03/08/2012 PORTUGAL/COIMBRA Índice das Mensagens Recebidas do Pr.Marcos Amazonas :
Mensagens desta página : 66. Começar de Novo (7/1/07) 68. Manifestando a graça diante das tragédias da vida 10/01/07 69. Caminhando e anunciando (15/01/2007) 70.E Deus se Converteu ( 28 Jan 2007) 71. Aborto ( 01/02/2007) 72. Dezesete anos de casamento ( 13/02/2007) 73. A Queixa (25.03.07 ) 74. Botequim (28.03.07) 75. Assim vivem os transformados 16/06/07 76. O Que o Pastor Espera de Deus? 23/08/07 77. O que Deus espera do pastor? 25/08/07 78. O que a Igreja espera do pastor? 05/09/07 79. Saudade 18/09/07 80. O que o pastor espera da Igreja? (15/10/07) 7/1/07 _ Queridos, Permitam-me partilhar a minha primeira mensagem dominical do ano de 2007 Abraços, nEle, Marcos Amazonas 66. Começar de Novo Jonas 3.1
Jonas orou e o Senhor ouviu a sua oração
e o socorreu. Na realidade, Jonas não havia percebido que o Senhor estava
a preservá-lo e a guardá-lo com vida. Contudo, quando ele chega no fundo
do mar, sua fé é renovada e ele volta-se para o Senhor.
O Senhor estava a resgatar Jonas de si mesmo.
Quando o Senhor viu que Jonas havia se quebrantado, disse ao monstro
marinho que o atirasse na terra. Jonas foi vomitado e vai caminhando.
O Senhor chama-o novamente. Deus não desiste do seu escolhido.
É interessante ver que o foco aqui não é
o povo de Nínive, mas o profeta. Deus está interessado em Jonas.
É um novo começo. O Senhor chama Jonas para
reiniciar o seu ministério. Ele vai começar de novo. Só que agora ele
não agirá dentro da sua própria vontade, mas vai contar com o agir do
Senhor. Isto me faz lembrar a letra da canção de Ivan Lins que diz o
seguinte:
“Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena
Ter amanhecido”
É isto mesmo, vale a pena começar novamente
e contar com o Senhor. Sendo assim, vejamos as lições que aprendemos
com este texto:
Deus não muda de ideia
O Senhor não desiste daqueles que são seus.
Ele chamou Jonas e conta com Jonas. Jonas pode até ter se rebelado,
mas isto não significa que o Senhor tenha desistido dele. Deus não muda.
Ele não oscila porque fazemos as coisas ou deixamos de fazer. Ele faz
a sua vontade se realizar em nós. É interessante ver o que diz Tiago:
«Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das
luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” (Tg 1.17).
Jonas fugiu e teve que arcar com as consequências
da sua atitude, mas o Senhor não lhe virou às costas e muito menos o
abandonou. O Senhor continuou a ser Senhor e permaneceu fiel, pois ele
não pode negar-se a si mesmo. Isto é muito importante, pois quando olhamos
para os discípulos, todos eles viram às costas ao Senhor e foge, mas
o Senhor não desiste e permanece fiel. Ele assume a cruz e paga o preço
pelas nossas vidas.
Deus chama Jonas para reiniciar o seu ministério.
Chama-o para começar de novo, mas agora de modo renovado. O Senhor também
nos chama para começar novamente. Ele é fiel. Talvez estejamos a fugir
como Jonas, quem sabe estamos a negar o Senhor como Pedro ou até mesmo
a fugir como todos os discípulos. Contudo, o Senhor não muda. Ele continua
a contar connosco. É gratificante ouvir as palavras de Paulo a Timóteo:
“se somos infiéis, ele permanece fiel; porque não pode negar-se a si
mesmo.” (2Tm 2.13). Não é pelo que fazemos, mas por causa da fidelidade
e misericórdia do Senhor.
Deus não muda e os seus planos não são frustrados.
Podemos traçar os nossos planos, podemos até tentar fugir do Senhor,
mas é bom saber o que o Senhor nos diz em sua Palavra: “Muitos são os
planos no coração do homem; mas o desígnio do Senhor, esse prevalecerá.”
(Pv 19.21). O Senhor não muda. A sua vontade irá se realizar.
Deus sempre nos concede uma nova oportunidade
Começar de novo só é possível porque o Senhor
nos concede uma nova oportunidade. Ele não desiste de nós. Agora é preciso
ter cuidado, pois podemos pensar que se Deus não desiste de nós e vai
nos dar uma nova oportunidade de começar de novo, vamos fugir e fazer
o que desejamos. Isto é muito complicado. Deus é bondoso, mas «o fato
de Deus ser bondoso, concedendo uma segunda uma segunda ocasião, não
deve ser estímulo à recalcitrância. A obediência é a melhor maneira
de prevenir desastres.»[1]
Jonas tentou fugir, perdeu seu dinheiro e
foi parar no fundo do mar. Pedro negou o Senhor e entrou num processo
de tristeza profunda. Notamos que nas opções escolhidas por Jonas e
Pedro as consequências foram cruéis. Eles sofreram muito. Sendo assim,
obedeça logo à primeira para não ter que sofrer. Também notamos que
o Senhor concedeu uma nova oportunidade a ambos. O Senhor continuou
a confiar em ambos.
Começar de novo só é possível porque o Senhor
nos capacita e nos perdoa. Só é possível porque Ele na sua misericórdia
nos salva e nos resgata para junto de si mesmo. Sem o Senhor, não há
outra hipótese, não há como começar novamente. Sem o Senhor, estamos
perdidos.
O Senhor nos concede uma nova oportunidade
porque nos ama. No seu amor, Ele nos chama e concede uma nova oportunidade
a dizer que nos perdoou e continua a contar connosco.
Já ouvimos o chamado do Senhor? Já experimentamos
o perdão do Senhor?
Não fique a sofrer. Não chore mais. Aceite
a nova oportunidade que o Senhor está a lhe conceder.
Guisa de Conclusão
Começar de novo é o desafio que temos pela
frente. Mas é fundamental entendermos que só poderemos começar de novo
se ouvirmos a voz do Senhor.
Começar de novo só é possível quando entendemos
que o Senhor não muda e que seus planos não são frustrados. Quando compreendemos
que é o Senhor quem nos concede uma nova oportunidade.
Esta nova oportunidade é baseada no amor
do Senhor. Está fundamentada na sua misericórdia e graça.
O Senhor está a chamar-te para começar de
novo. Ele está a dizer que te perdoa. Sendo assim, ouve a voz do Senhor
e em obediência começa uma nova vida com o Senhor Jesus.
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[1] COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Jonas nosso
contemporâneo: um estudo contextualizado do livro de Jonas 2ª
Edição JUERP, Rio de Janeiro 1994.
67. Solucionando problemas Leia Génesis 21.22-33 Problemas relacionais todos enfrentam. Entretanto, conseguir resolvê-los é muito mais complicado. Há pessoas que preferem viver uma fachada a fazer de conta que não existem problemas ao invés de procurar solucioná-los. Abimelque e Ficol procuram Abraão para fazer um pacto com ele. Eles pedem para que Abraão os trate com a mesma bondade que eles os tinham tratado. Abraão se compromete a fazer isto, mas diz que há um problema entre eles. Sendo assim, a situação deveria ser resolvida. É baseada nas lições que encontro neste texto que desejo reflectir como podemos solucionar os nossos problemas. Os problemas só serão resolvidos se nós tratarmos do assunto sem medo. É interessante ver a atitude de Abraão, pois ele está a dirigir-se para o rei da terra. Ele é um estrangeiro ali, mas não teme dizer ao rei que o poço que os súbditos do rei tomaram dos seus escravos lhe pertencia. Ele não joga a poeira para baixo do tapete. Ele é claro. Se nós desejarmos solucionar os nossos problemas devemos ter a mesma atitude que teve Abraão e tratar dos assuntos de modo claro e sem medo. Outra realidade que Abraão nos ensina é que os problemas só serão resolvidos se tratarmos da causa e não dos efeitos. O foco do problema de Abraão foi ter perdido um poço. Ele confronta o rei e diz que os escravos do rei tomaram o poço dele. Abraão não acusa o rei, mas mostra o verdadeiro problema. Ele foi privado de água para o seu gado. Ele não fica a dissimular diante do rei. Ele fala e expõe a situação. É este o nosso desafio. Se desejamos ter os nossos problemas resolvidos, precisamos ter a coragem de tratar dos mesmos e não os efeitos secundários que eles causam. Resolvemos problemas quando os expomos às pessoas que estão envolvidos nos mesmos. É interessante ver o que diz o rei Abimeleque a Abraão. O rei diz claramente que não tinha conhecimento do assunto. Ele mostra que Abraão deixou a linha de comunicação fechada e por isso o problema se arrastou. Se desejamos resolver os nossos problemas devemos procurar aqueles que estão envolvidos no mesmo e não pensar que eles sabem que há um problema. Abimeleque pensava que estava tudo bem e se Abraão não tivesse a coragem de tratar do assunto, e tivesse ficado calado eles jamais teriam resolvido a situação. O que vemos aqui é que a solução dos problemas passa por uma boa comunicação e isto é fundamental. Agora o ponto mais importante. Solucionamos os problemas quando olhamos para o outro e vemos na vida dele o agir de Deus. Abimelque olha para Abraão como um homem de Deus. Ele uma pessoa que é fundamental está próximo e desenvolver uma relação. Abraão vê em Abimelque um homem temente a Deus e por isso, eles celebram um pacto de amizade e deixam para trás o problema. A vida passa a ser dali para frente. Se desejamos resolver nossos problemas relacionais necessitamos ver o outro como alguém importante e acima de tudo zerar a situação e começar dali para frente. Vamos orar:
Senhor, ajuda-nos a cada dia tratarmos das situações como elas devem ser tratadas. Dá-nos a coragem para que possamos enfrentar os problemas de frente e não permitas que fujamos dos mesmos. Ajuda-nos para que possamos manter uma boa comunicação e assim possamos falar abertamente do que está a ser impeditivo para uma boa relação. Capacita-nos para que possamos ver o outro como alguém importante e uma pessoa em que tu ages. É esta a nossa oração em nome de Jesus. Amém 68.Manifestando a graça diante das tragédias
da vida 10/01/07
Leia Génesis 40.19-23 Tragédias podem acontecer a qualquer pessoa. Até mesmo pessoas que são consideradas boas são atingidas. Quando vivemos estas situações ficamos enfraquecidos e naturalmente nos deixamos levar por estas situações e não manifestamos graça nestes momentos. Contudo, quando olhamos para a vida de José, descobrimos marcado pela tragédia, mas que vive acima da tragédia e mesmo a viver com sua dor e não se deixa abater. Sendo assim, vejamos como viver acima das tragédias da vida. José nos ensina que é preciso manter a sua integridade. José é jogado ao cárcere por manter sua integridade. Ele não se deixa seduzir pela esposa de Portifar. No cárcere ele mantém sua integridade. Ele não se corrompe e ali na cadeia. Ele não se torna um revoltado. Ele mantém a sua integridade intocável. Quando estamos a viver nossos momentos difíceis e a passar por situações complicadas, não se deixe corromper. Mantenha a sua integridade intacta. A segunda lição que José nos apresenta é que não podemos agir com as pessoas da mesma maneira como elas agem connosco. Ele é jogado no cárcere. Não é tratado decentemente, mas por manter sua dignidade e integridade consegue ganhar a confiança das pessoas que se encontram com ele. Ele acaba por cai na graça das pessoas. José é o tipo de pessoa que mesmo diante das tragédias manifesta graça. Ele vive procurando fazer o bem aos que estão à sua volta e é desta maneira que nós também devemos viver. Outra realidade que aprendemos com José é que não devemos ficar a nos lastimar, mas trabalhar com afinco. É interessante ver que onde José chega lhe é conferido trabalho e ele o desenvolve sem ficar a se queixar que é um injustiçado. O único momento que ele fala sobre a sua situação é a pedir que o copeiro do rei, interceda por ele. O que ele nos ensina é que a tragédia não pode nos paralisar e tirar a vontade de viver. Devemos continuar a luar. José nos ensina que devemos ser pessoas confiáveis. Todas as pessoas que se encontram com ele entregam-lhe actividades de confiança. Não tem problemas em dar coisas importantes a ele, pois sabem que ele é uma pessoa de confiança. Ele não se torna uma pessoa amarga e intransigente. Vive sua tragédia e sua dor, mas mostra-se uma pessoa em que os outros podem confiar. É desta maneira que nós também devemos viver. Oremos:
Senhor, o nosso desejo e pedido é que possamos agir de modo correcto diante das adversidades da vida. Nosso pedido é para que possamos achar graça diante das pessoas e manifestar graça a elas porque tu estás connosco. Esta é a nossa oração em nome de Jesus. Amém 69. Caminhando e anunciando (15/01/2007) Jonas 3.1-4
Jonas orou e assumiu um compromisso com o
Senhor. Ele reconheceu que a salvação vem do Senhor. Ele fez um voto
e disse que o cumpriria. O Senhor aceitou a oração de Jonas. Por este
motivo, o Senhor lhe concede uma segunda oportunidade.
O Senhor fala novamente com Jonas é o comissiona
para proferir sua mensagem na cidade de Nínive. «Nínive é chamada de
“grande cidade” (3:3; 4:11). O seu perímetro era de mais ou menos cem
quilômetros. Um escritor antigo descreveu Nínive como tendo um circuito
de 480 estádios. Era muito maior do que Babilônia. As muralhas de Nínive,
de trinta metros de altura, eram largas o bastante para permitir que
três carruagens corressem lado a lado. Tinha 1.500 imponentes torres.
Visto que havia mais de 120 mil crianças na cidade (4:11), estima-se
a sua população em cerca de um Milão de habitantes. Uma cifra mais conservadora
dá uma população de 600 mil. Não era uma cidade insignificante, e o
bendito coração de Deus saiu em defesa de todos.»[1] A maneira do Senhor
sair em defesa daquelas pessoas foi enviar o seu profeta para anunciar-lhes
a sua Palavra.
Jonas levanta-se e sai caminhando e anunciando.
Ele vai cumprir sua missão, mas como é que ele sabia que esta era sua
missão? Como é que nós sabemos qual é a nossa missão? Vejamos quais
são as respostas que o texto nos apresenta.
Só podemos sair caminhando e anunciando se
ouvirmos a voz do Senhor
O texto é enfático. Veio a palavra do Senhor.
Deus falou com Jonas. Não sabemos como foi esta manifestação do Senhor,
mas sabemos que Ele falou e Jonas compreendeu que era o Senhor que falava.
Nós devemos estar de ouvidos atentos ao que o Senhor nos diz. Só podemos
ouvir o Senhor se mantivermos comunhão com Ele.
Somos a geração do barulho. Já não sabemos
ficar em silêncio. Em todos os lugares encontramos telemóveis, leitores
de mp3. Somos a geração que não sabe ficar em silêncio. E por causa
do barulho à nossa volta, muitas vezes não conseguimos ouvir a voz do
Senhor.
O Senhor disse ao povo de Israel: «Ouve,
pois, ó Israel, e atenta em que os guardes, para que te vá bem, e muito
te multipliques na terra que mana leite e mel, como te prometeu o Senhor
Deus de teus pais. Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor.»
(Dt 6.3-4). É fundamental darmos atenção à palavra do Senhor. É fundamental
pararmos para escutar o Senhor a falar connosco. “Ouvir a Deus só será
um fato confiável e inteligível em nossa vida se virmos suas palavras
como um dos aspectos de sua presença conosco. Só a comunhão com Deus
fornece o contexto apropriado para nossa comunhão com Ele.”[2] Jonas
mantinha comunhão com o Senhor e confiava na Palavra do Senhor. Temos
nós ouvido a Palavra do Senhor e mantido comunhão com Ele?
É momento para pararmos e ouvirmos o Senhor
a falar connosco. Deus continua a dizer: Ouve ó Israel!
Para que possamos sair caminhando e proclamando
a mensagem do Senhor, precisamos primeiramente parar para ouvir o Senhor
a nos declarar esta mensagem.
Só podemos sair caminhando e anunciando se
obedecermos o Senhor
O Senhor deseja a nossa obediência. Notemos
que o Senhor falou novamente com Jonas, disse o que desejava e desta
vez o profeta obedeceu. Sendo assim, vemos Jonas a levantar-se e sair
caminhando para Nínive conforme a palavra do Senhor. E nós estamos a
fazer conforme a palavra do Senhor?
Deus deseja obediência. Saul perdeu o reinado
de Israel por causa da sua desobediência. É bom meditarmos no que Samuel
diz: «Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios,
como em que se obedeça à voz do Senhor? Eis que o obedecer é melhor
do que o sacrificar, e o atender, do que a gordura de carneiros, Porque
a rebelião é como o pecado de adivinhação, e a obstinação é como a iniqüidade
de idolatria. Porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te
rejeitou, a ti, para que não sejas rei.” (1 Sm 15.22-23). Deus deseja
obediência.
Nos tornarmos religiosos e praticantes de
todos os cultos, mas isto não tem sentido. É fácil sermos religiosos,
mas estarmos fora da vontade do Senhor. Podemos estar numa igreja dominicalmente,
mas estar a ser desobedecer ao que o Senhor nos diz. O Senhor deseja
obediência. A obediência é fruto da nossa confiança no Senhor. Quando
obedecemos mostramos que não dependemos de nós mesmos, mas sim dependemos
do Senhor e do seu agir. Estamos a obedecer o Senhor?
Só podemos sair caminhando e anunciando a
Palavra do Senhor
Jonas levantou-se e saiu caminhando e proclamando
a mensagem do Senhor. Ele faz isto por saber que «O profeta é o porta-voz
de Deus. Não tem direito de acrescentar ou de suprimir seja o que for
da Palavra.»[3] É este o nosso desafio. Foi este o desafio de Paulo
a Timóteo. Paulo escreveu a Timóteo e disse: “prega a palavra, insta
a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda longanimidade
e ensino.” (1 Tm 4.2).
Encontramos sempre na Palavra o Senhor a
enviar o seu povo para manifestar sua graça aos que estão em pecado.
Quando o povo do Senhor se fecha está em desobediência. Quando estamos
na igreja, mas no dia-a-dia não manifestamos a graça do Senhor estamos
a desobedecê-lo, pois estamos a fugir das pessoas que ele deseja que
nos encontremos.
O Senhor falou a Jonas e ele saiu e começou
a «pregar, e seu caminho de três dias não foi nenhum turismo. Não ouvimos
no texto se sua pregação foi extraordinária no respeito à retórica,
pois era (e é) exclusivamente a palavra de Deus que produz o efeito.
Não ouvimos de hostilidade da parte da população, e se houve, Jonas
não se deixou impressionar ou intimidar.»[4] Nós devemos seguir o exemplo
de Jonas e não nos deixar intimidar. O Senhor Jesus nos comissionou
também. Ele disse: “Portanto ide (indo), fazei discípulos de todas as
nações, baptizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e
eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.”
(Mt 28.19-20). Somos comissionados para irmos ao encontro das pessoas.
Para estarmos com elas e ensinar-lhes a observar os mandamentos do Senhor.
Jesus afirmou que somos o sal da terra. O sal deve está inserido na
comida. Ele não faz efeito dentro do saleiro. Ficar fechados dentro
da igreja não faz sentido. Temos que sair caminhando e proclamando a
Palavra do Senhor.
Guisa de Conclusão
O Senhor fala. O profeta ouviu e obedeceu.
O Senhor também fala connosco, devemos ouvir e obedecer.
O Senhor deseja que eu e você saiamos caminhando
e proclamando a sua graça às pessoas que estão a viver em suas nínives.
Estas pessoas precisam invocar o nome do Senhor para que sejam salvas
(Rm 10.13), mas a pergunta que o apóstolo Paulo fez no passado ainda
está em vigor em nossos dias: “Como pois invocarão aquele em quem não
creram? e como crerão naquele de quem não ouviram falar? e como ouvirão,
se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? assim
como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam coisas boas!”
(Rm 10.14-15). Eles só ouvirão falar se nós sairmos caminhando e proclamando.
Nós fomos enviados pelo Senhor. Portanto, em obediência ao nosso Senhor
e a reconhecer que ouvimos sua voz, saiamos caminhando e proclamando
a mensagem da salvação.
Que Deus nos abençoe.
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[1] FEIBERG, Charles L. Os Profetas Menores,
- Editora Vida, Miami 1988
[2] WILLARD, Dallas. Ouvindo Deus: desenvolvendo
um relacionamento de diálogo com Deus, 1ª edição, Textus
Editora, Rio de Janeiro, 2002
[3]
[4] KUNSTMANN, Walter G. Os Profetas Menores,
- Concórdia Editora, Porto Alegre, 1983
70.E Deus se Converteu ( 28 Jan 2007) Jonas 3.10
O povo de Nínive se arrependeu e se converteu.
Deus viu a mudança de atitude do povo e também mudou de atitude. Aqui
entramos numa situação delicada, pois Deus não muda, nele não há sombra
de variação (Tg 1.17).
O nosso texto diz que Deus viu o arrependimento
do povo. Deus é um Deus presente, que vê o que estamos a fazer. Ele
é um Deus misericordioso, que não tem prazer na destruição humana.
O texto que estamos a estudar é o tema
central do livro. “O Deus de Israel é um Deus misericordioso para
todas as nações. A misericórdia não é propriedade do povo de Israel.
Não se pode limitar a atuação divina ao povo eleito. Nem o povo eleito
tem privilégios especiais. Se a salvação é anunciada ao povo de Jerusalém
depois de sua contrição e conversão, como mostra por exemplo, o texto
de Jl 2,2-18, ela igualmente anunciada à cidade de Nínive.”[1] Deus
não é racista!
Mas o que significa o arrependimento de
Deus?
Primeiro é fundamental dizer que a teologia
criou um termo para falar deste assunto. Todas as passagens que falam
que Deus se arrependeu, a teologia declara que é um antropopatismo,
isto é, a atribuição de um sentimento humano a Deus. Sendo assim,
vejamos o que não é o arrependimento de Deus
Não é o arrependimento de um pecador arrependimento
Não é arrependimento por ter cometido algum erro O que significa então este arrependimento de Deus? O arrependimento de Deus é algo singular
nele.
O arrependimento de Deus expressa sua misericórdia e graça O arrependimento de Deus não muda o seu carácter É preciso lembrar o que nos diz a Bíblia: “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele dito, não o fará? ou, havendo falado, não o cumprirá?” (Nm 23.19). Deus é Deus e age sempre da melhor forma. Este texto remete-nos para a doutrina da imutabilidade de Deus. Deus não muda, mas podemos ver textos nas Escrituras que nos falam da mutabilidade de Deus. Como entendê-los? A melhor maneira de compreendermos estas passagens é compreendendo o seguinte: “As passagens que aparentemente atribuem mudanças na natureza de Deus podem ser explicadas de várias maneiras. A imutabilidade de Deus não significa uniformidade fixa nas atividades do Senhor na história. Na sua perfeita justiça, e na sua infinita sabedoria, ele vê e entende perfeitamente, em contraste com as limitações humanas. A justiça de Deus, por exemplo, opera no ambiente complicado das injustiças humanas. Se poupa a cidade de Jerusalém no tempo de Isaías, e permite a sua destruição no tempo de Jeremias, é porque as condições espirituais do povo de Jerusalém mudaram-se, enquanto a justiça de Deus permanecia imutável.”[2] O que podemos aprender com este texto?
Deus não é insensível
Aqui nos encontramos um Deus que reage
as nossas acções. Deus vê a nossa atitude e mediante a nossa atitude
ele age. Quando olhamos para este versículo podemos notar que há uma
interligação no agir de Deus com a acção humana. «Deus ameaça com
castigos, caso as pessoas não se convertam; se as pessoas se convertem,
porém, Deus também se converte, desistindo do castigo que pretendia
aplicar.»[3] Deus não deseja a morte dos pecadores. Ele deseja que
todos se convertam. É esta mensagem do profeta Ezequiel: “A alma que
pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o
pai levará a iniquidade do filho, A justiça do justo ficará sobre
ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele. Mas se o ímpio se converter
de todos os seus pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos,
e preceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá.
De todas as suas transgressões que cometeu não haverá lembrança contra
ele; pela sua justiça que praticou viverá. Tenho eu algum prazer na
morte do ímpio? Diz o Senhor Deus. Não desejo antes que se converta
dos seus caminhos, e viva?” (Ez 18.20-23). Quem se arrepende experimenta
a misericórdia do Senhor.
Deus viu o arrependimento do povo e retirou
sua ameaça. Mas porque o Senhor fez isto? Encontramos a resposta no
profeta Jeremias. “Se em qualquer tempo eu falar acerca duma nação,
e acerca dum reino, para arrancar, para derribar e para destruir,
e se aquela nação, contra a qual falar, se converter da sua maldade,
também eu me arrependerei do mal que intentava fazer-lhe.” (Jr 18.7-8).
“Diz-se que Deus, segundo a maneira de entender e sentir do homem,
arrepende-se quando altera a ação proposta ou procede diferente daquele
esperado tendo em vista suas promessas e advertências. A ameaça de
condenação, nesse caso, estava condicionada ao arrependimento. Satisfeita
e cumprida essa condição, Deus não tinha necessidade alguma de executar
a advertência.”[4] Portanto, Deus se sensibiliza com o arrependimento
humano e não manifesta sua justiça sobre o ser humano arrependido.
Deus é um Deus de amor e bondade.
Deus é misericordioso e gracioso
Não podemos esquecer que o contexto aqui
presente é um povo que está humilhando-se diante do Senhor. Um povo
arrependido do mal que estava a fazer. Sendo assim, quando o texto
diz que Deus se arrependeu, na realidade poderíamos dizer que Deus
manifestou misericórdia e graça aos ninivitas. O povo não é salvo
porque se arrependeu. Não é salvo porque se humilhou diante do Senhor.
O povo é salvo por causa da misericórdia e graça do Senhor. Sendo
assim, convém definir o que seja misericórdia e graça.
Misericórdia é Deus não dando pecador culpado
aquilo que ele merece (Lm 3.22), enquanto graça é dar ao pecador aquilo
que ele não merece. Tanto misericórdia, como graça estão ligadas a
bondade do Senhor. Elas estão fundamentadas no amor imutável de Deus.
Deus manifesta misericórdia aos que se
arrependem. Ele condiciona o seu julgamento. Se houver arrependimento,
a destruição não se manifesta. Se te arrependes dos teus pecados,
o castigo que mereces é retirado. A condenação eterna que pesa sobre
ti é tirada e te é concedido vida. É esta a promessa do Senhor. Paulo
escreve o seguinte: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom
gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rm
6.23). Paulo afirma que merecemos a morte, a separação eterna de Deus,
mas se nos arrependermos e crermos no Senhor, Ele nos concede vida
por meio de Cristo Jesus. Ele manifesta misericórdia e graça.
Deus aceita o pecador arrependido
Quando o texto nos diz que o Senhor se
arrependeu, ele está a dizer que o Senhor aceitou o povo de Nínive.
Ele retirou o castigo merecido e lhes deu aquilo que eles não mereciam.
Ele manifestou graça.
Que coisa maravilhosa é saber que o Senhor
aceita o pior pecador, desde que este esteja arrependido dos seus
pecados. “Não importa quão grandes sejam os nossos pecados, ele sempre
está prestes a nos perdoar se nos arrependermos e clamarmos por perdão.
Bendito seja Deus! Ele é “compassivo e misericordioso, longânimo e
grande em benignidade”, no dizer de Jonas, e se arrepende do mal.”[5]
Deus é justo. Ele não tolera o pecado mas
ama o pecador. É maravilhoso saber que o Senhor nos ama independente
dos nossos pecados. É maravilhoso saber que se nos arrependermos ele
aceita-nos. Ainda bem que Deus não age como nós agimos.
Permitam-me concluir esta linha de pensamento
a contar-vos um episódio que aconteceu com Philip Yancey. Em seu livro
«Alma Sobrevivente: Sou cristão apesar da igreja», ele conta que ouviu
uma pessoa dizer que os cristãos apresentam uma tendência a ficar
irados com os que não são como eles. Ele afirma que percebeu esta
realidade depois de ter escrito um livro onde narrava sua amizade
com Mel White, um ex-ghost writer de cristãos famosos, que agora era
um activista gay. Por causa disso ele recebeu muitas cartas a condenarem-lhe
e a perguntarem como é que ele poderia ser amigo de um pecador como
aquele? Mediante a isto Yancey declara: «Pensei muito sobre o assunto
e saí com diversas respostas que creio serem bíblicas. A resposta
mais sucinta, porém, é outra pergunta: como Mel White pode continuar
sendo amigo de um pecador como eu? A única esperança para cada um
de nós independentemente de nossos pecados particulares, reside na
inabalável confiança num Deus que inexplicavelmente ama pecadores,
inclusive aqueles que pecam de maneiras diferentes das nossas.»[6]
Não importa qual seja o pecado que tenhamos cometido. Se nos arrependermos
e clamarmos ao Senhor, Ele na sua infinita misericórdia e graça nos
aceita e perdoa. Já aceitaste o perdão do Senhor?
Guisa de Conclusão
Deus se converteu. Ele mudou o seu juízo
e manifestou graça.
O arrependimento do Senhor nos ensina o
seguinte:
O Senhor não é insensível. Ele vê o nosso
arrependimento e é tocado por ele
O Senhor é misericordioso e gracioso. Quando
nos arrependemos Ele retira o castigo que merecemos e nos conceda
o perdão que não merecemos
O Senhor aceita-nos se nos arrependermos.
Ele traz sua mensagem de justiça, mas esta também é a mensagem da
graça. Se nos arrependermos, Ele nos aceita porque Ele é amor e não
deseja que ninguém se perca.
Já te arrependeste do teu pecado? Se te
arrependeres o Senhor se arrepende e se converte a ti.
A pergunta que tens que responder é a seguinte:
O Senhor já se converteu a ti?
Que Deus nos abençoe.
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[1] KILPP, Nelson. Jonas – Editora Vozes,
Petrópolis, RJ Editora Sinodal São Leopoldo, RS 1994.
[2] CRABTREEE, Asa Routh. Teologia do Velho
Testamento, 3ª edição, JUERP Rio de Janeiro, 1980
[3] BALANCIN, Euclides Martins e STORNIOLO,
Ivo. Como ler o livro de Jonas. Deus não conhece fronteiras, 2ª
Edição Edições Paulinas, São Paulo 1991
[4] FEIBERG, Charles L. Os Profetas Menores,
- Editora Vida, Miami 1988
[5] COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Jonas
nosso contemporâneo: um estudo contextualizado do livro de Jonas 2ª
Edição JUERP, Rio de Janeiro 1994.
[6] YANCEY, Philip. Alma Sobrevivente:
Sou Cristão, Apesar da Igreja, 1ª edição Mundo Cristão São Paulo 2004
71. Aborto ( 01.02.2007) . marcosamazonas@netvisao.pt
Queridos, Estou a enviar-vos três crónicas que escrevi sobre a questão do aborto. Escrevi-as porque teremos um referendo aqui em Portugal sobre esta questão. Sei que não é bom enviarmos vários texto, por isso, peço-lhes que me perdoem, mas também espero que leiam os textos e façam críticas ao mesmo. Abraços, nEle, Marcos Amazonas ( 01/02/2007) Direito de escolha Vejo um debate na televisão sobre a questão
do aborto. Há uma pessoa que apoia o aborto e outra que é contra.
Na discussão o apoiante diz que é uma questão de escolha e de direito.
A mulher tem que ter o direito de escolher e optar. Numa democracia
plena, as mulheres devem ficar livres para escolher abortar ou não.
Escuto na rádio que a liberalização do
aborto é uma questão fulcral, até mesmo para combater a corrupção
e fundamentalmente o dinheiro que circula sem ser tributado. A preocupação
de uma defensora do sim é com a questão fiscal. Na mesma toada, Manuel
Alegre, deputado pelo partido socialista diz que é uma questão de
liberdade. As mulheres devem ter o direito de optar ou não por ter
uma criança. Fiquei a pensar nestes aspectos e se é uma questão de
opção e liberdade, alguém que deseja praticar a eutanásia também tem
este direito de escolha e esta liberdade. É uma questão de democracia.
Creio que acima de tudo, o aborto passa
por uma questão moral. Contudo, vivemos num país de tradição cristã,
mas que não vive a moral cristã. O país é laico, apesar de forte influência
católica. A igreja católica assume uma postura beligerante e pede
para que as pessoas votem pelo não. O povo evangélico por ser minoria,
a sua voz quase não se ouve. É um facto que também é a favor do não,
mas creio fundamentalmente que, tanto católicos como evangélicos precisamos
ser enfáticos na nossa luta contra o aborto, mas precisamos ser pessoas
que demonstram amor profundo para com as pessoas.
Antes de seguir este pensamento, quero
voltar a questão da escolha. A mulher tem o direito de escolher abortar.
Mas e o pai? Será que o pai não tem o direito de querer ver nascer
o seu filho? O homem é esquecido em toda a questão. É triste ver que
o pensamento é unilateral. Não quero nem falar no direito do feto.
Contudo, enquanto penso neste aspecto lembro-me da canção de Vinícius
de Moraes e Toquinho «O filho que eu quero ter». Mas e se a mulher
não quiser, como é que ele fica?
O aborto é uma questão muito séria e delicada.
Deve ser discutido abertamente, mas creio que devemos seguir o exemplo
do doutor C. Everett Koop que era um absolutista em questões como
aborto e homossexualidade que aprendeu «durante o exercício da função
de chefe do Departamento de Saúde, que os absolutos cristãos não podem
ser sempre impostos sobre aqueles que não compartilham dos pontos
de vista cristãos. Ele aprendeu, porém, a compaixão e a misericórdia
para com os excluídos e amor pelos inimigos.» É fundamental condenarmos
o aborto, mas amarmos as mulheres que abortam.
Particularmente sou contra o aborto. Contudo,
como alguém que já viveu esta experiência de perto, sabe o sofrimento
e a dor que as mulheres sofrem, solidarizo-me às mulheres, mesmo não
aprovando o que fazem. Contudo, minha maior luta é contra aqueles
que enriquecem às custas do sofrimento destas mulheres que por uma
decisão pessoal, levadas por uma série de contingências são exploradas
pelas clínicas da morte. Porém, engana-se quem pensa que a legalização
do aborto irá fazer com que o aborto clandestino deixe de existir.
Ele continuará existindo, pois muitas jovens e mulheres maduras não
terão a coragem de assumir publicamente que irão abortar porque elas
têm muitas coisas que preservar.
Sou contra o aborto. Sou contra aqueles
que o realizam. Contudo, amo e Deus sabe que é verdade, as pessoas
que recorrem a tais práticas. Desejo que elas conheçam a misericórdia
do Senhor.
Abomino as clínicas abortivas. Não concordo
com os profissionais que se deixam seduzir pelo dinheiro e passam
a matar crianças ainda por nascer e muitas vezes mulheres que em desespero
os procuram. Não concordo com tal atitude, mas amo o ser humano que
se encontra a agir assim. Sei que se ele conhecer a graça de Deus,
toda a sua vida será transformada. Também é verdade que amo os profissionais
que o realizam. Amo-os enquanto seres humanos e sinceramente, peço
a Deus que eles possam vir a mudar de opinião e de vida. Espero que
eles sejam como o doutor Bernard Nathanson, que ficou conhecido como
o rei do aborto e por fim reconheceu que havia feito a pior escolha.
Espero que estes profissionais possam dizer como Bernad Nathanson:
«Não posso dizer como estou agradecido nem a dívida tão impagável
que tenho com todos aqueles que rezaram por mim durante todos os anos
nos quais me proclamava publicamente ateu. Rezaram teimosa e amorosamente
por mim. Estou totalmente convencido de que suas orações foram escutadas.
Conseguiram lágrimas para os meus olhos.» Que os profissionais digam
isto, mas que nós cristãos intercedamos por eles diariamente.
A grande maioria diz que é um direito de
escolha. Concordo plenamente. Eu escolho a vida. Escolho lutar pela
vida das mulheres, das crianças e dos muitos profissionais que estão
perdidos e seduzidos por ganhar o mundo inteiro, mas não percebem
que estão a perder suas almas. Quero unir minha voz aos que afirmam
que é uma questão de escolha e juntamente com eles dizer que escolho
a vida. Escolho amar a todo ser humano e prezá-lo pelo que ele é.
Livremente e no meu direito de escolha
digo não ao aborto. Contudo, de coração aberto recebo as pessoas e
quero caminhar com elas para ajudá-las a tratar das suas feridas.
Eu escolho livremente criar pontes que me unem ao meu semelhante e
não vou abrir mão disso.
Sou cristão e como cristão quero viver
coerentemente com a minha fé, mas sei que os meus valores não são
os valores da minha sociedade. Não me deixarei vencer pelos padrões
da sociedade, mostrarei a graça do Senhor na esperança que eles livremente
possam optar pela vida. Jesus veio para trazer vida e espero que esta
vida brote no coração das pessoas que jazem perdidas.
Eu escolho dizer não ao aborto. Escolho
dizer sim às pessoas e amá-las independente de qualquer coisa. É esta
a minha escolha e a faço livremente, faço-a seguindo o exemplo do
meu Senhor que odiou o pecado, mas amou o pecador.
- - -
Uma questão de fé
Em breve estaremos a participar de um referendo
sobre a despenalização do aborto. Tive o privilégio de estar presente
em um debate. Os argumentos foram apresentados de modo claro e objectivos.
Cada um dos oradores defendeu seu ponto de vista. Estava um sociólogo
e um jurista a expor a questão. Claro que se procurou evitar a questão
religiosa, mas foi em vão.
Sei que a questão é muito polémica. Houve
pontos em que concordei com o sociólogo e adepto do sim, mas isso
não justifica o sim. Também tive muitos pontos em concordância com
a posição do jurista. Contudo, creio que nesta discussão toda, o essencial
está a ser posto de lado. É verdade, que os adeptos da liberalização
dizem que as questão de fé não podem ser tidas em consideração neste
assunto será?
Duas questões devem ser respondidas: O
que é a vida? Qual é a origem da vida? Quaisquer que sejam as respostas
para estas perguntas teremos uma premissa de fé. Senão vejamos, o
criacionista dirá que a vida é um dom de Deus e tem sua origem em
Deus. É uma resposta baseada na sua fé. Um ateu, ou agnóstico dirá
que a vida é fruto de um processo evolutivo, é obra do acaso. É uma
premissa de fé e de muita fé, pois está baseada numa teoria e não
numa lei científica. Portanto, a questão sempre passará pela defesa
da fé.
Se me perguntarem se eu quero que uma mulher
que abortou seja presa, minha resposta será não. Não deseja que uma
mulher que tomou uma decisão delicada venha sofrer ainda mais. Partindo
do pressuposto que o aborto praticado foi algo ponderado e acompanhado
de muito sofrimento. Não foi uma decisão de ânimo leve. O que na maioria
dos casos não é verdade.
Se me perguntam se sou a favor do aborto,
minha resposta é não. É uma questão de fé? Claro que sim. Creio que
a vida é dom de Deus e somente Ele pode determinar o fim da mesma.
Há casos excepcionais? Claro que sim, mas a excepção deve ser tratada
como tal e não como regra.
É claro que sou a favor do planeamento
familiar. Sou completamente a favor de uma educação sexual, mas esta
feita de modo saudável e com princípios. Tendo um absoluto como premissa.
Eu sou a favor da vida, não importa se
ela tem apenas um minuto. Não importa se ela é intra-uterina. É uma
vida que está presente. É um ser criado à imagem e semelhança de Deus.
É uma questão de fé? É claro que é, mas uma fé racional que valoriza
o ser humano e toda a criação.
Sou pela vida e se assim não for, terei
que relativizar e todo relativismo é tendencioso. Hoje posso lutar
pela liberalização do aborto, amanhã pelo infanticídio. Posso também
começar a defender a eutanásia, pois é uma questão de escolha. Quem
irá determinar o que é certo e errado? Como escreveu Dostoiévsky:
«Se não há Deus tudo é permitido». Se não há Deus, viveremos pela
lei do mais forte. Teremos um sistema de salve-se quem puder.
O que é a vida? Continuo a concordar com
Gonzaguinha quando na sua canção afirmou que a vida “é o sopro do
Criador, numa atitude repleta de amor”. É isto mesmo. A vida é dom
de Deus. Ela pertence a Deus.
A questão sobre o aborto não é uma questão
ideológica. Não é uma questão filosófica. É fundamentalmente uma questão
de fé. Não há como fugir disto. Uns tem fé que o homem pode definir
tudo e decidir tudo, pois é o senhor do universo, é o seu próprio
deus. Outros afirmam que Deus é o Criador de todas as coisas e que
a vida é uma dádiva deste Criador e por isso, somente Ele pode tirá-la.
Eu prefiro ter fé em Deus. Prefiro depender
da graça de Deus e viver em conformidade aos seus padrões do que a
instabilidade humana. Deus não muda. Ele é o mesmo. O ser humano é
instável e falho. Basta olharmos para a história e vermos as incoerências
e as muitas atrocidades cometidas no decorrer da história. Basta olharmos
para as opções que eram tomadas como sendo verdades e que depois foram
mudadas.
A minha fé explica o que é a vida e qual
a sua origem. Ela é consistente. Defende o ser humano em todos os
sentidos. A minha fé valoriza a existência humana e isto porque ela
afirma que Deus é o autor da vida.
Pois é, vamos referendar o aborto. Na realidade,
iremos dizer que tipo de fé nós temos, pois tudo é uma questão de
fé.
- -
Por que eu opto pela vida? Muita coisa tem sido dita nestes dias pré
referendo. Argumentação de ambos os lados e ninguém pode dizer que
as argumentações são inconsistentes. É claro que sempre existe os
extremistas e estes se fazem presentes tanto nos que defendem o sim,
como também nos que defendem o não.
Eu sou defensor do não. Não desejo ver
a liberalização do aborto. Contudo, não quero ser um extremista. Penso
que a lei que temos já comporta os casos excepcionais. Portanto, o
que se deseja neste momento é simplesmente a legalização plena do
aborto, tornando-o num método contraceptivo. É esta a minha opinião
e respeito quem pensa diferente.
Não vou entrar em polémicas. Quero apenas
responder a pergunta: Por que eu opto pela vida? Sendo assim, permitam-me
traçar algumas linhas que são esclarecedoras do meu ponto de vista.
Eu opto pela vida porque ela é o sopro
de Deus ao homem. A vida não é uma obra do acaso. O ser humano é o
único ser vivente que recebeu o sopro do Criador. Deus lhe soprou
o fôlego de vida. Isto me faz lembrar a música de Gonzaguinha, onde
ele afirma que «a vida é o sopro do Criador numa atitude repleta de
amor». Sendo assim, se eu opto pela destruição da vida, estou a dizer
que não desejo a manifestação do amor do Criador. Digo que sou contra
o projecto de Deus e em sã consciência não posso agir assim.
Eu opto pela vida porque somos feitos à
imagem e semelhança de Deus. E se eu pensar o contrário, estarei a
destruir a imagem de Deus. Nós somos criados à imagem e semelhança
de Deus. Mas o que é isto de imagem e semelhança de Deus?
O homem nos lembra Deus. Ele é uma escultura
que representa o modelo, mas não é como Deus. Jesus Cristo sim, é
a expressa imagem de Deus e nós só seremos como ele quando formos
glorificados e o pecado for superado. Mas o que significa a imagem
de Deus?
Há pelo menos oito declarações que apontam
onde o ser humano é imagem de Deus.
1) O homem se assemelha a Deus em sua natureza
racional.
2) O homem se assemelha a Deus na sua natureza
moral
3) O homem se assemelha a Deus na sua natureza
emocional
4) O homem se assemelha a Deus no facto
de possuir vontade
5) O homem se assemelha a Deus no facto
de ter liberdade
6) O homem se assemelha a Deus na liberdade
original do pecado e sua propensão à santidade
7) O homem se assemelha a Deus na capacidade
de exercer domínio sobre ordens inferiores
8) O homem se assemelha a Deus na sua imortalidade.
Não é eternidade, mas imortalidade.
Por tudo isto, eu opto pela vida, pois
o ser humano que foi gerado tem todas estas capacidades e elas reflectem
à imagem de Deus.
Eu opto pela vida porque o ser humano foi
criado para gerar vida. É interessante ler o livro do Génesis e ver
que a mulher é chamada a mãe dos viventes. Ela é geradora de vida
e não de morte. A mulher é fonte de vida. Sendo assim, nem ela
e muito menos o homem podem decidir pela morte de um outro ser que
está para chegar. A vida que está nela gerada tem o sopro do Criador.
É um ser que traz consigo à imagem e semelhança de Deus.
Estas são as razões básicas porque eu opto
pela vida. Sei que cada ser humano é livre de fazer sua escolha, mas
também sei que cada um deve se responsabilizar pela escolha que fez.
As consequências dos nossos actos são uma realidade. Podemos até não
desejá-las, mas elas são reais. Portanto, eu assumo todas as consequências
que possam vir por ter a coragem de assumir publicamente que sou pela
vida.
72. 17 anos de casamento . Queridos, Estou a enviar-vos a crónica que escrevi
para celebrar os 17 anos de casamento com minha querida esposa.
Grande abraço, nEle, Marcos_ 13/02/2007
Ainda é presente O tempo passa a correr. E com ele caminhamos
nós. Muitas vezes, nos acomodamos às situações, outras lutamos e
não nos conformamos. Há coisas que queremos esquecer, outras que
desejamos perpetuar em nossa memória. Há situações que fazem parte
do passado e desejamos que elas fiquem lá enterradas, outras queremos
tê-las sempre presente.
Faz dezassete anos que nos casamos e
parece que foi hoje. Ainda é presente e não passado. Nós mudamos.
O nosso amor também mudou. Hoje é muito mais forte do que o era
no passado. Hoje amo-te muito mais do que amava-te a dezassete anos
atrás, mas amo-te muito menos do que amanhã.
Foi um dia maravilhoso. Ali estavam todos
os nossos queridos. Hoje, muitas pessoas que partilharam este momento
connosco já não se encontram em nosso meio. Muitos já estão na glória
com Jesus. É melhor não enumerar, pois isto iria trazer-nos tristeza
e hoje é dia de muita alegria. É facto também que, hoje temos nossos
filhos que são a expressão máxima do nosso amor. São uma prenda
de Deus para nós.
Naquela noite à lua estava cheia, era
um postal a celebrar o nosso amor. Hoje estamos aqui, numa noite
fria, mas com os nossos corações aquecidos. Não temos festa, não
temos todos os amigos à nossa volta. Estamos os quatro em casa,
com corações agradecidos porque Deus nos tem abençoado.
O dia ficou para trás. A data é um marco
no tempo. Contudo, nossa relação e amor ainda fazem parte do presente.
Não é passado, não é memória. Não é rotina, antes e pelo contrário
é uma aventura vivida a cada dia pela graça e misericórdia de Deus.
Dezassete anos atrás nós assumimos publicamente
o nosso amor e casamos. Não tínhamos nada. Não sabíamos o que nos
aguardava o futuro. A única certeza que havia era a de fazer a vontade
de Deus. Deixamos nossas famílias, fomos para a Itália. Ficamos
uma semana em Roma e de Roma viemos para Portugal. Ali em Penafiel,
mas precisamente na Quinta da Bela Vista, lá em Canelas, nós nos
deixamos gastar cooperando para a recuperação de toxicodependentes.
Depois descemos para Viseu e mais um
ano investimos à cooperar com a REMAR. Que tempo precioso. Quantas
experiências adquirimos. Contudo, houve necessidade de regressarmos
ao Brasil. Lá fomos nós certos de que Deus estava a dirigir nossas
vidas. Passamos cinco anos em Manaus. Muitas vitórias, muitas lutas.
Muitas alegrias, mas também muitas tristezas, mas em todas estas
coisas podemos dizer que somos mais que vencedores.
Hoje estamos novamente em Portugal. Já
faz dez anos que regressamos. Deixamos tudo para trás, na certeza
de que o Senhor estava a nos orientar e a guiar-nos até aqui. Quantas
lutas enfrentamos nestes anos, mas também é verdade, quanta demonstração
de amor nós tivemos. Lutas terríveis. Dores e sofrimento, mas sempre
o Senhor esteve connosco e enviou os seus anjos para nos consolar
e confortar.
É claro que as alegrias foram muito maiores
que as tristezas. As vitórias sobrepujaram nossas aparentes derrotas.
Continuamos os mesmos. Hoje amamo-nos muito mais. Amamos mais o
nosso Senhor e continuamos com a mesma convicção de que não temos
nada e nada teremos, pois estamos na disposição de sempre fazer
o que Ele determinar para as nossas vidas.
Dezassete anos e continuo a pensar que
estamos a começar agora. Contudo, eu quero dizer como Gonzaguinha:
"Começaria tudo outra vez, se preciso fosse meu amor". Graças a
Deus não é preciso começar novamente, pois nunca terminou. Não é
preciso começar de novo porque continuamos a nutrir o nosso amor.
Não é necessário começar novamente porque ainda é presente e nós
vivemos este presente na certeza de que ele precisa ser vivido dentro
da vontade do Senhor.
Dezassete anos se passaram, mas eu quero
dizer-te o seguinte: "Eu amo-te!"
Que venham mais dezassete e depois mais
34 e mais 68 e daí por diante, pois nosso amor é presente e não
passado. É presente que vive a esperança do futuro que será presente.
- - - ( Parabens pelos 17 anos de matrimônio , compartilhamos contigo nossa canção de amor : Quando se junta a
areia com o cimento , E a água penetra no meio deles
O mesmo ocorreu quando se uniu : eu você e Deus . Concreto armado , bem firmado , Na vontade do meu Senhor : " Como foi bom te encontrar , que legal foi te achar ... Deus nos Uniu... Já vencemos
todas barreiras , que cruzaram nosso caminho
Os problemas são tão pequenos . comparados ao amor Que sinto por ti minha querida , que sentes por mim meu grande amor Quero cuidar de ti ! Queres cuidar de mim , Deus cuidará de Nós Não existe lugar
perfeito , sem você bem do meu lado .
Tudo contigo tem mais sentido , eu sou feliz só com você . Como é lindo você
me amar , que prazer é te abraçar .
Você me completa amor , eu faço parte de ti .Deus está em nós . Para ouvir a melodia
acesse : http://www.uniaonet.com/espmusmeta16.wma ) Yro
73. A Queixa (25.03.07 ) Estou com vontade de queixar-me.
Quero reclamar e tenho motivos para isto. Estou chateado e
neste momento só me apetece queixar-me. Mas queixar-me-ei
de que?
Como ser humano que sou, posso
iniciar as minhas queixas contra as outras pessoas. Posso
dizer que elas não são justas comigo, que não me tratam como
deveriam tratar e seguir por aí.
Também posso reclamar da igreja.
Eu sou religioso e sendo assim, posso encontrar um monte de
defeitos na religiosidade e na igreja. Posso culpar Deus daquilo
está a suceder na minha vida e eu não concordo. Posso acusar
os que fazem parte da igreja de não copiarem o exemplo do
Senhor da igreja.
A verdade é que não quero e nem
desejo queixar-me contra ninguém. Não quero e não tenho nada
contra as pessoas. Também não tenho nada contra a igreja.
Muito menos contra o Senhor que tem sido gracioso para comigo.
Se assim é, contra o que desejo
queixar-me? Este descontentamento é contra o que?
Minha queixa é dirigida a mim mesmo.
Meu lamento e desencanto é comigo próprio. Hoje estou vestido
de Jonas, mesmo sem o sol e o vento. Estou como Elias enclausurado
na caverna e fechado para o mundo. Estou fechado para balanço.
E o meu balanço está negativo. Por isso, venho queixar-me
não contra os outros, mas contra mim mesmo.
Jeremias quando estava no cativeiro
escreveu suas lamentações. Ali encontramos as seguintes palavras:
“Por que se queixaria o homem vivente, o varão por causa do
castigo dos seus pecados? Esquadrinhemos os nossos caminhos,
provemo-los, e voltemos para o Senhor.” (Lm 3.39-40). Quero
esquadrinhar os meus caminhos. Quero ver a minha vida em profundidade.
Sou pecador e sou o pior de todos
eles. Sempre lutei para não abraçar o ministério pastoral.
Em consequência disto, causei dor e sofrimento à minha família.
Desperdicei anos maravilhosos da minha adolescência e juventude
vivendo só para mim, sem me preocupar com o que acontecia
à minha volta. Desperdicei dinheiro e fiz minha família desperdiçar
dinheiro. Menti e muito às pessoas que mais amo neste mundo.
Enganei e fui engano. Enganei os
meus e os outros. Deixei me levar pelo prazer e por ele fui
consumido. Também fui enganado por pessoas sem escrúpulos,
que como eu, usaram-me e por mim foram usadas.
Fugi de Deus. Procurei estar o
mais longe possível dos seus caminhos, mas Ele não desistiu
de mim. Mas eu não sou digno de um Senhor tão misericordioso
assim. Eu não mereço a graça do Senhor. Não posso fazer parte
da igreja e muito menos ser líder da mesma. Como posso? Eu
que tanto enganei, que sou tão fraco que não consigo lidar
com os meus dilemas.
Como posso liderar os outros se
não consigo vencer as minhas angústias?
Como orientar os outros e aconselhá-los
se estou sentado para ver o que acontece? Não quero sair da
caverna. Desejo ficar aqui fechado sem olhar para mais nada.
O que eu tenho feito?
Minha família é a primeira a sentir
e ver minhas debilidades. Como encará-los e sorrir para eles
se estou revoltado comigo mesmo?
Vinte anos a batalhar, mas o que
tem acontecido?
Meus sonhos insistem em não se
tornar realidade. Pelo menos a grande maioria deles. Quantas
coisas foram deixadas para trás?
Os sonhos mais parecem pesadelos.
Estão engavetados, encaixotados. Estão no armário a ganhar
traça e será que algum dia sairão de lá?
Estou cansado. Estou cansado de
ver os outros a levarem com a culpa toda. Estou cansado de
dizer que a igreja está do jeito que está por causa de picaretas
que se dizem apóstolos e enriquecem às custas do povo.
Estou cansado de dizer que a igreja
não vive em comunhão. É lógico que não. Eu tenho estado em
comunhão com as pessoas? Tenho estado com elas?
Estou cansado de dizer que falta
profundidade bíblica, mas o que eu tenho feito para sair da
superfície?
Não quero olhar para ninguém. Quero
apenas olhar para mim mesmo.
Que tempo tenho dedicado à minha
família? Estou preso a tanta burocracia. O corre-corre do
dia está a me roubar o prazer de uma boa leitura. Está a roubar-me
o precioso tempo de estar com a família.
Para que preparar tanta coisa se
elas ficam arquivadas e fechadas? Para que investir tanto
tempo a digitar textos que ninguém deseja publicar e que na
realidade são divagações de um caboclo que se formou em teologia,
mas que ficou por aí. Um caboclo que nunca quis seguir para
uma faculdade, nunca desejou coisas ousadas. Como parar para
ler textos de alguém que sempre imaginou que passaria sua
vida toda no mesmo lugar e que jamais sairia dali.
Como aprofundar, se eu não me aprofundo.
Se faz dez anos que não faço um curso de aprimoramento. Como
poderei exigir dos outros aquilo que eu próprio não faço?
Tenho que olhar para mim mesmo.
Tenho que ficar aqui sentado na minha cabana ou então na minha
caverna e esperar. Vou ficar aqui e dizer como Habacuque:
“Sobre a minha torre de vigia me colocarei e sobre a fortaleza
me apresentarei e vigiarei, para ver o que me dirá, e o que
eu responderei no tocante, a minha queixa” (2.1).
Não quero mais sonhar. Não quero
viver preocupado com minha reputação e com a minha imagem.
Não estou mais desejoso de ficar a culpabilizar os outros.
O problema da igreja não é a apatia e falta de interesse dos
outros. O problema da igreja sou eu e somente eu, o maior
de todos os pecadores. Chega de ficar a arranjar culpado para
tudo. É verdade que a culpa não pode morrer solteira. Sendo
assim, eu assumo. A culpa é minha e é esta a minha queixa.
Neste momento de luta conta mim
mesmo. Neste momento de acusação pessoal escuto a resposta
do Senhor nos seguintes textos: “A minha graça te basta, porque
o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.” (2 Co 12.10). É a
graça de Deus que me basta e não as muitas coisas que posso
vir fazer.
Eu não sou nada. Não tenho nada
em que me gloriar. Também não quero nada, já passei da idade
de almejar e desejar títulos. Quero ser apenas eu mesmo, um
cristão autêntico, apesar de suas lutas e limitações. Não
tenho glória própria, mas não preciso, pois minha glória está
em Cristo Jesus. Nele eu me glorio. Digo como Paulo: “Aquele,
porém, que se gloria, glorie-se no Senhor. Porque não é aprovado
aquele que se recomenda a si mesmo, mas sim aquele a quem
o Senhor recomenda.” (2 Co 10.17-17). A Jesus toda glória!
74. Botequim (28.03.07) Leia Mateus 9.35-38
Chego em Manaus para pregar no
aniversário da igreja em que fui membro a maior parte da
minha vida. A igreja que me viu crescer. Voltar a Manaus
é sempre um prazer e uma alegria. É a minha terra amada,
querida. Lá tenho meus amigos de infância. Lá cresci e me
formei. Se sou o que sou é por causa de grandes experiências
ali vividas.
No aeroporto, meu irmão me aguarda.
Diz-me que os meninos desejam me ver e falar comigo. Acho
graça, pois os meninos já são trintões e quarentões. Mas
para os amigos, como acontece com os pais, seremos sempre
os meninos. Crescemos juntos. Vivemos histórias que os anos
não poderão apagar. Criamos laços, apesar de na vida termos
seguido por estradas diferentes. Disse ao meu irmão que
teria o maior prazer de ir me encontrar com os «meninos».
O problema é que eu ia para passar poucos dias e estes estavam
comprometidos com a igreja. Local impensável para eles.
Como resolver este impasse?
Fui para falar no aniversário
da igreja, mas não podia virar às costas aos meus amigos.
Não podia virar às costas a minha história. Sendo assim,
decidi ir ao encontro dos amigos. Quem conhece Manaus sabe
que o ponto de encontro lá é um botequim. É o bar da esquina.
Entretanto, o nosso ponto de encontro não ficava na esquina,
mas era um dos bares que existia na minha zona residencial.
Nesta situação, fiquei a pensar o que diriam os membros
da igreja ou de outra igreja que me vissem ali naquele bar.
Por um instante, confesso que fiquei preocupado, mas decidi
quebrar o protocolo para poder estar com meus amigos.
Numa sexta-feira, depois do culto,
dirigi-me ao ponto de encontro. Quando chego ao bar vejo
muitas caras novas. Estas ficam tão assustadas, até parece
que viram um fantasma. Os «meninos» me chamam. Uns gritam
meu nome, outros meu apelido de infância. Sento-me com eles.
As conversas são triviais, banais. Uns desejam saber tudo
sobre Portugal. Há aqueles que ainda não acreditam que eu
seja pastor e muito menos que tenha largado tudo para pregar
o evangelho em Portugal.
Ali naquele botequim, vejo solidariedade.
Pessoas que expressam verdadeira preocupação. Sou chamado
de parte e me informam que uma amiga querida de nossa infância
havia rompido sua relação e estava ali a necessitar de ajuda.
Pedem-me para falar com ela. Ela estava a fumar. Contudo,
ela estava fumada pela vida. Seu aspecto era triste, sofrido.
Ela tentou esboçar alegria quando me viu, mas ninguém que
sai de uma relação sai sorridente. Conversamos um pouco.
Ela perguntou-me sobre o projecto de Deus para os relacionamentos.
Tive a oportunidade de pregar a graça, com graça. Ela diz-me
que na sua igreja não encontrou compreensão. Foi julgada
e posta de parte. Disse-me que se sentia rejeitada por Deus,
pela igreja e pelo homem que havia rompido a relação. Mostrei-lhe
que Deus a amava e aceitava. Falei-lhe do sacrifício de
Jesus na cruz por ela. Falei também que a igreja é local
de acolhimento e nunca de exclusão. Disse também que tinha
consciência que há momentos em que pessoas são desprezadas
e postas de parte. Como homem da religião via isto acontecer.
Contudo, pude dizer-lhe que Jesus jamais nos vira às costas.
Ele jamais nos abandona.
Ela ficou mais calma. Até sorria.
Meu irmão estava radiante. Os «meninos» ali, uns a viverem
a mesma vida dos tempos passados. Outros casados, pais de
filhos. Estavam ali para um encontro fraternal. Para desfrutarem
da companhia uns dos outros. Eu estava ali. Vi meu passado
amargo diante de mim, mas ali não fui julgado. Recebi afecto
e carinho. Demonstrei amor àquelas pessoas que se encontravam
naquele botequim. Não sei quantas horas fiquei ali. Mas
foram horas agradáveis. Elas falaram-me da graça e de como
Deus pode transformar um pecador como eu num pregador das
boas novas.
Aquele botequim tem histórias
tristes da minha vida. Mas naquele dia, foi como viajar
ao passado e dizer que há um caminho diferente. Há esperança
apesar do caos e da dor que possamos estar a viver. Ali
onde muitas vezes afoguei o vazio que havia dentro de mim,
pude falar que há uma fonte de água viva que nos enche sem
nos afogar. Uma fonte de nos alivia e não uma fonte que
nos deixa com ressaca no dia seguinte.
Estava na mesa com os «meninos»
e fiquei a pensar se passasse alguém da igreja. Talvez pensasse
que eu estava sentado na roda dos escarnecedores. Talvez
dissessem que eu estava a comer com os pecadores. E eu estava
mesmo. Estava e sempre que for a Manaus estarei, pois sou
pecador como eles. Há uma diferença, eu conheci a graça
e fui transformado por ela e eles ainda não. Se algum membro
de igreja me visse ali pediria minha exclusão e até que
fosse excluído do pastorado. Foi neste momento que lembrei
de Jesus que sentava com pecadores. Que esteve junto deles.
Manifestou graça, não os condenou. Abominou o pecado deles,
mas os amou.
No botequim eu compreendi na
minha vida o que significa ter o mesmo sentimento que houve
em Cristo Jesus. Ali eu me despojei da minha religiosidade.
Dos meus argumentos teológicos que apontavam para meus amigos
como párias que não são dignos de conviver com pessoas religiosas.
Não me preocupei com o que os outros diriam. Não liguei
para a minha reputação e com a minha imagem. Como pensar
nisto se o que fiz durante muito tempo foi apenas ser um
pária?
Estava ali e entendi o que a
Bíblia diz quando fala que Jesus se encheu de compaixão
pelas pessoas. Eu estava cheio de compaixão por aquelas
pessoas. Falei-lhes da graça e demonstrei-lhes graça. Talvez
tenha sido por isso, que alguém disse que estaria na igreja
no dia seguinte. Disse e cumpriu sua palavra.
Botequim nem sempre é um lugar
onde se afogam as mágoas. Pode ser um lugar onde se nasce
para vida. Isto é possível se a graça jorrar com humildade
e compaixão.
marcosamazonas@netvisao.pt
16/06/2007 22:23 Mensagem de amanhã
Queridos,
Depois de um longo silêncio, regresso enviando a mensagem que irei pregar amanhã Esta é a última de uma sequência se desejarem as outras é só dizer Abraços, Marcos 75. Assim vivem os transformados Actos 2.41-47;4.32-47
Estivemos a falar sobre pessoas
que tiveram suas vidas transformadas pelo Senhor Jesus.
Pessoas que foram regeneradas por Deus. Não foi algo que
elas produziram, mas que o Senhor fez nelas como nos diz
João: “Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem
no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de
Deus; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade
da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.” (Jo 1.12-13).
A salvação é um processo divino. É a da vontade de Deus
que nós sejamos regenerados.
Temos reflectido sobre a vida
de várias pessoas que foram transformadas. Agora queremos
meditar sobre como é que eles viviam. Ao ver como eles
viviam, teremos o nosso modelo. Sendo assim, devemos nos
voltar para o livro de Actos, pois ele tem essas informações
para nós.
Antes de prosseguir quero fazer
uma breve introdução sobre o livro de Actos para que possamos
compreender o seu contexto, o objectivo pelo qual foi
escrito e para quem foi escrito. Sendo sabedores destas
informações poderemos caminhar de modo mais acurado sobre
este belo livro.
Na realidade, o livro de Actos
é uma continuação do evangelho de Lucas. Estes dois livros
juntos narram a história dos primórdios do cristianismo.
Lucas escreve a Teófilo, com o objectivo de instruí-lo
com a mais completa base histórica da sua fé. Ele não
desejava que Teófilo tivesse uma fé cega e vazia. Sendo
assim, podemos afirmar que Actos e Lucas tem o mesmo “propósito
geral de confirmar a fé pessoal e de fornecer um inteligível
registo histórico da revelação de Deus aos homens pela
obra de Cristo, tanto pela Sua carreira pessoal como através
da Sua igreja.”[1] Contudo, é importante dizer que “o
propósito principal do livro de Atos foi o de traçar o
triunfal progresso do evangelho, a partir de Jerusalém,
onde teve início, até Roma, a capital do império.”[2]
O livro de Actos é de suma
importância para nós. “A informação contida nele não se
encontra em nenhum outro livro do Novo Testamento. Alguma
informação pode ser colhida das epístolas, acerca da igreja
primitiva; mas, é somente quando colocamos as epístolas
dentro da estrutura de Atos que podemos reconstruir, até
certo ponto, a história da igreja que emergia. Muita coisa
do Novo Testamento só é entendível quando vista à luz
do cenário histórico encontrado em Atos.”[3]
Agora, sendo conhecedor do
pano de fundo histórico e o objectivo que tem o livro
podemos aplicar a mensagem do texto às nossas vidas. Agora
podemos ver como é que vivem as pessoas que foram transformadas
pelo Senhor Jesus e assim, ver como nós também devemos
viver.
Todos os que têm vidas transformadas
pelo Senhor permanecem firmes na doutrina bíblica
O que caracteriza alguém que
tem sua vida transformada?
O que caracteriza um cristão?
O que é um cristão?
Quem tem a vida transformada
persevera na doutrina dos apóstolos. É alguém que permanece
fiel ao ensino que foi ministrado. O termo utilizado para
perseverar na doutrina é a palavra grega (προσκαρτεροῦντες
proskarterountes) que tem como pano de fundo permanecer
firme, resolutamente, ser constante, inabalável neste
ensino.
Pessoas que foram transformadas
pelo Senhor Jesus são pessoas abertas à instrução da Palavra
de Deus. São pessoas que sabem explicar sua fé. “Os cristãos
podem dizer porque são cristãos, e se você não puder dar
uma razão, se você não puder dizer “Eu creio nisto e naquilo”
você não é um cristão.”[4] É fundamental compreendermos
que necessitamos aprender e estudar a Palavra de Deus.
Devemos conhecer bem as nossas doutrinas. Precisamos estar
aptos para dar explicação da nossa fé. Quem tem a vida
transformada pelo Senhor sabe da explicação da sua fé.
Pedro diz o seguinte: “antes santificai em vossos corações
a Cristo como Senhor; e estai sempre preparados para responder
com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão
da esperança que há em vós” (1 Pe 3.15). És cristão? Estás
preparado para responder a razão da esperança que há em
ti?
O cristão verdadeiro não é
contra o ensino. Um cristão autêntico estuda com afinco
e deseja aprender cada vez mais sobre a Palavra de Deus.
“O antiintelectualismo e a plenitude e a plenitude do
Espírito são mutuamente incompatíveis, pois o Espírito
Santo é o Espírito da Verdade. Esses primeiros discípulos
também não pensavam que, devido ao fato de terem recebido
o Espírito, esse era o único professor que precisavam,
podendo dispensar os mestres humanos. Pelo contrário,
eles se assentavam aos pés dos apóstolos, ansiosos por
receberem instruções, e nisso perseveravam.”[5]
Quem tem a vida transformada
é firme na Palavra. Conhece o Senhor e vive de acordo
com a sua Palavra e persevera nela. É assim que devemos
viver. Tu vives assim?
É bom lembrarmos o que é dito
dos crentes de Beréia: “Ora, estes eram mais nobres do
que os de Tessalônica, porque receberam a palavra com
toda avidez, examinando diariamente as Escrituras para
ver se estas coisas eram assim.” (Act 17.11). Um cristão
é uma pessoa que está com a sua Bíblia aberta a conferir
o ensino que está a ser ministrado. Não aceita qualquer
coisa.
A característica de uma igreja
cristã é a seguinte: “Uma Bíblia aberta e cultos onde
esta é devidamente explicada por aqueles a quem Deus concedeu
o espírito de sabedoria é o que devemos ter em nossas
igrejas, para que os crentes sejam bem instruídos e possam
dar razão da esperança que os anima e por que depositam
sua confiança em Cristo.”[6]
O cristianismo não é um clube
que nós aderimos. Também não é mais uma filosofia, um
passatempo intelectual. O cristianismo não é emocionalismo.
Não é uma questão de sentimentos. Não é uma questão de
vontade própria. E muito menos algo chato e castrador.
Se pensarmos assim diremos que o cristianismo é negativo.
Quando temos esta visão, o cristianismo é entediante.
Nas palavras de Martyn Lloyd-Jones: “A prática religiosa
é um sério dever que você tem que cumprir, e, quanto mais
cedo terminar, melhor. Não há felicidade em ponto algum
junto desta versão do cristianismo; não há alegria; muito
ao contrário. É um ensino que, nas palavras de Milton,
leva você a “desprezar os prazeres e viver dias laboriosos”.
Você tem que ir àquela reunião da igreja no domingo –
portanto, vamos tentar fazer um movimento de reforma para
reduzir as reuniões a uma por domingo! E fazer o culto
mais cedo para, em todo o caso, podermos ter o resto do
dia livre.”[7] Isto não é cristianismo e muito menos a
atitude de um cristão. O cristão é alguém que nasceu de
novo. É alguém que foi regenerado pelo poder do Espírito
Santo de Deus. É alguém que se viu culpado diante de Deus
e tendo ouvido a mensagem do evangelho se arrependeu e
pediu perdão ao Senhor. És cristão? Já te arrependeste
dos teus pecados? Já pediste perdão ao Senhor?
Todos os que têm vida transformadas
pelo Senhor vivem a vida com grande alegria e singeleza
de coração
Quem tem sua vida transformada
pelo Senhor é alguém que vive feliz. É uma pessoa que
não teme pela vida. Não vive sob o peso da culpa. É uma
pessoa que vive a desfrutar da graça do Senhor.
Quem tem sua vida transformada
pelo Senhor vive uma vida plena. Tudo para ele é santo.
Não existe o sagrado e o profano. Este conceito é da nossa
herança grega, mas a igreja não se fundamenta na cultura
helénica. A igreja está fundamentada na Palavra de Deus.
E quando olhamos para a Palavra vemos que a vida era vivida
como um acto pleno de adoração ao Senhor. É muito importante
para nós que tenhamos consciência do seguinte aspecto:
“O ensino do Antigo Testamento é que toda a vida interessa
a Deus. Não há distinção entre sagrado e profano. A vida
é toda dele. “Tudo vem de ti”, disse Salomão (1 Cr 29.14),
e isto não se refere apenas às ofertas. A vida toda é
um dom de Deus.”[8]
Aquele que foi transformado
pelo Senhor olha para sua vida com prazer e vive-a na
perspectiva de que ela é uma prenda de Deus e tem prazer
na vida que o Senhor lhe concedeu. Ele se alegra e desfruta
da vida porque sabe que sobre si não há mais nenhuma condenação.
É este o ensino de Paulo: “Portanto, agora nenhuma condenação
há para os que estão em Cristo Jesus.” (Rm 8.1). Quem
está em Cristo é livre. É grato e feliz. Jesus mesmo afirmou
que o seu desejo é que o nosso gozo seja completo. Quando
Ele dava suas últimas instruções aos discípulos ele disse:
“Estas coisas vos tenho dito, para que o meu gozo permaneça
em vós, e o vosso gozo seja completo.” (Jo 15.11). Jesus
viveu com alegria e deseja que nós, seus servos, sejamos
pessoas alegres. Alegria plena e completa é o que o Senhor
deseja para todos que são transformados por Ele. Já foste
transformado pelo Senhor? Vives esta alegria no teu dia-a-dia?
É triste ver as pessoas a dizerem
que os cristãos são pessoas infelizes e tristes. Mais
triste que isto é ver que muitos parecem viver esta realidade,
mas a questão é será que estes são realmente cristãos.
A alegria é uma das marcas mais fortes de um cristão.
O verdadeiro cristão, que foi transformado pelo Senhor
é uma pessoa feliz. Aquele que foi transformado pelo Senhor
e que recebeu o Espírito Santo em sua vida irá manifestar
o fruto do Espírito que é caracterizado pelo amor, alegria
e felicidade e estas características são as que mais o
mundo necessita em nossos dias. Paulo diz que o fruto
do Espírito é: “Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo,
a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade.
A mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não
há lei.” (Gl 5.22-23). Estás a manifestar este fruto em
tua vida. Tens manifestado alegria e amor aos demais?
És cristão? Foste transformado pelo Espírito Santo de
Deus?
Aqueles que foram transformados
pelo Senhor louvam e exaltam o Senhor com alegria. São
pessoas que manifestam a graça do Senhor. São pessoas
temem ao Senhor e por ter o Espírito Santo agindo nas
suas vidas, as maravilhas de Deus são manifestas.
Alegria é a marca de um cristão
autêntico, mesmo que tenha que passar por alguns momentos
de tristeza como nos diz Pedro: “Nisto vós exultais, ainda
que no presente, por breve tempo, se necessário, sejais
contristados por várias provações.” (1 Pe 1.6). “Alegria!
Gozo! Você se dá conta que escapou do inferno. Não vai
mais para a perdição: você é filho de Deus. Seu coração
se comove. Você tem agora uma grande, gloriosa e grandiosa
vida, e se regozija nela.”[9] Já és filho de Deus? Estás
a exultar na alegria da salvação?
Todos os que têm vidas transformadas
pelo Senhor vivem dedicados aos outros e preocupados com
suas necessidades
Tem coisa impressionante é
ver esta realidade aqui no texto. Todos os que foram transformados
pelo Senhor vivem vidas preocupadas com o seu próximo.
Vivem vidas direccionadas aos outros. Não são pessoas
egoístas. São pessoas que compreenderam que o amor devido
a Deus é também o amor que deve ser demonstrado ao semelhante.
É interessante ver o que João escreveu: “Se alguém diz:
Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois
quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a
Deus, a quem não viu.” (1 Jo 4.20). Quando olhamos para
a igreja primitiva vemos este amor. É importante dizer
que as pessoas não eram obrigadas a dar. As pessoas não
eram obrigadas a vender suas propriedades, elas faziam
motivadas pelo amor e pelo interesse genuíno que tinham
uma pelas outras. Quem era rico, continuava rico, o pobre
continuava pobre, mas o princípio era o da igualdade.
É interessante ver o que Paulo afirma quando da oferta
feita pelas igrejas da Macedónia para a igreja em Jerusalém,
oferta não apenas financeira, mas de vida (2 Co 8.5).
Agora Paulo apela aos coríntios que façam o mesmo, mas
eis o princípio existente no seu apelo: “Pois digo isto
não para que haja alívio para outros e aperto para vós,
mas para que haja igualdade, suprindo, neste tempo presente,
na vossa abundância a falta dos outros, para que também
a abundância deles venha a suprir a vossa falta, e assim
haja igualdade” (2 Co 8.13-14). Todos os que são transformados
pelo Senhor manifestam preocupação autêntica com os seus
irmãos e não é apenas com os que estão perto, mas também
com os que se encontram distantes.
Um cristão autêntico é alguém
que no seu viver manifesta respeito pelos outros. Sua
fé não é vivida no vazio. Alias, a “fé deve se expressar
em atitudes corretas, em vida limpa, em caráter santo.
A verdadeira vida cristã não se mostra em frase estereotipadas,
tipo “paz do Senhor” ou “meu amado”. Manifesta-se num
caráter social, que respeita o próximo e produz uma atitude
nas relações sociais. Um cristão não explora nem compactua
com a exploração. Choca-se, indigna-se e protesta, em
nome de Deus.”[10]
Quando olhamos para vida destes
cristãos primitivos vemos um amor desinteressado. Um cristão
é uma pessoa que ama o amor. Que busca a cada dia desfrutar
da misericórdia do Senhor. O cristão é alguém que manifesta
misericórdia ao seu semelhante. Contudo, devemos ter bem
claro o que seja misericórdia.
“Misericórdia” é o hebraico
hesed, um dos termos mais ricos do idioma. É um amor profundo,
intenso, que a Bíblia na Linguagem de Hoje traduziu, no
texto de miquéias como “amemos uns aos outros com dedicação”.
É amor dedicado. Iahweh não está pedindo que o povo simplesmente
pratique a misericórdia, está pedindo que ame a misericórdia.
Parece um tanto sem sentido. O homem deve amar o amor,
é o que nos diz o profeta. O amor deve ser algo buscado,
amado e não apenas praticado. Sua prática pode cessar
por algum motivo, mas quando ele é amado e buscado, não
cessa.”[11] Aqueles que têm suas vidas transformadas amam
o amor. Eles amam a Deus e Deus é amor (1Jo 4.8). Quem
ama a Deus, ama também o seu próximo.
Aqueles que tem vidas transformadas
demonstram através de sua entrega e dedicação ao Senhor
e ao próximo. Já foste transformado pelo Senhor. Estás
a preocupar-te com o teu semelhante?
Quem tem sua vida transformada
pelo Senhor irá manifestar com uma preocupação séria e
intensa pelo seu próximo. Irá demonstrar com dedicação
e comunhão com o seu semelhante.
As pessoas que tem vidas transformadas
vivem a proclamar a mensagem do Senhor
É interessante ver isto no
texto. Os apóstolos testemunhavam ousadamente do Senhor.
A mensagem era pregada com ousadia. Sendo assim, podemos
afirmar que um cristão é alguém que não tem medo da perseguição.
É importante notarmos que entre o capítulo dois e o quatro
de Actos que narram como vivia a igreja, encontramos a
luta que aconteceu por causa da cura do paralítico na
porta do templo. A igreja cresce e desperta a perseguição,
mas o testemunho continua. As pessoas que tiveram suas
vidas transformadas assume claramente que agora pertencem
a Jesus e não negam este facto.
Eles agora são completamente
diferentes. Até poucos dias antes essa gente gritava:
Crucifica-o, crucifica-o, mas agora vive unida a louvar
a e adorar o Senhor. Vivem unidos a proclamar a graça
de Jesus.
Eles passaram a enfrentar o
perigo. Eles sabiam e tinham convicção que seu líder fora
crucificado no madeiro semanas antes. “Todavia, dispuseram-se
a juntar-se a eles e a continuar com eles. Continuaram
perseverante com eles – não queriam deixá-los. Estavam
arriscando tudo. Sabiam que seus parentes iam ficar enfezados,
que provavelmente seriam deixados no ostracismo por aqueles
que lhes eram caros; não importava. Sujeitaram-se ao batismo
público, alinharam-se a estas pessoas desprezadas. Seja
o que quer que acontecesse, tinham que ficar com elas.”[12]
Estavam juntos e assim proclamavam a mensagem do Senhor.
Não temiam o que lhes podia acontecer. Não se preocupavam
com o que diriam deles.
E tu, estás junto do povo de
Deus? Estás preocupado com a tua reputação e com o que
dirão de ti? Os que foram transformados tinham como preocupação
agradar o Senhor e obedecer suas ordens, tu o que farás?
Anunciar a mensagem do Senhor
não é um convite. Não é algo que devemos fazer aos domingos.
É uma tarefa diária e contínua. É interessante ver o que
é dito sobre o que são aqueles que se entregam ao Senhor
Jesus: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito
Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como
em toda a Judéia e Samária, e até os confins da terra.”
(Act 1.8). Os que são transformados têm o Espírito Santo
e testemunham do Senhor onde quer que se encontrem.
A mensagem que é proclamada
é que o Senhor Jesus veio em carne, morreu na cruz por
nossos pecados e ao terceiro dia ressuscitou e depois
subiu aos céus e vai voltar para julgar justos e injustos.
Tens anunciado esta mensagem. Tens proclamado a graça
de Jesus? És cristão?
Guisa de Conclusão
Teria muito mais para dizer,
mas não desejo ser maçador. Mas antes de terminar é fundamental
dizer o seguinte:
A igreja é constituída de pessoas
que se arrependeram dos seus pecados e pediram perdão
ao Senhor. Já te arrependeste? Já entregaste tua vida
a Jesus?
Aqueles que se arrependeram
e foram transformados pelo Senhor trazem nas suas vidas
marcas distintas a saber:
São pessoas que estão firmados
na doutrina bíblica e não se deixam enganar
São pessoas que alegres e com
singeleza de coração
São pessoas que se preocupam
com seu próximos e procuram ajudar nas suas necessidades
São pessoas que testemunham
da graça do Senhor.
És cristão? Já foste transformado
pelo Senhor? Como tens vivido?
Ser cristão não é estar dominicalmente
na igreja. Ser cristão é viver Cristo diariamente. É viver
a manifestar a graça do Senhor diariamente a todos que
cruzam contigo. É assim que tens vivido?
Se não és cristão, se não tens
vivido assim, arrepende-te e entrega-te ao Senhor Jesus.
Que Deus nos abençoe.
--------------------------------------------------------------------------------
[1] TENNEY, Merrill C. O Novo
Testamento, sua origem e análise 2ª Edição Edições Vida
Nova, São Paulo 1989
[2] GUNDRY, Robert H. Panorama
do Novo Testamento, 4ª Edição Edições Vida Nova, São Paulo
1989
[3] HALE, Broadus David. Introdução
ao estudo do Novo Testamento, 3ª Edição JUERP Rio de Janeiro
1989
[4] LLOYD-JONES, Martin. Cristianismo
Autêntico: Sermões nos Atos dos Apóstolos Vol 1 1ª Edição
Editora PES, São
Paulo 2005
[5] STOTT, John R. W. A Mensagem
de Atos, 1ª Edição ABU Editora, São Paulo, 1994
[6] VARETO, Juan C. Los Hechos
de Los Apostoles Explicado – Editorial Evangélica Bautista,
Buenos Aires 1952
[7] Op.Cit.
[8] COELHO FILHO, Isaltino
Gomes. Descubra agora: a ética dos profetas para hoje
– Exodus Editora, São Paulo 1997
[9] Op.Cit.
[10] Op.Cit.
[11] Op.Cit.
[12] Op.Cit.
= = Queridos,
Depois de um longo silêncio, volto a escrever-vos. Este silêncio foi proposital. tive necessidade de ficar na quietude e assim ouvir o silêncio. Como resultado deste silêncio surgiu um série de reflexões. Estas estão baseadas em perguntas simples, mas que para mim são muito sérias e profundas. Eis as perguntas: O que Deus espera do pastor? O que o pastor espera de Deus? O que a igreja espera do pastor? O que o pastor espera da igreja? Para onde caminhamos? Cehguei a algumas conclusões. Agora estou a escrever as respostas que encontrei. Sendo assim, quero partilhar o texto que escrevi baseado na primeira pergunta. Aguardo vossa opinião e comentário. Abraços, nEle, Marcos Amazonas _ 23/08/07 76. O Que Deus Espera do Pastor? Vivemos na era da informática,
nosso tempo é marcado pelas grandes mudanças. Não existem
mais padrões e valores absolutos, pois na sociedade
de consumo, tudo muda rapidamente e temos que acompanhar
este ritmo frenético se desejarmos estar inseridos no
mundo actual. Neste corre-corre, vemos que os líderes
religiosos estão a procurar se adaptar à nova situação.
Muitos já não desejam ser chamados de pastor e arranjam
títulos esquisitos para si mesmos. Outros há, que por
ter vergonha de assumir o que são intitulam-se gestores,
educadores, mas nunca pastores.
No afã e desejo de ser
relevante, muitos estão deixando de lado a essência.
Há pastores que procuram tirar o máximo de proveito
das situações. Manipulam pessoas, brincam com as emoções
alheias e se julgam semi-deuses para não dizer deuses.
São pessoas megalómanas, que pensam que podem fazer
tudo. “Tal como os construtores da torre de Babel, nós
também vivemos, pensamos e falamos, como “se nada fosse
impossível” para nós.”[1] Este é o nosso tempo. É o
tempo de realizar o que parecia impossível e esta mentalidade
está a tomar conta de muitos líderes religiosos. Os
pastores estão em luta. Luta uns com os outros, mas
principalmente em luta com a mentalidade cultural do
momento e estão a deixar que o conceito secular tome
conta da igreja. Vemos cada vez mais que os pastores
estão a se profissionalizar e assumir a postura de administradores
de empresa. Os pastores agora desejam títulos bonitos
e já não desejam se apresentar como servos do Senhor.
Recordo-me de um certo pregador que ao ser convidado
para pregar em determinada igreja, exigia que o seu
curriculum fosse lido e seus muitos títulos fossem enunciados.
Diante de tal atitude e mentalidade que invadiu a igreja,
podemos afirmar que se os apóstolos estivessem presentes
em nossos dias, eles não teriam oportunidade de proclamar
a mensagem do Senhor em nossas igrejas. Contudo, o pastorado
continua a ser a obra sobremodo excelente (1 Tm 3.1),
não obstante todas as lutas que devem ser enfrentadas
por aqueles que trilham o caminho ministerial. Ser pastor
nos dias actuais é um desafio. É necessário ser alguém
dependente do Senhor e que tenha consciência de que
o “ofício do pastor não parece valorizado pela sociedade.
Não ganhamos muito dinheiro. Não exercemos uma função
específica que contribua diretamente para o produto
interno bruto ou para os índices dos principais indicadores
econômicos. A profissão dos cléricos fica próxima ao
do coletor de lixo na lista das carreiras mais valorizadas
pelos alunos no final do primeiro grau.”[2] Esta desvalorização
não é fruto apenas da secularização. Ela é fruto também
do descaso dos pastores e principalmente dos grandes
escândalos que estão a ser promovidos por pessoas que
deveriam ser um exemplo e um marco na sociedade.
É preocupado com a realidade
pastoral que me pus a reflectir sobre quais seriam as
expectativas de Deus em relação ao pastor. Contudo,
a primeira coisa que me veio à mente foi que Deus não
tem expectativas sobre os pastores porque Deus é Soberano,
Omnisciente; sendo assim, já sabe todas as coisas e
não tem necessidade de criar expectativas sobre os seus
servos. Entretanto, lendo a Bíblia atentamente, encontrei
aspectos interessantes, que valem a pena ser pensados
e avaliados por nós.
Não é meu desejo criar
algo novo. Não é meu desejo inventar uma nova onda,
mas sim pensar sobre a vida pastoral. Reflectir sobre
o que temos feito e como temos nos conduzido e ver o
que o Senhor nos orienta e nos ensina. Nossos dias são
confusos, dias em que as palavras ditas por Paulo a
Timóteo estão a ser uma realidade constante em nosso
meio. Infelizmente, vemos que os homens são amantes
de si mesmos, são pessoas que estão a buscar o seu próprio
interesse e não estão a desejar dar glória a Deus. Isto
não é novo. É a realidade que foi predita por Paulo.
Senão, vejamos o que ele diz:
“Sabe, porém, isto, que
nos últimos dias sobrevirão tempos penosos; pois os
homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos,
soberbos, blasfemos, desobedientes a seus pais, ingratos,
ímpios, sem afeição natural, implacáveis, caluniadores,
incontinentes, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos,
orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de
Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o
poder. Afasta- te também desses.” (2 Timóteo 3.1-5)
Paulo diz que devemos
fugir deste tipo de pessoas. Não podemos compactuar
com uma liderança que busca a sua própria glória e tenta
tirar proveito dos outros. Devemos ter cuidado e espírito
crítico para podermos avaliar cada situação e liderança
que nos aparece pela frente. Em nossos dias, devemos
clamar ao Senhor suplicando que Ele nos conceda o dom
do discernimento para não nos deixarmos enganar e ser
seduzidos por líderes gananciosos. Não podemos negar
que a advertência de Paulo é uma realidade que tem sido
vivida em nossos dias. É triste ver que em nossos dias
há pastores que estão a encarnar esta descrição em sua
vida. Isto acontece porque a Bíblia é verdadeira. É
a verdade, pois é a Palavra de Deus, mas isso, deve
nos fazer viver com temor e tremor, fazendo-nos suplicar
para que o Senhor tenha misericórdia de nós e não permita
que façamos parte desta lista de líderes que se afastam
do Senhor e seguem o caminho do egoísmo.
Para nós, que exercemos
liderança, fica o desafio de viver comprometidos com
o Senhor e a lutar para não nos deixarmos seduzir pelas
muitas tentações que aparecem e tentam nos seduzir e
assim nos afastar do caminho do Senhor. O desafio que
temos pela frente é o de vivermos vidas rectas diante
do Senhor. Não podemos ceder ao pensamento moderno que
descredibiliza o ministério pastoral, não podemos querer
ser chamados de mestres, gestores ou educadores. Precisamos
resgatar a excelência do ministério pastoral. Não podemos
esquecer que somos os arautos do Senhor numa terra carente.
Somos seus mensageiros, os seus profetas e não devemos
esquecer que “o profeta deve ser um escravo da Palavra.
O profeta é o homem que se prende à Bíblia, fala o que
ela fala, não a diminui, não a ultrapassa. E deve encorajar
o povo a permanecer fiel no compromisso com Deus, a
confiar nele e a se lembrar de sua missão neste mundo.”[3]
Quando entendemos esta realidade e a vivemos de modo
pleno, podemos ter a certeza de que o que dizemos não
são meras palavras. Quando somos fiéis ao Senhor e dizemos
somente o que Ele deseja e permanecemos firmados em
sua Palavra, podemos ter certeza do seguinte: “Nossas
palavras não são meras palavras. Com elas liberamos
verdades poderosas e impetuosamente imprevisíveis do
evangelho, transformando vidas aqui e agora – e para
sempre.”[4] Este é o resultado da nossa mensagem se
formos fiéis ao evangelho do Senhor.
É aqui que entram as
expectativas de Deus. O Senhor espera que tenhamos uma
postura correcta. Que o nosso viver espelhe o seu carácter,
para que isso aconteça, creio que devemos persistir
em alguns pontos que eu traço como as expectativas de
Deus para nós. Sendo assim, vejamos quais são as expectativas
que o Senhor tem para nós.
Deus espera que os pastores
o conheçam. Esta declaração parece ser ridícula, pois
mostra aquilo que é o óbvio, porém, muitas vezes o óbvio
não é uma realidade em nossas vidas. Há pastores que
afirmam não acreditar em Deus. Não paramos para reflectir
sobre esta realidade e procurar saber quantos há em
nosso meio que não conhecem realmente o Senhor. Há muitas
pessoas que conhecem teoricamente. Sabem falar sobre
Deus, mas não experimentaram a graça de Deus em suas
vidas. O profeta Oséias diz: “Conheçamos, e prossigamos
em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa;
e ele a nós virá como a chuva, como a chuva serôdia
que rega a terra.” (Os 6.3). O desafio que nos é lançado
é que nos tornemos para o Senhor. Conhecer o Senhor
significa ter intimidade com Ele. O termo conhecer tem
uma conotação com uma relação íntima e profunda. Este
termo é o mesmo utilizado em Génesis quando diz que
Adão conheceu Eva. O profeta diz que devemos conhecer
e continuar a conhecer o Senhor. Sinceramente, estamos
procurando conhecer o Senhor. Como conhecemos o Senhor?
Nosso grande problema
actualmente é que o nosso conhecimento é fundamentalmente
racional, algo fundamentalmente intelectual, mas não
experimental. Este conhecimento experimental deve ser
baseado na intimidade que nutrimos com o Senhor. Não
está fundamentado nos muitos livros, não está sustentado
nos ensinos dos mestres teológicos. Este é um conhecimento
pessoal, fruto da nossa busca pelo Senhor. É o nosso
desejo de estar cada vez mais com o Senhor. É desejar
o Senhor como diz o salmista: “Como o cervo anseia pelas
correntes das águas, assim a minha alma anseia por ti,
ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo;
quando entrarei e verei a face de Deus?” (Sl 42.1-2).
Infelizmente, nos nossos dias actuais, nós conhecemos
o Senhor através dos estudos, mas não da experiência
pessoal com Ele. É o momento de tirar o Senhor dos nossos
estudos e passar a ter intimidade com Ele. Orlando Boyer
escreveu o livro “Heróis da Fé”, no qual traça a biografia
de 20 homens que conheceram intimamente o Senhor. Um
destes homens foi Jorge Müllerm e devemos procurar seguir
o seu exemplo, pois ele escreveu: “O Senhor me ajudou
a abandonar os comentários e usar a simples leitura
da Palavra de Deus como meditação. O resultado foi que,
quando à primeira noite, fechei a porta do meu quarto
para orar e meditar sobre as Escrituras, aprendi mais
em poucas horas do que antes durante alguns meses. A
maior diferença, porém, foi que recebi, assim, força
verdadeira para a minha alma.”[5] É este tipo de experiências
que precisamos ter com o Senhor. Não podemos virar intelectuais
da fé. É claro que não estou contra o estudo. Não estou
contra o aprofundar das questões, o que estou a dizer
é que não podemos virar pensadores e intelectuais e
assim virar às costas a uma relação íntima e profunda
com o Senhor.
É facto que existem os
que conhecem o senhor da filosofia, mas não o Senhor
da História, o Senhor que se revela ao homem. Aqui cabe
as palavras de Emil Brunner: “Qualquer que seja o conteúdo
das ideias filosóficas de Deus em seus detalhes, um
traço característico é comum a todas: é um pensamento
humano de Deus, um Deus que é encontrado por meio do
pensamento, ou, negativamente, não é um Deus que se
revela na história. Esta é a distinção naqueles dizeres
de Pascal que é parte do famoso documento encontrado,
em sua morte, costurado em suas vestes, o qual foi chamado
de seu testamento espiritual, “Dieu d’Abraham d’Isaac
et Jacob non des philosophes.”, o Deus da filosofia
não é o mesmo Deus da revelação bíblica. Mesmo que não
soubéssemos nada da ideia filosófica de Deus além disto,
esta seria alcançada ou adquirida pelo pensamento filosófico,
saberíamos por isso a coisa mais essencial, ou seja,
que este Deus não é o Deus da revelação.”[6]
Em nosso momento actual, alguns procuram conhecer Deus
através da ciência. Só para termos uma ideia desta realidade,
quero citar dois cientistas que escrevem sobre Deus.
Schoroeder escreveu o livro “Deus e a Ciência: A Bíblia
explicada por um cientista”[7], outro autor é o físico
Frank Tipler que desenvolveu uma teoria chamada o Ponto
Ómega que ele diz que na realidade é Deus. O livro que
Tipler escreveu é “A Física da Imortalidade”[8], contudo
devemos entender que Deus não é instrumento de um tubo
de ensaios. Aqui fica muito bem a declaração de Isaltino
que diz: “Deus não é matéria da ciência. Nem da filosofia.
E o máximo que a ciência nos pode dar é um ser criador,
e assim mesmo nada nos revelar sobre o seu amor e sua
revelação, bem como o seu propósito para o mundo. E
a Filosofia, no máximo nos pode dar uma Razão, um Motor,
uma Causa não Causada, mas não um Deus de amor. Pode-se
ter, na especulação científica e filosófica, um Deus
impessoal, uma causa não causada, mas nunca um Deus
de amor e moral, com propósitos definidos para o homem.
Isso só a Bíblia pode nos dar. Por isso que as tentativas
de provar a existência de Deus nem sempre serão satisfatórias.”[9]
Nós precisamos nos voltar para a Bíblia, para o Deus
que revela-se a si mesmo e nos dá acesso a Ele. É este
Deus que nós precisamos conhecer.
Este é o grande desafio
para os pastores. Deus espera que nós O conheçamos.
Conhecê-lo de modo íntimo e pessoal. Conhecê-lo como
o conheciam os profetas que sabiam discernir a voz do
Senhor e falavam em nome do Senhor. Conhecê-lo ao ponto
de não ter outro deus além do Senhor. É isto que diz
a Palavra do Senhor: “eu sou o Senhor teu Deus desde
a terra do Egito; portanto não conhecerás outro deus
além de mim, porque não há salvador senão eu.” (Os 13.4).
É esta a expectativa de Deus para connosco, que O conheçamos
e conhecê-lo é ter “conhecimento experiencial, emocional,
relacional e profundo. Deus não é matéria de razão pura.
É por isto que temos uma Bíblia: ele se revelou. Ele
se deu a conhecer. Ele se manifestou na pessoa de Jesus
de Nazaré. Podemos conhecer a Deus porque ele se deu
a conhecer.”[10] Ele espera que nós o reconheçamos como
o nosso Senhor e Salvador.
Deus espera que os pastores
o conheçam. Esta é a expectativa do Senhor. Mas o que
é conhecer a Deus dentro da perspectiva bíblica?
Uma boa resposta para
esta pergunta nos é dada por Smith que diz: ““Conhecer
a Deus” significava ter um entendimento intelectual
de quem ele era, ter um relacionamento pessoal e emocional
com ele e ser obediente à sua aliança e mandamentos.
Um verdadeiro conhecimento de Deus sempre resultava
numa conduta ética.”[11]
Deus espera que o pastor
o conheça de modo pessoal, íntimo, relacional e não
teórico. Conhecê-lo desta maneira é ter a consciência
dos seguintes aspectos:
O Senhor espera que os
pastores reconheçam à sua santidade. Deus é santo. Mas
o que é a santidade de Deus? “A santidade de Deus consiste
na sua própria disposição incondicional, em seu desejo
de ser o único Deus e Senhor, não dividindo sua honra
com ninguém, mas desejando ter o mundo cheio da sua
glória.”[12] A santidade de Deus nos fala que Ele é
completamente diferente de nós. Ele é completamente
outro e nada pode se comparar a Ele. Deus é independente
da criatura. A santidade de Deus fala-nos da sua soberania
absoluta. “Dizer que Deus é santo é dizer que Deus é
Deus. Santidade sugere o poder, o mistério, a transcendência
– mas não a inatingibilidade – de Deus.”[13]
Reconhecer a santidade
de Deus é entender que Ele é transcendente. Ele é completamente
diferente de nós. Contudo, Ele é o Deus que se revela
e se dá a conhecer a nós. Por isso, só podemos conhecê-lo
à medida da sua revelação a nós.
O Senhor espera que os
pastores reconheçam que Ele é amor. A essência de Deus
é amor (1 Jo 4.8). Deus não necessita da criatura para
ser amado e para amar, pois Ele é puro amor. Ele é o
Deus de amor. É isso que a ciência e a filosofia não
podem expressar. Deus é amor. Ele é o amor e não está
preso à sua criação. Harold Kuschner errou quando escreveu
que Deus se sentiu solitário e criou o homem para matar
sua solidão. Deus não necessita do homem, pois na trindade
Ele vive em plena harmonia e amor. É na trindade que
reside o verdadeiro amor. O amor é a essência de Deus.
Ele não necessitava de ninguém, pois Ele é o amor e
o amado.
Saber que Deus é amor
é ter bem certo que o Senhor escolhe, protege, disciplina,
redime. É ter consciência de que este amor é profundo
e permanente. Não pode aumentar nem diminuir, pois Deus
é amor. Contudo, quando estamos diante da santidade
de Deus e do Deus que é amor, não podemos deixar de
dizer que Ele é justiça. É fundamental entendermos que
sobre nós pesa a ira de Deus. A ira de Deus não faz
parte da sua essência, mas a humanidade está sob o efeito
da ira divina por causa do pecado. Entretanto, tenhamos
a certeza de que “pela morte de Cristo a realidade da
ira divina foi removida, mas Deus é o sujeito e não
o objeto dessa ação reconciliadora.”[14]
Deus é Santo, Deus é
amor. Mas o que é então a ira de Deus? Só poderemos
entender a ira de Deus, sabendo que Ele é amor e é santo.
Sendo assim, “a ira de Deus é um efeito de sua santidade,
mas não pertence à sua essência; por outro lado, a santidade
de Deus não é idêntica ao seu amor, mas sua vontade
santa encontra cumprimento total na realização do amor.
Portanto, é o amor de Deus que faz sobressair toda a
história da revelação, e é o amor de Deus que conduz
à cruz do Salvador. Este amor, entretanto é revelado
de tal forma que ao mesmo tempo a santidade de Deus
em sua inexorável severidade se torna manifesta.”[15]
Deus espera que os pastores
proclamem sua santidade, digam que Ele é amor, mas também
que anunciem que Ele é justo e recto e por causa da
sua rectidão, pesa sobre a humanidade a ira de Deus.
O pecado separa o homem de Deus (Rm 3.23). Portanto,
na cruz, Deus manifesta todo o seu amor e misericórdia
ao homem, para que este possa através da manifestação
da graça do Senhor, possa voltar-se para o Senhor. Na
cruz que tem sua ira aplacada e o homem agora pode encontrar
graça, pois o preço foi pago (Rm 6.23).
Deus espera dos pastores
obediência. Ninguém gosta de obedecer. O ser humano
gosta de mandar, mas não de obedecer. Entretanto, o
Senhor espera de nós obediência. Foi justamente isso
que Samuel disse a Saul: “Tem, porventura, o Senhor
tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que
se obedeça à voz do Senhor? Eis que o obedecer é melhor
do que o sacrificar, e o atender, do que a gordura de
carneiros.” (1Sm 15.22). O nosso chamado é um chamado
à obediência. Não devemos estar preocupados em tarefas
e assumir muitos compromissos. Não somos chamados estar
envolvidos em muitas actividades e a viver uma religiosidade
feita de sacrifícios. Nosso chamado é para obedecermos
o Senhor.
Um outro facto importante
é que Deus espera que os pastores conduzam o seu povo
em seus caminhos. Pastores segundo o seu coração. Pastores
que ensinem o povo com ciência e com inteligência (Jr
3.15). Deus espera que os pastores ensinem o seu povo
e o preparem para andar no seu caminho. Os pastores
não podem buscar os seus próprios interesses. O Senhor
afirma que estes pastores devem tomar cuidado. É isto
que encontramos na sua Palavra: “Ai dos pastores que
destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto, diz o
Senhor.” (Jr 23.1). Pastores não são para destruir o
rebanho do Senhor, são para cuidar e ensinar em todo
o conhecimento do Senhor. O texto de Jeremias é muito
claro e diz: “e vos darei pastores segundo o meu coração,
os quais vos apascentarão com ciência e com inteligência.”
(Jr 3.15). Duas palavras aqui são importantíssimas para
nós. O Senhor diz que pastores segundo o seu coração
apascentam o rebanho com ciência. Será que Deus está
interessando em cientistas? Será que os pastores devem
estar envolvidos nas questões científicas para poderem
ensinar o povo de Deus? Não é isso que Ele nos diz em
sua Palavra?
O termo ciência (deah),
significa a verdade divina concernente a Deus e os seus
melhores interesses em relação ao homem. Deus deseja
a salvação do homem e que este mantenha uma relação
íntima com Ele. O outro termo utilizado é inteligência
(haskeil), que quer dizer entendimento. A capacidade
para fazer a interpretação completa de cada ponto que
tem sido recebido da vontade do Senhor. É esta interpretação
que conduzirá a sabedoria, santidade e felicidade. O
Senhor espera que possamos levar o povo a estas realidades.
Ele deseja que tenhamos conhecimento e entendimento.
Que seus pastores sejam sábios, não na sabedoria humana,
mas nos caminhos do Senhor. É sempre bom lembrar que
o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Pv 1.7).
Pastores devem temer o Senhor. Devem obedecê-lo e assim,
terão condições de ser pastores segundo o coração de
Deus.
O Senhor espera que os
pastores tenham consciência de sua debilidade. Este
é um aspecto muito importante para nós. Não podemos
pensar que somos fortes e auto-suficientes, nós somos
débeis e frágeis. Somos seres humanos falhos e não semi-deuses.
Por isso, Paulo declarou: “Temos, porém, este tesouro
em vasos de barro, para que a excelência do poder seja
de Deus, e não da nossa parte.” (Co 4.7). O barro mostra
a nossa fragilidade, mas também mostra como podemos
ser moldados pelo Senhor. Deus espera que estamos aptos
para sermos pessoas moldáveis, pessoas que podem ser
trabalhadas e que, apesar das nossas falhas possamos
ser burilados.
É fundamental que termos
consciência das nossas fraquezas e que é através delas
que podemos ver o poder e a graça do Senhor a se manifestarem
de modo poderoso em nosso vida. É somente quando estamos
fracos que podemos ouvir o Senhor a dizer-nos que a
sua graça nos basta (2 Co 12.9). Deus está no comando
de nossas vidas, mas nós devemos entender que continuamos
a ser pessoas falhas, mas apesar dessas debilidades
e fraquezas, nada nem ninguém nos separará do amor de
Deus em Cristo Jesus (Rm 8.31-39).
O Senhor espera que reconheçamos
as nossas debilidades. Espera que sigamos o caminho
do nosso Senhor Jesus. O chamado do Senhor é para que
tomemos à cruz e o sigamos (Lc 9.23). Contudo, devemos
sempre lembrar o seguinte: “A cruz, o símbolo principal
de nossa fé, convida-nos a ver graça onde há dor; a
ver ressurreição onde há morte.”[16] A graça e a vida
estão no Senhor e tudo o que de bom que fazemos é pela
graça de Deus. Mas não podemos esquecer de quem somos
e como somos. Paulo nunca esqueceu quem ele era, por
isso, ele dizia: “Miserável homem que eu sou! quem me
livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24). Esta era a
consciência do apóstolo e deve ser a nossa também. Não
podemos esquecer a nossa debilidade e fragilidade. Nosso
chamado é para desfrutarmos da graça de Deus e manifestá-la
aos demais, sem nunca esquecer que somos pecadores.
Somos dos piores que existem. Era assim que Paulo se
via e é assim que devemos nos ver. Devemos dizer juntamente
com Paulo: “Fiel é esta palavra e digna de toda a aceitação;
que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores,
dos quais sou eu o principal” (1 Tm 1.15). Não podemos
esquecer que somos miseráveis pecadores e que a graça
se manifestou a nós. Portanto, o nosso viver de ser
numa constante atitude de gratidão ao Senhor e sempre
conscientes da nossa fragilidade e debilidade. Enfrentar
nossas debilidades é lutar contra o pecado. É lutar
contra nós próprios. Sendo assim, ao realizar esta luta,
estamos a fazer as amputações humanas, estamos a nos
auto limitar, mas esta é uma decisão pessoal, “é autocirurgia,
é autoamputação. Tem a ver com a sua vontade, com sua
decisão. Saiba de uma coisa. Quem as faz, não se reduz,
só cresce, expande-se, torna-se mais pleno, torna-se
mais gente, torna-se mais realizado, torna-se completo.”[17]
Deus, o Senhor espera
que nós vivamos a vida cristã de modo coerente. Ele
espera que nós pastores tenhamos bem claro o nosso chamado.
Precisamos viver a vida de modo consciente para não
virmos a ser achados no grupo daqueles que se afastaram
da caminhada e estão à procura de fama e sucesso. O
nosso chamado é para conhecermos o Senhor e andarmos
com Ele, sabendo das nossas fragilidades e descansando
em sua graça.
Que assim seja e se faça
assim para honra e glória de Jesus.
-------------------------------------------------------------------------------- [1] HORTON, Michael (ed.)
Religião de Poder, 1ª Edição Editora Cultura Cristã,
São Paulo 1998
[2] PRICE, Donald E.
(org.) O Pastor, profeta de Deus, 1ª Edição Edições
Vida Nova, São Paulo, 2002
[3] COELHO FILHO, Isaltino
Gomes. Descubra agora: a ética dos profetas para hoje
– Exodus Editora, São Paulo 1997
[4] Op.Cit
[5] BOYER, Orlando. Heróis
da Fé: Vinte homens extraordinários que incendiaram
o mundo, 1ª Edição CPDA Rio de
Janeiro 2005
[6] BRUNNER, Emil. O
Escândalo do Cristianismo, - Editora Cristã Novo Século
Ltda, São Paulo 2004
[7] Este livro em Portugal
foi publicado pela Publicações Europa-América
[8] Este livro em Portugal
foi publicado pela Editora Bizâncio
[9] COELHO FILHO, Isaltino
Gomes. Teologia Sistemática I www.ibcambui.org.br
[10] COELHO FILHO, Isaltino
Gomes. Pastoral da Igreja Baptista do Cambuí 22/08/07
em www.ibcamui.org.br
[11] SMITH, Ralph. Teologia
do Antigo Testamento. História, Método e Mensagem, 1ª
Edição Edições Vida Nova, São
Paulo, 2005
[12] Op.Cit
[13] Ibid
[14] Op.Cit.
[15] Ibid.
[16] NOUWEN, Henri. Transforma
meu pranto em dança, 2ª Edição Textus Editora Rio de
Janeiro, 2003
[17] D’ARAÚJO FILHO,
Caio Fábio. A Misericórdia de Deus e as amputações humanas,
4ª Edição Editora SEPAL, São
Paulo 1995
Meus queridos, Acabei de escrever a minha segunda reflexão. Confesso que não fiz a correcção da mesma, mas desejo partilhá-la com os queridos assim mesmo. Um abraço, nEle, Marcos Amazonas 77. O Que o Pastor Espera de Deus? O ministério
pastoral é algo fascinante. Estou envolvido com esta
realidade já faz mais de 20 anos. Entretanto, reconheço
que tenho apenas dez anos de consagração e ministério
efectivo como pastor titular de uma igreja. Tenho
procurado viver cada dia como se fosse o último da
minha vida. Contudo, em todos estes anos, tenho chorado
por situações complexas que tive que atravessar e
principalmente por ver meus filhos que não foram chamados
para o ministério serem arrastados em momentos delicados
que deveriam ser vivenciados por mim. É verdade, que
durante este período de tempo, em cada momento tenho
visto o agir de Deus em nossas vidas. Temos exultado
e nos alegrados pelas misericórdias do Senhor que
se renovam a cada manhã. É somente por causa das misericórdias
do Senhor que estamos aqui, pois tenho consciência
da minha debilidade e fraqueza.
Eu não queria ser pastor. Fugi desta realidade e na
minha fuga, tornei-me como o pródigo que causou dano
à sua família, mas muito mais a si mesmo. É isto mesmo,
fiz meus pais sofrerem e muito. Dei muitas preocupações
aos meus irmãos, mas neste processo todo, eu era o
que estava a ficar completamente destruído. Fugi,
mas um dia desejei regressar e sei que este desejo
foi agir de Deus em minha vida. Tenho consciência
que foi em resposta às muitas orações intercessórias
que eram feitas ao Pai por mim. Voltei arrependido,
fui recebido como filho. Fui acolhido, amado e agraciado.
Meu ser se encheu de alegria, a vida passou a ter
outra cor. Entretanto, as marcas do passado estavam
presentes, a luta foi constante. Aconteceram quedas,
mas minha mãe estava ali para ajudar-me e amparar-me.
Não posso esquecer que meu regresso foi da inteira
responsabilidade daquela senhora frágil de voz meiga,
mas que era mulher de oração como poucas.
Minha mãe foi deixando bombas de efeito retardado
em meu caminho. Ela orava e suplicava para que o Senhor
me guardasse onde quer que eu estivesse e ela sabia
que eu estava a fazer coisas completamente despropositadas.
Estava a viver envolto no pecado, mas ela calada intercedia.
Contudo, ela manteve sua coerência, na igreja pediu
que eu fosse disciplinado. Não tinha vida para continuar
como membro da igreja. Não dá para imaginar a dor
que ela sentiu ao ter que tomar tal atitude, mas o
fez por amor à igreja e por seu filho.
O Senhor atendeu à súplica da minha mãe. Ele me resgatou.
Aliás, eu sabia que não ficaria para sempre naquela
vida de pecado. Eu tinha consciência do chamado de
Deus, mas eu não queria obedecê-lo. Eu tinha consciência
que dia menos dia, estaria a servir o Senhor, só não
queria que fosse como pastor. Não queria uma responsabilidade
tão grande para mim. Não a queria, porque via na minha
família as lutas de um pastor. É verdade, faço parte
de uma família pastoral. Meu avô paterno era pastor,
seu filho mais velho também. Meu pai também seguiu
o ministério pastoral. Tenho um primo pastor e ainda
uma tia que casou com um pastor. Pensava que a cota
de pastores na família já estava completa. Entretanto,
o Senhor não pensava assim e ainda bem que não. Regressei
como o pródigo e desejei dedicar toda a minha vida
ao serviço do Senhor. Já se passaram vinte e poucos
anos e continuam com o mesmo desejo. A única coisa
que almejo nesta vida é servir o Senhor com todas
as forças do meu ser.
Desde o meu regresso, tenho procurado servir o Senhor.
Este desejo levou-me a desejar a obra sobremodo excelente
(1 Tm 3.1). Desejei o pastorado. Não quis ser outra
coisa na vida. Aliás, a vida não teria sentido se
não fosse no ministério. Com todas as minhas imperfeições
e debilidades o Senhor aceitou o meu desejo. Fui para
o seminário e ali aprendi bastante, mas movido pelo
desejo de fazer algo urgente, casei nos encaminhamos
para Portugal. Ficamos dois anos a servir na REMAR,
uma obra que muito nos ensinou sobre viver na dependência
do Senhor. Dois anos depois regressamos para o Brasil
e na cidade de Manaus conclui o meu curso. Não quis
ser consagrado ao ministério, pois dizia que só o
seria quando houvesse uma igreja para pastorear. Não
queria o título de pastor. Não queria e não quero
títulos. Meu desejo é apenas ser um servo que está
a realizar a obra do seu Senhor. Foi assim que recebi
o convite para regressar a Portugal e pastorear uma
missão na pequena cidade de Oliveira do Hospital.
Depois de um tempo em oração aceitamos o desafio e
já se passaram dez anos. Passamos seis anos em Oliveira
do Hospital e já faz cinco que estamos em Coimbra.
Cada dia é uma aventura nova. Mas como cantava Gonzaguinha:
“Começaria tudo outra vez se preciso fosse”, assim
eu também digo.
Sou pastor e quando assumi o pastorado, assumi-o cheio
de expectativas. Assumi-o desejando ser eu mesmo.
Não queria ser cópia de ninguém. Mas assumi-o olhando
para o alto, na certeza de que o Senhor era comigo.
Entrei para uma jornada diária com Deus. E nesta jornada
eu trilho na expectativa de que Deus vai fazer algumas
coisas. Eu espero muito de Deus para o meu ministério
pastoral. Estas minhas expectativas, creio que não
sejam somente minhas, mas de todos os que exercem
liderança na igreja. Sendo assim, o que um pastor
espera de Deus?
Não irei trabalhar
fundamentado numa ordem lógica, mas apenas traçarei
as expectativas que como pastor eu tenho traçado e
espero que Deus me conceda cada uma destas realidades.
Sendo assim, quero começar afirmando que o pastor
espera que Deus o sustente. Essa é uma realidade que
está a fugir do nosso controle. Vivemos com contas
a pagar, com livros para comprar, filhos para sustentar
e queremos ter um vencimento que dê para suprir todas
as coisas. Sendo assim, muitas vezes o pastor se envolve
num activismo religioso para ganhar «nome» e galgar
uma posição melhor e ser um gestor e administrador
de uma grande igreja e com isso ter garantido um bom
vencimento no fim do mês. Hoje queremos apresentar
o nosso «curriculum vitae» e com ele dizer que somos
dignos de auferir um bom soldo. Quando assim fazemos,
deixamos de depender do Senhor. Somos nós que estamos
agindo. E se não dependemos do Senhor, nos tornamos
empregados da igreja, por mais que isso nos custe.
Não podemos depender da igreja. Não podemos esperar
chegar a uma posição de destaque e assim ter um vencimento
fabuloso e viver a vida como se isso nos bastasse.
Como pastor devemos esperar que o Senhor nos sustente.
Ele é quem supre as nossas necessidades. É interessante
ver o que David diz: “O Senhor é o meu pastor; nada
me faltará.” (Sl 23.1). A parte final deste verso
é de uma força extraordinária. Nada me faltará. David
diz que por ter Deus como seu Pastor, como seu dono,
tudo lhe é provido. E aqui é bom pensar em tudo mesmo.
David diz que depende do Senhor para suprir todas
as suas carências. O pastor deve esperar que o Senhor,
o seu supremo Pastor o sustente em todas as áreas
de sua vida. O pastor deve depender da provisão do
Senhor e não dos homens. Lembro-me ainda dos meus
tempos de seminário. Certa vez uma colega perguntou
ao professor o que o pastor deveria fazer quando a
igreja não estivesse a remunerá-lo dignamente. O professor
então disse claramente: “Fale com o seu patrão”. Apresente
a situação ao Senhor e espere por Ele. Se o Senhor
achar que a situação é real, Ele irá tocar alguém
na igreja para tratar deste assunto. Se a igreja não
der ouvidos, o Senhor enviará outra igreja, mas se
Ele achar que é o suficiente, viva na dependência
do Senhor.” Fundamentado neste princípio, adoptei
para mim que nunca pedirei aumento de salário, nunca
falarei sobre o meu sustento. Este é um assunto que
o meu Pastor toma conta. Ele é o meu Sustentador.
Não estou a dizer que devemos fugir da realidade de
ter um salário. Não é isso. Estou afirmando é que
não podemos por nossa dependência no salário e naquilo
que a igreja se comprometeu connosco. Deus é quem
nos sustenta. Gosto de ler a vida de Jorge Müller,
um homem de fé, que esperou em Deus e viu todas as
suas necessidades serem supridas. No início de seu
ministério, ele colocou uma caixa no salão e disse
aos membros da igreja que deveriam deitar ali as ofertas
que seriam o seu sustento. Ele não queria um vencimento
da igreja porque afirmava que estaria a confiar no
dinheiro em caixa em vez de confiar em Deus. Não sou
Jorge Müller e não tenho uma caixa onde os irmãos
ofertam para que eu tenha o meu vencimento, mas tenho
aprendido a confiar no Senhor e esperar que o meu
sustento venha da parte dEle.
O pastor deve esperar que o Senhor dirija sua vida
por todos os caminhos. O Senhor deve ir à nossa frente.
É o Senhor quem deve nos conduzir e dirigir. Voltemos
mais uma vez ao salmo 23, mas não vamos fazer uma
análise do salmo e muito menos a exegese do mesmo,
vamos ver o que David diz simplesmente que mostra
esta realidade. Vejamos o salmo:
O Senhor é o meu pastor;
nada me faltará.
Deitar-me faz em pastos
verdejantes; guia-me mansamente a águas tranqüilas.
Refrigera a minha alma;
guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome.
Ainda que eu ande pelo
vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque
tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante
mim na presença dos meus inimigos; unges com óleo
a minha cabeça, o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade
e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha
vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias.
Este salmo sobejamente, mas nós não temos o hábito
de contemplá-lo. Sempre gostei deste salmo, mas quando
estive a viver em Oliveira do Hospital, uma região
de pastoreio, tive o privilégio de contemplar o salmo.
Recordo-me das vezes que passava e via os pastores
a guardar o seu rebanho. Ficava a imaginar David a
escrever seu salmo. Muitas vezes parei à beira da
estrada e fiquei a contemplar os pastores que não
se afastavam do seu rebanho. Eles estavam sempre com
suas ovelhas. Este quadro bucólico transportou-me
para o Senhor Jesus que disse claramente ser o bom
Pastor. E se meditarmos em suas palavras vemos que
Ele afirma que estará a dirigir suas ovelhas por todos
os caminhos.
É o Senhor quem nos conduz nos momentos de tranquilidade.
É Ele quem nos concede a tranquilidade e o descanso
para podermos parar e relaxar. O Senhor nos leva aos
locais tranquilos para que possamos repousar e refazer
as nossas energias.
Não obstante quando estamos a enfrentar as dificuldades,
quando estamos a atravessar o nosso pântano, podemos
seguir em segurança, pois o Senhor vai à nossa frente.
David tinha essa convicção e foi ela que o fez dizer
que passaria pelo vale da sombra e da morte, mas não
ficaria nele. O Senhor estava a conduzi-lo através
daquela situação. Precisamos ter essa consciência
de que o Senhor está connosco e a conduzir-nos em
todos os caminhos.
Ser pastor é uma caminhada fabulosa e estimulante,
mas só faz sentido se o Senhor estiver connosco. É
interessante ver o desejo de Moisés. Ele pede para
que o Senhor revele os seus propósitos a ele. O Senhor
garante que irá acompanhá-lo e então Moisés diz ao
Senhor: “Se não fores connosco, não nos envies.” (Êx
33.15). Este também deve ser o nosso desejo. Que o
Senhor siga connosco. Que Ele vá a nossa frente guiando-nos
abrindo o caminho. Se não for assim, se for para caminhar
sozinho e não esperar no Senhor, será melhor abdicar
do ministério e da vida, pois ela deixa de fazer sentido.
A vida e o ministério só fazem sentido se o Senhor
for connosco.
Um pastor espera que o Senhor fale através dele. O
ministério pastoral é sobremodo excelente, mas é um
ministério sobrenatural. Ele não é exercido fundamentado
na capacidade humana, mas sim espiritual. É comum
em nossos dias, vermos pastores falando. É comum ouvirmos
belos discursos e sermões homileticamente perfeitos.
Estamos a viver na era dos extremos, pois temos excelentes
exegeses bíblicas, mas também temos aberrações que
destroem o texto e o seu significado. Mas o pastor
não pode querer falar. O pastor não tem voz, ele precisa
ser apenas o canal que Deus utiliza para manifestar
sua mensagem. Muitas vezes precisamos ficar calados,
ou então ter a coragem de dizer que aquelas palavras
não são do Senhor, mas nossas. Paulo fez isso e fê-lo
conscientemente. Ele reconheceu que suas palavras
eram meras palavras e não tinham nada de divino nelas.
Contudo, quando vinha do Senhor ele ensinava na autoridade
do Senhor, e não precisava dizer mais nada.
Esperar que o Senhor fale através de nós é um desafio,
pois muitas vezes teremos que ficar calados porque
não teremos nada para dizer. Elias é um exemplo desta
realidade. Quando lemos a história deste grande servo
de Deus ficamos impressionados porque ele fala e desaparece.
Passa três anos calado, sem ter nada para dizer e
não entra em crise, pois a única coisa que ele desejava
era que o Senhor falasse através dele. Nossa realidade
é diferente, queremos sempre ter algo que dizer ao
povo, mas é de fundamental importância entender que
“Deus não fala sempre que falamos em nome dele. Nem
se revela sempre que produzimos teo-LOGIAS.”[1]
O nosso grande problema é que hoje queremos pregar,
queremos ser iluminados pelo Senhor para poder interpretar
o texto, mas nosso desejo maior deve ser o de que
o Senhor fale através de nós. Precisamos ser como
João o baptista, apenas uma voz que clama no deserto.
O problema é que não gostamos e nem queremos ser apenas
uma voz. Queremos ser aquele que fala, mas o pastor
não pode falar. Ele deve ser apenas a voz. Quem deve
falar é o Senhor. Contudo, se “Deus não falou, o melhor
que faço é estar calado. Ou então ter a coragem de
falar apenas em meu próprio nome. No silêncio de Deus
é melhor falar como ateu sensato do que como profeta
devoto que põe na boca de Deus lindas palavras que
ele não disse.”[2]
O pastor deve esperar que o Senhor fale. Aliás, o
pastor precisa ter a coragem de dizer abertamente
como Jeremias: “eu não sei falar” (Jr 1.6), mas mesmo
sem saber falar, precisa estar disponível e na expectativa
de que o Senhor o use. Como pastor devemos estar desejo
de ouvir o Senhor a falar e dizer-nos o que disse
a Jeremias: “Eis que ponho as minhas palavras na tua
boca.” (Jr 1.9). É isso que eu espero, que o Senhor
fale através de mim. Quero apenas ser uma voz e nada
mais.
O pastor espera que Deus o console. Nos dias actuais
as livrarias evangélicas estão repletas de livros
que falam como ser um pastor bem sucedido. Há livros
que tratam de tudo, mas sempre na perspectiva do sucesso.
Os pastores estão a virar astros, são administradores
ocupadíssimos. O ministério está a ser vivido dentro
de uma visão de grande sucesso e prazer. É verdade
que ainda hoje existem muitos que olham para o ministério
pastoral e acham ser uma coisa sem valor. Dizem que
a pessoa não conseguiu ser nada na vida e então seguiu
para o pastorado. Mas o pastorado não é nem uma coisa
nem outra. O pastorado é a obra sobremodo excelente,
mas ele deve ser exercido na perspectiva da cruz.
Sendo assim, quando pensamos na vida pastoral devemos
pensar no sofrimento, na dor que daí virá.
É importante voltarmos a contemplação do pastor. Ver
que ele tem que ficar exposto ao sol, sair pelos terrenos
para conhecer cada situação para depois levar o seu
rebanho em segurança. Mas o pastor passa pelo sofrimento
de ter que desbravar o caminho, de muitas vezes perder
ovelhas e em meio às suas dores, precisa encontrar
o consolo no Senhor. O pastor deve esperar que o Deus
de toda consolação o console. Diante do banquete,
rodeado pelos inimigos, o Senhor faz com que o nosso
cálice transborde, Ele nos consola e nos guarda.
Não tenho desejo maior do que o de ser consolado pelo
Senhor. Isso porque o ministério pastoral é feito
em lágrimas. É fabuloso ver o que diz o salmista:
“Aquele que sai chorando, levando a semente para semear,
voltará com cânticos de júbilo, trazendo consigo os
seus molhos.” (Sl 126.6). O pastor é um semeador.
É um andarilho e a caminhada é cansativa e dolorosa,
mas há o consolo do Senhor e a certeza de que a volta
será frutífera e com resultados.
O pastor espera que Deus o use apesar das suas debilidades.
Não somos perfeitos. Somos seres humanos falhos e
cheios de pecados. A nossa caminhada não será perfeita.
Teremos muitas falhas. Cometeremos muitos erros, mas
apesar disso, contamos com a misericórdia do Senhor
e esperamos que Ele na sua graça nos use apesar das
nossas fraquezas. Dizer isso, não é assumir uma atitude
de relaxamento e conivência com o pecado, longe disso.
O que pretendo é que tenhamos presente nossas fraquezas
e tentações e que saibamos que o pecado é real, mas
o Senhor que nos chamou e que não desiste de nós usar-nos-á,
se nos arrependermos e confessarmos os nossos pecados
(1 Jo 1.9). O Senhor concede-nos sempre uma nova oportunidade.
Elias foi um profeta tremendo, mas num determinado
momento desistiu da vida, mas também se achou como
o único que estava para ser representante de Deus.
Depois ele pensa que era devia morrer porque não era
melhor que ninguém. Apesar disso, o Senhor usou Elias
poderosamente. David que nós admiramos tanto que deixamos
de ver a tragédia de pai que ele foi, esquecemos o
péssimo esposo e o amigo infiel que ele foi. Nós esquecemos
todas estas situações da vida de David justamente
pelo facto do Senhor o ter usado apesar das suas debilidades.
Contudo, não podemos esquecer o quebrantamento de
David, o modo como ele reconhecia o seu pecado e pedia
perdão ao Senhor.
Nós temos dificuldade em perdoar alguém que pecou.
Não queremos dar uma nova oportunidade. Nos nossos
dias actuais os discípulos de Jesus jamais teriam
outra oportunidade. Gostamos de acusar Pedro, mas
o facto é que todos fugiram e abandonaram o Senhor.
Somente João esteve presente na crucificação e isto
porque as mulheres o obrigaram a levá-las para perto
do Senhor. Para nós, aqueles onde apóstolos estariam
desqualificados, mas o Senhor os perdoou e apesar
daquela debilidade os usou poderosamente. O diálogo
do Senhor com Pedro, que é narrado por João é fabuloso.
Não há censura, não há reprimenda. Jesus abre a porta
da reconciliação. Pedro declara seu amor ao Senhor
e o Senhor diz para ele apascentar suas ovelhas. O
Senhor continuou a contar com os apóstolos apesar
de suas debilidades. O pastor deve esperar que o Senhor
o use apesar das suas debilidades.
As nossas fraquezas indicam que precisamos estar atentos
e que não somos deuses. Elas apontam para a nossa
condição de criaturas dependentes do Sumo Pastor.
Sendo assim, que possamos esperar e desejar que apesar
dos nossos pecados, o Senhor nos use para sua honra
e glória.
Quero concluir com uma resposta que resumirá tudo
o que foi dito em relação a pergunta: O que o pastor
espera de Deus?
O pastor espera ser um servo usado para honra e glória
do Senhor.
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[1] D’ARAÚJO FILHO,
Caio Fábio. Elias está nas ruas, 1ª Edição, Editora
Betânia, Belo Horizonte, 1990
[2] Ibid Queridos,
Depois de um tempo ausente por motivos ministério, regresso com o meu mais recente texto sobre as reflexões pastorais. Espero que o mesmo sirva para a vossa reflexão e se desejarem criticar e comentar o mesmo eu agradeço. Ainda não parei para revisá-lo. Desejo primeiro escrever todos os textos e depois ire revisar com calma. Um abraço, nEle, o nosso Bom Pastor. Marcos 78. O que a Igreja espera do pastor? 05/09/07 U ma das coisas que eu mais tenho prazer em fazer
é participar de uma boa conversa. Gosto de conversar,
mas não gosto de ficar a tratar tudo com seriedade.
A vida não é aborrecida. Não somos chamados para
ser pessoas chatas e emburradas. Contudo, vejo que
há muita gente que pensa que a igreja é um grupo
de pessoas chatas e que estão de mal com a vida.
Não posso deixar de concordar com este aspecto,
pois tenho consciência de que há muitos crentes
que vivem amargurados, com raiva da vida. Não desfrutam
da graça do Senhor. No entanto, o apóstolo Paulo
diz: “Toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria,
e blasfémia sejam tiradas dentre vós, bem como toda
a malícia.” (Ef 4. 31). A igreja necessita a aprender
a retirar essas coisas do seu meio. E o que estou
a dizer aqui está relacionado a minha pessoa também,
pois eu sou igreja. Não estou desejando atirar pedra
nos outros, antes e pelo contrário, estou a olhar
para mim mesmo. Eu necessito fazer muitas retiradas
em minha vida. Não sou perfeito, e minha caminhada
é feita de altos e baixos. Mas eu continuo a ser
igreja do Senhor e como Igreja, tenho o privilégio
de exercer o ministério pastoral. Contudo, antes
de ser pastor, estive do outro lado. Fui daqueles
que questionavam os pastores. Fui um dos mais céleres
críticos dos pastores. Como o meu pai sofreu com
as minhas críticas!
Hoje faço parte do grupo dos criticados. Estou do
outro lado, mas será que existe outro lado? É claro
que não, mas nós agimos como se houvesse o lado
dos pastores e o lado da igreja. Perdemos a visão
de que somos um e que este um, é a igreja que deve
viver em unidade. Li num dos livros de Martyn Lloyd-Jones
que nós só destruímos a unidade e tenho que concordar
com ele. A unidade quem promove é o Espírito Santo,
nós simples mortais e pecadores só a destruímos
com as nossas esquisitices e birras. Mas o nosso
chamado é para sermos pacificadores. Não somos chamados
para fazer parte daqueles que causam problemas,
mas infelizmente, na maioria das vezes temos causado
muitas dores a nossos irmãos.
Eu sirvo a igreja como pastor, mas o que a igreja
espera de mim? O que a igreja espera do pastor?
É fundamental reflectir sobre este aspecto. O que
a igreja deseja que seu pastor faça?
Nossos dias são dias de incertezas. A confusão é
tanta, que muitas vezes, pastores perdem o rumo
e igrejas também não sabem o que esperar de um pastor.
Numa conversa com um bom amigo ele certa vez disse-me:
“Nossa igreja deixou de ter um pastor e ganhou um
pregador.” É verdade que também já ouvi que a igreja
tem um pastor, mas não tem um pregador. Como pode
ser isto? Penso que em muitos casos a igreja deseja
um discurso bem elaborado, quer que seu pastor tenha
uma boa retórica, mas será isto pregação? Uma boa
definição de pregação nos é apresentada por Blackwood
que declara que a pregação é “verdade divina através
da personalidade ou a verdade de Deus apresentada
por uma personalidade escolhida, para ir ao encontro
das necessidades humanas.”[1]
O ministério pastoral é um ministério de contacto.
É uma caminhada lado a lado com a igreja, mas acima
de tudo com Deus. Essa caminhada será essencialmente
focalizada no púlpito, onde o pastor tem a oportunidade
de transmitir os ensinamentos da Palavra de Deus,
mas o grande problema é que a pregação em nossos
dias está a ser desacreditada. Para muitas pessoas
pregação é sinónimo de discurso e nós devemos resgatar
a excelência da pregação. A mensagem deve ser considerada
por nós “a mais nobre tarefa que existe na terra.
Aquele que é chamado por Deus para proclamar o Evangelho
deveria destacar-se como o homem mais importante
na sua comunidade, e tudo quanto fizesse para Cristo
e para a Igreja deveria manifestar-se na sua pregação.
No púlpito ele poderá fazer muito do seu melhor
trabalho para o tempo e para a Eternidade. Em geral
devemos empregar nossos superlativos parcimoniosamente,
mas não quando falamos da obra do pregador.”[2]
Mas isso só pode ser real se o pregador estiver
consciente da importância da pregação. Cabe ao pregador
priorizar o seu tempo e não se deixar prender por
aspectos que mesmo sendo importantes, não podem
roubar-lhe da prioridade da sua vida que deve ser
a oração e o ministério da Palavra (Act 6.4). Creio
que grandes problemas poderiam ser evitados se nós
estivéssemos atentos a esta realidade.
Um pastor que tenha como prioridade a oração e o
estudo da Palavra será um pastor que corresponderá
aos anseios da igreja e suas expectativas. Mas quais
são os anseios e desejos de uma igreja em relação
ao pastor?
A igreja espera que o pastor tenha amor por ela.
Este é um aspecto muito importante, pois o pastor
que deseja ser relevante e estar no centro da vontade
de Deus, deve amar a igreja em que está a servir.
A luta é ponto de tensão neste momento é que o ministério
pastoral está a ser misturado com profissão. Há
pastores que estão agindo como profissionais da
religião e também há igrejas que desejam um profissional
da religião e não um pastor. Quando isso acontece
a relação deixa de ser uma relação íntima e profunda.
A relação que existe é fria e distante. Existem
horários para todas as coisas e o pastor torna-se
um líder, um administrador ou até mesmo um bom psicólogo,
é tudo menos um pastor.
É muito interessante lermos o capítulo 10 de João,
pois o mesmo surge num contexto de uma discussão
com a liderança nos dias de Jesus. Nesta discussão
Jesus declara-se o Bom Pastor e diz que o bom pastor
ama as suas ovelhas e dá a sua vida por elas. Entretanto,
Ele também afirma que os que não são pastores, estão
apenas ali para tirar proveito e não estão interessados
na vida das ovelhas. Nós somos seguidores de Cristo.
O nosso desejo é copiar o seu exemplo, e, sendo
assim, devemos ter em nós a mesma atitude, o mesmo
sentimento que houve em Cristo Jesus (Fp 2.5-8).
Ter a mesma atitude que houve no Senhor Jesus significa
amar a sua igreja. Amar profundamente e desinteressadamente.
É doar-se a ela com todas as suas forças. É amar
sem nunca desistir. João diz que o Senhor Jesus
amou os seus até o fim (Jo 13.1) e é desta maneira
que os pastores devem agir.
O ponto de partida para que possamos vir a desenvolver
um amor sadio e autêntico, fundamenta-se na nossa
capacidade avaliativa de vermos nossa indignidade
e o modo maravilho como o Senhor nos perdoou (Lc
7.36-50). Quando vemos nossos pecados como terríveis
e a maneira como o Senhor nos perdoou, nós o amamos
e amamos muito. Nós o amamos porque Ele nos amou
primeiro (1 Jo 4.19). Aprendemos a amar quando estamos
em Deus e Deus age em nós. O pastor deve ter uma
visão correcta de si mesmo. Quando olhamos para
os nossos irmãos como sendo superiores (Fp 2.13),
isso porque temos consciência dos nossos pecados
e nos vemos como o pior de todos (1 Tm 1.15). Se
nutrirmos esta atitude, olharemos para nossos irmãos
com misericórdia e não com uma atitude acusatória.
É preciso que tenhamos consciência de que nossas
igrejas estão a passar por momentos complicados
e “uma das maiores necessidades da igreja hoje é
o amor, que os crentes devem demonstrar entre si
e pelos que os cercam.”[3] E este amor deve primeiramente
demonstrado pelo pastor e como é que isso se torna
concretizável?
O pastor que ama está disposto a entregar-se completamente
à sua igreja. Ele doa-se completamente. Nosso problema
é que estamos limitando o nosso ministério pastoral
ao relógio. Queremos que as pessoas marquem hora,
queremos ter um tempo para nós. Devemos olhar para
a vida de Jesus, que mesmo quando saia para estar
sossegado e as pessoas vinham ter com Ele, elas
era recebidas e acolhidas com amor. O Senhor interrompia
o seu sono, o seu cansaço e recebia as pessoas e
creio sinceramente que as igrejas desejam pastores
que estejam disponíveis a ter esta atitude. Elas
estão desesperadas e muitas vezes o seu desespero
apresenta-se nas horas mais incómodas para nós,
mas é justamente neste momento que devemos estar
presentes e entregando-nos a elas em amor.
O pastor que ama é aquele que perdoa. Perdão não
é algo simples e fácil. Perdão é um acto de misericórdia
ao agressor e um acto de injustiça ao agredido.
O agredido inocenta o culpado e o justifica. O pastor
que ama deve ser alguém disposto a perdoar. Este
acto de perdoar direcciona as injustiças que são
dirigidas a ele próprio, mas também ao pecado que
seus irmãos cometem. Perdoar é restaurar vidas.
O nosso chamado é para restaurar os caídos, é para
promover cura e não destruição. Quem ama perdoa
e quem perdoa levanta o caído.
O perdão distingue-se pela capacidade de suportar
o sofrimento. Quem ama resiste ao sofrimento. É
por isso que Paulo diz aos coríntios que o amor
tudo suporta. Para termos uma ideia desta capacidade
de sofrimento, vou reproduzir aqui uma pastoral
que o pastor Darci Dusilek escreveu para a Igreja
Batista de Itacuruçá. Já não tenho mais o boletim,
por isso, não poderei dizer a data do mesmo. Contudo,
o mais importante é o texto e ei-lo na íntegra:
O Amor sofre
O amor tudo sofre. No que essa afirmação difere
da encontrada logo no início de Coríntios 13.4?
Ali se afirma que o amor é sofredor. A palavra que
Paulo usa no verso 4 é makrotumia e significa a
capacidade do amor resistir ao sofrimento durante
um processo longo. Agora ele utiliza outra palavra
– stego, no grego – cujo significado é a capacidade
de dar suporte em qualquer atuação ajudando a levantar
e restaurar o que se encontra abatido. Em 1 Pe 4.8
temos um outro sentido de stego: o amor cobre uma
multidão de pecados.
No texto de 1 Pedro 4:8 verifica-se que o amor detesta
escândalos. O amor ágape bloqueia a nossa tendência
de falar demais sobre os assuntos. Ajuda-nos a manter
a boca fechada sobre a falha dos outros não para
fazer vista grossa mas para ajudar no processo da
cura e restauração daquele que errou.
O amor tudo sofre destaca o sentido da solidariedade
que devemos mostrar na comunidade da fé. Significa
que ao vermos o sofrimento de alguém nos colocamos
ao seu lado para ajudá-lo a carregar o peso daquele
fardo. Quer dizer, também, o amor de Deus que em
nós opera nos leva a invadir a privacidade do sofrimento
do próximo afim de torná-lo mais leve. Quando nos
colocamos ao lado do que sofre, ajudamos a remover
aquele sofrimento.
É o amor que une e dá sentido a todas as coisas,
que as sustenta e que as mantém em movimento. A
menos que a sociedade seja mantida pelo amor, o
que tem uma organização eficiente. A lei sozinha
não sustenta uma sociedade. Necessita de amor. A
justiça somente pode responder as necessidades reais
das pessoas quando administradas com base no amor.
O poder pode tornar-se desumano se não for exercido
com amor. O amor ágape tem a capacidade de manter
o equilíbrio na aplicação das leis, da justiça e
no exercício do poder.
Em Cristo somos parte do projeto do amor de Deus
para este mundo. Um projeto que ultrapassa os limites
e confinamento do tempo e que tem a sua consumação
prevista na inauguração de um novo tempo, uma nova
terra, onde todas as coisas serão completamente
dominadas pelo amor de Deus.[4]
Estamos a necessitar de pastores que vivam esta
realidade nas suas vidas. Igrejas estão desejosas
de pastores que estejam preparados para restaurar
os seus feridos, acolhê-los e ampará-los, promovendo
cura, mas acima de tudo, que sejam pessoas que estejam
dispostas a dar suporte aos seus liderados.
O pastor que ama é um pastor que corrige. A correcção
é bíblica. Ela não visa a destruição, mas a volta
para o caminho certo. Deus, o nosso Senhor, corrige
aquele a quem ama (Hb 12.6) e nós pastores, que
somos aqueles que devem espelhar-se no exemplo do
Senhor para poder conduzir o seu povo, devemos ter
a coragem de corrigir aqueles que estão a sair do
caminho. A correcção é fruto do amor.
O pastor que ama a sua igreja entrega-se a ela.
Ele doa-se com prazer a alegria e está disposto
a sofrer por ela, com ela e por causa dela. Mas
esse amor que suporta tudo isso, só é possível porque
existe no pastor a certeza de que ele é mais um
membro da igreja e que ele próprio como ovelha também
faz o mesmo ao seu Supremo Pastor.
A igreja espera que o pastor caminhe com ela. O
Pastor não é para ficar fechado. Não é para ser
uma pessoa distante que não se entregue e muito
menos não deseje contacto com as ovelhas. O pastor
precisa estar junto das suas ovelhas. Ele tem necessidade
de caminhar com elas. Para que ele possa caminhar
com elas, ele precisa conhecê-las. Se não há intimidade,
se não há conhecimento, não poderão caminhar lado
a lado. Se elas não conhecerem o pastor e não forem
conhecidas deles, elas não o seguirão. Isto fica
claro no evangelho de João capítulo 10. Jesus, apesar
de ser carpinteiro, conhecia a vida diária do seu
povo. Ele era um excelente observador e por isso
utilizou esta imagem para exemplificar o seu ministério
e mostrar como nós devemos agir.
Estive seis anos a pastorear em uma zona rural,
ali vi muitos pastores a conduzir suas ovelhas.
Travei algumas conversas com eles. Muitas vezes
apenas os observava, outras tentava atrair suas
ovelhas para junto de mim e isto era em vão. Elas
não vinham ter comigo. Elas fugiam por não me conhecer.
Entretanto, os pastores punham-se entre elas e as
chamava e elas caminhavam com ele. Ele ia com elas,
estava no meio delas e elas seguiam-no com alegria.
A igreja espera que o pastor esteja junto a ela,
caminhando e conduzindo-a junto a si mesmo. Este
processo é fruto de intimidade e de contacto pessoal.
A igreja não deseja pastores que fiquem isolados
e que só comuniquem com elas através do púlpito.
As igrejas desejam pastores que estejam no meio
delas e estejam dispostos a caminhar com elas.
A igreja espera que o pastor lhe dê segurança. Não
pensamos muito nisto, pois hoje nós fazemos parte
das zonas urbanas e muitos das grandes metrópoles
e sendo assim, passamos a olhar para os demais como
mais um. Entretanto, na linguagem rural e de pastoreio,
a ovelha só se sente segura e tranquila se o pastor
está por perto. É o pastor quem promove a tranquilidade,
é ele quem traz alento no meio da confusão. Uma
excelente ilustração para esta realidade nos é apresentada
no salmo 23, quando David diz que há um banquete
na presença dos inimigos, mas a presença do pastor
da paz à sua alma. Pastores devem aprender a ser
consoladores.
Como ovelha fui ferido muitas vezes. Fui abandonado
muitas vezes e luto para que não venha agir da mesma
maneira. Não critico quem falhou, não sou melhor
do que ninguém, aliás sou terrível e sei o mal que
posso fazer, mas cada dia que passa, apresento-me
ao Senhor a suplicar-lhe que manifeste a sua glória
para mim e me capacite a ser aquilo que Ele deseja
que eu seja. Nesta luta diária, uma das coisas que
tenho escutado constantemente é a seguinte: “Consolai,
consolai o meu povo, diz o vosso Deus.” (Is 40.1).
Consolar é algo muito difícil, pois em muitos casos
não estamos preparados e experimentados no problema
em que as pessoas estão a passar e devemos apenas
estar presentes e dependentes da graça de Deus.
Mas é facto que, em muitas situações seremos nós
que estaremos a necessitar de consolo e no meio
das nossas lutas teremos que permitir que a graça
nos baste e que ela transborde de nós para os que
são por nós liderados para que eles fiquem seguros
e firmes no Senhor.
O pastor muitas vezes não tem que dizer nada. A
única coisa que deve fazer é estar ali, presente
e calado, sendo o ombro amigo que as pessoas estão
a necessitar. O silêncio muitas vezes é a maior
fonte de segurança que podemos obter dos nossos
líderes. Eu já vivi isto e já senti isto na minha
própria vida. Quando minha mãe faleceu, estávamos
na igreja as pessoas estavam a chegar e procuravam-nos
para tentar nos consolar e veio uma missionária
muito querida e amada, não disse nada, mas em silêncio
ela abraçou-me e ali chorou comigo e deu-me segurança
e paz que eu tanto precisava para o momento.
Nós, pastores, devemos entender e aprender que as
igrejas esperam que nós venhamos a dar-lhes segurança
em meio às suas tempestades.
A igreja espera encontrar protecção no pastor. Este
aspecto está muito ligado com o anterior e em muitos
casos os dois se fundem e se confundem. Contudo,
na minha perspectiva veja que é fundamental promover
protecção às ovelhas, mas protecção do que e por
que?
Quero regressar à discussão de João 9 e 10. Jesus
está a falar contra os falsos líderes. Ele está
a dirigir suas palavras contra os falsos mestres
que na realidade estão a buscar proveito próprio.
O Senhor está a dizer que o verdadeiro pastor não
olha para si mesmo, mas antes está interessado no
bem-estar dos seus liderados. Sendo assim, ouso
dizer que a igreja espera que seu pastor lhe dê
protecção contra os falsos ensinos e os falsos mestres.
Portanto, a igreja espera que os pastores sejam
realmente homens de Deus, que caminhem com o Senhor
e preguem todo o desígnio do Senhor.
Mais uma vez estamos perante o facto do pastor estar
próximo das suas ovelhas, de caminhar lado a lado
com elas. Devemos promover protecção, mas isso só
será possível se não estivermos presos ao tempo.
É fundamental deixar o relógio de lado. Como afirma
Nouwen: “O Evangelho fala de plenitude de tempo.
(…) O tempo precisa ser transformado, em vez de
chronos, mero tempo cronológico, em kairos, um termo
do Novo Testamento grego que traduz oportunidade,
aqueles momentos que parecem prontos para um propósito
intencional.”[5] É nesta proximidade que os pastores
devem agarrar a oportunidade e assim proteger os
membros de sua igrejas. Contudo, esta protecção
só será possível se houver contacto, relacionamento
afectivo. Sendo assim, creio que as igrejas esperam
que os seus pastores digam o seguinte: “Quero ser,
nessa comunidade, alguém que outros possam procurar
sem hesitação, sem indagar se é ou não apropriado,
a fim de aprenderem como orar. Quero fazer a obra
original de entrar em conversas cada vez mais profundas
com o Deus que Se revela a mim e me chama pelo nome.”[6]
A igreja espera que o pastor conheça Deus e seja
o homem de Deus que transmita a Palavra do Senhor
para lhe dar protecção e segurança diante das adversidades
diárias, mas para que isso seja realizável como
pastor necessito “enchacar-me das Escrituras; preciso
de uma imersão nos estudos bíblicos. Tenho necessidade
de horas de reflexão nas páginas das Escrituras,
assim como de lutas pessoais com o significado das
mesmas. Isso exige muito mais tempo do que preparar
um sermão.”[7] Contudo, quando a igreja percebe
esta realidade e eu próprio a internalizo e torno
isto real em minha vida, a igreja sai fortificado
e eu cresço e aprendo a depender da graça de Deus
e o jorrar da graça vai promover a devida protecção
aos meus irmãos, pois estarão a receber um ensino
bem fundamentado e não correrão com comichões nos
ouvidos.
A igreja espera que o pastor a prepare para se reproduzir.
Passei grande parte da minha vida a ouvir que pastor
não gera ovelha, pois quem gera ovelha é ovelha.
Isto é real, mas quem prepara e selecciona a ovelha
é o pastor. Ovelhas que não estejam preparadas irão
gerar ovelhas fracas, sem bases, sem estruturas
para poder caminhar firmes na graça e no conhecimento
do Senhor Jesus.
A ovelha que se reproduz é aquela que cresceu e
está preparada, qualificada para poder procriar.
Assim, a igreja deve desejar que o seu pastor tenha
a capacidade de prepará-la para que ela venha a
procriar, para que aconteça reprodução. Contudo,
este processo é lento e gradual. Cada ovelha é diferente
da outra. A igreja não é uniforme, estereotipada.
Sendo assim, é preciso investir em cada ovelha de
modo único para que ela possa vir a desenvolver
o seu melhor e assim se reproduzir para o crescimento
do reino.
A igreja deseja crescer e por isso, muitos programas
e estratégias estão a ser desenvolvidas para que
tal aconteça. Muito programas são elaborados. Tácticas
são ensinadas para que as pessoas possam falar,
mas o método continua a ser o mesmo. Para que as
ovelhas possam se reproduzir elas necessitam ser
bem alimentadas, bem tratadas e depois, elas devem
passar pelo processo de união e gestação onde irão
procriar. Este é um processo lento, que nós chamamos
de discipulado, mas que o Senhor diz que é a nossa
caminhada (Mt 28.19-20). É bom notarmos que o pastor
está sempre a caminhar com suas ovelhas para conduzi-las
a locais com boas pastagens. O Senhor nos diz que
devemos sair caminhando e enquanto caminhamos com
o povo, nossa tarefa é discipulá-los, baptizá-los
e ensiná-los diariamente a guardar as coisas que
estão a aprender. É caminhada lado a lado. Isso
faz com que a igreja deseje caminhar junto ao seu
pastor.
Este é o meu desejo enquanto igreja. Quando estive
sentado nos bancos, quando estava do outro lado.
Agora sou pastor e vejo a grande responsabilidade
e expectativa que peça sobre os meus ombros, mas
confiado no Sumo Pastor caminho a depender da Sua
graça.
O que se espera dos pastore? Em uma fase apenas
respondo resumindo tudo o que foi escrito e concluindo
todo o assunto. Esperamos que os pastores nos capacitem
para que possamos viver o cristianismo autêntico.
--------------------------------------------------------------------------------
[1] BLACKWOOD, Andrew Watterson. A preparação
de sermões, 2ª Edição JUERP/ASTE, Rio de Janeiro
1981
[2] Ibid.
[3] McDOWELL, Josh. Aprendendo a amar: sexo não
é o bastante, 2ª Edição Editora CANDEIA, São Paulo
1996
[4] DUSILK, Darci. Boletim informativo da Igreja
Batista de Itacuruça
[5] NOUWEN, Henri. Transforma o meu pranto em
dança, 2ª Edição Textus Editora, Rio de Janeiro,
2003
[6] PETERSON, Eugne H. O pastor contemplativo:
voltando a arte do aconselhamento espiritual 1ª
Edição Textus
Editora, Rio de Janeiro, 2003
[7] Ibid.
79. Saudade 18/09/07 Queridos,
Escrevi esta pequena crónica hoje pela manhã. Espero que ele fale aos vossos corações. Abraços, Marcos Saudade O coração está apertado.
Há um sentimento de vazio dentro de mim. Nem a brisa
leve que sopra consegue dissipar este aperto.
As pessoas estão a
falar à minha volta, mas sinto-me só. Neste momento
não consigo identificar-me com as pessoas. Tudo soa-me
estranho, apesar da língua ser a mesma, de compreender
tudo o que está a ser dito, porém, tudo soa-me como
se fosse um idioma que não é o meu.
Este aperto causa uma
dor terrível. O coração parece diminuir, mas no entanto,
sei que a causa não é doença física. Não é problema
de saúde. É saudade, pura e simplesmente saudade.
Esta palavra só nossa, que ninguém consegue explicar,
tomou conta de mim, sem que eu tivesse solicitado.
Aliás, não sabia nem diagnosticar o que estava a se
passar comigo até que, lembrei-me das palavras do
salmista que diz: "Junto aos rios de Babilónia, ali
nos assentamos e nos pusemos a chorar, recordando-nos
de Sião. Nos salgueiros que há no meio dela penduramos
as nossas harpas." (Sl 137.1-2). É isto que está a
acontecer comigo. Estou com saudade da minha terra.
Estou aqui, sentado
não muito distante do Mondego e lembro-me do rio Amazonas,
que eu carrego comigo no próprio nome. Tenho vontade
de sair de barco, num passeio especial, para ver o
encontro das águas, encantar-me com a beleza da criação
e se Deus permitir, ainda de passagem ver o boto cor-de-rosa.
Quem me dera hoje poder almoçar num flutuante, ter
o privilégio de ter a bicharada toda ali à minha volta.
Quem me dera poder
desfrutar de um bom tambaqui assado na brasa. Como
eu queria beber um delicioso suco de cupuaçú, ou quem
sabe de taperebá. Não importa, estou mesmo é com saudade
da culinária cabocla.
Hoje eu queria estar
com minha gente. Meu desejo era estar junto aos ínidos-luso-africanos.
Essa é a ordem correcta. Queria estar junto a esta
gente amigável, alegre e calorosa. Neste momento eu
queria ouvir o sotaque cantado dos caboclos. Desejava
ver o sorriso ligeiro daquela gente amorosa.
A brisa sopra, mas
não traz consigo o cheiro da terra molhada. Não há
as características da "Morada do Sol". Minha terra
é conhecida como Manaus que significa "Morada do Sol"
e estou com saudade do brilho dessa gente.
O coração está miudinho,
apertado e hoje, mesmo que eu soubesse cantar, o meu
canto seria do silêncio, pois a saudade que aperta
o coração projecta-me para as canções de Pereira,
dos Raízes Caboclas e do meu amigo-irmão e irmão-amigo
Alexandre Rocha. Quero ficar aqui sentado, na quietude
deste dia, sem dizer nada a ninguém, apenas sentindo
este aperto que, por mais que eu tente explicar, verbalizar,
a verdade é que as palavras são poucas e não chegam.
É verdade, estou como
o povo que sentou à beira rio e chorou a lembrar da
sua terra. Estou a chorar por dentro com saudade da
terra, da gente, das minhas raízes.
Vou apenas ficar aqui,
quieto, aguardando que este momento passe, mas ao
mesmo tempo desfrutando dele, pois o mesmo fala-me
da minha vida, da minha história.
Queridos,
Estou a enviar mais um texto sobre as minhas reflexões pastorais. Na realidade este era para ser o último texto. Contudo, fui desafiado a escrever mais dois textos o que estou a meditar e a prepará-los. Sendo assim, em breve receberão mais alguma coisa. Abraços, Marcos 80. O que o pastor espera da Igreja? (15/10/07) A minha caminhada pastoral
teve início na cidade de Manaus, mas lá não pastorei
directamente nenhuma igreja. Fui pastor auxiliar do
meu pai e isso porque a igreja teve misericórdia de
mim, pois o meu visto não saia para poder vir pastorear
em Portugal. Sendo assim, a igreja deu-me uma oportunidade
de cooperar no ministério dela. Aliás, a Igreja Batista
Redenção é a igreja do coração. Ali eu fui achado
pelo Senhor. Ali fui baptizado e foi nela que assumi
o compromisso de servir o Senhor como pastor e foi
ela que me recomendou para o seminário. Recomendou
e sustentou com amor. Sustentou-me durante vários
anos como seu missionário em Portugal. Portanto, não
posso nunca esquecer a minha querida Igreja Batista
Redenção.
Confesso que tive o
privilégio e a oportunidade de nos meus dois primeiros
ministérios, ser pastor auxiliar. Fui auxiliar do
meu pai, o Pastor Nehemias Coimbra dos Santos e em
Portugal fui auxiliar do Pastor Daniel Eduardo Fontes
Machado. Meu ministério em Portugal teve início na
cidade de Oliveira do Hospital, um local bucólico.
Ali aprendi muito e sou grato a Deus pelo tempo que
passei com aqueles irmãos. Eles sabem o quanto eu
os amo e eu também sei o quanto sou amado por eles.
Foi em Oliveira do
Hospital que eu aprendi a conversar com os irmãos.
Eu não era o pastor que estava longe deles, mas próximo
e cheio de defeitos e mazelas e eles viam isso. Portanto,
aprenderam a olhar para o pastor não como um semi-deus,
mas como alguém de carne e osso. E foi por causa desta
experiência fantástica e marcante na minha vida que
penso ser essencial dizer para a igreja o que o pastor
espera dela.
Não faço nenhum arrazoado
teológico. Não quero falar de experiências profundas
e dar exemplos de outras pessoas. Quero apenas dizer
o que eu penso e o que particularmente espero da igreja.
Aliás, o que escrevo não é novo, pois no ano de 2002
escrevi uma pastoral a dizer o que esperava da igreja.
O primeiro parágrafo dizia o seguinte: É bom para
o pastor saber o que a igreja espera dele. É excelente
para o ministério saber quais as expectativas das
pessoas. Assim, poder-se-á trabalhar com noção do
que deve ser realizado. Contudo, o que os pastores
esperam da igreja? Será que a igreja já parou para
reflectir sobre o outro lado da moeda?
As ideias continuam
a ser as mesmas. Só foram ampliadas e talvez melhoras.
Digamos que é uma reedição revisada e ampliada. Contudo,
o que o pastor espera da igreja?
Eu particularmente
espero que a igreja compreenda que sou um ser humano
como outro qualquer . Não quero e nem desejo ser olhado
como alguém que está acima de qualquer suspeita. O
meu desejo é que a igreja compreenda a minha humanidade.
Este aspecto é fundamental, pois faz com que sejamos
vistos como um igual e não como um ser de outro mundo.
Compreender a minha
humanidade é poder ser visto como alguém normal, cheio
de defeitos e falhas e tenha certeza, eu as tenho
e são muitas. Espero que a igreja compreenda que sou
um pecador como os demais, ou mesmo como afirmava
Paulo e compreendendo os meus pecados, também digo
como ele: "Fiel é esta palavra e digna de toda a aceitação;
que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores,
dos quais sou eu o principal" (1 Tm 1.15). Sou pecador
e isso é muito claro para mim. Sou terrível e não
tento esconder esta realidade. Pastor também erra
e passa por provações e tentações, mas também tenho
consciência de que fui salvo pela graça de Deus. Sou
pastor, mas o sou pela graça de Deus. E aqui também
lembro-me das palavras de Paulo: "Pois eu sou o menor
dos apóstolos, que nem sou digno de ser chamado apóstolo,
porque persegui a igreja de Deus. Mas pela graça de
Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não
foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles;
todavia não eu, mas a graça de Deus que está comigo."
(1 Co 15.9-10). Pois é, sou o que sou pela graça de
Deus.
Quando assumo minhas
fragilidades e fraquezas, estou a pedir que a igreja
entenda a minha humanidade e não ponha sobre mim um
fardo insuportável, que eu não consiga carregar. O
que peço é que a igreja manifeste misericórdia e graça
a mim enquanto ser humano, membro do corpo de Cristo
que serve à igreja como pastor.
Eu espero que a igreja
se alimente . Creio que todo pastor espera isso, pois
senão não vale a pena investir tempo em estudo e preparo.
Há neste momento muita gente a sofrer de anorexia
e bulimia espiritual. Há pessoas que não se alimentam
da Palavra de Deus. Há pessoas que estão a compactuar
com o pensamento hodierno e pensam que a igreja é
apenas um ponto de encontro. Contudo, a igreja é o
povo de Deus, é uma família que se junta à volta da
mesa para se alimentar. O pastor prepara-se e tenta
alimentar a igreja, mas o problema é que a maioria
das pessoas já não absorvem mais o ensino da Palavra
de Deus. Espero que a igreja venha a ter fome e sede
de Deus (Sl 42.1-2).
Esse desejo surge porque
como pastor eu viro também um mestre da culinária.
Para alimentar as ovelhas eu preciso então conduzi-las
até o local do alimento. Eu preciso preparar a comida
para elas. É por isso, que é de fundamental importância
ter um local tranquilo para que possa debruçar-me
sobre o essencial para poder dar um alimento que supra
todas as necessidades que o povo precisa. Mas, preciso
ter cuidado, pois não posso oferecer qualquer alimento.
Não posso entrar na onda do fast food, pensando que,
qualquer coisa está bem e assim não alimento o rebanho
de correcto.
Alimentar o rebanho
é muito mais que chegar dominicalmente e pregar. É
investir tempo em oração e estudo da Palavra. É ter
um ambiente tranquilo, onde ovelha e pastor tenham
condições de descansar. Nessa ambiente tranquilo,
onde as ovelhas ficam seguras, o pastor pode dedicar-se
ao essencial que é oração e estudo da Palavra (Act
6.1-4). Preciso parar para experimentar o alimento,
senti-lo e ver como é bom para poder servir ao povo.
"Preciso encharcar-me das Escrituras; preciso de uma
imersão nos estudos bíblicos. Tenho necessidade de
horas de reflexão nas páginas das Escrituras, assim
como de lutas pessoais com o significado das mesmas.
Isso exige muito mais tempo do que para preparar um
sermão." [1]
Quero que a igreja
se alimente bem. Não quero oferecer conhecimento filosófico.
Não quero oferecer meias verdades. Quero alimentar
o meu povo com a Palavra de Deus. Não quero ter nada
de sabedoria humana e não estou contra o saber, mas
quero que a igreja alimente-se com o alimento espiritual,
mas para isso eu preciso ter a sabedoria que vem do
alto (Tg 3.17-18).
Espero que a igreja
cresça. Nenhum pastor deseja que a igreja fique sempre
a mesma. Nenhum pastor deseja ver a igreja na qual
serve a desfalecer. Mas o processo de crescimento
é lento e doloroso. Portanto, é fundamental ter paciência.
O crescimento é integral.
Portanto, o pastor espera que a igreja cresça na adoração.
É um crescimento para cima. O crescimento que nos
faz ver quem somos e quem é o Senhor. Ele é o único
digno de receber adoração. Ele deve ser exaltado.
Crescer na adoração é aprender a cultuar a Deus. É
deixar de olhar para si mesmo. Também é fundamental
que a igreja cresça na doutrina. A verdadeira adoração
só acontece quando a igreja está bem fundamentada
doutrinariamente. Crescer na doutrina é crescer para
baixo. É ter fundamentos sólidos. É saber no que temos
crido. É ter a certeza de quem é o Senhor e o que
Ele é para nós. A igreja que cresce na adoração e
na doutrina, logo crescerá na comunhão. É esta a nossa
base. Jesus fundamentou o seu ministério neste aspecto.
Basta lembrarmos o encontro que ele teve com um mestre
da lei que o questionou sobre o grande mandamento.
É melhor lermos o texto: " Mestre, qual é o grande
mandamento na lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao
Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua
alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande
e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este,
é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois
mandamentos dependem toda a lei e os profetas ." (Mt
22.36-40). Sem querer fazer uma exegese do texto,
quero apenas focar alguns aspectos importantes que
fundamento o que estou a dizer. Aquele que ama a Deus,
vai adorá-lO. Vai tê-lo como o tudo de sua vida. Será
alguém que conhece o Senhor, sabe porque O ama e O
adora (doutrina). Quem compreende o amor de Deus,
desenvolve um sentimento correcto sobre sua pessoa
e quem desenvolve uma relação correcta consigo mesmo,
irá amar o outro de modo verdadeiro e pleno (comunhão).
A igreja deve crescer numericamente. É claro que desejo
realizar baptismos. É claro que desejo ver conversões.
Contudo, o crescimento numérico não pode ser em detrimento
dos outros aspectos aqui focados. Creio que hoje há
muito inchaço e pouco crescimento. Quando questionamos
as pessoas sobre à razão de sua fé, elas não sabem
explicar ou então dizem coisas sem nexo. Isto só indica
que não há crescimento no essencial. Tem sido comum
ver as igrejas com muito gente para o "louvor", mas
depois saem. As pessoas desejam o espectáculo, mas
não o culto. Quando alguém deseja louvar o Senhor,
louva-O em todo o culto. Compreende que cântico é
apenas mais uma expressão de louvor e adoração. É
essencial que a igreja seja ensinada neste aspecto.
Louvor é todo o culto. O nosso culto é um acto de
louvor a Deus, mas os cânticos são apenas uma pequena
peça deste todo. O crescimento numérico não pode ser
fruto da emoção. Não pode surgir como efeito de uma
emotividade e de um processo massificativo, onde se
passou uma hora a cantar e depois aparecem os anúncios
e outras coisas e pedem que o pastor pregue dez minutos.
O crescimento numérico acontece quando o evangelho
é pregado e não podemos esquecer isto. A salvação
é pelo ouvir, mas ouvir a Palavra de Deus (Rm 10.17).
É fundamental ter tempo para a exposição da Palavra
de Deus. Eu espero que a igreja ouça a Palavra de
Deus. Espero que ela fique quieta para ouvir o Senhor
a falar. Não quero que me escutem, não quero que escutem
discursos, quero que a igreja escute o Senhor a falar,
mas para isso ela deve ficar reverentemente, precisa
ficar quieta e sossegada para que o Senhor fale ao
seu coração. Se ela fizer isso, o crescimento acontecerá
naturalmente.
O crescimento é da
igreja. Portanto, cada membro deve desenvolver a sua
função. Precisa fazer a sua parte. É essencial que
cada crente venha a desenvolver o seu dom para promover
a edificação do corpo.
Espero que a igreja
esteja comigo. Que ela caminhe comigo. Como pastor,
sou aquele que deve procurar conduzir à igreja, mas
esta é uma responsabilidade muito grande. Contudo,
ao assumi-la, é fundamental que a igreja esteja comigo
e juntos sigamos o mesmo caminho. Contudo, isso só
será possível se houver confiança e a igreja compreende
que a orientação é bíblica. Uma igreja não pode fazer
o que lhe apetece. O pastor não pode fazer o que lhe
apetece. É preciso lembrar que o pastor na realidade
é pastor-ovelha, ovelha-pastor e precisa seguir às
orientações do Sumo Pastor que é Jesus Cristo. Agora
é verdade que a igreja deve seguir o seu líder. É
natural que a igreja então seja o reflexo do seu líder.
Querer que a igreja
esteja comigo é deseja que a igreja tenha a visão
do Reino. Contudo, se eu deixar de ter esta visão,
que a igreja em amor chame a minha atenção para que
possamos trilhar no caminho correcto. Estar comigo
não é concordar com tudo o que eu faço. Não é aceitar
tudo o que digo, mas é caminhar lado a lado. É permitir
que eu esteja em seu meio. É poder vê-los chegarem
a mim para chorar suas tristezas e também partilhar
suas alegrias.
Ter a igreja comigo
é saber que possa estar no meio dela. Sei que sou
ouvido e contado. Não sou um profissional da fé, mas
um irmão em Cristo Jesus. É poder ter voz activa e
ser conselheiro. É ser o amigo para todas as horas
e não apenas alguém que recebe em seu gabinete. É
estar aberto para a caminhada tanto na alegria como
na tristeza. Eu vivi isto em Oliveira do Hospital
e tenho vivido isto aqui em Coimbra. Tenho tido o
privilégio de partilhar alegria e tristezas. Tenho
chorado com os meus irmãos e eles comigo. A minha
dor é a dor deles, mas a deles também é a minha.
Espero que a igreja
esteja unida. Pastor não gosta de ver confusão. Pastor
não divide o rebanho para reinar. O pastor procura
desenvolver a comunhão entre a igreja. Sendo assim,
a luta é para fazer com que as pessoas estejam unidas.
O pastor espera que a igreja esteja a sentir o mesmo
no Senhor. Espera que a igreja esteja em comunhão
(Sl 133). A comunhão é fruto da união. Estar unido
no mesmo propósito, na mesma visão e no mesmo amor.
É muito triste o pastor reconhecer que há partidarismos
na igreja e principalmente que a desunião é uma realidade
no seio da igreja. A igreja deve ser unida, até porque
uma das grandes declarações bíblicas sobre igreja
é que ela é um corpo e o corpo deve estar unido. Deve
trabalhar conjuntamente para o bom crescimento de
si mesmo.
Estar unido não significa
viver no marasmo e numa passividade constante. É claro
que há problemas e conflitos de ideias, mas estes
são tratados em amor. Estar unidos é saber discordar
de ideias sem agredir o seu irmão. É saber ouvir o
outro e dedicar-se a ele com todo afinco.
O pastor espera que
a igreja esteja unida no trabalho. Não é estar unidos
para participar de um clube social, mas é estar unidos
para crescerem na graça e no conhecimento do Senhor
Jesus.
Espero que a igreja
seja uma família . Ser família é um desafio. É viver
nos limites, com intensidade. Quando penso na igreja
lembro-me da minha família enquanto criança e também
da família que tenho agora. Desejo que a igreja seja
como uma família no sentido de ser um local de muitas
risadas, pois é um lugar de alegria, onde nós podemos
nos expressar com liberdade, mas sempre respeitando-nos
mutuamente. Um lugar de intimidade, onde nos conhecemos
e sabemos o que está a se passar com o outro. A igreja
deve ser um lugar de transparência. Quando estamos
tristes, nossa tristeza é vista e valorizada. Somos
amparados e consolados.
É claro que não podemos
esquecer que ser família implica viver a diversidade.
Somos seres diferentes e temos que aprender a conviver
uns com os outros. Precisamos ter consciência de que
há momentos que devemos ceder para que não haja brigas.
Contudo, esta diversidade que existe na família é
que a torna bonita. Cada um pode se expressar de modo
diferente, mas respeitando-se e valorizando o outro.
Espero que a igreja
seja uma família e que nela seja vista a criatividade
de cada um. Que todos sejam valorizados pelo que fazem.
Que as habilidades de cada um sejam reconhecidas.
Não existe um especial na família, pois todos são
especiais. Eu particularmente desejo e espero que
a igreja que eu sirvo como pastor seja uma família.
Espero que a igreja seja um lugar de harmonia, confiança
e amor.
É isto que este caboclo,
lá do Amazonas espera da igreja que o Senhor lhe concedeu
para servir como pastor.
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[1] PETERSON, Eugne
H. O pastor contemplativo: voltando a arte do aconselhamento
espiritual 1ª Edição Textus
Editora, Rio de Janeiro,
2003
= = =
Pastor Marcos Amazonas dos Santos,
da Igreja Evangélica Baptista deCoimbra, Portugal (marcosamazonas@gmail.com ) Coimbra, Portugal, 03 de Agosto de 2012 Queridos e amados irmãos, Saudações em Cristo. O nosso desejo e oração, é que o Senhor esteja a abençoar o vosso ministério e igrejas. Queridos, a nossa igreja está com um projecto missionário ousado. Reconhecemos que a obra é grande demais para que a possamos realizar sozinhos. Sendo assim, entendendo que o trabalho não é nosso, mas sim do Mestre e nós apenas servos e conservos uns dos outros. É neste sentido que queremos solicitar à vossa cooperação e pedir que se juntem a nós neste grandioso projecto. Nosso projecto chama-se: O mundo numa cidade O objectivo do projecto: Evangelizar e cuidar dos estudantes da cidade de Coimbra Como Faremos: 1. Centro de Acolhimento (República de Estudantes) 2. Centro de Escuta 3. Projectos Evangelísticos O valor anual do projecto: 51.614,00 € Temos consciência de que o valor do mesmo é elevado para uma igreja assumir a responsabilidade sozinha. Sendo assim, cremos que será possível e até mesmo de grande valia e comunhão que uma ou mais igrejas se unam no propósito de assumir conjuntamente o suporte mensal deste projecto. Sendo assim, propomos que, sendo possível cada igreja contribua com o valor de 100,00 (Cem Reais), o que cremos é uma quantia que pode ser suportada por cada igreja. Comprometemo-nos com os irmãos de periodicamente informar sobre o que está acontecendo através do projecto e também informar sobre a realidade de pessoas que estão sendo alcançadas por este ministério. Para que os irmãos tenham uma pequena ideia, nossa igreja está hospedando dois jovens e já conseguimos que as dívidas dos mesmos fossem todas sanadas. Quando fomos à universidade tratar de tudo a assistente social disse-nos: Ainda bem que houve alguém nesta cidade que cuidou destes jovens que são tão bons alunos. Estes jovens estão integrados na igreja, são uma bênção para nossa comunidade de cremos que serão uma bênção em seus países. Nossa súplica é a mesma que foi feita no passado, só que diz o seguinte: “passa o oceano e ajuda-nos”. Que o Senhor da seara ricamente vos abençoe. nEle,
Pastores
e irmãos: Conheço o Pr. Marcos Amazonas dos Santos,
conheço a Igreja Evangélica Baptista de Coimbra e
conheço a idoneidade deste trabalho. Levarei a Boas
Novas a apoiar este projeto. Ficarei imensamente feliz
se encaminharem também para as suas igrejas. Obs:
se aceitarem o desafio, falem comigo bnovas@uol.com.br)
, para unificarmos os nossos depósitos em conta a
ser divulgada quando o grupo de sustentadores estiver
completo. Wagner Antonio de Araújo, pastor.
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