. Ele doa-se com prazer a alegria e está disposto a sofrer por ela, com ela e por causa dela. Mas esse amor que suporta tudo isso, só é possível porque existe no pastor a certeza de que ele é mais um membro da igreja e que ele próprio como ovelha também faz o mesmo ao seu Supremo Pastor.
 
            A igreja espera que o pastor caminhe com ela. O Pastor não é para ficar fechado. Não é para ser uma pessoa distante que não se entregue e muito menos não deseje contacto com as ovelhas. O pastor precisa estar junto das suas ovelhas. Ele tem necessidade de caminhar com elas. Para que ele possa caminhar com elas, ele precisa conhecê-las. Se não há intimidade, se não há conhecimento, não poderão caminhar lado a lado. Se elas não conhecerem o pastor e não forem conhecidas deles, elas não o seguirão. Isto fica claro no evangelho de João capítulo 10. Jesus, apesar de ser carpinteiro, conhecia a vida diária do seu povo. Ele era um excelente observador e por isso utilizou esta imagem para exemplificar o seu ministério e mostrar como nós devemos agir.
 
            Estive seis anos a pastorear em uma zona rural, ali vi muitos pastores a conduzir suas ovelhas. Travei algumas conversas com eles. Muitas vezes apenas os observava, outras tentava atrair suas ovelhas para junto de mim e isto era em vão. Elas não vinham ter comigo. Elas fugiam por não me conhecer. Entretanto, os pastores punham-se entre elas e as chamava e elas caminhavam com ele. Ele ia com elas, estava no meio delas e elas seguiam-no com alegria.
 
            A igreja espera que o pastor esteja junto a ela, caminhando e conduzindo-a junto a si mesmo. Este processo é fruto de intimidade e de contacto pessoal. A igreja não deseja pastores que fiquem isolados e que só comuniquem com elas através do púlpito. As igrejas desejam pastores que estejam no meio delas e estejam dispostos a caminhar com elas.
 
            A igreja espera que o pastor lhe dê segurança. Não pensamos muito nisto, pois hoje nós fazemos parte das zonas urbanas e muitos das grandes metrópoles e sendo assim, passamos a olhar para os demais como mais um. Entretanto, na linguagem rural e de pastoreio, a ovelha só se sente segura e tranquila se o pastor está por perto. É o pastor quem promove a tranquilidade, é ele quem traz alento no meio da confusão. Uma excelente ilustração para esta realidade nos é apresentada no salmo 23, quando David diz que há um banquete na presença dos inimigos, mas a presença do pastor da paz à sua alma. Pastores devem aprender a ser consoladores.
 
            Como ovelha fui ferido muitas vezes. Fui abandonado muitas vezes e luto para que não venha agir da mesma maneira. Não critico quem falhou, não sou melhor do que ninguém, aliás sou terrível e sei o mal que posso fazer, mas cada dia que passa, apresento-me ao Senhor a suplicar-lhe que manifeste a sua glória para mim e me capacite a ser aquilo que Ele deseja que eu seja. Nesta luta diária, uma das coisas que tenho escutado constantemente é a seguinte: “Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus.” (Is 40.1). Consolar é algo muito difícil, pois em muitos casos não estamos preparados e experimentados no problema em que as pessoas estão a passar e devemos apenas estar presentes e dependentes da graça de Deus. Mas é facto que, em muitas situações seremos nós que estaremos a necessitar de consolo e no meio das nossas lutas teremos que permitir que a graça nos baste e que ela transborde de nós para os que são por nós liderados para que eles fiquem seguros e firmes no Senhor.
 
            O pastor muitas vezes não tem que dizer nada. A única coisa que deve fazer é estar ali, presente e calado, sendo o ombro amigo que as pessoas estão a necessitar. O silêncio muitas vezes é a maior fonte de segurança que podemos obter dos nossos líderes. Eu já vivi isto e já senti isto na minha própria vida. Quando minha mãe faleceu, estávamos na igreja as pessoas estavam a chegar e procuravam-nos para tentar nos consolar e veio uma missionária muito querida e amada, não disse nada, mas em silêncio ela abraçou-me e ali chorou comigo e deu-me segurança e paz que eu tanto precisava para o momento.
 
            Nós, pastores, devemos entender e aprender que as igrejas esperam que nós venhamos a dar-lhes segurança em meio às suas tempestades.
 
            A igreja espera encontrar protecção no pastor. Este aspecto está muito ligado com o anterior e em muitos casos os dois se fundem e se confundem. Contudo, na minha perspectiva veja que é fundamental promover protecção às ovelhas, mas protecção do que e por que?
 
            Quero regressar à discussão de João 9 e 10. Jesus está a falar contra os falsos líderes. Ele está a dirigir suas palavras contra os falsos mestres que na realidade estão a buscar proveito próprio. O Senhor está a dizer que o verdadeiro pastor não olha para si mesmo, mas antes está interessado no bem-estar dos seus liderados. Sendo assim, ouso dizer que a igreja espera que seu pastor lhe dê protecção contra os falsos ensinos e os falsos mestres. Portanto, a igreja espera que os pastores sejam realmente homens de Deus, que caminhem com o Senhor e preguem todo o desígnio do Senhor.
 
            Mais uma vez estamos perante o facto do pastor estar próximo das suas ovelhas, de caminhar lado a lado com elas. Devemos promover protecção, mas isso só será possível se não estivermos presos ao tempo. É fundamental deixar o relógio de lado. Como afirma Nouwen: “O Evangelho fala de plenitude de tempo. (…) O tempo precisa ser transformado, em vez de chronos, mero tempo cronológico, em kairos, um termo do Novo Testamento grego que traduz oportunidade, aqueles momentos que parecem prontos para um propósito intencional.”[5] É nesta proximidade que os pastores devem agarrar a oportunidade e assim proteger os membros de sua igrejas. Contudo, esta protecção só será possível se houver contacto, relacionamento afectivo. Sendo assim, creio que as igrejas esperam que os seus pastores digam o seguinte: “Quero ser, nessa comunidade, alguém que outros possam procurar sem hesitação, sem indagar se é ou não apropriado, a fim de aprenderem como orar. Quero fazer a obra original de entrar em conversas cada vez mais profundas com o Deus que Se revela a mim e me chama pelo nome.”[6] A igreja espera que o pastor conheça Deus e seja o homem de Deus que transmita a Palavra do Senhor para lhe dar protecção e segurança diante das adversidades diárias, mas para que isso seja realizável como pastor necessito “enchacar-me das Escrituras; preciso de uma imersão nos estudos bíblicos. Tenho necessidade de horas de reflexão nas páginas das Escrituras, assim como de lutas pessoais com o significado das mesmas. Isso exige muito mais tempo do que preparar um sermão.”[7] Contudo, quando a igreja percebe esta realidade e eu próprio a internalizo e torno isto real em minha vida, a igreja sai fortificado e eu cresço e aprendo a depender da graça de Deus e o jorrar da graça vai promover a devida protecção aos meus irmãos, pois estarão a receber um ensino bem fundamentado e não correrão com comichões nos ouvidos.
 
            A igreja espera que o pastor a prepare para se reproduzir. Passei grande parte da minha vida a ouvir que pastor não gera ovelha, pois quem gera ovelha é ovelha. Isto é real, mas quem prepara e selecciona a ovelha é o pastor. Ovelhas que não estejam preparadas irão gerar ovelhas fracas, sem bases, sem estruturas para poder caminhar firmes na graça e no conhecimento do Senhor Jesus.
 
            A ovelha que se reproduz é aquela que cresceu e está preparada, qualificada para poder procriar. Assim, a igreja deve desejar que o seu pastor tenha a capacidade de prepará-la para que ela venha a procriar, para que aconteça reprodução. Contudo, este processo é lento e gradual. Cada ovelha é diferente da outra. A igreja não é uniforme, estereotipada. Sendo assim, é preciso investir em cada ovelha de modo único para que ela possa vir a desenvolver o seu melhor e assim se reproduzir para o crescimento do reino.
 
            A igreja deseja crescer e por isso, muitos programas e estratégias estão a ser desenvolvidas para que tal aconteça. Muito programas são elaborados. Tácticas são ensinadas para que as pessoas possam falar, mas o método continua a ser o mesmo. Para que as ovelhas possam se reproduzir elas necessitam ser bem alimentadas, bem tratadas e depois, elas devem passar pelo processo de união e gestação onde irão procriar. Este é um processo lento, que nós chamamos de discipulado, mas que o Senhor diz que é a nossa caminhada (Mt 28.19-20). É bom notarmos que o pastor está sempre a caminhar com suas ovelhas para conduzi-las a locais com boas pastagens. O Senhor nos diz que devemos sair caminhando e enquanto caminhamos com o povo, nossa tarefa é discipulá-los, baptizá-los e ensiná-los diariamente a guardar as coisas que estão a aprender. É caminhada lado a lado. Isso faz com que a igreja deseje caminhar junto ao seu pastor.
 
            Este é o meu desejo enquanto igreja. Quando estive sentado nos bancos, quando estava do outro lado. Agora sou pastor e vejo a grande responsabilidade e expectativa que peça sobre os meus ombros, mas confiado no Sumo Pastor caminho a depender da Sua graça.
 
            O que se espera dos pastore? Em uma fase apenas respondo resumindo tudo o que foi escrito e concluindo todo o assunto. Esperamos que os pastores nos capacitem para que possamos viver o cristianismo autêntico.
 
 
 
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[1] BLACKWOOD, Andrew Watterson. A preparação de sermões, 2ª Edição JUERP/ASTE, Rio de Janeiro 1981
 
[2] Ibid.
 
[3] McDOWELL, Josh. Aprendendo a amar: sexo não é o bastante, 2ª Edição Editora CANDEIA, São Paulo 1996
 
[4] DUSILK, Darci. Boletim informativo da Igreja Batista de Itacuruça
 
[5] NOUWEN, Henri. Transforma o meu pranto em dança, 2ª Edição Textus Editora, Rio de Janeiro, 2003
 
[6] PETERSON, Eugne H. O pastor contemplativo: voltando a arte do aconselhamento espiritual 1ª Edição Textus
 
Editora, Rio de Janeiro, 2003
 
[7] Ibid.
 
 

79. Saudade 18/09/07
Queridos,
 
Escrevi esta pequena crónica hoje pela manhã.
Espero que ele fale aos vossos corações.
 
Abraços,
 
Marcos
 
 
 
Saudade
 
 
 
O coração está apertado. Há um sentimento de vazio dentro de mim. Nem a brisa leve que sopra consegue dissipar este aperto.
 
As pessoas estão a falar à minha volta, mas sinto-me só. Neste momento não consigo identificar-me com as pessoas. Tudo soa-me estranho, apesar da língua ser a mesma, de compreender tudo o que está a ser dito, porém, tudo soa-me como se fosse um idioma que não é o meu.
 
Este aperto causa uma dor terrível. O coração parece diminuir, mas no entanto, sei que a causa não é doença física. Não é problema de saúde. É saudade, pura e simplesmente saudade. Esta palavra só nossa, que ninguém consegue explicar, tomou conta de mim, sem que eu tivesse solicitado. Aliás, não sabia nem diagnosticar o que estava a se passar comigo até que, lembrei-me das palavras do salmista que diz: "Junto aos rios de Babilónia, ali nos assentamos e nos pusemos a chorar, recordando-nos de Sião. Nos salgueiros que há no meio dela penduramos as nossas harpas." (Sl 137.1-2). É isto que está a acontecer comigo. Estou com saudade da minha terra.
 
Estou aqui, sentado não muito distante do Mondego e lembro-me do rio Amazonas, que eu carrego comigo no próprio nome. Tenho vontade de sair de barco, num passeio especial, para ver o encontro das águas, encantar-me com a beleza da criação e se Deus permitir, ainda de passagem ver o boto cor-de-rosa. Quem me dera hoje poder almoçar num flutuante, ter o privilégio de ter a bicharada toda ali à minha volta.
 
Quem me dera poder desfrutar de um bom tambaqui assado na brasa. Como eu queria beber um delicioso suco de cupuaçú, ou quem sabe de taperebá. Não importa, estou mesmo é com saudade da culinária cabocla.
 
Hoje eu queria estar com minha gente. Meu desejo era estar junto aos ínidos-luso-africanos. Essa é a ordem correcta. Queria estar junto a esta gente amigável, alegre e calorosa. Neste momento eu queria ouvir o sotaque cantado dos caboclos. Desejava ver o sorriso ligeiro daquela gente amorosa.
 
A brisa sopra, mas não traz consigo o cheiro da terra molhada. Não há as características da "Morada do Sol". Minha terra é conhecida como Manaus que significa "Morada do Sol" e estou com saudade do brilho dessa gente.
 
O coração está miudinho, apertado e hoje, mesmo que eu soubesse cantar, o meu canto seria do silêncio, pois a saudade que aperta o coração projecta-me para as canções de Pereira, dos Raízes Caboclas e do meu amigo-irmão e irmão-amigo Alexandre Rocha. Quero ficar aqui sentado, na quietude deste dia, sem dizer nada a ninguém, apenas sentindo este aperto que, por mais que eu tente explicar, verbalizar, a verdade é que as palavras são poucas e não chegam.
 
É verdade, estou como o povo que sentou à beira rio e chorou a lembrar da sua terra. Estou a chorar por dentro com saudade da terra, da gente, das minhas raízes.
 
Vou apenas ficar aqui, quieto, aguardando que este momento passe, mas ao mesmo tempo desfrutando dele, pois o mesmo fala-me da minha vida, da minha história.

Queridos,
 
Estou a enviar mais um texto sobre as minhas reflexões pastorais. Na realidade este era para ser o último texto. Contudo, fui desafiado a escrever mais dois textos o que estou a meditar e a prepará-los. Sendo assim, em breve receberão mais alguma coisa.
 
Abraços,
 
 
Marcos
 
 

80. O que o pastor espera da Igreja? (15/10/07)
 
 
A minha caminhada pastoral teve início na cidade de Manaus, mas lá não pastorei directamente nenhuma igreja. Fui pastor auxiliar do meu pai e isso porque a igreja teve misericórdia de mim, pois o meu visto não saia para poder vir pastorear em Portugal. Sendo assim, a igreja deu-me uma oportunidade de cooperar no ministério dela. Aliás, a Igreja Batista Redenção é a igreja do coração. Ali eu fui achado pelo Senhor. Ali fui baptizado e foi nela que assumi o compromisso de servir o Senhor como pastor e foi ela que me recomendou para o seminário. Recomendou e sustentou com amor. Sustentou-me durante vários anos como seu missionário em Portugal. Portanto, não posso nunca esquecer a minha querida Igreja Batista Redenção.
 
Confesso que tive o privilégio e a oportunidade de nos meus dois primeiros ministérios, ser pastor auxiliar. Fui auxiliar do meu pai, o Pastor Nehemias Coimbra dos Santos e em Portugal fui auxiliar do Pastor Daniel Eduardo Fontes Machado. Meu ministério em Portugal teve início na cidade de Oliveira do Hospital, um local bucólico. Ali aprendi muito e sou grato a Deus pelo tempo que passei com aqueles irmãos. Eles sabem o quanto eu os amo e eu também sei o quanto sou amado por eles.
 
Foi em Oliveira do Hospital que eu aprendi a conversar com os irmãos. Eu não era o pastor que estava longe deles, mas próximo e cheio de defeitos e mazelas e eles viam isso. Portanto, aprenderam a olhar para o pastor não como um semi-deus, mas como alguém de carne e osso. E foi por causa desta experiência fantástica e marcante na minha vida que penso ser essencial dizer para a igreja o que o pastor espera dela.
 
Não faço nenhum arrazoado teológico. Não quero falar de experiências profundas e dar exemplos de outras pessoas. Quero apenas dizer o que eu penso e o que particularmente espero da igreja. Aliás, o que escrevo não é novo, pois no ano de 2002 escrevi uma pastoral a dizer o que esperava da igreja. O primeiro parágrafo dizia o seguinte: É bom para o pastor saber o que a igreja espera dele. É excelente para o ministério saber quais as expectativas das pessoas. Assim, poder-se-á trabalhar com noção do que deve ser realizado. Contudo, o que os pastores esperam da igreja? Será que a igreja já parou para reflectir sobre o outro lado da moeda?
 
As ideias continuam a ser as mesmas. Só foram ampliadas e talvez melhoras. Digamos que é uma reedição revisada e ampliada. Contudo, o que o pastor espera da igreja?
 
Eu particularmente espero que a igreja compreenda que sou um ser humano como outro qualquer . Não quero e nem desejo ser olhado como alguém que está acima de qualquer suspeita. O meu desejo é que a igreja compreenda a minha humanidade. Este aspecto é fundamental, pois faz com que sejamos vistos como um igual e não como um ser de outro mundo.
 
Compreender a minha humanidade é poder ser visto como alguém normal, cheio de defeitos e falhas e tenha certeza, eu as tenho e são muitas. Espero que a igreja compreenda que sou um pecador como os demais, ou mesmo como afirmava Paulo e compreendendo os meus pecados, também digo como ele: "Fiel é esta palavra e digna de toda a aceitação; que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais sou eu o principal" (1 Tm 1.15). Sou pecador e isso é muito claro para mim. Sou terrível e não tento esconder esta realidade. Pastor também erra e passa por provações e tentações, mas também tenho consciência de que fui salvo pela graça de Deus. Sou pastor, mas o sou pela graça de Deus. E aqui também lembro-me das palavras de Paulo: "Pois eu sou o menor dos apóstolos, que nem sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a igreja de Deus. Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus que está comigo." (1 Co 15.9-10). Pois é, sou o que sou pela graça de Deus.
 
Quando assumo minhas fragilidades e fraquezas, estou a pedir que a igreja entenda a minha humanidade e não ponha sobre mim um fardo insuportável, que eu não consiga carregar. O que peço é que a igreja manifeste misericórdia e graça a mim enquanto ser humano, membro do corpo de Cristo que serve à igreja como pastor.
 
Eu espero que a igreja se alimente . Creio que todo pastor espera isso, pois senão não vale a pena investir tempo em estudo e preparo. Há neste momento muita gente a sofrer de anorexia e bulimia espiritual. Há pessoas que não se alimentam da Palavra de Deus. Há pessoas que estão a compactuar com o pensamento hodierno e pensam que a igreja é apenas um ponto de encontro. Contudo, a igreja é o povo de Deus, é uma família que se junta à volta da mesa para se alimentar. O pastor prepara-se e tenta alimentar a igreja, mas o problema é que a maioria das pessoas já não absorvem mais o ensino da Palavra de Deus. Espero que a igreja venha a ter fome e sede de Deus (Sl 42.1-2).
 
Esse desejo surge porque como pastor eu viro também um mestre da culinária. Para alimentar as ovelhas eu preciso então conduzi-las até o local do alimento. Eu preciso preparar a comida para elas. É por isso, que é de fundamental importância ter um local tranquilo para que possa debruçar-me sobre o essencial para poder dar um alimento que supra todas as necessidades que o povo precisa. Mas, preciso ter cuidado, pois não posso oferecer qualquer alimento. Não posso entrar na onda do fast food, pensando que, qualquer coisa está bem e assim não alimento o rebanho de correcto.
 
Alimentar o rebanho é muito mais que chegar dominicalmente e pregar. É investir tempo em oração e estudo da Palavra. É ter um ambiente tranquilo, onde ovelha e pastor tenham condições de descansar. Nessa ambiente tranquilo, onde as ovelhas ficam seguras, o pastor pode dedicar-se ao essencial que é oração e estudo da Palavra (Act 6.1-4). Preciso parar para experimentar o alimento, senti-lo e ver como é bom para poder servir ao povo. "Preciso encharcar-me das Escrituras; preciso de uma imersão nos estudos bíblicos. Tenho necessidade de horas de reflexão nas páginas das Escrituras, assim como de lutas pessoais com o significado das mesmas. Isso exige muito mais tempo do que para preparar um sermão." [1]
 
Quero que a igreja se alimente bem. Não quero oferecer conhecimento filosófico. Não quero oferecer meias verdades. Quero alimentar o meu povo com a Palavra de Deus. Não quero ter nada de sabedoria humana e não estou contra o saber, mas quero que a igreja alimente-se com o alimento espiritual, mas para isso eu preciso ter a sabedoria que vem do alto (Tg 3.17-18).
 
Espero que a igreja cresça. Nenhum pastor deseja que a igreja fique sempre a mesma. Nenhum pastor deseja ver a igreja na qual serve a desfalecer. Mas o processo de crescimento é lento e doloroso. Portanto, é fundamental ter paciência.
 
O crescimento é integral. Portanto, o pastor espera que a igreja cresça na adoração. É um crescimento para cima. O crescimento que nos faz ver quem somos e quem é o Senhor. Ele é o único digno de receber adoração. Ele deve ser exaltado. Crescer na adoração é aprender a cultuar a Deus. É deixar de olhar para si mesmo. Também é fundamental que a igreja cresça na doutrina. A verdadeira adoração só acontece quando a igreja está bem fundamentada doutrinariamente. Crescer na doutrina é crescer para baixo. É ter fundamentos sólidos. É saber no que temos crido. É ter a certeza de quem é o Senhor e o que Ele é para nós. A igreja que cresce na adoração e na doutrina, logo crescerá na comunhão. É esta a nossa base. Jesus fundamentou o seu ministério neste aspecto. Basta lembrarmos o encontro que ele teve com um mestre da lei que o questionou sobre o grande mandamento. É melhor lermos o texto: " Mestre, qual é o grande mandamento na lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas ." (Mt 22.36-40). Sem querer fazer uma exegese do texto, quero apenas focar alguns aspectos importantes que fundamento o que estou a dizer. Aquele que ama a Deus, vai adorá-lO. Vai tê-lo como o tudo de sua vida. Será alguém que conhece o Senhor, sabe porque O ama e O adora (doutrina). Quem compreende o amor de Deus, desenvolve um sentimento correcto sobre sua pessoa e quem desenvolve uma relação correcta consigo mesmo, irá amar o outro de modo verdadeiro e pleno (comunhão). A igreja deve crescer numericamente. É claro que desejo realizar baptismos. É claro que desejo ver conversões. Contudo, o crescimento numérico não pode ser em detrimento dos outros aspectos aqui focados. Creio que hoje há muito inchaço e pouco crescimento. Quando questionamos as pessoas sobre à razão de sua fé, elas não sabem explicar ou então dizem coisas sem nexo. Isto só indica que não há crescimento no essencial. Tem sido comum ver as igrejas com muito gente para o "louvor", mas depois saem. As pessoas desejam o espectáculo, mas não o culto. Quando alguém deseja louvar o Senhor, louva-O em todo o culto. Compreende que cântico é apenas mais uma expressão de louvor e adoração. É essencial que a igreja seja ensinada neste aspecto. Louvor é todo o culto. O nosso culto é um acto de louvor a Deus, mas os cânticos são apenas uma pequena peça deste todo. O crescimento numérico não pode ser fruto da emoção. Não pode surgir como efeito de uma emotividade e de um processo massificativo, onde se passou uma hora a cantar e depois aparecem os anúncios e outras coisas e pedem que o pastor pregue dez minutos. O crescimento numérico acontece quando o evangelho é pregado e não podemos esquecer isto. A salvação é pelo ouvir, mas ouvir a Palavra de Deus (Rm 10.17). É fundamental ter tempo para a exposição da Palavra de Deus. Eu espero que a igreja ouça a Palavra de Deus. Espero que ela fique quieta para ouvir o Senhor a falar. Não quero que me escutem, não quero que escutem discursos, quero que a igreja escute o Senhor a falar, mas para isso ela deve ficar reverentemente, precisa ficar quieta e sossegada para que o Senhor fale ao seu coração. Se ela fizer isso, o crescimento acontecerá naturalmente.
 
O crescimento é da igreja. Portanto, cada membro deve desenvolver a sua função. Precisa fazer a sua parte. É essencial que cada crente venha a desenvolver o seu dom para promover a edificação do corpo.
 
Espero que a igreja esteja comigo. Que ela caminhe comigo. Como pastor, sou aquele que deve procurar conduzir à igreja, mas esta é uma responsabilidade muito grande. Contudo, ao assumi-la, é fundamental que a igreja esteja comigo e juntos sigamos o mesmo caminho. Contudo, isso só será possível se houver confiança e a igreja compreende que a orientação é bíblica. Uma igreja não pode fazer o que lhe apetece. O pastor não pode fazer o que lhe apetece. É preciso lembrar que o pastor na realidade é pastor-ovelha, ovelha-pastor e precisa seguir às orientações do Sumo Pastor que é Jesus Cristo. Agora é verdade que a igreja deve seguir o seu líder. É natural que a igreja então seja o reflexo do seu líder.
 
Querer que a igreja esteja comigo é deseja que a igreja tenha a visão do Reino. Contudo, se eu deixar de ter esta visão, que a igreja em amor chame a minha atenção para que possamos trilhar no caminho correcto. Estar comigo não é concordar com tudo o que eu faço. Não é aceitar tudo o que digo, mas é caminhar lado a lado. É permitir que eu esteja em seu meio. É poder vê-los chegarem a mim para chorar suas tristezas e também partilhar suas alegrias.
 
Ter a igreja comigo é saber que possa estar no meio dela. Sei que sou ouvido e contado. Não sou um profissional da fé, mas um irmão em Cristo Jesus. É poder ter voz activa e ser conselheiro. É ser o amigo para todas as horas e não apenas alguém que recebe em seu gabinete. É estar aberto para a caminhada tanto na alegria como na tristeza.  Eu vivi isto em Oliveira do Hospital e tenho vivido isto aqui em Coimbra. Tenho tido o privilégio de partilhar alegria e tristezas. Tenho chorado com os meus irmãos e eles comigo. A minha dor é a dor deles, mas a deles também é a minha.
 
Espero que a igreja esteja unida. Pastor não gosta de ver confusão. Pastor não divide o rebanho para reinar. O pastor procura desenvolver a comunhão entre a igreja. Sendo assim, a luta é para fazer com que as pessoas estejam unidas. O pastor espera que a igreja esteja a sentir o mesmo no Senhor. Espera que a igreja esteja em comunhão (Sl 133). A comunhão é fruto da união. Estar unido no mesmo propósito, na mesma visão e no mesmo amor. É muito triste o pastor reconhecer que há partidarismos na igreja e principalmente que a desunião é uma realidade no seio da igreja. A igreja deve ser unida, até porque uma das grandes declarações bíblicas sobre igreja é que ela é um corpo e o corpo deve estar unido. Deve trabalhar conjuntamente para o bom crescimento de si mesmo.
 
Estar unido não significa viver no marasmo e numa passividade constante. É claro que há problemas e conflitos de ideias, mas estes são tratados em amor. Estar unidos é saber discordar de ideias sem agredir o seu irmão. É saber ouvir o outro e dedicar-se a ele com todo afinco.
 
O pastor espera que a igreja esteja unida no trabalho. Não é estar unidos para participar de um clube social, mas é estar unidos para crescerem na graça e no conhecimento do Senhor Jesus.
 
Espero que a igreja seja uma família . Ser família é um desafio. É viver nos limites, com intensidade. Quando penso na igreja lembro-me da minha família enquanto criança e também da família que tenho agora. Desejo que a igreja seja como uma família no sentido de ser um local de muitas risadas, pois é um lugar de alegria, onde nós podemos nos expressar com liberdade, mas sempre respeitando-nos mutuamente. Um lugar de intimidade, onde nos conhecemos e sabemos o que está a se passar com o outro. A igreja deve ser um lugar de transparência. Quando estamos tristes, nossa tristeza é vista e valorizada. Somos amparados e consolados.
 
É claro que não podemos esquecer que ser família implica viver a diversidade. Somos seres diferentes e temos que aprender a conviver uns com os outros. Precisamos ter consciência de que há momentos que devemos ceder para que não haja brigas. Contudo, esta diversidade que existe na família é que a torna bonita. Cada um pode se expressar de modo diferente, mas respeitando-se e valorizando o outro.
 
Espero que a igreja seja uma família e que nela seja vista a criatividade de cada um. Que todos sejam valorizados pelo que fazem. Que as habilidades de cada um sejam reconhecidas. Não existe um especial na família, pois todos são especiais. Eu particularmente desejo e espero que a igreja que eu sirvo como pastor seja uma família. Espero que a igreja seja um lugar de harmonia, confiança e amor.
 
É isto que este caboclo, lá do Amazonas espera da igreja que o Senhor lhe concedeu para servir como pastor.
 
 
 
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[1] PETERSON, Eugne H. O pastor contemplativo: voltando a arte do aconselhamento espiritual 1ª Edição Textus
 
Editora, Rio de Janeiro, 2003
 
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Pastor Marcos Amazonas dos Santos,
da
Igreja Evangélica Baptista deCoimbra, Portugal
  (marcosamazonas@gmail.com )
Coimbra, Portugal, 03 de Agosto de 2012
 
 
Queridos e amados irmãos,
 
Saudações em Cristo.
 
O nosso desejo e oração, é que o Senhor esteja a abençoar o vosso ministério e igrejas.
Queridos, a nossa igreja está com um projecto missionário ousado. Reconhecemos que a obra é grande demais para que a possamos realizar sozinhos. Sendo assim, entendendo que o trabalho não é nosso, mas sim do Mestre e nós apenas servos e conservos uns dos outros. É neste sentido que queremos solicitar à vossa cooperação e pedir que se juntem a nós neste grandioso projecto.
Nosso projecto chama-se: O mundo numa cidade
O objectivo do projecto: Evangelizar e cuidar dos estudantes da cidade de Coimbra
Como Faremos:
1.     Centro de Acolhimento (República de Estudantes)
2.     Centro de Escuta
3.     Projectos Evangelísticos
O valor anual do projecto:                      51.614,00 €
Temos consciência de que o valor do mesmo é elevado para uma igreja assumir a responsabilidade sozinha. Sendo assim, cremos que será possível e até mesmo de grande valia e comunhão que uma ou mais igrejas se unam no propósito de assumir conjuntamente o suporte mensal deste projecto. Sendo assim, propomos que, sendo possível cada igreja contribua com o valor de 100,00 (Cem Reais), o que cremos é uma quantia que pode ser suportada por cada igreja.
Comprometemo-nos com os irmãos de periodicamente informar sobre o que está acontecendo através do projecto e também informar sobre a realidade de pessoas que estão sendo alcançadas por este ministério.
Para que os irmãos tenham uma pequena ideia, nossa igreja está hospedando dois jovens e já conseguimos que as dívidas dos mesmos fossem todas sanadas. Quando fomos à universidade tratar de tudo a assistente social disse-nos: Ainda bem que houve alguém nesta cidade que cuidou destes jovens que são tão bons alunos.
Estes jovens estão integrados na igreja, são uma bênção para nossa comunidade de cremos que serão uma bênção em seus países.
Nossa súplica é a mesma que foi feita no passado, só que diz o seguinte: “passa o oceano e ajuda-nos”.
Que o Senhor da seara ricamente vos abençoe.
 
nEle,
 

www.uniaonet.com/msgmarcosamazonas.htm ... Pr. Marcos Amazonas dos Santos
 
Pastores e irmãos: Conheço o Pr. Marcos Amazonas dos Santos, conheço a Igreja Evangélica Baptista de Coimbra e conheço a idoneidade deste trabalho. Levarei a Boas Novas a apoiar este projeto. Ficarei imensamente feliz se encaminharem também para as suas igrejas. Obs: se aceitarem o desafio, falem comigo bnovas@uol.com.br) , para unificarmos os nossos depósitos em conta a ser divulgada quando o grupo de sustentadores estiver completo. Wagner Antonio de Araújo, pastor.
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