PORTUGAL/COIMBRA Índice das Mensagens Recebidas do Pr.Marcos Amazonas :
Queridos, Segue a mensagem que preguei no último domingo. Ela é a continuação das mensagens que estou a pregar sobre o pecado. Sendo assim, preguei duas mensagens antes desta. Se alguém nas as tiver e desejar é só me avisar. Também informo que tenho as apresentações das mesmas. Estão disponíveis para todos os que solicitarem. É verdade, como costumo editar o meu texto pela madrugada, não o corrijo. Depois eu vejo as falhas todas. Contudo, prefiro deixar que ele siga com os defeitos. É como saiu. A correcção fica sempre para segundo plano. Meu desejo é que esta mensagem edifique as vossas vidas. Abraços, Marcos - -
Queridos, Segue a pastoral do domingo passado. Esta é a quinta pastoral que escrevi sobre a minha perspectiva ministerial. Se alguém desejar as outras quatro pastorais é só avisar. Abraços, Marcos 26. Nós a Igreja (1/2/06) Estamos a reflectir sobre
a igreja e seu modo de ser. Já vimos que ser igreja
é ser família. É viver em comunhão. A comunhão só
é possível quando vivemos firmados na Palavra de Deus.
Estas três caracterísiticas, sendo vivenciadas a igreja
cresce naturalmente. Crescer é preciso. Todos preciamos
crescer e a igreja também.
A olhar para as declarações
feitas anteriormente, podemos concluir que a igreja
não é o edifício, mas as pessoas. A igreja não é uma
estrutura sólida que vive presa às leis e vontades
humanas. A igreja sou eu e cada um dos irmãos. É o
povo de Deus. Sendo assim, devemos compreender, que
a nossa prioridade não são actividades, programas,
mas relacionamento íntimo e pessoal uns com os outros.
Não sou contra os programas, mas devemos tomar cuidado
para que eles não venham a roubar nossa comunhão e
o nosso relacionamento. Temos que lutar contra o activismo
que na maioria das vezes nos rouba o tempo que poderíamos
passar juntos a desfrutar de momentos gratificantes
uns com os outros. A igreja é os seus membros.
Ser igreja é poder conhecer
e ser conhecido de modo pleno. Não é encontrarmo-nos
uma vez por semana. Vermo-nos todos arranjados, com
ar compungido, muitas vezes sérios e carracudos e
depois despedirmo-nos para encontrarmo-nos no domingo
seguinte. Isto não é ser igreja.
Ser igreja é poder sorrir
juntos, mas também chorar juntos. É partilhar as refeições
(Act 2.46-47). É poder encontrar-se para falar sobre
as coisas da vida e edificar-se mutuamente. É cair
na graça do povo, porque a graça é demonstrada na
vida. É viver livre do legalismo e do preconceito
que tenta escravizar Deus dentro da nossa caixa teológica
e também escraviza-nos para que não possamos ver a
beleza do povo de Deus. É interessante ver o final
da carta de Paulo a Filemom. Ele cita várias pessoas
ali. Creio que "Paulo mostra que seus irmãos são cooperadores.
Ele não diz o que cada um faz. Ele não se preocupa
com a posição social e a profissão das pessoas. Ele
olha para as pessoas e diz que elas valem pelo que
são, seres humanos valorosos e amados do Senhor e
que amam o Senhor. Não há acepção de pessoas. Todos
são iguais e devemos lembrar que esta carta trata
da questão de um escravo que fugiu e agora regressa
e deve ser recebido como irmão na fé. Fala da questão
da ofensa e do perdão. Pessoas devem ser amadas e
valorizadas pelo seu valor intrínseco.
A igreja somos nós. Não
é o pastor. Não é a direcção. A igreja é os seus membros.
Antes de apresentar os defeitos, pense naquilo que
está a fazer como igreja. Isaltino conta a seguinte
história: "Uma jovem perguntou a seu pastor: "Por
que a igreja não está crescendo?". O pastor respondeu:
"Porque você não está evangelizando". Para a moça
o pastor era o responsável pelo crescimento da igreja
e pelas conversões. Ela se queixava." Queixamo-nos
de que? Será que pensamos que a igreja é a estrutura?
Que tipo de igreja queremos?
Queremos uma igreja relevante, espiritual, evangelizadora,
amorosa, envolvida com o reino de Deus. É bom saber
que a igreja será exactamene igual aquilo que nós
somos. Sendo assim, se eu vivo a criticar, a igreja
será mais uma agência de reclamações do que outra
coisa. Será sempre cheia de má vontade.
Eu sou a igreja. Tu és
a igreja. A igreja será relevante quando formos relevantes.
Será espiritual qual formos espirituais. Manifestará
o poder de Deus à sociedade quando orarmos. Será evangelizadora
quando nós evangelizarmos.
Nós somos a IBC. Uma igreja
linda. Igreja que ama o Senhor. Temos falhas e defeitos,
mas não nos acomodaremos. Mediante a avalição que
fizermos, mudaremos para que a Gloria do Senhor seja
sempre uma realidade em nós (Rm 12.1-2).
Pr. Marcos Amazonas dos
Santos
Queridos,
Segue a mensagem que preguei ontem. Não pude enviá-la no horário habitual, pois estava com problemas na minha conexão. Aliás o problema persiste, mas consegui remediá-lo. Abraços, Marcos Texto: Génesis 3.11-13 27. Tema: As consequências
do pecado em relação ao meu próximo ( 05/02/06)
Introdução
Deus Criou o mundo perfeito.
Um mundo belo e maravilhoso, onde todos eram tratados
como iguais. Não havia maldade. A paz reinava. Quando
pecado entrou na humanidade, o caos foi instaurado.
A violência passou a ser uma realidade. A desigualdade
e a exploração se tornaram presentes.
Deus criou um mundo perfeito.
Com um pecado nós criamos um mundo desigual.
As consequências do pecado
em relação ao próximo são muitas, mas creio que
podemos pensar na seguinte canção:
Somente pense em todas
aquelas bocas esfomeadas que temos de alimentar
De uma olha em todo o
sofrimento que nós criamos
Tantas faces solitárias
dispersas por toda nossa volta
Buscando por aquilo que
necessitam.
É este mundo que nós
criamos?
O que é que temos feito
Este é o mundo que nós
invadimos
Contra às leis
Portanto ele parece que
está a chegar ao fim
É para isto que todos
nós estamos a viver hoje?
Para o mundo que nós
criamos.
Sabes que diariamente
nasce uma criança sem esperança
Que necessita de cuidado
e amor, dentro de uma família feliz.
Em algum lugar, um homem
poderoso está sentado em seu trono
A espera que a vida siga
o seu caminho.
Este é o mundo que nós
criamos. Nós o fizemos da nossa própria maneira
Este é o mundo que nós
temos devastado, directamente até os ossos.
Se existe Deus nos céus
a olhar para nós,
Qual seu pensamento sobre
o que nós temos feito
Ao mundo que Ele criou[1]
É muito fácil falarmos
mal dos que pensam diferente de nós. É muito fácil
acusar-lhes. É muito difícil reconhecer-lhes as
virtudes e principalmente ver que eles conseguem
ter uma visão correcta de coisas que nós não temos.
Creio sinceramente que Freddie Mercury e Brian May
conseguem visualizar tudo o que temos feito à criação
e podem imaginar o quanto o Senhor se preocupa.
Este clamor deve ser o clamor dos filhos de Deus.
Nós precisamos estar preocupados com o sofrimento
do mundo.
Este não foi o projecto
de Deus. O mundo que temos é resultado do pecado
e do modo como temos vivido. É necessário compreender
que o ser humano foi criado para viver em comunhão
com Deus e com o seu semelhante. Quando o pecado
entrou na humanidade o homem se tornou inimigo de
Deus e do seu semelhante. Todas as lutas que encontramos
no mundo são consequência directa do pecado. Todo
acto de dominação e exploração do semelhante é por
causa do pecado que domina a humanidade.
O pecado afectou a nossa
relação com Deus, connosco e também com o nosso
semelhante. Sendo assim, vejamos agora as consequências
do pecado em relação ao próximo.
1 – O pecado faz com
que eu atire a culpa sempre ao outro 12 -13
O pecado mostra as nossas
fraquezas e falhas. Mostra que estamos em falta
com Deus e nos conscientiza que merecemos o julgamento
de Deus. Entretanto, temos medo desta realidade.
Não queremos ser julgados por Deus. Não gostamos
de assumir às nossas falhas. Por isso, buscamos
sempre alguém para culpar.
O texto nos mostra esta
realidade. Deus faz uma pergunta directa a Adão
e sua resposta é uma fuga. Ele atira a responsabilidade
para cima de Eva. Deus fala com Eva e ela responsabiliza
a serpente. Creio que se Deus falasse com a serpente,
a serpente culparia a Satanás que possui o seu corpo
e Satanás culparia Deus, pois Ele não permitiu que
ele governasse no céu. Esta também foi a atitude
de Adão.
Deus perguntou quem havia
mostrado a Adão que ele estava nu. Perguntou-lhe
se havia comido da árvore que Ele havia ordenado
não comesse. Adão diz: “A mulher que me deste por
companheira deu-me da árvore e eu comi.” Se atentarmos
para esta resposta, Adão culpa muito mais a Deus
do que Eva. A culpa é da mulher que tu me deste.
Se ela me foi dada por ti, então a culpa é tua.
Eu não sou o responsável.
O Senhor vira-se para
a mulher e pergunta: “Que é isto que fizeste?” Ela
responde: “A serpente enganou-me e eu comi”. Eva
diz que não tem culpa da serpente ser astuta. Ela
foi na conversa da serpente. Aqui acabaram-se as
perguntas. O Senhor vira-se para a serpente e é
peremptório. A conclusão é que há um momento em
que o Senhor diz, basta. Agora é necessário assumir
as responsabilidade e às consequências do pecado
cometido.
Esta atitude de atirar
a culpa para o outro é porque não quero assumir
a responsabilidade e as consequências do erro cometido.
Esta atitude de lançar
a culpa sobre o outro é o desejo que cada um tem
de ser ilibado da sua culpa. Quando atiramos a culpa
sobre os outros pensamos que somos melhores e mais
dignos. Somos especiais. Ao culpar os outros vamos
cauterizando nossa mente para os nossos erros. Quando
a mulher adúltera é apresentada a Jesus, Ele não
nega a culpa dela, mas a perdoa. Entretanto, Ele
lembra os acusadores dela que eles são tão culpados
quanto ela (Jo 8.3-11). O que Jesus mostra que diante
dele não existe duas categorias de pessoas. Diante
de Jesus não há justos e culpados. Diante dele só
há culpados: a mulher, a quem Jesus concedeu o perdão
de Deus, e os homens que poderiam recebê-lo, porque
reconheceram sua culpa e saíram dali.
Essa é a nossa característica.
Somos acusadores. Assumimos o papel de juizes, para
não sermos julgados. Como afirmou Paul Tournier:
“Na realidade, todos somos, não alternadamente mas
ao mesmo tempo, acusados e acusadores, condenados
e condenadores. (…) Nós somos acusadores porque
acusamos e acusados porque acusadores.”[2] Esta
realidade mostra que todos nós tentamos assumir
o papel de juiz do outro para não ficarmos na condição
de réu que carece do julgamento.
O pecado faz com que
eu olhe para o meu próximo como culpado e indigno
da graça de Jesus. Faz com que eu pense que sou
mais digno do ele. Cria uma falsa sensação de alívio.
Penso que sou cumpridor das leis de Cristo. Porém,
o Senhor Jesus disse o seguinte: “Não julgueis,
para que não sejais julgados. Porque com o juízo
com que julgais, sereis julgados; e com a medida
com que medis vos medirão a vós.” (Mt 7.1-2). Toda
acusação um dia irá virar-se contra nós.
2 – O pecado faz com
que eu me torne inimigo do meu próximo
Notamos aqui no texto
que a atitude de Adão foi voltar-se contra Eva culpando-a
pelo erro que ele cometeu (Gn 3.12). Eva virou-se
contra a serpente. É bom notar que Adão não se preocupou
com Eva. Não pensou no que ela sentiria. Ele não
avaliou as consequências do que estava a dizer.
Quando o pecado entra
na humanidade faz com que o homem se torne inimigo
de Deus e também inimigo do seu semelhante. Em consequência
do pecado o homem é um inimigo, uma ameaça em lugar
de ser um amigo.
Como afirma Bruce Milne:
“O pecado traz conflitos e produz as grandes divisões
da humanidade. Provoca o preconceito racial e antagonismos.
Cria as grandes potências internacionais. Dá lugar
as divisões sociais e leva ao conflito entre grupo
e classes; separa os que “têm” dos que “não têm”.
Traz discórdia para o seio de todos os grupos humanos,
sejam educativos, comunitários, sociais, recreativos
ou religiosos. Divide as famílias e igrejas. De
maneira paradoxal, a ameaça representada pelo nosso
próximo nos faz procurar segurança em várias alianças,
algumas vezes estranhas.”[3]
Essa inimizade é produzida
muitas vezes de maneira subtil. Quase não a percebemos.
Ela começa com um julgamento, uma crítica e isto
vai minando e matando os relacionamentos. É a tentativa
de impor-se aos outros. O pecado produz a exploração.
O ser humano tenta explorar o outro. O outro torna-se
o bode expiatório das nossas fraquezas e da nossa
culpa.
Veja a declaração de
Adão: “Ao que respondeu o homem: A mulher que me
deste por companheira deu-me a árvore, e eu comi.”
Esta atitude é julgamento e sentença. Ele exclui
Eva da sua vida. Ela é que deve expiar o seu erro.
O que devemos entender é que o julgamento sempre
causa destruição. Há casais que se destróem por
causa das coisas que dizem um do outro. Todo
ataque gera um contra-ataque e assim o ser humano
vai se destruindo.
O pecado faz com que
a relação com o próximo seja conflituosa. Faz com
que o ser humano busque aniquilar o seu próximo.
Sendo assim, quando olhamos para a situação mundial,
contemplamos tantas guerras e destruição, podemos
afirmar que isso acontece como consequência do pecado
em relação ao nosso semelhante.
Guisa de Conclusão
O pecado é destruidor.
Ele destrói nossa relação com Deus. Destrói a amizade
e a união que existe entre os seres humanos.
Faz com que caminhemos
em direcções opostas.
Ele nos coloca com um
dedo em riste sempre a dizer que a culpa é do outro.
Em consequência disto,
passamos a vida a tentar dominar o outro e a lutar
para que sejamos vencedores. Entretanto, agindo
assim, não percebemos que estamos a nos distanciar
um do outro.
O que fazer então para
mudar esta situação?
Devemos confessar a nossa
culpa. Devemos confessar o nosso pecado. Veja o
que diz João: “Se confessarmos os nossos pecados,
ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e
nos purificar de toda injustiça. “ (1 Jo 1.9). Quando
reconhecemos nossas falhas, quando mostramos que
a culpa é nossa e assumimos isto perante o Senhor
com coração arrependido, Ele nos perdoa.
É necessário também confessar
nossa culpa e debilidades uns aos outros. Tiago,
é enfático e diz: “Confessai, portanto, os vossos
pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros,
para serdes curados. A súplica de um justo pode
muito na sua actuação.” (Tg 5.16). A cura passa
pelo reconhecimento do erro e pela oração intercessória.
Não podemos ficar a nos desculpar. Devemos confessar,
reconhecer nossas debilidades e interceder uns pelos
outros.
Este processo deve começar
em mim. Não posso esperar por ninguém. Portanto,
quero assumir esta realidade, quero dizer que deve
ser a partir de mim. E se o irmão deseja dizer o
mesmo eu o desafio a cantar comigo:
A começar em mim;
Quebra corações.
Pra que sejamos todos
um.
Como tu és em nós.
Cantemos apenas esta
parte desta belíssima canção como nossa oração de
confissão. Cantemos com sinceridade. Cantemos a
reconhecer o nosso pecado.
Que o Senhor nos dê coragem,
que o Espírito Santo toque profundamente os nossos
corações para que possamos assumir nossos erros.
Que Deus nos abençoe.
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[1] MERCURY, Freddie;
MAY, Brian. Is this teh world we created…? Faixa
9 QUEEN, THE
WORKS, EMI Records, 1984
[2] TOURNIER, Paul, Culpa
e Graça: uma análise do sentimento de culpa e o
ensino do
evangelho. 1ª Edição,
ABU Editora, São Paulo 1985
[3] MILNE, Bruce, Estudando
as doutrinas da Bíblia. 2ª Edição ABU Editora, São
Paulo 1991
Queridos, Segue a mensagem de ontem, baseada em Obadias. Abraços, Marcos 28. A Mensagem do Senhor (08/02/06) Texto: Obadias 1 Introdução
Vamos agora entrar no estudo
da profecia.
Obadias inicia com uma declaração
muito forte. A visão é de Obadias e é direccionada a
Edom. Contudo, se atentarmos para a continuação do versículo
vemos que esta visão foi recebida do Senhor. A tradução
da Bíblia de Jerusalém capta bem esta declaração, pois
ela traz o seguinte: “Recebi uma mensagem da parte de
Iahweh”. Sendo assim, a visão que Obadias tem é a mensagem
que o Senhor está a proferir para ele. Não sabemos como
foi esta visão. Não podemos dizer onde ela aconteceu,
mas podemos afirmar categoricamente esta visão faz com
que a palavra de Obadias seja uma palavra que deve ser
reflectida e pensada por cada um de nós.
É importante entendermos
logo no princípio que ele diz que teve uma visão. Este
termo no hebraico é házôn que entre outros significados
pode ser entendido como: “A visão reveladora concedida
por Deus a mensageiros escolhidos, i.e., os profetas.”[1]
Não é uma simples palavra. Ela tem autoridade divina.
Ela vem de Deus e é para ser considerada e escutada
como tal. Sendo assim, esta palavra foi para aqueles
dias, mas é também para os nossos dias, pois a Palavra
do Senhor é actual. Ela não muda.
Esta é a profecia de Obadias.
É uma palavra rica da parte de Deus para nós. “Obadias
parece querer caracterizar bem sua profecia. Ele entendeu
muito bem, captou o significado e quer distingui-la
do seu próprio pensamento. A forma como ele se expressa
é algo premeditado. É seu povo que está em ruínas e
ele prega contra um inimigo do seu povo, mas não está
extravasando rancores nem expressando desejos íntimos.
Esta é uma atitude que exige maturidade e sabedoria.”[2]
Obadias não se deixa levar pelas circunstâncias. Não
faz um arrazoado motivado pelo que ele pensa. Ele apenas
proclama a Palavra do Senhor. Eis aqui uma grande lição
para nós, que muitas vezes nos deixamos levar. É fundamental
levantarmos a nossa voz, mas uma voz profética e nunca
política. É preciso lembrar que a igreja é de cima.
Como igreja não podemos apoiar este ou aquele partido.
Nossa submissão é sempre ao Senhor. Nossa mensagem deve
ser sempre a que o Senhor nos transmite em sua Palavra.
Se assim é, vejamos as lições
que este versículo nos apresenta:
1 – É fundamental saber que
a mensagem é do Senhor
Fico impressionado com a
lucidez de Obadias. Ele diz que tem uma visão. Sua visão
é uma visão que vem do Senhor. É revelação de Deus para
ele. Não é a sua vontade, não é o seu desejo. É a Palavra
de Deus. Eis um desafio muito grande para nós: “anunciar
a Palavra do Senhor e somente a Palavra”. Muitas vezes
confundimos os nossos pensamentos com a vontade de Deus.
Muitas vezes pomos os nossos achismos e os sacralizamos
como se eles fossem parte da revelação. É interessante
o que diz Isaltino sobre esta realidade: “Algumas vezes
as pessoas sacralizam suas opiniões pessoais e valorizam
tanto seus desejos que os manifestam como se fossem
um oráculo divino. Não sucede assim com Obadias.”[3]
Obadias poderia até ser da opinião que Edom era cruel.
Poderia até ficar satisfeito com a mensagem que estava
a receber, mas ele não faz comentários. Ele simplesmente
apresenta o que o Senhor lhe diz.
Ele tinha consciência que
a mensagem não era sua, mas do Senhor. Temos consciência
que a nossa mensagem é do Senhor?
Mas sério ainda, ele tem
esta consciência e apresenta a mensagem que recebeu.
Não acrescenta nada. É fiel ao que o Senhor lhe falou.
A mensagem não é adulterada. Como é que temos apresentado
a mensagem que o Senhor nos concedeu?
Há muita gente acrescentando
coisas que não fazem parte da mensagem. Há outras que
estão a tirar argumentos que são integrantes da mensagem
que o Senhor concedeu. Há alguns que permanecem fiéis.
Como é que nós nos encontramos?
Há um profeta que admiro
muito. É o profeta Elias. É muito interessante ver que
ele aparece e proclama a mensagem que o Senhor lhe deu.
Some, desaparece por completo e depois reaparece novamente
com a Palavra do Senhor. Ele proclama somente o que
Deus lhe diz. Este é o maior desafio que nós temos.
Anunciar somente aquilo que o Senhor fala. Lembro do
tempo que estava em Manaus. Muitas vezes me recusei
pregar porque não tinha nada a dizer. Hoje, luto para
que aquilo que transmito seja Palavra do Senhor e não
apenas uma interpretação do homem. Quero falar aquilo
que Deus falou. Se não for assim, prefiro ficar calado.
Prefiro deixar o ministério e voltar para a minha profissão.
Caio Fábio é de uma lucidez
enorme em relação a este aspecto. Ele diz o seguinte:
“Quando Deus não falou, o melhor que faço é estar calado.
Ou então ter a coragem de falar apenas em meu próprio
nome.
No silêncio de Deus é melhor
falar como ateu sensato do que como profeta devoto que
põe na boca de Deus lindas palavras que ele não disse.
No silêncio de Deus o homem
tem total direito à palavra. Mas tal direito deve ser
exercido em nome do homem, correndo ele o risco de ser
julgado pela História como homem. O problema é quando
no silêncio de Deus falamos em nome dele, ainda que
digamos o que há de melhor em nossas sistematizações
teológicas. Nossas generalidades de sabedoria teológica
não podem ser aplicadas em nome de Deus, da Bíblia,
da igreja ou da fé à especificidade de situações totalmente
novas. Em tais casos, o melhor a fazer é falar apenas
como homem que sonha e ousa ter opinião, deixando de
lado todos os possíveis elementos de vinculação entre
aquilo que se diz e Deus. Mesmo as nossas melhores exegeses
da Bíblia não nos ajudam quando nos defrontamos com
tais situações.”[4] Paulo teve esta coragem. Quando
escreve aos coríntios, chega em determinado assunto
ele diz: agora quem fala sou eu, é a minha opinião (1
Co 7.12ss). É preciso ter discernimento do que é palavra
do homem e palavra de Deus.
A mensagem que a igreja tem
para apresentar não é uma mensagem pessoal, não é uma
mensagem política. A mensagem da igreja deve ser sempre
a Palavra de Deus. Esta é a mensagem que a igreja deve
apresentar ao mundo.
2 – É fundamental saber que
a Palavra do Senhor é para todos os povos.
O Senhor decreta que todas
as nações se levantem e o próprio povo também se levante
para enfrentar os edomitas. O Senhor é claro em dizer
que todo o opressor será destruído. Lutar contra o povo
de Deus é ter a certeza de que no fim das contas será
derrotado.
Quando o Senhor faz uma convocação,
todos irão acatá-la, mesmo que não percebam esta realidade.
O texto diz: “Temos ouvido”. É a mesma mensagem de Jeremias
49.14 que diz: “Eu ouvi novas da parte do Senhor, que
um embaixador é enviado por entre as nações para lhes
dizer: Ajuntai-vos, e vinde contra ela, e levantai-vos
para a guerra.” O texto é claro e diz que o profeta
é um embaixador a chamar os povos a ouvirem no sentido
de obedecer aquilo que o Senhor diz. Neste sentido,
Kunstmann diz: “Quando, no v. 1, o profeta fala na primeira
pessoa do plural, ele quer deixar claro que todos os
povos são endereçados pelo próprio Deus, que a eles
fala por intermédio do seu profeta, mensageiro e embaixador,
cuja palavra é a do próprio Senhor Deus. O profeta faz
questão que isto fique claro, para que suas palavras
sejam acatadas com a devida atenção e o devido respeito.
As demais nações têm em vista
seus próprios interesses; mas, sem que saibam, tornam-se
apenas instrumentos nas mãos de Deus. Assim, Deus é
o líder geral também nesta guerra.”[5]
A convocação feita pelo Senhor
será atendida. Todos obedecem o Senhor. Ele é o Rei
Soberano. Ele dirige e rege todo o universo. É o Senhor
quem convoca as nações. É ele quem as levanta com o
objectivo de guerrear contra Edom.
Este aspecto é interessante,
porque além de mostrar que o Senhor reina soberanamente
sobre as nações, Ele age na história e através da história.
O que se pretende dizer com isto é que Deus controla
a história e isto significa que “os valores humanos
serão julgados apenas à luz de seus retos propósitos.”[6]
O chamado do Senhor é para
todos os povos. Todos eles devem obedecer o chamado
que o Senhor faz. Aqui há uma relação muito importante.
Para quem desejamos fazer a proclamação da mensagem
do Senhor? Creio que muitos de nós somos como Jonas
e queremos apenas pregar para os nossos, mas em Obadias,
percebemos que o Senhor chama todos os povos.
Como já disse alguém no passado:
“minha paróquia é o mundo”, pois é, meu campo de actuação
é o mundo. Não podemos ficar limitados ao espaço geográfico.
Precisamos ter a visão de que a mensagem do Senhor é
para ser apresentada a todos os povos.
3 – É fundamental compreender
que o Senhor corrige todo aquele que oprime o seu povo
A profecia é contra Esaú.
Ele é o opressor de Judá. É o violentador do povo de
Deus. Contudo, é bom saber que o Senhor não abandona
o seu povo. O Senhor sai em defesa dos seus.
O Senhor defende o seu povo.
Todo e qualquer ataque feito ao povo de Deus é um ataque
ao próprio Deus. Isto fica muito claro na conversão
de Paulo (Act 9.4).
Jerusalém estava em ruínas.
Quem olhava pensava que não poderia surgir mais nada.
Muitas vezes nós estamos em ruínas. Talvez por causa
dos nossos pecados. Outras vezes porque o Senhor está
a nos provar. Não importa, o que importa é que o Senhor
está connosco e Ele não permite que ninguém fique a
zombar de nós. Ele irá destruir os nossos adversários.
Numa linguagem tipológica,
Edom representa nossa carnalidade. Mostra como agimos
quando estamos a viver como escravos do pecado.
O texto diz que o Senhor
vai guerrear com Edom. Edom é Esaú. “Não há dúvida que
em Esaú a “carne” é atraente. Mas espere: veja como
a beleza logo se corrompe. Esaú, o “ruivo” torna-se
Edom, “o vermelho”; e sua cor, como a do cavalo vermelho,
do dragão vermelho e da besta escarlate em Apocalipse
6, 12 e 17 é um sinal da vida selvagem em seu íntimo.
O pêlo, que a princípio indica força, logo passa a representar
grosseria animal. Esaú, o forte, torna-se Edom, o selvagem,
o caçador, o matador. Afinal, em hebraico, a palavra
“Edom” é na verdade uma forma do termo “Adão”. Edom
é Adão, e Esaú é de novo a “carne” – exteriormente belo,
mas interiormente violento.”[7]
Esta luta que é travada aqui
é bem personificada no capítulo 7 de Romanos. A luta
entre a lei e o pecado. É a luta entre carne e espírito.
Esaú representa a carne,
Judá é o povo de Deus. O povo que adora o Senhor em
espírito e em verdade. Não podemos esquecer então que
Esaú representa a carne. A nossa fraqueza e fragilidade,
mas também a nossa luta.
É importante termos consciência
disto. É importante saber que há uma luta, mas que o
Senhor está a tomar conta. É fundamental compreender
que a carne não pode destruir o que é espiritual. Edom
não pode destruir o povo de Deus.
Agora a analisar Edom como
povo, compreendemos que todos os que se levantam contra
os escolhidos do Senhor são derrotados. Todo aquele
que se levanta contra a igreja é disciplinado.
O Senhor, não permite que
se hostilize o seu povo e fique impune. O Senhor não
aceita a exploração do ser humano.
Guisa de Conclusão
O Senhor mostra claramente
a sua mensagem. Ele chama-nos para que possamos ver
sua manifestação na história.
O Senhor convoca-nos para
que possamos proclamar a sua mensagem.
Chama-nos para que possamos
proclamar a todos os povos indistintamente. A mensagem
é uma convocatória para todos os povos.
Não esqueçamos que o Senhor
sempre sai em auxílio do seu povo. Como diz Isaltino:
“Não se hostiliza o povo de Deus sem que se hostilize
o próprio Deus com isso. Ele vê e sai em defesa dos
seus. Sintamo-nos seguros. Há alguém que vela por nós
e não deixa impune quem deseja nos fazer mal. E o mal
terá fim; não é eterno, Deus o debelará por completo
um dia.”[8]
O Senhor cuida do seu povo.
Ele concede-nos sempre a vitória.
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[1] HARRIS, R. Laird. (Org.)
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento
– Edições Vida Nova, São
Paulo 1998.
[2] COELHO FILHO, Isaltino
Gomes. Obadias e Sofonias: Nossos Contemporâneos; um
estudo contextualizado dos
livros de Obadias e Sofonias
– JUERP, Rio de Janeiro, 1993.
[3] Ibid.
[4] D´ARAÚJO FILHO, Caio
Fábio. Elias está nas Ruas, 1ª Edição, Editora Betânia
Belo Horizonte, 1990
[5] KUNSTMMAN, Walter G.,
Os Profetas Menores, comentário bíblico – Concórdia
Editora, Porto Alegre, 1983
[6] WRIGHT, G. Ernest. O
Deus que age – Aste, São Paulo 1967
[7] BAXTER, J. Sidlow. Examinai
as Escrituras – Edições Vida Nova, São Paulo, 1995.
[8] Op.Cit.
Queridos, Acabei de escrever este texto que estou a pensar se será a pastoral deste domingo. Abraços, Marcos 29. Não me façam mentir! (10/02/06) O ministério pastoral é cheio
de aventuras. É uma caminhada que se faz sem saber o que
nos espera os próximos cinco minutos. O pastor deve ser
o primeiro a chegar o último a sair. Precisa falar com
adultos e crianças com a mesma naturalidade. Deve tratar
com os de muito conhecimento sem medo, respeitando-os
por serem seres humanos. Com os que tem menos conhecimento
com o mesmo respeito, pois todos foram criados à imagem
e semelhança de Deus.
O ministério pastoral tem histórias
que marcam as nossas vidas. Umas são alegres, outras tristes.
Umas falam das nossas fraquezas e debilidades, outras
mostram como nos mantemos firmes, sem negociar nosso chamado
e ministério.
O ministério pastoral além
de ser contemplativo é também um ministério comunicativo.
Pastor precisa de tempo para reflectir, orar, buscar a
iluminação para poder apresentar a Palavra do Senhor de
modo correcto e relevante. Este processo também é comunicação.
Mas além da comunicação das "Boas Novas", o pastor deve
comunicar-se com as pessoas. É neste processo que a coisa
complica, pois comunicar não é fácil. É necessário tudo
ser comum para que as pessoas se entendam. É preciso honestidade
e coragem para falar abertamente.
Gosto de uma boa conversa.
Perco a noção do tempo quando estou a conversar. Mas,
gosto de conversas sinceras. Se for para rirmos, é para
rir e brincar de modo saudável. Quando é para partilhar
tristezas é para partilhar a dor do outro. Não gosto de
conversa fiada. Não gosto de ser enganado e que mintam
para mim. A Bíblia diz que devemos deixar a mentira e
falar a verdade (Ef 4.25). A pensar neste texto lembrei-me
de uma conversa que marcou minha vida como pastor. Fui
visitar um irmão que estava a faltar os cultos. Falamos
e disse-lhe que sentíamos sua falta. Ele foi sincero e
disse-me que não queria ir à igreja. Aqui reservo-me o
direito de não entrar em detalhes. Lembro-me que este
irmão disse que se fosse, às pessoas lhe perguntariam
o motivo e ele teria que mentir para não chocar os irmãos.
Depois concluiu dizendo: "Não me façam mentir!"
Jamais esquecerei esta visita.
Com ela aprendi uma grande lição que tenho procurado por
em prática em meu ministério. Não pergunto porque fulano
ou beltrano faltaram. Não quero que mintam para mim, pois
na realidade, não estarão a mentir para mim, mas estarão
tentando enganar o Espírito Santo e Deus não se deixa
escarnecer. Como diz o dito popular: "Graças a Deus muitas,
graças com Deus nenhuma." Sendo assim, não quero ser responsável
por mais uma falha na vida de ninguém.
É verdade que no ministério
pastoral, somos postos em situações complicadas. Pastor
é chamado para ir na casa de alguém e apresentam-lhe um
prato que ele detesta, pedem que ele ore agradecendo e
ainda perguntam se ele gostou. Dá vontade de dizer: "Não
me façam mentir!" Confesso que não sei dissimular, por
isso é mais fácil. Certa vez fui convidado para ir a um
jantar e deram-me fígado. A pessoa não era evangélica,
pediu-me para orar. Orei, pedi que o Senhor abençoasse
aquele alimento. Ela viu que não sou amante de fígado.
Perguntou-me e disse-lhe que não sou amante do prato.
Enquanto isso, Lílian e Matheus riam por me verem aflitos.
Outra vez, fui chamado à casa de um vizinho que tinha
um petisco para nós. Era verão. Cheguei em sua casa e
eles tinham preparado caracóis. Líliam disse logo que
não comia. Fiquei sem graça ao ver a tristeza dos nossos
vizinhos e disse-lhes que nunca tinha comido, mas que
iria experimentar. Que petisco delicioso. Caracóis são
sempre bem vindos, fígado é mais complicado.
Nas lides ministeriais, o pastor
passar por muitas experiências e tentações. A maior é
a mentira. E é bom lembrar que mentira tem perna curta.
Aceitem a verdade que digo
com amor e não me façam mentir.
Pr. Marcos Amazonas dos Santos
Queridos,
Segue a mensagem que preguei hoje no culto de oração Abraços, Marcos 30. A queda do orgulhoso ( 15/02/06) Obadias 2-4 Introdução
O Senhor agora é quem
fala. Já não é uma convocação aos povos, mas uma
sentença contra Edom. Não é somente a sentença
que é proferida, mas á dado o motivo porque esta
sentença é dada. O Senhor diz que os edomitas
eram pessoas orgulhosas, presunçosas. Pessoas
que pensavam estar seguras e que nada lhes aconteceria.
Achavam que eram inatingíveis. Viviam a pensar
que estavam em segurança e por viverem nos penhascos,
nada e ninguém poderia lhes destruir. Contudo,
o Senhor, o Criador dos céus e da terra, diz a
este povo presunçoso que o derrubará.
Este aviso é para nós
também. Deus não tolera a arrogância. O Senhor
não suporta pessoas que tentam assumir o seu papel
e se fazem deuses para si próprios.
É triste ver que esta
realidade acontece em nossos dias. É triste ver
que há nações que pensam ser melhores que as outras.
Povos que se acham inatingíveis e indestrutíveis.
É preciso muito cuidado, pois a Palavra do Senhor
é muito clara. O Senhor não se deixa escarnecer
(Gl 6.7)
Os castelos da arrogância
um dia ruirão. Toda a vaidade, todo o orgulho
um dia serão postos de lado. O Senhor detesta
os que praticam a maldade (Sl 5.5).
Edom está a ser julgada.
O Senhor vai destruir sua arrogância. Vai mostrar
que a nação é tão frágil como qualquer outra.
Se Deus faz isto com uma nação inteira, o que
não fará connosco. O que pensamos de nós próprios?
Há pessoas arrogantes.
Há pessoas a pensar que jamais serão atingidas.
Há pessoas seguras de si mesmas. Pessoas a pensar
que não dependem de Deus. Cuidado, o Senhor vai
julgá-los.
Deus é Deus e não aceita
a afronta. Contudo, quais são as lições que devemos
tirar para as nossas vidas?
1 – Todo aquele que
se elevar será humilhado pelo Senhor 2-4
O texto é claro. É
o Senhor quem está a falar. Ele irá humilhar Edom.
A questão é por que o Senhor fará isto? Por causa
do orgulho de Edom. O povo achava-se impenetrável.
Estava cercado de fortalezas representadas pelos
altos montes. A cidade estava situada nas fendas
das rochas e as moradias estavam talhadas nas
rochas. Por este motivo achavam-se seguros. “O
arrogante espírito de Edom por certo brotava de
sua crença de ser invencível e impenetrável. Ninguém,
pensava ele, obrigá-lo-ia a descer de sua alta
habitação. Deus assegura-lhe que, embora ele imite
a águia e faça sua residência entre as próprias
estrelas, de lá o Senhor o derrubará. (Cp Amós
9:2; Isaías 14:12-20, queda de Lúcifer; Jó 39:27-28).
Edom pode ser inacessível ao homem, mas não a
Deus. Quanto maior seu orgulho, tanto mais desastrosa
a sua queda.”[1]
Este princípio se aplica
às nações, mas também se aplica a cada um de nós.
A nível pessoal, em nossos relacionamentos. Na
nossa vida religiosa. Quando olhamos para o nosso
semelhante e passamos a julgá-lo e criticá-lo.
Dizemos que somos melhores do que ele, devemos
pensar nas palavras de Jesus depois de falar acerca
dos escribas e fariseus, que gostavam se chamar
para si a autoridade e estar em evidência. Jesus
disse o seguinte: “Qualquer, pois, que a si mesmo
se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si
mesmo se humilhar, será exaltado.” (Mt 23.12).
Não esqueçamos que por analogia Edom é a carne.
Edom somos nós e se não tivermos cuidado, corremos
o risco de ser humilhados.
Há uma ilustração que
demonstra muito bem este facto. Num voo da British
Airways entre Johannesburge e Londres. Uma senhora
branca, de uns ciquenta anos, senta-se ao lado
de um negro. Visivelmente perturbada, ela chama
a atendente.
- Qual o problema?
Pergunta a atendente.
- Mas você não está
vendo? Responde a senhora.
Você me colocou ao
lado de um negro. Eu não consigo ficar ao lado
destes nojentos. Dê-me outro assento.
- Por favor senhora,
acalme-se. Diz a atendente.
- Quase todos os lugares
deste voo estão tomados. Vou ver se há algum lugar
disponível.
A atendente se afasta
e volta alguns minutos depois.
- Minha senhora, como
eu suspeitava, não há lugar vago na classe económica.
Eu conversei com o
comandante e ele me confirmou que não há mais
lugares na executiva. Entretanto ainda temos um
lugar na primeira classe.
Antes que a senhora
pudesse fazer qualquer comentário, a atendente
continua: - É totalmente inusitado a companhia
conceder um assento de primeira classe a alguém
da classe económica, mas, dadas as circunstâncias,
o comandante considerou que seria escandaloso
alguém ser obrigado a sentar ao lado de uma pessoa
tão execrável.
E dirigindo-se ao negro,
a atendente completou: - Portanto senhor, se for
da sua vontade, pegue os seus pertences que o
assento da primeira classe está à sua espera.
E todos os passageiros
ao redor que, chocados, acompanhavam a cena, levantaram-se
e aplaudiram.”[2]
A mulher que se exaltou
foi humilhada. O homem que foi humilhado foi exaltado.
É este o princípio do Senhor. O Senhor nos ensina
que farão connosco aquilo que temos feito com
os demais (Lc 6.31). Sendo assim, como é que nós
temos agido em relação às pessoas?
Deus diz claramente
na sua Palavra que todo aquele que se acha seguro,
que cria seus castelos e viras as costas para
o Senhor e para o seu próximo irá cair. Sofrerá
o juízo do Senhor.
Agora vejamos o que
o Senhor diz:
Eis que te farei pequeno
entre as nações. Para o Senhor, Edom é insignificante.
Não importava o que o povo pensava de si mesmo.
O que importa o que Deus pensa e o Senhor diz
que Edom não é uma grande nação.
Serás muito desprezado.
Aquele que desprezou agora recebe o desprezo.
Aquilo que o homem semeia colhe (Gl 6.7).
A soberba do teu coração
te enganou. Por pensar ser aquilo que não era,
foi levado à perdição. Estava cego por causa do
seu orgulho. Achava-se intocável. Há pessoas assim
no meio cristão. Há pessoas que pensam que são
mais competentes que as outras. Há pessoas que
se julgam mais espirituais e capazes do que outras.
Aqui vale a orientação de Paulo que diz: “Porque
pela graça que me é dada, digo a cada um dentre
vós que não pense de si mesmo além do que convém;
antes, pense com moderação, conforme a medida
da fé que Deus repartiu a cada um.” (Rm 12.3).
Cuidado para não pensar ser mais do que realmente
é.
Não permita que a soberba
o engane. Não permitamos que a soberba nos engane.
É necessário descer
do pedestal que erguemos para nós próprios. O
Senhor diz ao povo de Edom: “Ó tu que habitas
nas fendas do penhasco, na tua alta morada.” Aqui
é levado em conta a condição geográfica de Edom.
A cidade havia sido construída em rocha escarpada.
No alto da montanha. Achava-se em segurança. Por
isso, questiona: “Quem me derrubará em terra?”
Muitas vezes, como os edomitas, pensamos ser indestrutíveis.
Achamos que ninguém pode nos destruir. Lembro-me
de um empresário que disse que construiria seu
império e nada o abalaria. Parou e depois disse,
só Deus. Do alto do nosso pedestal pensamos que
nada nem ninguém pode nos derrubar, mas cuidado,
pois Deus, o Senhor, Criador dos céus e da terra,
Ele pode nos derrubar. Paulo quando perseguia
os cristãos achava-se indestrutível. Estava revestido
de autoridade humana, mas o Senhor o derrubou,
lançou fora toda sua arrogância, soberba e lhe
revestiu com a verdadeira autoridade que é concedida
pelo próprio Senhor (Act 9.1-5). Será que o Senhor
terá que destruir a nossa arrogância?
O Senhor segue afirmando
que mesmo que Edom tente se reerguer, que suba
ao mais alto das montanhas, mesmo que alcance
as estrelas, o Senhor o destruirá. A lição que
devemos tirar é que todas as vezes que nos fizermos
de deuses, sofreremos a justiça do Senhor. Todas
as vezes que confiarmos mais em nós do que no
agir do Senhor, seremos derrotados.
Não podemos confiar
em nós próprios. Já dizia o profeta Jeremias:
“Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia
no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta
o seu coração do SENHOR!” (Jer 17.5). Não confie
em si mesmo. Não se eleve, para que não seja o
caso de ouvir o Senhor dizer: “Dali te derrubarei.”
2 – O Senhor age livremente,
realiza sua vontade e não fica prisioneiro de
ninguém
O Senhor convocou as
nações. Agora fala abertamente o que Ele fará.
Ele vai julgar Edom. Ele determinou o momento
e ponto final.
Quando o Senhor realiza
o seu julgamento, não há lugares seguros. Não
há como fugir da presença do agir do Senhor.
Ele quem determina
e faz o que quer e como quer, mas Ele próprio
diz que aqueles a quem usa, serão julgados também.
É isto que encontramos em Isaías, quando o Senhor
fala da Assíria. Ela irá castigar o povo de Deus,
mas será castigada pelo Senhor (Is 10.5). Deus
não deve nada a ninguém.
O Senhor não necessita
de nós. Somos nós que necessitamos da sua graça.
Ele não precisa de mim para exercer um ministério
e ajudar a edificação da igreja. Sou eu quem necessita
do Senhor. O Senhor não me deve nada. Para mim
e para cada um de nós é um privilégio e uma honra
poder desenvolver um ministério, mas no final
devemos dizer como Paulo: “Miserável homem que
eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”
(Rm 7.24).
Gostei do que disse
Isaltino: “Não somos imprescindíveis nem insubstituíveis.
Alguns apelos para a dedicação de vidas para o
serviço do Senhor fazem um conceito muito baixo
dele. “Deus precisa de você para salvar o mundo.
Se você não dedicar sua vida, como ele o fará?”,
dizia um pregador, num apelo para entrega de vidas
para a obra missionária. A resposta é bem simples:
“Ele fará tão bem como fará se você se entregar.”
Homens e nações são apenas instrumentos. Ele é
o agente.”[3]
Esta é uma palavra
séria. É uma declaração do próprio Senhor. É assim
que termina o texto. Diz o Senhor. E quando o
Senhor diz, deve ser levado a sério porque Ele
assim o fará.
O Senhor não depende
de mim, nem de ninguém. Ele falou e assim sucederá.
Ele é o Eterno, o Absoluto.
Devemos entender que
podemos ser seus instrumentos. É uma prazer para
nós, mas cuidado para não pensarmos que nos bastamos,
pois o Senhor pode dizer que nós sofreremos à
sua correcção. Tomemos cuidado para que o Senhor
não diga a nós o que disse a Israel: “Destruir-te-ei,
ó Israel; quem te pode socorrer?” (Os 13.9).
Quando o Senhor age,
nada poderá detê-lo. Sendo assim, tomemos cuidado.
Sejamos sensatos e compreendamos que somos nós
que carecemos do Senhor e do seu agir nas nossas
vidas.
O Senhor não depende
de nós. Somos nós que dependemos dEle.
Guisa de Conclusão
O Senhor declara o
seu julgamento. Diz que vai destruir Edom.
Ele declara porque
Edom será destruída. É por causa da sua soberba,
do seu egoísmo e da usa arrogância. Sendo assim,
tenhamos cuidado para que não sejamos dominados
por estes sentimentos.
Olhemos sempre para
o Senhor e nunca para nós mesmos. “Nunca permitamos
que a vaidade nos domine. Podemos ter nossas igrejas
muito bem estruturadas e nossas vidas bem organizadas.
Podemos ser pessoas bem preparadas, mas nenhuma
dessas coisas deve nos levar a um conceito mais
elevado a nosso respeito do que devemos ter.”[4]
Que possamos olhar
sempre para nós como pecadores arrependidos, que
foram alcançados pela graça de Deus. E se somos
o que somos é somente pela graça do Senhor.
Que Deus nos ajude
a viver em humildade para
-------------------------------------------------------------------------------- [1] FEIBERGER, Charles
L. Os Profetas Menores – Editora Vida, Miami,
Florida, 1988
[2] História recebida
num power point. Não posso afirmar que a história
é verdadeira.
[3] COELHO FILHO, Isaltino
Gomes. Obadias e Sofonias: Nossos Contemporâneos;
um estudo contextualizado dos
livros de Obadias e
Sofonias – JUERP, Rio de Janeiro, 1993
[4] Op.Cit.
Meus queridos, Queridos,
Segue uma crónica que escrevi a falar de mim e da minha cidade adoptiva. Abraços, Marcos Coimbra tem sempre encanto Leia o Salmo 23
Diz a canção que Coimbra tem mais
encanto na hora da despedida. Contudo, ouso contrariar a canção
e dizer que Coimbra tem sempre encanto. É uma cidade bela. Cheia
de contrastes. Cheia de encantos.
Gosto de ver os estudantes a passear
pelas ruas com capa e batina. Caminham altaneiramente com uma
posse de doutores. Ostentam o orgulho e a vaidade da juventude.
Mal sabem eles que o curso não lhes garante nada. Dá apenas
um título e mais nada.
Gosto de ver o contraste entre as
pessoas. Os professores, médicos e os prestadores de serviço
que caminham a correr diariamente para seus trabalhos. Gente
que caminha desenfreadamente para construir um futuro, mas muitas
vezes não lembra de construir o presente.
Coimbra tem sempre encanto, até mesmo
quando vive as festas estudantis e os exageros são cometidos.
Coimbra tem sempre encanto. É uma cidade onde se respira espiritualidade.
Tudo em Coimbra está relacionado com a religião. Os estudantes
não podem terminar seu curso sem terem suas pastas abençoadas.
Não podem terminar o curso sem que na porta da Sé Velha, os
alunos reunidos façam a serenata para encantar a cidade e os
turistas que aqui chegam.
Coimbra tem sempre encanto. Eu sou
Coimbra. Coimbra está em mim e eu nela. Coimbra é feita de altos
e baixos. Gosto de ir ao penedo da saudade e ver toda a vista
que a cidade tem. Gosto de ir à universidade e contemplar o
Mondego. Gosto de ver os planaltos e planícies que a cidade
tem. É por este motivo que Coimbra sou eu e Coimbra faz parte
de mim. É por isso, que ela tem tanto encanto.
Minha vida é assim. É feita de espiritualidade.
Até mesmo quando tentei fugir de Deus, Ele sempre esteve presente.
Quando tentei esconder-me do Senhor Ele estava presente naquela
saudade enorme que batia e ma fazia subir no penedo da saudade
espiritual.
Eu sou Coimbra porque sou feito de
altos e baixos. É claro que tenho meus momentos planos, onde
tudo é bem mais calmo e tranquilo, mas tenho consciência de
que estes são apenas momentos. Há vida é feita de poesia e prosa
e nada como Coimbra para nos mostrar esta realidade.
Minha vida é feita de contrastes.
Há dias ia muita alegria, mas há outros em que sou tomado de
tristezas. A alegria pode ser pessoal ou por causa de algo maravilho
que está a acontecer com pessoas que amo. As tristezas podem
acontecer por vários motivos. Há momentos de raiva, estes são
poucos, mas existem.
Coimbra é romântica. Fala do amor
profundo que nutro por minha esposa. Fala do amor profundo que
nutro por meus filhos. Fala do amor profundo que nutro pela
igreja e por cada um dos meus irmãos. Fala também das vezes
que por causa das minhas falhas os deixo decepcionados. Fala
da minha fragilidade.
Coimbra cheia de encanto. Cheia de
beleza. É uma alegria caminhar por tuas ruas e vielas. É maravilho
poder ver os cantos e recantos que existem em ti. É agradável
poder subir escadarias e ver todas as tuas belezas. É agradável
caminhar pela Portagem e poder contemplar o Mondego à nossa
frente.
Coimbra sou eu. Coimbra é a minha
vida. Nesta caminhada de altos e baixos lembro-me de um pastor
que um dia chegou a ser rei, mas que brincava com as palavras
por ser poeta e músico. Ele é o autor do Salmo 23. O salmo do
Pastor. David mostra justamente isto. Nossa vida é uma caminhada
feita de altos e baixos. Há vales que devem ser ultrapassados,
a planícies a serem trilhadas. Há o momento de tranquilidade
e refrigério, mas a dor e a angústia sempre estão presentes.
Contudo, O pastor está presente para acalmar o seu rebanho.
Ele não abandona suas ovelhas.
O pastor não me abandona. Apesar
da minha vida ser feita de altos e baixos. De ter planícies
e muitas vezes aparentar ser velha, destroçada, sem beleza nenhuma.
Ela tem muito valor. Ela é bela para o Pastor.
Ela tem sempre encanto. É por isso
que o Pastor não me abandona. Porque mesmo que eu não saiba
dar o devido valor à minha vida, Ele sempre me valoriza. Ele
sempre vê beleza e encanto em mim, mesmo que eu pense que já
não há nenhum.
Coimbra sou eu. Sou feito de altos
e baixos. Tenho meus encantos e desencantos. Mas uma coisa é
certa, para aquele que governa a minha vida, eu sempre tenho
encanto. Ele me ama e seu amor não pode ser aumentado nem diminuído.
Ele me ama e ponto final.
É por causa do seu amor que Ele tem
que fazer obras na minha vida. Muitas vezes elas doem, mas elas
acontecem para que eu possa ficar mais belo. Sendo assim, descansarei
e confiarei no meu Governador, no meu Guia.
Coimbra tem sempre encanto. Eu tenho
encanto, não por que seja alguém de grande importância, mas
pelo facto do meu Pastor me amar e me valorizar. Tenho encanto
aqui e agora e terei sempre porque o meu Pastor está a conduzir-me
para o seu redil.
= = Queridos,
Segue uma outra crónica. Abraço a todos, Marcos 32. Desculpas que Deus não aceita 17/02/06 Leia Génesis 3. 9-13
No final do jogo, o guarda-redes
chegou e reconheceu que a derrota da sua equipa aconteceu por
causa da sua falha. Marco Aurélio, que é reconhecidamente um
excelente guarda-redes surpreendeu tudo e todos. Ninguém esperava
uma declaração daquelas, mas ele foi incisivo e directo. O Belenenses
perdeu por causa da minha falha. Lembro de um repórter dizer
que de um excelente profissional só podemos esperar atitudes
que o dignifiquem. A questão é quantos Marco Aurélio existem?
O Ser humano não gosta de assumir
os seus erros. Não gosta de assumir sua culpa. Para fugir desta
realidade criou a desculpa. Sendo assim, ele nunca é culpado
da falha cometida. Sempre há alguém ou algo responsável pela
falta cometida. Sempre há desculpas para fugir de determinadas
responsabilidades.
A Bíblia é um livro que nos mostra
isto de modo extraordinário. Nela encontramos várias pessoas
a procurarem desculpas para não fazer determinada coisa ou a
desculparem-se por coisas que fizeram. Contudo, Deus não aceita
estas desculpas. Deus quer ver sinceridade nas nossas atitudes.
Nós somos hábeis em arranjar desculpas.
Isto é uma realidade bíblica, senão vejamos:
Adão desculpa-se dizendo a Deus que
a mulher que o Senhor lhe deu, havia lhe dado do fruto e ele
comeu. Eva diz ao Senhor que foi enganada pela serpente.
Sara que estava a escutar a conversa
de Abraão com o Senhor e dois anjos, ouviu que o Senhor prometera
um filho a Abraão e riu-se. O Senhor pergunta porque ela riu
e ela com medo desculpa-se dizendo que não riu. O Senhor diz
é certo que riste.
Moisés apresentou várias desculpas.
Começou por questionar e a dizer quem sou eu? Depois diz que
o povo não creria nele. Depois diz que não é eloquente. Sempre
a arranjar desculpas que Deus não aceita. Moisés diz que não
é a pessoa indicada e pede para que o Senhor envie outra pessoa.
Ele estava a pensar em seu irmão.
Gideão depois de ser confrontado
com o Senhor e saber que ele havia sido escolhido para livrar
Israel das mãos dos midianitas ele diz: Minha família é a mais
pobre em Manassés, e eu o menor na casa de meu pai.
Ester quando foi orientada por seu
tio Mordecai a suplicar por seu povo. Disse que não podia entrar
na presença do rei sem ser chamada. Ela não poderia fazer nada.
Jeremias diz que não sabe falar.
É apenas uma criança.
Todas estas desculpas foram recusadas
por Deus. Deus não aceita desculpas. Ele deseja sinceridade
da nossa parte.
Quais são as desculpas que estamos
apresentando diante de Deus?
Talvez façamos parte do grupo dos
inclusivistas que diz: Tomo mundo faz, porque eu não posso fazer?
Se somos daqueles que sonegam os
impostos, nos desculpamos a dizer que já pagamos impostos a
mais.
Se fazemos parte daqueles que estão
a praticar sexo livremente, dizemos que o mundo mudou e não
há mal nenhum.
Se já não temos interesse na igreja
dizemos que a culpa é do pastor e da liderança.
Se não estamos envolvidos é porque
os programas não nos cativam e são irrelevantes. Esquecemos
que a relevância da igreja está em nós mesmos porque nós somos
igreja. Toda desculpa utilizada contra a igreja, grita bem alto,
os nossos defeitos.
É muito fácil arranjar uma desculpa.
É fácil transferir a minha culpa para outra pessoa. É fácil
arranjar respostas para deixar de fazer aquilo que eu tenho
que fazer. O complicado é assumir o meu erro.
Marco Aurélio é um exemplo para nós.
Alguém consciente e que assume suas falhas. Creio que foi por
este motivo que o treinador o colocou no banco de suplentes,
mas Marcos Aurélio pode estar com a consciência tranquila por
ter feito a coisa certa. Ele não ficou a arranjar desculpa para
o indesculpável.
Quais são as tuas desculpas? O que
tens procurado dizer para encobrir as tuas falhas?
Tenha consciência de que Deus não
aceita desculpas esfarrapadas.
Deus deseja a nossa sinceridade.
Ele deseja ver em nós autenticidade.
Chega de desculpas. É hora de assumir
a responsabilidade e ponto final.
Queridos, Segue a pastoral que escrevi para o culto do último domingo. Abraços, Marcos 33. Não seja como Carolina (20/02/06) O poeta José Régio em um dos seus
poemas diz que tudo passou por ele. A semente caiu no seu jardim,
foi o vento que a trouxe e a levou. Há muitas pessoas assim.
Têm a plena consciência de que a vida está a lhes passar, mas
ficam apenas a observar. São expectadores que não aceitam fazer
parte da corrida da vida. São expectadores que aceitam tudo
impávidos e serenos. São pessoas conformadas. São pessoas que
guardam a dor do mundo para si. Não vivem, não conseguem ver
a beleza da vida.
O problema de deixar o tempo passar
é que fica a lembrança do que podia ter sido e não foi. Ficar
sentado no camarote da vida a observar quieto e depois querer
ter uma palavra relevante já não faz efeito. É ficar preso dentro
de si mesmo, sem fazer a diferença na sociedade, sem ver a beleza
que existe à nossa volta.
Chico Buarque escreveu a letra e
a música de Carolina. Nesta beleza canção ele fala de uma jovem
que vive fechada para si mesma. Não vê o que acontece à sua
volta. Por ficar fechada mesmo tendo tanto amor, o amor passou
por ela e já não há como partilhá-lo. A canção termina a dizer
que o tempo passou na janela e só Carolina não viu. Chico e
José Régio tem uma noção fabulosa. Mostram que não há como voltar
naquilo que ficou para trás. Quem fica a observar não vive,
não experimenta a alegria do amor.
Há cristãos que vivem a realidade
do poema de José Régio e a canção sobre Carolina. Há cristãos
que são meros expectadores. Ficam sentados na janela da vida
cristã a observar tudo o que acontece. Sentem a dor dos problemas,
estão cheias de amor, mas não conseguem conviver. Não conseguem
viver fora da janela. A vida passa e eles ficam ali a observar
quietos, com medo de cometer as mesmas falhas que observam nos
outros. Ficam quietas e guardam os seus dons e talentos por
terem medo de enfrentar a realidade da vida que lhes é proposta.
Escondem seus talentos e ficam aguardando a volta do Senhor
para poder entregar-lhe o que Ele por graça lhes concedeu.
Esta realidade é visível nas parábolas
dos talentos (Mt 25.14-30). Todos nós recebemos do Senhor talentos,
conforme a nossa capacidade. Não seremos cobrados por aquilo
que não recebemos, mas pelo que recebemos. A parábola diz que
dois utilizaram os seus talentos, multiplicaram. Um por medo
ficou quieto, ficou a observar a vida passar e a desejar o regresso
do seu Senhor. Ficou a carolinear, sem olhar para as oportunidades
que tinha em suas mãos. Um dia o Senhor volta e pede contas.
Todos estão presentes. Os dois primeiros foram reconhecidos,
o último por conhecer o seu senhor, com medo preferiu esconder
o que havia recebido. O resultado foi vergonhoso. O senhor o
chamou de servo mau, preguiçoso e diz que o facto de esconder
o talento só o depreciou, pois com o tempo foi desvalorizando.
Não foi feito investimento nenhum. O que o servo recebeu foi-lhe
tirado e dado ao que tinha dez talentos. Quem fica sentado sem
fazer nada, fica sem nada.
Não deixe o tempo passar. Passe com
o tempo. Não fique sentado na janela a ver a vida florescendo
lá fora. Viva e faça a diferença na vida das pessoas que estão
sedentas por uma vida saudável. Isto só será possível se deixarmos
a janela e formos ao encontro delas. Só poderá se concretizar
se utilizarmos os talentos que temos recebido do Senhor.
Não seja como Carolina. Não fique
sentado, quieto a espreitar o que está a acontecer. Faça acontecer.
Viva com graça e através da graça. Não tenha medo de errar e
de perder. Só não erra e só não perde quem aceita ficar enclausurado
dentro de si mesmo. Quem não ousa viver tudo o que o Senhor
lhe deu para viver. Carolina não viu o tempo passar e por isso
não viveu, não fez o que tinha que ser feito.
Eu prefiro errar fazendo do que errar
por não fazer.
Marcos Amazonas dos Santos
Segue a minha última crónica. Abraços, Marcos Amazonas 34. Memória (20/02/06) Leia Lamentações 3.20-22
O filme narra a história de uma mulher
que está a morrer de cancro. Isto faz com que a minha mente
volte no tempo. É uma viagem de treze anos. Lembro-me da minha
mãe e seus últimos dias. Lembro-me dela no hospital a falar
connosco e a aconselhar-nos sobre as questões da vida. Recordo
do seu esforço para que pudéssemos cumprir o seu legado e continuar
unidos.
É claro que recordar este facto não
me traz alegria. Sou envolvido pela tristeza e saudade daquela
que foi o maior exemplo de vida cristã que conheci. Na sua simplicidade
sabia aconselhar. Tinha a capacidade de convencer com suas opiniões
sempre muito bem estruturadas. Seus conselhos eram sempre coerentes
e os mais correctos.
Nesta viagem lembro-me do texto de
Jeremias. Ele vê a tragédia que ele e seu povo vivem no presente
e faz uma viagem ao passado, buscando a esperança e a razão
de ser. Isto é fabuloso, pois nos mostra que o nosso presente
faz parte de uma história. Ele existe por causa de acontecimentos
que nos marcaram e foram vividos no determinado momento. É a
olhar para o passado que podemos tirar ilações para o nosso
presente e construir uma história para o futuro.
Quando Jeremias lê a sua história,
ele pode ter certeza que há esperança. Ele diz que as misericórdias
do Senhor são a causa do povo não ser consumido. Ele diz que
há esperança porque Deus não mudou, Ele continua o mesmo.
Este aspecto é importantíssimo, pois
nos ensina que quem não tem uma história, quem não tem fundamentos
não tem esperança não poderá construir o futuro e mudar o presente.
Ele nos mostra que o presente pode não ser o melhor, mas do
mesmo modo que Deus agiu no passado, agirá no presente e mudará
a situação. Deus é misericordioso.
Viajar ao passado é poder reavaliar
a nossa vida. É caminhar pela nossa história. É alegrar-se pelas
vitórias alcançadas. É entristecer-se pelas derrotas. Chorar
pelas dores e tragédias, mas acima de tudo é poder ver o cuidado
de Deus em todas as circunstâncias da vida.
Enquanto via o filme, viajava no
tempo. Revi minha história. Não foi uma viagem de treze anos,
foi muito mais. Viajei até onde a memória me deixou ir. Vi minha
meninice, minha adolescência e juventude. Pude recordar as alegrias
e tristezas, sentir novamente todo o amor que me foi demonstrado
por aqueles que fizeram parte da minha formação. Senti novamente
a dor da perda da minha mãe. Parecia que sentia novamente seu
coração batendo pela última vez. Recitei novamente o salmo 23
com ela e pude vê-la despedir-se de nós com um até breve do
modo como ela sempre desejou. Ela sempre quis partir num dia
de chuva e assim foi.
Caminho pela minha história e posso
ver o nascimento dos meus filhos. Posso ver tudo o que tenho
feito e ter a certeza de que se estou aqui e sou o que sou é
por causa da misericórdia do Senhor. Ele é quem tem me sustentado
e não me consome por causa da sua graça, pois eu sou apenas
um miserável pecador.
Minha história não é a mais bela
para poder ser contada. Há muitas falhas e deficiências. Há
muitos defeitos e inconformidades, mas como Jeremias eu tenho
esperança no meu coração. Não pelo que posso fazer, mas pelo
agir de Deus na minha história.
Hoje, viajando pela minha história,
descobri que não importa qual seja a situação que nos encontramos.
Vi que só tem um presente quem viveu um passado e o traz consigo,
não o despreza nem o destrói. Só há futuro para os que vivem
o presente, firmados na esperança de que o Deus que agiu no
passado vai continuar a agir no presente e no futuro.
Viajar pela memória da minha vida
mostrou-me que não importa as situações que tenha que passar.
O que importa é a certeza de que Deus está presente em todas
elas e tem todas as situações no controle.
Como é bom poder viajar para dentro
de nós mesmos e ver que as misericórdias do Senhor estão a se
renovar a cada dia nas nossas vidas.
O Pr. Marcos Amazonas dos Santos, pastor da Igreja Evangélica Baptista de Coimbra, em Portugal, além de excelente pregador, é um exímio escritor. Seus textos, além de encantadores, são confortadores. Ele estará publicando seus sermões e escritos num grupo específico. PARA INSCREVER-SE Envie um e-mail em branco para artigosprmarcosamazonas-subscribe@yahoogrupos.com.br O sistema lhe enviará um pedido de confirmação. Reenvie do jeito que vier. Pronto. (Via _ Pr.Wagner/Osasco) 20/07/06 Queridos, Introdução
A dramaticidade deste texto é assustadora.
A profecia utiliza o verbo no passado, ou seja, o facto ainda
não aconteceu, mas é como tivesse acontecido. Deus não está
a valorizar a cultura do medo, mas está a dizer que seu juízo
está em andamento e não há como detê-lo. A justiça do Senhor
irá se manifestar.
Esta situação é muito séria, pois
deve nos alertar para o seguinte aspecto: Deus é um Deus de
amor, deseja o arrependimento das pessoas. Contudo, a sua justiça
deve ser exercida. Não devemos nunca esquecer este facto. Não
podemos deixar de anunciar a justiça do Senhor. É verdade, devemos
pregar a graça e a misericórdia de Deus, mas juntamente com
ela devemos anunciar o juízo do Senhor sobre todos os que não
se arrependem.
Não podemos esquecer que este texto
fala do juízo aniquilador do Senhor. O livro diz que este juízo
acontecerá no “dia do Senhor”, expressão messiânica que nos
aponta para o julgamento final. Contudo, quando atentamos bem
para o texto vemos que o Senhor diz que tudo será posto às claras.
Nada ficará escondido e guardado de Edom. Tudo será vasculhado
e levado. Agora lembremos sempre que Edom por analogia simboliza
a carne, simboliza a humanidade em seu pecado. Sendo assim,
Edom sou eu e cada um de nós. Portanto, é fundamental lembrarmos
o que diz o apóstolo Paulo: “Portanto, nada julgueis antes de
tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as
coisas ocultas das trevas e manifestará os desígnios dos corações;
e, então, cada um receberá de Deus o louvor.” (1 Co 4.5). Será
que receberemos louvor?
O texto é claro. Deus vai aniquilar
Edom. O texto utiliza de analogias para mostrar que não será
uma intervenção humana, mas divina. Obadias é fiel ao que o
Senhor lhe diz. Ele declara o juízo do Senhor. É importante
entendermos o seguinte: “O profeta não estava trabalhando com
uma análise do cenário político ou militar da época. Não estava
observando fatos se desenrolando e deduzindo uma seqüência viável,
ameaçando Edom com o observável no cenário. Apenas formula o
juízo divino porque sabe que dois graves pecados foram cometidos
por Edom: hostilizou o povo de Deus e confiou em forças e recursos
humanos, desprezando o Senhor.”[1]
Obadias não especula. Ele é enfático.
O juízo do Senhor é uma realidade. Não há como escapar dele.
A justiça do Senhor é uma realidade. Todos os que recusam a
graça do Senhor, recebem sua justiça. Todos que preferem viver
em seus próprios caminhos, no final sofrerão a justiça do Senhor.
É preciso tomar cuidado. É necessário
reflectir no que nos diz o texto e aplicá-lo à nossa vida.
Reflictamos nas lições que o texto
nos apresenta.
1 – O Senhor aniquila todos os que
oprimem o seu povo 5-7
Obadias utiliza os ladrões e os vindimadores
como exemplo. Ele mostra que o ladrão por causa da sua presa,
escolhe o melhor e deixa o resto. Os vindimadores, sempre deixam
passar alguns cachos. Contudo, na manifestação do Senhor não
ficará nada.
As duas perguntas recebem um sim
como resposta. Mas de Edom se diz: «como estás destruído!» São
escombros. Não resta nada. Tudo foi saqueado e levado.
Isto é exposto nos versículos 6 e
7. Estes versículos encontram são um eco de Jeremias 49.9-10:
“Se vindimadores viessem a ti, não deixariam alguns rabiscos?
Se ladrões, de noite, não te danificariam quanto julgassem suficiente?
Mas eu despi a Esaú, descobri os seus esconderijos, e não se
poderá esconder; é destruída a sua descendência, como também
seus irmãos e seus vizinhos, e ele já não existe.” Veja a dureza
do texto. O Senhor diz que ele já não existe. O facto ainda
não aconteceu, mas o decreto já está consumado. Edom não pode
fazer nada. Sua destruição é total.
Note que o texto diz que os bens
de Esaú foram rebuscados, esquadrinhados. Isto é muito interessante.
Mostra que não ficou nada escondido.
Todos os seus bens, toda a sua riqueza
seriam buscados com diligência e seriam encontrados. Tudo seria
pilhado. Não ficaria nada.
Esta é uma grande advertência para
nós. Não adianta acumular tesouros. Não adianta ficar a esconder-se.
Quando o Senhor manifesta a sua justiça, tudo é trazido à luz.
Nada em Edom ficará. A Bíblia Anotada diz o seguinte acerca
dos versículos 5 e 6: “enquanto os ladrões geralmente só levam
o que é valioso e os vindimadores deixam restos nas videiras,
Edom será completamente devastado.”[2]
Edom é devastado por oprimir o povo
de Deus. O Senhor diz que nada restará. A pergunta é a seguinte:
Como isto se aplica à minha vida?
É necessário tomar muito cuidado
quando lido com as coisas relacionadas ao povo de Deus. Jesus
aprofundou mais este facto. Ele diz o seguinte: “ouvistes que
foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito
a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que sem motivo
se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem
proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento
do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno
de fogo.” (Mt 5.21-22). Será que não seremos julgados e devastados
pelo que dizemos dos nossos irmãos?
Quantas vezes, destruímos a vida
dos nossos irmãos com as nossas palavras? Quantas vezes, matamos
os nossos irmãos com nossos comentários?
É preciso tomar cuidado. O Senhor
não aceita ataques ao seu povo. Edom recebeu a sentença do Senhor
por oprimir o povo do Senhor. Quando olhamos na história notamos
que todos que tentaram destruir o povo de Deus, sucumbiram.
Sendo assim, tomemos cuidado para não fazermos parte daqueles
que estão a aniquilar o povo do Senhor.
2- O Senhor aniquila todo aquele
que O despreza e passa a depender do homem 7
Quem confia no homem sempre acaba
frustrado. Confiar na força bélica dos que são aliados é um
grande erro. As alianças humanas são quebradas. Na hora da angústia
e da necessidade os seus aliados virariam às costas. Ficariam
totalmente desamparados.
Aquele povo desprezou o Senhor para
depender do homem. Deixaram a intimidade do Senhor para se tornar
íntimos do homem. Este aspecto fica claro no facto de partilharem
refeições. Na mentalidade oriental partilhar uma refeição é
sinal de intimidade. O que o texto diz é que Edom será desprezado
por aqueles que lhe são chegados. Confiar no homem é saber que
a traição chegará sem demora. A traição acontece por alguém
que lhe é chegado. Não somos traídos por estranhos. A traição
acontece por alguém que convive connosco. O salmista diz o seguinte
acerca deste facto de ser traído por um amigo: “Até o meu amigo
íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou
contra mim o calcanhar.” (Sl 41.9). Este salmo é messiânico,
mas podemos notar que a traição acontece dentro dos que são
íntimos e causa dor.
Há os amigos das ocasiões. O texto
mostra-nos isto. Mostra que enquanto estava tudo bem, todos
eram amigos. Na hora da dificuldade, desaparecem. Somem e deixando-nos
sós. Sem ninguém para partilhar a dor. O mais triste é ver estes
«amigos» a se aproveitarem da situação que nos encontramos.
O texto diz que Edom foi enganado,
os que eram íntimos lhe prepararam armadilhas. Edom não viu
nada disso. “Como paga por sua perfídia, seus aliados o levarão
para o cativeiro sem ao menos dar-lhe ajuda na hora da necessidade.
Aqueles que em outros tempos haviam desfrutado a sua generosidade,
o pão de Edom, empregarão a traição para provocar-lhe a queda.
Os edomitas não terão a quem recorrer. Por meios francos ou
armadilhas enganadoras, os que foram seus aliados levariam a
cabo seus projetos de ruína.”[3]
Quem confia no homem, nas forças
bélicas ficará frustrado. Edom, que conhecia o Senhor, não quis
dar-lhe glória. Desprezou-o. Agora sofre o juízo. Quantos de
nós conhecemos o Senhor, caminhamos com Ele, mas num determinado
momento O desprezamos?
É necessário ter cuidado, pois o
juízo do Senhor pode tardar, mas não falha.
3 – O Senhor aniquila todo aquele
que prefere confiar na sua inteligência 8-9
O Senhor destrói a arrogância humana.
O Senhor diz que é loucura pensar ser-se sábio desprezando-O.
É isto que diz o salmista: “Diz o insensato no seu coração:
Não há Deus. Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem
faça o bem.” (Sl 14.1). É insensatez não se relacionar com Deus.
É falta de bom senso tentar viver fundamentado em conceitos
humanos.
O Senhor diz que não há inteligência
em Edom. Não há sabedoria. Todo o conhecimento humano, fez de
Edom orgulhoso. Um povo cheio de si, mas vazio. Não tinha nada
para oferecer. Isto fica claro quando olhamos para a história
de Job e lá descobrimos que um dos seus amigos Elifaz é de Edom.
Ele é temanita. Foi chamado atenção pelo Senhor por ter agido
com arrogância diante do sofrimento de Job.
Há pessoas como o povo de Edom. Edificam
suas vidas naquilo que adquirem. Há pessoas que confiam no seu
saber e desprezam a Deus. Pensam ser alguma coisa, mas não passam
de insensatos. “Negar a Deus, não somente em termos da sua existência,
mas prescindir de sua companhia (a negação prática), é uma atitude
insensata. É falta de inteligência.”[4]
É no dia do Senhor que Edom será
destroçado. Toda sua confiança, toda sua sabedoria não serve
de nada. Toda a dependência na sua força bélica não ajuda, pois
os seus valentes estão atemorizados.
Como é triste ver ruir os castelos
de areia que o homem edifica à volta de si mesmo e do seu falso
saber. É triste ver ruir ministérios, líderes pelo facto de
terem se tornado arrogantes e viraram às costas ao Senhor.
O grande problema do ser humano é
a sua tentativa de assumir o lugar de Deus. Querer ser como
Deus. Foi este o pecado de Adão e Eva. Este é o nosso pecado.
Este é o pecado da liderança. Tentar assumir o lugar de Deus.
Ser quem não deve ser.
Um grande aviso para nós é o seguinte:
A sabedoria humana é vã. É cruel. Nossa vida deve ser fundamentada
na sabedoria que é loucura para o mundo. Nossa vida deve ser
fundamentada no temor do Senhor (Pr 1.7).
Guisa de Conclusão
O Senhor julgar. Ele actua em favor
do seu povo. Ele destrói o arrogante.
Todo o que confia em si mesmo irá
ruir. Todo o que pensa que sabe alguma coisa, verá que não sabe
nada. Ficará frustrado.
É importante compreendermos que confiar
em nós próprios, confiar em amigos é desprezar o Senhor. É vir
ladeira a baixo. É ser candidato do juízo do Senhor.
Que nós façamos parte daqueles que
desprezam o povo de Deus e muito menos que viram às costas ao
Senhor.
Que estejamos refugiados no Senhor
para que sejamos por Ele livrados (Sl 37.38-40).
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[1] COELHO FILHO, Isaltino Gomes.
Obadias e Sofonias: Nossos Contemporâneos; um estudo contextualizado
dos
livros de Obadias e Sofonias – JUERP,
Rio de Janeiro, 1993
[2] A Bíblia Anotada, 1ª Edição,
Editora Mundo Cristão, 1991
[3] FEIBERGER, Charles L. Os Profetas
Menores – Editora Vida, Miami, Florida, 1988
[4] Op.Cit.
Queridos, Segue a crónica que acabei de escrever. Abraços, Marcos 36. Preconceito (22/02/06) Leia Tiago 2.1
Preconceito é substantivo masculino.
Preconceituoso é o adjectivo que indica quem age com preconceito
a alguma coisa ou alguém. Há várias formas de preconceito. Sendo
assim, se fizermos uma análise interior veremos que somos preconceituosos.
Particularmente não gosto de reflectir
sobre isto. A realidade é que tenho meus preconceitos. Posso
tentar escondê-los, mas subitamente eles aparecem. Não há como
esconder. Não dá para disfarçar. Certa vez em Manaus, chegava
a casa. Vinha da igreja. Havia pregado sobre o facto de não
fazermos acepção de pessoas. Falei que perante Deus todos somos
iguais. Desço do carro, abro o portão da garagem para poder
guardar o carro. Vejo um leproso a pedir ajuda. Minha reacção
foi sair dali imediatamente. Não queria ficar ali. Seu aspecto
era repugnante. Neste momento, lembrei do que havia pregado
na igreja. Fui atingido novamente com a minha mensagem, só que
agora ela havia se tornado real. Era de carne e osso. Fiquei
ali no portão petrificado a ver aquele leproso a caminhar na
minha direcção. Ele vinha com um sorriso lindo no rosto.
Eu ali parado e ele pergunta-me se
eu poderia ajudá-lo com alguma coisa. Eu ainda a sofrer por
causa do pecado do preconceito, da acepção de pessoas, olhei
para ele e pedi que esperasse, pois eu voltava logo. Corri para
dentro de casa e colhi tudo o que podia, pois estava só. Lílian
estava com Matheus no Rio de Janeiro e eu como comia na empresa,
vi que podia dispensar aquelas coisas. Contudo, peguei um Novo
Testamento para oferecer juntamente com a comida. Cheguei com
uma bela conversa. Já estava mais tranquilo. Falei-lhe da graça
de Jesus. Ele olhou para mim e disse que do outro lado da rua
percebeu que estava a olhar para um irmão na fé. Que vergonha!
Aquele homem olhou-me como um irmão
e eu o olhei como um leproso indigno. Até hoje não sei o seu
nome, pois fiquei tão abalado que não consegui continuar a dialogar
com ele. Contudo, não esquecerei aquele sorriso lindo.
O preconceito é uma realidade nas
nossas vidas. Preconceito religioso. Preconceito racial. Preconceito
social. Há muitos tipos de preconceitos. Esta semana fui acordado
para esta realidade por um dos compositores que marcou minha
geração. Foi na voz de Renato Russo que fui lembrado que não
devemos agir preconceituosamente. Ouvi-o a cantar: “É preciso
amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Amar as pessoas
implica em aceitá-las. Vi que é muito difícil fazer a separação
entre a pessoa e o pecado dela. É fácil dizer que devemos amar
o pecador e odiar o pecado, mas a prática é muito complicada.
A escutar o Legião Urbana, a voz
do falecido Renato Russo, lembrei-me dos meu preconceitos em
relação aos homossexuais. Vi o modo como os desprezava enquanto
jovem. Mas também pude ver que eles são seres humanos. Mesmo
que não concorde com a opção sexual deles, não posso desprezá-los.
Não posso agir preconceituosamente em relação a eles.
Fiquei triste porque também pude
notar o preconceito religioso que existe à minha volta. Não
um preconceito em relação à outra religião, mas o preconceito
dirigido às pessoas que pensam diferente de nós. Muitas vezes,
este preconceito nos faz agir com raiva. Outras com inveja porque
vemos que eles estão a crescer, enquanto isso, nós continuamos
a marcar o passo.
Preconceito é mais que substantivo.
É uma doença maléfica que vai nos consumindo e matando aos poucos.
Vai nos corroendo e fazendo com que deixemos de viver e conviver.
Quem nunca recusou um convite porque não ficava bem ser visto
em tal local. Quem nunca não acompanhou um amigo, porque ele
estava a se encaminhar para um lugar onde supostamente não podíamos
estar?
Hoje mais do que nunca vejo que o
preconceito é inimigo da graça. Senão vejamos, agir preconceituosamente
nos afasta das pessoas. Impede que vivamos próximos uns dos
outros. Os religiosos são preconceituosos. Jesus era livre.
Caminhava pela vida com graça. Não se deixou levar pelo preconceito
religioso. Por este motivo, foi chamado de glutão, beberão,
amigo dos pecadores.
Jesus viveu livre de preconceito
e não se preocupou com a estigmatização. Ele não ficou a pensar
no que diriam dele. Não olhou para a sua imagem. Ele amou as
pessoas como se não houvesse amanhã. Esteve com elas e ao lado
delas. Sempre valorizou o ser humano. Sempre defendeu a integridade
do ser. Abominou o pecado. Condenou-o, mas amou o pecador e
sempre esteve ao seu lado.
Tenho que rever minha vida. Continuo
a ser consumido pelo pecado do preconceito. Se não é de uma
forma é de outra. Estou a me tornar religioso.
Preconceito não é um substantivo.
Na realidade é uma parte integrante de mim que necessita ser
expurgada da minha vida.
Queridos,
37.Ontem foi o dia mundial da poesia. 22/03/06 Não sou poeta, não sei rimar. Por isto, escrevi uma crónica a falar da saudade que invade o meu ser. Da falta que a mulher amada está a fazer. Sendo assim, permitam-me partilhá-la convosco. Abraços, Marcos Amazonas Poesia Hoje é o dia mundial da poesia.
Quem me dera ser poeta. Quem me dera ter a habilidade
de brincar com as palavras. Quisera eu ter a capacidade
de expressar com rimas tudo o que vai dentro de mim.
Dia da poesia. É o dia da
alegria. É dia em que a dor se expressa com rimas ricas.
O amor é cantado com dulçor. É a celebração da emoção.
O derramar do coração, tornando claro a tudo e a todos
seu sentimento e paixão.
Quem me dera ser poeta para
poder escrever-te versos, que expressem meu amor e a
minha saudade. É verdade, quisera ser poeta para poder
falar da dor que me invade o peito, que me aperta o
coração, que faz calar a mais bela canção. Quisera ser
poeta para poder dizer-te com sonetos e poemas, a falta
que sinto de ti.
Se eu fosse poeta, brincaria
com as palavras. Com elas criaria rimas belas para dizer
que aqui está um enorme vazio. Choraria com palavras
que seriam o meu rio, enorme, profundo e extenso, mas
que sem ti é como o Amazonas nas suas mais graves secas.
Ah, se eu fosse poeta. Escreveria
sobre este teu jeito. Criaria rimas sobre o teu sorriso.
Diria como tudo em ti é perfeito. Mostraria o quanto
de ti preciso, de um modo muito mais meigo.
Se eu fosse poeta diria ao
mundo do teu cheiro. Que em ti me completo, que vivo
para fazer-te feliz, mas que na tua felicidade, torno-me
o mais feliz dos felizes, ficou cheio repleto. Em ti
e contigo, a vida é mais vida. O amor se vestiu em forma
de mulher. Amor que para ser amor, tem que ter seus
momentos de dor. E a dor maior é não poder ter-te cá
para beijar-te, abraçar-te. A dor maior é não poder
sentir teu perfume, não acariciar teus cabelos, é não
poder ter-te em meus braços.
Se eu fosse poeta, neste
dia tão especial, dia da poesia. Escreveria sobre a
alegria e o prazer de um dia ter te conhecido. Escrevia
que meu ser, não deseja ter. Meu querer, minha razão
é fazer com que sejas feliz. Não importa que tenha que
sofrer a dor da separação, pois o amor é sofredor. Ele
rasga o coração. Celebra a verdadeira felicidade.
Se eu fosse poeta, escreveria
deste amor. Que invade o meu ser. Que fala da minha
tristeza. Tristeza por estar longe de você. Escreveria
sobre o triunfo do amor. A celebração de mãos se encontrando.
Lábios a se beijarem, corpos a se tocarem expressando
não só sentimento e intimidade, mas amor profundo. Amor
que se entrega, que busca, realiza os sonhos e desejos
do outro com o único desejo de vê-lo realizado.
Se eu fosse poeta escreveria
sobre os teus olhos, mas o que escrever se o poetinha
já escreveu sobre os olhos da amada e ali expressou
tudo? Se eu fosse poeta escreveria sobre o teu corpo,
mas como escrever se o autor de Cantares já exaltou
o corpo feminino com beleza ímpar. Se fosse poeta escreveria
do que invade o ser, mas como fazer, se Camões já falou
desta ferida que dói sem doer. Se eu fosse poeta, talvez
tivesse a criatividade para poder enaltecer a mulher
amada. Teria condições de exaltar teu ser. Saberia dizer
que o meu viver, o meu querer, a minha prosa e poesia
aqui nesta vida, se encontra no teu ser.
Se eu fosse poeta, escreveria
sobre as rosas. Escreveria sobre todas elas. Não esqueceria
de nenhuma. Falaria da doçura que elas produzem, mas
não esqueceria dos espinhos que elas têm. Se fosse poeta
diria ao mundo que a mais bela das rosas é aquela que
mais espinhos têm. Os espinhos servem para protecção
de tão frágil e bela rosa. Sendo assim, se eu fosse
poeta, em analogia diria que sou o espinho e tu a rosa.
Gostaria de ser poeta. Não
o sou. Sou o que sou. É verdade, que não sei brincar
com as palavras. Não sei criar rimas ricas. Não sei
expressar o que vai dentro do meu peito. Por não ser
poeta, hoje dia internacional da poesia, eu não posso
dedicar-te um poema. Não posso declamar-te os versos
que teimam em não sair. Ficam presos na garganta. Ficam
presos no coração, na mente.
Não sou poeta. Isto me diz
a razão. Por isso, não escrevo-te os versos que teimam
em vir a mente. Quisera dizer a toda gente, que não
sou diferente. Sou humano, sou gente. Sou alguém que
ama, mas não loucamente. Amo perdidamente.
Não sou poeta, por isso não
escrevo-te os versos que mereces, mas como o mais simples
dos mortais, aprendi a dizer e digo diante de toda a
gente: Eu amo-te!
Segue a crónica que estou
a utilizar como minha pastoral
Abraços, Marcos Amazonas * 38. Saudade da Igreja (26/03/06) Estou com saudade da igreja.
Aquela igreja que encontramos nos livros do Novo Testamento.
Não uma igreja perfeita. Não um grupo que vivia isolado
num gueto, mas uma igreja presente que influenciava
a sociedade. Que fazia com que estruturas dominantes
fossem transformadas por causa do amor que ali era
vivido.
Estou com saudade daquela
gente simples que se encontrava para orar e comungar.
Povo que dividia o que tinha. Tristezas e alegrias
faziam parte do todo. Viviam juntos, e eram respeitados
pelos de fora. A igreja caía na graça do povo e a
graça caía no povo e o Senhor acrescentava à Igreja
os que iam sendo salvos.
Onde foi parar esta igreja?
Estou com saudade da igreja
que pregava a Palavra. Uma mensagem expositiva, clara
que levava o pecador a reconhecer que sem a graça
de Jesus estava condenado. Uma mensagem simples, contudo
profunda. Clara, sem a filosofia e o conhecimento
humano. Mensagem pregada no poder do Espírito Santo.
Uma mensagem simples, mas com vida. Estou com saudade
dos pregadores simples, sem títulos, que estavam na
dependência do agir sobrenatural de Deus nas suas
vidas e nunca confiavam nos seus conhecimentos e nas
técnicas de comunicação e muito menos de como preparar
um sermão. Estou com saudade da igreja que tinha pregadores
que falavam com espontaneidade. Falavam o que viviam
e viviam o que falavam.
Estou com saudade da igreja
que fazia a diferença. Não se acomodava. Estou com
saudade da igreja co-beligerante. Igreja que lutava
pelas causas que o evangelho luta, mas nunca uma igreja
política e muito menos de politiquices. Estou com
saudades da igreja que vivia livre das estruturas
escravizantes que não deixam a graça ser graça e que
tendem limitar o agir do Espírito em nome de uma tradição
que não faz sentido.
Estou com saudades da igreja.
A igreja sempre nova. A igreja bela que causa impacto
na vida social. Estou com saudades da igreja, porque
o que vejo é uma instituição com cheiro a mofo. Uma
instituição que escraviza e aliena. Instituição que
tenta nos tornar autómatos, sem vontade própria. Instituição
que valoriza mais os prédios, a estrutura, a liturgia
do que as pessoas. Estou com saudade da igreja simples,
livre que se reunia nas casas. Caminhava a valorizar
as pessoas. Estava livre das liturgias e das instituições.
Para onde levaram esta igreja?
Estou com saudades da igreja
que era reconhecida pelo seu amor. Pela sua entrega
e dedicação ao outro. Tenho saudade daquele povo que
tinha prazer de se encontrar para juntos orarem e
buscarem a presença de Deus. Sinto falta da igreja
onde os seus membros não se olham como pessoas acima
de qualquer suspeita. Pessoas perfeitas que jamais
erram. Não! Estou com saudades da igreja onde os líderes
assumem suas fraquezas e dizem que são os mais falhos.
São pecadores como os demais. Tenho saudades da igreja
onde os líderes eram seres humanos e não semideuses.
Onde eu posso encontrar uma igreja assim?
Tenho a consciência de
que muitos dirão que igreja assim não existe. É utopia.
Mas utopia é apenas aquilo que ainda não se tornou
real. Porque, como disse Robinson Cavalcanti: "Sem
Utopia, porém, não há História. Utopia entendida não
como o irrealizável, mas como o ainda não realizado."
Sendo assim, tenho saudades desta igreja que foi,
mas que poderá ser novamente. Sei que outros dirão
que a igreja perfeita só irá ser vista na glória com
Jesus. Aqui ela sempre terá problemas. Sempre existirá
erros. Mas quem disse que eu estou a pedir perfeição?
Estou com saudades da igreja.
A igreja simples, verdadeira. Igreja que não tem vergonha
de ser igreja. Tenho saudade do povo que se reúne
para adorar e a cultuar o Senhor. Sinto falta da igreja
que tem prazer em estar na presença do Senhor. Para
onde levaram a igreja?
Estou com saudade da igreja.
Não da denominação. Tenho saudade da igreja que é
igreja. Livre de rótulos e conceitos humanos. Igreja
que vive em unidade, ligada ao Corpo de Cristo. Igreja
Cristocêntrica, firmada na Palavra. Igreja livre,
que vive a graça sem preconceitos que cai na graça
do povo e não nas gargalhadas dele.
Esta igreja é real. Ela
feita de gente como você e eu. Permita dizer que esta
igreja encontra-se aqui. Ela está no nosso meio. Para
mim esta igreja se encontra em Coimbra. É a igreja
que eu sirvo como pastor.
Como eu amo esta igreja!
Pr. Marcos Amazonas dos
Santos
Queridos,
Esta crónica é muito especial para mim. Na realidade quando comecei a escrevê-la, pensava em uma pessoa em especial, mas vi que não era justo, porque se escrevesse unicamente para esta pessoa teria que escrever uma crónica especial para um dos meus amigos. Sendo assim, esta crónica é a minha homenagem aos meus amigos. Beijos, Marcos 39. Meu Amigo Meu amigo é especial!
Ele não faz cobranças
e muito menos eu dele. Somos amigos e pronto.
Não necessitamos ficar afirmando e cobrando declarações
de amizade um do outro. Não ficamos a cobrar a
presença constante e muito menos chamadas telefónicas.
Não necessitamos disto.
Meu amigo sabe que
pode contar comigo. O engraçado é que só nos encontramos
de vez em quando. Passamos pouco tempo juntos.
Contudo, com a tecnologia moderna, podemos trocar
mensagens, mas até isto fazemos pouco. Enviamos
aquelas mensagens generalizadas e isto basta.
Basta porque quando recebo uma mensagem dele assim,
sei que ele se lembrou de mim. Cada mensagem dele
é uma demonstração do seu afecto e cuidado. Ele
não espera que eu ligue e diga que recebi. Ele
não fica zangado se simplesmente não me manifesto.
Ele enviou a mensagem porque desejava expressar
seu carinho. Queria mostrar sua consideração e
amor sem pedir nada em outra.
Quando eu lhe escrevo
não espero uma manifestação sua. Escrevo para
manifestar minha alegria por tê-lo como amigo.
Eu sei que ele fica feliz. Sei que gosta de saber
que há alguém que se preocupa com ele. Tenho prazer
em fazer isto, mas não faço com tanta frequência.
Contudo, quando faço é de coração, e o faço com
todo o meu amor.
Eu e meu amigo nos
encontramos muito pouco. Vivemos em cidades diferentes.
Ele é muito atarefado. Nos encontramos quase sempre
no mesmo lugar. Eu vou para ministrar uns estudos
e lá encontro com ele. Outras vezes, raras vezes
estou lá de passagem e ele também. Nosso encontro
é uma grande festa. Brincamos, parece que nos
conhecemos faz muito tempo. Sorrimos e partilhamos
nossas experiências e preocupações. Não ficamos
a nos cobrar nada. Simplesmente desfrutamos a
amizade um do outro.
Eu e meu amigo não
concordamos com tudo. Não temos as mesmas ideias.
Mas o facto é que não ficamos a brigar por termos
pensamentos diferentes. Desfrutamos da nossa amizade.
Respeitamo-nos mutuamente e procuramos construir
uma ponte que nos ligue e lutamos para que esta
ponte não venha a se tornar num muro.
Amigos são raridades
nos dias actuais. E como disse Milton Nascimento:
“Amigo é coisa para se guardar”. Eu não quero
perder meu amigo. Quero preservá-lo. Sei o quanto
um amigo é importante. Não vou alimentar coisas
pequeninas, pequenos nadas que podem destruir
uma bela amizade. Tenho aprendido a discordar
de ideias, mas continuar amando as pessoas e isto
é que tem feito com que a minha amizade perdure.
Meu amigo é muito especial
para mim. Com ele eu posso falar tudo e mais alguma
coisa. Não tenho que ficar preocupado em ficar
a falar sempre coisas sérias. Sei que posso descontrair,
brincar, sorrir e mostrar minhas fragilidades,
pois ele as entenderá e compreenderá. Meu amigo
sabe que sou apenas um ser humano. Ele sabe que
gosto de brincar e de manter viva a criança que
insiste em não morrer dentro de mim. E ainda bem
que é assim, pois cada dia que passa, apercebo-me
que é justamente esta criança que é a melhor partir
de mim. Creio que hoje, com a ternura dos quarenta
posso compreender o que Jesus disse sobre sermos
como crianças. Se eu matar essa criança o reino
dos céus fica muito longe de mim.
É engraçado que eu
nunca disse isto ao meu amigo. Ele nunca se preocupou
em dizer-me isto também. Nós sabemos que podemos
contar um com o outro. Sabemos que somos importantes
um para o outro. Sempre pensei e continuo a pensar
que, quem fica a cobrar algo é por ser inseguro
e não confiar no outro. Não preciso cobrar nada
do meu amigo. Aliás, tenho prazer em mostrar que
ele pode contar comigo. Tenho prazer em procurar
fazê-lo feliz. É engraçado que toda minha tentativa
para demonstrar meu carinho e afecto faz com que
ele retribua muito mais. É a lei da semeadura
e colheita. Eu semeio o carinho e afecto na nossa
amizade, como resultado colho boa medida, sacudida,
transbordante de amor.
O meu amigo é especial.
Eu o amo muito. Amo-o, não pelo que ele faz e
muito menos pelo que deixa de fazer. Amo-o por
ele ser quem é. Amo-o por ser um ser humano e
não desejar ser mais do que isto.
Ah! O meu amigo. Talvez,
fosse melhor eu dizer os meus amigos. Eles são
bastantes. Tenho visto isto no dia a dia. E sabe
de uma coisa?
Feliz é o homem que
tem amigos. Sendo assim, eu sou muito feliz.
Obrigado meu amigo.
Não! É melhor dizer: Obrigado meus amigos.
= = =Meus queridos, Uma das melhores coisas da vida é expressar gratidão. É poder reconhecer aqueles que nos marcaram. Sendo assim, quero expressar a minha gratidão a uma pessoa maravilhosa e muito especial. Abraços, Marcos 40. Meu irmão Ele chama-se Moysés.
Não foi salvo das águas, apesar de ter nascido em
Manaus perto do rio Negro. Ele não se tornou o grande
líder de uma nação. Não a conduziu à terra prometida.
Mas ele como o Moisés da Bíblia é um exemplo de
mansidão e humildade. Este é o meu irmão.
Moysés sempre foi um
lutador. É batalhador desde o nascimento. Nasceu
de sete meses. Apresado sempre. Lutou para sobreviver
e conseguiu pela graça e misericórdia de Deus. Ele
é um lutador. Teve que ir estudar à noite, pois
muito cedo começou a trabalhar. Lutou muito. Construiu
um futuro. Aprendeu uma profissão. Fez-se homem
e como homem, tornou-se um excelente profissional.
Cresceu na sua carreira. Ficou economicamente independente,
mas preferiu ser interdependente. Tudo o que era
seu, era também dos que com ele partilhavam a vida.
Meu irmão não se deixou
seduzir pelo dinheiro. Sempre foi gentil. Mesmo
quando por opção sua deixou a comunhão dos irmãos
da igreja, mas nunca deixou a igreja. Ele sempre
foi igreja. E sendo igreja ajudou e sustentou muita
gente. Sua generosidade fez com que vários locais
fossem alcançados.
Moysés sempre foi amigo.
Muitos se aproveitaram deste aspecto para como uma
sanguessuga tirar o máximo que podiam dele. Entretanto,
ele com sua simplicidade e humildade, fazia de conta
que não fazia que aqueles à sua volta só queriam
tirar aquilo que ele ganhava. Ele não se importava,
sua generosidade era maior que a inveja voluptuosa
daqueles que sugavam tudo quanto podia.
Meu irmão sempre construiu
pontes. Sempre com um coração enorme. Olhava mais
para os outros do que para si mesmo. Como alguém
que nunca deixou a chama do amor por Jesus apagar
dentro de si mesmo, era um grande proclamador da
graça. Não estava ligado a igreja alguma, aliás
nenhuma igreja o aceitaria como membro por causa
do seu estilo de vida. Mas o facto é que como gerente
geral as empresas por onde passou, sempre fez questão
que nosso pai, pastor estivesse presente nas festa
da mesma, e desse uma palavra aos funcionários.
Nas festas que fazia em sua casa todos tinham que
ouvir a Palavra da graça. Meu irmão me lembrava
Pedro, que quanto mais tentava negar seu envolvimento
com o Senhor, mas falava que lhe pertencia.
Muitas coisas me marcaram
no meu relacionamento com meu irmão. Mas nunca esquecerei
a vez que cheguei em seu escritório e ele ali, só
com a Bíblia aberta a meditar. Em comunhão profunda
com Deus. Mas sua luta era constante. Ele insistia
em fugir do Senhor. Mas quanto mais fugia, tanto
mais a graça era manifestada. Isto é tão verdade
que ainda lembro das muitas madrugadas em que o
telefone tocava. Acordava sobressaltado e ouvia
aquela voz que me deixava super preocupado. Lá saia
eu pela madrugada com o coração na mão a pensar
que algo grave havia acontecido e quando chegava
nos locais indicados, encontrava Moysés com um grupo
de amigos a falarem da fé. Ele me chamava e dizia
que eu podia dar-lhes a resposta para uma vida melhor.
Ele estava ali a transpirar graça e hoje tenho a
convicção plena que aquela mensagem passou e alcançou
corações. Deus trabalha de maneiras inesperadas.
Meu irmão é um Jó dos
dias actuais. É lógico que ele não perdeu seus filhos.
Sua mulher não diz para que ele amaldiçoe o Senhor,
pelo contrário ela é um exemplo de esposa. Ele assemelha-se
a Jó no facto de ter perdido tudo. Meu irmão está
longe de ser aquele homem que tinha tudo. Agora
à sua volta já não encontramos as sanguessugas,
os abutres. Neste momento, só aqueles que são amigos
é que se encontram ali com ele. Acabaram-se as festas.
Mas ele continua o mesmo. Sua generosidade aumentou.
Sua confiança em Deus é inabalável. É confortante
poder falar com ele. Apesar das lutas e dificuldades,
não se vai abaixo. Mantém a chama da fé e dependência
no Senhor completamente viva. E o Senhor tem sido
com ele. Deus tem sido fiel e providenciado tudo
o que é necessário. Nada lhe tem faltado. É engraçado,
aquele que tanto abençoou, que tanto apoiou, hoje
é apoiado. Deus nunca abandona os seus.
Meu irmão é meu herói.
Sua vida é uma inspiração. Eu o amo muito, apesar
de muitas vezes ter discordado das suas opiniões
e atitudes, ele sempre soube que podia contar comigo
do mesmo modo que eu sempre contei com ele.
Meu irmão está cada vez
mais próximo de Deus. Sua intimidade com o Senhor
é impressionante. E eu creio que como Jó, depois
de ter permanecido firme na fé, o Senhor lhe restituiu
tudo, assim acontecerá com o Gordo.
Meu irmão é muito especial.
Feliz quem pode ter um irmão como ele. Eu sou feliz,
sou uma pessoa realizada, pois sei que independente
de qualquer coisa, posso sempre contar com ele.
Sei que nada, nem ninguém fará com que ele seja
diferente. Nada poderá destruir a fonte de amor
que jorra da vida dele para as nossas vidas.
Meu irmão é único. E
se sou o que sou, se consegui algo nesta vida, além
de ser grato a Deus, tenho que ser muito, mas muito
grato a este irmão que muito amou e ama.
Meu irmão eu te amo e
me orgulho muito de ti.
Um beijo.
Queridos,
Sei que enviar texto demais cansa. Faz com que deletemos sem ler. Contudo, estas duas crónicas estão interligadas. Uma escrevi enquanto meditava aqui no escritório, mas a outra é fruto do que vi acontecer com meu filho. O que estou querendo dizer é que há uma crónica e um desabafo de um pai com o coração rasgado. Beijos, Marcos 41. O Vento O céu está azul, o vento
entra pela janela que está aberta. Olho e vejo as
árvores a balançarem com o vento. Elas dançam a
mais bela das músicas. Isto me transporta para a
minha querida Manaus. Lembra-me do tempo de menino
peralta, que com os amigos seguiam até a chácara
para apanhar frutas. O dono da chácara não gostava
nada da nossa atitude, mas não resistíamos em roubar
mangas, jambo, ingá e tantas outras frutas que haviam
lá.
Este delito fazia parte
do desenvolvimento e do caminho que começava a viver.
Fugia da igreja e da religião. Depois de roubar
às frutas íamos tomar banho num igarapé. Se fosse
aqui diriam que era o Mondego, mas quem tem o Amazonas
como rio, não pode olhar para o Mondego como referência.
Ele seria apenas um braço de rio (igarapé). Como
sabia bem aquele banho. Era refrescante, pois o
calor em Manaus é algo terrível. Ali divertíamos
a valer. Depois havia uma boa futebolada. Era uma
vida fantástica. Não tínhamos com que nos preocupar.
Não nos interessava saber que o país vivia em ditadura.
Nós não a sentíamos e não a víamos. Nossa consciência
política estava embotada. Fazíamos parte da “Geração
Coca-Cola.”
Lembro de cada momento
vivido ali em Manaus. Lembro-me das vezes que desejei
que os banhos tomados no rio trouxessem refrigério
a alma. Olho e vejo como é fácil viver com uma máscara
e enganar a todo mundo. Como é fácil fazer as pessoas
pensarem que somos felizes e realizados. A olhar
para trás vejo que fui um excelente actor. Representei
para os amigos, mostrava uma felicidade que não
existia. Representava aos meus pais e na igreja,
pois era obrigado a frequentá-la. Mostrava-me um
santo, mas era o mais infeliz e rebelde de todos.
O vazio e a culpa me consumiam por viver uma mentira.
Mas ninguém pode negar que fui um excelente actor.
Teria ganho o prémio de melhor actor.
O vento entra pela janela
e traz com ele recordações de um tempo que foi marcando
a minha vida. Mostra as minhas loucuras e como milagrosamente
eu fui sendo poupado das tragédias da vida. O céu
azul mostra como tudo ficou claro na minha vida.
Mostra-me que as lutas e as guerras do passado já
não existem mais. Está tudo limpo.
Sinto a brisa no meu
corpo. Tenho vontade de deitar-me na areia de uma
praia ribeirinha qualquer e olhar aquele céu mais
céu, mais perto de nós. Quem sabe, bebendo um bom
suco de cupuaçu. Suco e não sumo, pois ali até suco
é errado, pois o correcto é dizer um bom vinho de
cupuaçu ou de açai ou buriti. Ali a desfrutar das
coisas da minha terra, reconcilio-me com as pessoas
que feri. Já estou em paz com Deus, comigo mesmo,
minha cabeça e consciência estão tranquilas, mas
sei que na estrada da vida deixei pessoas magoadas
e como eu gostaria de poder pedir-lhes perdão.
Olho da minha janela,
vejo o pequeno monte que existe. Ao cimo dele, árvores
a dançar a mais bela melodia que o vento suave produz.
Este pequeno monte é uma barreira intransponível.
Ela me impede de viajar no tempo para refazer as
coisas que estraguei. O que passou, passou. Já não
há mais nada a fazer. Só nos resta a lembrança,
doce ou amarga, mas lembrança. Eu cá, guardo uma
doce lembrança. Sei que as coisas amargas deixaram
suas marcas, mas elas passaram. Hoje a memória já
não me condena. Tenho consciência de que fui perdoado
e eu próprio me perdoei.
Sinto o vento suave em
meu corpo. Vejo as árvores na sua dança. Imagino-me
na beira do rio. Imagino-me sob o sol escaldante
do Amazonas. Salto para dentro da água. Refresco
o meu corpo no rio Negro. Nado com prazer e alegria.
Desfruto o momento sem preocupação. Já não há mais
o desejo de ser lavado interiormente. Já não existe
mais o desejo que o rio Negro me conceda refrigério
interior. O meu refrigério aconteceu quando fui
lavado na Água da Vida. Quando fui limpo e pude
me tornar uma fonte que jorra água límpida. Toda
a sujidade foi tirada. Toda a culpa foi levada.
Já não preciso ser actor. Agora posso ser eu mesmo.
O vento suave traz alento
ao coração. Ele entra suave e silencioso pela janela
aberta. Uma brisa refrescante que me consola. É
aquela brisa suave que mostra o agir do Criador.
É aquela brisa suave que num cicio chama-nos para
fora, pois é do lado de fora que a vida está a decorrer.
É o mesmo cicio que levou Elias a deixar a caverna.
É esta brisa suave que me impulsiona para a vida.
Mostra-me o mundo, mostra-me os desafios e diz que
é do lado de fora que a graça deve ser vivida.
O céu continua azul.
O vento insiste em soprar. Eu já não olho para trás.
Já não prendo-me ao passado. Olho o meu presente
e o futuro. Vou seguir em frente. Vou viver e com
o meu viver levarei esta brisa suave e leve para
que ela possa tocar outras pessoas.
O vento sopra onde quer.
Ainda bem que Ele soprou na minha vida e mudou a
minha direcção.
42. Crueldade (30/03/06)
A vida é cheia de surpresas.
Muitas destas são desagradáveis. Elas nos ferem,
machucam e magoam. Muito mais ainda quando estão
relacionadas aos nossos filhos. Ficamos revoltados,
indignados. Queremos fazer justiça com nossas próprias
mãos.
Escrevo estas linhas
com dor no peito. O coração sangra por dentro. Não
posso aguentar ver a dor do meu filho. Neste momento
tenho que ser pai e pastor. Tenho que ser conselheiro
e amigo. Tenho que garantir protecção e segurança.
Contudo, estou em farrapos. Meu desejo era correr
em direcção daqueles que o deixaram triste e tomar
uma atitude, mas não posso. Sendo assim, Tenho que
estar do seu lado e ser apenas abrigo neste momento
difícil.
Matheus é um menino especial.
É sensível, carinhoso e leva tudo a peito. Hoje
seus melhores amigos não permitiram que ele participasse
da brincadeira. Foi excluído, desprezado. Posto
de parte e isto o magoou profundamente. O desprezo
é a pior coisa que nos pode acontecer. Principalmente
quando este desprezo vem de quem consideramos e
amamos. E sei que Matheus ama os seus colegas de
escola. Sua dor tornou-se a minha dor. Meu coração
ficou dilacerado ao vê-lo chorar. Minha vontade
era agarrá-lo e beijá-lo, mas também sei que por
mais duro que isto possa parecer, faz parte da nossa
formação. Na vida temos que enfrentar a dor e o
sofrimento. O desprezo sempre vai aparecer e procurei
consolar o meu filho na viagem até a casa. Quando
aqui chegamos o abracei, apertei-o junto ao meu
coração e deixei-o ali a chorar. Não disse nada.
Limitei-me a abraçá-lo. O meu silêncio falou mais
do que qualquer coisa.
É impressionante ver
que a crueldade tem a capacidade de destruir nossa
alegria. Ela destrói o nosso prazer pelas vitórias
alcançadas. No carro, Matheus disse-me que isto
foi acontecer logo hoje que ele estava muito feliz.
Logo hoje que obtivera uma grande vitória. Logo
no dia que sua luta e testemunho estavam a dar resultado.
Ainda com lágrimas falou que uma colega sua já não
xinga mais por causa dele. Disse que ela deixou
de dizer asneiras pelo facto de ele não as dizer.
Sua alegria era autêntica e bem fundamentada. O
seu testemunho está a fazer a diferença, mas a crueldade
dos amigos impediram-no de sentir o prazer pela
vitória alcançada.
Neste episódio pude ver
como o ser humano consegue ser cruel. Não importa
a idade. Não importa a condição social. A maldade
se faz presente em todo ser humano. Esta crueldade
latente quando é extravasada impede que outros se
realizem e sejam felizes. Ela causa dor e sofrimento.
O sofrimento é alargado, ele geralmente se dá em
cadeia, pois quem sofre, acaba por fazer outro sofrer
também.
Eu sofri pelo meu filho
e com o meu filho. Sofri por me ver incapacitado,
por não poder fazer nada para amenizar a sua dor.
Sofri por saber que são estes mesmos meninos e meninas
que continuarão a conviver com ele e se ele não
souber trabalhar suas emoções e atitudes poderá
ser esmagado por estes colegas. Entretanto, no meio
desta dor, com o coração rasgado a sangrar, sou
confortado e consolado pela notícia do seu testemunho.
Ele diz-me em meio às lágrimas, mas estas lágrimas
lavam-me o coração ferido. A notícia vai cozendo
o meu coração. Traz a paz e a serenidade que parecia
ter desaparecido por causa desta situação tão delicada.
Em casa quando nos abraçamos, na realidade quem
é consolado sou eu. Ele recupera logo. Não guarda
rancor e ressentimento. O perdão é algo vivenciado
com intensidade. A dor do desprezado é substituída
pela alegria da restauração que foi promovida pelo
perdão.
Como pai, sofro e sinto
meu corpo todo moído. É uma dor indescritível. A
crueldade me atingiu, invadiu cada parte do meu
ser. Levou-me às lonas. Fez brotar em mim o que
de pior há no ser humano. Vi que a crueldade que
os outros fazem é apenas um reflexo daquilo que
eu sou capaz de fazer também. O desprezo que foi
dado ao meu filho é o mesmo desprezo que eu também
posso dar a muitas pessoas.
Sinto o coração apertado.
Estou fechado, meus poros estão comprimidos. Tenho
vontade de gritar. Não pela crueldade sofrida pelo
meu filho, mas pelo facto de ver que sou mais cruel
do que todos os seus colegas.
Quando a Bíblia apresenta
os 10 mandamentos, é interessante ver que eles aparecem
na negativa. Lá encontramos: “Não matarás!”.
Hoje compreendi isto de modo muito claro. É que
este mandamento pela positiva mostra que eu sou
um assassino em potencial. Naquele momento, percebi
que eu era como uma fera que se via no direito de
defender a sua cria. Assim, faria qualquer coisa
para destruir os que estavam a maltratá-lo.
Meu Deus, como eu sou
tão cruel. Como num instante sou levado de um lado
para o outro. Se não fosse o teu agir, a tua presença
eu estaria perdido, pois sou o pior dos piores.
A crueldade é uma realidade.
Ela é uma realidade na minha vida. Como Deus disse
a Caim, ele diz a mim também: “o pecado jaz à porta,
e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves
dominar.” Tenho que lutar para dominar esse mau
que está presente na minha vida.
Espero que a minha crueldade
nunca possa ferir ninguém.
Segue uma crónica escrita semana passada, num dos locais mais belos que existe em Portugal. Quem conhece H2O Madeiros sabe do que falo. Abraços, Marcos Amazonas *43. Silêncio (11/04/06) Já está tudo em silêncio. Todos estão a dormir. Por isso, o som que escuto é o das ondas e do vento que sopra suavemente. A lua esta belíssima. Ela inspira os poetas e os namorados. Eu aqui, cansado depois de um dia de correria e principalmente por ter jogado uma partida de futebol com os adolescentes. Da lua só consigo admirar sua beleza. Não há inspiração nenhuma neste momento. Quero desfrutar o silêncio. Quero ouvi-lo a falar comigo. Preciso ficar mais vezes em silêncio. Necessito viajar para dentro de mim mesmo. Não posso ficar a dar respostas aos demais e não ter tempo para dar respostas para mim mesmo. Este é o meu momento. Tenho que ficar quieto e desfrutá-lo. Não posso ser sempre para os outros. É hora de ser para mim mesmo. Estou como Jonas que deseja sentar-se à sombra da aboboreira e refrescar-se. Quero descansar, estou mesmo cansado. O silêncio aponta-me o oceano. Transporto-me no tempo para ser como um descobridor e seguir na minha caravela rumo às terras nunca antes navegadas. Viajo em direcção ao sul. Caminho em direcção a terra brasilis. A terra é claro que me encanta, mas não é por ela que me envolvo nesta bravata. Faço esta rota em busca da mulher amada. Minhas respostas estão nela. Ela é meu porto seguro. O silêncio vai tecendo uma rede que me leva ao teu encontro. Encontrar-te é poder sorrir o riso dos apaixonados. Porém, encontrar-te é ter que aconchegar-te nos braços com o desejo que possas receber o consolo para este momento tão delicado que estás a viver. Encontrar-te é doar-me por completo para que possas sorrir. O mar é a minha estrada. Ele leva-me directamente a ti. Não é um inimigo a ser vencido. Não é um adversário. É caminho a ser trilhado. É rota a ser seguida. Estou de um lado do oceano e tu no outro. O mar que nos separa é o mesmo que nos une. Silêncio. Tudo quieto à minha volta e eu a revolver-me. O sono insiste em não chegar. Vou dialogando comigo. Vou abrindo-me e percebo que cada dia que passa o vazio que sinto está a diminuir paulatinamente. Ele é menor do que o de ontem. Cada dia que passa, sou renovado pela esperança do teu regresso. Cada dia que passa vejo mais próximo o momento do reencontro. Sinto mais o aumentar da tua fragrância. Teus braços caminham ao encontro dos meus. Sei que cada dia que passa aproxima-nos, mas tenho consciência que o teu regresso vai ser cruel e doloroso para ti. O encontro com uns significa despedida de outros. E despedir-se é doloroso. Sei o quanto sofrerás, por isso tenho que ser fortaleza. Tenho que ser abrigo e castelo forte para ti. Aqui com o meu silêncio, a desfrutar desta quietude, reconheço que terei que construir uma muralha para as barreiras da separação que marcarão o nosso reencontro. Encontrarmo-nos significa a separação da tua família. É a dor da despedida. Dor aumentada pela incerteza do que aguarda a Josué. É a dor de deixar alguém que tanto se ama acamado. Como será que poderei ajudar-te a vencer a saudade e a tristeza de deixares à família para trás? Está tudo quieto à minha volta, mas em meu coração, o meu ser agita-se em busca de respostas para poder ser o teu porto seguro. É em meio a tudo isto que o sono insiste em não chegar. É no meio desta luta que vejo Matheus a dormir tranquilamente. Ele não se preocupa com o amanhã. Está em segurança. Ele ensina-me que eu não posso fazer nada, tenho apenas que estar preparado a viver cada dia e confiar que o futuro está nas mãos do Senhor pois Ele tomará conta de toda situação. Sendo assim, nesse misto de inquietação e contestação, vou deitar e dormir. Vou fechar os olhos na certeza de que Aquele que tem o universo nas suas mãos não irá descuidar de nós. Está tudo quieto à minha volta. Esta quietude mostra que eu devo parar e me aquietar. Devo sossegar e descansar. É isto que vou fazer. Vou descansar e esperar o grande dia do nosso reencontro. Queridos,
Este texto tem mais de vinte anos. Abraços, Marcos *44.A Família como Grande Centro Social Sempre gostei de escrever,
mesmo sabendo que não levo muito jeito. Sou insistente.
Não desisto facilmente. Mesmo diante das críticas
que dizem que não há futuro como escritor. Escutei
muitas vezes esta declaração em minha adolescência,
mas mesmo assim, os textos insistiam em sair.
O facto é que já se passaram
mais de vinte anos e eu continuo a rabiscar. É a
minha terapia. Na escrita sou o meu psicólogo. É
através dele que me aconselho e também faço meus
desabafos. Na escrita vou tratando as minhas feridas.
Vou verbalizando o que muitas vezes não consigo
verbalizar pessoalmente.
A última vez que estive
em Manaus fui à casa de meu pai. Lá encontrei meus
velhos escritos. Encontrei minhas rimas que um dia
pensei que eram poemas, sonetos. Talvez, quem sabe
um dia, quando eu já esteja mais velho venha com
eles aqui para fora e os chame de poemas da adolescência.
O nome já tenho, falta a coragem de mostrar a minha
infantilidade. O facto é que no meio destes poemas
encontrei uma crónica, que confesso não lembrava.
Sei porque ela surgiu. Foi uma conversa que tive
com um senhor de São Paulo e falamos muito sobre
a importância da família. Até hoje estou curioso
em saber porque aquele homem ficou a conversar comigo
tanto tempo. Como resultado daquela conversa surgiu
esta crónica que passo a transcrever. Ela vai continuar
com todas as suas falhas, mas para um adolescente,
minhas ideias estavam bem interessantes. Pelo menos
eu gostei do que escrevi a mais vinte anos atrás.
Não importa o que eu
achei do texto o que desejo é transcrevê-lo e aqui
vai ele:
Não obstante a família
ser um tema muito abordado, há sempre oportunidade
de se fazer declarações que contribuam para o seu
processo socializante.
Podemos perguntar: Por
que a família é o grande centro social do indivíduo?
É preciso muita reflexão,
pois mesmo parecendo simplista podemos afirmar que
em primeiro lugar a família é a “Célula Mater” do
indivíduo.
Sim, desde que o mundo
foi criado, a primeira instituição formada foi a
família. Isto porque, é impossível para o homem
viver isolado, sem o convívio do seu semelhante.
Sem família, jamais existirá
o conceito de comunidade, de vida em grupo. Jamais
haverá referências de troca e acima de tudo de companheirismo.
Em segundo lugar, é na
família que se tem o início da comunicação, da socialização.
Nela o indivíduo aprende a expressar-se de maneira
positiva, demonstrando aquilo que deseja e também
o que não deseja.
É neste processo que
acontece o primeiro processo de massificação. Este
processo dá-se de maneira lenta e gradual, mas estende-se
por toda a vida do indivíduo.
O processo de massificação
na família acontece quando os pais incutem na cabeça
dos seus filhos que o que eles afirmam é a única
coisa boa e coerente que existe. É interessante
notarmos que estes conceitos serão levados e exteriorizados
para à nossa comunidade e também para toda sociedade
por toda nossa existência.
Portanto, quando se vive
na sociedade privada, é necessário que os mais altos
padrões sejam vividos, pois é do pequeno que se
alcança o grande.
A família é o grande
centro social porque o indivíduo aprenderá a conviver
com os opostos. Isto só acontece na família. A relação
hetero e homossexual unem-se de maneira saudável.
Neste contexto podemos
ver e afirmar que por mais que tentemos, o centro
social mais completo e perfeito ainda é a família.
Passados vinte e poucos
anos, pouca coisa mudou no meu pensamento. Não sou
mais aquele adolescente, mas confesso que a influência
positiva da minha família fez-me crer nesta realidade.
É lógico que se fosse escrever sobre este tema hoje,
trabalharia a ideia de modo diferente, mas o essencial
continuaria o mesmo.
O adolescente hoje é
pai de família. Já não pensa que os pais são donos
da verdade, mas continuo a pensar que a influência
dos pais na orientação da verdade é fundamental.
Mas não quero criticar o que escrevi no passado.
Só quero que este pequeno texto seja lido. E que
cada um reflicta e cheque às suas conclusões.
Eu sei o quão importante
foi para mim poder reencontrar-me com esta crónica.
E sabe o que mais? Valeu à pena
Segue mais uma crónica. Abraços, Marcos Amazonas *45.Cidade Maravilhosa 15/04/06 Cidade de contrastes.
Cidade Maravilhosa. O Rio de Janeiro é assim. Apesar
de tudo o que possam dizer, ninguém consegue descrever
o fascínio que a cidade nos causa. Não dá para esquecê-la.
Ainda me lembro a primeira
vez que estive no Rio. Lembro o quão fascinado fiquei
enquanto caminhava no carro do aeroporto até à casa.
Ia sorvendo tudo no caminho. Estava deliciado com
a cidade e os seus morros. Eu que só estava acostumado
com planícies, tinha o privilégio de ver os planaltos.
Tive o privilégio de
viver num dos melhores bairros do Rio. Vivia na
Tijuca. Morei na rua Bom Pastor. Da varanda podia
ver o morro do Salgueiro. Fui seduzido pela praça
Sans Peña. Toda a sua beleza, a feira que ali ocorria.
Como era bom caminhar por aquelas ruas. Era ali
que apanhava o metro para seguir até o Estácio e
de lá apanhar o autocarro que me conduzia até o
seminário. Não posso esquecer a sensação de passar
a ponte Rio-Niterói em autocarro. Não dá para esquecer
a sensação de olhar para o mar lá em baixo enquanto
aguardávamos que o tráfego avançasse sem problemas.
Lembro de caminhar e
poder ver o imponente estádio do Maracanã. É melhor
dizer, o estádio Mário Filho. Fiquei maravilhado.
Melhor ainda foi entrar e poder ver um bom jogo
de futebol. Quem deixa o estádio do Maracanã pode
ver o encanto da cidade. É seduzido pela gente alegre
que caminha por ali sem se deixar abater pelas tragédias
da vida.
Caminhar pelos bairros
típicos da cidade é algo que não consigo explicar.
As palavras são poucas para dizer da sensação do
que é caminhar pela Vila Isabel, Mangueira, pelo
Estácio. Como explicar o que foi andar pelo centro
da cidade. Cinelânida, Praça 15, cada lugar
com seu encanto. Mas é verdade que fui arrebatado
quando visitei o Pão de Açúcar e o Corcovado. Quando
olhamos a cidade dali de cima temos que dizer: Esta
cidade realmente é maravilhosa.
O que dizer das praias?
Não existem melhores. E aqui não falo apenas das
praias da cidade do Rio. Falo das praias do estado
do Rio. Cada uma mais bonita que a outra. Na cidade
do Rio deixei-me levar pela beleza de Ipanema e
Barra da Tijuca. Mas confesso que a região dos lagos
é extraordinária. Ali conheci Arraial do Cabo, Cabo
Frio, Búzios, Saquarema. Foi aí que passei a amar
o mar, pois até então eu, caboclo amazonense só
conhecia o rio. Mar era coisa que eu só conhecia
através da televisão e do cinema. Sempre achei que
não gostaria de tomar banho no mar, mas como eu
estava enganado.
A cidade é maravilhosa.
Cheia de contraste. Um povo alegre que tem jogo
de cintura. Sorri em vez de chorar. Criativo sempre.
É a terra do malandro. Como era engraçado poder
ver aquela gente a caminhar cheia de ginga. Aquela
musicalidade espontânea e natural, sempre com muita
melodia.
Dizem que o Rio é violento.
Não nego que haja violência lá. Vi um assalto certa
vez, mas confesso que os anos que lá passei nunca
tive problema. Não posso dizer que o Rio seja violento.
É claro que há violência. Como toda grande cidade
ali também se faz sentir o efeito agudizante das
grandes cidades, mas não posso dizer que Rio é violento.
Não o Rio que eu conheci. Talvez, este de agora
seja pior e naturalmente é pior, mas o Rio que conheci
era mágico.
O Rio de Janeiro é um
cartão postal. Sua beleza é incontestável. Não há
igual no mundo. Eu amo o Rio, pois foi ali que o
amor se fez real na minha vida. Foi no Rio que conheci
a mulher amada. Para mim, o Rio sempre terá encanto.
Será sempre maravilhoso. Digam o que disserem, pois
ali vivi experiências maravilhosas.
Realmente a canção está
correcta ao dizer que esta cidade é maravilhosa,
cheia de encantos mil. Quem lá passou não pode negar
tal facto.
O Rio é lindo. Para um
caboclo como eu, tem sempre encanto. É verdade que
não troco minha Manaus com sua gente. É verdade
que entre as duas cidades fico num dilema terrível.
Não dá para escolher, pois cada uma tem sua particularidade.
Mas não estou a escrever sobre Manaus. Estou a exaltar
a grandeza do Rio. E vale a pena sempre fazê-lo.
Foi no Rio que eu pude
ver a beleza dos planaltos. Foi ali que me encantei
com o mar e me deixei levar por ele. Foi no Rio
que encontrei a mulher amada. O Rio para mim foi
e sempre será maravilhoso. É facto que Manaus continuará
sempre a ser a Morada do Sol. Será meu porto de
chegada.
O Rio é lindo. Manaus
é ternura. Coimbra é o lugar onde estou a fixar
raízes. Cada uma destas cidades tem seu encanto.
Não escolho nenhuma. Amo-as de modo diferente. Para
mim elas são cidades maravilhosas.
Queridos,
Segue o texto que escrevi para que possa ser lido no culto de louvor ao Senhor em gratidão pela vida de Josué. É com tristeza que posto este texto, mas também com alegria e esperança por saber que Josué esta com o Senhor. Marcos Amazonas *46. Há um tenor a cantar no céu . 07/05/06 “2 Samuel 1.17-27”
É com profunda tristeza
e saudade, que escrevo estas palavras. É a sentir
a dor da perda de alguém muito chegado e amado
que tento organizar as ideias para prestar mais
uma homenagem aquele que em vida foi um exemplo
para todos nós.
Tomara eu ter a autoridade
de David, para poder dizer que este lamento e
o lamento da família fossem ensinados aos filhos
do Senhor. Que fossem ensinado à igreja. Digo
isto, porque Josué foi um exemplo de cristão.
Ninguém pode dizer o contrário. Do tempo que convivi
com ele, nunca o ouvi falar mal do que quer que
fosse. Nunca se queixou dos pastores que foram
seus líderes. Sempre serviu a igreja. Sempre viveu
igreja. Agora é igreja na presença do Senhor.
David lamentou a morte
do amigo Jónatas e do sogro Saul. Eu lamento a
morte do meu amigo, sogro e irmão Josué. Minha
esposa e filhos lamentam a morte do amigo, irmão
pai e avô. Contudo, nosso lamento é marcado pela
esperança, pois sabemos que Josué está com o Senhor.
Temos a consciência que neste momento ele já não
sofre. Ele está em paz e foi revestido de incorruptibilidade
(Ap 21.4; 1 Co 15.54-57). Ele está com o Senhor.
Enquanto houve esperança, jejuamos, oramos, suplicamos
ao Senhor para que curasse Josué e nos permitisse
tê-lo connosco mais algum tempo. Contudo, esta
não foi a vontade do Pai. Nós adoramos o Senhor
e aceitamos os seus propósitos e desígnios. Temos
a convicção de que não podemos fazer Josué voltar,
mas nós iremos a ele (2 Sm 12. 20-23). Nós iremos
nos encontrar com o Senhor e sabemos que Josué
estará lá à nossa espera também e isto nos consola.
Josué faleceu. Nós
sentimos a dor da despedida. Contudo, queremos
cantar o hino de adoração de 2 Coríntios 1.3-5.
Texto tantas vezes por mim citado, agora é hora
de vivê-lo intensamente. É momento de sentir todo
o consolo e conforto que só o Príncipe da Paz
pode dar.
O salmista diz: “Preciosa
é à vista do Senhor a morte dos seus santos” (Sl
116.15). É-nos difícil compreender este facto
mas ele é real. A morte de Josué foi preciosa
aos olhos do Senhor. É sentida e triste para nós,
mas é preciosa porque “conhecemos sua fé, o seu
amor ao Senhor e a sua dedicação à obra”. Sendo
assim, a primeira realidade é que a morte de Josué
foi preciosa porque ele foi para perto do seu
Senhor. Está a desfrutar da companhia do Senhor
e espera-nos com o Senhor para o grande dia.
A morte de Josué foi
preciosa porque cessou o sofrimento. Agora já
não há mais dor. Não há mais aflição, angústia.
Agora tudo é paz. Ele foi acolhido pelo Senhor.
A morte de Josué foi
preciosa porque ele não negou sua fé. Lutou o
bom combate, completou a carreira e guardou a
fé. Por isso, a coroa que lhe estava reservada
lhe foi entregue pelo Senhor, justo juiz (2 Tm
4.6-7).
Nós que aqui ficamos
já não poderemos vê-lo a reger os corais e conjuntos.
Já não o ouviremos mais a cantar com Loanda. Aqui
houve um silêncio. Perdemos um tenor, mas este
tenor agora canta no céu. Nós guardaremos na memória
todos os momentos, todos os hinos partilhados.
Não esqueceremos a maneira única de reger o Aleluia
de Haendel. A alegria e o prazer de vê-lo ali
a frente do coral a exercer seus dons. Ficamos
com a doce lembrança da saudade. Não uma saudade
eterna, pois havemos de nos encontrar novamente.
Saudade eterna significa separação total e nós
estaremos juntos no momento em que o nosso Senhor
desejar.
Josué encarnou na sua
vida o significado de seu nome. Seu nome significa:
Javé é a salvação ou Javé dá salvação. Na sua
vida Josué testificou que Javé, o Senhor é salvação.
Na sua partida ele demonstrou que Javé foi a sua
salvação. Josué foi fiel, apesar das dores e dos
sofrimentos confiou na salvação do Senhor. Por
este motivo, ele pôde escutar o chamado do seu
Senhor: “Vinde, bendito de meu Pai. Possuí por
herança o reino que te está preparado desde a
fundação do mundo” (Mt 25.34). Em resposta a este
chamado, às 12h30m Josué deixa-nos para entrar
na terra prometida.
Nós filhos, genros,
nora e netos, com tristeza sepultamos o nosso
querido. Mas também, queremos seguir o legado
que ele nos deixou de servir o Senhor. Vamos seguir
suas pisadas e como ele ensinou as obras do Senhor,
nós também a ensinaremos aos demais para que amem
o Senhor e saibam tudo quanto o Senhor tem feito
em nosso meio (Js 24. 29-31). Com tristeza e dor
louvamos o Senhor pelos anos que nos propiciou
na companhia de Josué. Muito obrigado Senhor por
tudo o que tens feito e pelo que vais fazer.
Agradecemos a todos
os que tem sido amigos chegados. Irmãos que estão
a solidarizarem-se connosco. Nossa gratidão pelo
amor demonstrado.
Há uma voz que silenciou.
Aqui fica o vazio, a tristeza, a saudade, mas
acima de tudo a esperança de encontrarmo-nos novamente
e ter o privilégio de ouvir mais uma vez este
tenor, não mais aqui na terra, mas no coral celestial.
Há um tenor a cantar
no céu. Há uma voz suave que ressoa e ecoa nos
ouvidos da memória. É a voz inesquecível do nosso
querido Josué.
Fica com Deus e descansa
em Deus.
Josué, até breve!
47. O velho (10/05/06 ) Matheus escreveu um texto para apresentar na escola. Este texto é uma pequena redacção livre. O professor não dá um tema para os alunos. Eles escrevem sobre o que desejarem. Matheus chegou e como de costume foi para o seu quarto fazer os deveres. Ligou o computador e começou a escrever. Tenho a convicção plena que este pequeno mais profundo texto, nos mostra o excelente testemunho que foi passado para ele. Sendo assim, envio o texto que ele escreveu. Beijos, Marcos O velho Era uma vez, um velho, que tinha um lindo sorriso. Esse velho tinha um tenor lindíssimo. Dirigia corais, cantava músicas… Tudo o que fazia era bonito. Certo dia, ele viajou para outro país. Lá, começou a ter uma tosse esquisita constante. Mas não foi por isso que ele não desfrutou bastante da sua viagem. Porém, chegou o dia que tinha que voltar para a sua terra natal. Com muita tristeza voltou. O pior era que a tosse estava cada vez a piorar mais. Ora, o tempo passou, e a tosse piorou bastante. Ele foi a todo o canto para encontrar cura para a tosse, mas ele descobriu que tinha uma doença sem cura. Ele teria que viver com aquilo para o resto da vida. Esse velho teve que ser internado. Lembram-se do seu lindo sorriso? Ele já nem se mexia. Lembram-se do da sua linda voz? Já nem conseguia falar. Um dia, esse velho deu o seu último suspiro. Não sofreu. Deixou para nós algumas músicas que nos ensinou, a sua maneira de brincar, de chamar toda a gente de “Chicão”… No entanto, agora canta num sítio especial, e já não sofre. Esse velho chamava-se Josué, e agora é o meu herói. Texto livre de: Matheus Santos Turma: 6º A Dedicado ao meu avô Josué Coimbra 10/05/06 48. Testemunhando em meio as tragédias da vida (04/06/06) O que você faria se
a tragédia se abatesse sobre a sua vida?
Qual seria sua atitude
se de repente, de um momento para o outro você
fosse tirado do convívio dos seus pais? Qual seria
sua reacção e atitude se o levassem para uma terra
distante, para viver como escravo?
Como é que você serviria
ao seu senhor?
O que você pensaria
de Deus e seus profetas?
Você seria capaz de
testemunhar e no meio da sua dor e tragédia manifestar
a graça do Senhor?
Será que você conseguiria
pagar o mal com o bem?
Vamos meditar na história
de uma mulher. Uma mulher que foi retirada da
sua terra. Foi levada para longe da sua família.
Ela era uma menina. Ainda não era mulher feita,
mas sua história nos inspira.
Ela não tem nome. Ela
não tem rosto. Não sabemos nada sobre ela. A única
coisa que sabemos é que foi levada como escrava
e que servia na casa de um grande comandante.
Ali ela fez toda a diferença.
Vamos ler o texto que
narra a história desta menina. Encontramos a história
dela em 2 Reis 5.1-3. Esta menina foi levada por
Naamã e passou a servir sua esposa. Naamã foi
usado pelo Senhor para dar vitória à Síria numa
guerra contra Israel. Este comandante famoso sofria
de lepra. Ele era alguém que estava marcado, estigmatizado.
Esta menina tem que conviver com ele. Ela vê a
progressão da sua doença.
O que nós faríamos?
Será que não exultaríamos
em ver a progressão da doença de Naamã? Contudo,
esta menina tem uma atitude completamente distinta.
Ela age de modo a manifestar graça. É baseado
nos princípios dela que desejo meditar. Quero
que vejamos as lições que esta menina nos deixa.
Sendo assim, reflictamos no que podemos aprender
com a história desta menina.
1 – Devemos aprender
a pagar o mal com o bem
Este princípio é extraordinário.
Esta menina que é arrancada de sua família. É
levada à força para servir de escrava na casa
do grande comandante não esboça revolta. Ela não
é uma conformista. Ela toma uma atitude geradora
de vida. Ela decide manifestar graça. Ela decide
que não vai pagar o mal com o mal. Ela conhece
a graça e vai manifestá-la.
Ela olha para o seu
senhor e vê o seu sofrimento. Ela pode acompanhar
sua dor, mas não sente prazer nisto. Ela solidariza-se
com ele. É este o princípio bíblico: “alegrai-vos
com os que se alegram; chorai com os que choram.”
(Rm 12.15). A dor de Naamã era a dor da menina.
Ela sofria com o seu senhor. Por isso, ela fala
com sua senhor e diz que em Israel há alguém que
pode curar seu senhor. Ela diz que mesmo sendo
arrastada para aquele local, mesmo a sofrer a
saudade da família. Mesmo a enfrentar a tragédia
que se abateu sobre sua própria vida ela vai fazer
tudo para que o seu senhor seja abençoado. Ela
paga o mal com o bem. Ela não se deixa vencer
pelo mal. Ele vence o mal com o bem (Rm 12.21).
Qual é a tragédia que
estás a enfrentar? Quem é que está a fazer-te
mal? Quem é o teu algoz? Preste atenção, a primeira
coisa que deve ser feita não se deixar dominar
pelo desejo de vingança. A Bíblia diz de modo
claro: “Não te deixes vencer do mal, mas vence
o mal com o bem.” (Rm 12.21). Este foi o princípio
utilizado pela menina do nosso texto. Ela utilizou
sua tragédia e sua dor para ser bênção na vida
de Naamã. Faz o mesmo com a tua vida. Não te deixes
dominar pelo mal. Vence o mal com bem.
2 – Devemos aprender
a viver com graça e sem lamentações
O texto é impressionante.
A menina aparece sendo levada para Síria. Torna-se
escrava na casa de Naamã. Não vemos em momento
algum ela a queixar-se e a dizer que Deus foi
injusto. Não a vemos a reclamar com a sua senhora.
Ela aparece a servir a família de Naamã e a servir
bem. Ela servia tão bem que seu conselho é seguido.
Aqueles senhores notaram que aquela jovem falava
a verdade.
É interessante que
notamos que quando ela fala de Naamã, ela o chama
de seu senhor. Ela aceitou o facto de ser escrava.
Mas isto não fez com que ela desistisse de viver
com graça e a demonstrar graça. Na primeira oportunidade
que ela teve ela apresentou a solução para a vida
de seu senhor.
Foi assim com José.
Onde ele esteve, por onde ele passou, ele abençoou
as pessoas. Ele viveu com graça e a graça fluía
de sua vida para a vida das pessoas que o cercavam.
Foi assim com Jonas, que mesmo a fugir de Deus,
porque não queria manifestar a graça de Deus aos
ninivitas, acabou por manifestá-la a muito mais
gente. Quando ele é encontrado no barco fala quem
é e de onde é. As pessoas ficam horrorizadas.
Ele diz para eles o atirarem ao mar. Eles o fazem,
mas depois convertem-se ao Senhor e passam a adorar
ao Senhor. Quem vive com graça e sem se lamentar,
vai na sua tragédia ser bênção na vida dos outros.
Esta menina não ficou
fechada em si mesma. Ela não deixou de viver.
Ela enfrentou os seus problemas. Ela continuou
com uma fé firme no Senhor e não deixou de testemunhar
da sua fé.
Não desista da sua
fé. Não fique a se lamentar pelo que lhe aconteceu.
Não desista porque tudo parece dar errado. Olhe
para esta menina. Veja que ela nos ensina que
devemos viver sem nos lamentar e a manifestar
graça.
Aproveite a situação
em que está a viver e testemunhe da graça do Senhor.
Viva na graça e pela graça. Saiba que a tragédia
pode vir até você, mas ela não vai destruí-lo.
Ela pode vir e até feri-lo, mas você poderá continuar
em frente e a dizer como Paulo: “já aprendi a
contentar-me com as circunstâncias em que me encontre.
Sei passar falta, e sei também ter abundância;
em toda maneira e em todas as coisas estou experimentado,
tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto
em ter abundância, como em padecer necessidade.
Posso todas as coisas naquele que me fortalece.”
(Fp 4.11b-13).
Em Cristo poderemos
viver com graça e livre das murmurações. No Senhor
poderemos aprender a viver de modo digno do evangelho.
Em Cristo teremos a oportunidade de manifestar
a graça do Senhor. Não se lamente. Siga o exemplo
desta menina e apresente a graça do Senhor.
3 – Devemos aprender
que o Senhor transforma tragédias em bênçãos
O texto diz que a menina
foi levada como escrava para a Síria. Ela foi
servir na casa de Naamã. Escravizada, talvez ela
se questionasse onde estava o Deus de Israel.
Porque o Senhor permitiu que ela fosse levada
como escrava. Ela não entendia. Nós também não
entendemos muitas coisas que nos estão a acontecer.
Mas vejamos o motivo pelo qual o Senhor levou
esta menina para a Síria.
Ela foi para lá para
ser o instrumento nas mãos de Deus para abençoar
Naamã. Naamã foi usado pelo Senhor para alcançar
vitória sobre Israel. Deus enviou aquela menina
à sua casa para que ela manifestasse a graça do
Senhor para que Naamã fosse curado da lepra e
não só. Ele entendeu que somente o Senhor é Deus
e entregou-se ao Senhor. Veja a declaração feita
por Naamã: “Eis que agora sei que em toda a terra
não há Deus senão em Israel; agora, pois, peço-te
que do teu servo recebas um presente.” (2 Rs 5.15).
Esta menina foi usada
pelo Senhor para mostrar que a mensagem do evangelho
é universal. Esta história é utilizada pelo Senhor
Jesus (Lc 4.27). O contexto que o Senhor utiliza
é a leitura de Isaías 61.1-2. O Senhor diz que
a profecia se cumpriu. Depois utiliza este facto
para ilustrar o seu ministério.
Mais uma vez que pegar
a vida de José. Se olharmos bem, diremos que sua
vida foi de tragédia em tragédia. Esta é a visão
humana. O Senhor olha e diz, estou a preparar-te
e a tomar conta da tua vida. José só foi compreender
isto quando já era adulto, e teve que perdoar
os seus irmãos. Depois da morte do pai, os irmãos
tentam justificar-se a mentir e José diz para
eles: “Não temais; acaso estou eu em lugar de
Deus? Vós, na verdade, intentastes o mal contra
mim; Deus, porém, o intentou para o bem, para
fazer o que se vê neste dia, isto é, conservar
muita gente com vida.” (Gn 50.19-20). José diz
que tudo o que lhe aconteceu foi o processo do
Senhor em transformar a tragédia da sua vida e
dos seus irmãos em bênçãos.
Não fique preso às
tragédias. Não pense que elas são o fim em si
mesmas. Olhe para o projecto do Senhor. Lembre-se
do que o Senhor diz através de Isaías: “Porque
os meus pensamentos não são os vossos pensamentos,
nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o
Senhor. Porque, assim como o céu é mais alto do
que a terra, assim são os meus caminhos mais altos
do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos
mais altos do que os vossos pensamentos.” (Is
55.8-9). O Senhor tem projectos elevados para
tua vida. Ele está agindo e conduzindo tudo de
modo que no final possas desfrutar da grande bênção
que Ele tem preparado para ti.
É como escreveu Paulo
aos romanos: “E sabemos que todas as coisas concorrem
para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles
que são chamados segundo o seu propósito.” (Rm
8.28). O Senhor utilizou a tragédia da escravidão
para que esta menina fosse o instrumento pelo
qual Naamã pudesse ouvir da graça de Deus.
O texto não fala, mas
penso que quando Naamã regressou, o modo que esta
menina foi tratada deve ter sido completamente
diferente. Aprenda que o Senhor transforma tragédias
em bênção.
Confie no agir do Senhor
na sua vida.
Guisa de Conclusão
As tragédias sempre
irão acontecer. Um dia, quando menos esperamos
elas batem à nossa porta. Somos apanhados de surpresa.
Em muitos casos, ficamos revoltados com tudo e
com todos. Viramos às costas e largamos tudo.
Quando a tragédia nos
atinge, ficamos paralisados. Pensamos que estamos
derrotados e não temos mais vontade de continuar
em frente. Contudo, se não desistirmos poderemos
marcar a história.
Permitam-me ler uma
pastoral que conta a história de John Pierpont.
Esta pastoral foi escrita pelo pastor Adão Carlos.
“A história de John
Pierpont é uma seqüência de fracassos. Após formar-se
na Universidade de Yale, iniciou sua carreira
de professor, mas faltava-lhe energia para manter
a ordem na classe. Por isso, fracassou como docente.
Tentou a advocacia, mas era excessivamente escrupuloso,
e os colegas mais espertos sempre levavam a melhor
sobre ele. E mais uma vez fracassou. Resolveu
ser comerciante, mas vendia muito barato e não
sabia dizer não aos pedidos de fiado. Também fracassou.
Talvez o pastorado fosse o lugar ideal para uma
pessoa tão generosa. Por isso, John Pierpont matriculou-se
no curso de Teologia da Universidade de Harvard.
Formou-se e foi ordenado pastor, mas fracassou
também no pastorado. Tentou a política, porém
não conseguiu eleger-se para nenhum cargo.
John Pierpont faleceu em 1866, com oitenta e um
anos de idade, alquebrado por inúmeras frustrações.
Seu corpo foi sepultado no Cemitério de Mount
Auburn, em Cambridge, Massachusetts. E sobre seu
túmulo há uma pequena lápide de granito, onde
está escrito: JOHN PIERPONT – POETA, PREGADOR,
FILÓSOFO, FILANTROPO. Ele viveu seus últimos anos
num emprego muito humilde, numa das subsecções
do Ministério da Fazenda, em Washington, abrindo
e fechando gavetas de arquivos.
Mas o nome de John Pierpont ficou gravado na história
não por seus fracassos, mas por um grande sucesso.
Numa fria tarde de Inverno, enquanto caía a neve,
ele escreveu numa partitura as notas de Jingle
Bells, a canção que celebra a alegria de se deslizar
pelo escuro gelado das noites brancas, num trenó
puxado por um cavalo. Quase cento e cinquenta
anos após o falecimento de John Pierpont, milhões
de pessoas ao redor do mundo são embaladas por
essa linda canção de Natal. Apesar de tantos fracassos,
uma única canção foi o suficiente para gravar
na História o nome de John Pierpont.
Muito mais importante do que ter o nome gravado
na História é tê-lo escrito no Livro da Vida.
Neste livro estão gravados os nomes daqueles que
viverão eternamente felizes com Jesus. “Deus habitará
com eles. Eles serão povo de Deus, e Deus mesmo
estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda
lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá
luto, nem pranto, nem dor” (Apocalipse 21.3,4).
Foi para nos garantir essa felicidade que Jesus
veio ao mundo. Ele nasceu, viveu e, por fim, morreu
pregado em uma cruz para pagar pelos nossos pecados
e nos garantir a salvação. A Bíblia diz: ”Dificilmente
alguém morreria por um justo. Mas Deus prova o
seu própria amor para connosco, pelo fato
de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda
pecadores. Logo, muito mais agora, sendo
justificados pelo seu sangue, seremos por
ele salvos da ira” (Romanos 5.7-9).”
Da mesma maneira que
John Pierpont, esta menina entrou para a história.
Ela é lembrada e citada. Nós não sabemos o seu
nome, mas o Senhor sabe. Ela faz parte do povo
de Deus.
Esta menina é conhecida
do Senhor. Ele sabe o nome dela. Ele a conhece.
Ele usou-a de modo poderoso na história. O Senhor
usou-a como deseja usar-te a ti.
Não fiques a lamentar
as tragédias. Não fiques a chorar por tudo o que
está a acontecer. Não procure a vingança.
Siga o exemplo desta
menina e faça o seguinte:
Pague o mal com o bem
Viva com graça e sem lamentações Permita que o senhor transforme a tragédia em bênção Testemunhando em meio as tragédias da vida. Só será possível se exercitarmo-nos nestes princípios. Que Deus nos abençoe!
49. O que é isto na tua mão? (13/06/06) Êxodo 4.2-4
Este texto é marcante
para mim. Lembro-me na adolescência de ter ouvido
uma
mensagem e o título da mesma era o tema que escolhi para este devocional. Naqueles dias, vivia os anos da minha rebeldia. Contudo, aquela mensagem, que foi pregada pelo meu pastor e pai falaram profundamente ao meu coração. Nunca esqueci o título. Estive a reflectir na vida de Moisés e deparei-me com aquele texto e de modo especial ele falou para mim. Meditando neste texto,
hoje descobri o seguinte:
A nossa confiança
deve estar no Senhor. A vara para Moisés era
sua
segurança. Ele depositava sua vida naquela vara. Deus, o Senhor diz para ele não depender de coisas humanas e sim nele o Senhor. Quantas vezes, nós estamos a depender mais das coisas do que do Senhor? Muitas vezes, estamos a fazer coisas e pessoas os deuses da nossa vida e não o Senhor. O que tens em tuas
mãos? Onde está a tua dependência?
O Senhor está a dizer-te
para deitá-la fora. Joga-a por terra.
Devemos obedecer
o Senhor. Há uma ordem específica que foi dada
a Moisés da
parte do Senhor. Ele obedeceu. Não ficou a questionar e titubear. O Senhor falou e a única coisa que restou a fazer foi obedecer. Moisés não ficou a explicar a Deus a importância da vara para a vida pastoral. Não procurou desculpas para poder permanecer agarrado à vara. Da mesma maneira, nós precisamos obedecer ao que o Senhor nos diz na sua Palavra. Não podemos querer servir ao Senhor e ao mesmo tempo ficar apegados aos nossos deuses ou os nossos ídolos. O nosso chamado é para sermos obedientes ao que o Senhor nos diz em sua Palavra. O Senhor deseja que sejamos obedientes ao que Ele determinou na Palavra. Aprenda a fugir.
É interessante pois a vara se tornou numa serpente.
É
lógico que foi algo sobrenatural. Foi o agir de Deus, mas a verdade é que quando abrimos mão de algumas coisas, elas insistem em nos perseguir. Elas se tornam em serpentes que tentam nos morder. Há coisas que devemos abrir mão e para que não voltemos a depender delas, temos que fugir. É preciso mudar a direcção e tomar um novo rumo, senão corremos o risco sermos agarrados por nossas serpentes. O Senhor dá-nos sempre
o melhor. Deus manda Moisés pegar novamente
a vara.
É interessante notar que Moisés fugia, pois na realidade a vara havia se transformado em uma serpente. Ele estava fugindo e o Senhor falou. Moisés mais uma vez não questionou. Ele apenas confiou no Senhor e agarrou a serpente pela cauda e esta tornou-se novamente em vara. Ela já não perseguia a Moisés. Estava na mão de Moisés. O que fica claro para nós é que há coisas que abandonamos, mas por confiarmos no Senhor e obedecermos o seu mandado, Ele irá nos devolver, só que agora de modo diferente. Será muito melhor. Foi com esta vara que Moisés fez todos os sinais no Egipto. Foi com ela que ele guiou o povo de Israel pelo deserto. O Senhor devolveu-a porque Moisés já não dependia dela para sobreviver. Ele já não confiava na vara, mas sim no Senhor. Há coisas que o Senhor nos tira porque estamos tão agarrados a elas que nossa vida parece depender delas. Quando aprendemos a viver sem elas, o Senhor nos concede a oportunidade de tê-las novamente. Agora elas servirão para ser bênção na vida de outras pessoas. O que é isso na tua
mão? Onde tens depositado tua esperança e confiança?
Tens problemas em
abrir mão daquilo que dependes?
Obedece ao Senhor.
Faz o que Ele te manda fazer. Confia no Senhor.
Vamos orar
Senhor dá-nos a capacidade
de estar atentos à tua voz. Ajuda-nos para que
possamos obedecer o que tu nos ordena para fazer. Que confiemos em
Ti. Que sejamos obedientes e façamos à tua vontade.
Dá-nos a capacidade
para que possamos depender somente de ti.
Esta é a nossa oração
em nome de Jesus.
Pr. Marcos Amazonas
dos Santos
50. A RESPOSTA (10/07/06) Certa
vez, quando Débora ainda era bebé, eu estava
a tomar conta dela. Enquanto cuidava dela, assistia
a televisão. Estava a ver às notícias e houve
uma em especial que cativou a minha atenção.
A notícia falava de uma jovem noviça, muito
dedicada, que ficou decepcionada com Deus. O
motivo para tal, é que Deus não havia atendido
o pedido que ela fizera em prol da madre superiora.
Ela havia pedido a cura da madre superiora,
mas isto não aconteceu. Em consequência deste
facto, a jovem decidiu abandonar o convento
e voltar para sua vida normal. Contudo, houve
uma frase que chamou-me a atenção: "Se Deus
não me respondeu, eu nunca mais clamo ao Senhor!"
Por este motivo ela abandonou o convento.
Será que Deus não respondeu? O Senhor sempre terá que fazer aquilo que pedimos e queremos? O argumento é que Deus ficou calado e não lhe respondeu. Quantas vezes não pensamos assim também? Deus sempre responde. É fundamental para nós entendermos que Deus muitas vezes responde não. Receber um não do Senhor não significa que Ele ficou calado e muito menos que Ele não nos respondeu. A pensar na cena,
fiquei a reflectir nas pessoas que abandonaram
a fé porque receberam um não como resposta da
parte do Senhor. Vi a dura realidade, que muitos
não conhecem o Deus a quem servem, pois o chamam
de Senhor, mas pretendem que Ele não passe de
um serviçal que cumprirá todas as ordens que
lhe são dadas. Deus passa a ser um empregado
obediente que faz tudo o que desejamos.
Deus é Senhor. Ele
é soberano. É por isto que pedimos que sua vontade
se realize. A questão é a seguinte: Como orar
pedindo que a vontade do Senhor seja feita e
depois recusá-la porque não veio ao encontro
dos nossos desejos? Necessitamos aprender de
uma vez por todas que Deus é Senhor e não servo.
A Bíblia mostra muitas
pessoas que ficaram decepcionadas com Deus,
mas não abandonaram a fé. Eu e a maioria das
pessoas, têm suas crises, porém quando sabemos
em quem temos crido, não voltamos às costas
ao Senhor que está nos concedendo a chance da
salvação. Vendo aquela cena, conclui que não
basta ser religioso. Não é só dizer que amamos
a Deus. Precisamos saber quem é Deus, para que
entendamos as suas respostas e o seu projecto
para nossas vidas. É mister que compreendamos
que o Senhor é "Deus perdoador; clemente e misericordioso,
tardio em irar-se e grande em bondade" (Ne 9.17).
Deus tem sempre o melhor para nós. O importante
é que conheçamos o Senhor e dediquemos nossas
vidas completamente a Ele.
O Senhor sempre nos
responde. Eu continuo a pedir-lhe ajuda. Peço
muitas coisas a Deus. Ele sempre responde. Já
recebi muitos sins, mas também muitos nãos.
Contudo, aprendi que independente da resposta
posso dizer como o profeta: "Ainda que a figueira
não floresça, nem haja fruto na vide; o produto
da oliveira minta, e os campos não produzam
mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do
aprisco, e nos currais não haja gado, todavia
eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha
salvação. O SENHOR Deus é a minha fortaleza,
e faz os meus pés como os da corsa, e me faz
andar altaneiramente. (Hc 3.17-19). Independente
da resposta exultarei no Deus da minha salvação
e você?
Deus é o Senhor.
Levantarei minha voz em oração a Ele, suplicarei
para que na sua graça e misericórdia me conceda
discernimento para que eu posso entender suas
respostas. O Senhor responde-nos sempre com
o melhor.
De alguém que tem
aprendido a aceitar os "sins" os "nãos" e os
"espera".
Pr. Marcos Amazonas
dos Santos
Queridos,
Procurando um texto antigo, encontrei este artigo que escrevi a alguns anos atrás. Tomo a liberdade de partilhá-lo convosco. Sei que alguns já conhecem, mas vi que o mesmo ainda tem algo de actual. Beijo no coração, Marcos Amazonas 51.O Meu Protesto Não posso calar-me
diante de tanta violência. Tenho que levantar
minha voz contra toda espécie de tirania que
tenho visto. Como gritou o profeta Habacuque
eu também vou gritar e dizer: "Violência!".
É verdade, a terra está cercada de violência.
A maldade esta sobre toda a terra. Diante deste
facto vou dar este grito desesperado como o
profeta Habacuque que solta "um grito de angústia"
e sem contudo ser um acto de rebeldia.
Não irei calar-me diante do que está acontecendo no Brasil. A violência está clara e desenfreada. A prostituição infantil é um facto que ninguém pode esconder. Onde estão os políticos que em época de campanha prometem tudo e mais alguma coisa e depois calam-se e escondem-se em seus gabinetes e fazem de conta que isto não está acontecendo. Não posso ficar calado diante da injustiça social que paira no meu querido País. Não posso aceitar que um presidente que foi eleito pelo povo agora fuja do povo e busque seus próprios interesses e não demonstre vontade de lutar pelo país. Quero ver a concretização das promessas feitas em duas campanhas presidenciais. Chegou a hora da verdade. É o momento de agir. Chega de acordos fechados entre partidos. Chega de buscar somente os seus próprios interesses. É momento de olhar para os interesses da nação. Vou protestar contra a prostituição da Tailândia. Chega de explorar crianças. Elas não podem ser vendidas como se fossem carne exposta num mercado. É hora de agir contra este turismo execrável que têm conduzido à morte milhares de pessoas. É hora de acção, pois a prostituição está se alargando. Os seus tentáculos estão por todos os lados. Não podemos ficar inertes como se nada estivesse acontecendo. Olhemos para a Ilha da Madeira e vejamos quantos adolescentes estão sendo vítimas e ao mesmo tempo réus de turistas que buscam saciar sua sede indomável pelo sexo. São vítimas de planos políticos que não garantem segurança aos jovens. Não dão respostas plausíveis aos problemas reais da sociedade. Contudo, são réus, pois conscientes do que lhes aguarda aceitam calados e vão em busca destas aventuras para encher os bolsos com algumas coroas. Chega. É hora de levantar a voz e dizer que não podemos mais ficar vivendo hipocritamente fazendo de conta que nada está acontecendo. Chega de prostituição. É hora de dizer basta de campanhas contra a SIDA (AIDS), afirmando que as pessoas devem utilizar preservativos e propagar o sexo irresponsável. É hora de acabar com a deteriorização da família. Chega de telenovelas que mostram famílias desestruturadas, maridos que vivem para trair suas esposas e esposas que traem os maridos. Jovens que aceitam simplesmente ter relações sexuais como se isto fosse a coisa mais normal do mundo. Chega de tanta violência nas telas do cinema e da televisão. Basta! Vou levantar meu protesto contra o que está acontecendo em Angola. Uma guerra que está matando milhares de pessoas. Ficamos parados e calados, pois precisamos da desgraça alheia para amenizar a nossa dor. Porém, vou olhar para mim mesmo, vou olhar para minha dor e não irei relativiza-la. Ela é minha e somente minha, mas isto não irá impedir-me de olhar para o sofrimento dos outros e ver que eles necessitam ser ajudados. Por que ainda não aconteceu uma intervenção em Angola? E Timor? Como olhar para tanta violência e ficar calado. Como ficar impune a tudo isto? Não posso calar-me. Como escreveu João monge: "Ai Timor, se outros calam, cantemos nós!". Eu não vou calar, vou protestar, vou gritar e dizer que é hora de acabar com tanta violência. Basta de tanta atrocidades. Por que o mundo assiste estupefacto as atrocidades que estão acontecendo nestes países e não fazem nada? Se isto estivesse acontecendo na Europa as tropas da ONU ainda não teriam sido enviadas? Porque aconteceu a intervenção na Jugoslávia? Ainda bem que aconteceu e porque não aconteceu em Timor, Angola e tantos outros países? Chega de hipocrisia. Se a declaração universal afirma que todos são iguais é hora e o momento de mostrar isto. Agindo, sendo rígido, mas acima de tudo buscando a solução de forma pacífica. Não posso ficar calado. Vou protestar contra a minha pessoa, pois eu sou parte deste mundo que está deteriorando-se. Como disse Isaías: "Ai de mim! pois estou perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos" (Is 6.5). Isto me dá consciência que mesmo sendo povo de Deus, alguém que foi alcançado pela graça do Senhor Jesus e fui chamado para proclamar aquele que me chamou das trevas para sua maravilhosa luz (1 Pe 2.9), peco e muitas vezes meus pecados são piores do que os daqueles que eu não considero povo de Deus. Vou protestar porque não quero ser como Carolina que ficou na janela e não viu as coisas acontecendo à sua volta como diz o poema de Chico Buarque. Quero protestar denunciando a dor desta gente sofrida e angustiada que passa todos os dias por mim diante da televisão ou dos jornais. Quero protestar cantando e gritando a música da ópera Dom Quixote que foi traduzida por Chico Buarque que tem como tema o Sonho impossível. É verdade, quero cantar e gritar assim: Sonhar Mais um sonho impossível Lutar Quando é fácil ceder Vencer o inimigo invencível Negar quando a regra é vender Sofrer a tortura implacável Romper a incabível prisão Voar num limite improvável Tocar o inacessível chão É minha lei, é minha questão Virar esse mundo Cravar esse chão Não me importa saber Se é terrível demais Quantas guerras terei de vencer Por um pouco de paz E amanhã, se esse chão que eu beijei For meu leito e perdão Vou saber que valeu delirar E morrer de paixão E assim, seja lá como for Vai ter fim a infinita aflição E o mundo vai ver uma flor Brotar do impossível chão. É este o meu desejo. Dar este grito de esperança. Sonhar, este sonho que agora é impossível, mas se eu lutar e não desistir, poderá começar a brotar e tornar-se realidade. Este sonho que agora é utopia, pode tornar-se realidade, pois como disse Robinson Cavalcanti: "Sem Utopia, porém, não há história. Utopia entendida não como o irrealizável, mas como o ainda não realizado". Portanto, estou gritando porque creio na mudança. Creio que podemos construir a história e fazer história. Quero protestar contra uma igreja que está calada diante das atrocidades que estão acontecendo. Sou parte integrante da igreja e por isto protesto contra mim mesmo e faço as seguintes perguntas: Como podemos ficar quietos diante de tudo isto? O que faremos? Ficaremos quietos esperando que os outros façam? É impressionante a nossa imobilidade. Enquanto todos se mobilizam para clamar, nós ficamos parados. Enquanto todos protestam, nós nos escondemos. Chegou o momento de sair do esconderijo e dar a cara. É o momento de assumir quem somos e o que somos e pensarmos que se queremos ter uma mensagem relevante e que seja ouvida pelos outros precisamos neste momento dizer como Dietrich Bonhoeffer: “Neste período difícil da história da minha pátria, devo viver junto com meu povo. Não terei o direito de participar da reconstrução da vida cristã na Alemanha depois da guerra se não tiver compartilhado com meu povo as provas deste período”. Se não partilharmos este período com o povo perderemos o direito de pegar-lhes a mensagem do evangelho. É momento da igreja acordar e ver que o povo "está olhando para nós nessa época de transição. Vamos virar-lhes as costas, recolhidos aos nossos "nichos", ou vamos ser os olhos, os braços, as pernas, o coração de um Deus de amor? Um rosto alegre pela certeza do perdão de Deus. Um semblante compassivo para o drama humano." Este é o desafio que temos pela frente. É hora de acordar. Não podemos mais brincar de faz de conta. Chegou o momento da igreja actuar. É o momento de sermos o sal da terra e a luz do mundo. Não podemos fugir. Estou protestando, gritando porque creio na intervenção divina na história. Este é um protesto que brota no coração de alguém que está angustiado com o que está acontecendo no mundo. É o grito de alguém que não pede aos homens, mas a Deus. Estou derramando minha queixa diante do Senhor, pois sei que nele eu posso confiar e que por mais que tentem dizer que Deus está calado, tenho certeza absoluta que Deus não é apático e se Ele está em aparente silêncio significa que o seu juízo está a caminho. Não posso me calar. Tenho que protestar e neste protesto quero juntar minha voz a de José Cid, poeta e compositor português que escreveu a canção: "Pelos Direitos do Homem". Quero agora juntamente com ele e com todos aqueles que estão inconformados com o que está acontecendo neste mundo caótico, protestar e levantar minha voz, não política, mas profética e cantar o refrão da canção que diz: Em memória de todos
esses homens
Que morreram indefesos e heróicos Seus dogmas suas lutas seus ideais Desmascararam esses paranóicos Que manipularam as notícias no jornal Com frases feitas de um falso humanismo Promovem guerras e a dor universal E na TV mentem com cinismo. Pelos
direitos do Homem, vou gritar contra estas tiranias.
Vou protestar. Vou chorar diante de Deus e pedir
que Ele encoraje sua igreja a ser o que ele
deseja que ela seja e para que Ele actue no
meio desta crise mundial.
Este é o meu protesto. O grito angustiante de um ser humano que sofre pelo que está acontecendo na sua própria vida e principalmente pelo que está acontecendo à sua volta. Será que olhando o mundo em que vives, não gritarás também? Entendendo que a igreja é de cima, mas também é co-beligerante. Sendo assim, levantemos nossas vozes proféticas em protesto pelos direitos do homem. Não podemos ficar calados. Não podemos ouvir os que não crêem afirmando: "E eu que não creio, peço a Deus por minha gente". A responsabilidade é nossa, por este motivo levantemos nossas vozes em protesto, clamando que o Senhor dos Senhores actue poderosamente. Pr. Marcos Amazonas
dos Santos Oliveira do Hospital, 06 de Setembro
de 1999. _ 01:24 da Manhã.
06/09/06 Queridos,
Depois de um tempo em silêncio por causa das minhas férias, sem enviar mensagens, fiquei sem saber que mensagens já enviei. Estou a retomar os meus textos e mensagens. Espero que sejam edificantes. Eles seguem com todos os erros e defeitos. Se há algum valor é por causa da graça e misericórdia do Senhor. Todos os erros e defeitos são por causa das minhas debilidades e fraquezas. Um abraço a todos, Marcos Amazonas Texto: Lucas 2. 36-38 52. Tema: Ana a pregadora 06/09/06
Estamos diante de um texto belo. É a
história de uma viúva. Esta viúva nos ensina muito. Ela está contextualizada
na história do povo de Israel. Senão vejamos, o nome do seu pai
é apresentado, a tribo dela também.
Assim sendo, devemos olhar para estas
informações e reflectir no que elas nos dizem.
Ana significa graça. É interessante,
pois a graça está no templo. Está na reunião das pessoas que se
reúnem para adorar o Senhor. A graça é a manifestação do amor do
Senhor. A graça é fruto de alguém que viu Deus.
Fanuel é a transliteração para o grego
de Peniel. Foi o lugar onde Jacob viu com Deus (Gn 32.30). A ideia
é que seu pai era alguém que tinha intimidade com Deus. Não basta
ser uma pessoa que vê Deus, mas é preciso vê-lo e entregar-se a
Ele. É preciso reconhecer a sua graça.
Ela é da tribo de Aser. O segundo filho
de Zilpa, que era serva de Lia (Gn 29.31-30.24; 35.16-20;22-26).
Aser significa Feliz. Lia ficou feliz com seu nascimento. Este foi
o oitavo filho de Jacob.
O que nos chama atenção aqui é que as
tribos de Israel não estavam perdidas. Havia um registo delas. Havia
registo genealógico delas.
Ana era profetisa. Mas o que significa
ser profetiza? “Um verdadeiro profeta ou profetiza é alguém, que
havendo recebido revelações do propósito e vontade de Deus, declara
aos demais o que assim recebeu.”[1] Profeta por tanto não é algum
que prevê o futuro, mas alguém que declara os decretos do Senhor
(Dt 18.18). É um dom de grande importância na vida da igreja (1
Co 14.1).
Ana era profetisa. Era alguém que servia
o Senhor. Sendo assim, vejamos as lições que aprendemos com a vida
de Ana.
1 – Ana era uma mulher que tinha prazer
de estar em adoração constante ao Senhor
É incerto afirma que ele morava no templo.
Isso podia ser verdade, mas ideia que trespassa o texto é o facto
dela ter prazer de estar em adoração constante ao Senhor.
Ela estava presente em todos os cultos.
Ana entendia o que dizia o salmista: “Alegrei-me quando me disseram:
Vamos à casa do Senhor” (Sl 122.1). E nós temos expressado esta
alegria?
Ana vivia em adoração constante ao Senhor
e por isso, vivia em comunhão com seus irmãos. Ela sabia que a comunhão
era algo saudável. A Comunhão agrada a Deus e é geradora de vida
(Sl 133).
Estamos a participar dos cultos ao Senhor?
Estamos a viver em comunhão?
Ana buscava primeiramente o reino de
Deus e a sua justiça. Ela entregou toda a sua vida ao Senhor. Ela
dependia completamente do Senhor.
Ela não era compartimentada. Isto é meu
e aquilo é de Deus. Tudo era de Deus. Seu prazer estava em estar
na presença do Senhor a servi-lo. Assim também devemos ser nós.
Nosso prazer deve ser o de estar na presença do Senhor e dedicar-lhe
tudo e não somente o que sobre. Devemos buscar primeiramente o reino
de Deus e a sua justiça (Mt 6.33).
2 – Ana era uma mulher que tinha um coração
agradecido ao Senhor pelo que Ele lhe permitia ver
Gratidão é fundamental. Ela chega no
templo e vê o Senhor Jesus sendo apresentado. Ele vê o Senhor e
fica agradecida. Seu coração exulta. Quem se priva da comunhão do
Senhor não pode ver a manifestação da sua graça.
A questão é pelo que Ana estava a dar
graças a Deus?
No contexto podemos ver que é pelo Senhor
Jesus. Ela estava grata por Deus ter enviado o Messias. Ela agradecia
porque o Senhor veio redimir o seu povo.
Temos sido gratos pela vinda do Senhor
e pela libertação que Ele tem feito nas muitas vidas?
Ana era agradecida. Tu estás agradecido
ao Senhor? O salmista diz o seguinte: Bom é render graças ao Senhor,
e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo. (Sl 92.1). Renda graças
ao Senhor pelo que Ele é e pelo que tem feito na sua vida.
Ana, uma mulher idosa, mas com vigor
e alegria em servir o Senhor. Não estava a queixar-se e muito menos
a murmurar porque estava velha. Ela estava agradecida ao Senhor
pela vida e aproveita os anos que tinha para continuar a servir
o Senhor.
Fica claro para nós que Ana serviu toda
sua vida ao Senhor. Ela sempre esteve agradecida, até diante das
suas dores e tragédias, sua fé permaneceu firmada no Senhor.
Deus é o Deus da graça. Deus é o Deus
de Ana. Ele é o Deus da tua vida. Ele te sustenta e te guarda. Sendo
assim, seja agradecido e louve o Senhor. Invista sua vida no serviço
do Senhor.
3- Ana anunciava a mensagem do Senhor
aos que esperavam a salvação
Ana pregava. E naquele momento que viu
o Senhor, pode dizer às pessoas que estavam presentes no templo
que aquele menino era o Messias. Ela pregou com ousadia. E nós temos
pregado?
Ana proclamava a mensagem do Senhor e
esperava o Senhor. Nós enquanto aqui vivemos devemos viver a proclamar
o Senhor (Mt 28.18-20), na expectativa de que Ele volte para nos
levar para junto de si. Não podemos desanimar.
Há uma realidade implícita no nosso texto.
É a constância e perseverança de Ana. Ela não desistiu da sua caminhada.
Ela não abandonou seu ministério. Ela não se aposentou. Ela continuou
a trabalhar para o Senhor. Sendo assim, continue firme. Não desiste,
não deixe que a preguiça faça com que os seus dons sejam colocados
na prateleira da acomodação.
Escutei certa vez uma história muito
interessante sobre este aspecto. Foi aberto uma nova missão e um
irmão estava todo entusiasmado e virou para um outro, que já estava
reformado, mas era diácono e disse: irmão que oportunidade temos.
Uma nova missão, poderemos anunciar a Palavra do Senhor. O diácono
responde: irmão, já me reformei.
Ana estava na activa. Ela não se reformou.
Quem ama o Senhor não se reforma. Quem ama o Senhor tem um coração
agradecido e vai sempre anunciar a graça do Senhor.
Quem ama o Senhor vai proclamar a mensagem
do Senhor com ousadia, mesmo que seja uma pessoa que já tenha uma
idade avançada.
O que tens feito da tua vida?
Ana utilizou sua vida para servir e honrar
o Senhor. Segue o exemplo dela. Usa a tua vida para servir e honrar
o Senhor.
Guisa de Conclusão
Ana a pregadora. Aquela que não deixou
de anunciar a graça do Senhor. Ana uma mulher feliz. Ela é graça
de quem viu o Senhor e se tornou feliz.
Ela nos ensina a vivermos com as seguintes
atitudes:
A ser pessoas que devem ter prazer em
estar em comunhão e adoração com o Senhor
A ser pessoas com o coração agradecido por tudo quanto o Senhor tem feito A ser pessoas que anunciam a mensagem de salvação do Senhor. -------------------------------------------------------------------------------- [1] HENDRIKSEN, Willian. Comentário do
Novo Testamento, Exposição do Evangelho de Lucas Vol. 1,
1ª edição, Editora Cultura Cristã,
São Paulo, 2003.
Queridos,
Estou partilhando a pastoral que escrevi para culto de amanhã. Creio que será pertinente para o momento brasileiro e para as notícias que falam do envolvimento de igrejas com a política. Esta pastoral na realidade foi escrita porque estou a falar dos nossos princípios à igreja. Abraços, Marcos 53. A separação das águas (10/09/06) Um dos
problemas vividos na história é a ligação da religião com Estado.
Isto pode ser visto num estudo sério das religiões. Não tendo
tempo e muito menos espaço para discorrer sobre isto, basta vermos
os séculos em que o cristianismo foi considerado religião oficial
do Estado e ainda o é em muitos países, como também outras confissões
o são em outros. Contudo, os baptistas apregoam a separação entre
Igreja e Estado.
O que entendemos por este princípio? De modo geral podemos dizer que "os Baptistas compreendem que o Estado não tem direito de interferir nas práticas e crenças religiosas dos indivíduos ou congregações e que a Igreja não tem direito ao sustento do Estado." Este princípio é uma ampliação do princípio
da liberdade religiosa. Os baptistas defendem uma igreja livre
num estado livre. Como afirmou Walter Rauschenbusch: "A separação
entre a igreja e o estado tem a dupla vantagem de tirar a influência
clerical da vida política e também a vida política da igreja".
Como baptistas, entendemos que a liberdade
religiosa será realidade quando houver a separação entre a Igreja
e o Estado. Jesus afirmou: "Dai pois a César o que é de César,
e a Deus o que é de Deus." (Mt 22.21). Aqui Jesus distingue os
deveres. Mostra que o governo na sua actividade tem sua autoridade,
mas esta é limitada por Deus. "Dai a Deus o que é de Deus", mostra
lealdade suprema. O Estado que abandona esta esfera e usurpa a
autoridade de Deus e não pode contar com o apoio do verdadeiro
cristão. O compromisso das nossas igrejas é com a justiça. Queremos
ver a honestidade na actuação das pessoas e a dignidade humana.
É fundamental afirmar aqui que "os cidadãos têm obrigação moral
de resistir ao governo injusto e tirano. Embora sempre devemos
estar sujeitos ao ofício do magistrado, não temos que estar sujeitos
ao homem naquele ofício se ele ordena aquilo que é contra a Bíblia."
Queremos uma igreja livre, num estado
livre. Não somos nem de direita, nem de esquerda e muito menos
do centro. A igreja é de cima e quando há uma linha que dignifique
o homem, nós assumimos a postura de co-beligerância. Não aceitamos
que o poder civil seja o patrocinador de alguma religião.
Como baptistas não aceitamos interferência
do Estado. Não vivemos às suas custas. Por isso, como afirmou
Isaltino: "Não podemos ser coniventes com um Estado desumano,
corrupto, desvalorizador do homem."
Se há separação entre Igreja e Estado.
O que é a Igreja? "A igreja é como uma embaixada de um determinado
país em outro. A doutrina da separação funciona como a imunidade
diplomática que desfruta a embaixada. A igreja necessita manter
sua independência."
Podemos resumir este princípio em cinco
ideias bácias: 1) Separação da Igreja e o Estado na ordem pública.
Isto não quer dizer uma separação absoluta nas ordens moral e
espiritual; 2) Todas as igrejas existem sobre uma base voluntária;
todas são iguais perante a lei, e ante o governo (significa que
o governo não fará discriminação e não favorecerá uma e obstaculizará
outra). 3) Não haverá impostos eclesiásticos e muito menos impostos
públicos para o sustento da igreja. 4) Não haverá instrução religiosa
a cargo de uma igreja nas escolas públicas; nem o uso das dependências
de escolas públicas pelas igrejas. Com isto, não se rejeita o
ensino de livros religiosos históricos, tão pouco implica uma
hostilidade face a religião por parte das escolas. 5) O princípio
da separação tem como fim o bem estar das igrejas e do Estado."
De alguém que é patriota e solidário,
mas que prefere obedecer antes a Deus do que os homens.
Pr. Marcos Amazonas dos Santos
Encontrei este texto que escrevi
anos atrás.
Reli e vi que ele é pertinente, pelo menos para mim. Sendo assim, compartilho convosco. Beijos, Marcos Amazonas 54.Desafios (10/09/06) Quero desafiá-los a investir fortemente
nas pessoas. Investir em qualidade de tempo, atenção, cuidado
e até mesmo financeiramente.
É bom que entendamos que todo investimento
envolve riscos. Podemos ser mal interpretados. Quem sabe até
ficar feridos e o mais grave de tudo é que corremos o risco
da traição. Quando analisamos os riscos, pensamos em desanimar,
mas como diz o dito popular: "quem não arrisca, não petisca".
Jesus
investiu fortemente nas pessoas. Não teve medo de se entregar
a elas e até mesmo abraçá-las e acarinhá-las. Não desistiu por
causa da traição e muito menos se preocupou por que seria mal
interpretado. Ele arriscou e buscou as pessoas porque desejava
um relacionamento intenso com elas.
E nós
o que estamos a fazer neste início de século?
Devemos
entender que "as pessoas desejam mais contato, mais intimidade
uma com as outras. Desejam sentir-se mais pessoas e menos número
na multidão. Querem se tocar, se abraçar, querem ser, simplesmente,
gente ou povo de Deus que se reune na intimidade como em família."
É por este motivo que estou a desafiar-vos a investirem nas
pessoas. Estou clamando para que agarrem no telefone e chamem
aquele alguém que já faz algum tempo que não falam e invistam
alguns minutos para dizer o quão importantes eles são.
Quero
desafiá-los em nome de Jesus a ser uma igreja comprometida com
os valores do Reino de Deus. Mas o que significa isto? Encontramos
a resposta no livro O futuro da Igreja no terceiro milênio de
Darci Dusilek. Ele afirma: "Uma igreja comprometida com os valores
do Reino de Deus deverá se fazer, mais do que nunca, presente
no estabelecimento de políticas públicas internacionais e nacionais
que tenham a ver com a distribuição da renda mundial. Sua voz
e o peso de sua influência devem juntar-se a outras forças e
organismos que lutem pela justiça na terra. A igreja deve comprometer-se
com o desenvolvimento de estratégias que pratiquem o exorcismo
das forças do mal e do pecado que atuam nas estruturas das nações
e que, se não obstadas, continuarão a aprisionar milhões de
pessoas de uma só vez pela degradação moral e espiritual decorrentes
da miséria econômica e social que produzem. A sociedade do Terceiro
Milênio estará cada vez mais interessada em uma igreja que torne
a boa-nova do Reino de Deus concreta por meio de palavras, sinais
e ações realizados no poder do Espírito Santo. Uma igreja que
ousa arriscar-se na defesa do empobrecido, que não se nega a
lutar pelo direito a uma vida de qualidade que todos têm simplesmente
por serem seres humanos." Que possamos ser este tipo de igreja.
Outro
desafio que vos apresento é o de estarmos beligerantes no cyberespaço.
Este poder controlador das mentes humanas. Um local multi-racial
e multi-cultural. Lugar onde as culturas se encontram e se fundem.
Onde as religiões se misturam e os conceitos sobre Deus encontram
ressonância e a fé é definida de forma colectiva. Mas mesmo
assim, Deus se faz presente neste lugar, embora muitas vezes
não tenhamos consciência disto.
Sendo
assim, deixo-vos o desafio de arriscarem-se para ser tanto no
real, como no virtual a igreja que o Senhor sonhou.
Queridos, Segue mais um texto. Este escrevi depois de ter dado uma vista de olhos no filme Cazuza. Abraços, Marcos Amazonas 55.Nem herói, nem bandido Nova criatura (16/09/06) Cazuza foi um “rock star” brasileiro.
Era um rebelde sem causa. Consumiu drogas, teve relacionamentos
tresloucados. Morreu por causa da SIDA. Fizeram filme sobre
a sua vida. Este mostra um jovem libertino a fazer tudo o que
lhe apetece. Os pais são marionetas em suas mãos. É estranho
tentar imortalizar alguém com o estilo de vida que ele teve.
Contudo, isto é fruto da nossa sociedade. Vivemos a fazer apologia
de que tudo é permitido.
Na minha adolescência e início de
juventude, Cazuza era o máximo. Representava a rebeldia. O Barão
Vermelho era o expoente do rock brasileiro. Dava orgulho dizer
que curtia o Barão Vermelho. Cazuza foi herói, mas também foi
bandido. O filme mostra às vezes em que a polícia o deteve.
Vemos também o modo libertino do jovem a consumir drogas e a
envolver-se sexualmente com tudo e todos.
O filme nos apresenta um herói bandido.
Um herói marginal. Um burguês que sempre teve tudo o que quis,
e por causa das suas escolhas acabou sendo destruído pela SIDA.
Contudo, não é sobre este Cazuza que desejo falar. Quero falar
sobre o outro. Aquele que descobriu a verdadeira vida quando
os seus dias estavam a terminar. Quero falar da nova criatura
que ele se tornou, não pelas canções que escreveu, não pelas
loucuras que fez, mas pela decisão que tomou antes de morrer.
Quero falar do Cazuza que o filme não mostrou, pois este não
dá prestígio. Quero falar do Cazuza que entregou sua vida a
Jesus. Do jovem que se arrependeu e pediu perdão. Infelizmente
a mídia não falou da sua decisão. Preferiu mostrar o bandido,
o rebelde sem causa.
Sei que um dia irei encontrar-me-ei
com ele. Cazuza faz parte do povo de Deus. Por que afirmo isto
com tanta certeza?
Nos últimos dias de sua vida, ele
foi assistido por uma enfermeira evangélica. Esta jovem foi
sal e luz na vida dele. Ela marcou a diferença. Depois de alguns
anos da morte dele, ela lançou o livro “Fiz parte deste show”.
Este título é o mesmo de uma canção de Cazuza. Ana Maria narra
a experiência que teve quando cuidava de Cazuza na fase em que
estava a sofrer de SIDA. Já não era o rebelde, mas o doente
que lutava pela vida. Ela narra todo o processo do acompanhamento
e cuidado que dedicou a Cazuza. As dúvidas e questões que ele
tinha. Como ele foi se aproximando de Deus. Ela culmina a dizer
que o rebelde entregou sua vida a Jesus. O filme não mostra
nada disso. Não fala de um ser humano arrependido que se volta
para o Criador e suplica por perdão. Não mostra um ser humano
a reconhecer que fez a pior escolha e que o seu sofrimento é
consequência dos erros cometidos. Não, o filme enaltece o rebelde,
o bandido. É careta dizer que o nosso poeta no fim de sua vida
se tornou cristão. É preferível que todos cantem a máxima de
sua canção que diz: “meus heróis morreram de overdose”. Esta
é a nossa sociedade. Valoriza a degradação humana e torna viciados
em super heróis.
Cazuza viveu a loucura dos seus dias.
Fez tudo o que desejou. Viveu loucamente. Viveu querendo levar
a vida, mas depois decidiu que a vida o levasse. Entretanto,
numa tarde de domingo, uma jovem entrou na história dele. Ela
fez a diferença. Vivia a vida com graça e a transbordar a graça
de Jesus. Isto fez toda a diferença na vida dele. O testemunho
de Ana levou-o ao conhecimento de Jesus. O jovem poeta descobriu
a verdadeira paz.
Infelizmente isto nunca virou notícia.
Não saiu no jornal, mas o facto é que Cazuza não é herói nacional
e muito menos um bandido. Ele foi um cidadão como outro qualquer.
Cometeu seus erros e em consequência dos mesmos desenvolveu
a SIDA. Contudo, a sua tragédia se transformou em triunfo, pois
foi por este motivo que ele foi alcançado pelo Senhor Jesus.
Cazuza se tornou numa nova criatura.
Minha tristeza é que não tive o privilégio de ouvir uma canção
que expressasse sua gratidão ao Senhor, mas sei que o encontrarei
na glória. Não como o ícone da minha geração, mas como aquele
que compreendeu que sua vida foi resgatada pelo sangue precioso
de Jesus.
Cazuza cantava:
Vida, louca vida.
Vida breve.
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve.
Ele tentou, mas não conseguiu levar
a vida. Ele tinha consciência da sua brevidade. Que ela é um
vapor que passa. Mas na brevidade que foi sua vida, ele que
não pode levar a vida, foi levado para a vida e pela verdadeira
vida. Ele foi perdoado e transformado em nova criatura pelo
Senhor.
O que teria acontecido se Cazuza
não tivesse morrido? O que ele faria e diria sobre o Senhor?
Cazuza desfruta da vida abundante
que Jesus prometeu. Esta vida é que mais importa. É esta mesma
vida que devemos desfrutar e gozar aqui e por toda a eternidade.
Queridos,
Estou a enviar-vos mais um texto. Espero que ele possa edificar-vos ou entretê-los. Abraços, Marcos Amazonas 56. Peregrinação (22/09/06) (Génesis 12.1-5)
Gonzaguinha foi um dos melhores compositores
da MPB. Numa de suas canções dizia que fazia tempo que havia saído
de casa. Fazia muito tempo que havia caído na estrada, mas tinha
a esperança de poder voltar por todos os lugares por onde tinha
estado. A canção de Gonzaguinha expressa o facto de poder ir e
vir sem problema. Poder peregrinar e manter sempre a porta aberta
para o seu retorno e o reencontro com os amigos e familiares.
Quando ouço esta canção, reflicto sobre
a importância de ter amigos e preservá-los. A canção fala-nos
da importância de poder regressar aos locais por onde já passamos.
Retornar é muito importante. Regressar é poder rever amigos e
pessoas muito queridas.
Hoje, lembrei de modo especial desta
canção e da vida de Abraão. Gozaguinha dizia que podia regressar
por todos os lugares por onde havia passado, mas Abraão deixou
sua casa e já não podia regressar para sua terra. Não podia voltar
para os seus.
Abraão deixou sua família, terra e
parentela e seguiu para a terra que o Senhor lhe haveria de mostrar.
Senti-me como Abraão, pois estou em Portugal a quase dez anos
e quando regressei ao Brasil, foi para pregar no aniversário de
minha antiga igreja e por causa da doença de meu pai. Lílian regressou
para apresentar Débora à família e mais recentemente quando da
doença do pai dela. Temos vivido longe da família. Estamos distantes
de tudo e de todos.
A pensar na realidade da vida de Abraão
e sua caminhada, foi que ponderei sobre a minha vida. Na realidade,
eu tenho muito mais vantagem que Abraão, mas creio que como ele,
passo pelos mesmos dilemas e dores que só aqueles que por um motivo
ou outro ficam privados dos seus entes queridos podem entender.
É verdade que em mim há um misto da
música de Gonzaguinha e da história de Abraão. Na minha peregrinação
posso voltar a determinados lugares e ali confraternizar com os
amigos. Posso matar a saudade e desfrutar da comunhão. Por outro
lado, vivo o dilema e a dor da saudade de não poder regressar
à minha terra. Não que esteja impedido de regressar, mas a questão
financeira é um impeditivo, pois as passagens aéreas são muito
caras. Abraão deixou sua terra, sua parentela e saiu a peregrinar.
O que geralmente não pensamos é a saudade que ele e a esposa sentiram
dos seus parentes. A dor e a tristeza nos momentos em que paravam
e ficavam a pensar nos seus. Quantas vezes desejaram estar juntos
dos familiares. A dor que devem ter passado por não poder enterrar
seus parentes, e também de não poderem ver o crescimento dos seus
sobrinhos.
Esta é uma realidade que tenho vivido
a quase dez anos. Tenho a vantagem do telefone, da Internet e
por isso correio já praticamente não faz parte do nosso mundo.
Contudo, não tenho acompanhado o desenvolvimento dos meus sobrinhos
e muito menos partilhado o que tem acontecido com a minha família.
Deixamos Manaus, Matheus era uma criança de três anos e agora
já está a caminho dos treze. Seus tios e avós não o viram a crescer.
Não tiveram oportunidade de viver experiências maravilhosas no
desenvolvimento dele. Débora já tem quase oito anos e destes,
só viram-na recém-nascida e recentemente quando ela esteve com
a mãe no Rio para ver o avô que estava muito doente.
Nossos sobrinhos eram crianças e hoje
já são adolescentes e jovens. Outro dia falei com um sobrinho
por afinidade que carreguei no colo e ele já é pai. Meu cunhado
casou e não estivemos lá. Não temos partilhado das alegrias e
tristezas da nossa família de modo vivencial, do mesmo modo que
Abraão não as viveu.
Outra realidade vivida por eles foi
o facto de serem peregrinos. Eles caminhavam por terras que não
eram suas. Onde chegavam eram reconhecidos como estrangeiros.
Não importava se falassem o idioma local ou não. Vivemos esta
realidade de modo intenso. Onde chegamos somos reconhecidos como
brasileiros, mas o estranho é que ao falarmos com a família dizem
que já não falamos com o sotaque brasileiro. A ideia que fica
é que até dentro da nossa própria casa somos considerados estrangeiros.
Assim, temos que perder parte da nossa cultura e adquirir muito
da cultura das terras onde nos encontramos. Nós vivemos esta situação.
Cada novo dia procuramos adquirir mais e mais a cultura de onde
estamos a viver e lutamos para não perder a nossa cultura.
Peregrinar é caminhar com esperança.
Abraão deixou sua terra nesta perspectiva. Ele saiu com a esperança
de vir a ter uma terra que chamasse sua. Ele a pôde ver pela fé.
Nós saímos da nossa terra não com o desejo de um futuro melhor,
mas com a esperança de ver dias melhores para aqueles que convivem
connosco. A viver esta realidade fincamos raízes. Adquirimos um
apartamento, enraizamo-nos, e este facto faz com que se torne
muito mais difícil nosso regresso à nossa terra.
Abraão deixou sua terra para ser bênção
a todos os que com ele se encontrassem. Nós deixamos nossa terra
para ser bênção para todos aqueles que convivem connosco. Nossa
vida é vivida de modo natural. Procuramos fazer amigos, mas amigos
sinceros. Não queremos fazer amizades de interesses, que visam
ganhar as pessoas para nossa religião. Não é para isto que estamos
aqui. Estamos aqui para abençoar este povo, para lhes dar esperança,
mas sem pedir nada em troca. Nosso viver aqui é um viver com graça
e na graça. Queremos desenvolver amizades sinceras e se as pessoas
perceberem que somos homens e mulheres de Deus e nos pedirem,
oraremos por elas e com elas. Clamaremos por elas e com elas.
Foi isto que aconteceu na vida de Abraão e é assim que deve acontecer
na nossa vida. Não estamos aqui para forçar às pessoas a assumirem
o mesmo estilo de vida que o nosso. É facto que desejamos que
elas aceitem este mesmo estilo de vida, mas não as podemos forçar,
pois não somos nós que as transformaremos.
Deixamos tudo para peregrinar em Portugal.
Como Abraão, queremos ser bênção a todos os que se encontrarem
connosco.
Abraão caminhou com fé, na certeza
de que o Senhor era com ele. É esta a nossa certeza também. Estamos
aqui, longe de todos os nossos entes queridos, mas com a certeza
absoluta de que o Senhor está connosco. Estamos aqui a peregrinar
com a fé de que veremos dias melhores. Não no sentido material,
mas no espiritual. Temos a convicção plena de que o Senhor está
a guiar-nos e a conduzir-nos à vitória e esta vitória também redundará
em triunfo para muitos que connosco se encontram.
Peregrinar é um processo lento, muitas
vezes doloroso, mas com o Senhor é sempre um caminho que traz
paz ao coração.
Meus queridos,
Estou a enviar mais um texto. Espero que edifique às vossas vidas. Abraços, nEle, Marcos 57. O Amigo (02/10/06) Provérbios
18.24b
Manaus
é a minha cidade. Terra amada e de doces lembranças. Lá o céu
parece ficar mais perto de nós. Ele é mais estrelado, límpido.
Ali a natureza esbanja beleza. Fiquei marcado por tudo o que
ali vi e vivi. Não dá para esquecer o cheiro daquela terra.
Não dá para esquecer os dias em que via a chuva a caminhar em
minha direcção e o prazer de tentar fugir dela.
Não dá para esquecer os momentos
agradáveis que passei na minha terra. Não posso esquecer às
tardes em que nos encontrávamos para poder jogar o nosso futebol.
Os momentos que nos reuníamos apenas para ficar a jogar conversa
fora.
Como esquecer os muitos banhos nos
igarapés (braços de rio)? Como esquecer o tempo em que jogava
bolinha, brincava de pião, papagaio e tantas outras coisas?
Não dá para esquecer nada disso. Estes momentos fazem parte
da minha história. É a minha vida!
Todos estes momentos foram um processo
de socialização. Foram brincadeiras colectivas. Foram momentos
que partilhei com colegas, mas também com amigos. Estes amigos
são para toda vida, pois o verdadeiro amigo sempre o será independente
do tempo.
Desse tempo lembro às muitas noites
em que ficava com dois amigos especiais a conversar e a tentar
cantar as músicas de Zé Ramalho e Moreira da Silva. Tentar cantar,
porque nunca me dei na área do canto. Ficávamos ali sob o céu
límpido do Amazonas a cantarolar e expressar nossa alegria.
Hoje olho para trás e vejo o quão felizes éramos. Três jovens
distintos. Histórias de vidas diferentes. Religiões diferentes,
mas ligados pela cultura e pela amizade e a verdadeira amizade
é alimentada pelo amor. Foi por este motivo que nos relacionamos
e nunca brigamos por causa das nossas diferenças religiosas
e muito menos por causa das nossas opções de vida. Éramos e
somos amigos e isto nos bastava e isto ainda nos basta.
O tempo encarregou-se de nos separar.
Cada um seguiu o seu caminho. O tocador de viola foi para o
exército. O paraquedista foi trabalhar na VARIG, eu fiquei a
trabalhar em algumas empresas de Manaus e depois segui para
o Rio de Janeiro para fazer seminário. Depois de alguns anos
voltei a Manaus e tinha a oportunidade de encontrar-me com o
paraquedista, pois o tocador de viola estava a viver no interior,
como ainda está. Mais uma vez deixei Manaus. Já se passaram
quase dez anos, mas eu não esqueço os meus dois parceiros. Foram
meus companheiros de música e também de partilhar muitas pizas
juntos. Estes dois são amigos para toda vida.
Roberto Carlos expressou a sua gratidão
pela amizade que Erasmo Carlos lhe tem. Eu também quero expressar
minha gratidão à amizade dos meus amigos. Contudo, amigo que
é amigo sempre nos surpreende e outro dia, depois de todos estes
anos de silêncio sou apanhado de surpresa. O telefone tocou,
atendi-o como costumo fazer a maioria das vezes. Escuta aquela
voz inconfundível. Meu amigo depois de todos estes anos estava
a me fazer uma chamada telefónica. Que alegria!
Falamos ao telefone alguns minutos.
Partilhamos experiências e preocupações. Soube que o tocador
de viola continua no interior. Mas também soube que há amigos
que são mais chegados que um irmão. Agradeci a Deus pelo meu
amigo. Fiquei radiante de alegria.
O tempo passou. Já não tenho mais
a hora do futebol. Já não fico à conversar às tardes e muito
menos vou para a esquina cantarolar canções. Todas estas coisas
ficaram para trás. Elas já não voltam mais. São lembranças da
minha vida. Contudo, há algo que não ficou para trás. Há a certeza
de que a amizade perdura. Meu amigo continua o mesmo e nem o
tempo de separação, a distância abalaram a nossa amizade e isto
porque amigos são para toda a vida.
Queridos, Segue mais uma crónica. Na realidade é a continuação da crónica anterior. Abraços, nEle, Marcos 58.Vida Nova (03/10/06) 2 Coríntios 5.17
Deitado, com às luzes apagadas,
o jovem tenta adormecer. A escuridão do quarto fala da escuridão
do seu ser. Aparentemente, é um jovem normal que deseja ser
como todos os outros. Sendo assim, vivia as festas, os prazeres
que a vida oferecia. Contudo, quando estava em casa, em seu
quarto, o vazio tomava conta dele. A vida não fazia sentido.
Ele desejava a morte.
Um jovem que com os amigos é extrovertido.
Está pronto para participar de tudo, mas a máscara é por demais
pesada. Ele está a morrer aos pedaços. Contudo, sua mãe não
desiste dele. Ela insiste e persiste para que ele compreenda
que há uma porta aperta, há um caminho de volta. Ela luta
silenciosamente, pois não adiante dialogar com ele. Agora
ela dialoga com o Criador. Ela entregou seu filho nas mãos
de Deus e espera que Deus o restaure.
O jovem que não se preocupa com
nada vive para si. Usa e é usado. Busca o prazer e mais nada.
Seus poucos momentos de lucidez fazem-no sofrer imensamente,
pois ele pode ver claramente o que se tornou e o sofrimento
que está a dar à sua família. Sendo assim, e melhor viver
anestesiado para não ver o sofrimento das únicas pessoas que
o amam verdadeiramente. Ele desiste de tudo.
É neste vazio do ser que ocorre
a grande luta da vida dele. É no meio da escuridão que as
trevas vão invadindo-lhe a alma. O corpo parece que vai sendo
corroído. Neste instante, ele percebe que está a ser puxado.
Algo não quer deixar que as trevas se apoderem dele. No desespero
desta situação ele clama a Deus. Pede para que Deus o liberte.
A sensação que ele tem é que grita, mas mal consegue sussurrar
uma oração. É neste momento que ele sente sair um peso de
cima de si. Ele sente-se aliviado. Dorme como a muito tempo
não dormia. Ele descansa sossegadamente.
Nasce um novo dia. O jovem acorda
e por incrível que pareça, não sente vontade de continuar
a dormir. Não sente o desejo de morrer. Sem saber explicar
ele deseja ardentemente a vida. Tudo parece mais bonito. Tudo
tem mais cor. Agora o jovem sorri como não sorria a muito
tempo.
Ele deixa sua casa, o dia está
radiante e belo. Ele vislumbra uma beleza que não consegue
entender e explicar. Tem vontade de caminhar sentido o sol
a queimar-lhe a face. Quer sentir o vento da manhã. Ele não
sabe o porque amanheceu daquele jeito. Não percebe porque
não acordou com ressaca e a sofrer de uma bruta dor de cabeça.
O que sabe é que está cheio de alegria e paz. O desespero
já não faz parte de seu ser.
O jovem vive uma nova realidade,
mas as dificuldades aparecem. As tentações surgem e ele muitas
vezes fraqueja. Seu corpo está acostumado. Ele próprio está
acostumado aos prazeres da vida. Sua mãe olha para ele com
alegria. Ela vê que seu filho foi resgatado. Ela é companheira
e apoia-o na nova jornada. Seu pai é companheiro e solidário.
A realidade é que há uma nova pessoa ali presente. Alguém
que ama a vida e da vida é amado. Este jovem com o passar
dos dias percebeu que Deus ouviu o seu clamor e o socorreu.
Ele percebeu que não a vida não faz sentido se não for vivida
numa relação íntima com Deus.
Naquela noite escura e sombria
algo de extraordinário aconteceu na vida daquele jovem. Naquela
noite tenebrosa, onde o sono insistia em não vir. Onde o pavor
se fazia presente e um jovem desesperava por causa do seu
sofrimento e por ver que estava a ser engolido pelas trevas,
nesta noite raiou a liberdade. Foi no meio deste pântano que
ele gritou e clamou ajuda ao Senhor e o Senhor o libertou.
Naquela noite as trevas desapareceram
e raiou a luz. Um novo dia surgiu. Uma nova vida iniciou.
Não por merecimento, mas por graça. Surgiu uma nova vida como
resposta de amor de Deus que não desiste de ninguém e não
abandona pais que entregam seus filhos em suas mãos.
Naquela noite nasceu uma nova criatura.
Não mais o filho das tristezas, mas o filho das alegrias.
Não mais o causador de mágoas e dores, mas o reconciliador
e proclamador da graça de Jesus.
Naquela noite, o Senhor respondeu
às orações de uma mãe e transformou um jovem desesperado,
tornando-o nova criatura e pregador das boas novas.
Queridos,
Segue mais um texto. Espero que o mesmo fale aos vossos corações. Beijo no coração, Marcos Amazonas 59.Insensatez (04/10/06) Provérbios 20.1
Madrugada de sexta para sábado.
O silêncio é angustiante. Já não há o som da balada, os
colegas da noite se foram. É fim de noite. Agora, há que
se enfrentar a porta. Um adversário quieto e calado. Um
adversário que na realidade confere segurança à casa.
Diante da porta, o jovem embriagado
tenta desesperadamente encontrar o buraco da fechadura.
É estranho olhar para ele ali a lutar com todas às forças
que lhe restam. Uma porta que não se move, não reage torna-se
um obstáculo intransponível.
Sozinho, o jovem que não tinha
problemas para dançar e entrar com todas as mulheres que
apareciam em sua frente agora sofre e não consegue sequer
entrar em casa. A angústia toma conta do seu ser porque
não consegue acertar com a chave. Parece que o buraco da
fechadura encolheu. Ele luta desesperadamente. Curva-se,
olha atentamente e vai mais uma tentativa. Apalpa a fechadura
como se fosse um mágico que está a finalizar mais um truque.
Contudo, sua tentativa é vã.
Sozinho na porta de sua casa,
sente o vazio da sua existência. Sente-se preso dentro de
si mesmo. Os seus prazeres momentâneos deixam-no vazio e
incapaz até mesmo de entrar em casa. Paralisado, ele desiste
de lutar contra a porta. Assume a derrota. Sente-se um fracassado
e senta-se recostado à porta. O cansaço toma conta de todo
o seu ser. Já não há mais forças e por isso, ele adormece
ali, sentado diante de tão grande obstáculo. Sua cama fica
vazia. Os lençóis não são mexidos. O jovem fica ao relento,
sob o luar e o céu estrelado.
Todo o alvoroço da noite, toda
a folia e alegria proporcionada pela bebida ruiu. Ali, sentado
a dormir, ele perde a noção do tempo. Não se importa com
os vizinhos. Não dá para medir a vergonha do dia seguinte.
Nada disso é ponderado e avaliado. O que conta é o momento.
O prazer é o mais importante. Contudo, o fim do prazer é
a vergonha e o vazio. É a incapacidade de nem sequer abrir
uma porta.
Dormindo ali, ele não vê que
às horas passam. Uma mãe preocupada e amorosa não consegue
adormecer sossegadamente. Acorda muitas vezes durante a
madrugada. Vai até o quarto do filho. Chora em silêncio.
Suplica a Deus para que o guarde e o traga em bem para casa.
Ela não concorda com a vida que ele leva. Não aceita aquele
padrão, corrigi-o, exorta-o, mas ele parece não reagir.
Enquanto ele dorme, quase que desmaiado na porta de casa,
a mãe chora e suplica por sua vida.
Um jovem cheio de sonhos e expectativas
está caído na porta de sua casa. Dorme sob o efeito do álcool.
Dorme anestesiado, não se dá conta de que a vida está a
passar ao lado. Não percebe que sua tentativa de mostrar-se
agradável, presente fala mais da sua ignorância do que outra
coisa. Não vê que está a ser dominado pela bebida e seus
projectos ficam todos para trás. Enquanto isso, sua mãe
chora. Sua mãe não desiste. Ela persiste em ver o filho
bem. Ela tem a esperança de que algo de extraordinário irá
acontecer e seu filho mudará. Ela continua a chorar e pedir
a Deus que guarde o filho. Na sua aflição e súplica, dirige-se
até à porta, pois o dia amanhece. Ela é impulsionada para
lá. Quer ficar com a porta aberta para receber o filho.
Quando ela abre a porta, o filho cai inconsciente. Cai como
um morto. Ela sofre. A raiva toma conta do seu ser, mas
também a gratidão, pois Deus respondeu sua súplica e o filho
está em casa.
Envergonhada e triste, ela arrasta-o
até o quarto. Ela está com o coração partido, mas mesmo
assim, ela olha para aquele filho, que é o filho das suas
tristezas na esperança de que ele um dia venha a lhe conceder
alegrias.
O jovem dorme. Seu sono pesado
é resultado da sua insensatez. Ele dorme tranquilo, sem
perceber a dor que causa a todos os que estão à sua volta.
Dorme e seu sono fala do modo como ele tem matado lentamente
sua mãe.
Um novo dia desponta. Uma mãe
triste por ver o modo como o filho está se destruir chora.
Um filho inconsciente dorme preso pelas garras do prazer
indómito que o domina.
Um jovem dorme vencido pela sua
ignorância e estupidez. Uma mãe chora sua tristeza marcada
pela esperança.
Segue a pastoral que escrevi
para o boletim de nossa igreja.
Estou a tratar das nossas doutrinas. Grande abraço, Marcos 60. Quem é Deus? (06/10/06) É fundamental
reflectirmos sobre quem é Deus, como ele é e qual é a
sua natureza? Mas porque pensarmos sobre Deus, em pleno
século XXI? Devemos reflectir sobre Deus, porque "a ideia
que temos de Deus determina não só a natureza da nossa
religião, suas caracterísitcas, etc, como também a firmeza
da nossa teologia. Descrever Deus é, a um tempo, descrever
nossa teologia e definir a nossa religião. Um sistema
religioso é forte ou fraco, segundo a sua ideia de Deus".
Sendo assim, o que nossa denominação pensa sobre Deus?
Nossa declaração de fé diz o seguinte: "Há um só Deus vivo e verdadeiro; Ser pessoal infinito, inteligente e espiritual: o Criador, Redentor Sustentador e Legislador do universo, digno do mais puro amor, reverência, adoração e obediência. O eterno Deus revela-se a nós como Pai, Filho e Espírito Santo, com atributos distintos, mas sem divisão de natureza, ser ou essência." Deus revela-se de três formas distintas? Então são três deuses? Claro que não! Nós cremos na unicidade de Deus. A Bíblia diz que Deus é um. Deus é uno. Falar que Deus é uno é falar da unicidade dEle. Significa então que: "A Divindade não pode ser dividida. É uma unidade indivisível. Mesmo tendo a trindade, temos uma unidade porque não há conflito na trindade nem pode ela ser entendida como triteísmo, que significa três deuses em um só. Na divindade não há conflito de opinião nem choque ou luta por poder." Sendo assim, devemos entender que cada uma Pessoa da Trindade é Deus. Portanto, são iguais na autoridade, na glória e no poder. Cada qual é igual às outras e digna de receber o mesmo culto, a mesma devoção, a mesma confiança e fé. "Deus é um Ser unificado." A Bíblia diz que Deus é e ponto
final. A Bíblia não tenta provar a existência de Deus.
É bom sabermos que Deus não necessita de advogados de
defesa. Ele é e pronto. A Bíblia diz que a tentativa humana
é provar que não há Deus (Sl 53.1). E esta tentativa é
loucura. É uma luta vã. Contudo, muitos travam esta luta
porque assumir a existência de Deus traria implicações
éticas. "É melhor não crer do que crer, para a pessoa
que não quer levar uma vida correcta." A negativa de Deus
é para que o homem possa viver a seu bel prazer. Como
escreveu Dostoievski: "Se não há Deus tudo é permitido."
Como é que eu posso conhecer
Deus? Como eu, sendo humano e limitado posso encontrar-me
com o Deus Todo-Poderoso? A realidade é que só podemos
conhecer Deus por aquilo que revelou a nós. "Não poderíamos
conhecer a Deus se ele não se revelasse nas obras da natureza,
no desenrolar da História, na constituição da natureza
humana e, especialmente, no que diz a sua Palavra." Só
é possível conhecermos Deus, porque Ele quis se dar a
conhecer a nós. Ele se revelou na Pessoa de Jesus Cristo
e nos deixou a sua carta de amor, que é a Bíblia.
Deus se revelou. Ele deve ser
adorado e exaltado por cada um de nós. Contudo, muitas
vezes desprezamos o verdadeiro Deus e adoramos outros
deuses. Como saber quem é o Deus da minha vida? "Qualquer
coisa ou qualquer pessoa a quem eu der o primeiro lugar
em meu coração, isso é um deus para mim. Acontece algumas
vêzes a pessoa cultuar a si mesma (II Ts 2:4)." Quem está
a ocupar o primeiro lugar em minha vida?
Deus é. Ele é o Criador e Sustentador
de todas as coisas. Somos suas criaturas. Ele deseja relacionar-se
connosco de modo claro. Contudo, é bom saber que "Deus
prefere discordância sincera a submissão insincera. Ele
leva os seres humanos a sério, dialoga com eles, os inclui
em seus planos e ouve o que tem a dizer." Portanto, nós
também necessitamos levar Deus a sério e reflectir no
que Ele nos revela em sua Palavra.
De alguém com muitas perguntas,
mas que sabe que Deus é real.
Pr. Marcos Amazonas dos Santos
Segue uma crónica melancólica.
Abraços, Marcos 61.Saudade (06/10/06) O tempo não pára. Não nos
damos conta de como ele passa tão depressa. Um dia olhamos
e vemos que alguém já não se encontra connosco. Há um
vazio que foi deixado por alguém que amamos.
O vazio é marcado pela saudade.
A doce lembrança de quem amamos e já não poderemos mais
estar juntos. Fica a lembrança das conversas, dos abraços,
beijos e mimos que foram trocados. A tristeza e a dor
da separação da lugar à lembrança, mas em determinados
momentos esta lembrança se torna em nostalgia.
Hoje a nostalgia tomou conta
de mim. Estou melancólico. Meu desejo era poder deitar
em teu colo e sentir a tua mão a acariciar o meu rosto.
Como eu queria poder sentir o teu toque e ver o teu
sorriso. Quem me dera poder mais uma vez escutar os
teus conselhos. Estou com o coração a sangrar. A saudade
é enorme. É claro que sei que estás bem e que nos encontraremos
novamente, mas o facto é que sinto tua falta.
A última vez que te abracei
foi a treze anos atrás. Celebremos o teu último aniversário
a doze anos, mas mesmo assim, parece que foi ontem.
Como te tornavas uma criança quando recebias as prendas.
Como eras agradecida. Era preciso tão pouco para te
ver feliz. Vivias contentes e satisfeita com o que tinhas.
A generosidade era a tua marca.
Tudo isto são lembranças.
Fruto da saudade que estou a sentir neste momento. Talvez
por saber que se estivesses connosco amanhã faríamos
mais uma festa para ti. Poderíamos ver o teu sorriso
e sentir o teu abraço e acima de tudo receber teus beijos.
Mas isto não vai acontecer. Amanhã acordaremos e viveremos
com a lembrança. Viveremos o corre-corre do dia, mas
lá no fundo estaremos a chorar por não podermos dizer-te:
Parabéns!
O tempo não pára, já cantava
Cazuza e é a pura verdade. Ele voa e com ele vão os
nossos sonhos, ideias e também aqueles que amamos. Contudo,
o tempo não consegue apagar a saudade e o amor que sentimos.
Amor que é alimentado pela saudade. Amor que se recusa
em esquecer. Não dá para esquecer quem se entregou por
nós. Não dá para fazer de conta não nos importa. É claro
que importa. É claro que ainda dói, mas há de chegar
o dia em que esta dor e lembrança desaparecerão, pois
temos a esperança de estamos todos juntos na eternidade
porque para nós há uma esperança e ela consola-nos.
Hoje estou triste e saudoso.
Queria estar ao lado de minha mãe. Não posso, pois faz
treze anos que ela faleceu. Se fosse viva, celebraríamos
o seu aniversário amanhã. Faríamos uma festa do jeito
que ela gostava, mas não é possível. Não há celebração,
não podemos abraçá-la e beijá-la. Apenas viver a saudade
e lembrar que este dia era o seu dia. Era o seu natal.
O tempo voa e dizem que ele
nada melhor que o tempo para tratar das coisas. Durante
estes anos aprendi que o tempo realmente voa, mas ele
não cura as nossas feridas. Se não as tratamos elas
podem infectar e nos destruir. O tempo não tirou a saudade
da minha mãe. Não apagou sua lembrança e a sua imagem.
Não conseguiu tirar a tristeza que reside no fundo do
coração por não mais poder beijá-la. Aprendi a conviver
com esta situação. Alimento a esperança do reencontro.
Consolo-me no facto de saber que o seu amor foi incondicional.
Mas tudo isto, não tira a minha tristeza.
Minha mãe foi exemplo de
mulher, esposa, conselheira, amiga, cristã. Foi uma
Mulher virtuosa. Seus filhos são gratos por todo amor
dedicado. Nós a amamos muito e ela muito nos perdoou
ensinando-nos a conhecer um Deus misericordioso e amoroso.
Hoje a saudade tomou conta
do meu ser. Talvez seja por causa do tempo. Ele está
nublado, chuvoso do jeito que minha mãe gostava. Hoje
tudo me traz à memória a imagem da minha mãe. E toda
a lembrança que tenho é agradável, mas a tristeza me
invade porque não posso abraçá-la e muito menos dizer:
Parabéns.
Hoje estou triste e com saudade
da minha mãe, mas com o coração agradecido por saber
que ela descansa nos braços eternos do Senhor.
Queridos,
Segue mais um texto. Abraços, Marcos Amazonas 62.Colcha de Retalhos(11/10/06) Certa vez, vi uma colcha de
retalhos. Fiquei encantado com ela. Era de uma beleza
ímpar. As mulheres têm a capacidade de reciclar coisas
de um modo extraordinário. O que era apenas resto de panos
se torna uma bela colcha. Pedaços que seriam jogados fora
são unidos e fazem algo lindo.
Comparo a minha família como
uma colcha de retalhos. Retalhos de vida. Retalhos que
unidos criam uma beleza rara. É isto que penso das famílias
e da minha de modo especial. Por que afirmo que somos
uma colcha de retalhos?
Somos os retalhos dos nossos
pais e avós. Nascemos como resultado da união deles, mas
também somos pedaços que saíram deles. Estes pedaços vão
seguir pela vida e construir uma história. Uns criam histórias
belas, que dão orgulho aos pais, outros causam tristeza
e dor e como um pedaço de retalho muitas vezes é deitado
fora.
Lá em casa somos quatro. Dos
retalhos sou o menor. Sou o mais novo de dois casais.
Somos resultado de um amor lindo. Um amor que resistiu
as tempestades da vida. Resistiu as trovoadas da traição.
Prevaleceu e venceu.
Como resultado e retalhos do
amor dos nossos pais creio que posso dizer o seguinte
dos meus irmãos:
Mirza é a mais velha. Ela representa
a calma, a leveza vivida por nossa mãe. Sua aparência
é toda virada para o lado do nosso pai. Seu jeito de ser
é um misto de papai com mamãe. Seu jeito despreocupado
reflecte a esperança e a tranquilidade da dona Amazonas.
Miriam é garra, força. É a
imagem da mãe, sua forma física é o retrato da mãe, mas
sua força e vontade de lutar é a característica do papai.
Determinação, desejo de justiça, tudo isto reflectem o
quanto ela tem do pai nela. É lógico que há muito da mãe.
Moysés é dócil. Seu nome combinada
na íntegra com ele. É um sobrevivente. Nasceu de sete
meses, resistiu. É todo amor. Traz todas as virtudes da
mãe e do pai. Está sempre a correr. Não sabe ficar sozinho.
Tem necessidade de ter muita gente à sua volta. É criança
grande.
Eu, quer dizer, é complicado
falar de nós próprios. Sou o Marcos. O último pedaço da
colcha de retalhos. O que posso falar deste pequeno pedaço
de retalho. Bem, sou o mais parecido com o pai. Muitas
vezes assusto-me quando me vejo no espelho, pois parece
que estou diante do meu pai. Como ele, sou também pastor.
Contudo, também tenho muito de minha mãe. Pelo menos é
o que me dizem. Sempre ouço falar que herdei dela a capacidade
de conversar e aconselhar. Se assim for, tenho tudo para
exercer um bom ministério pastoral, pois do pai herdei
o gosto pela proclamação da mensagem e da mãe a capacidade
de aconselhar. Será que conseguirei honrá-los?
Somos quatro. Sozinhos somos
apenas pedaços que falam da história de amor de um casal.
Juntos mostramos o quão forte foi este amor, pois nada
pode destruí-lo e mesmo o separar.
Somos uma colcha de retalhos.
Mas a verdade é que sozinhos, mal poderíamos formar um
pano de prato. Por isso, estes pedaços de retalhos, uniram-se
a outros pedaços, e da união destes retalhos surgiram
outros pequenos pedaços que foram agregados e a colcha
foi formada. Sei que um dia nossos retalhos sairão, nos
deixarão para formarem sua própria colcha de retalhos.
Espero que nossos retalhos
tenham a mesma convicção e certeza que eu tenho. Espero
que eles olhem para nós e queiram seguir nosso exemplo.
Espero que eles ao falarem das suas famílias possam dizer
que os problemas existiram, foram cruéis e muito duros,
mas nada pode destruí-los, pois o amor reinava na família.
Retalhos são restos que geralmente
jogamos fora. Uma colcha de retalhos, utilizamos para
embelezar nossa casa. Meus pais não nos jogaram fora.
Investiram em nós e formaram uma linda e bela colcha de
retalhos. Esta colcha permanece unida e mostrar toda a
sua beleza.
Somos uma colcha de retalho.
Estamos unidos para toda vida. Nossa união não é apenas
por laços sanguíneos. Nossa união é marcada pelo amor
que fluiu dos nossos pais para nós. Colcha de retalhos.
Retalhos da vida de Neehmias e Amazonas.
Segue mais uma crónica.
Espero que ela seja um desafio para vós. Abraços, Marcos Amazonas 63 _ Vida ou Morte? (20/10/06) Saio cedo de casa para
levar os filhos à escola. Como sempre ligo o rádio
para ouvir as notícias. Fico surpreso porque ouço
uma reportagem com a direcção de uma clínica espanhola
que está a montar uma filial sua em Portugal. É uma
clínica preparada para realização de aborto. Achei
a entrevista sem propósito, mas a médica disse que
em Janeiro estariam de portas abertas. Pensei, como
ela pode afirmar isto, se em Portugal a lei não permite
o aborto?
O facto é que ontem seria
discutido na Assembleia da República o novo referendo
sobre o aborto. O mesmo foi aceite pela maioria. Sendo
assim, vem aí mais um referendo. A pergunta não menciona
o termo aborto, mas sim, interrupção voluntária da
gravidez. Interessante, é uma interrupção, um corte
abrupto e voluntário decidido pela mãe ou pelo casal,
mas sem dar a oportunidade da criança dizer qualquer
coisa. Num fórum promovido por uma rádio, a maioria
defendia o aborto. Ouvi uma mulher dizer que não é
apenas o acto de conceber e ter a criança, mas todo
o investimento que deve ser feito na formação da criança,
sendo assim é melhor cortar o mal pela raiz.
É verdade, vivemos numa
sociedade que preza a morte. Vivemos numa sociedade
onde os fracos e oprimidos são desprezados. Vivemos
cada dia procurado destruir os que nos atrapalham.
É por este motivo que o referendo do aborto foi aprovado.
Uma gravidez indesejada é um atraso de vida. Atrapalha
e não nos dá benefício nenhum. Sendo assim, o que
temos que fazer é simplesmente interrompê-la. Falando
assim, parece ser algo simples e sem problema nenhum.
É interessante que em momento algum falam dos métodos
utilizados para o aborto e muito menos das consequências
psicológicas do mesmo. É a mentalidade de que a gravidez
é um problema, um fardo e ele deve ser arrancado e
deitado fora.
As mudanças ocorrem lentamente.
Olhamos para os velhos e vemos que a maioria está
a ser levada para lares da terceira idade. Os filhos
não se preocupam com eles. Os depositam lá e seguem
a sua vida. Estão a se desresponsabilizar. Agora a
luta é para a aprovação do aborto e depois será pela
eutanásia. Cada vez mais veremos o ser humano engajado
em projectos de autodestruição, pois aquilo que semeamos
colheremos.
Quando ouço notícias deste
tipo, quando vejo a cultura da morte à minha volta,
lembro-me sempre da música que diz que “a morte saiu
à rua”. É a pura realidade, pois nossa cultura é niilista,
hedonista e acima de tudo sanguinária. Há um prazer
mórbido em nossos dias. A maldade é o que está na
moda.
Diante de um desafio como
este, fico a pensar onde estão aqueles que se levantam
e procuram glorificar a vida. Onde estão aqueles que
fazem uma revolução silenciosa que modifica as estruturas.
Será que esta revolução foi feita pelos impiedosos?
Onde estão os homens e
mulheres como Mohandas K. Gandhi, que fez o comandante
Mountbatten dizer: “No meu front ocidental, tenho
100 mil soldados e um derramamento de sangue que não
cessa. No meu lado oriental, tenho apenas um velho
homem, e nenhuma gota de sangue foi derramada.” Onde
foram parar homens como Martin Luther King Jr? Homens
que em meio a uma cultura de morte, uma cultura segregacionista,
amavam os intolerantes e os olhavam como seres humanos.
Necessitamos de homens e mulheres que digam como King:
“Igualaremos a vossa capacidade de infligir sofrimento
com a nossa capacidade de aguentar o sofrimento. Iremos
ao encontro da vossa força física com a força da nossa
alma. Fazei-nos o que quiserdes, e continuaremos a
amar-vos.”
Necessitamos de mulheres
como Madre Teresa de Calcutá, que apenas pediu que
as mulheres não abortassem, mas que se não desejassem
as crianças ela as receberia com todo o amor.
Necessitamos de homens
como Nelson Mandela que depois de passar vários anos
na prisão saiu e unificou o seu país com amor e perdão.
Diante da cultura da morte,
precisamos de pessoas que vivam a cultura da vida.
Pessoas que valorizem o ser e não o ter.
Onde estão os Gandhis,
Kings, Mandelas, Teresas de nossa época?
Em breve teremos um referendo
sobre o aborto. Em breve teremos que decidir entre
a vida e a morte. Precisamos tomar uma decisão conscientes.
Necessitamos ver em que lado nos encontramos.
Eu prefiro fazer parte
do pequeno grupo que ama a vida. Fico do lado dos
que fazem a revolução da vida, mas a revolução do
amor.
A vida e a morte estão
diante de nós. Que possamos escolher a vida.
Segue a última crónica que escrevi. Abraços, Marcos 64_ Adolescência (20/10/06) É a fase da vida em sabemos
tudo. Ninguém sabe mais do que nós.
É a fase da vida, onde
tudo é passageiro, rápido e em que vivemos intensamente.
É a fase em que nos apaixonamos e dizemos que este
amor é para toda vida, mas logo ele se vai e dizemos
que nunca mais amaremos ninguém e sofremos profundamente,
mas em seguida nos apaixonamos novamente e dizemos
que este é o amor da nossa vida. É também a fase em
que encontramos um amor platónico. Temos uma relação
que jamais se concretizará, mas para nós ela é a melhor
de todas.
Nós namoramos com a outra
pessoa, mas ela não namora connosco. Nós a amamos
profundamente, mas a outra pessoa no máximo nos tem
como amigos e isto basta-nos. Quando recebemos um
aperto de mão, não a queremos lavar durante a semana
toda. Receber um beijinho então…
Esta é a fase em que os
pais são uns chatos, retrógrados que tentam controlar
nossas vidas. Eles só nos dão opiniões erradas e ficam
a se meter onde não são chamados. É fase em que queremos
sempre irritá-los e a provocá-los, pois eles estão
ultrapassados e nós somos os que vivem no tempo certo.
É a fase onde não somos
crianças, mas também não somos jovens e muito menos
adultos. Não queremos estar no meio das crianças,
os jovens não nos querem no meio deles. Criamos o
nosso gueto e vivemos ali fechados. É a fase das indefinições,
depressões e muitas complicações.
É a fase das mudanças.
A voz muda, o corpo transforma-se, vivemos inquietações
e frustrações. É tudo estranho, mas também desafiante
e estimulante. Tudo o que desejamos é ser aceites
amados.
É no meio de toda esta
situação que vamos amadurecendo. É assim que se vive
a adolescência. Com lutas, frustrações. É a fase de
muitos erros, mas também de acertos e afirmações.
É a fase da vida onde se consolidam grandes amizades
e se criam sonhos para toda vida.
Já não sou adolescente.
Já não vivo estas inquietações, apesar de ver meu
corpo em transformação, pois agora estou a crescer
para os lados. Já não vivo um amor platónico, agora
vivo um amor para toda a vida. Trago sonhos que carrego
desde aquela época da vida. Um deles é o sonho da
escrita. Sempre gostei de escrever e na adolescência
me imaginava como escritor. O sonho não se concretizou,
mas continuo a rabiscar. Quem sabe um dia aprendo
a escrever.
Já não sou adolescente.
Hoje sou pai e tenho um filho que está a entrar
na adolescência e luto para que os dilemas existenciais
seja minimizados. Luto para que ele continue a olhar
para o pai como olhava enquanto criança. Luto para
não pensar que sou o dono da verdade e que meu filho
não sabe nada e que me deve obediência cega. Travo
esta luta comigo mesmo porque sei que a luta que ele
trava consigo próprio é ainda muito pior e se não
tiver ninguém ao seu lado será catastrófico.
Luto com todas as minhas
forças, pois não quero que meu filho seja como eu.
Não quero que as experiências que eu vivi sejam vividas
por ele. Contudo, procuro ser um pai presente, mas
não opressor. Tendo ser amigo e democrático, não um
ditador. É claro que meu filho escuta muitas vezes
a palavra não e ela faz parte da formação de todo
ser humano e uma coisa que tenho aprendido na minha
vida é que é a palavra que mais iremos escutar neste
mundo.
A adolescência é a fase
das mudanças radicais. Já não sou adolescente, mas
reconheço que preciso mudar a cada dia. Vejo que e
impossível para mim permanecer o mesmo. Meu próprio
corpo muda. Contudo, há valores que não podem ser
mudados. Há princípios que são para toda vida. Estes
eu aprendi em criança. Lutei contra eles na adolescência
e hoje transmito-os aos meus filhos. Espero que eles
sigam o meu exemplo, mas que não cometam os mesmos
erros que eu cometi na fase mais tumultuada e mais
gostosa da vida que é a adolescência.
Adolescer é crescer.
Adolescer é amadurecer.
Que meu filho saiba trilhar
este caminho. Que ele tome as decisões certas, mas
por mais que ele erre e vai errar muito, poderá contar
sempre com o meu amor incondicional como eu também
um dia contei.
Estou a pregar sobre o livro
de Jonas.
Sendo assim, segue a primeira mensagem que preguei sobre o mesmo. Abraços, Marcos 65. O Senhor Fala Jonas 1.1-2 (27/10/06) O livro de Jonas é muito actual.
Contudo, é um livro desconhecido pela maioria. Todos sabem
que ele foi engolido por um grande peixe. O chamam de
profeta fujam, mas poucos se aprofundam no estudo do livro.
Jonas é apaixonante. Ele é “o mais interessante de todos
os profetas da Bíblia. Isto porque Jonas é seguramente
o mais parcial, extravagante e humano de todos eles.”[1]
Estudar o livro de Jonas é
reflectir sobre a graça de Deus. É reflectir sobre a vida
da igreja e ver que muitas vezes, ela age como agiu o
povo de Deus no passado e o seu profeta. Fecham-se para
o mundo e vivem enclausurados para si mesmo e por isso
deixam de ser bênção para os demais.
Não esqueçamos nunca que os
“profetas estão solidamente enraizados na situação político-social,
tanto de Israel como das nações vizinhas.”[2] Por causa
disto, o profeta vive todas as questões políticas dos
seus dias. Ele tem suas preferências. Suas preferências
fazem-no esquecer que o povo de Israel deveria ser bênção
para todos os povos.
Israel deveria ser bênção para
todas as nações (Gn 12.1-3). Portanto, podemos dizer que
o livro de Jonas, “gira em torno da extensão da graça
de Deus aos gentios. É mais uma aplicação de Gênesis 12:3.
Boa parte daquilo que ensina se centraliza no caráter
de Deus conforme a revelação do mesmo já feita em Êxodo
34:6.”[3] Quando paramos e reflectimos sobre isto podemos
ver que é possível ter uma ortodoxia correcta e viver
distante dela. É por este motivo que Von Rad diz: “A verdadeira
falta de Jonas consiste em que, apesar de sua ortodoxia,
se mantém separado. Isto aconteceu tanto no barco como
em Nínive: quando a vida e a morte estavam em jogo, colocou-se
à margem, num lugar extremamente inconfortável.”[4]
A igreja necessita parar e
rever à sua atitude. Deve deixar seu complexo de inferioridade
e assumir uma postura séria diante do mundo. É o momento
de olhar para fora e ver que nosso chamado é para ser
luz para as nações (1 Pe 2.9). Somos o povo que foi resgatado
para glorificar a Deus. Contudo, enquanto aqui vivermos,
nossa adoração nos direcciona ao nosso próximo. Quando
olhamos para o livro de Jonas, vemos que nossa visão deve
ser alargada. Precisamos compreender que o nosso chamado
é para sermos bênção para todos os povos.
Antes de continuarmos, vejamos
qual era o contexto de Jonas.
Jonas é filho de Amitai (amizade),
profetizou na época de Jeroboão II de Israel, portanto
viveu aproximadamente no ano de 750 a.C. Ele é citado
em 2 Reis 14.25. Ele profetizou para o reino do norte
de Israel. Aquele era um tempo muito difícil. O regime
de Jeroboão II era terrível. Ele era um rei perverso que
fez o que era mal aos olhos do Senhor (2 Rs 14.24). Apesar
disto, Jonas profetiza que o Senhor iria restaurar as
antigas fronteiras, o que aconteceu (2 Rs 14.25-28).
Aquele era um tempo de ameaças.
Israel corria o risco de ser extinto como nação (2 Rs
14.27). A pobreza imperava na nação (2 Rs 14.26), praticamente
não havia hierarquia social. Apenas uma pequena minoria
era rica (2 Rs 15.20). Apesar disto, o governo investia
fortemente em armamentos e por isso expandia seu militarmente.
Foi um tempo de restabelecimento e conquista (2 Rs 14.25;28).
Neste ambiente de guerra, Jonas partidarizou-se com o
seu país e passou a odiar os seus adversários e o maior
destes era a Assíria, que tinha Nínive como capital.
Já vimos o contexto de Jonas.
Agora vejamos um esboço do livro para que possamos compreender
o plano do autor e também ter uma compreensão global da
obra.
O esboço que utilizaremos é
simples, mas nos aponta bem o conteúdo da obra. Vejamos
o que temos:
Comissionamento e Fuga – Capítulo
1
Redescobrindo a oração – Capítulo 2 Obediência e Salvação – Capítulo 3 Aprendendo sobre o amor do Senhor – Capítulo 4 Tendo isto em mente, vejamos as implicações do livro de Jonas para as nossas vidas. Vejamos o que ele nos ensina. 1 – O Senhor sempre toma a
iniciativa de falar ao seu povo 1
Aqui é que começa a história.
O texto inicia com Deus falando. É assim que deve ser.
O povo de Israel deve viver a ouvir a palavra do Senhor
e deve viver sob a autoridade da Palavra. Este foi o problema
do povo de Israel. Deixou de viver sob a orientação da
Palavra. Agora a Palavra vai deixar Israel. Jonas é enviado
para pregar aos pagãos. Ele é enviado para ser bênção
aos que não fazem parte do povo de Deus.
Ele, que profetizava a expansão
territorial. Agora é chamado para pregar aos que ele ideologicamente
considera inimigo. Ele é comissionado pelo Senhor para
manifestar a graça do Senhor e também o que o nome de
seu pai e o seu próprio significam. Seu pai chamava-se
Amitai, que significa amizade. Ele é Jonas, que significa
pomba. Representa a paz. Ele é chamado pelo Senhor para
levar a amizade e a paz à nação cruel da Assíria. Ele
é chamado para manifestar a autoridade do Senhor.
O texto nos mostra que a iniciativa
é do Senhor. Foi o Senhor quem falou: “Levanta-te, vai
a grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque
a sua malícia subiu até à minha presença.” Aqui está uma
palavra com autoridade. Note que o Senhor levantou profetas
porque a religião havia se corrompido. O povo tinha virado
às costas ao Senhor. O povo tinha perdido sua autoridade
e por isso não servia de bênção mais aos povos à sua volta.
O povo de Israel havia perdido o respeito das outras nações.
Havia perdido sua autoridade. Este também é o problema
da igreja actual. “O que está a faltar para a igreja actual
é uma palavra com autoridade. A palavra com autoridade
não se encontra aqui; a igreja a perdeu e por isso o mundo
tem rejeitado a igreja. A igreja já não tem o respeito
do mundo. A igreja perdeu sua autoridade porque não está
a pregar a mensagem que o Senhor lhe entregou para proclamar
ao mundo. Sendo assim, o que está a faltar hoje é uma
palavra com autoridade, uma palavra que venha de fora;
uma palavra que não seja do homem, não o que o homem pode
produzir, mas algo que vem do outro lado de Deus para
o homem.”[5]
Deus fala a Jonas. Deus o chama
e o envia. É o Deus a agir na história e através da história.
Não é a palavra do homem. Não é uma religião fechada,
enclausurada, mas aberta para ser bênção aos demais. Jonas
estava impregnado de história. Era alguém que olhava somente
para dentro. Estava hermeticamente fechado. Jonas era
nacionalista. E o seu nacionalismo o fechou na sua história.
O facto é que: “O excesso de história na perspectiva histórica
de Jonas lhe roubara o desejo de viver na história. Isto
porque ninguém vive só de história. Sem trans-história
a própria história perde seu valor histórico. O temporal
só tem sentido se for vivido com a perspectiva do eterno.”[6]
É aqui que o Senhor aparece e fala. É aqui que o Eterno
se manifesta e rompe com o temporal.
Deus vem ao encontro do homem
com a sua Palavra. Toda a iniciativa é de Deus. No Éden
é o Senhor quem busca a Adão (Gn 3.9). Quando o povo estava
no cativeiro o Senhor veio e chamou Moisés (Ex 3.4-9).
Deus vem ao nosso encontro. Ele toma a iniciativa de nos
resgatar. Jesus veio ao mundo ao nosso encontro. Ele veio
para nos salvar. Ele convida a todos que estão casados,
sobrecarregados a se achegarem a Ele (Mt 11.28-30). Deus
toma a iniciativa. Ele chama-nos. Ele se manifesta ao
homem. Ele fala com autoridade. A iniciativa nunca é nossa
é de Deus.
Foi o Senhor quem disse a Jonas:
“Levanta-te”. É o Senhor que fala connosco. É Ele quem
nos comissiona e nos entrega a sua mensagem.
2 – O Senhor sempre vai falar
através dos seus eleitos 1
Deus sempre vai levantar seus
arautos para manifestar a sua mensagem. Deus não fala
através de estranhos. Ele fala através do seu povo. Ele
fala através daqueles que Ele comissionou. É interessante
ver na Bíblia que muitos daqueles que foram chamados por
Deus para falar ao povo, questionavam: “por que eu?” O
que é maravilhoso no nosso texto é ver que Jonas tem prazer
em falar ao seu povo, mas quando é para falar aos de fora
ela não diz nada. Simplesmente foge. Contudo, é bom notarmos
o seguinte: “O livro de Jonas nos mostra que a prerrogativa
de Deus é fazer aquilo que Ele deseja fazer. Deus tem
um trabalho para ti fazeres e talvez, quando isto chega
a ti como vontade de Deus a tua pergunta é: Por que eu?
Tu serás uma pessoa sábia se obedeceres imediatamente.
Não entre em vários problemas, discutindo com Deus, rebelando-se
contra Ele, porque eu aviso-te, Deus tem meios para realizar
os seus caminhos.”[7]
Deus age na história através
do seu povo. Israel foi o povo escolhido para ser bênção
para as demais nações (Gn 12.3). O povo ficou fechado,
se enclausurou, mas o Senhor veio e mostra ao povo através
de Jonas que a mensagem do Senhor é para todos os povos
e não apenas para Israel. Jonas é um missionário transcultural.
Ele tem que deixar seu país e seguir a uma outra nação
para falar com autoridade a mensagem do Senhor.
Deus nos escolheu e nos fez
seus embaixadores para que possamos anunciar a sua mensagem
(Mt 28.18-20; 1 Pe 2.9). “Deus quer utilizar-se de pessoas
humanas para transformar situações e vidas. O Deus de
Israel não é um Deus que, com uma varinha de condão, interfere
magicamente nos destinos humanos, dispensando qualquer
atuação de seres humanos. Para atingir seus objetivos,
Deus convoca Jonas.”[8]
Da mesma maneira que o Senhor
convocou a Jonas, Ele está a nos convocar hoje. Ele está
a chamar a sua igreja para proclamar a sua mensagem. Já
ouviste o convite do Senhor?
Deus vai se manifestar aos
demais através de ti. Estás disposto a obedecer o Senhor?
Preste atenção, o Senhor vai
falar através de ti. Ele sempre usa os seus eleitos. Jonas
sabia que ser enviado pelo Senhor implicava manifestar
a graça de Deus. E foi por isso que Ele relutou, pois
sabia que a Palavra de Deus era poderosa para salvar o
povo de Nínive (Jn 4.1-2). Contudo, hoje a igreja permanece
quieta. Está calada como estava calado o povo de Israel.
A igreja está na retaguarda como havia ficado o povo de
Israel. A igreja fala para dentro. Grita que o pecado
está a destruir o mundo, mas não faz nada para que a mensagem
do Senhor saia dos seus portões. Agimos como agia o povo
de Israel nos dias de Jonas. Contudo, a grande questão
é porque a igreja age assim? “A igreja está na retaguarda
porque duvida da Palavra de Deus. Como Jonas que duvidou
que fosse o Senhor a dizendo: “Vai a Nínive”, Jonas foi
para outra direcção. A raiz do nosso problema é não acreditar
na Palavra de Deus.”[9]
É interessante notar que quando
é algo que nos agrada a Palavra faz sentido. Quando é
algo que não gostamos fugimos dela. Assim fez Jonas. Contudo,
Deus age e age através do seu povo. Ele vai falar através
de mim e de você.
3 – O Senhor fala através do
seu escolhido para manifestar graça aos povos 1-2
Jonas é enviado a Nínive. Mas
porque esta cidade?
Nínive era uma cidade idólatra.
Tinha como sua deusa Ishtar, que era conhecida como a
rainha dos céus. Esta deusa foi adorada em Israel (Je
7.18). Ela era a deusa da guerra e do amor. Amor aqui
referindo-se a sexo. A existência da cidade era marcada
pela violência e imoralidade.
Quando lemos o nosso texto
não fica claro o tipo de maldade que a cidade produz.
Sendo assim, mais uma vez pergunto: Por que Nínive?
“Nínive ficou famosa por ter
sido a capital de um dos povos mais cruéis do Antigo Oriente,
os assírios. Descobrimos algo mais sobre a maldade de
Nínive e crueldade dos assírios na mensagem do profeta
Naum. Os assírios são comparados a um leão que despedaça
as suas vítimas, que estrangula para encher o seu covil
de despojos (Na 2.12s). Nínive é a “cidade sanguinária,
toda cheia de mentira, repleta de despojos, onde não cessa
a rapina” (Na 3.1).”[10] Estamos a contemplar o pecado
na sua expressão máxima. Violência, sexo e todo o tipo
de crueldade. É em locais assim, o super abunda o pecado
que a graça de Deus se manifesta. Veja o que diz Paulo
quando escreve aos romanos: “Veio porém, a lei para que
a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou
a graça” (Rm 5.20). Por que Nínive? Porque o Senhor deseja
manifestar a sua graça!
A mensagem da ira de Deus é
também a mensagem da graça de Deus. Isto porque o Senhor
não resiste a um pecador arrependido. Jonas sabia disto.
Por isso, ele tenta fugir de Deus. Nós somos chamados
para anunciar a ira do Senhor a esta cidade pecadora.
Somos chamados para proclamar a graça de Deus. Precisamos
compreender o que o Senhor Jesus disse nos seus dias:
“Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão
doentes; eu não vim chamar os justos, mas sim, os pecadores
ao arrependimento.” (Mc 2.17). O propósito do “ministério
de Jonas em Nínive é demonstrar a intenção do Senhor estender
sua graça as nações do mundo.”[11] Este propósito é porque
o Senhor não tem prazer na morte do ímpio. Quando o Senhor
envia sua mensagem, ela é acima de tudo um chamado ao
arrependimento. Jonas compreendia bem isto. Ele sabia
quem era o seu Senhor (4.1-2), e nós conhecemos o Senhor?
Deus não se agrada da morte
do injusto. É isto que o Senhor nos diz através de Ezequiel:
“Desejaria eu, de qualquer maneira a morte do ímpio? diz
o Senhor DEUS; não desejo a antes que se converta dos
seus maus caminhos, e viva? Porque não tenho prazer na
morte do que morre, diz o Senhor DEUS; convertei-vos,
pois, e vivei.” (Ez 18.23;32). A mensagem do Senhor é
uma mensagem de vida. Ele deseja que todos se arrependam
e tenham vida. Não importa quão cruéis eles sejam. Não
importa quantos pecados cometeram. Deus deseja que o injusto
seja justificado. Isto só acontecerá se o seu povo proclamar
a mensagem da graça.
Deus envia Jonas a cidade de
Nínive, a capital do império para condenar o pecado da
cidade, mas sua mensagem é acima de tudo uma mensagem
de esperança para todo aquele que se arrepender, pois
o Senhor deseja que todos vivam.
Jonas é investido de autoridade.
Autoridade do Senhor, para deixar a sua terra e entrar
no território inimigo e proclamar a mensagem do Senhor.
Ele é enviado para anunciar que a graça e a bênção do
Senhor é para todos. Este também é o nosso desafio.
Guisa de Conclusão
O livro de Jonas é tremendo.
Mostra-nos um profeta humano a viver todos os dilemas
que nós vivemos. Creio que é por isso, que não gostamos
tanto dele. Ele é a nossa própria imagem. Suas incongruências,
seus preconceitos demonstram que nós também somos assim.
Seu conhecimento teórico é correcto, mas sua prática é
duvidosa. Será não somos assim também?
Como diz Eugene Peterson: “A
história de Jonas é subversiva. Ela se insinua indiretamente
por meio da comédia e do exagero e invade nossas idolatrias
de carreira aprovadas pela cultura, e enquanto estamos
entretidos e alegres, com as defesas inertes, ela cativa
nossa imaginação e nos leva a um caminho que conduz à
renovação de nossa santidade vocacional.”[12]
Chamar-nos de volta ao caminho
é compreendermos o seguinte:
A iniciativa é sempre do Senhor. Ele dá o primeiro passo
na restauração das pessoas.
O Senhor sempre utilizará o seu povo. Nós somos os seus
mensageiros e devemos em obediência anunciar os seus arautos.
O Senhor manifesta a sua graça através do seu povo.
Que possamos ser renovados
e ver que necessitamos ir ao encontro dos que estão destruídos
pelo pecado e anunciar-lhes a mensagem transformadora
da graça do Senhor.
Que Deus nos abençoe.
--------------------------------------------------------------------------------
[1] D´ARAÚJO FILHO, Caio Fábio.
Jonas o sucesso do fracasso, 1ª Edição VINDE Comunicações,
Niterói, 1991
[2] BALANCIN, Euclides Martins
e STORNIOLO, Ivo. Como ler o livro de Jonas. Deus não
conhece fronteiras, 2ª Edição Edições
Paulinas, São Paulo 1991
[3] KAISER JR., Walter C. Teologia
do Antigo Testamento, 2ª Edição Edições Vida Nova, São
Paulo 1998
[4] RAD, Gerhard Von. Teologia
do Antigo Testamento II, 1ª Edição ASTE São Paulo, 1974
[5] KENDALL, R. T. Jonah
an exposition, 2ª Edition Paternoster Press, Carlisle,
1985
[6] Op. Cit.
[7] Op.Cit.
[8] KILPP, Nelson. Jonas –
Editora Vozes, Petrópolis, RJ Editora Sinodal São Leopoldo,
RS 1994.
[9] Op.Cit
[10] Op.Cit
[11] Op.Cit.
[12] PETERSON, Eugene H., A
Sombra da Planta Invisível, 1ª Edição, Editora United
Press Campinas SP 2001
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