PORTUGAL/COIMBRA
http://www.uniaonet.com/msgmarcosamazonas03.htm . Marcos Amazonas _ Mensagens recebidas no www.uniaonet.com

Outras mensagens sobre o Pr.Marcos Amazonas ver : www.uniaonet.com/euptcoimbra.htm

O Pr. Marcos Amazonas dos Santos, pastor da Igreja Evangélica Baptista de Coimbra, em Portugal, além de excelente pregador, é um exímio escritor. Seus textos, além de encantadores, são confortadores. Ele estará publicando seus sermões e escritos num grupo específico. PARA INSCREVER-SE Envie um e-mail em branco para artigosprmarcosamazonas-subscribe@yahoogrupos.com.br O sistema lhe enviará um pedido de confirmação. Reenvie do jeito que vier. Pronto. (Via _ Pr.Wagner/Osasco) 20/07/06

Índice das Mensagens Recebidas do Pr.Marcos Amazonas :

www.uniaonet.com/msgmarcosamazonas02.htm
01. A Base da Estabilidade Familiar é a Palavra de Deus (17/4/05)
02 . Obedeça o Senhor (
23/4/05 )
03. Reflectindo sobre a Família (01/05/05)
04 . A busca (15/5/05)
05. Fique Atento (22/5/05)
06. Igreja: Uma família para as famílias (29/5/05)
07. Ser Pastor (11/6/05)
08 : Firmes no Senhor 19/06/05
09: O Pão da Vida (26/06/05)
10: Propriedade exclusiva do Senhor
11. O motivo certo
12. Apertar o Cinto(10/7/05)
13. Egolatria (30/8/05)
14. Olhando para dentro de si mesmo (1/9/05)
15. Como exercer o ministério pastoral?(20/11/05)
16. Uma Igreja Vitoriosa (21/11/05)
17. Valorizando a comunhão (27/11/05)
18. Tema: A tarefa diária da Igreja (27/11/05)
19. Firmados na Palavra (03/12/05)
20. Tema: Cumpra-se em mim segundo a tua palavra (04/12/05)
21. Crescer é Preciso 10/12/05
22. O que desejar neste novo ano? (3/1/06)
23. Liberdade Ministerial 7/1/06
24. As consequências do pecado em relação a Deus
25. Pecado: o inimigo do discipulado (21/01/06)

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26. Nós a Igreja (1/2/06)
27. As consequências do pecado em relação ao meu próximo ( 05/02/06)
28. A Mensagem do Senhor (08/02/06)
29. Não me façam mentir! (10/02/06)
30. A queda do orgulhoso ( 15/02/06)
31. Perdão Leia Lucas 23.34 (16/02/06)

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Continuação :
32. Desculpas que Deus não aceita (17/02/06 )
33. Memória (20/02/06)
34. Não seja como Carolina (20/02/06)
35. Não sobra nada (22/02/06)
36. Preconceito (22/02/06)
37.Ontem foi o dia mundial da poesia. 22/03/06

38. Saudade da Igreja (26/03/06)

39. Meu Amigo
40. Meu irmão (29/03/06)
41. O Vento
42. Crueldade (30/03/06)
43. Silêncio (11/04/06)

44.A Família como Grande Centro Social
45.Cidade Maravilhosa
(15/04/06)
46. Há um tenor a cantar no céu . 07/05/06
47. O velho (10/05/06 )
48. Testemunhando em meio as tragédias da vida (04/06/06)
49. O que é isto na tua mão? (13/06/06)
50. A Resposta (10/07/06)
51. Meu Protesto - Set.1999 (recebio em 20/07/06)
52. Ana a pregadora 06/09/06
53. A separação das águas (10/09/06)
54. Desafios (10/09/06)
55. Nem herói, nem bandido
Nova criatura (16/09/06)
56. Pelegrinação (22/09/06)
57. O Amigo (02/10/06)
58.Vida Nova (03/10/06)
59.Insensatez (04/10/06)
60. Quem é Deus? (06/10/06)
61. Saudade (06/10/06)
62. Colcha de Retalhos(11/10/06)
63 . Vida ou Morte? (20/10/06)
64. Adolescência (20/10/06)
65. O Senhor Fala
Jonas 1.1-2 (27/10/06)



Mensagens Atuais ver : http://www.uniaonet.com/msgmarcosamazonas.htm


Queridos,
 Segue a mensagem que preguei no último domingo.
Ela é a continuação das mensagens que estou a pregar sobre o pecado. Sendo assim, preguei duas mensagens antes desta. Se alguém nas as tiver e desejar é só me avisar.
Também informo que tenho as apresentações das mesmas. Estão disponíveis para todos os que solicitarem.
É verdade, como costumo editar o meu texto pela madrugada, não o corrijo. Depois eu vejo as falhas todas. Contudo, prefiro deixar que ele siga com os defeitos. É como saiu. A correcção fica sempre para segundo plano.
Meu desejo é que esta mensagem edifique as vossas vidas.
 Abraços, Marcos
- -
Queridos,
 
Segue a pastoral do domingo passado.
Esta é a quinta pastoral que escrevi sobre a minha perspectiva ministerial. Se alguém desejar as outras quatro pastorais é só avisar.
 
Abraços,
 
 
Marcos
 
26. Nós a Igreja (1/2/06)
 
Estamos a reflectir sobre a igreja e seu modo de ser. Já vimos que ser igreja é ser família. É viver em comunhão. A comunhão só é possível quando vivemos firmados na Palavra de Deus. Estas três caracterísiticas, sendo vivenciadas a igreja cresce naturalmente. Crescer é preciso. Todos preciamos crescer e a igreja também.
 
A olhar para as declarações feitas anteriormente, podemos concluir que a igreja não é o edifício, mas as pessoas. A igreja não é uma estrutura sólida que vive presa às leis e vontades humanas. A igreja sou eu e cada um dos irmãos. É o povo de Deus. Sendo assim, devemos compreender, que a nossa prioridade não são actividades, programas, mas relacionamento íntimo e pessoal uns com os outros. Não sou contra os programas, mas devemos tomar cuidado para que eles não venham a roubar nossa comunhão e o nosso relacionamento. Temos que lutar contra o activismo que na maioria das vezes nos rouba o tempo que poderíamos passar juntos a desfrutar de momentos gratificantes uns com os outros. A igreja é os seus membros.
 
Ser igreja é poder conhecer e ser conhecido de modo pleno. Não é encontrarmo-nos uma vez por semana. Vermo-nos todos arranjados, com ar compungido, muitas vezes sérios e carracudos e depois despedirmo-nos para encontrarmo-nos no domingo seguinte. Isto não é ser igreja.
 
Ser igreja é poder sorrir juntos, mas também chorar juntos. É partilhar as refeições (Act 2.46-47). É poder encontrar-se para falar sobre as coisas da vida e edificar-se mutuamente. É cair na graça do povo, porque a graça é demonstrada na vida. É viver livre do legalismo e do preconceito que tenta escravizar Deus dentro da nossa caixa teológica e também escraviza-nos para que não possamos ver a beleza do povo de Deus. É interessante ver o final da carta de Paulo a Filemom. Ele cita várias pessoas ali. Creio que "Paulo mostra que seus irmãos são cooperadores. Ele não diz o que cada um faz. Ele não se preocupa com a posição social e a profissão das pessoas. Ele olha para as pessoas e diz que elas valem pelo que são, seres humanos valorosos e amados do Senhor e que amam o Senhor. Não há acepção de pessoas. Todos são iguais e devemos lembrar que esta carta trata da questão de um escravo que fugiu e agora regressa e deve ser recebido como irmão na fé. Fala da questão da ofensa e do perdão. Pessoas devem ser amadas e valorizadas pelo seu valor intrínseco.
 
A igreja somos nós. Não é o pastor. Não é a direcção. A igreja é os seus membros. Antes de apresentar os defeitos, pense naquilo que está a fazer como igreja. Isaltino conta a seguinte história: "Uma jovem perguntou a seu pastor: "Por que a igreja não está crescendo?". O pastor respondeu: "Porque você não está evangelizando". Para a moça o pastor era o responsável pelo crescimento da igreja e pelas conversões. Ela se queixava." Queixamo-nos de que? Será que pensamos que a igreja é a estrutura?
 
Que tipo de igreja queremos? Queremos uma igreja relevante, espiritual, evangelizadora, amorosa, envolvida com o reino de Deus. É bom saber que a igreja será exactamene igual aquilo que nós somos. Sendo assim, se eu vivo a criticar, a igreja será mais uma agência de reclamações do que outra coisa. Será sempre cheia de má vontade.
 
Eu sou a igreja. Tu és a igreja. A igreja será relevante quando formos relevantes. Será espiritual qual formos espirituais. Manifestará o poder de Deus à sociedade quando orarmos. Será evangelizadora quando nós evangelizarmos.
 
Nós somos a IBC. Uma igreja linda. Igreja que ama o Senhor. Temos falhas e defeitos, mas não nos acomodaremos. Mediante a avalição que fizermos, mudaremos para que a Gloria do Senhor seja sempre uma realidade em nós (Rm 12.1-2).
 
Pr. Marcos Amazonas dos Santos

Queridos,
 
 
Segue a mensagem que preguei ontem.
Não pude enviá-la no horário habitual, pois estava com problemas na minha conexão. Aliás o problema persiste, mas consegui remediá-lo.
 
Abraços,
 
 
Marcos
 
 
Texto: Génesis 3.11-13
 
27. Tema: As consequências do pecado em relação ao meu próximo ( 05/02/06)
 
Introdução
 
Deus Criou o mundo perfeito. Um mundo belo e maravilhoso, onde todos eram tratados como iguais. Não havia maldade. A paz reinava. Quando pecado entrou na humanidade, o caos foi instaurado. A violência passou a ser uma realidade. A desigualdade e a exploração se tornaram presentes.
 
Deus criou um mundo perfeito. Com um pecado nós criamos um mundo desigual.
 
As consequências do pecado em relação ao próximo são muitas, mas creio que podemos pensar na seguinte canção:
 
 
 
Somente pense em todas aquelas bocas esfomeadas que temos de alimentar
 
De uma olha em todo o sofrimento que nós criamos
 
Tantas faces solitárias dispersas por toda nossa volta
 
Buscando por aquilo que necessitam.
 
 
 
É este mundo que nós criamos?
 
O que é que temos feito
 
Este é o mundo que nós invadimos
 
Contra às leis
 
Portanto ele parece que está a chegar ao fim
 
É para isto que todos nós estamos a viver hoje?
 
Para o mundo que nós criamos.
 
 
 
Sabes que diariamente nasce uma criança sem esperança
 
Que necessita de cuidado e amor, dentro de uma família feliz.
 
Em algum lugar, um homem poderoso está sentado em seu trono
 
A espera que a vida siga o seu caminho.
 
 
 
Este é o mundo que nós criamos. Nós o fizemos da nossa própria maneira
 
Este é o mundo que nós temos devastado, directamente até os ossos.
 
Se existe Deus nos céus a olhar para nós,
 
Qual seu pensamento sobre o que nós temos feito
 
Ao mundo que Ele criou[1]
 
 
 
É muito fácil falarmos mal dos que pensam diferente de nós. É muito fácil acusar-lhes. É muito difícil reconhecer-lhes as virtudes e principalmente ver que eles conseguem ter uma visão correcta de coisas que nós não temos. Creio sinceramente que Freddie Mercury e Brian May conseguem visualizar tudo o que temos feito à criação e podem imaginar o quanto o Senhor se preocupa. Este clamor deve ser o clamor dos filhos de Deus. Nós precisamos estar preocupados com o sofrimento do mundo.
 
Este não foi o projecto de Deus. O mundo que temos é resultado do pecado e do modo como temos vivido. É necessário compreender que o ser humano foi criado para viver em comunhão com Deus e com o seu semelhante. Quando o pecado entrou na humanidade o homem se tornou inimigo de Deus e do seu semelhante. Todas as lutas que encontramos no mundo são consequência directa do pecado. Todo acto de dominação e exploração do semelhante é por causa do pecado que domina a humanidade.
 
O pecado afectou a nossa relação com Deus, connosco e também com o nosso semelhante. Sendo assim, vejamos agora as consequências do pecado em relação ao próximo.
 
1 – O pecado faz com que eu atire a culpa sempre ao outro 12 -13
 
O pecado mostra as nossas fraquezas e falhas. Mostra que estamos em falta com Deus e nos conscientiza que merecemos o julgamento de Deus. Entretanto, temos medo desta realidade. Não queremos ser julgados por Deus. Não gostamos de assumir às nossas falhas. Por isso, buscamos sempre alguém para culpar.
 
O texto nos mostra esta realidade. Deus faz uma pergunta directa a Adão e sua resposta é uma fuga. Ele atira a responsabilidade para cima de Eva. Deus fala com Eva e ela responsabiliza a serpente. Creio que se Deus falasse com a serpente, a serpente culparia a Satanás que possui o seu corpo e Satanás culparia Deus, pois Ele não permitiu que ele governasse no céu. Esta também foi a atitude de Adão.
 
Deus perguntou quem havia mostrado a Adão que ele estava nu. Perguntou-lhe se havia comido da árvore que Ele havia ordenado não comesse. Adão diz: “A mulher que me deste por companheira deu-me da árvore e eu comi.” Se atentarmos para esta resposta, Adão culpa muito mais a Deus do que Eva. A culpa é da mulher que tu me deste. Se ela me foi dada por ti, então a culpa é tua. Eu não sou o responsável.
 
O Senhor vira-se para a mulher e pergunta: “Que é isto que fizeste?” Ela responde: “A serpente enganou-me e eu comi”. Eva diz que não tem culpa da serpente ser astuta. Ela foi na conversa da serpente. Aqui acabaram-se as perguntas. O Senhor vira-se para a serpente e é peremptório. A conclusão é que há um momento em que o Senhor diz, basta. Agora é necessário assumir as responsabilidade e às consequências do pecado cometido.
 
Esta atitude de atirar a culpa para o outro é porque não quero assumir a responsabilidade e as consequências do erro cometido.
 
Esta atitude de lançar a culpa sobre o outro é o desejo que cada um tem de ser ilibado da sua culpa. Quando atiramos a culpa sobre os outros pensamos que somos melhores e mais dignos. Somos especiais. Ao culpar os outros vamos cauterizando nossa mente para os nossos erros. Quando a mulher adúltera é apresentada a Jesus, Ele não nega a culpa dela, mas a perdoa. Entretanto, Ele lembra os acusadores dela que eles são tão culpados quanto ela (Jo 8.3-11). O que Jesus mostra que diante dele não existe duas categorias de pessoas. Diante de Jesus não há justos e culpados. Diante dele só há culpados: a mulher, a quem Jesus concedeu o perdão de Deus, e os homens que poderiam recebê-lo, porque reconheceram sua culpa e saíram dali.
 
Essa é a nossa característica. Somos acusadores. Assumimos o papel de juizes, para não sermos julgados. Como afirmou Paul Tournier: “Na realidade, todos somos, não alternadamente mas ao mesmo tempo, acusados e acusadores, condenados e condenadores. (…) Nós somos acusadores porque acusamos e acusados porque acusadores.”[2] Esta realidade mostra que todos nós tentamos assumir o papel de juiz do outro para não ficarmos na condição de réu que carece do julgamento.
 
O pecado faz com que eu olhe para o meu próximo como culpado e indigno da graça de Jesus. Faz com que eu pense que sou mais digno do ele. Cria uma falsa sensação de alívio. Penso que sou cumpridor das leis de Cristo. Porém, o Senhor Jesus disse o seguinte: “Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgais, sereis julgados; e com a medida com que medis vos medirão a vós.” (Mt 7.1-2). Toda acusação um dia irá virar-se contra nós.
 
2 – O pecado faz com que eu me torne inimigo do meu próximo
 
Notamos aqui no texto que a atitude de Adão foi voltar-se contra Eva culpando-a pelo erro que ele cometeu (Gn 3.12). Eva virou-se contra a serpente. É bom notar que Adão não se preocupou com Eva. Não pensou no que ela sentiria. Ele não avaliou as consequências do que estava a dizer.
 
Quando o pecado entra na humanidade faz com que o homem se torne inimigo de Deus e também inimigo do seu semelhante. Em consequência do pecado o homem é um inimigo, uma ameaça em lugar de ser um amigo.
 
Como afirma Bruce Milne: “O pecado traz conflitos e produz as grandes divisões da humanidade. Provoca o preconceito racial e antagonismos. Cria as grandes potências internacionais. Dá lugar as divisões sociais e leva ao conflito entre grupo e classes; separa os que “têm” dos que “não têm”. Traz discórdia para o seio de todos os grupos humanos, sejam educativos, comunitários, sociais, recreativos ou religiosos. Divide as famílias e igrejas. De maneira paradoxal, a ameaça representada pelo nosso próximo nos faz procurar segurança em várias alianças, algumas vezes estranhas.”[3]
 
Essa inimizade é produzida muitas vezes de maneira subtil. Quase não a percebemos. Ela começa com um julgamento, uma crítica e isto vai minando e matando os relacionamentos. É a tentativa de impor-se aos outros. O pecado produz a exploração. O ser humano tenta explorar o outro. O outro torna-se o bode expiatório das nossas fraquezas e da nossa culpa.
 
Veja a declaração de Adão: “Ao que respondeu o homem: A mulher que me deste por companheira deu-me a árvore, e eu comi.” Esta atitude é julgamento e sentença. Ele exclui Eva da sua vida. Ela é que deve expiar o seu erro. O que devemos entender é que o julgamento sempre causa destruição. Há casais que se destróem por causa das coisas que dizem um do outro.  Todo ataque gera um contra-ataque e assim o ser humano vai se destruindo.
 
O pecado faz com que a relação com o próximo seja conflituosa. Faz com que o ser humano busque aniquilar o seu próximo. Sendo assim, quando olhamos para a situação mundial, contemplamos tantas guerras e destruição, podemos afirmar que isso acontece como consequência do pecado em relação ao nosso semelhante.
 
Guisa de Conclusão
 
O pecado é destruidor. Ele destrói nossa relação com Deus. Destrói a amizade e a união que existe entre os seres humanos.
 
Faz com que caminhemos em direcções opostas.
 
Ele nos coloca com um dedo em riste sempre a dizer que a culpa é do outro.
 
Em consequência disto, passamos a vida a tentar dominar o outro e a lutar para que sejamos vencedores. Entretanto, agindo assim, não percebemos que estamos a nos distanciar um do outro.
 
O que fazer então para mudar esta situação?
 
Devemos confessar a nossa culpa. Devemos confessar o nosso pecado. Veja o que diz João: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. “ (1 Jo 1.9). Quando reconhecemos nossas falhas, quando mostramos que a culpa é nossa e assumimos isto perante o Senhor com coração arrependido, Ele nos perdoa.
 
É necessário também confessar nossa culpa e debilidades uns aos outros. Tiago, é enfático e diz: “Confessai, portanto, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. A súplica de um justo pode muito na sua actuação.” (Tg 5.16). A cura passa pelo reconhecimento do erro e pela oração intercessória. Não podemos ficar a nos desculpar. Devemos confessar, reconhecer nossas debilidades e interceder uns pelos outros.
 
Este processo deve começar em mim. Não posso esperar por ninguém. Portanto, quero assumir esta realidade, quero dizer que deve ser a partir de mim. E se o irmão deseja dizer o mesmo eu o desafio a cantar comigo:
 
A começar em mim;
 
Quebra corações.
 
Pra que sejamos todos um.
 
Como tu és em nós.
 
Cantemos apenas esta parte desta belíssima canção como nossa oração de confissão. Cantemos com sinceridade. Cantemos a reconhecer o nosso pecado.
 
Que o Senhor nos dê coragem, que o Espírito Santo toque profundamente os nossos corações para que possamos assumir nossos erros.
 
Que Deus nos abençoe.
 
 
 
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[1] MERCURY, Freddie; MAY, Brian. Is this teh world we created…? Faixa 9 QUEEN, THE
 
WORKS, EMI Records, 1984
 
[2] TOURNIER, Paul, Culpa e Graça: uma análise do sentimento de culpa e o ensino do
 
evangelho. 1ª Edição, ABU Editora, São Paulo 1985
 
[3] MILNE, Bruce, Estudando as doutrinas da Bíblia. 2ª Edição ABU Editora, São Paulo 1991

Queridos,
 
Segue a mensagem de ontem, baseada em Obadias.
 
Abraços,
 
 
Marcos
 
 
28. A Mensagem do Senhor (08/02/06)
Texto: Obadias 1
 
Introdução
 
Vamos agora entrar no estudo da profecia.
 
Obadias inicia com uma declaração muito forte. A visão é de Obadias e é direccionada a Edom. Contudo, se atentarmos para a continuação do versículo vemos que esta visão foi recebida do Senhor. A tradução da Bíblia de Jerusalém capta bem esta declaração, pois ela traz o seguinte: “Recebi uma mensagem da parte de Iahweh”. Sendo assim, a visão que Obadias tem é a mensagem que o Senhor está a proferir para ele. Não sabemos como foi esta visão. Não podemos dizer onde ela aconteceu, mas podemos afirmar categoricamente esta visão faz com que a palavra de Obadias seja uma palavra que deve ser reflectida e pensada por cada um de nós.
 
É importante entendermos logo no princípio que ele diz que teve uma visão. Este termo no hebraico é házôn que entre outros significados pode ser entendido como: “A visão reveladora concedida por Deus a mensageiros escolhidos, i.e., os profetas.”[1] Não é uma simples palavra. Ela tem autoridade divina. Ela vem de Deus e é para ser considerada e escutada como tal. Sendo assim, esta palavra foi para aqueles dias, mas é também para os nossos dias, pois a Palavra do Senhor é actual. Ela não muda.
 
Esta é a profecia de Obadias. É uma palavra rica da parte de Deus para nós. “Obadias parece querer caracterizar bem sua profecia. Ele entendeu muito bem, captou o significado e quer distingui-la do seu próprio pensamento. A forma como ele se expressa é algo premeditado. É seu povo que está em ruínas e ele prega contra um inimigo do seu povo, mas não está extravasando rancores nem expressando desejos íntimos. Esta é uma atitude que exige maturidade e sabedoria.”[2] Obadias não se deixa levar pelas circunstâncias. Não faz um arrazoado motivado pelo que ele pensa. Ele apenas proclama a Palavra do Senhor. Eis aqui uma grande lição para nós, que muitas vezes nos deixamos levar. É fundamental levantarmos a nossa voz, mas uma voz profética e nunca política. É preciso lembrar que a igreja é de cima. Como igreja não podemos apoiar este ou aquele partido. Nossa submissão é sempre ao Senhor. Nossa mensagem deve ser sempre a que o Senhor nos transmite em sua Palavra.
 
Se assim é, vejamos as lições que este versículo nos apresenta:
 
1 – É fundamental saber que a mensagem é do Senhor
 
Fico impressionado com a lucidez de Obadias. Ele diz que tem uma visão. Sua visão é uma visão que vem do Senhor. É revelação de Deus para ele. Não é a sua vontade, não é o seu desejo. É a Palavra de Deus. Eis um desafio muito grande para nós: “anunciar a Palavra do Senhor e somente a Palavra”. Muitas vezes confundimos os nossos pensamentos com a vontade de Deus. Muitas vezes pomos os nossos achismos e os sacralizamos como se eles fossem parte da revelação. É interessante o que diz Isaltino sobre esta realidade: “Algumas vezes as pessoas sacralizam suas opiniões pessoais e valorizam tanto seus desejos que os manifestam como se fossem um oráculo divino. Não sucede assim com Obadias.”[3] Obadias poderia até ser da opinião que Edom era cruel. Poderia até ficar satisfeito com a mensagem que estava a receber, mas ele não faz comentários. Ele simplesmente apresenta o que o Senhor lhe diz.
 
Ele tinha consciência que a mensagem não era sua, mas do Senhor. Temos consciência que a nossa mensagem é do Senhor?
 
Mas sério ainda, ele tem esta consciência e apresenta a mensagem que recebeu. Não acrescenta nada. É fiel ao que o Senhor lhe falou. A mensagem não é adulterada. Como é que temos apresentado a mensagem que o Senhor nos concedeu?
 
Há muita gente acrescentando coisas que não fazem parte da mensagem. Há outras que estão a tirar argumentos que são integrantes da mensagem que o Senhor concedeu. Há alguns que permanecem fiéis. Como é que nós nos encontramos?
 
Há um profeta que admiro muito. É o profeta Elias. É muito interessante ver que ele aparece e proclama a mensagem que o Senhor lhe deu. Some, desaparece por completo e depois reaparece novamente com a Palavra do Senhor. Ele proclama somente o que Deus lhe diz. Este é o maior desafio que nós temos. Anunciar somente aquilo que o Senhor fala. Lembro do tempo que estava em Manaus. Muitas vezes me recusei pregar porque não tinha nada a dizer. Hoje, luto para que aquilo que transmito seja Palavra do Senhor e não apenas uma interpretação do homem. Quero falar aquilo que Deus falou. Se não for assim, prefiro ficar calado. Prefiro deixar o ministério e voltar para a minha profissão.
 
Caio Fábio é de uma lucidez enorme em relação a este aspecto. Ele diz o seguinte: “Quando Deus não falou, o melhor que faço é estar calado. Ou então ter a coragem de falar apenas em meu próprio nome.
 
No silêncio de Deus é melhor falar como ateu sensato do que como profeta devoto que põe na boca de Deus lindas palavras que ele não disse.
 
No silêncio de Deus o homem tem total direito à palavra. Mas tal direito deve ser exercido em nome do homem, correndo ele o risco de ser julgado pela História como homem. O problema é quando no silêncio de Deus falamos em nome dele, ainda que digamos o que há de melhor em nossas sistematizações teológicas. Nossas generalidades de sabedoria teológica não podem ser aplicadas em nome de Deus, da Bíblia, da igreja ou da fé à especificidade de situações totalmente novas. Em tais casos, o melhor a fazer é falar apenas como homem que sonha e ousa ter opinião, deixando de lado todos os possíveis elementos de vinculação entre aquilo que se diz e Deus. Mesmo as nossas melhores exegeses da Bíblia não nos ajudam quando nos defrontamos com tais situações.”[4] Paulo teve esta coragem. Quando escreve aos coríntios, chega em determinado assunto ele diz: agora quem fala sou eu, é a minha opinião (1 Co 7.12ss). É preciso ter discernimento do que é palavra do homem e palavra de Deus.
 
A mensagem que a igreja tem para apresentar não é uma mensagem pessoal, não é uma mensagem política. A mensagem da igreja deve ser sempre a Palavra de Deus. Esta é a mensagem que a igreja deve apresentar ao mundo.
 
2 – É fundamental saber que a Palavra do Senhor é para todos os povos.
 
O Senhor decreta que todas as nações se levantem e o próprio povo também se levante para enfrentar os edomitas. O Senhor é claro em dizer que todo o opressor será destruído. Lutar contra o povo de Deus é ter a certeza de que no fim das contas será derrotado.
 
Quando o Senhor faz uma convocação, todos irão acatá-la, mesmo que não percebam esta realidade. O texto diz: “Temos ouvido”. É a mesma mensagem de Jeremias 49.14 que diz: “Eu ouvi novas da parte do Senhor, que um embaixador é enviado por entre as nações para lhes dizer: Ajuntai-vos, e vinde contra ela, e levantai-vos para a guerra.” O texto é claro e diz que o profeta é um embaixador a chamar os povos a ouvirem no sentido de obedecer aquilo que o Senhor diz. Neste sentido, Kunstmann diz: “Quando, no v. 1, o profeta fala na primeira pessoa do plural, ele quer deixar claro que todos os povos são endereçados pelo próprio Deus, que a eles fala por intermédio do seu profeta, mensageiro e embaixador, cuja palavra é a do próprio Senhor Deus. O profeta faz questão que isto fique claro, para que suas palavras sejam acatadas com a devida atenção e o devido respeito.
 
As demais nações têm em vista seus próprios interesses; mas, sem que saibam, tornam-se apenas instrumentos nas mãos de Deus. Assim, Deus é o líder geral também nesta guerra.”[5]
 
A convocação feita pelo Senhor será atendida. Todos obedecem o Senhor. Ele é o Rei Soberano. Ele dirige e rege todo o universo. É o Senhor quem convoca as nações. É ele quem as levanta com o objectivo de guerrear contra Edom.
 
Este aspecto é interessante, porque além de mostrar que o Senhor reina soberanamente sobre as nações, Ele age na história e através da história. O que se pretende dizer com isto é que Deus controla a história e isto significa que “os valores humanos serão julgados apenas à luz de seus retos propósitos.”[6]
 
O chamado do Senhor é para todos os povos. Todos eles devem obedecer o chamado que o Senhor faz. Aqui há uma relação muito importante. Para quem desejamos fazer a proclamação da mensagem do Senhor? Creio que muitos de nós somos como Jonas e queremos apenas pregar para os nossos, mas em Obadias, percebemos que o Senhor chama todos os povos.
 
Como já disse alguém no passado: “minha paróquia é o mundo”, pois é, meu campo de actuação é o mundo. Não podemos ficar limitados ao espaço geográfico. Precisamos ter a visão de que a mensagem do Senhor é para ser apresentada a todos os povos.
 
3 – É fundamental compreender que o Senhor corrige todo aquele que oprime o seu povo
 
A profecia é contra Esaú. Ele é o opressor de Judá. É o violentador do povo de Deus. Contudo, é bom saber que o Senhor não abandona o seu povo. O Senhor sai em defesa dos seus.
 
O Senhor defende o seu povo. Todo e qualquer ataque feito ao povo de Deus é um ataque ao próprio Deus. Isto fica muito claro na conversão de Paulo (Act 9.4).
 
Jerusalém estava em ruínas. Quem olhava pensava que não poderia surgir mais nada. Muitas vezes nós estamos em ruínas. Talvez por causa dos nossos pecados. Outras vezes porque o Senhor está a nos provar. Não importa, o que importa é que o Senhor está connosco e Ele não permite que ninguém fique a zombar de nós. Ele irá destruir os nossos adversários.
 
Numa linguagem tipológica, Edom representa nossa carnalidade. Mostra como agimos quando estamos a viver como escravos do pecado.
 
O texto diz que o Senhor vai guerrear com Edom. Edom é Esaú. “Não há dúvida que em Esaú a “carne” é atraente. Mas espere: veja como a beleza logo se corrompe. Esaú, o “ruivo” torna-se Edom, “o vermelho”; e sua cor, como a do cavalo vermelho, do dragão vermelho e da besta escarlate em Apocalipse 6, 12 e 17 é um sinal da vida selvagem em seu íntimo. O pêlo, que a princípio indica força, logo passa a representar grosseria animal. Esaú, o forte, torna-se Edom, o selvagem, o caçador, o matador. Afinal, em hebraico, a palavra “Edom” é na verdade uma forma do termo “Adão”. Edom é Adão, e Esaú é de novo a “carne” – exteriormente belo, mas interiormente violento.”[7]
 
Esta luta que é travada aqui é bem personificada no capítulo 7 de Romanos. A luta entre a lei e o pecado. É a luta entre carne e espírito.
 
Esaú representa a carne, Judá é o povo de Deus. O povo que adora o Senhor em espírito e em verdade. Não podemos esquecer então que Esaú representa a carne. A nossa fraqueza e fragilidade, mas também a nossa luta.
 
É importante termos consciência disto. É importante saber que há uma luta, mas que o Senhor está a tomar conta. É fundamental compreender que a carne não pode destruir o que é espiritual. Edom não pode destruir o povo de Deus.
 
Agora a analisar Edom como povo, compreendemos que todos os que se levantam contra os escolhidos do Senhor são derrotados. Todo aquele que se levanta contra a igreja é disciplinado.
 
O Senhor, não permite que se hostilize o seu povo e fique impune. O Senhor não aceita a exploração do ser humano.
 
Guisa de Conclusão
 
O Senhor mostra claramente a sua mensagem. Ele chama-nos para que possamos ver sua manifestação na história.
 
O Senhor convoca-nos para que possamos proclamar a sua mensagem.
 
Chama-nos para que possamos proclamar a todos os povos indistintamente. A mensagem é uma convocatória para todos os povos.
 
Não esqueçamos que o Senhor sempre sai em auxílio do seu povo. Como diz Isaltino: “Não se hostiliza o povo de Deus sem que se hostilize o próprio Deus com isso. Ele vê e sai em defesa dos seus. Sintamo-nos seguros. Há alguém que vela por nós e não deixa impune quem deseja nos fazer mal. E o mal terá fim; não é eterno, Deus o debelará por completo um dia.”[8]
 
O Senhor cuida do seu povo. Ele concede-nos sempre a vitória.
 
 
 
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[1] HARRIS, R. Laird. (Org.) Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento – Edições Vida Nova, São
 
Paulo 1998.
 
[2] COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Obadias e Sofonias: Nossos Contemporâneos; um estudo contextualizado dos
 
livros de Obadias e Sofonias – JUERP, Rio de Janeiro, 1993.
 
[3] Ibid.
 
[4] D´ARAÚJO FILHO, Caio Fábio. Elias está nas Ruas, 1ª Edição, Editora Betânia Belo Horizonte, 1990
 
[5] KUNSTMMAN, Walter G., Os Profetas Menores, comentário bíblico – Concórdia Editora, Porto Alegre, 1983
 
[6] WRIGHT, G. Ernest. O Deus que age – Aste, São Paulo 1967
 
[7] BAXTER, J. Sidlow. Examinai as Escrituras – Edições Vida Nova, São Paulo, 1995.
 
[8] Op.Cit.

Queridos,
 
Acabei de escrever este texto que estou a pensar se será a pastoral deste domingo.
 
Abraços,
 
Marcos
 
 
29. Não me façam mentir! (10/02/06)
 
O ministério pastoral é cheio de aventuras. É uma caminhada que se faz sem saber o que nos espera os próximos cinco minutos. O pastor deve ser o primeiro a chegar o último a sair. Precisa falar com adultos e crianças com a mesma naturalidade. Deve tratar com os de muito conhecimento sem medo, respeitando-os por serem seres humanos. Com os que tem menos conhecimento com o mesmo respeito, pois todos foram criados à imagem e semelhança de Deus.
 
O ministério pastoral tem histórias que marcam as nossas vidas. Umas são alegres, outras tristes. Umas falam das nossas fraquezas e debilidades, outras mostram como nos mantemos firmes, sem negociar nosso chamado e ministério.
 
O ministério pastoral além de ser contemplativo é também um ministério comunicativo. Pastor precisa de tempo para reflectir, orar, buscar a iluminação para poder apresentar a Palavra do Senhor de modo correcto e relevante. Este processo também é comunicação. Mas além da comunicação das "Boas Novas", o pastor deve comunicar-se com as pessoas. É neste processo que a coisa complica, pois comunicar não é fácil. É necessário tudo ser comum para que as pessoas se entendam. É preciso honestidade e coragem para falar abertamente.
 
Gosto de uma boa conversa. Perco a noção do tempo quando estou a conversar. Mas, gosto de conversas sinceras. Se for para rirmos, é para rir e brincar de modo saudável. Quando é para partilhar tristezas é para partilhar a dor do outro. Não gosto de conversa fiada. Não gosto de ser enganado e que mintam para mim. A Bíblia diz que devemos deixar a mentira e falar a verdade (Ef 4.25). A pensar neste texto lembrei-me de uma conversa que marcou minha vida como pastor. Fui visitar um irmão que estava a faltar os cultos. Falamos e disse-lhe que sentíamos sua falta. Ele foi sincero e disse-me que não queria ir à igreja. Aqui reservo-me o direito de não entrar em detalhes. Lembro-me que este irmão disse que se fosse, às pessoas lhe perguntariam o motivo e ele teria que mentir para não chocar os irmãos. Depois concluiu dizendo: "Não me façam mentir!"
 
Jamais esquecerei esta visita. Com ela aprendi uma grande lição que tenho procurado por em prática em meu ministério. Não pergunto porque fulano ou beltrano faltaram. Não quero que mintam para mim, pois na realidade, não estarão a mentir para mim, mas estarão tentando enganar o Espírito Santo e Deus não se deixa escarnecer. Como diz o dito popular: "Graças a Deus muitas, graças com Deus nenhuma." Sendo assim, não quero ser responsável por mais uma falha na vida de ninguém.
 
É verdade que no ministério pastoral, somos postos em situações complicadas. Pastor é chamado para ir na casa de alguém e apresentam-lhe um prato que ele detesta, pedem que ele ore agradecendo e ainda perguntam se ele gostou. Dá vontade de dizer: "Não me façam mentir!" Confesso que não sei dissimular, por isso é mais fácil. Certa vez fui convidado para ir a um jantar e deram-me fígado. A pessoa não era evangélica, pediu-me para orar. Orei, pedi que o Senhor abençoasse aquele alimento. Ela viu que não sou amante de fígado. Perguntou-me e disse-lhe que não sou amante do prato. Enquanto isso, Lílian e Matheus riam por me verem aflitos. Outra vez, fui chamado à casa de um vizinho que tinha um petisco para nós. Era verão. Cheguei em sua casa e eles tinham preparado caracóis. Líliam disse logo que não comia. Fiquei sem graça ao ver a tristeza dos nossos vizinhos e disse-lhes que nunca tinha comido, mas que iria experimentar. Que petisco delicioso. Caracóis são sempre bem vindos, fígado é mais complicado.
 
Nas lides ministeriais, o pastor passar por muitas experiências e tentações. A maior é a mentira. E é bom lembrar que mentira tem perna curta.
 
Aceitem a verdade que digo com amor e não me façam mentir.
 
Pr. Marcos Amazonas dos Santos

Queridos,
 
Segue a mensagem que preguei hoje no culto de oração
 
Abraços,
 
 
Marcos
 
 
30. A queda do orgulhoso ( 15/02/06)
Obadias 2-4
 
Introdução
 
O Senhor agora é quem fala. Já não é uma convocação aos povos, mas uma sentença contra Edom. Não é somente a sentença que é proferida, mas á dado o motivo porque esta sentença é dada. O Senhor diz que os edomitas eram pessoas orgulhosas, presunçosas. Pessoas que pensavam estar seguras e que nada lhes aconteceria. Achavam que eram inatingíveis. Viviam a pensar que estavam em segurança e por viverem nos penhascos, nada e ninguém poderia lhes destruir. Contudo, o Senhor, o Criador dos céus e da terra, diz a este povo presunçoso que o derrubará.
 
Este aviso é para nós também. Deus não tolera a arrogância. O Senhor não suporta pessoas que tentam assumir o seu papel e se fazem deuses para si próprios.
 
É triste ver que esta realidade acontece em nossos dias. É triste ver que há nações que pensam ser melhores que as outras. Povos que se acham inatingíveis e indestrutíveis. É preciso muito cuidado, pois a Palavra do Senhor é muito clara. O Senhor não se deixa escarnecer (Gl 6.7)
 
Os castelos da arrogância um dia ruirão. Toda a vaidade, todo o orgulho um dia serão postos de lado. O Senhor detesta os que praticam a maldade (Sl 5.5).
 
Edom está a ser julgada. O Senhor vai destruir sua arrogância. Vai mostrar que a nação é tão frágil como qualquer outra. Se Deus faz isto com uma nação inteira, o que não fará connosco. O que pensamos de nós próprios?
 
Há pessoas arrogantes. Há pessoas a pensar que jamais serão atingidas. Há pessoas seguras de si mesmas. Pessoas a pensar que não dependem de Deus. Cuidado, o Senhor vai julgá-los.
 
Deus é Deus e não aceita a afronta. Contudo, quais são as lições que devemos tirar para as nossas vidas?
 
1 – Todo aquele que se elevar será humilhado pelo Senhor 2-4
 
O texto é claro. É o Senhor quem está a falar. Ele irá humilhar Edom. A questão é por que o Senhor fará isto? Por causa do orgulho de Edom. O povo achava-se impenetrável. Estava cercado de fortalezas representadas pelos altos montes. A cidade estava situada nas fendas das rochas e as moradias estavam talhadas nas rochas. Por este motivo achavam-se seguros. “O arrogante espírito de Edom por certo brotava de sua crença de ser invencível e impenetrável. Ninguém, pensava ele, obrigá-lo-ia a descer de sua alta habitação. Deus assegura-lhe que, embora ele imite a águia e faça sua residência entre as próprias estrelas, de lá o Senhor o derrubará. (Cp Amós 9:2; Isaías 14:12-20, queda de Lúcifer; Jó 39:27-28). Edom pode ser inacessível ao homem, mas não a Deus. Quanto maior seu orgulho, tanto mais desastrosa a sua queda.”[1]
 
Este princípio se aplica às nações, mas também se aplica a cada um de nós. A nível pessoal, em nossos relacionamentos. Na nossa vida religiosa. Quando olhamos para o nosso semelhante e passamos a julgá-lo e criticá-lo. Dizemos que somos melhores do que ele, devemos pensar nas palavras de Jesus depois de falar acerca dos escribas e fariseus, que gostavam se chamar para si a autoridade e estar em evidência. Jesus disse o seguinte: “Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado.” (Mt 23.12). Não esqueçamos que por analogia Edom é a carne. Edom somos nós e se não tivermos cuidado, corremos o risco de ser humilhados.
 
Há uma ilustração que demonstra muito bem este facto. Num voo da British Airways entre Johannesburge e Londres. Uma senhora branca, de uns ciquenta anos, senta-se ao lado de um negro. Visivelmente perturbada, ela chama a atendente.
 
- Qual o problema? Pergunta a atendente.
 
- Mas você não está vendo? Responde a senhora.
 
Você me colocou ao lado de um negro. Eu não consigo ficar ao lado destes nojentos. Dê-me outro assento.
 
- Por favor senhora, acalme-se. Diz a atendente.
 
- Quase todos os lugares deste voo estão tomados. Vou ver se há algum lugar disponível.
 
A atendente se afasta e volta alguns minutos depois.
 
- Minha senhora, como eu suspeitava, não há lugar vago na classe económica.
 
Eu conversei com o comandante e ele me confirmou que não há mais lugares na executiva. Entretanto ainda temos um lugar na primeira classe.
 
Antes que a senhora pudesse fazer qualquer comentário, a atendente continua: - É totalmente inusitado a companhia conceder um assento de primeira classe a alguém da classe económica, mas, dadas as circunstâncias, o comandante considerou que seria escandaloso alguém ser obrigado a sentar ao lado de uma pessoa tão execrável.
 
E dirigindo-se ao negro, a atendente completou: - Portanto senhor, se for da sua vontade, pegue os seus pertences que o assento da primeira classe está à sua espera.
 
E todos os passageiros ao redor que, chocados, acompanhavam a cena, levantaram-se e aplaudiram.”[2]
 
A mulher que se exaltou foi humilhada. O homem que foi humilhado foi exaltado. É este o princípio do Senhor. O Senhor nos ensina que farão connosco aquilo que temos feito com os demais (Lc 6.31). Sendo assim, como é que nós temos agido em relação às pessoas?
 
Deus diz claramente na sua Palavra que todo aquele que se acha seguro, que cria seus castelos e viras as costas para o Senhor e para o seu próximo irá cair. Sofrerá o juízo do Senhor.
 
Agora vejamos o que o Senhor diz:
 
Eis que te farei pequeno entre as nações. Para o Senhor, Edom é insignificante. Não importava o que o povo pensava de si mesmo. O que importa o que Deus pensa e o Senhor diz que Edom não é uma grande nação.
 
Serás muito desprezado. Aquele que desprezou agora recebe o desprezo. Aquilo que o homem semeia colhe (Gl 6.7).
 
A soberba do teu coração te enganou. Por pensar ser aquilo que não era, foi levado à perdição. Estava cego por causa do seu orgulho. Achava-se intocável. Há pessoas assim no meio cristão. Há pessoas que pensam que são mais competentes que as outras. Há pessoas que se julgam mais espirituais e capazes do que outras. Aqui vale a orientação de Paulo que diz: “Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.” (Rm 12.3). Cuidado para não pensar ser mais do que realmente é.
 
Não permita que a soberba o engane. Não permitamos que a soberba nos engane.
 
É necessário descer do pedestal que erguemos para nós próprios. O Senhor diz ao povo de Edom: “Ó tu que habitas nas fendas do penhasco, na tua alta morada.” Aqui é levado em conta a condição geográfica de Edom. A cidade havia sido construída em rocha escarpada. No alto da montanha. Achava-se em segurança. Por isso, questiona: “Quem me derrubará em terra?” Muitas vezes, como os edomitas, pensamos ser indestrutíveis. Achamos que ninguém pode nos destruir. Lembro-me de um empresário que disse que construiria seu império e nada o abalaria. Parou e depois disse, só Deus. Do alto do nosso pedestal pensamos que nada nem ninguém pode nos derrubar, mas cuidado, pois Deus, o Senhor, Criador dos céus e da terra, Ele pode nos derrubar. Paulo quando perseguia os cristãos achava-se indestrutível. Estava revestido de autoridade humana, mas o Senhor o derrubou, lançou fora toda sua arrogância, soberba e lhe revestiu com a verdadeira autoridade que é concedida pelo próprio Senhor (Act 9.1-5). Será que o Senhor terá que destruir a nossa arrogância?
 
O Senhor segue afirmando que mesmo que Edom tente se reerguer, que suba ao mais alto das montanhas, mesmo que alcance as estrelas, o Senhor o destruirá. A lição que devemos tirar é que todas as vezes que nos fizermos de deuses, sofreremos a justiça do Senhor. Todas as vezes que confiarmos mais em nós do que no agir do Senhor, seremos derrotados.
 
Não podemos confiar em nós próprios. Já dizia o profeta Jeremias: “Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR!” (Jer 17.5). Não confie em si mesmo. Não se eleve, para que não seja o caso de ouvir o Senhor dizer: “Dali te derrubarei.”
 
2 – O Senhor age livremente, realiza sua vontade e não fica prisioneiro de ninguém
 
O Senhor convocou as nações. Agora fala abertamente o que Ele fará. Ele vai julgar Edom. Ele determinou o momento e ponto final.
 
Quando o Senhor realiza o seu julgamento, não há lugares seguros. Não há como fugir da presença do agir do Senhor.
 
Ele quem determina e faz o que quer e como quer, mas Ele próprio diz que aqueles a quem usa, serão julgados também. É isto que encontramos em Isaías, quando o Senhor fala da Assíria. Ela irá castigar o povo de Deus, mas será castigada pelo Senhor (Is 10.5). Deus não deve nada a ninguém.
 
O Senhor não necessita de nós. Somos nós que necessitamos da sua graça. Ele não precisa de mim para exercer um ministério e ajudar a edificação da igreja. Sou eu quem necessita do Senhor. O Senhor não me deve nada. Para mim e para cada um de nós é um privilégio e uma honra poder desenvolver um ministério, mas no final devemos dizer como Paulo: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24).
 
Gostei do que disse Isaltino: “Não somos imprescindíveis nem insubstituíveis. Alguns apelos para a dedicação de vidas para o serviço do Senhor fazem um conceito muito baixo dele. “Deus precisa de você para salvar o mundo. Se você não dedicar sua vida, como ele o fará?”, dizia um pregador, num apelo para entrega de vidas para a obra missionária. A resposta é bem simples: “Ele fará tão bem como fará se você se entregar.” Homens e nações são apenas instrumentos. Ele é o agente.”[3]
 
Esta é uma palavra séria. É uma declaração do próprio Senhor. É assim que termina o texto. Diz o Senhor. E quando o Senhor diz, deve ser levado a sério porque Ele assim o fará.
 
O Senhor não depende de mim, nem de ninguém. Ele falou e assim sucederá. Ele é o Eterno, o Absoluto.
 
Devemos entender que podemos ser seus instrumentos. É uma prazer para nós, mas cuidado para não pensarmos que nos bastamos, pois o Senhor pode dizer que nós sofreremos à sua correcção. Tomemos cuidado para que o Senhor não diga a nós o que disse a Israel: “Destruir-te-ei, ó Israel; quem te pode socorrer?” (Os 13.9).
 
Quando o Senhor age, nada poderá detê-lo. Sendo assim, tomemos cuidado. Sejamos sensatos e compreendamos que somos nós que carecemos do Senhor e do seu agir nas nossas vidas.
 
O Senhor não depende de nós. Somos nós que dependemos dEle.
 
Guisa de Conclusão
 
O Senhor declara o seu julgamento. Diz que vai destruir Edom.
 
Ele declara porque Edom será destruída. É por causa da sua soberba, do seu egoísmo e da usa arrogância. Sendo assim, tenhamos cuidado para que não sejamos dominados por estes sentimentos.
 
Olhemos sempre para o Senhor e nunca para nós mesmos. “Nunca permitamos que a vaidade nos domine. Podemos ter nossas igrejas muito bem estruturadas e nossas vidas bem organizadas. Podemos ser pessoas bem preparadas, mas nenhuma dessas coisas deve nos levar a um conceito mais elevado a nosso respeito do que devemos ter.”[4]
 
Que possamos olhar sempre para nós como pecadores arrependidos, que foram alcançados pela graça de Deus. E se somos o que somos é somente pela graça do Senhor.
 
Que Deus nos ajude a viver em humildade para
 

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[1] FEIBERGER, Charles L. Os Profetas Menores – Editora Vida, Miami, Florida, 1988
 
[2] História recebida num power point. Não posso afirmar que a história é verdadeira.
 
[3] COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Obadias e Sofonias: Nossos Contemporâneos; um estudo contextualizado dos
 
livros de Obadias e Sofonias – JUERP, Rio de Janeiro, 1993
 
[4] Op.Cit.

Meus queridos,
 
Segue mais uma crónica.
Espero que Deus fale aos vossos corações.
 
Beijos,
 
 
Marcos Amazonas
 
 
31. Perdão - Leia Lucas 23.34 (16/02/06)
 
 
 
Certa vez conversava com uma pessoa que me disse, que perdoava muito facilmente tudo o que lhe faziam. Disse-lhe que perdoar não é fácil. Perdoar é algo contra natura. Penso que ela não compreendeu minha linha de pensamento.
 
Passado algum tempo, decidi pregar na igreja sobre as declarações de Jesus na cruz. Uma delas é uma súplica por perdão. É um pedido do Senhor Jesus ao Pai para que perdoe as pessoas, porque não sabem o que fazem. Naquele dia, vi nitidamente que a igreja compreendeu a dimensão do perdão. Lembro ter dito que o perdão é um acto de injustiça ao agredido e um acto de misericórdia ao agressor. Este é o problema, o perdão implica em abrir mão da justiça. Aceitar que o agressor se torne inocente.
 
Perdoar nunca é fácil. É sempre doloroso. Sempre envolve cedência e anulação. Perdoar é trilhar uma estrada longa, que muitas vezes parece interminável. Alguém que muito amo, admiro e que me tem influenciado na caminhada cristã, disse: “Não há perdão instantâneo”. Fiquei a pensar no que li e cheguei a conclusão que ela estava completamente correcta. Dizemos que o Senhor já nos perdoou os pecados, mas ele continua a nos perdoar. O perdão se consumará na glória com a nossa salvação.
 
Minha mãe foi um exemplo em toda a sua vida. Uma mulher de fibra e coragem. Mulher virtuosa, que soube preservar a família, soube preservar o casamento. Foi uma mulher que soube perdoar. Viveu perdoando. Não esquecerei nunca a mensagem que gravou para seu marido, quando se recuperava de uma cirurgia grave e não tínhamos certeza do que lhe aconteceria. Ela decidiu gravar uma série de mensagens. Falou aos filhos, amigos, sobrinhos, igreja. Falou ao marido e aí mostrou que perdão é diário e constante. Foi neste momento que ela mostrou que o amor tudo crê, tudo espera, tudo suporta, tudo sofre. O amor nunca falha. Ela diz ao seu marido: “Meu velho, eu te amo!” Quem ama perdoa.
 
Descobri também que o perdão é uma via dupla. Ele é dirigido a outra pessoa, mas pode não ser aceite. O outro pode estar fechado ao perdão e recusá-lo. Há pessoas que preferem viver fechadas em seus castelos e não desfrutar do alívio do perdão. Há pessoas que recusam e desprezam toda a graça que lhes é demonstrada. Já vi esta realidade acontecer na minha frente. Já vi uma pessoa recusar o perdão de quem tanto o amava. Que dor, que tristeza. Mas o facto é que perdão se oferece e não se opõe que o outro aceite. Simplesmente quem perdoa está a dizer que não quer mais viver amargurado e a sofrer com a dor que lhe corta a alma. É claro que, há aqueles que ficaram cauterizados, estão petrificados e não se incomodam com a falha que tiveram e a acham natural e normal.
 
Perdão é a atitude dos fortes. Não é um acto estóico. É a atitude daqueles que aprenderam a viver a vida com graça. Perdoa que deseja viver livre, sem ser escravo da dor e das tragédias da vida. Perdoa quem aprendeu a lição da misericórdia. Perdoa quem sabe amar e se entregar de corpo e alma ao amor.
 
Eu sou fruto do perdão. Sou fruto de uma linda história de amor que foi composta em poesia e prosa. Sou fruto do perdão, pois se minha mãe tivesse desistido de meu pai, hoje eu não estaria aqui. Sou fruto do perdão que brotou da cruz do calvário. Aquele clamor de Jesus ao Pai foi pelo que eu lhe fiz. Ele pediu por mim, para que o Pai não levasse em conta as minhas loucuras.
 
O perdão é a ponte que nos coloca novamente na estrada. É a ponte que nos faz seguir em frente. É a ponte que nos conduz de volta a casa, aos amigos aos entes queridos. É a estrada que nos conduz à vida, devolve-nos a autoestima. Faz-nos sentir gente novamente.
 
Jesus certa vez disse: “a quem pouco se perdoa, pouco ama.” Estou aqui porque minha mãe muito amou, por isso muito perdoou. Ela não desistiu. O perdão é acto contínuo, pois sempre estamos falhando. Sempre estamos a carecer de reconciliação. Sempre necessitamos da ponte do perdão. Se amamos realmente, a porta do perdão sempre está aberta aos que são por nós amados. Não importa a dor que tenhamos que sofrer, a tristeza que passaremos. O amor suplantará toda dor. O amor fará com o perdão brote e faça com que nasça uma nova vida.
 
Perdão é acto de coragem. É a atitude dos fortes. É a atitude dos que não se deixam vencer pelo mal. É a atitude dos que vencem o mal com o bem.


Queridos,
 
Segue uma crónica que escrevi a falar de mim e da minha cidade adoptiva.
 
Abraços,
 
 
Marcos
 
Coimbra tem sempre encanto
 
Leia o Salmo 23
 
 
 
Diz a canção que Coimbra tem mais encanto na hora da despedida. Contudo, ouso contrariar a canção e dizer que Coimbra tem sempre encanto. É uma cidade bela. Cheia de contrastes. Cheia de encantos.
 
Gosto de ver os estudantes a passear pelas ruas com capa e batina. Caminham altaneiramente com uma posse de doutores. Ostentam o orgulho e a vaidade da juventude. Mal sabem eles que o curso não lhes garante nada. Dá apenas um título e mais nada.
 
Gosto de ver o contraste entre as pessoas. Os professores, médicos e os prestadores de serviço que caminham a correr diariamente para seus trabalhos. Gente que caminha desenfreadamente para construir um futuro, mas muitas vezes não lembra de construir o presente.
 
Coimbra tem sempre encanto, até mesmo quando vive as festas estudantis e os exageros são cometidos. Coimbra tem sempre encanto. É uma cidade onde se respira espiritualidade. Tudo em Coimbra está relacionado com a religião. Os estudantes não podem terminar seu curso sem terem suas pastas abençoadas. Não podem terminar o curso sem que na porta da Sé Velha, os alunos reunidos façam a serenata para encantar a cidade e os turistas que aqui chegam.
 
Coimbra tem sempre encanto. Eu sou Coimbra. Coimbra está em mim e eu nela. Coimbra é feita de altos e baixos. Gosto de ir ao penedo da saudade e ver toda a vista que a cidade tem. Gosto de ir à universidade e contemplar o Mondego. Gosto de ver os planaltos e planícies que a cidade tem. É por este motivo que Coimbra sou eu e Coimbra faz parte de mim. É por isso, que ela tem tanto encanto.
 
Minha vida é assim. É feita de espiritualidade. Até mesmo quando tentei fugir de Deus, Ele sempre esteve presente. Quando tentei esconder-me do Senhor Ele estava presente naquela saudade enorme que batia e ma fazia subir no penedo da saudade espiritual.
 
Eu sou Coimbra porque sou feito de altos e baixos. É claro que tenho meus momentos planos, onde tudo é bem mais calmo e tranquilo, mas tenho consciência de que estes são apenas momentos. Há vida é feita de poesia e prosa e nada como Coimbra para nos mostrar esta realidade.
 
Minha vida é feita de contrastes. Há dias ia muita alegria, mas há outros em que sou tomado de tristezas. A alegria pode ser pessoal ou por causa de algo maravilho que está a acontecer com pessoas que amo. As tristezas podem acontecer por vários motivos. Há momentos de raiva, estes são poucos, mas existem.
 
Coimbra é romântica. Fala do amor profundo que nutro por minha esposa. Fala do amor profundo que nutro por meus filhos. Fala do amor profundo que nutro pela igreja e por cada um dos meus irmãos. Fala também das vezes que por causa das minhas falhas os deixo decepcionados. Fala da minha fragilidade.
 
Coimbra cheia de encanto. Cheia de beleza. É uma alegria caminhar por tuas ruas e vielas. É maravilho poder ver os cantos e recantos que existem em ti. É agradável poder subir escadarias e ver todas as tuas belezas. É agradável caminhar pela Portagem e poder contemplar o Mondego à nossa frente.
 
Coimbra sou eu. Coimbra é a minha vida. Nesta caminhada de altos e baixos lembro-me de um pastor que um dia chegou a ser rei, mas que brincava com as palavras por ser poeta e músico. Ele é o autor do Salmo 23. O salmo do Pastor. David mostra justamente isto. Nossa vida é uma caminhada feita de altos e baixos. Há vales que devem ser ultrapassados, a planícies a serem trilhadas. Há o momento de tranquilidade e refrigério, mas a dor e a angústia sempre estão presentes. Contudo, O pastor está presente para acalmar o seu rebanho. Ele não abandona suas ovelhas.
 
O pastor não me abandona. Apesar da minha vida ser feita de altos e baixos. De ter planícies e muitas vezes aparentar ser velha, destroçada, sem beleza nenhuma. Ela tem muito valor. Ela é bela para o Pastor.
 
Ela tem sempre encanto. É por isso que o Pastor não me abandona. Porque mesmo que eu não saiba dar o devido valor à minha vida, Ele sempre me valoriza. Ele sempre vê beleza e encanto em mim, mesmo que eu pense que já não há nenhum.
 
Coimbra sou eu. Sou feito de altos e baixos. Tenho meus encantos e desencantos. Mas uma coisa é certa, para aquele que governa a minha vida, eu sempre tenho encanto. Ele me ama e seu amor não pode ser aumentado nem diminuído. Ele me ama e ponto final.
 
É por causa do seu amor que Ele tem que fazer obras na minha vida. Muitas vezes elas doem, mas elas acontecem para que eu possa ficar mais belo. Sendo assim, descansarei e confiarei no meu Governador, no meu Guia.
 
Coimbra tem sempre encanto. Eu tenho encanto, não por que seja alguém de grande importância, mas pelo facto do meu Pastor me amar e me valorizar. Tenho encanto aqui e agora e terei sempre porque o meu Pastor está a conduzir-me para o seu redil.
= =
Queridos,
 
Segue uma outra crónica.
 
Abraço a todos,
 
Marcos
 
32. Desculpas que Deus não aceita 17/02/06
 
Leia Génesis 3. 9-13
 
 
 
No final do jogo, o guarda-redes chegou e reconheceu que a derrota da sua equipa aconteceu por causa da sua falha. Marco Aurélio, que é reconhecidamente um excelente guarda-redes surpreendeu tudo e todos. Ninguém esperava uma declaração daquelas, mas ele foi incisivo e directo. O Belenenses perdeu por causa da minha falha. Lembro de um repórter dizer que de um excelente profissional só podemos esperar atitudes que o dignifiquem. A questão é quantos Marco Aurélio existem?
 
O Ser humano não gosta de assumir os seus erros. Não gosta de assumir sua culpa. Para fugir desta realidade criou a desculpa. Sendo assim, ele nunca é culpado da falha cometida. Sempre há alguém ou algo responsável pela falta cometida. Sempre há desculpas para fugir de determinadas responsabilidades.
 
A Bíblia é um livro que nos mostra isto de modo extraordinário. Nela encontramos várias pessoas a procurarem desculpas para não fazer determinada coisa ou a desculparem-se por coisas que fizeram. Contudo, Deus não aceita estas desculpas. Deus quer ver sinceridade nas nossas atitudes.
 
Nós somos hábeis em arranjar desculpas. Isto é uma realidade bíblica, senão vejamos:
 
Adão desculpa-se dizendo a Deus que a mulher que o Senhor lhe deu, havia lhe dado do fruto e ele comeu. Eva diz ao Senhor que foi enganada pela serpente.
 
Sara que estava a escutar a conversa de Abraão com o Senhor e dois anjos, ouviu que o Senhor prometera um filho a Abraão e riu-se. O Senhor pergunta porque ela riu e ela com medo desculpa-se dizendo que não riu. O Senhor diz é certo que riste.
 
Moisés apresentou várias desculpas. Começou por questionar e a dizer quem sou eu? Depois diz que o povo não creria nele. Depois diz que não é eloquente. Sempre a arranjar desculpas que Deus não aceita. Moisés diz que não é a pessoa indicada e pede para que o Senhor envie outra pessoa. Ele estava a pensar em seu irmão.
 
Gideão depois de ser confrontado com o Senhor e saber que ele havia sido escolhido para livrar Israel das mãos dos midianitas ele diz: Minha família é a mais pobre em Manassés, e eu o menor na casa de meu pai.
 
Ester quando foi orientada por seu tio Mordecai a suplicar por seu povo. Disse que não podia entrar na presença do rei sem ser chamada. Ela não poderia fazer nada.
 
Jeremias diz que não sabe falar. É apenas uma criança.
 
Todas estas desculpas foram recusadas por Deus. Deus não aceita desculpas. Ele deseja sinceridade da nossa parte.
 
Quais são as desculpas que estamos apresentando diante de Deus?
 
Talvez façamos parte do grupo dos inclusivistas que diz: Tomo mundo faz, porque eu não posso fazer?
 
Se somos daqueles que sonegam os impostos, nos desculpamos a dizer que já pagamos impostos a mais.
 
Se fazemos parte daqueles que estão a praticar sexo livremente, dizemos que o mundo mudou e não há mal nenhum.
 
Se já não temos interesse na igreja dizemos que a culpa é do pastor e da liderança.
 
Se não estamos envolvidos é porque os programas não nos cativam e são irrelevantes. Esquecemos que a relevância da igreja está em nós mesmos porque nós somos igreja. Toda desculpa utilizada contra a igreja, grita bem alto, os nossos defeitos.
 
É muito fácil arranjar uma desculpa. É fácil transferir a minha culpa para outra pessoa. É fácil arranjar respostas para deixar de fazer aquilo que eu tenho que fazer. O complicado é assumir o meu erro.
 
Marco Aurélio é um exemplo para nós. Alguém consciente e que assume suas falhas. Creio que foi por este motivo que o treinador o colocou no banco de suplentes, mas Marcos Aurélio pode estar com a consciência tranquila por ter feito a coisa certa. Ele não ficou a arranjar desculpa para o indesculpável.
 
Quais são as tuas desculpas? O que tens procurado dizer para encobrir as tuas falhas?
 
Tenha consciência de que Deus não aceita desculpas esfarrapadas.
 
Deus deseja a nossa sinceridade. Ele deseja ver em nós autenticidade.
 
Chega de desculpas. É hora de assumir a responsabilidade e ponto final.


Queridos,
 
Segue a pastoral que escrevi para o culto do último domingo.
 
 
Abraços,
 
 
Marcos
 
33. Não seja como Carolina (20/02/06)
 
O poeta José Régio em um dos seus poemas diz que tudo passou por ele. A semente caiu no seu jardim, foi o vento que a trouxe e a levou. Há muitas pessoas assim. Têm a plena consciência de que a vida está a lhes passar, mas ficam apenas a observar. São expectadores que não aceitam fazer parte da corrida da vida. São expectadores que aceitam tudo impávidos e serenos. São pessoas conformadas. São pessoas que guardam a dor do mundo para si. Não vivem, não conseguem ver a beleza da vida.
 
O problema de deixar o tempo passar é que fica a lembrança do que podia ter sido e não foi. Ficar sentado no camarote da vida a observar quieto e depois querer ter uma palavra relevante já não faz efeito. É ficar preso dentro de si mesmo, sem fazer a diferença na sociedade, sem ver a beleza que existe à nossa volta.
 
Chico Buarque escreveu a letra e a música de Carolina. Nesta beleza canção ele fala de uma jovem que vive fechada para si mesma. Não vê o que acontece à sua volta. Por ficar fechada mesmo tendo tanto amor, o amor passou por ela e já não há como partilhá-lo. A canção termina a dizer que o tempo passou na janela e só Carolina não viu. Chico e José Régio tem uma noção fabulosa. Mostram que não há como voltar naquilo que ficou para trás. Quem fica a observar não vive, não experimenta a alegria do amor.
 
Há cristãos que vivem a realidade do poema de José Régio e a canção sobre Carolina. Há cristãos que são meros expectadores. Ficam sentados na janela da vida cristã a observar tudo o que acontece. Sentem a dor dos problemas, estão cheias de amor, mas não conseguem conviver. Não conseguem viver fora da janela. A vida passa e eles ficam ali a observar quietos, com medo de cometer as mesmas falhas que observam nos outros. Ficam quietas e guardam os seus dons e talentos por terem medo de enfrentar a realidade da vida que lhes é proposta. Escondem seus talentos e ficam aguardando a volta do Senhor para poder entregar-lhe o que Ele por graça lhes concedeu.
 
Esta realidade é visível nas parábolas dos talentos (Mt 25.14-30). Todos nós recebemos do Senhor talentos, conforme a nossa capacidade. Não seremos cobrados por aquilo que não recebemos, mas pelo que recebemos. A parábola diz que dois utilizaram os seus talentos, multiplicaram. Um por medo ficou quieto, ficou a observar a vida passar e a desejar o regresso do seu Senhor. Ficou a carolinear, sem olhar para as oportunidades que tinha em suas mãos. Um dia o Senhor volta e pede contas. Todos estão presentes. Os dois primeiros foram reconhecidos, o último por conhecer o seu senhor, com medo preferiu esconder o que havia recebido. O resultado foi vergonhoso. O senhor o chamou de servo mau, preguiçoso e diz que o facto de esconder o talento só o depreciou, pois com o tempo foi desvalorizando. Não foi feito investimento nenhum. O que o servo recebeu foi-lhe tirado e dado ao que tinha dez talentos. Quem fica sentado sem fazer nada, fica sem nada.
 
Não deixe o tempo passar. Passe com o tempo. Não fique sentado na janela a ver a vida florescendo lá fora. Viva e faça a diferença na vida das pessoas que estão sedentas por uma vida saudável. Isto só será possível se deixarmos a janela e formos ao encontro delas. Só poderá se concretizar se utilizarmos os talentos que temos recebido do Senhor.
 
Não seja como Carolina. Não fique sentado, quieto a espreitar o que está a acontecer. Faça acontecer. Viva com graça e através da graça. Não tenha medo de errar e de perder. Só não erra e só não perde quem aceita ficar enclausurado dentro de si mesmo. Quem não ousa viver tudo o que o Senhor lhe deu para viver. Carolina não viu o tempo passar e por isso não viveu, não fez o que tinha que ser feito.
 
Eu prefiro errar fazendo do que errar por não fazer.
 
Marcos Amazonas dos Santos


Segue a minha última crónica.
 
Abraços,
 
 
Marcos Amazonas
 
 
34. Memória (20/02/06)
 
Leia Lamentações 3.20-22
 
O filme narra a história de uma mulher que está a morrer de cancro. Isto faz com que a minha mente volte no tempo. É uma viagem de treze anos. Lembro-me da minha mãe e seus últimos dias. Lembro-me dela no hospital a falar connosco e a aconselhar-nos sobre as questões da vida. Recordo do seu esforço para que pudéssemos cumprir o seu legado e continuar unidos.
 
É claro que recordar este facto não me traz alegria. Sou envolvido pela tristeza e saudade daquela que foi o maior exemplo de vida cristã que conheci. Na sua simplicidade sabia aconselhar. Tinha a capacidade de convencer com suas opiniões sempre muito bem estruturadas. Seus conselhos eram sempre coerentes e os mais correctos.
 
Nesta viagem lembro-me do texto de Jeremias. Ele vê a tragédia que ele e seu povo vivem no presente e faz uma viagem ao passado, buscando a esperança e a razão de ser. Isto é fabuloso, pois nos mostra que o nosso presente faz parte de uma história. Ele existe por causa de acontecimentos que nos marcaram e foram vividos no determinado momento. É a olhar para o passado que podemos tirar ilações para o nosso presente e construir uma história para o futuro.
 
Quando Jeremias lê a sua história, ele pode ter certeza que há esperança. Ele diz que as misericórdias do Senhor são a causa do povo não ser consumido. Ele diz que há esperança porque Deus não mudou, Ele continua o mesmo.
 
Este aspecto é importantíssimo, pois nos ensina que quem não tem uma história, quem não tem fundamentos não tem esperança não poderá construir o futuro e mudar o presente. Ele nos mostra que o presente pode não ser o melhor, mas do mesmo modo que Deus agiu no passado, agirá no presente e mudará a situação. Deus é misericordioso.
 
Viajar ao passado é poder reavaliar a nossa vida. É caminhar pela nossa história. É alegrar-se pelas vitórias alcançadas. É entristecer-se pelas derrotas. Chorar pelas dores e tragédias, mas acima de tudo é poder ver o cuidado de Deus em todas as circunstâncias da vida.
 
Enquanto via o filme, viajava no tempo. Revi minha história. Não foi uma viagem de treze anos, foi muito mais. Viajei até onde a memória me deixou ir. Vi minha meninice, minha adolescência e juventude. Pude recordar as alegrias e tristezas, sentir novamente todo o amor que me foi demonstrado por aqueles que fizeram parte da minha formação. Senti novamente a dor da perda da minha mãe. Parecia que sentia novamente seu coração batendo pela última vez. Recitei novamente o salmo 23 com ela e pude vê-la despedir-se de nós com um até breve do modo como ela sempre desejou. Ela sempre quis partir num dia de chuva e assim foi.
 
Caminho pela minha história e posso ver o nascimento dos meus filhos. Posso ver tudo o que tenho feito e ter a certeza de que se estou aqui e sou o que sou é por causa da misericórdia do Senhor. Ele é quem tem me sustentado e não me consome por causa da sua graça, pois eu sou apenas um miserável pecador.
 
Minha história não é a mais bela para poder ser contada. Há muitas falhas e deficiências. Há muitos defeitos e inconformidades, mas como Jeremias eu tenho esperança no meu coração. Não pelo que posso fazer, mas pelo agir de Deus na minha história.
 
Hoje, viajando pela minha história, descobri que não importa qual seja a situação que nos encontramos. Vi que só tem um presente quem viveu um passado e o traz consigo, não o despreza nem o destrói. Só há futuro para os que vivem o presente, firmados na esperança de que o Deus que agiu no passado vai continuar a agir no presente e no futuro.
 
Viajar pela memória da minha vida mostrou-me que não importa as situações que tenha que passar. O que importa é a certeza de que Deus está presente em todas elas e tem todas as situações no controle.
 
Como é bom poder viajar para dentro de nós mesmos e ver que as misericórdias do Senhor estão a se renovar a cada dia nas nossas vidas.

O Pr. Marcos Amazonas dos Santos, pastor da Igreja Evangélica Baptista de Coimbra, em Portugal, além de excelente pregador, é um exímio escritor. Seus textos, além de encantadores, são confortadores. Ele estará publicando seus sermões e escritos num grupo específico. PARA INSCREVER-SE Envie um e-mail em branco para artigosprmarcosamazonas-subscribe@yahoogrupos.com.br O sistema lhe enviará um pedido de confirmação. Reenvie do jeito que vier. Pronto. (Via _ Pr.Wagner/Osasco) 20/07/06


Queridos,
 
Segue a mensagem de hoje.
 
Abraços,
 
Marcos Amazonas
 
 
35. Não sobra nada (22/02/06)
Obadias 5-9

 
Introdução
 
A dramaticidade deste texto é assustadora. A profecia utiliza o verbo no passado, ou seja, o facto ainda não aconteceu, mas é como tivesse acontecido. Deus não está a valorizar a cultura do medo, mas está a dizer que seu juízo está em andamento e não há como detê-lo. A justiça do Senhor irá se manifestar.
 
Esta situação é muito séria, pois deve nos alertar para o seguinte aspecto: Deus é um Deus de amor, deseja o arrependimento das pessoas. Contudo, a sua justiça deve ser exercida. Não devemos nunca esquecer este facto. Não podemos deixar de anunciar a justiça do Senhor. É verdade, devemos pregar a graça e a misericórdia de Deus, mas juntamente com ela devemos anunciar o juízo do Senhor sobre todos os que não se arrependem.
 
Não podemos esquecer que este texto fala do juízo aniquilador do Senhor. O livro diz que este juízo acontecerá no “dia do Senhor”, expressão messiânica que nos aponta para o julgamento final. Contudo, quando atentamos bem para o texto vemos que o Senhor diz que tudo será posto às claras. Nada ficará escondido e guardado de Edom. Tudo será vasculhado e levado. Agora lembremos sempre que Edom por analogia simboliza a carne, simboliza a humanidade em seu pecado. Sendo assim, Edom sou eu e cada um de nós. Portanto, é fundamental lembrarmos o que diz o apóstolo Paulo: “Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas e manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá de Deus o louvor.” (1 Co 4.5). Será que receberemos louvor?
 
O texto é claro. Deus vai aniquilar Edom. O texto utiliza de analogias para mostrar que não será uma intervenção humana, mas divina. Obadias é fiel ao que o Senhor lhe diz. Ele declara o juízo do Senhor. É importante entendermos o seguinte: “O profeta não estava trabalhando com uma análise do cenário político ou militar da época. Não estava observando fatos se desenrolando e deduzindo uma seqüência viável, ameaçando Edom com o observável no cenário. Apenas formula o juízo divino porque sabe que dois graves pecados foram cometidos por Edom: hostilizou o povo de Deus e confiou em forças e recursos humanos, desprezando o Senhor.”[1]
 
Obadias não especula. Ele é enfático. O juízo do Senhor é uma realidade. Não há como escapar dele. A justiça do Senhor é uma realidade. Todos os que recusam a graça do Senhor, recebem sua justiça. Todos que preferem viver em seus próprios caminhos, no final sofrerão a justiça do Senhor.
 
É preciso tomar cuidado. É necessário reflectir no que nos diz o texto e aplicá-lo à nossa vida.
 
Reflictamos nas lições que o texto nos apresenta.
 
1 – O Senhor aniquila todos os que oprimem o seu povo 5-7
 
Obadias utiliza os ladrões e os vindimadores como exemplo. Ele mostra que o ladrão por causa da sua presa, escolhe o melhor e deixa o resto. Os vindimadores, sempre deixam passar alguns cachos. Contudo, na manifestação do Senhor não ficará nada.
 
As duas perguntas recebem um sim como resposta. Mas de Edom se diz: «como estás destruído!» São escombros. Não resta nada. Tudo foi saqueado e levado.
 
Isto é exposto nos versículos 6 e 7. Estes versículos encontram são um eco de Jeremias 49.9-10: “Se vindimadores viessem a ti, não deixariam alguns rabiscos? Se ladrões, de noite, não te danificariam quanto julgassem suficiente? Mas eu despi a Esaú, descobri os seus esconderijos, e não se poderá esconder; é destruída a sua descendência, como também seus irmãos e seus vizinhos, e ele já não existe.” Veja a dureza do texto. O Senhor diz que ele já não existe. O facto ainda não aconteceu, mas o decreto já está consumado. Edom não pode fazer nada. Sua destruição é total.
 
Note que o texto diz que os bens de Esaú foram rebuscados, esquadrinhados. Isto é muito interessante. Mostra que não ficou nada escondido.
 
Todos os seus bens, toda a sua riqueza seriam buscados com diligência e seriam encontrados. Tudo seria pilhado. Não ficaria nada.
 
Esta é uma grande advertência para nós. Não adianta acumular tesouros. Não adianta ficar a esconder-se. Quando o Senhor manifesta a sua justiça, tudo é trazido à luz. Nada em Edom ficará. A Bíblia Anotada diz o seguinte acerca dos versículos 5 e 6: “enquanto os ladrões geralmente só levam o que é valioso e os vindimadores deixam restos nas videiras, Edom será completamente devastado.”[2]
 
Edom é devastado por oprimir o povo de Deus. O Senhor diz que nada restará. A pergunta é a seguinte: Como isto se aplica à minha vida?
 
É necessário tomar muito cuidado quando lido com as coisas relacionadas ao povo de Deus. Jesus aprofundou mais este facto. Ele diz o seguinte: “ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que sem motivo se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo.” (Mt 5.21-22). Será que não seremos julgados e devastados pelo que dizemos dos nossos irmãos?
 
Quantas vezes, destruímos a vida dos nossos irmãos com as nossas palavras? Quantas vezes, matamos os nossos irmãos com nossos comentários?
 
É preciso tomar cuidado. O Senhor não aceita ataques ao seu povo. Edom recebeu a sentença do Senhor por oprimir o povo do Senhor. Quando olhamos na história notamos que todos que tentaram destruir o povo de Deus, sucumbiram. Sendo assim, tomemos cuidado para não fazermos parte daqueles que estão a aniquilar o povo do Senhor.
 
2- O Senhor aniquila todo aquele que O despreza e passa a depender do homem 7
 
Quem confia no homem sempre acaba frustrado. Confiar na força bélica dos que são aliados é um grande erro. As alianças humanas são quebradas. Na hora da angústia e da necessidade os seus aliados virariam às costas. Ficariam totalmente desamparados.
 
Aquele povo desprezou o Senhor para depender do homem. Deixaram a intimidade do Senhor para se tornar íntimos do homem. Este aspecto fica claro no facto de partilharem refeições. Na mentalidade oriental partilhar uma refeição é sinal de intimidade. O que o texto diz é que Edom será desprezado por aqueles que lhe são chegados. Confiar no homem é saber que a traição chegará sem demora. A traição acontece por alguém que lhe é chegado. Não somos traídos por estranhos. A traição acontece por alguém que convive connosco. O salmista diz o seguinte acerca deste facto de ser traído por um amigo: “Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar.” (Sl 41.9). Este salmo é messiânico, mas podemos notar que a traição acontece dentro dos que são íntimos e causa dor.
 
Há os amigos das ocasiões. O texto mostra-nos isto. Mostra que enquanto estava tudo bem, todos eram amigos. Na hora da dificuldade, desaparecem. Somem e deixando-nos sós. Sem ninguém para partilhar a dor. O mais triste é ver estes «amigos» a se aproveitarem da situação que nos encontramos.
 
O texto diz que Edom foi enganado, os que eram íntimos lhe prepararam armadilhas. Edom não viu nada disso. “Como paga por sua perfídia, seus aliados o levarão para o cativeiro sem ao menos dar-lhe ajuda na hora da necessidade. Aqueles que em outros tempos haviam desfrutado a sua generosidade, o pão de Edom, empregarão a traição para provocar-lhe a queda. Os edomitas não terão a quem recorrer. Por meios francos ou armadilhas enganadoras, os que foram seus aliados levariam a cabo seus projetos de ruína.”[3]
 
Quem confia no homem, nas forças bélicas ficará frustrado. Edom, que conhecia o Senhor, não quis dar-lhe glória. Desprezou-o. Agora sofre o juízo. Quantos de nós conhecemos o Senhor, caminhamos com Ele, mas num determinado momento O desprezamos?
 
É necessário ter cuidado, pois o juízo do Senhor pode tardar, mas não falha.
 
3 – O Senhor aniquila todo aquele que prefere confiar na sua inteligência 8-9
 
O Senhor destrói a arrogância humana. O Senhor diz que é loucura pensar ser-se sábio desprezando-O. É isto que diz o salmista: “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem faça o bem.” (Sl 14.1). É insensatez não se relacionar com Deus. É falta de bom senso tentar viver fundamentado em conceitos humanos.
 
O Senhor diz que não há inteligência em Edom. Não há sabedoria. Todo o conhecimento humano, fez de Edom orgulhoso. Um povo cheio de si, mas vazio. Não tinha nada para oferecer. Isto fica claro quando olhamos para a história de Job e lá descobrimos que um dos seus amigos Elifaz é de Edom. Ele é temanita. Foi chamado atenção pelo Senhor por ter agido com arrogância diante do sofrimento de Job.
 
Há pessoas como o povo de Edom. Edificam suas vidas naquilo que adquirem. Há pessoas que confiam no seu saber e desprezam a Deus. Pensam ser alguma coisa, mas não passam de insensatos. “Negar a Deus, não somente em termos da sua existência, mas prescindir de sua companhia (a negação prática), é uma atitude insensata. É falta de inteligência.”[4]
 
É no dia do Senhor que Edom será destroçado. Toda sua confiança, toda sua sabedoria não serve de nada. Toda a dependência na sua força bélica não ajuda, pois os seus valentes estão atemorizados.
 
Como é triste ver ruir os castelos de areia que o homem edifica à volta de si mesmo e do seu falso saber. É triste ver ruir ministérios, líderes pelo facto de terem se tornado arrogantes e viraram às costas ao Senhor.
 
O grande problema do ser humano é a sua tentativa de assumir o lugar de Deus. Querer ser como Deus. Foi este o pecado de Adão e Eva. Este é o nosso pecado. Este é o pecado da liderança. Tentar assumir o lugar de Deus. Ser quem não deve ser.
 
Um grande aviso para nós é o seguinte: A sabedoria humana é vã. É cruel. Nossa vida deve ser fundamentada na sabedoria que é loucura para o mundo. Nossa vida deve ser fundamentada no temor do Senhor (Pr 1.7).
 
Guisa de Conclusão
 
O Senhor julgar. Ele actua em favor do seu povo. Ele destrói o arrogante.
 
Todo o que confia em si mesmo irá ruir. Todo o que pensa que sabe alguma coisa, verá que não sabe nada. Ficará frustrado.
 
É importante compreendermos que confiar em nós próprios, confiar em amigos é desprezar o Senhor. É vir ladeira a baixo. É ser candidato do juízo do Senhor.
 
Que nós façamos parte daqueles que desprezam o povo de Deus e muito menos que viram às costas ao Senhor.
 
Que estejamos refugiados no Senhor para que sejamos por Ele livrados (Sl 37.38-40).
 
 
 
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[1] COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Obadias e Sofonias: Nossos Contemporâneos; um estudo contextualizado dos
 
livros de Obadias e Sofonias – JUERP, Rio de Janeiro, 1993
 
[2] A Bíblia Anotada, 1ª Edição, Editora Mundo Cristão, 1991
 
[3] FEIBERGER, Charles L. Os Profetas Menores – Editora Vida, Miami, Florida, 1988
 
[4] Op.Cit.

Queridos,
 
Segue a crónica que acabei de escrever.
 
Abraços,
 
 
Marcos
 
36. Preconceito (22/02/06)
 
Leia Tiago 2.1
 
Preconceito é substantivo masculino. Preconceituoso é o adjectivo que indica quem age com preconceito a alguma coisa ou alguém. Há várias formas de preconceito. Sendo assim, se fizermos uma análise interior veremos que somos preconceituosos.
 
Particularmente não gosto de reflectir sobre isto. A realidade é que tenho meus preconceitos. Posso tentar escondê-los, mas subitamente eles aparecem. Não há como esconder. Não dá para disfarçar. Certa vez em Manaus, chegava a casa. Vinha da igreja. Havia pregado sobre o facto de não fazermos acepção de pessoas. Falei que perante Deus todos somos iguais. Desço do carro, abro o portão da garagem para poder guardar o carro. Vejo um leproso a pedir ajuda. Minha reacção foi sair dali imediatamente. Não queria ficar ali. Seu aspecto era repugnante. Neste momento, lembrei do que havia pregado na igreja. Fui atingido novamente com a minha mensagem, só que agora ela havia se tornado real. Era de carne e osso. Fiquei ali no portão petrificado a ver aquele leproso a caminhar na minha direcção. Ele vinha com um sorriso lindo no rosto.
 
Eu ali parado e ele pergunta-me se eu poderia ajudá-lo com alguma coisa. Eu ainda a sofrer por causa do pecado do preconceito, da acepção de pessoas, olhei para ele e pedi que esperasse, pois eu voltava logo. Corri para dentro de casa e colhi tudo o que podia, pois estava só. Lílian estava com Matheus no Rio de Janeiro e eu como comia na empresa, vi que podia dispensar aquelas coisas. Contudo, peguei um Novo Testamento para oferecer juntamente com a comida. Cheguei com uma bela conversa. Já estava mais tranquilo. Falei-lhe da graça de Jesus. Ele olhou para mim e disse que do outro lado da rua percebeu que estava a olhar para um irmão na fé. Que vergonha!
 
Aquele homem olhou-me como um irmão e eu o olhei como um leproso indigno. Até hoje não sei o seu nome, pois fiquei tão abalado que não consegui continuar a dialogar com ele. Contudo, não esquecerei aquele sorriso lindo.
 
O preconceito é uma realidade nas nossas vidas. Preconceito religioso. Preconceito racial. Preconceito social. Há muitos tipos de preconceitos. Esta semana fui acordado para esta realidade por um dos compositores que marcou minha geração. Foi na voz de Renato Russo que fui lembrado que não devemos agir preconceituosamente. Ouvi-o a cantar: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Amar as pessoas implica em aceitá-las. Vi que é muito difícil fazer a separação entre a pessoa e o pecado dela. É fácil dizer que devemos amar o pecador e odiar o pecado, mas a prática é muito complicada.
 
A escutar o Legião Urbana, a voz do falecido Renato Russo, lembrei-me dos meu preconceitos em relação aos homossexuais. Vi o modo como os desprezava enquanto jovem. Mas também pude ver que eles são seres humanos. Mesmo que não concorde com a opção sexual deles, não posso desprezá-los. Não posso agir preconceituosamente em relação a eles.
 
Fiquei triste porque também pude notar o preconceito religioso que existe à minha volta. Não um preconceito em relação à outra religião, mas o preconceito dirigido às pessoas que pensam diferente de nós. Muitas vezes, este preconceito nos faz agir com raiva. Outras com inveja porque vemos que eles estão a crescer, enquanto isso, nós continuamos a marcar o passo.
 
Preconceito é mais que substantivo. É uma doença maléfica que vai nos consumindo e matando aos poucos. Vai nos corroendo e fazendo com que deixemos de viver e conviver. Quem nunca recusou um convite porque não ficava bem ser visto em tal local. Quem nunca não acompanhou um amigo, porque ele estava a se encaminhar para um lugar onde supostamente não podíamos estar?
 
Hoje mais do que nunca vejo que o preconceito é inimigo da graça. Senão vejamos, agir preconceituosamente nos afasta das pessoas. Impede que vivamos próximos uns dos outros. Os religiosos são preconceituosos. Jesus era livre. Caminhava pela vida com graça. Não se deixou levar pelo preconceito religioso. Por este motivo, foi chamado de glutão, beberão, amigo dos pecadores.
 
Jesus viveu livre de preconceito e não se preocupou com a estigmatização. Ele não ficou a pensar no que diriam dele. Não olhou para a sua imagem. Ele amou as pessoas como se não houvesse amanhã. Esteve com elas e ao lado delas. Sempre valorizou o ser humano. Sempre defendeu a integridade do ser. Abominou o pecado. Condenou-o, mas amou o pecador e sempre esteve ao seu lado.
 
Tenho que rever minha vida. Continuo a ser consumido pelo pecado do preconceito. Se não é de uma forma é de outra. Estou a me tornar religioso.
 
Preconceito não é um substantivo. Na realidade é uma parte integrante de mim que necessita ser expurgada da minha vida.

Queridos,
 
37.Ontem foi o dia mundial da poesia. 22/03/06
Não sou poeta, não sei rimar. Por isto, escrevi uma crónica a falar da saudade que invade o meu ser. Da falta que a mulher amada está a fazer.
Sendo assim, permitam-me partilhá-la convosco.
 
Abraços,
 
 
Marcos Amazonas
 
 
Poesia
 
 
 
Hoje é o dia mundial da poesia. Quem me dera ser poeta. Quem me dera ter a habilidade de brincar com as palavras. Quisera eu ter a capacidade de expressar com rimas tudo o que vai dentro de mim.
 
Dia da poesia. É o dia da alegria. É dia em que a dor se expressa com rimas ricas. O amor é cantado com dulçor. É a celebração da emoção. O derramar do coração, tornando claro a tudo e a todos seu sentimento e paixão.
 
Quem me dera ser poeta para poder escrever-te versos, que expressem meu amor e a minha saudade. É verdade, quisera ser poeta para poder falar da dor que me invade o peito, que me aperta o coração, que faz calar a mais bela canção. Quisera ser poeta para poder dizer-te com sonetos e poemas, a falta que sinto de ti.
 
Se eu fosse poeta, brincaria com as palavras. Com elas criaria rimas belas para dizer que aqui está um enorme vazio. Choraria com palavras que seriam o meu rio, enorme, profundo e extenso, mas que sem ti é como o Amazonas nas suas mais graves secas.
 
Ah, se eu fosse poeta. Escreveria sobre este teu jeito. Criaria rimas sobre o teu sorriso. Diria como tudo em ti é perfeito. Mostraria o quanto de ti preciso, de um modo muito mais meigo.
 
Se eu fosse poeta diria ao mundo do teu cheiro. Que em ti me completo, que vivo para fazer-te feliz, mas que na tua felicidade, torno-me o mais feliz dos felizes, ficou cheio repleto. Em ti e contigo, a vida é mais vida. O amor se vestiu em forma de mulher. Amor que para ser amor, tem que ter seus momentos de dor. E a dor maior é não poder ter-te cá para beijar-te, abraçar-te. A dor maior é não poder sentir teu perfume, não acariciar teus cabelos, é não poder ter-te em meus braços.
 
Se eu fosse poeta, neste dia tão especial, dia da poesia. Escreveria sobre a alegria e o prazer de um dia ter te conhecido. Escrevia que meu ser, não deseja ter. Meu querer, minha razão é fazer com que sejas feliz. Não importa que tenha que sofrer a dor da separação, pois o amor é sofredor. Ele rasga o coração. Celebra a verdadeira felicidade.
 
Se eu fosse poeta, escreveria deste amor. Que invade o meu ser. Que fala da minha tristeza. Tristeza por estar longe de você. Escreveria sobre o triunfo do amor. A celebração de mãos se encontrando. Lábios a se beijarem, corpos a se tocarem expressando não só sentimento e intimidade, mas amor profundo. Amor que se entrega, que busca, realiza os sonhos e desejos do outro com o único desejo de vê-lo realizado.
 
Se eu fosse poeta escreveria sobre os teus olhos, mas o que escrever se o poetinha já escreveu sobre os olhos da amada e ali expressou tudo? Se eu fosse poeta escreveria sobre o teu corpo, mas como escrever se o autor de Cantares já exaltou o corpo feminino com beleza ímpar. Se fosse poeta escreveria do que invade o ser, mas como fazer, se Camões já falou desta ferida que dói sem doer. Se eu fosse poeta, talvez tivesse a criatividade para poder enaltecer a mulher amada. Teria condições de exaltar teu ser. Saberia dizer que o meu viver, o meu querer, a minha prosa e poesia aqui nesta vida, se encontra no teu ser.
 
Se eu fosse poeta, escreveria sobre as rosas. Escreveria sobre todas elas. Não esqueceria de nenhuma. Falaria da doçura que elas produzem, mas não esqueceria dos espinhos que elas têm. Se fosse poeta diria ao mundo que a mais bela das rosas é aquela que mais espinhos têm. Os espinhos servem para protecção de tão frágil e bela rosa. Sendo assim, se eu fosse poeta, em analogia diria que sou o espinho e tu a rosa.
 
Gostaria de ser poeta. Não o sou. Sou o que sou. É verdade, que não sei brincar com as palavras. Não sei criar rimas ricas. Não sei expressar o que vai dentro do meu peito. Por não ser poeta, hoje dia internacional da poesia, eu não posso dedicar-te um poema. Não posso declamar-te os versos que teimam em não sair. Ficam presos na garganta. Ficam presos no coração, na mente.
 
Não sou poeta. Isto me diz a razão. Por isso, não escrevo-te os versos que teimam em vir a mente. Quisera dizer a toda gente, que não sou diferente. Sou humano, sou gente. Sou alguém que ama, mas não loucamente. Amo perdidamente.
 
Não sou poeta, por isso não escrevo-te os versos que mereces, mas como o mais simples dos mortais, aprendi a dizer e digo diante de toda a gente: Eu amo-te!

Segue a crónica que estou a utilizar como minha pastoral
 
Abraços,
 
 
Marcos Amazonas
 
* 38. Saudade da Igreja (26/03/06)
 
Estou com saudade da igreja. Aquela igreja que encontramos nos livros do Novo Testamento. Não uma igreja perfeita. Não um grupo que vivia isolado num gueto, mas uma igreja presente que influenciava a sociedade. Que fazia com que estruturas dominantes fossem transformadas por causa do amor que ali era vivido.
 
Estou com saudade daquela gente simples que se encontrava para orar e comungar. Povo que dividia o que tinha. Tristezas e alegrias faziam parte do todo. Viviam juntos, e eram respeitados pelos de fora. A igreja caía na graça do povo e a graça caía no povo e o Senhor acrescentava à Igreja os que iam sendo salvos.
 
Onde foi parar esta igreja?
 
Estou com saudade da igreja que pregava a Palavra. Uma mensagem expositiva, clara que levava o pecador a reconhecer que sem a graça de Jesus estava condenado. Uma mensagem simples, contudo profunda. Clara, sem a filosofia e o conhecimento humano. Mensagem pregada no poder do Espírito Santo. Uma mensagem simples, mas com vida. Estou com saudade dos pregadores simples, sem títulos, que estavam na dependência do agir sobrenatural de Deus nas suas vidas e nunca confiavam nos seus conhecimentos e nas técnicas de comunicação e muito menos de como preparar um sermão. Estou com saudade da igreja que tinha pregadores que falavam com espontaneidade. Falavam o que viviam e viviam o que falavam.
 
Estou com saudade da igreja que fazia a diferença. Não se acomodava. Estou com saudade da igreja co-beligerante. Igreja que lutava pelas causas que o evangelho luta, mas nunca uma igreja política e muito menos de politiquices. Estou com saudades da igreja que vivia livre das estruturas escravizantes que não deixam a graça ser graça e que tendem limitar o agir do Espírito em nome de uma tradição que não faz sentido.
 
Estou com saudades da igreja. A igreja sempre nova. A igreja bela que causa impacto na vida social. Estou com saudades da igreja, porque o que vejo é uma instituição com cheiro a mofo. Uma instituição que escraviza e aliena. Instituição que tenta nos tornar autómatos, sem vontade própria. Instituição que valoriza mais os prédios, a estrutura, a liturgia do que as pessoas. Estou com saudade da igreja simples, livre que se reunia nas casas. Caminhava a valorizar as pessoas. Estava livre das liturgias e das instituições. Para onde levaram esta igreja?
 
Estou com saudades da igreja que era reconhecida pelo seu amor. Pela sua entrega e dedicação ao outro. Tenho saudade daquele povo que tinha prazer de se encontrar para juntos orarem e buscarem a presença de Deus. Sinto falta da igreja onde os seus membros não se olham como pessoas acima de qualquer suspeita. Pessoas perfeitas que jamais erram. Não! Estou com saudades da igreja onde os líderes assumem suas fraquezas e dizem que são os mais falhos. São pecadores como os demais. Tenho saudades da igreja onde os líderes eram seres humanos e não semideuses. Onde eu posso encontrar uma igreja assim?
 
Tenho a consciência de que muitos dirão que igreja assim não existe. É utopia. Mas utopia é apenas aquilo que ainda não se tornou real. Porque, como disse Robinson Cavalcanti: "Sem Utopia, porém, não há História. Utopia entendida não como o irrealizável, mas como o ainda não realizado." Sendo assim, tenho saudades desta igreja que foi, mas que poderá ser novamente. Sei que outros dirão que a igreja perfeita só irá ser vista na glória com Jesus. Aqui ela sempre terá problemas. Sempre existirá erros. Mas quem disse que eu estou a pedir perfeição?
 
Estou com saudades da igreja. A igreja simples, verdadeira. Igreja que não tem vergonha de ser igreja. Tenho saudade do povo que se reúne para adorar e a cultuar o Senhor. Sinto falta da igreja que tem prazer em estar na presença do Senhor. Para onde levaram a igreja?
 
Estou com saudade da igreja. Não da denominação. Tenho saudade da igreja que é igreja. Livre de rótulos e conceitos humanos. Igreja que vive em unidade, ligada ao Corpo de Cristo. Igreja Cristocêntrica, firmada na Palavra. Igreja livre, que vive a graça sem preconceitos que cai na graça do povo e não nas gargalhadas dele.
 
Esta igreja é real. Ela feita de gente como você e eu. Permita dizer que esta igreja encontra-se aqui. Ela está no nosso meio. Para mim esta igreja se encontra em Coimbra. É a igreja que eu sirvo como pastor.
 
Como eu amo esta igreja!
 
Pr. Marcos Amazonas dos Santos

Queridos,
 
Esta crónica é muito especial para mim.
Na realidade quando comecei a escrevê-la, pensava em uma pessoa em especial, mas vi que não era justo, porque se escrevesse unicamente para esta pessoa teria que escrever uma crónica especial para um dos meus amigos.
Sendo assim, esta crónica é a minha homenagem aos meus amigos.
 
Beijos,
 
 
Marcos
 
 
 
39. Meu Amigo
Meu amigo é especial!
 
Ele não faz cobranças e muito menos eu dele. Somos amigos e pronto. Não necessitamos ficar afirmando e cobrando declarações de amizade um do outro. Não ficamos a cobrar a presença constante e muito menos chamadas telefónicas. Não necessitamos disto.
 
Meu amigo sabe que pode contar comigo. O engraçado é que só nos encontramos de vez em quando. Passamos pouco tempo juntos. Contudo, com a tecnologia moderna, podemos trocar mensagens, mas até isto fazemos pouco. Enviamos aquelas mensagens generalizadas e isto basta. Basta porque quando recebo uma mensagem dele assim, sei que ele se lembrou de mim. Cada mensagem dele é uma demonstração do seu afecto e cuidado. Ele não espera que eu ligue e diga que recebi. Ele não fica zangado se simplesmente não me manifesto. Ele enviou a mensagem porque desejava expressar seu carinho. Queria mostrar sua consideração e amor sem pedir nada em outra.
 
Quando eu lhe escrevo não espero uma manifestação sua. Escrevo para manifestar minha alegria por tê-lo como amigo. Eu sei que ele fica feliz. Sei que gosta de saber que há alguém que se preocupa com ele. Tenho prazer em fazer isto, mas não faço com tanta frequência. Contudo, quando faço é de coração, e o faço com todo o meu amor.
 
Eu e meu amigo nos encontramos muito pouco. Vivemos em cidades diferentes. Ele é muito atarefado. Nos encontramos quase sempre no mesmo lugar. Eu vou para ministrar uns estudos e lá encontro com ele. Outras vezes, raras vezes estou lá de passagem e ele também. Nosso encontro é uma grande festa. Brincamos, parece que nos conhecemos faz muito tempo. Sorrimos e partilhamos nossas experiências e preocupações. Não ficamos a nos cobrar nada. Simplesmente desfrutamos a amizade um do outro.
 
Eu e meu amigo não concordamos com tudo. Não temos as mesmas ideias. Mas o facto é que não ficamos a brigar por termos pensamentos diferentes. Desfrutamos da nossa amizade. Respeitamo-nos mutuamente e procuramos construir uma ponte que nos ligue e lutamos para que esta ponte não venha a se tornar num muro.
 
Amigos são raridades nos dias actuais. E como disse Milton Nascimento: “Amigo é coisa para se guardar”. Eu não quero perder meu amigo. Quero preservá-lo. Sei o quanto um amigo é importante. Não vou alimentar coisas pequeninas, pequenos nadas que podem destruir uma bela amizade. Tenho aprendido a discordar de ideias, mas continuar amando as pessoas e isto é que tem feito com que a minha amizade perdure.
 
Meu amigo é muito especial para mim. Com ele eu posso falar tudo e mais alguma coisa. Não tenho que ficar preocupado em ficar a falar sempre coisas sérias. Sei que posso descontrair, brincar, sorrir e mostrar minhas fragilidades, pois ele as entenderá e compreenderá. Meu amigo sabe que sou apenas um ser humano. Ele sabe que gosto de brincar e de manter viva a criança que insiste em não morrer dentro de mim. E ainda bem que é assim, pois cada dia que passa, apercebo-me que é justamente esta criança que é a melhor partir de mim. Creio que hoje, com a ternura dos quarenta posso compreender o que Jesus disse sobre sermos como crianças. Se eu matar essa criança o reino dos céus fica muito longe de mim.
 
É engraçado que eu nunca disse isto ao meu amigo. Ele nunca se preocupou em dizer-me isto também. Nós sabemos que podemos contar um com o outro. Sabemos que somos importantes um para o outro. Sempre pensei e continuo a pensar que, quem fica a cobrar algo é por ser inseguro e não confiar no outro. Não preciso cobrar nada do meu amigo. Aliás, tenho prazer em mostrar que ele pode contar comigo. Tenho prazer em procurar fazê-lo feliz. É engraçado que toda minha tentativa para demonstrar meu carinho e afecto faz com que ele retribua muito mais. É a lei da semeadura e colheita. Eu semeio o carinho e afecto na nossa amizade, como resultado colho boa medida, sacudida, transbordante de amor.
 
O meu amigo é especial. Eu o amo muito. Amo-o, não pelo que ele faz e muito menos pelo que deixa de fazer. Amo-o por ele ser quem é. Amo-o por ser um ser humano e não desejar ser mais do que isto.
 
Ah! O meu amigo. Talvez, fosse melhor eu dizer os meus amigos. Eles são bastantes. Tenho visto isto no dia a dia. E sabe de uma coisa?
 
Feliz é o homem que tem amigos. Sendo assim, eu sou muito feliz.
 
Obrigado meu amigo. Não! É melhor dizer: Obrigado meus amigos.
= = =
Meus queridos,
 
Uma das melhores coisas da vida é expressar gratidão. É poder reconhecer aqueles que nos marcaram. Sendo assim, quero expressar a minha gratidão a uma pessoa maravilhosa e muito especial.
 
Abraços, 
 
 
Marcos
 
 
 
40. Meu irmão
 
Ele chama-se Moysés. Não foi salvo das águas, apesar de ter nascido em Manaus perto do rio Negro. Ele não se tornou o grande líder de uma nação. Não a conduziu à terra prometida. Mas ele como o Moisés da Bíblia é um exemplo de mansidão e humildade. Este é o meu irmão.
 
Moysés sempre foi um lutador. É batalhador desde o nascimento. Nasceu de sete meses. Apresado sempre. Lutou para sobreviver e conseguiu pela graça e misericórdia de Deus. Ele é um lutador. Teve que ir estudar à noite, pois muito cedo começou a trabalhar. Lutou muito. Construiu um futuro. Aprendeu uma profissão. Fez-se homem e como homem, tornou-se um excelente profissional. Cresceu na sua carreira. Ficou economicamente independente, mas preferiu ser interdependente. Tudo o que era seu, era também dos que com ele partilhavam a vida.
 
Meu irmão não se deixou seduzir pelo dinheiro. Sempre foi gentil. Mesmo quando por opção sua deixou a comunhão dos irmãos da igreja, mas nunca deixou a igreja. Ele sempre foi igreja. E sendo igreja ajudou e sustentou muita gente. Sua generosidade fez com que vários locais fossem alcançados.
 
Moysés sempre foi amigo. Muitos se aproveitaram deste aspecto para como uma sanguessuga tirar o máximo que podiam dele. Entretanto, ele com sua simplicidade e humildade, fazia de conta que não fazia que aqueles à sua volta só queriam tirar aquilo que ele ganhava. Ele não se importava, sua generosidade era maior que a inveja voluptuosa daqueles que sugavam tudo quanto podia.
 
Meu irmão sempre construiu pontes. Sempre com um coração enorme. Olhava mais para os outros do que para si mesmo. Como alguém que nunca deixou a chama do amor por Jesus apagar dentro de si mesmo, era um grande proclamador da graça. Não estava ligado a igreja alguma, aliás nenhuma igreja o aceitaria como membro por causa do seu estilo de vida. Mas o facto é que como gerente geral as empresas por onde passou, sempre fez questão que nosso pai, pastor estivesse presente nas festa da mesma, e desse uma palavra aos funcionários. Nas festas que fazia em sua casa todos tinham que ouvir a Palavra da graça. Meu irmão me lembrava Pedro, que quanto mais tentava negar seu envolvimento com o Senhor, mas falava que lhe pertencia.
 
Muitas coisas me marcaram no meu relacionamento com meu irmão. Mas nunca esquecerei a vez que cheguei em seu escritório e ele ali, só com a Bíblia aberta a meditar. Em comunhão profunda com Deus. Mas sua luta era constante. Ele insistia em fugir do Senhor. Mas quanto mais fugia, tanto mais a graça era manifestada. Isto é tão verdade que ainda lembro das muitas madrugadas em que o telefone tocava. Acordava sobressaltado e ouvia aquela voz que me deixava super preocupado. Lá saia eu pela madrugada com o coração na mão a pensar que algo grave havia acontecido e quando chegava nos locais indicados, encontrava Moysés com um grupo de amigos a falarem da fé. Ele me chamava e dizia que eu podia dar-lhes a resposta para uma vida melhor. Ele estava ali a transpirar graça e hoje tenho a convicção plena que aquela mensagem passou e alcançou corações. Deus trabalha de maneiras inesperadas.
 
Meu irmão é um Jó dos dias actuais. É lógico que ele não perdeu seus filhos. Sua mulher não diz para que ele amaldiçoe o Senhor, pelo contrário ela é um exemplo de esposa. Ele assemelha-se a Jó no facto de ter perdido tudo. Meu irmão está longe de ser aquele homem que tinha tudo. Agora à sua volta já não encontramos as sanguessugas, os abutres. Neste momento, só aqueles que são amigos é que se encontram ali com ele. Acabaram-se as festas. Mas ele continua o mesmo. Sua generosidade aumentou. Sua confiança em Deus é inabalável. É confortante poder falar com ele. Apesar das lutas e dificuldades, não se vai abaixo. Mantém a chama da fé e dependência no Senhor completamente viva. E o Senhor tem sido com ele. Deus tem sido fiel e providenciado tudo o que é necessário. Nada lhe tem faltado. É engraçado, aquele que tanto abençoou, que tanto apoiou, hoje é apoiado. Deus nunca abandona os seus.
 
Meu irmão é meu herói. Sua vida é uma inspiração. Eu o amo muito, apesar de muitas vezes ter discordado das suas opiniões e atitudes, ele sempre soube que podia contar comigo do mesmo modo que eu sempre contei com ele.
 
Meu irmão está cada vez mais próximo de Deus. Sua intimidade com o Senhor é impressionante. E eu creio que como Jó, depois de ter permanecido firme na fé, o Senhor lhe restituiu tudo, assim acontecerá com o Gordo.
 
Meu irmão é muito especial. Feliz quem pode ter um irmão como ele. Eu sou feliz, sou uma pessoa realizada, pois sei que independente de qualquer coisa, posso sempre contar com ele. Sei que nada, nem ninguém fará com que ele seja diferente. Nada poderá destruir a fonte de amor que jorra da vida dele para as nossas vidas.
 
Meu irmão é único. E se sou o que sou, se consegui algo nesta vida, além de ser grato a Deus, tenho que ser muito, mas muito grato a este irmão que muito amou e ama.
 
Meu irmão eu te amo e me orgulho muito de ti.
 
Um beijo.

Queridos,
 
Sei que enviar texto demais cansa. Faz com que deletemos sem ler. Contudo, estas duas crónicas estão interligadas. Uma escrevi enquanto meditava aqui no escritório, mas a outra é fruto do que vi acontecer com meu filho.
O que estou querendo dizer é que há uma crónica e um desabafo de um pai com o coração rasgado.
 
Beijos,
 
 
Marcos
 
 
41. O Vento
 
O céu está azul, o vento entra pela janela que está aberta. Olho e vejo as árvores a balançarem com o vento. Elas dançam a mais bela das músicas. Isto me transporta para a minha querida Manaus. Lembra-me do tempo de menino peralta, que com os amigos seguiam até a chácara para apanhar frutas. O dono da chácara não gostava nada da nossa atitude, mas não resistíamos em roubar mangas, jambo, ingá e tantas outras frutas que haviam lá.
 
Este delito fazia parte do desenvolvimento e do caminho que começava a viver. Fugia da igreja e da religião. Depois de roubar às frutas íamos tomar banho num igarapé. Se fosse aqui diriam que era o Mondego, mas quem tem o Amazonas como rio, não pode olhar para o Mondego como referência. Ele seria apenas um braço de rio (igarapé). Como sabia bem aquele banho. Era refrescante, pois o calor em Manaus é algo terrível. Ali divertíamos a valer. Depois havia uma boa futebolada. Era uma vida fantástica. Não tínhamos com que nos preocupar. Não nos interessava saber que o país vivia em ditadura. Nós não a sentíamos e não a víamos. Nossa consciência política estava embotada. Fazíamos parte da “Geração Coca-Cola.”
 
Lembro de cada momento vivido ali em Manaus. Lembro-me das vezes que desejei que os banhos tomados no rio trouxessem refrigério a alma. Olho e vejo como é fácil viver com uma máscara e enganar a todo mundo. Como é fácil fazer as pessoas pensarem que somos felizes e realizados. A olhar para trás vejo que fui um excelente actor. Representei para os amigos, mostrava uma felicidade que não existia. Representava aos meus pais e na igreja, pois era obrigado a frequentá-la. Mostrava-me um santo, mas era o mais infeliz e rebelde de todos. O vazio e a culpa me consumiam por viver uma mentira. Mas ninguém pode negar que fui um excelente actor. Teria ganho o prémio de melhor actor.
 
O vento entra pela janela e traz com ele recordações de um tempo que foi marcando a minha vida. Mostra as minhas loucuras e como milagrosamente eu fui sendo poupado das tragédias da vida. O céu azul mostra como tudo ficou claro na minha vida. Mostra-me que as lutas e as guerras do passado já não existem mais. Está tudo limpo.
 
Sinto a brisa no meu corpo. Tenho vontade de deitar-me na areia de uma praia ribeirinha qualquer e olhar aquele céu mais céu, mais perto de nós. Quem sabe, bebendo um bom suco de cupuaçu. Suco e não sumo, pois ali até suco é errado, pois o correcto é dizer um bom vinho de cupuaçu ou de açai ou buriti. Ali a desfrutar das coisas da minha terra, reconcilio-me com as pessoas que feri. Já estou em paz com Deus, comigo mesmo, minha cabeça e consciência estão tranquilas, mas sei que na estrada da vida deixei pessoas magoadas e como eu gostaria de poder pedir-lhes perdão.
 
Olho da minha janela, vejo o pequeno monte que existe. Ao cimo dele, árvores a dançar a mais bela melodia que o vento suave produz. Este pequeno monte é uma barreira intransponível. Ela me impede de viajar no tempo para refazer as coisas que estraguei. O que passou, passou. Já não há mais nada a fazer. Só nos resta a lembrança, doce ou amarga, mas lembrança. Eu cá, guardo uma doce lembrança. Sei que as coisas amargas deixaram suas marcas, mas elas passaram. Hoje a memória já não me condena. Tenho consciência de que fui perdoado e eu próprio me perdoei.
 
Sinto o vento suave em meu corpo. Vejo as árvores na sua dança. Imagino-me na beira do rio. Imagino-me sob o sol escaldante do Amazonas. Salto para dentro da água. Refresco o meu corpo no rio Negro. Nado com prazer e alegria. Desfruto o momento sem preocupação. Já não há mais o desejo de ser lavado interiormente. Já não existe mais o desejo que o rio Negro me conceda refrigério interior. O meu refrigério aconteceu quando fui lavado na Água da Vida. Quando fui limpo e pude me tornar uma fonte que jorra água límpida. Toda a sujidade foi tirada. Toda a culpa foi levada. Já não preciso ser actor. Agora posso ser eu mesmo.
 
O vento suave traz alento ao coração. Ele entra suave e silencioso pela janela aberta. Uma brisa refrescante que me consola. É aquela brisa suave que mostra o agir do Criador. É aquela brisa suave que num cicio chama-nos para fora, pois é do lado de fora que a vida está a decorrer. É o mesmo cicio que levou Elias a deixar a caverna. É esta brisa suave que me impulsiona para a vida. Mostra-me o mundo, mostra-me os desafios e diz que é do lado de fora que a graça deve ser vivida.
 
O céu continua azul. O vento insiste em soprar. Eu já não olho para trás. Já não prendo-me ao passado. Olho o meu presente e o futuro. Vou seguir em frente. Vou viver e com o meu viver levarei esta brisa suave e leve para que ela possa tocar outras pessoas.
 
O vento sopra onde quer. Ainda bem que Ele soprou na minha vida e mudou a minha direcção.
 
 
 
 

 
42. Crueldade (30/03/06)
 
A vida é cheia de surpresas. Muitas destas são desagradáveis. Elas nos ferem, machucam e magoam. Muito mais ainda quando estão relacionadas aos nossos filhos. Ficamos revoltados, indignados. Queremos fazer justiça com nossas próprias mãos.
 
Escrevo estas linhas com dor no peito. O coração sangra por dentro. Não posso aguentar ver a dor do meu filho. Neste momento tenho que ser pai e pastor. Tenho que ser conselheiro e amigo. Tenho que garantir protecção e segurança. Contudo, estou em farrapos. Meu desejo era correr em direcção daqueles que o deixaram triste e tomar uma atitude, mas não posso. Sendo assim, Tenho que estar do seu lado e ser apenas abrigo neste momento difícil.
 
Matheus é um menino especial. É sensível, carinhoso e leva tudo a peito. Hoje seus melhores amigos não permitiram que ele participasse da brincadeira. Foi excluído, desprezado. Posto de parte e isto o magoou profundamente. O desprezo é a pior coisa que nos pode acontecer. Principalmente quando este desprezo vem de quem consideramos e amamos. E sei que Matheus ama os seus colegas de escola. Sua dor tornou-se a minha dor. Meu coração ficou dilacerado ao vê-lo chorar. Minha vontade era agarrá-lo e beijá-lo, mas também sei que por mais duro que isto possa parecer, faz parte da nossa formação. Na vida temos que enfrentar a dor e o sofrimento. O desprezo sempre vai aparecer e procurei consolar o meu filho na viagem até a casa. Quando aqui chegamos o abracei, apertei-o junto ao meu coração e deixei-o ali a chorar. Não disse nada. Limitei-me a abraçá-lo. O meu silêncio falou mais do que qualquer coisa.
 
É impressionante ver que a crueldade tem a capacidade de destruir nossa alegria. Ela destrói o nosso prazer pelas vitórias alcançadas. No carro, Matheus disse-me que isto foi acontecer logo hoje que ele estava muito feliz. Logo hoje que obtivera uma grande vitória. Logo no dia que sua luta e testemunho estavam a dar resultado. Ainda com lágrimas falou que uma colega sua já não xinga mais por causa dele. Disse que ela deixou de dizer asneiras pelo facto de ele não as dizer. Sua alegria era autêntica e bem fundamentada. O seu testemunho está a fazer a diferença, mas a crueldade dos amigos impediram-no de sentir o prazer pela vitória alcançada.
 
Neste episódio pude ver como o ser humano consegue ser cruel. Não importa a idade. Não importa a condição social. A maldade se faz presente em todo ser humano. Esta crueldade latente quando é extravasada impede que outros se realizem e sejam felizes. Ela causa dor e sofrimento. O sofrimento é alargado, ele geralmente se dá em cadeia, pois quem sofre, acaba por fazer outro sofrer também.
 
Eu sofri pelo meu filho e com o meu filho. Sofri por me ver incapacitado, por não poder fazer nada para amenizar a sua dor. Sofri por saber que são estes mesmos meninos e meninas que continuarão a conviver com ele e se ele não souber trabalhar suas emoções e atitudes poderá ser esmagado por estes colegas. Entretanto, no meio desta dor, com o coração rasgado a sangrar, sou confortado e consolado pela notícia do seu testemunho. Ele diz-me em meio às lágrimas, mas estas lágrimas lavam-me o coração ferido. A notícia vai cozendo o meu coração. Traz a paz e a serenidade que parecia ter desaparecido por causa desta situação tão delicada. Em casa quando nos abraçamos, na realidade quem é consolado sou eu. Ele recupera logo. Não guarda rancor e ressentimento. O perdão é algo vivenciado com intensidade. A dor do desprezado é substituída pela alegria da restauração que foi promovida pelo perdão.
 
Como pai, sofro e sinto meu corpo todo moído. É uma dor indescritível. A crueldade me atingiu, invadiu cada parte do meu ser. Levou-me às lonas. Fez brotar em mim o que de pior há no ser humano. Vi que a crueldade que os outros fazem é apenas um reflexo daquilo que eu sou capaz de fazer também. O desprezo que foi dado ao meu filho é o mesmo desprezo que eu também posso dar a muitas pessoas.
 
Sinto o coração apertado. Estou fechado, meus poros estão comprimidos. Tenho vontade de gritar. Não pela crueldade sofrida pelo meu filho, mas pelo facto de ver que sou mais cruel do que todos os seus colegas.
 
Quando a Bíblia apresenta os 10 mandamentos, é interessante ver que eles aparecem na negativa. Lá encontramos: “Não matarás!”.  Hoje compreendi isto de modo muito claro. É que este mandamento pela positiva mostra que eu sou um assassino em potencial. Naquele momento, percebi que eu era como uma fera que se via no direito de defender a sua cria. Assim, faria qualquer coisa para destruir os que estavam a maltratá-lo.
 
Meu Deus, como eu sou tão cruel. Como num instante sou levado de um lado para o outro. Se não fosse o teu agir, a tua presença eu estaria perdido, pois sou o pior dos piores.
 
A crueldade é uma realidade. Ela é uma realidade na minha vida. Como Deus disse a Caim, ele diz a mim também: “o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar.” Tenho que lutar para dominar esse mau que está presente na minha vida.
 
Espero que a minha crueldade nunca possa ferir ninguém.

Segue  uma crónica escrita semana passada, num dos locais mais belos que existe em Portugal.
Quem conhece H2O Madeiros sabe do que falo.

Abraços,


Marcos Amazonas


*43. Silêncio (11/04/06)

Já está tudo em silêncio. Todos estão a dormir. Por isso, o som que escuto é o das ondas e do vento que sopra suavemente. A lua esta belíssima. Ela inspira os poetas e os namorados. Eu aqui, cansado depois de um dia de correria e principalmente por ter jogado uma partida de futebol com os adolescentes. Da lua só consigo admirar sua beleza. Não há inspiração nenhuma neste momento.
Quero desfrutar o silêncio. Quero ouvi-lo a falar comigo. Preciso ficar mais vezes em silêncio. Necessito viajar para dentro de mim mesmo. Não posso ficar a dar respostas aos demais e não ter tempo para dar respostas para mim mesmo. Este é o meu momento. Tenho que ficar quieto e desfrutá-lo. Não posso ser sempre para os outros. É hora de ser para mim mesmo. Estou como Jonas que deseja sentar-se à sombra da aboboreira e refrescar-se. Quero descansar, estou mesmo cansado.
O silêncio aponta-me o oceano. Transporto-me no tempo para ser como um descobridor e seguir na minha caravela rumo às terras nunca antes navegadas. Viajo em direcção ao sul. Caminho em direcção a terra brasilis. A terra é claro que me encanta, mas não é por ela que me envolvo nesta bravata. Faço esta rota em busca da mulher amada. Minhas respostas estão nela. Ela é meu porto seguro.
O silêncio vai tecendo uma rede que me leva ao teu encontro. Encontrar-te é poder sorrir o riso dos apaixonados. Porém, encontrar-te é ter que aconchegar-te nos braços com o desejo que possas receber o consolo para este momento tão delicado que estás a viver. Encontrar-te é doar-me por completo para que possas sorrir.
O mar é a minha estrada. Ele leva-me directamente a ti. Não é um inimigo a ser vencido. Não é um adversário. É caminho a ser trilhado. É rota a ser seguida. Estou de um lado do oceano e tu no outro. O mar que nos separa é o mesmo que nos une.
Silêncio. Tudo quieto à minha volta e eu a revolver-me. O sono insiste em não chegar. Vou dialogando comigo. Vou abrindo-me e percebo que cada dia que passa o vazio que sinto está a diminuir paulatinamente. Ele é menor do que o de ontem. Cada dia que passa, sou renovado pela esperança do teu regresso. Cada dia que passa vejo mais próximo o momento do reencontro. Sinto mais o aumentar da tua fragrância. Teus braços caminham ao encontro dos meus. Sei que cada dia que passa aproxima-nos, mas tenho consciência que o teu regresso vai ser cruel e doloroso para ti. O encontro com uns significa despedida de outros. E despedir-se é doloroso. Sei o quanto sofrerás, por isso tenho que ser fortaleza. Tenho que ser abrigo e castelo forte para ti.
Aqui com o meu silêncio, a desfrutar desta quietude, reconheço que terei que construir uma muralha para as barreiras da separação que marcarão o nosso reencontro. Encontrarmo-nos significa a separação da tua família. É a dor da despedida. Dor aumentada pela incerteza do que aguarda a Josué. É a dor de deixar alguém que tanto se ama acamado. Como será que poderei ajudar-te a vencer a saudade e a tristeza de deixares à família para trás?
Está tudo quieto à minha volta, mas em meu coração, o meu ser agita-se em busca de respostas para poder ser o teu porto seguro. É em meio a tudo isto que o sono insiste em não chegar. É no meio desta luta que vejo Matheus a dormir tranquilamente. Ele não se preocupa com o amanhã. Está em segurança. Ele ensina-me que eu não posso fazer nada, tenho apenas que estar preparado a viver cada dia e confiar que o futuro está nas mãos do Senhor pois Ele tomará conta de toda situação. Sendo assim, nesse misto de inquietação e contestação, vou deitar e dormir. Vou fechar os olhos na certeza de que Aquele que tem o universo nas suas mãos não irá descuidar de nós.
Está tudo quieto à minha volta. Esta quietude mostra que eu devo parar e me aquietar. Devo sossegar e descansar. É isto que vou fazer. Vou descansar e esperar o grande dia do nosso reencontro.


Queridos,
 
Este texto tem mais de vinte anos.
 
Abraços,
 
Marcos
 
*44.A Família como Grande Centro Social
 
Sempre gostei de escrever, mesmo sabendo que não levo muito jeito. Sou insistente. Não desisto facilmente. Mesmo diante das críticas que dizem que não há futuro como escritor. Escutei muitas vezes esta declaração em minha adolescência, mas mesmo assim, os textos insistiam em sair.
 
O facto é que já se passaram mais de vinte anos e eu continuo a rabiscar. É a minha terapia. Na escrita sou o meu psicólogo. É através dele que me aconselho e também faço meus desabafos. Na escrita vou tratando as minhas feridas. Vou verbalizando o que muitas vezes não consigo verbalizar pessoalmente.
 
A última vez que estive em Manaus fui à casa de meu pai. Lá encontrei meus velhos escritos. Encontrei minhas rimas que um dia pensei que eram poemas, sonetos. Talvez, quem sabe um dia, quando eu já esteja mais velho venha com eles aqui para fora e os chame de poemas da adolescência. O nome já tenho, falta a coragem de mostrar a minha infantilidade. O facto é que no meio destes poemas encontrei uma crónica, que confesso não lembrava. Sei porque ela surgiu. Foi uma conversa que tive com um senhor de São Paulo e falamos muito sobre a importância da família. Até hoje estou curioso em saber porque aquele homem ficou a conversar comigo tanto tempo. Como resultado daquela conversa surgiu esta crónica que passo a transcrever. Ela vai continuar com todas as suas falhas, mas para um adolescente, minhas ideias estavam bem interessantes. Pelo menos eu gostei do que escrevi a mais vinte anos atrás.
 
Não importa o que eu achei do texto o que desejo é transcrevê-lo e aqui vai ele:
 
Não obstante a família ser um tema muito abordado, há sempre oportunidade de se fazer declarações que contribuam para o seu processo socializante.
 
Podemos perguntar: Por que a família é o grande centro social do indivíduo?
 
É preciso muita reflexão, pois mesmo parecendo simplista podemos afirmar que em primeiro lugar a família é a “Célula Mater” do indivíduo.
 
Sim, desde que o mundo foi criado, a primeira instituição formada foi a família. Isto porque, é impossível para o homem viver isolado, sem o convívio do seu semelhante.
 
Sem família, jamais existirá o conceito de comunidade, de vida em grupo. Jamais haverá referências de troca e acima de tudo de companheirismo.
 
Em segundo lugar, é na família que se tem o início da comunicação, da socialização. Nela o indivíduo aprende a expressar-se de maneira positiva, demonstrando aquilo que deseja e também o que não deseja.
 
É neste processo que acontece o primeiro processo de massificação. Este processo dá-se de maneira lenta e gradual, mas estende-se por toda a vida do indivíduo.
 
O processo de massificação na família acontece quando os pais incutem na cabeça dos seus filhos que o que eles afirmam é a única coisa boa e coerente que existe. É interessante notarmos que estes conceitos serão levados e exteriorizados para à nossa comunidade e também para toda sociedade por toda nossa existência.
 
Portanto, quando se vive na sociedade privada, é necessário que os mais altos padrões sejam vividos, pois é do pequeno que se alcança o grande.
 
A família é o grande centro social porque o indivíduo aprenderá a conviver com os opostos. Isto só acontece na família. A relação hetero e homossexual unem-se de maneira saudável.
 
Neste contexto podemos ver e afirmar que por mais que tentemos, o centro social mais completo e perfeito ainda é a família.
 
Passados vinte e poucos anos, pouca coisa mudou no meu pensamento. Não sou mais aquele adolescente, mas confesso que a influência positiva da minha família fez-me crer nesta realidade. É lógico que se fosse escrever sobre este tema hoje, trabalharia a ideia de modo diferente, mas o essencial continuaria o mesmo.
 
O adolescente hoje é pai de família. Já não pensa que os pais são donos da verdade, mas continuo a pensar que a influência dos pais na orientação da verdade é fundamental. Mas não quero criticar o que escrevi no passado. Só quero que este pequeno texto seja lido. E que cada um reflicta e cheque às suas conclusões.
 
Eu sei o quão importante foi para mim poder reencontrar-me com esta crónica. E sabe o que mais? Valeu à pena


Segue mais uma crónica.
 
Abraços,
 
 
Marcos Amazonas
 
 
*45.Cidade Maravilhosa 15/04/06
 
Cidade de contrastes. Cidade Maravilhosa. O Rio de Janeiro é assim. Apesar de tudo o que possam dizer, ninguém consegue descrever o fascínio que a cidade nos causa. Não dá para esquecê-la.
 
Ainda me lembro a primeira vez que estive no Rio. Lembro o quão fascinado fiquei enquanto caminhava no carro do aeroporto até à casa. Ia sorvendo tudo no caminho. Estava deliciado com a cidade e os seus morros. Eu que só estava acostumado com planícies, tinha o privilégio de ver os planaltos.
 
Tive o privilégio de viver num dos melhores bairros do Rio. Vivia na Tijuca. Morei na rua Bom Pastor. Da varanda podia ver o morro do Salgueiro. Fui seduzido pela praça Sans Peña. Toda a sua beleza, a feira que ali ocorria. Como era bom caminhar por aquelas ruas. Era ali que apanhava o metro para seguir até o Estácio e de lá apanhar o autocarro que me conduzia até o seminário. Não posso esquecer a sensação de passar a ponte Rio-Niterói em autocarro. Não dá para esquecer a sensação de olhar para o mar lá em baixo enquanto aguardávamos que o tráfego avançasse sem problemas.
 
Lembro de caminhar e poder ver o imponente estádio do Maracanã. É melhor dizer, o estádio Mário Filho. Fiquei maravilhado. Melhor ainda foi entrar e poder ver um bom jogo de futebol. Quem deixa o estádio do Maracanã pode ver o encanto da cidade. É seduzido pela gente alegre que caminha por ali sem se deixar abater pelas tragédias da vida.
 
Caminhar pelos bairros típicos da cidade é algo que não consigo explicar. As palavras são poucas para dizer da sensação do que é caminhar pela Vila Isabel, Mangueira, pelo Estácio. Como explicar o que foi andar pelo centro da cidade. Cinelânida, Praça 15,  cada lugar com seu encanto. Mas é verdade que fui arrebatado quando visitei o Pão de Açúcar e o Corcovado. Quando olhamos a cidade dali de cima temos que dizer: Esta cidade realmente é maravilhosa.
 
O que dizer das praias? Não existem melhores. E aqui não falo apenas das praias da cidade do Rio. Falo das praias do estado do Rio. Cada uma mais bonita que a outra. Na cidade do Rio deixei-me levar pela beleza de Ipanema e Barra da Tijuca. Mas confesso que a região dos lagos é extraordinária. Ali conheci Arraial do Cabo, Cabo Frio, Búzios, Saquarema. Foi aí que passei a amar o mar, pois até então eu, caboclo amazonense só conhecia o rio. Mar era coisa que eu só conhecia através da televisão e do cinema. Sempre achei que não gostaria de tomar banho no mar, mas como eu estava enganado.
 
A cidade é maravilhosa. Cheia de contraste. Um povo alegre que tem jogo de cintura. Sorri em vez de chorar. Criativo sempre. É a terra do malandro. Como era engraçado poder ver aquela gente a caminhar cheia de ginga. Aquela musicalidade espontânea e natural, sempre com muita melodia.
 
Dizem que o Rio é violento. Não nego que haja violência lá. Vi um assalto certa vez, mas confesso que os anos que lá passei nunca tive problema. Não posso dizer que o Rio seja violento. É claro que há violência. Como toda grande cidade ali também se faz sentir o efeito agudizante das grandes cidades, mas não posso dizer que Rio é violento. Não o Rio que eu conheci. Talvez, este de agora seja pior e naturalmente é pior, mas o Rio que conheci era mágico.
 
O Rio de Janeiro é um cartão postal. Sua beleza é incontestável. Não há igual no mundo. Eu amo o Rio, pois foi ali que o amor se fez real na minha vida. Foi no Rio que conheci a mulher amada. Para mim, o Rio sempre terá encanto. Será sempre maravilhoso. Digam o que disserem, pois ali vivi experiências maravilhosas.
 
Realmente a canção está correcta ao dizer que esta cidade é maravilhosa, cheia de encantos mil. Quem lá passou não pode negar tal facto.
 
O Rio é lindo. Para um caboclo como eu, tem sempre encanto. É verdade que não troco minha Manaus com sua gente. É verdade que entre as duas cidades fico num dilema terrível. Não dá para escolher, pois cada uma tem sua particularidade. Mas não estou a escrever sobre Manaus. Estou a exaltar a grandeza do Rio. E vale a pena sempre fazê-lo.
 
Foi no Rio que eu pude ver a beleza dos planaltos. Foi ali que me encantei com o mar e me deixei levar por ele. Foi no Rio que encontrei a mulher amada. O Rio para mim foi e sempre será maravilhoso. É facto que Manaus continuará sempre a ser a Morada do Sol. Será meu porto de chegada.
 
O Rio é lindo. Manaus é ternura. Coimbra é o lugar onde estou a fixar raízes. Cada uma destas cidades tem seu encanto. Não escolho nenhuma. Amo-as de modo diferente. Para mim elas são cidades maravilhosas.
Queridos,
 
Segue o texto que escrevi para que possa ser lido no culto de louvor ao Senhor em gratidão pela vida de Josué.
É com tristeza que posto este texto, mas também com alegria e esperança por saber que Josué esta com o Senhor.
 
Marcos Amazonas
 
 
*46. Há um tenor a cantar no céu . 07/05/06
 
“2 Samuel 1.17-27”
 
É com profunda tristeza e saudade, que escrevo estas palavras. É a sentir a dor da perda de alguém muito chegado e amado que tento organizar as ideias para prestar mais uma homenagem aquele que em vida foi um exemplo para todos nós.
 
Tomara eu ter a autoridade de David, para poder dizer que este lamento e o lamento da família fossem ensinados aos filhos do Senhor. Que fossem ensinado à igreja. Digo isto, porque Josué foi um exemplo de cristão. Ninguém pode dizer o contrário. Do tempo que convivi com ele, nunca o ouvi falar mal do que quer que fosse. Nunca se queixou dos pastores que foram seus líderes. Sempre serviu a igreja. Sempre viveu igreja. Agora é igreja na presença do Senhor.
 
David lamentou a morte do amigo Jónatas e do sogro Saul. Eu lamento a morte do meu amigo, sogro e irmão Josué. Minha esposa e filhos lamentam a morte do amigo, irmão pai e avô. Contudo, nosso lamento é marcado pela esperança, pois sabemos que Josué está com o Senhor. Temos a consciência que neste momento ele já não sofre. Ele está em paz e foi revestido de incorruptibilidade (Ap 21.4; 1 Co 15.54-57). Ele está com o Senhor. Enquanto houve esperança, jejuamos, oramos, suplicamos ao Senhor para que curasse Josué e nos permitisse tê-lo connosco mais algum tempo. Contudo, esta não foi a vontade do Pai. Nós adoramos o Senhor e aceitamos os seus propósitos e desígnios. Temos a convicção de que não podemos fazer Josué voltar, mas nós iremos a ele (2 Sm 12. 20-23). Nós iremos nos encontrar com o Senhor e sabemos que Josué estará lá à nossa espera também e isto nos consola.
 
Josué faleceu. Nós sentimos a dor da despedida. Contudo, queremos cantar o hino de adoração de 2 Coríntios 1.3-5. Texto tantas vezes por mim citado, agora é hora de vivê-lo intensamente. É momento de sentir todo o consolo e conforto que só o Príncipe da Paz pode dar.
 
O salmista diz: “Preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos” (Sl 116.15). É-nos difícil compreender este facto mas ele é real. A morte de Josué foi preciosa aos olhos do Senhor. É sentida e triste para nós, mas é preciosa porque “conhecemos sua fé, o seu amor ao Senhor e a sua dedicação à obra”. Sendo assim, a primeira realidade é que a morte de Josué foi preciosa porque ele foi para perto do seu Senhor. Está a desfrutar da companhia do Senhor e espera-nos com o Senhor para o grande dia.
 
A morte de Josué foi preciosa porque cessou o sofrimento. Agora já não há mais dor. Não há mais aflição, angústia. Agora tudo é paz. Ele foi acolhido pelo Senhor.
 
A morte de Josué foi preciosa porque ele não negou sua fé. Lutou o bom combate, completou a carreira e guardou a fé. Por isso, a coroa que lhe estava reservada lhe foi entregue pelo Senhor, justo juiz (2 Tm 4.6-7).
 
Nós que aqui ficamos já não poderemos vê-lo a reger os corais e conjuntos. Já não o ouviremos mais a cantar com Loanda. Aqui houve um silêncio. Perdemos um tenor, mas este tenor agora canta no céu. Nós guardaremos na memória todos os momentos, todos os hinos partilhados. Não esqueceremos a maneira única de reger o Aleluia de Haendel. A alegria e o prazer de vê-lo ali a frente do coral a exercer seus dons. Ficamos com a doce lembrança da saudade. Não uma saudade eterna, pois havemos de nos encontrar novamente. Saudade eterna significa separação total e nós estaremos juntos no momento em que o nosso Senhor desejar.
 
Josué encarnou na sua vida o significado de seu nome. Seu nome significa: Javé é a salvação ou Javé dá salvação. Na sua vida Josué testificou que Javé, o Senhor é salvação. Na sua partida ele demonstrou que Javé foi a sua salvação. Josué foi fiel, apesar das dores e dos sofrimentos confiou na salvação do Senhor. Por este motivo, ele pôde escutar o chamado do seu Senhor: “Vinde, bendito de meu Pai. Possuí por herança o reino que te está preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25.34). Em resposta a este chamado, às 12h30m Josué deixa-nos para entrar na terra prometida.
 
Nós filhos, genros, nora e netos, com tristeza sepultamos o nosso querido. Mas também, queremos seguir o legado que ele nos deixou de servir o Senhor. Vamos seguir suas pisadas e como ele ensinou as obras do Senhor, nós também a ensinaremos aos demais para que amem o Senhor e saibam tudo quanto o Senhor tem feito em nosso meio (Js 24. 29-31). Com tristeza e dor louvamos o Senhor pelos anos que nos propiciou na companhia de Josué. Muito obrigado Senhor por tudo o que tens feito e pelo que vais fazer.
 
Agradecemos a todos os que tem sido amigos chegados. Irmãos que estão a solidarizarem-se connosco. Nossa gratidão pelo amor demonstrado.
 
Há uma voz que silenciou. Aqui fica o vazio, a tristeza, a saudade, mas acima de tudo a esperança de encontrarmo-nos novamente e ter o privilégio de ouvir mais uma vez este tenor, não mais aqui na terra, mas no coral celestial.
 
Há um tenor a cantar no céu. Há uma voz suave que ressoa e ecoa nos ouvidos da memória. É a voz inesquecível do nosso querido Josué.
 
Fica com Deus e descansa em Deus.
 
Josué, até breve!

47. O velho (10/05/06 )
 
Matheus escreveu um texto para apresentar na escola. Este texto é uma pequena redacção livre. O professor não dá um tema para os alunos. Eles escrevem sobre o que desejarem. Matheus chegou e como de costume foi para o seu quarto fazer os deveres. Ligou o computador e começou a escrever.
Tenho a convicção plena que este pequeno mais profundo texto, nos mostra o excelente testemunho que foi passado para ele. Sendo assim, envio o texto que ele escreveu.
 
Beijos,
 
 
Marcos
 
O velho
 
 
 
    Era uma vez, um velho, que tinha um lindo sorriso. Esse velho tinha um tenor lindíssimo. Dirigia corais, cantava músicas… Tudo o que fazia era bonito.
 
     Certo dia, ele viajou para outro país. Lá, começou a ter uma tosse esquisita constante. Mas não foi por isso que ele não desfrutou bastante da sua viagem.
 
     Porém, chegou o dia que tinha que voltar para a sua terra natal. Com muita tristeza voltou. O pior era que a tosse estava cada vez a piorar mais.
 
     Ora, o tempo passou, e a tosse piorou bastante. Ele foi a todo o canto para encontrar cura para a tosse, mas ele descobriu que tinha uma doença sem cura. Ele teria que viver com aquilo para o resto da vida. Esse velho teve que ser internado. Lembram-se do seu lindo sorriso? Ele já nem se mexia. Lembram-se do da sua linda voz? Já nem conseguia falar.
 
     Um dia, esse velho deu o seu último suspiro. Não sofreu. Deixou para nós algumas músicas que nos ensinou, a sua maneira de brincar, de chamar toda a gente de “Chicão”…
 
     No entanto, agora canta num sítio especial, e já não sofre.
 
     Esse velho chamava-se Josué, e agora é o meu herói.
 
 
 
 
 
 
 
Texto livre de: Matheus Santos
 
Turma: 6º A
 
 
 
 
 
Dedicado ao meu avô Josué
 
Coimbra 10/05/06

48. Testemunhando em meio as tragédias da vida (04/06/06)
 
O que você faria se a tragédia se abatesse sobre a sua vida?
 
Qual seria sua atitude se de repente, de um momento para o outro você fosse tirado do convívio dos seus pais? Qual seria sua reacção e atitude se o levassem para uma terra distante, para viver como escravo?
 
Como é que você serviria ao seu senhor?
 
O que você pensaria de Deus e seus profetas?
 
Você seria capaz de testemunhar e no meio da sua dor e tragédia manifestar a graça do Senhor?
 
Será que você conseguiria pagar o mal com o bem?
 
Vamos meditar na história de uma mulher. Uma mulher que foi retirada da sua terra. Foi levada para longe da sua família. Ela era uma menina. Ainda não era mulher feita, mas sua história nos inspira.
 
Ela não tem nome. Ela não tem rosto. Não sabemos nada sobre ela. A única coisa que sabemos é que foi levada como escrava e que servia na casa de um grande comandante. Ali ela fez toda a diferença.
 
Vamos ler o texto que narra a história desta menina. Encontramos a história dela em 2 Reis 5.1-3. Esta menina foi levada por Naamã e passou a servir sua esposa. Naamã foi usado pelo Senhor para dar vitória à Síria numa guerra contra Israel. Este comandante famoso sofria de lepra. Ele era alguém que estava marcado, estigmatizado. Esta menina tem que conviver com ele. Ela vê a progressão da sua doença.
 
O que nós faríamos?
 
Será que não exultaríamos em ver a progressão da doença de Naamã? Contudo, esta menina tem uma atitude completamente distinta. Ela age de modo a manifestar graça. É baseado nos princípios dela que desejo meditar. Quero que vejamos as lições que esta menina nos deixa. Sendo assim, reflictamos no que podemos aprender com a história desta menina.
 
1 – Devemos aprender a pagar o mal com o bem
 
Este princípio é extraordinário. Esta menina que é arrancada de sua família. É levada à força para servir de escrava na casa do grande comandante não esboça revolta. Ela não é uma conformista. Ela toma uma atitude geradora de vida. Ela decide manifestar graça. Ela decide que não vai pagar o mal com o mal. Ela conhece a graça e vai manifestá-la.
 
Ela olha para o seu senhor e vê o seu sofrimento. Ela pode acompanhar sua dor, mas não sente prazer nisto. Ela solidariza-se com ele. É este o princípio bíblico: “alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram.” (Rm 12.15). A dor de Naamã era a dor da menina. Ela sofria com o seu senhor. Por isso, ela fala com sua senhor e diz que em Israel há alguém que pode curar seu senhor. Ela diz que mesmo sendo arrastada para aquele local, mesmo a sofrer a saudade da família. Mesmo a enfrentar a tragédia que se abateu sobre sua própria vida ela vai fazer tudo para que o seu senhor seja abençoado. Ela paga o mal com o bem. Ela não se deixa vencer pelo mal. Ele vence o mal com o bem (Rm 12.21).
 
Qual é a tragédia que estás a enfrentar? Quem é que está a fazer-te mal? Quem é o teu algoz? Preste atenção, a primeira coisa que deve ser feita não se deixar dominar pelo desejo de vingança. A Bíblia diz de modo claro: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” (Rm 12.21). Este foi o princípio utilizado pela menina do nosso texto. Ela utilizou sua tragédia e sua dor para ser bênção na vida de Naamã. Faz o mesmo com a tua vida. Não te deixes dominar pelo mal. Vence o mal com bem.
 
2 – Devemos aprender a viver com graça e sem lamentações
 
O texto é impressionante. A menina aparece sendo levada para Síria. Torna-se escrava na casa de Naamã. Não vemos em momento algum ela a queixar-se e a dizer que Deus foi injusto. Não a vemos a reclamar com a sua senhora. Ela aparece a servir a família de Naamã e a servir bem. Ela servia tão bem que seu conselho é seguido. Aqueles senhores notaram que aquela jovem falava a verdade.
 
É interessante que notamos que quando ela fala de Naamã, ela o chama de seu senhor. Ela aceitou o facto de ser escrava. Mas isto não fez com que ela desistisse de viver com graça e a demonstrar graça. Na primeira oportunidade que ela teve ela apresentou a solução para a vida de seu senhor.
 
Foi assim com José. Onde ele esteve, por onde ele passou, ele abençoou as pessoas. Ele viveu com graça e a graça fluía de sua vida para a vida das pessoas que o cercavam. Foi assim com Jonas, que mesmo a fugir de Deus, porque não queria manifestar a graça de Deus aos ninivitas, acabou por manifestá-la a muito mais gente. Quando ele é encontrado no barco fala quem é e de onde é. As pessoas ficam horrorizadas. Ele diz para eles o atirarem ao mar. Eles o fazem, mas depois convertem-se ao Senhor e passam a adorar ao Senhor. Quem vive com graça e sem se lamentar, vai na sua tragédia ser bênção na vida dos outros.
 
Esta menina não ficou fechada em si mesma. Ela não deixou de viver. Ela enfrentou os seus problemas. Ela continuou com uma fé firme no Senhor e não deixou de testemunhar da sua fé.
 
Não desista da sua fé. Não fique a se lamentar pelo que lhe aconteceu. Não desista porque tudo parece dar errado. Olhe para esta menina. Veja que ela nos ensina que devemos viver sem nos lamentar e a manifestar graça.
 
Aproveite a situação em que está a viver e testemunhe da graça do Senhor. Viva na graça e pela graça. Saiba que a tragédia pode vir até você, mas ela não vai destruí-lo. Ela pode vir e até feri-lo, mas você poderá continuar em frente e a dizer como Paulo: “já aprendi a contentar-me com as circunstâncias em que me encontre. Sei passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece.” (Fp 4.11b-13).
 
Em Cristo poderemos viver com graça e livre das murmurações. No Senhor poderemos aprender a viver de modo digno do evangelho. Em Cristo teremos a oportunidade de manifestar a graça do Senhor. Não se lamente. Siga o exemplo desta menina e apresente a graça do Senhor.
 
3 – Devemos aprender que o Senhor transforma tragédias em bênçãos
 
O texto diz que a menina foi levada como escrava para a Síria. Ela foi servir na casa de Naamã. Escravizada, talvez ela se questionasse onde estava o Deus de Israel. Porque o Senhor permitiu que ela fosse levada como escrava. Ela não entendia. Nós também não entendemos muitas coisas que nos estão a acontecer. Mas vejamos o motivo pelo qual o Senhor levou esta menina para a Síria.
 
Ela foi para lá para ser o instrumento nas mãos de Deus para abençoar Naamã. Naamã foi usado pelo Senhor para alcançar vitória sobre Israel. Deus enviou aquela menina à sua casa para que ela manifestasse a graça do Senhor para que Naamã fosse curado da lepra e não só. Ele entendeu que somente o Senhor é Deus e entregou-se ao Senhor. Veja a declaração feita por Naamã: “Eis que agora sei que em toda a terra não há Deus senão em Israel; agora, pois, peço-te que do teu servo recebas um presente.” (2 Rs 5.15).
 
Esta menina foi usada pelo Senhor para mostrar que a mensagem do evangelho é universal. Esta história é utilizada pelo Senhor Jesus (Lc 4.27). O contexto que o Senhor utiliza é a leitura de Isaías 61.1-2. O Senhor diz que a profecia se cumpriu. Depois utiliza este facto para ilustrar o seu ministério.
 
Mais uma vez que pegar a vida de José. Se olharmos bem, diremos que sua vida foi de tragédia em tragédia. Esta é a visão humana. O Senhor olha e diz, estou a preparar-te e a tomar conta da tua vida. José só foi compreender isto quando já era adulto, e teve que perdoar os seus irmãos. Depois da morte do pai, os irmãos tentam justificar-se a mentir e José diz para eles: “Não temais; acaso estou eu em lugar de Deus? Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; Deus, porém, o intentou para o bem, para fazer o que se vê neste dia, isto é, conservar muita gente com vida.” (Gn 50.19-20). José diz que tudo o que lhe aconteceu foi o processo do Senhor em transformar a tragédia da sua vida e dos seus irmãos em bênçãos.
 
Não fique preso às tragédias. Não pense que elas são o fim em si mesmas. Olhe para o projecto do Senhor. Lembre-se do que o Senhor diz através de Isaías: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como o céu é mais alto do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.” (Is 55.8-9). O Senhor tem projectos elevados para tua vida. Ele está agindo e conduzindo tudo de modo que no final possas desfrutar da grande bênção que Ele tem preparado para ti.
 
É como escreveu Paulo aos romanos: “E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Rm 8.28). O Senhor utilizou a tragédia da escravidão para que esta menina fosse o instrumento pelo qual Naamã pudesse ouvir da graça de Deus.
 
O texto não fala, mas penso que quando Naamã regressou, o modo que esta menina foi tratada deve ter sido completamente diferente. Aprenda que o Senhor transforma tragédias em bênção.
 
Confie no agir do Senhor na sua vida.
 
Guisa de Conclusão
 
As tragédias sempre irão acontecer. Um dia, quando menos esperamos elas batem à nossa porta. Somos apanhados de surpresa. Em muitos casos, ficamos revoltados com tudo e com todos. Viramos às costas e largamos tudo.
 
Quando a tragédia nos atinge, ficamos paralisados. Pensamos que estamos derrotados e não temos mais vontade de continuar em frente. Contudo, se não desistirmos poderemos marcar a história.
 
Permitam-me ler uma pastoral que conta a história de John Pierpont. Esta pastoral foi escrita pelo pastor Adão Carlos.
 
“A história de John Pierpont é uma seqüência de fracassos. Após formar-se na Universidade de Yale, iniciou sua carreira de professor, mas faltava-lhe energia para manter a ordem na classe. Por isso, fracassou como docente. Tentou a advocacia, mas era excessivamente escrupuloso, e os colegas mais espertos sempre levavam a melhor sobre ele. E mais uma vez fracassou. Resolveu ser comerciante, mas vendia muito barato e não sabia dizer não aos pedidos de fiado. Também fracassou.
 
        Talvez o pastorado fosse o lugar ideal para uma pessoa tão generosa. Por isso, John Pierpont matriculou-se no curso de Teologia da Universidade de Harvard. Formou-se e foi ordenado pastor, mas fracassou também no pastorado. Tentou a política, porém não conseguiu eleger-se para nenhum cargo.
 
        John Pierpont faleceu em 1866, com oitenta e um anos de idade, alquebrado por inúmeras frustrações. Seu corpo foi sepultado no Cemitério de Mount Auburn, em Cambridge, Massachusetts. E sobre seu túmulo há uma pequena lápide de granito, onde está escrito: JOHN PIERPONT – POETA, PREGADOR, FILÓSOFO, FILANTROPO. Ele viveu seus últimos anos num emprego muito humilde, numa das subsecções do Ministério da Fazenda, em Washington, abrindo e fechando gavetas de arquivos.
 
        Mas o nome de John Pierpont ficou gravado na história não por seus fracassos, mas por um grande sucesso. Numa fria tarde de Inverno, enquanto caía a neve, ele escreveu numa partitura as notas de Jingle Bells, a canção que celebra a alegria de se deslizar pelo escuro gelado das noites brancas, num trenó puxado por um cavalo. Quase cento e cinquenta anos após o falecimento de John Pierpont, milhões de pessoas ao redor do mundo são embaladas por essa linda canção de Natal. Apesar de tantos fracassos, uma única canção foi o suficiente para gravar na História o nome de John Pierpont.
 
        Muito mais importante do que ter o nome gravado na História é tê-lo escrito no Livro da Vida. Neste livro estão gravados os nomes daqueles que viverão eternamente felizes com Jesus. “Deus habitará com eles. Eles serão povo de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor” (Apocalipse 21.3,4). Foi para nos garantir essa felicidade que Jesus veio ao mundo. Ele nasceu, viveu e, por fim, morreu pregado em uma cruz para pagar pelos nossos pecados e nos garantir a salvação. A Bíblia diz: ”Dificilmente alguém morreria por um justo. Mas Deus prova o seu própria amor para con­nosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda peca­dores. Logo, muito mais agora, sendo justi­ficados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Romanos 5.7-9).”
 
Da mesma maneira que John Pierpont, esta menina entrou para a história. Ela é lembrada e citada. Nós não sabemos o seu nome, mas o Senhor sabe. Ela faz parte do povo de Deus.
 
Esta menina é conhecida do Senhor. Ele sabe o nome dela. Ele a conhece. Ele usou-a de modo poderoso na história. O Senhor usou-a como deseja usar-te a ti.
 
Não fiques a lamentar as tragédias. Não fiques a chorar por tudo o que está a acontecer. Não procure a vingança.
 
Siga o exemplo desta menina e faça o seguinte:
 
Pague o mal com o bem
Viva com graça e sem lamentações
Permita que o senhor transforme a tragédia em bênção
Testemunhando em meio as tragédias da vida. Só será possível se exercitarmo-nos nestes princípios.
 
Que Deus nos abençoe!
49. O que é isto na tua mão? (13/06/06)
 
Êxodo 4.2-4
 
Este texto é marcante para mim. Lembro-me na adolescência de ter ouvido uma
mensagem e o título da mesma era o tema que escolhi para este devocional.
Naqueles dias, vivia os anos da minha rebeldia. Contudo, aquela mensagem,
que foi pregada pelo meu pastor e pai falaram profundamente ao meu coração.
Nunca esqueci o título. Estive a reflectir na vida de Moisés e deparei-me
com aquele texto e de modo especial ele falou para mim.
 
Meditando neste texto, hoje descobri o seguinte:
 
A nossa confiança deve estar no Senhor. A vara para Moisés era sua
segurança. Ele depositava sua vida naquela vara. Deus, o Senhor diz para
ele não depender de coisas humanas e sim nele o Senhor. Quantas vezes, nós
estamos a depender mais das coisas do que do Senhor? Muitas vezes, estamos
a fazer coisas e pessoas os deuses da nossa vida e não o Senhor.
 
O que tens em tuas mãos? Onde está a tua dependência?
 
O Senhor está a dizer-te para deitá-la fora. Joga-a por terra.
 
Devemos obedecer o Senhor. Há uma ordem específica que foi dada a Moisés da
parte do Senhor. Ele obedeceu. Não ficou a questionar e titubear. O Senhor
falou e a única coisa que restou a fazer foi obedecer. Moisés não ficou a
explicar a Deus a importância da vara para a vida pastoral. Não procurou
desculpas para poder permanecer agarrado à vara. Da mesma maneira, nós
precisamos obedecer ao que o Senhor nos diz na sua Palavra. Não podemos
querer servir ao Senhor e ao mesmo tempo ficar apegados aos nossos deuses
ou os nossos ídolos. O nosso chamado é para sermos obedientes ao que o
Senhor nos diz em sua Palavra. O Senhor deseja que sejamos obedientes ao
que Ele determinou na Palavra.
 
Aprenda a fugir. É interessante pois a vara se tornou numa serpente. É
lógico que foi algo sobrenatural. Foi o agir de Deus, mas a verdade é que
quando abrimos mão de algumas coisas, elas insistem em nos perseguir. Elas
se tornam em serpentes que tentam nos morder. Há coisas que devemos abrir
mão e para que não voltemos a depender delas, temos que fugir. É preciso
mudar a direcção e tomar um novo rumo, senão corremos o risco sermos
agarrados por nossas serpentes.
 
O Senhor dá-nos sempre o melhor. Deus manda Moisés pegar novamente a vara.
É interessante notar que Moisés fugia, pois na realidade a vara havia se
transformado em uma serpente. Ele estava fugindo e o Senhor falou. Moisés
mais uma vez não questionou. Ele apenas confiou no Senhor e agarrou a
serpente pela cauda e esta tornou-se novamente em vara. Ela já não
perseguia a Moisés. Estava na mão de Moisés. O que fica claro para nós é
que há coisas que abandonamos, mas por confiarmos no Senhor e obedecermos o
seu mandado, Ele irá nos devolver, só que agora de modo diferente. Será
muito melhor. Foi com esta vara que Moisés fez todos os sinais no Egipto.
Foi com ela que ele guiou o povo de Israel pelo deserto. O Senhor
devolveu-a porque Moisés já não dependia dela para sobreviver. Ele já não
confiava na vara, mas sim no Senhor. Há coisas que o Senhor nos tira porque
estamos tão agarrados a elas que nossa vida parece depender delas. Quando
aprendemos a viver sem elas, o Senhor nos concede a oportunidade de tê-las
novamente. Agora elas servirão para ser bênção na vida de outras pessoas.
 
O que é isso na tua mão? Onde tens depositado tua esperança e confiança?
 
Tens problemas em abrir mão daquilo que dependes?
 
Obedece ao Senhor. Faz o que Ele te manda fazer. Confia no Senhor.
 
Vamos orar
 
Senhor dá-nos a capacidade de estar atentos à tua voz. Ajuda-nos para que
possamos obedecer o que tu nos ordena para fazer.
 
Que confiemos em Ti. Que sejamos obedientes e façamos à tua vontade.
 
Dá-nos a capacidade para que possamos depender somente de ti.
 
Esta é a nossa oração em nome de Jesus.
 
Pr. Marcos Amazonas dos Santos

50. A RESPOSTA (10/07/06)
 
Certa vez, quando Débora ainda era bebé, eu estava a tomar conta dela. Enquanto cuidava dela, assistia a televisão. Estava a ver às notícias e houve uma em especial que cativou a minha atenção. A notícia falava de uma jovem noviça, muito dedicada, que ficou decepcionada com Deus. O motivo para tal, é que Deus não havia atendido o pedido que ela fizera em prol da madre superiora. Ela havia pedido a cura da madre superiora, mas isto não aconteceu. Em consequência deste facto, a jovem decidiu abandonar o convento e voltar para sua vida normal. Contudo, houve uma frase que chamou-me a atenção: "Se Deus não me respondeu, eu nunca mais clamo ao Senhor!" Por este motivo ela abandonou o convento.
Será que Deus não respondeu? O Senhor sempre terá que fazer aquilo que pedimos e queremos? O argumento é que Deus ficou calado e não lhe respondeu. Quantas vezes não pensamos assim também? Deus sempre responde. É fundamental para nós entendermos que Deus muitas vezes responde não. Receber um não do Senhor não significa que Ele ficou calado e muito menos que Ele não nos respondeu.
 
A pensar na cena, fiquei a reflectir nas pessoas que abandonaram a fé porque receberam um não como resposta da parte do Senhor. Vi a dura realidade, que muitos não conhecem o Deus a quem servem, pois o chamam de Senhor, mas pretendem que Ele não passe de um serviçal que cumprirá todas as ordens que lhe são dadas. Deus passa a ser um empregado obediente que faz tudo o que desejamos.
 
Deus é Senhor. Ele é soberano. É por isto que pedimos que sua vontade se realize. A questão é a seguinte: Como orar pedindo que a vontade do Senhor seja feita e depois recusá-la porque não veio ao encontro dos nossos desejos? Necessitamos aprender de uma vez por todas que Deus é Senhor e não servo.
 
A Bíblia mostra muitas pessoas que ficaram decepcionadas com Deus, mas não abandonaram a fé. Eu e a maioria das pessoas, têm suas crises, porém quando sabemos em quem temos crido, não voltamos às costas ao Senhor que está nos concedendo a chance da salvação. Vendo aquela cena, conclui que não basta ser religioso. Não é só dizer que amamos a Deus. Precisamos saber quem é Deus, para que entendamos as suas respostas e o seu projecto para nossas vidas. É mister que compreendamos que o Senhor é "Deus perdoador; clemente e misericordioso, tardio em irar-se e grande em bondade" (Ne 9.17). Deus tem sempre o melhor para nós. O importante é que conheçamos o Senhor e dediquemos nossas vidas completamente a Ele.
 
O Senhor sempre nos responde. Eu continuo a pedir-lhe ajuda. Peço muitas coisas a Deus. Ele sempre responde. Já recebi muitos sins, mas também muitos nãos. Contudo, aprendi que independente da resposta posso dizer como o profeta: "Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corsa, e me faz andar altaneiramente. (Hc 3.17-19). Independente da resposta exultarei no Deus da minha salvação e você?
 
Deus é o Senhor. Levantarei minha voz em oração a Ele, suplicarei para que na sua graça e misericórdia me conceda discernimento para que eu posso entender suas respostas. O Senhor responde-nos sempre com o melhor.
 
De alguém que tem aprendido a aceitar os "sins" os "nãos" e os "espera".
 
Pr. Marcos Amazonas dos Santos

Queridos,
Procurando um texto antigo, encontrei este artigo que escrevi a alguns anos atrás. Tomo a liberdade de partilhá-lo convosco. Sei que alguns já conhecem, mas vi que o mesmo ainda tem algo de actual.
Beijo no coração,
Marcos Amazonas
51.O Meu Protesto
Não posso calar-me diante de tanta violência. Tenho que levantar minha voz contra toda espécie de tirania que tenho visto. Como gritou o profeta Habacuque eu também vou gritar e dizer: "Violência!". É verdade, a terra está cercada de violência. A maldade esta sobre toda a terra. Diante deste facto vou dar este grito desesperado como o profeta Habacuque que solta "um grito de angústia" e sem contudo ser um acto de rebeldia.
            Não irei calar-me diante do que está acontecendo no Brasil. A violência está clara e desenfreada. A prostituição infantil é um facto que ninguém pode esconder. Onde estão os políticos que em época de campanha prometem tudo e mais alguma coisa e depois calam-se e escondem-se em seus gabinetes e fazem de conta que isto não está acontecendo.
            Não posso ficar calado diante da injustiça social que paira no meu querido País. Não posso aceitar que um presidente que foi eleito pelo povo agora fuja do povo e busque seus próprios interesses e não demonstre vontade de lutar pelo país. Quero ver a concretização das promessas feitas em duas campanhas presidenciais. Chegou a hora da verdade. É o momento de agir. Chega de acordos fechados entre partidos. Chega de buscar somente os seus próprios interesses. É momento de olhar para os interesses da nação.
            Vou protestar contra a prostituição da Tailândia. Chega de explorar crianças. Elas não podem ser vendidas como se fossem carne exposta num mercado. É hora de agir contra este turismo execrável que têm conduzido à morte milhares de pessoas. É hora de acção, pois a prostituição está se alargando. Os seus tentáculos estão por todos os lados. Não podemos ficar inertes como se nada estivesse acontecendo. Olhemos para a Ilha da Madeira e vejamos quantos adolescentes estão sendo vítimas e ao mesmo tempo réus de turistas que buscam saciar sua sede indomável pelo sexo. São vítimas de planos políticos que não garantem segurança aos jovens. Não dão respostas plausíveis aos problemas reais da sociedade. Contudo, são réus, pois conscientes do que lhes aguarda aceitam calados e vão em busca destas aventuras para encher os bolsos com algumas coroas. Chega. É hora de levantar a voz e dizer que não podemos mais ficar vivendo hipocritamente fazendo de conta que nada está acontecendo. Chega de prostituição.
            É hora de dizer basta de campanhas contra a SIDA (AIDS), afirmando que as pessoas devem utilizar preservativos e propagar o sexo irresponsável. É hora de acabar com a deteriorização da família. Chega de telenovelas que mostram famílias desestruturadas, maridos que vivem para trair suas esposas e esposas que traem os maridos. Jovens que aceitam simplesmente ter relações sexuais como se isto fosse a coisa mais normal do mundo. Chega de tanta violência nas telas do cinema e da televisão. Basta!
            Vou levantar meu protesto contra o que está acontecendo em Angola. Uma guerra que está matando milhares de pessoas. Ficamos parados e calados, pois precisamos da desgraça alheia para amenizar a nossa dor. Porém, vou olhar para mim mesmo, vou olhar para minha dor e não irei relativiza-la. Ela é minha e somente minha, mas isto não irá impedir-me de olhar para o sofrimento dos outros e ver que eles necessitam ser ajudados. Por que ainda não aconteceu uma intervenção em Angola?
            E Timor? Como olhar para tanta violência e ficar calado. Como ficar impune a tudo isto? Não posso calar-me. Como escreveu João monge: "Ai Timor, se outros calam, cantemos nós!". Eu não vou calar, vou protestar, vou gritar e dizer que é hora de acabar com tanta violência. Basta de tanta atrocidades. Por que o mundo assiste estupefacto as atrocidades que estão acontecendo nestes países e não fazem nada?
            Se isto estivesse acontecendo na Europa as tropas da ONU ainda não teriam sido enviadas? Porque aconteceu a intervenção na Jugoslávia? Ainda bem que aconteceu e porque não aconteceu em Timor, Angola e tantos outros países? Chega de hipocrisia. Se a declaração universal afirma que todos são iguais é hora e o momento de mostrar isto. Agindo, sendo rígido, mas acima de tudo buscando a solução de forma pacífica.
            Não posso ficar calado. Vou protestar contra a minha pessoa, pois eu sou parte deste mundo que está deteriorando-se. Como disse Isaías: "Ai de mim! pois estou perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos" (Is 6.5). Isto me dá consciência que mesmo sendo povo de Deus, alguém que foi alcançado pela graça do Senhor Jesus e fui chamado para proclamar aquele que me chamou das trevas para sua maravilhosa luz (1 Pe 2.9), peco e muitas vezes meus pecados são piores do que os daqueles que eu não considero povo de Deus.
            Vou protestar porque não quero ser como Carolina que ficou na janela e não viu as coisas acontecendo à sua volta como diz o poema de Chico Buarque. Quero protestar denunciando a dor desta gente sofrida e angustiada que passa todos os dias por mim diante da televisão ou dos jornais. Quero protestar cantando e gritando a música da ópera Dom Quixote que foi traduzida por Chico Buarque que tem como tema o Sonho impossível. É verdade, quero cantar e gritar assim:
Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei de vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão.
    
            É este o meu desejo. Dar este grito de esperança. Sonhar, este sonho que agora é impossível, mas se eu lutar e não desistir, poderá começar a brotar e tornar-se realidade. Este sonho que agora é utopia, pode tornar-se realidade, pois como disse Robinson Cavalcanti: "Sem Utopia, porém, não há história. Utopia entendida não como o irrealizável, mas como o ainda não realizado". Portanto, estou gritando porque creio na mudança. Creio que podemos construir a história e fazer história.
            Quero protestar contra uma igreja que está calada diante das atrocidades que estão acontecendo. Sou parte integrante da igreja e por isto protesto contra mim mesmo  e faço as seguintes perguntas: Como podemos ficar quietos diante de tudo isto? O que faremos? Ficaremos quietos esperando que os outros façam? É impressionante a nossa imobilidade. Enquanto todos se mobilizam para clamar, nós ficamos parados. Enquanto todos protestam, nós nos escondemos. Chegou o momento de sair do esconderijo e dar a cara. É o momento de assumir quem somos e o que somos e pensarmos que se queremos ter uma mensagem relevante e que seja ouvida pelos outros precisamos neste momento dizer como Dietrich Bonhoeffer: “Neste período difícil da história da minha pátria, devo viver junto com meu povo. Não terei o direito de participar da reconstrução da vida cristã na Alemanha depois da guerra se não tiver compartilhado com meu povo as provas deste período”. Se não partilharmos este período com o povo perderemos o direito de pegar-lhes a mensagem do evangelho.
            É momento da igreja acordar e ver que o povo "está olhando para nós nessa época de transição. Vamos virar-lhes as costas, recolhidos aos nossos "nichos", ou vamos ser os olhos, os braços, as pernas, o coração de um Deus de amor?
            Um rosto alegre pela certeza do perdão de Deus. Um semblante compassivo para o drama humano." Este é o desafio que temos pela frente. É hora de acordar. Não podemos mais brincar de faz de conta. Chegou o momento da igreja actuar. É o momento de sermos o sal da terra e a luz do mundo. Não podemos fugir.
            Estou protestando, gritando porque creio na intervenção divina na história. Este é um protesto que brota no coração de alguém que está angustiado com o que está acontecendo no mundo. É o grito de alguém que não pede aos homens, mas a Deus. Estou derramando minha queixa diante do Senhor, pois sei que nele eu posso confiar e que por mais que tentem dizer que Deus está calado, tenho certeza absoluta que Deus não é apático e se Ele está em aparente silêncio significa que o seu juízo está a caminho.
            Não posso me calar. Tenho que protestar e neste protesto quero juntar minha voz a de José Cid, poeta e compositor português que escreveu a canção: "Pelos Direitos do Homem". Quero agora juntamente com ele e com todos aqueles que estão inconformados com o que está acontecendo neste mundo caótico, protestar e levantar minha voz, não política, mas profética e cantar o refrão da canção que diz:
 
Em memória de todos esses homens
Que morreram indefesos e heróicos
Seus dogmas suas lutas seus ideais
Desmascararam esses paranóicos
Que manipularam as notícias no jornal
Com frases feitas de um falso humanismo
Promovem guerras e a dor universal
E na TV mentem com cinismo.
 
            Pelos direitos do Homem, vou gritar contra estas tiranias. Vou protestar. Vou chorar diante de Deus e pedir que Ele encoraje sua igreja a ser o que ele deseja que ela seja e para que Ele actue no meio desta crise mundial.
            Este é o meu protesto. O grito angustiante de um ser humano que sofre pelo que está acontecendo na sua própria vida e principalmente pelo que está acontecendo à sua volta. Será que olhando o mundo em que vives, não gritarás também?
            Entendendo que a igreja é de cima, mas também é co-beligerante. Sendo assim, levantemos nossas vozes proféticas em protesto pelos direitos do homem. Não podemos ficar calados. Não podemos ouvir os que não crêem afirmando: "E eu que não creio, peço a Deus por minha gente". A responsabilidade é nossa, por este motivo levantemos nossas vozes em protesto, clamando que o Senhor dos Senhores actue poderosamente.
 
 
Pr. Marcos Amazonas dos Santos Oliveira do Hospital, 06 de Setembro de 1999.  _ 01:24 da Manhã.


06/09/06 Queridos,
 
Depois de um tempo em silêncio por causa das minhas férias, sem enviar mensagens, fiquei sem saber que mensagens já enviei.
Estou a retomar os meus textos e mensagens.
Espero que sejam edificantes. Eles seguem com todos os erros e defeitos. Se há algum valor é por causa da graça e misericórdia do Senhor. Todos os erros e defeitos são por causa das minhas debilidades e fraquezas.
Um abraço a todos,
 
Marcos Amazonas
 
 
Texto: Lucas 2. 36-38
 
52. Tema: Ana a pregadora 06/09/06
 

 
 
Estamos diante de um texto belo. É a história de uma viúva. Esta viúva nos ensina muito. Ela está contextualizada na história do povo de Israel. Senão vejamos, o nome do seu pai é apresentado, a tribo dela também.
 
Assim sendo, devemos olhar para estas informações e reflectir no que elas nos dizem.
 
Ana significa graça. É interessante, pois a graça está no templo. Está na reunião das pessoas que se reúnem para adorar o Senhor. A graça é a manifestação do amor do Senhor. A graça é fruto de alguém que viu Deus.
 
Fanuel é a transliteração para o grego de Peniel. Foi o lugar onde Jacob viu com Deus (Gn 32.30). A ideia é que seu pai era alguém que tinha intimidade com Deus. Não basta ser uma pessoa que vê Deus, mas é preciso vê-lo e entregar-se a Ele. É preciso reconhecer a sua graça.
 
Ela é da tribo de Aser. O segundo filho de Zilpa, que era serva de Lia (Gn 29.31-30.24; 35.16-20;22-26). Aser significa Feliz. Lia ficou feliz com seu nascimento. Este foi o oitavo filho de Jacob.
 
O que nos chama atenção aqui é que as tribos de Israel não estavam perdidas. Havia um registo delas. Havia registo genealógico delas.
 
Ana era profetisa. Mas o que significa ser profetiza? “Um verdadeiro profeta ou profetiza é alguém, que havendo recebido revelações do propósito e vontade de Deus, declara aos demais o que assim recebeu.”[1] Profeta por tanto não é algum que prevê o futuro, mas alguém que declara os decretos do Senhor (Dt 18.18). É um dom de grande importância na vida da igreja (1 Co 14.1).
 
Ana era profetisa. Era alguém que servia o Senhor. Sendo assim, vejamos as lições que aprendemos com a vida de Ana.
 
1 – Ana era uma mulher que tinha prazer de estar em adoração constante ao Senhor
 
É incerto afirma que ele morava no templo. Isso podia ser verdade, mas ideia que trespassa o texto é o facto dela ter prazer de estar em adoração constante ao Senhor.
 
Ela estava presente em todos os cultos. Ana entendia o que dizia o salmista: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor” (Sl 122.1). E nós temos expressado esta alegria?
 
Ana vivia em adoração constante ao Senhor e por isso, vivia em comunhão com seus irmãos. Ela sabia que a comunhão era algo saudável. A Comunhão agrada a Deus e é geradora de vida (Sl 133).
 
Estamos a participar dos cultos ao Senhor? Estamos a viver em comunhão?
 
Ana buscava primeiramente o reino de Deus e a sua justiça. Ela entregou toda a sua vida ao Senhor. Ela dependia completamente do Senhor.
 
Ela não era compartimentada. Isto é meu e aquilo é de Deus. Tudo era de Deus. Seu prazer estava em estar na presença do Senhor a servi-lo. Assim também devemos ser nós. Nosso prazer deve ser o de estar na presença do Senhor e dedicar-lhe tudo e não somente o que sobre. Devemos buscar primeiramente o reino de Deus e a sua justiça (Mt 6.33).
 
2 – Ana era uma mulher que tinha um coração agradecido ao Senhor pelo que Ele lhe permitia ver
 
Gratidão é fundamental. Ela chega no templo e vê o Senhor Jesus sendo apresentado. Ele vê o Senhor e fica agradecida. Seu coração exulta. Quem se priva da comunhão do Senhor não pode ver a manifestação da sua graça.
 
A questão é pelo que Ana estava a dar graças a Deus?
 
No contexto podemos ver que é pelo Senhor Jesus. Ela estava grata por Deus ter enviado o Messias. Ela agradecia porque o Senhor veio redimir o seu povo.
 
Temos sido gratos pela vinda do Senhor e pela libertação que Ele tem feito nas muitas vidas?
 
Ana era agradecida. Tu estás agradecido ao Senhor? O salmista diz o seguinte: Bom é render graças ao Senhor, e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo. (Sl 92.1). Renda graças ao Senhor pelo que Ele é e pelo que tem feito na sua vida.
 
Ana, uma mulher idosa, mas com vigor e alegria em servir o Senhor. Não estava a queixar-se e muito menos a murmurar porque estava velha. Ela estava agradecida ao Senhor pela vida e aproveita os anos que tinha para continuar a servir o Senhor.
 
Fica claro para nós que Ana serviu toda sua vida ao Senhor. Ela sempre esteve agradecida, até diante das suas dores e tragédias, sua fé permaneceu firmada no Senhor.
 
Deus é o Deus da graça. Deus é o Deus de Ana. Ele é o Deus da tua vida. Ele te sustenta e te guarda. Sendo assim, seja agradecido e louve o Senhor. Invista sua vida no serviço do Senhor.
 
3- Ana anunciava a mensagem do Senhor aos que esperavam a salvação
 
Ana pregava. E naquele momento que viu o Senhor, pode dizer às pessoas que estavam presentes no templo que aquele menino era o Messias. Ela pregou com ousadia. E nós temos pregado?
 
Ana proclamava a mensagem do Senhor e esperava o Senhor. Nós enquanto aqui vivemos devemos viver a proclamar o Senhor (Mt 28.18-20), na expectativa de que Ele volte para nos levar para junto de si. Não podemos desanimar.
 
Há uma realidade implícita no nosso texto. É a constância e perseverança de Ana. Ela não desistiu da sua caminhada. Ela não abandonou seu ministério. Ela não se aposentou. Ela continuou a trabalhar para o Senhor. Sendo assim, continue firme. Não desiste, não deixe que a preguiça faça com que os seus dons sejam colocados na prateleira da acomodação.
 
Escutei certa vez uma história muito interessante sobre este aspecto. Foi aberto uma nova missão e um irmão estava todo entusiasmado e virou para um outro, que já estava reformado, mas era diácono e disse: irmão que oportunidade temos. Uma nova missão, poderemos anunciar a Palavra do Senhor. O diácono responde: irmão, já me reformei.
 
Ana estava na activa. Ela não se reformou. Quem ama o Senhor não se reforma. Quem ama o Senhor tem um coração agradecido e vai sempre anunciar a graça do Senhor.
 
Quem ama o Senhor vai proclamar a mensagem do Senhor com ousadia, mesmo que seja uma pessoa que já tenha uma idade avançada.
 
O que tens feito da tua vida?
 
Ana utilizou sua vida para servir e honrar o Senhor. Segue o exemplo dela. Usa a tua vida para servir e honrar o Senhor.
 
Guisa de Conclusão
 
Ana a pregadora. Aquela que não deixou de anunciar a graça do Senhor. Ana uma mulher feliz. Ela é graça de quem viu o Senhor e se tornou feliz.
 
Ela nos ensina a vivermos com as seguintes atitudes:
 
A ser pessoas que devem ter prazer em estar em comunhão e adoração com o Senhor
A ser pessoas com o coração agradecido por tudo quanto o Senhor tem feito
A ser pessoas que anunciam a mensagem de salvação do Senhor.
 

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[1] HENDRIKSEN, Willian. Comentário do Novo Testamento, Exposição do Evangelho de Lucas Vol. 1,
 
1ª  edição, Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2003.

 Queridos,
 
Estou partilhando a pastoral que escrevi para  culto de amanhã.
Creio que será pertinente para o momento brasileiro e para as notícias que falam do envolvimento de igrejas com a política.
Esta pastoral na realidade foi escrita porque estou a falar dos nossos princípios à igreja.
 
Abraços,
 
 
Marcos
 
 
53. A separação das águas (10/09/06)
 
Um dos problemas vividos na história é a ligação da religião com Estado. Isto pode ser visto num estudo sério das religiões. Não tendo tempo e muito menos espaço para discorrer sobre isto, basta vermos os séculos em que o cristianismo foi considerado religião oficial do Estado e ainda o é em muitos países, como também outras confissões o são em outros. Contudo, os baptistas apregoam a separação entre Igreja e Estado.
O que entendemos por este princípio? De modo geral podemos dizer que "os Baptistas compreendem que o Estado não tem direito de interferir nas práticas e crenças religiosas dos indivíduos ou congregações e que a Igreja não tem direito ao sustento do Estado."
 
Este princípio é uma ampliação do princípio da liberdade religiosa. Os baptistas defendem uma igreja livre num estado livre. Como afirmou Walter Rauschenbusch: "A separação entre a igreja e o estado tem a dupla vantagem de tirar a influência clerical da vida política e também a vida política da igreja".
 
Como baptistas, entendemos que a liberdade religiosa será realidade quando houver a separação entre a Igreja e o Estado. Jesus afirmou: "Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus." (Mt 22.21). Aqui Jesus distingue os deveres. Mostra que o governo na sua actividade tem sua autoridade, mas esta é limitada por Deus. "Dai a Deus o que é de Deus", mostra lealdade suprema. O Estado que abandona esta esfera e usurpa a autoridade de Deus e não pode contar com o apoio do verdadeiro cristão. O compromisso das nossas igrejas é com a justiça. Queremos ver a honestidade na actuação das pessoas e a dignidade humana. É fundamental afirmar aqui que "os cidadãos têm obrigação moral de resistir ao governo injusto e tirano. Embora sempre devemos estar sujeitos ao ofício do magistrado, não temos que estar sujeitos ao homem naquele ofício se ele ordena aquilo que é contra a Bíblia."
 
Queremos uma igreja livre, num estado livre. Não somos nem de direita, nem de esquerda e muito menos do centro. A igreja é de cima e quando há uma linha que dignifique o homem, nós assumimos a postura de co-beligerância. Não aceitamos que o poder civil seja o patrocinador de alguma religião.
 
Como baptistas não aceitamos interferência do Estado. Não vivemos às suas custas. Por isso, como afirmou Isaltino: "Não podemos ser coniventes com um Estado desumano, corrupto, desvalorizador do homem."
 
Se há separação entre Igreja e Estado. O que é a Igreja? "A igreja é como uma embaixada de um determinado país em outro. A doutrina da separação funciona como a imunidade diplomática que desfruta a embaixada. A igreja necessita manter sua independência."
 
Podemos resumir este princípio em cinco ideias bácias: 1) Separação da Igreja e o Estado na ordem pública. Isto não quer dizer uma separação absoluta nas ordens moral e espiritual; 2) Todas as igrejas existem sobre uma base voluntária; todas são iguais perante a lei, e ante o governo (significa que o governo não fará discriminação e não favorecerá uma e obstaculizará outra). 3) Não haverá impostos eclesiásticos e muito menos impostos públicos para o sustento da igreja. 4) Não haverá instrução religiosa a cargo de uma igreja nas escolas públicas; nem o uso das dependências de escolas públicas pelas igrejas. Com isto, não se rejeita o ensino de livros religiosos históricos, tão pouco implica uma hostilidade face a religião por parte das escolas. 5) O princípio da separação tem como fim o bem estar das igrejas e do Estado."
 
De alguém que é patriota e solidário, mas que prefere obedecer antes a Deus do que os homens.
 
Pr. Marcos Amazonas dos Santos
Encontrei este texto que escrevi anos atrás.
Reli e vi que ele é pertinente, pelo menos para mim. Sendo assim, compartilho convosco.
 
Beijos,
 
 
Marcos Amazonas
 
 
54.Desafios (10/09/06)
 
 
Quero desafiá-los a investir fortemente nas pessoas. Investir em qualidade de tempo, atenção, cuidado e até mesmo financeiramente.
 
É bom que entendamos que todo investimento envolve riscos. Podemos ser mal interpretados. Quem sabe até ficar feridos e o mais grave de tudo é que corremos o risco da traição. Quando analisamos os riscos, pensamos em desanimar, mas como diz o dito popular: "quem não arrisca, não petisca".
 
            Jesus investiu fortemente nas pessoas. Não teve medo de se entregar a elas e até mesmo abraçá-las e acarinhá-las. Não desistiu por causa da traição e muito menos se preocupou por que seria mal interpretado. Ele arriscou e buscou as pessoas porque desejava um relacionamento intenso com elas.
 
            E nós o que estamos a fazer neste início de século?
 
            Devemos entender que "as pessoas desejam mais contato, mais intimidade uma com as outras. Desejam sentir-se mais pessoas e menos número na multidão. Querem se tocar, se abraçar, querem ser, simplesmente, gente ou povo de Deus que se reune na intimidade como em família." É por este motivo que estou a desafiar-vos a investirem nas pessoas. Estou clamando para que agarrem no telefone e chamem aquele alguém que já faz algum tempo que não falam e invistam alguns minutos para dizer o quão importantes eles são.
 
            Quero desafiá-los em nome de Jesus a ser uma igreja comprometida com os valores do Reino de Deus. Mas o que significa isto? Encontramos a resposta no livro O futuro da Igreja no terceiro milênio de Darci Dusilek. Ele afirma: "Uma igreja comprometida com os valores do Reino de Deus deverá se fazer, mais do que nunca, presente no estabelecimento de políticas públicas internacionais e nacionais que tenham a ver com a distribuição da renda mundial. Sua voz e o peso de sua influência devem juntar-se a outras forças e organismos que lutem pela justiça na terra. A igreja deve comprometer-se com o desenvolvimento de estratégias que pratiquem o exorcismo das forças do mal e do pecado que atuam nas estruturas das nações e que, se não obstadas, continuarão a aprisionar milhões de pessoas de uma só vez pela degradação moral e espiritual decorrentes da miséria econômica e social que produzem. A sociedade do Terceiro Milênio estará cada vez mais interessada em uma igreja que torne a boa-nova do Reino de Deus concreta por meio de palavras, sinais e ações realizados no poder do Espírito Santo. Uma igreja que ousa arriscar-se na defesa do empobrecido, que não se nega a lutar pelo direito a uma vida de qualidade que todos têm simplesmente por serem seres humanos." Que possamos ser este tipo de igreja.
 
            Outro desafio que vos apresento é o de estarmos beligerantes no cyberespaço. Este poder controlador das mentes humanas. Um local multi-racial e multi-cultural. Lugar onde as culturas se encontram e se fundem. Onde as religiões se misturam e os conceitos sobre Deus encontram ressonância e a fé é definida de forma colectiva. Mas mesmo assim, Deus se faz presente neste lugar, embora muitas vezes não tenhamos consciência disto.
 
            Sendo assim, deixo-vos o desafio de arriscarem-se para ser tanto no real, como no virtual a igreja que o Senhor sonhou.

Queridos,
 
Segue mais um texto. Este escrevi depois de ter dado uma vista de olhos no filme Cazuza.
 
Abraços,
 
 
Marcos Amazonas
 
 
55.Nem herói, nem bandido
Nova criatura (16/09/06)
 
 
 
Cazuza foi um “rock star” brasileiro. Era um rebelde sem causa. Consumiu drogas, teve relacionamentos tresloucados. Morreu por causa da SIDA. Fizeram filme sobre a sua vida. Este mostra um jovem libertino a fazer tudo o que lhe apetece. Os pais são marionetas em suas mãos. É estranho tentar imortalizar alguém com o estilo de vida que ele teve. Contudo, isto é fruto da nossa sociedade. Vivemos a fazer apologia de que tudo é permitido.
 
Na minha adolescência e início de juventude, Cazuza era o máximo. Representava a rebeldia. O Barão Vermelho era o expoente do rock brasileiro. Dava orgulho dizer que curtia o Barão Vermelho. Cazuza foi herói, mas também foi bandido. O filme mostra às vezes em que a polícia o deteve. Vemos também o modo libertino do jovem a consumir drogas e a envolver-se sexualmente com tudo e todos.
 
O filme nos apresenta um herói bandido. Um herói marginal. Um burguês que sempre teve tudo o que quis, e por causa das suas escolhas acabou sendo destruído pela SIDA. Contudo, não é sobre este Cazuza que desejo falar. Quero falar sobre o outro. Aquele que descobriu a verdadeira vida quando os seus dias estavam a terminar. Quero falar da nova criatura que ele se tornou, não pelas canções que escreveu, não pelas loucuras que fez, mas pela decisão que tomou antes de morrer. Quero falar do Cazuza que o filme não mostrou, pois este não dá prestígio. Quero falar do Cazuza que entregou sua vida a Jesus. Do jovem que se arrependeu e pediu perdão. Infelizmente a mídia não falou da sua decisão. Preferiu mostrar o bandido, o rebelde sem causa.
 
Sei que um dia irei encontrar-me-ei com ele. Cazuza faz parte do povo de Deus. Por que afirmo isto com tanta certeza?
 
Nos últimos dias de sua vida, ele foi assistido por uma enfermeira evangélica. Esta jovem foi sal e luz na vida dele. Ela marcou a diferença. Depois de alguns anos da morte dele, ela lançou o livro “Fiz parte deste show”. Este título é o mesmo de uma canção de Cazuza. Ana Maria narra a experiência que teve quando cuidava de Cazuza na fase em que estava a sofrer de SIDA. Já não era o rebelde, mas o doente que lutava pela vida. Ela narra todo o processo do acompanhamento e cuidado que dedicou a Cazuza. As dúvidas e questões que ele tinha. Como ele foi se aproximando de Deus. Ela culmina a dizer que o rebelde entregou sua vida a Jesus. O filme não mostra nada disso. Não fala de um ser humano arrependido que se volta para o Criador e suplica por perdão. Não mostra um ser humano a reconhecer que fez a pior escolha e que o seu sofrimento é consequência dos erros cometidos. Não, o filme enaltece o rebelde, o bandido. É careta dizer que o nosso poeta no fim de sua vida se tornou cristão. É preferível que todos cantem a máxima de sua canção que diz: “meus heróis morreram de overdose”. Esta é a nossa sociedade. Valoriza a degradação humana e torna viciados em super heróis.
 
Cazuza viveu a loucura dos seus dias. Fez tudo o que desejou. Viveu loucamente. Viveu querendo levar a vida, mas depois decidiu que a vida o levasse. Entretanto, numa tarde de domingo, uma jovem entrou na história dele. Ela fez a diferença. Vivia a vida com graça e a transbordar a graça de Jesus. Isto fez toda a diferença na vida dele. O testemunho de Ana levou-o ao conhecimento de Jesus. O jovem poeta descobriu a verdadeira paz.
 
Infelizmente isto nunca virou notícia. Não saiu no jornal, mas o facto é que Cazuza não é herói nacional e muito menos um bandido. Ele foi um cidadão como outro qualquer. Cometeu seus erros e em consequência dos mesmos desenvolveu a SIDA. Contudo, a sua tragédia se transformou em triunfo, pois foi por este motivo que ele foi alcançado pelo Senhor Jesus.
 
Cazuza se tornou numa nova criatura. Minha tristeza é que não tive o privilégio de ouvir uma canção que expressasse sua gratidão ao Senhor, mas sei que o encontrarei na glória. Não como o ícone da minha geração, mas como aquele que compreendeu que sua vida foi resgatada pelo sangue precioso de Jesus.
 
Cazuza cantava:
 
Vida, louca vida.
 
Vida breve.
 
Já que eu não posso te levar
 
Quero que você me leve.
 
Ele tentou, mas não conseguiu levar a vida. Ele tinha consciência da sua brevidade. Que ela é um vapor que passa. Mas na brevidade que foi sua vida, ele que não pode levar a vida, foi levado para a vida e pela verdadeira vida. Ele foi perdoado e transformado em nova criatura pelo Senhor.
 
O que teria acontecido se Cazuza não tivesse morrido? O que ele faria e diria sobre o Senhor?
 
Cazuza desfruta da vida abundante que Jesus prometeu. Esta vida é que mais importa. É esta mesma vida que devemos desfrutar e gozar aqui e por toda a eternidade.


Queridos,
 
Estou a enviar-vos mais um texto.
Espero que ele possa edificar-vos ou entretê-los.
 
Abraços,
 
 
Marcos Amazonas
 
 
56. Peregrinação (22/09/06)
 
 
 
(Génesis 12.1-5)
 
 
 
Gonzaguinha foi um dos melhores compositores da MPB. Numa de suas canções dizia que fazia tempo que havia saído de casa. Fazia muito tempo que havia caído na estrada, mas tinha a esperança de poder voltar por todos os lugares por onde tinha estado. A canção de Gonzaguinha expressa o facto de poder ir e vir sem problema. Poder peregrinar e manter sempre a porta aberta para o seu retorno e o reencontro com os amigos e familiares.
 
Quando ouço esta canção, reflicto sobre a importância de ter amigos e preservá-los. A canção fala-nos da importância de poder regressar aos locais por onde já passamos. Retornar é muito importante. Regressar é poder rever amigos e pessoas muito queridas.
 
Hoje, lembrei de modo especial desta canção e da vida de Abraão. Gozaguinha dizia que podia regressar por todos os lugares por onde havia passado, mas Abraão deixou sua casa e já não podia regressar para sua terra. Não podia voltar para os seus.
 
Abraão deixou sua família, terra e parentela e seguiu para a terra que o Senhor lhe haveria de mostrar. Senti-me como Abraão, pois estou em Portugal a quase dez anos e quando regressei ao Brasil, foi para pregar no aniversário de minha antiga igreja e por causa da doença de meu pai. Lílian regressou para apresentar Débora à família e mais recentemente quando da doença do pai dela. Temos vivido longe da família. Estamos distantes de tudo e de todos.
 
A pensar na realidade da vida de Abraão e sua caminhada, foi que ponderei sobre a minha vida. Na realidade, eu tenho muito mais vantagem que Abraão, mas creio que como ele, passo pelos mesmos dilemas e dores que só aqueles que por um motivo ou outro ficam privados dos seus entes queridos podem entender.
 
É verdade que em mim há um misto da música de Gonzaguinha e da história de Abraão. Na minha peregrinação posso voltar a determinados lugares e ali confraternizar com os amigos. Posso matar a saudade e desfrutar da comunhão. Por outro lado, vivo o dilema e a dor da saudade de não poder regressar à minha terra. Não que esteja impedido de regressar, mas a questão financeira é um impeditivo, pois as passagens aéreas são muito caras. Abraão deixou sua terra, sua parentela e saiu a peregrinar. O que geralmente não pensamos é a saudade que ele e a esposa sentiram dos seus parentes. A dor e a tristeza nos momentos em que paravam e ficavam a pensar nos seus. Quantas vezes desejaram estar juntos dos familiares. A dor que devem ter passado por não poder enterrar seus parentes, e também de não poderem ver o crescimento dos seus sobrinhos.
 
Esta é uma realidade que tenho vivido a quase dez anos. Tenho a vantagem do telefone, da Internet e por isso correio já praticamente não faz parte do nosso mundo. Contudo, não tenho acompanhado o desenvolvimento dos meus sobrinhos e muito menos partilhado o que tem acontecido com a minha família. Deixamos Manaus, Matheus era uma criança de três anos e agora já está a caminho dos treze. Seus tios e avós não o viram a crescer. Não tiveram oportunidade de viver experiências maravilhosas no desenvolvimento dele. Débora já tem quase oito anos e destes, só viram-na recém-nascida e recentemente quando ela esteve com a mãe no Rio para ver o avô que estava muito doente.
 
Nossos sobrinhos eram crianças e hoje já são adolescentes e jovens. Outro dia falei com um sobrinho por afinidade que carreguei no colo e ele já é pai. Meu cunhado casou e não estivemos lá. Não temos partilhado das alegrias e tristezas da nossa família de modo vivencial, do mesmo modo que Abraão não as viveu.
 
Outra realidade vivida por eles foi o facto de serem peregrinos. Eles caminhavam por terras que não eram suas. Onde chegavam eram reconhecidos como estrangeiros. Não importava se falassem o idioma local ou não. Vivemos esta realidade de modo intenso. Onde chegamos somos reconhecidos como brasileiros, mas o estranho é que ao falarmos com a família dizem que já não falamos com o sotaque brasileiro. A ideia que fica é que até dentro da nossa própria casa somos considerados estrangeiros. Assim, temos que perder parte da nossa cultura e adquirir muito da cultura das terras onde nos encontramos. Nós vivemos esta situação. Cada novo dia procuramos adquirir mais e mais a cultura de onde estamos a viver e lutamos para não perder a nossa cultura.
 
Peregrinar é caminhar com esperança. Abraão deixou sua terra nesta perspectiva. Ele saiu com a esperança de vir a ter uma terra que chamasse sua. Ele a pôde ver pela fé. Nós saímos da nossa terra não com o desejo de um futuro melhor, mas com a esperança de ver dias melhores para aqueles que convivem connosco. A viver esta realidade fincamos raízes. Adquirimos um apartamento, enraizamo-nos, e este facto faz com que se torne muito mais difícil nosso regresso à nossa terra.
 
Abraão deixou sua terra para ser bênção a todos os que com ele se encontrassem. Nós deixamos nossa terra para ser bênção para todos aqueles que convivem connosco. Nossa vida é vivida de modo natural. Procuramos fazer amigos, mas amigos sinceros. Não queremos fazer amizades de interesses, que visam ganhar as pessoas para nossa religião. Não é para isto que estamos aqui. Estamos aqui para abençoar este povo, para lhes dar esperança, mas sem pedir nada em troca. Nosso viver aqui é um viver com graça e na graça. Queremos desenvolver amizades sinceras e se as pessoas perceberem que somos homens e mulheres de Deus e nos pedirem, oraremos por elas e com elas. Clamaremos por elas e com elas. Foi isto que aconteceu na vida de Abraão e é assim que deve acontecer na nossa vida. Não estamos aqui para forçar às pessoas a assumirem o mesmo estilo de vida que o nosso. É facto que desejamos que elas aceitem este mesmo estilo de vida, mas não as podemos forçar, pois não somos nós que as transformaremos.
 
Deixamos tudo para peregrinar em Portugal. Como Abraão, queremos ser bênção a todos os que se encontrarem connosco.
 
Abraão caminhou com fé, na certeza de que o Senhor era com ele. É esta a nossa certeza também. Estamos aqui, longe de todos os nossos entes queridos, mas com a certeza absoluta de que o Senhor está connosco. Estamos aqui a peregrinar com a fé de que veremos dias melhores. Não no sentido material, mas no espiritual. Temos a convicção plena de que o Senhor está a guiar-nos e a conduzir-nos à vitória e esta vitória também redundará em triunfo para muitos que connosco se encontram.
 
Peregrinar é um processo lento, muitas vezes doloroso, mas com o Senhor é sempre um caminho que traz paz ao coração.

Meus queridos,
  Estou a enviar mais um texto. Espero que edifique às vossas vidas.
  Abraços,
  nEle,
  Marcos
   
57. O Amigo (02/10/06)
 Provérbios 18.24b
 Manaus é a minha cidade. Terra amada e de doces lembranças. Lá o céu parece ficar mais perto de nós. Ele é mais estrelado, límpido. Ali a natureza esbanja beleza. Fiquei marcado por tudo o que ali vi e vivi. Não dá para esquecer o cheiro daquela terra. Não dá para esquecer os dias em que via a chuva a caminhar em minha direcção e o prazer de tentar fugir dela.
 
Não dá para esquecer os momentos agradáveis que passei na minha terra. Não posso esquecer às tardes em que nos encontrávamos para poder jogar o nosso futebol. Os momentos que nos reuníamos apenas para ficar a jogar conversa fora.
 
Como esquecer os muitos banhos nos igarapés (braços de rio)? Como esquecer o tempo em que jogava bolinha, brincava de pião, papagaio e tantas outras coisas? Não dá para esquecer nada disso. Estes momentos fazem parte da minha história. É a minha vida!
 
Todos estes momentos foram um processo de socialização. Foram brincadeiras colectivas. Foram momentos que partilhei com colegas, mas também com amigos. Estes amigos são para toda vida, pois o verdadeiro amigo sempre o será independente do tempo.
 
Desse tempo lembro às muitas noites em que ficava com dois amigos especiais a conversar e a tentar cantar as músicas de Zé Ramalho e Moreira da Silva. Tentar cantar, porque nunca me dei na área do canto. Ficávamos ali sob o céu límpido do Amazonas a cantarolar e expressar nossa alegria. Hoje olho para trás e vejo o quão felizes éramos. Três jovens distintos. Histórias de vidas diferentes. Religiões diferentes, mas ligados pela cultura e pela amizade e a verdadeira amizade é alimentada pelo amor. Foi por este motivo que nos relacionamos e nunca brigamos por causa das nossas diferenças religiosas e muito menos por causa das nossas opções de vida. Éramos e somos amigos e isto nos bastava e isto ainda nos basta.
 
O tempo encarregou-se de nos separar. Cada um seguiu o seu caminho. O tocador de viola foi para o exército. O paraquedista foi trabalhar na VARIG, eu fiquei a trabalhar em algumas empresas de Manaus e depois segui para o Rio de Janeiro para fazer seminário. Depois de alguns anos voltei a Manaus e tinha a oportunidade de encontrar-me com o paraquedista, pois o tocador de viola estava a viver no interior, como ainda está. Mais uma vez deixei Manaus. Já se passaram quase dez anos, mas eu não esqueço os meus dois parceiros. Foram meus companheiros de música e também de partilhar muitas pizas juntos. Estes dois são amigos para toda vida.
 
Roberto Carlos expressou a sua gratidão pela amizade que Erasmo Carlos lhe tem. Eu também quero expressar minha gratidão à amizade dos meus amigos. Contudo, amigo que é amigo sempre nos surpreende e outro dia, depois de todos estes anos de silêncio sou apanhado de surpresa. O telefone tocou, atendi-o como costumo fazer a maioria das vezes. Escuta aquela voz inconfundível. Meu amigo depois de todos estes anos estava a me fazer uma chamada telefónica. Que alegria!
 
Falamos ao telefone alguns minutos. Partilhamos experiências e preocupações. Soube que o tocador de viola continua no interior. Mas também soube que há amigos que são mais chegados que um irmão. Agradeci a Deus pelo meu amigo. Fiquei radiante de alegria.
 
O tempo passou. Já não tenho mais a hora do futebol. Já não fico à conversar às tardes e muito menos vou para a esquina cantarolar canções. Todas estas coisas ficaram para trás. Elas já não voltam mais. São lembranças da minha vida. Contudo, há algo que não ficou para trás. Há a certeza de que a amizade perdura. Meu amigo continua o mesmo e nem o tempo de separação, a distância abalaram a nossa amizade e isto porque amigos são para toda a vida.

Queridos,
 
Segue mais uma crónica.
Na realidade é a continuação da crónica anterior.
 
Abraços,
 
 
nEle,
 
 
Marcos
 
 
  58.Vida Nova (03/10/06)
 
2 Coríntios 5.17
 
 
 
Deitado, com às luzes apagadas, o jovem tenta adormecer. A escuridão do quarto fala da escuridão do seu ser. Aparentemente, é um jovem normal que deseja ser como todos os outros. Sendo assim, vivia as festas, os prazeres que a vida oferecia. Contudo, quando estava em casa, em seu quarto, o vazio tomava conta dele. A vida não fazia sentido. Ele desejava a morte.
 
Um jovem que com os amigos é extrovertido. Está pronto para participar de tudo, mas a máscara é por demais pesada. Ele está a morrer aos pedaços. Contudo, sua mãe não desiste dele. Ela insiste e persiste para que ele compreenda que há uma porta aperta, há um caminho de volta. Ela luta silenciosamente, pois não adiante dialogar com ele. Agora ela dialoga com o Criador. Ela entregou seu filho nas mãos de Deus e espera que Deus o restaure.
 
O jovem que não se preocupa com nada vive para si. Usa e é usado. Busca o prazer e mais nada. Seus poucos momentos de lucidez fazem-no sofrer imensamente, pois ele pode ver claramente o que se tornou e o sofrimento que está a dar à sua família. Sendo assim, e melhor viver anestesiado para não ver o sofrimento das únicas pessoas que o amam verdadeiramente. Ele desiste de tudo.
 
É neste vazio do ser que ocorre a grande luta da vida dele. É no meio da escuridão que as trevas vão invadindo-lhe a alma. O corpo parece que vai sendo corroído. Neste instante, ele percebe que está a ser puxado. Algo não quer deixar que as trevas se apoderem dele. No desespero desta situação ele clama a Deus. Pede para que Deus o liberte. A sensação que ele tem é que grita, mas mal consegue sussurrar uma oração. É neste momento que ele sente sair um peso de cima de si. Ele sente-se aliviado. Dorme como a muito tempo não dormia. Ele descansa sossegadamente.
 
Nasce um novo dia. O jovem acorda e por incrível que pareça, não sente vontade de continuar a dormir. Não sente o desejo de morrer. Sem saber explicar ele deseja ardentemente a vida. Tudo parece mais bonito. Tudo tem mais cor. Agora o jovem sorri como não sorria a muito tempo.
 
Ele deixa sua casa, o dia está radiante e belo. Ele vislumbra uma beleza que não consegue entender e explicar. Tem vontade de caminhar sentido o sol a queimar-lhe a face. Quer sentir o vento da manhã. Ele não sabe o porque amanheceu daquele jeito. Não percebe porque não acordou com ressaca e a sofrer de uma bruta dor de cabeça. O que sabe é que está cheio de alegria e paz. O desespero já não faz parte de seu ser.
 
O jovem vive uma nova realidade, mas as dificuldades aparecem. As tentações surgem e ele muitas vezes fraqueja. Seu corpo está acostumado. Ele próprio está acostumado aos prazeres da vida. Sua mãe olha para ele com alegria. Ela vê que seu filho foi resgatado. Ela é companheira e apoia-o na nova jornada. Seu pai é companheiro e solidário. A realidade é que há uma nova pessoa ali presente. Alguém que ama a vida e da vida é amado. Este jovem com o passar dos dias percebeu que Deus ouviu o seu clamor e o socorreu. Ele percebeu que não a vida não faz sentido se não for vivida numa relação íntima com Deus.
 
Naquela noite escura e sombria algo de extraordinário aconteceu na vida daquele jovem. Naquela noite tenebrosa, onde o sono insistia em não vir. Onde o pavor se fazia presente e um jovem desesperava por causa do seu sofrimento e por ver que estava a ser engolido pelas trevas, nesta noite raiou a liberdade. Foi no meio deste pântano que ele gritou e clamou ajuda ao Senhor e o Senhor o libertou.
 
Naquela noite as trevas desapareceram e raiou a luz. Um novo dia surgiu. Uma nova vida iniciou. Não por merecimento, mas por graça. Surgiu uma nova vida como resposta de amor de Deus que não desiste de ninguém e não abandona pais que entregam seus filhos em suas mãos.
 
Naquela noite nasceu uma nova criatura. Não mais o filho das tristezas, mas o filho das alegrias. Não mais o causador de mágoas e dores, mas o reconciliador e proclamador da graça de Jesus.
 
Naquela noite, o Senhor respondeu às orações de uma mãe e transformou um jovem desesperado, tornando-o nova criatura e pregador das boas novas.
Queridos,
 
Segue mais um texto.
 
Espero que o mesmo fale aos vossos corações.
 
 
Beijo no coração,
 
 
 
Marcos Amazonas
 
 
 
 
59.Insensatez (04/10/06)
 
Provérbios 20.1
 
 
 
Madrugada de sexta para sábado. O silêncio é angustiante. Já não há o som da balada, os colegas da noite se foram. É fim de noite. Agora, há que se enfrentar a porta. Um adversário quieto e calado. Um adversário que na realidade confere segurança à casa.
 
Diante da porta, o jovem embriagado tenta desesperadamente encontrar o buraco da fechadura. É estranho olhar para ele ali a lutar com todas às forças que lhe restam. Uma porta que não se move, não reage torna-se um obstáculo intransponível.
 
Sozinho, o jovem que não tinha problemas para dançar e entrar com todas as mulheres que apareciam em sua frente agora sofre e não consegue sequer entrar em casa. A angústia toma conta do seu ser porque não consegue acertar com a chave. Parece que o buraco da fechadura encolheu. Ele luta desesperadamente. Curva-se, olha atentamente e vai mais uma tentativa. Apalpa a fechadura como se fosse um mágico que está a finalizar mais um truque. Contudo, sua tentativa é vã.
 
Sozinho na porta de sua casa, sente o vazio da sua existência. Sente-se preso dentro de si mesmo. Os seus prazeres momentâneos deixam-no vazio e incapaz até mesmo de entrar em casa. Paralisado, ele desiste de lutar contra a porta. Assume a derrota. Sente-se um fracassado e senta-se recostado à porta. O cansaço toma conta de todo o seu ser. Já não há mais forças e por isso, ele adormece ali, sentado diante de tão grande obstáculo. Sua cama fica vazia. Os lençóis não são mexidos. O jovem fica ao relento, sob o luar e o céu estrelado.
 
Todo o alvoroço da noite, toda a folia e alegria proporcionada pela bebida ruiu. Ali, sentado a dormir, ele perde a noção do tempo. Não se importa com os vizinhos. Não dá para medir a vergonha do dia seguinte. Nada disso é ponderado e avaliado. O que conta é o momento. O prazer é o mais importante. Contudo, o fim do prazer é a vergonha e o vazio. É a incapacidade de nem sequer abrir uma porta.
 
Dormindo ali, ele não vê que às horas passam. Uma mãe preocupada e amorosa não consegue adormecer sossegadamente. Acorda muitas vezes durante a madrugada. Vai até o quarto do filho. Chora em silêncio. Suplica a Deus para que o guarde e o traga em bem para casa. Ela não concorda com a vida que ele leva. Não aceita aquele padrão, corrigi-o, exorta-o, mas ele parece não reagir. Enquanto ele dorme, quase que desmaiado na porta de casa, a mãe chora e suplica por sua vida.
 
Um jovem cheio de sonhos e expectativas está caído na porta de sua casa. Dorme sob o efeito do álcool. Dorme anestesiado, não se dá conta de que a vida está a passar ao lado. Não percebe que sua tentativa de mostrar-se agradável, presente fala mais da sua ignorância do que outra coisa. Não vê que está a ser dominado pela bebida e seus projectos ficam todos para trás. Enquanto isso, sua mãe chora. Sua mãe não desiste. Ela persiste em ver o filho bem. Ela tem a esperança de que algo de extraordinário irá acontecer e seu filho mudará. Ela continua a chorar e pedir a Deus que guarde o filho. Na sua aflição e súplica, dirige-se até à porta, pois o dia amanhece. Ela é impulsionada para lá. Quer ficar com a porta aberta para receber o filho. Quando ela abre a porta, o filho cai inconsciente. Cai como um morto. Ela sofre. A raiva toma conta do seu ser, mas também a gratidão, pois Deus respondeu sua súplica e o filho está em casa.
 
Envergonhada e triste, ela arrasta-o até o quarto. Ela está com o coração partido, mas mesmo assim, ela olha para aquele filho, que é o filho das suas tristezas na esperança de que ele um dia venha a lhe conceder alegrias.
 
O jovem dorme. Seu sono pesado é resultado da sua insensatez. Ele dorme tranquilo, sem perceber a dor que causa a todos os que estão à sua volta. Dorme e seu sono fala do modo como ele tem matado lentamente sua mãe.
 
Um novo dia desponta. Uma mãe triste por ver o modo como o filho está se destruir chora. Um filho inconsciente dorme preso pelas garras do prazer indómito que o domina.
 
Um jovem dorme vencido pela sua ignorância e estupidez. Uma mãe chora sua tristeza marcada pela esperança.

Segue a pastoral que escrevi para o boletim de nossa igreja.
Estou a tratar das nossas doutrinas.
 
Grande abraço,
 
 
Marcos
 

 
60. Quem é Deus? (06/10/06)
 
É fundamental reflectirmos sobre quem é Deus, como ele é e qual é a sua natureza? Mas porque pensarmos sobre Deus, em pleno século XXI? Devemos reflectir sobre Deus, porque "a ideia que temos de Deus determina não só a natureza da nossa religião, suas caracterísitcas, etc, como também a firmeza da nossa teologia. Descrever Deus é, a um tempo, descrever nossa teologia e definir a nossa religião. Um sistema religioso é forte ou fraco, segundo a sua ideia de Deus". Sendo assim, o que nossa denominação pensa sobre Deus?
Nossa declaração de fé diz o seguinte: "Há um só Deus vivo e verdadeiro; Ser pessoal infinito, inteligente e espiritual: o Criador, Redentor Sustentador e Legislador do universo, digno do mais puro amor, reverência, adoração e obediência. O eterno Deus revela-se a nós como Pai, Filho e Espírito Santo, com atributos distintos, mas sem divisão de natureza, ser ou essência." Deus revela-se de três formas distintas? Então são três deuses? Claro que não! Nós cremos na unicidade de Deus. A Bíblia diz que Deus é um. Deus é uno. Falar que Deus é uno é falar da unicidade dEle. Significa então que: "A Divindade não pode ser dividida. É uma unidade indivisível. Mesmo tendo a trindade, temos uma unidade porque não há conflito na trindade nem pode ela ser entendida como triteísmo, que significa três deuses em um só. Na divindade não há conflito de opinião nem choque ou luta por poder." Sendo assim, devemos entender que cada uma Pessoa da Trindade é Deus. Portanto, são iguais na autoridade, na glória e no poder. Cada qual é igual às outras e digna de receber o mesmo culto, a mesma devoção, a mesma confiança e fé. "Deus é um Ser unificado."
 
A Bíblia diz que Deus é e ponto final. A Bíblia não tenta provar a existência de Deus. É bom sabermos que Deus não necessita de advogados de defesa. Ele é e pronto. A Bíblia diz que a tentativa humana é provar que não há Deus (Sl 53.1). E esta tentativa é loucura. É uma luta vã. Contudo, muitos travam esta luta porque assumir a existência de Deus traria implicações éticas. "É melhor não crer do que crer, para a pessoa que não quer levar uma vida correcta." A negativa de Deus é para que o homem possa viver a seu bel prazer. Como escreveu Dostoievski: "Se não há Deus tudo é permitido."
 
Como é que eu posso conhecer Deus? Como eu, sendo humano e limitado posso encontrar-me com o Deus Todo-Poderoso? A realidade é que só podemos conhecer Deus por aquilo que revelou a nós. "Não poderíamos conhecer a Deus se ele não se revelasse nas obras da natureza, no desenrolar da História, na constituição da natureza humana e, especialmente, no que diz a sua Palavra." Só é possível conhecermos Deus, porque Ele quis se dar a conhecer a nós. Ele se revelou na Pessoa de Jesus Cristo e nos deixou a sua carta de amor, que é a Bíblia.
 
Deus se revelou. Ele deve ser adorado e exaltado por cada um de nós. Contudo, muitas vezes desprezamos o verdadeiro Deus e adoramos outros deuses. Como saber quem é o Deus da minha vida? "Qualquer coisa ou qualquer pessoa a quem eu der o primeiro lugar em meu coração, isso é um deus para mim. Acontece algumas vêzes a pessoa cultuar a si mesma (II Ts 2:4)." Quem está a ocupar o primeiro lugar em minha vida?
 
Deus é. Ele é o Criador e Sustentador de todas as coisas. Somos suas criaturas. Ele deseja relacionar-se connosco de modo claro. Contudo, é bom saber que "Deus prefere discordância sincera a submissão insincera. Ele leva os seres humanos a sério, dialoga com eles, os inclui em seus planos e ouve o que tem a dizer." Portanto, nós também necessitamos levar Deus a sério e reflectir no que Ele nos revela em sua Palavra.
 
De alguém com muitas perguntas, mas que sabe que Deus é real.
 
Pr. Marcos Amazonas dos Santos
Segue uma crónica melancólica.
 
Abraços,
 
 
Marcos
 
 
 
61.Saudade (06/10/06)
 
 
 
O tempo não pára. Não nos damos conta de como ele passa tão depressa. Um dia olhamos e vemos que alguém já não se encontra connosco. Há um vazio que foi deixado por alguém que amamos.
 
O vazio é marcado pela saudade. A doce lembrança de quem amamos e já não poderemos mais estar juntos. Fica a lembrança das conversas, dos abraços, beijos e mimos que foram trocados. A tristeza e a dor da separação da lugar à lembrança, mas em determinados momentos esta lembrança se torna em nostalgia.
 
Hoje a nostalgia tomou conta de mim. Estou melancólico. Meu desejo era poder deitar em teu colo e sentir a tua mão a acariciar o meu rosto. Como eu queria poder sentir o teu toque e ver o teu sorriso. Quem me dera poder mais uma vez escutar os teus conselhos. Estou com o coração a sangrar. A saudade é enorme. É claro que sei que estás bem e que nos encontraremos novamente, mas o facto é que sinto tua falta.
 
A última vez que te abracei foi a treze anos atrás. Celebremos o teu último aniversário a doze anos, mas mesmo assim, parece que foi ontem. Como te tornavas uma criança quando recebias as prendas. Como eras agradecida. Era preciso tão pouco para te ver feliz. Vivias contentes e satisfeita com o que tinhas. A generosidade era a tua marca.
 
Tudo isto são lembranças. Fruto da saudade que estou a sentir neste momento. Talvez por saber que se estivesses connosco amanhã faríamos mais uma festa para ti. Poderíamos ver o teu sorriso e sentir o teu abraço e acima de tudo receber teus beijos. Mas isto não vai acontecer. Amanhã acordaremos e viveremos com a lembrança. Viveremos o corre-corre do dia, mas lá no fundo estaremos a chorar por não podermos dizer-te: Parabéns!
 
O tempo não pára, já cantava Cazuza e é a pura verdade. Ele voa e com ele vão os nossos sonhos, ideias e também aqueles que amamos. Contudo, o tempo não consegue apagar a saudade e o amor que sentimos. Amor que é alimentado pela saudade. Amor que se recusa em esquecer. Não dá para esquecer quem se entregou por nós. Não dá para fazer de conta não nos importa. É claro que importa. É claro que ainda dói, mas há de chegar o dia em que esta dor e lembrança desaparecerão, pois temos a esperança de estamos todos juntos na eternidade porque para nós há uma esperança e ela consola-nos.
 
Hoje estou triste e saudoso. Queria estar ao lado de minha mãe. Não posso, pois faz treze anos que ela faleceu. Se fosse viva, celebraríamos o seu aniversário amanhã. Faríamos uma festa do jeito que ela gostava, mas não é possível. Não há celebração, não podemos abraçá-la e beijá-la. Apenas viver a saudade e lembrar que este dia era o seu dia. Era o seu natal.
 
O tempo voa e dizem que ele nada melhor que o tempo para tratar das coisas. Durante estes anos aprendi que o tempo realmente voa, mas ele não cura as nossas feridas. Se não as tratamos elas podem infectar e nos destruir. O tempo não tirou a saudade da minha mãe. Não apagou sua lembrança e a sua imagem. Não conseguiu tirar a tristeza que reside no fundo do coração por não mais poder beijá-la. Aprendi a conviver com esta situação. Alimento a esperança do reencontro. Consolo-me no facto de saber que o seu amor foi incondicional. Mas tudo isto, não tira a minha tristeza.
 
Minha mãe foi exemplo de mulher, esposa, conselheira, amiga, cristã. Foi uma Mulher virtuosa. Seus filhos são gratos por todo amor dedicado. Nós a amamos muito e ela muito nos perdoou ensinando-nos a conhecer um Deus misericordioso e amoroso.
 
Hoje a saudade tomou conta do meu ser. Talvez seja por causa do tempo. Ele está nublado, chuvoso do jeito que minha mãe gostava. Hoje tudo me traz à memória a imagem da minha mãe. E toda a lembrança que tenho é agradável, mas a tristeza me invade porque não posso abraçá-la e muito menos dizer: Parabéns.
 
Hoje estou triste e com saudade da minha mãe, mas com o coração agradecido por saber que ela descansa nos braços eternos do Senhor.

Queridos,
 
 
Segue mais um texto.
 
Abraços,
 
 
Marcos Amazonas
 
 
 
62.Colcha de Retalhos(11/10/06)
 
 
 
Certa vez, vi uma colcha de retalhos. Fiquei encantado com ela. Era de uma beleza ímpar. As mulheres têm a capacidade de reciclar coisas de um modo extraordinário. O que era apenas resto de panos se torna uma bela colcha. Pedaços que seriam jogados fora são unidos e fazem algo lindo.
 
Comparo a minha família como uma colcha de retalhos. Retalhos de vida. Retalhos que unidos criam uma beleza rara. É isto que penso das famílias e da minha de modo especial. Por que afirmo que somos uma colcha de retalhos?
 
Somos os retalhos dos nossos pais e avós. Nascemos como resultado da união deles, mas também somos pedaços que saíram deles. Estes pedaços vão seguir pela vida e construir uma história. Uns criam histórias belas, que dão orgulho aos pais, outros causam tristeza e dor e como um pedaço de retalho muitas vezes é deitado fora.
 
Lá em casa somos quatro. Dos retalhos sou o menor. Sou o mais novo de dois casais. Somos resultado de um amor lindo. Um amor que resistiu as tempestades da vida. Resistiu as trovoadas da traição. Prevaleceu e venceu.
 
Como resultado e retalhos do amor dos nossos pais creio que posso dizer o seguinte dos meus irmãos:
 
Mirza é a mais velha. Ela representa a calma, a leveza vivida por nossa mãe. Sua aparência é toda virada para o lado do nosso pai. Seu jeito de ser é um misto de papai com mamãe. Seu jeito despreocupado reflecte a esperança e a tranquilidade da dona Amazonas.
 
Miriam é garra, força. É a imagem da mãe, sua forma física é o retrato da mãe, mas sua força e vontade de lutar é a característica do papai. Determinação, desejo de justiça, tudo isto reflectem o quanto ela tem do pai nela. É lógico que há muito da mãe.
 
Moysés é dócil. Seu nome combinada na íntegra com ele. É um sobrevivente. Nasceu de sete meses, resistiu. É todo amor. Traz todas as virtudes da mãe e do pai. Está sempre a correr. Não sabe ficar sozinho. Tem necessidade de ter muita gente à sua volta. É criança grande.
 
Eu, quer dizer, é complicado falar de nós próprios. Sou o Marcos. O último pedaço da colcha de retalhos. O que posso falar deste pequeno pedaço de retalho. Bem, sou o mais parecido com o pai. Muitas vezes assusto-me quando me vejo no espelho, pois parece que estou diante do meu pai. Como ele, sou também pastor. Contudo, também tenho muito de minha mãe. Pelo menos é o que me dizem. Sempre ouço falar que herdei dela a capacidade de conversar e aconselhar. Se assim for, tenho tudo para exercer um bom ministério pastoral, pois do pai herdei o gosto pela proclamação da mensagem e da mãe a capacidade de aconselhar. Será que conseguirei honrá-los?
 
Somos quatro. Sozinhos somos apenas pedaços que falam da história de amor de um casal. Juntos mostramos o quão forte foi este amor, pois nada pode destruí-lo e mesmo o separar.
 
Somos uma colcha de retalhos. Mas a verdade é que sozinhos, mal poderíamos formar um pano de prato. Por isso, estes pedaços de retalhos, uniram-se a outros pedaços, e da união destes retalhos surgiram outros pequenos pedaços que foram agregados e a colcha foi formada. Sei que um dia nossos retalhos sairão, nos deixarão para formarem sua própria colcha de retalhos.
 
Espero que nossos retalhos tenham a mesma convicção e certeza que eu tenho. Espero que eles olhem para nós e queiram seguir nosso exemplo. Espero que eles ao falarem das suas famílias possam dizer que os problemas existiram, foram cruéis e muito duros, mas nada pode destruí-los, pois o amor reinava na família.
 
Retalhos são restos que geralmente jogamos fora. Uma colcha de retalhos, utilizamos para embelezar nossa casa. Meus pais não nos jogaram fora. Investiram em nós e formaram uma linda e bela colcha de retalhos. Esta colcha permanece unida e mostrar toda a sua beleza.
 
Somos uma colcha de retalho. Estamos unidos para toda vida. Nossa união não é apenas por laços sanguíneos. Nossa união é marcada pelo amor que fluiu dos nossos pais para nós. Colcha de retalhos. Retalhos da vida de Neehmias e Amazonas.
Segue mais uma crónica.
Espero que ela seja um desafio para vós.
 
Abraços,
 
 
Marcos Amazonas
 
63 _ Vida ou Morte? (20/10/06)
 
 
 
Saio cedo de casa para levar os filhos à escola. Como sempre ligo o rádio para ouvir as notícias. Fico surpreso porque ouço uma reportagem com a direcção de uma clínica espanhola que está a montar uma filial sua em Portugal. É uma clínica preparada para realização de aborto. Achei a entrevista sem propósito, mas a médica disse que em Janeiro estariam de portas abertas. Pensei, como ela pode afirmar isto, se em Portugal a lei não permite o aborto?
 
O facto é que ontem seria discutido na Assembleia da República o novo referendo sobre o aborto. O mesmo foi aceite pela maioria. Sendo assim, vem aí mais um referendo. A pergunta não menciona o termo aborto, mas sim, interrupção voluntária da gravidez. Interessante, é uma interrupção, um corte abrupto e voluntário decidido pela mãe ou pelo casal, mas sem dar a oportunidade da criança dizer qualquer coisa. Num fórum promovido por uma rádio, a maioria defendia o aborto. Ouvi uma mulher dizer que não é apenas o acto de conceber e ter a criança, mas todo o investimento que deve ser feito na formação da criança, sendo assim é melhor cortar o mal pela raiz.
 
É verdade, vivemos numa sociedade que preza a morte. Vivemos numa sociedade onde os fracos e oprimidos são desprezados. Vivemos cada dia procurado destruir os que nos atrapalham. É por este motivo que o referendo do aborto foi aprovado. Uma gravidez indesejada é um atraso de vida. Atrapalha e não nos dá benefício nenhum. Sendo assim, o que temos que fazer é simplesmente interrompê-la. Falando assim, parece ser algo simples e sem problema nenhum. É interessante que em momento algum falam dos métodos utilizados para o aborto e muito menos das consequências psicológicas do mesmo. É a mentalidade de que a gravidez é um problema, um fardo e ele deve ser arrancado e deitado fora.
 
As mudanças ocorrem lentamente. Olhamos para os velhos e vemos que a maioria está a ser levada para lares da terceira idade. Os filhos não se preocupam com eles. Os depositam lá e seguem a sua vida. Estão a se desresponsabilizar. Agora a luta é para a aprovação do aborto e depois será pela eutanásia. Cada vez mais veremos o ser humano engajado em projectos de autodestruição, pois aquilo que semeamos colheremos.
 
Quando ouço notícias deste tipo, quando vejo a cultura da morte à minha volta, lembro-me sempre da música que diz que “a morte saiu à rua”. É a pura realidade, pois nossa cultura é niilista, hedonista e acima de tudo sanguinária. Há um prazer mórbido em nossos dias. A maldade é o que está na moda.
 
Diante de um desafio como este, fico a pensar onde estão aqueles que se levantam e procuram glorificar a vida. Onde estão aqueles que fazem uma revolução silenciosa que modifica as estruturas. Será que esta revolução foi feita pelos impiedosos?
 
Onde estão os homens e mulheres como Mohandas K. Gandhi, que fez o comandante Mountbatten dizer: “No meu front ocidental, tenho 100 mil soldados e um derramamento de sangue que não cessa. No meu lado oriental, tenho apenas um velho homem, e nenhuma gota de sangue foi derramada.” Onde foram parar homens como Martin Luther King Jr? Homens que em meio a uma cultura de morte, uma cultura segregacionista, amavam os intolerantes e os olhavam como seres humanos. Necessitamos de homens e mulheres que digam como King: “Igualaremos a vossa capacidade de infligir sofrimento com a nossa capacidade de aguentar o sofrimento. Iremos ao encontro da vossa força física com a força da nossa alma. Fazei-nos o que quiserdes, e continuaremos a amar-vos.”
 
Necessitamos de mulheres como Madre Teresa de Calcutá, que apenas pediu que as mulheres não abortassem, mas que se não desejassem as crianças ela as receberia com todo o amor.
 
Necessitamos de homens como Nelson Mandela que depois de passar vários anos na prisão saiu e unificou o seu país com amor e perdão.
 
Diante da cultura da morte, precisamos de pessoas que vivam a cultura da vida. Pessoas que valorizem o ser e não o ter.
 
Onde estão os Gandhis, Kings, Mandelas, Teresas de nossa época?
 
Em breve teremos um referendo sobre o aborto. Em breve teremos que decidir entre a vida e a morte. Precisamos tomar uma decisão conscientes. Necessitamos ver em que lado nos encontramos.
 
Eu prefiro fazer parte do pequeno grupo que ama a vida. Fico do lado dos que fazem a revolução da vida, mas a revolução do amor.
 
A vida e a morte estão diante de nós. Que possamos escolher a vida.


Segue a última crónica que escrevi.
 
Abraços,
 
 
Marcos
 
 
64_ Adolescência (20/10/06)
 
 
 
É a fase da vida em sabemos tudo. Ninguém sabe mais do que nós.
 
É a fase da vida, onde tudo é passageiro, rápido e em que vivemos intensamente. É a fase em que nos apaixonamos e dizemos que este amor é para toda vida, mas logo ele se vai e dizemos que nunca mais amaremos ninguém e sofremos profundamente, mas em seguida nos apaixonamos novamente e dizemos que este é o amor da nossa vida. É também a fase em que encontramos um amor platónico. Temos uma relação que jamais se concretizará, mas para nós ela é a melhor de todas.
 
Nós namoramos com a outra pessoa, mas ela não namora connosco. Nós a amamos profundamente, mas a outra pessoa no máximo nos tem como amigos e isto basta-nos. Quando recebemos um aperto de mão, não a queremos lavar durante a semana toda. Receber um beijinho então…
 
Esta é a fase em que os pais são uns chatos, retrógrados que tentam controlar nossas vidas. Eles só nos dão opiniões erradas e ficam a se meter onde não são chamados. É fase em que queremos sempre irritá-los e a provocá-los, pois eles estão ultrapassados e nós somos os que vivem no tempo certo.
 
É a fase onde não somos crianças, mas também não somos jovens e muito menos adultos. Não queremos estar no meio das crianças, os jovens não nos querem no meio deles. Criamos o nosso gueto e vivemos ali fechados. É a fase das indefinições, depressões e muitas complicações.
 
É a fase das mudanças. A voz muda, o corpo transforma-se, vivemos inquietações e frustrações. É tudo estranho, mas também desafiante e estimulante. Tudo o que desejamos é ser aceites amados.
 
É no meio de toda esta situação que vamos amadurecendo. É assim que se vive a adolescência. Com lutas, frustrações. É a fase de muitos erros, mas também de acertos e afirmações. É a fase da vida onde se consolidam grandes amizades e se criam sonhos para toda vida.
 
Já não sou adolescente. Já não vivo estas inquietações, apesar de ver meu corpo em transformação, pois agora estou a crescer para os lados. Já não vivo um amor platónico, agora vivo um amor para toda a vida. Trago sonhos que carrego desde aquela época da vida. Um deles é o sonho da escrita. Sempre gostei de escrever e na adolescência me imaginava como escritor. O sonho não se concretizou, mas continuo a rabiscar. Quem sabe um dia aprendo a escrever.
 
Já não sou adolescente. Hoje sou  pai e tenho um filho que está a entrar na adolescência e luto para que os dilemas existenciais seja minimizados. Luto para que ele continue a olhar para o pai como olhava enquanto criança. Luto para não pensar que sou o dono da verdade e que meu filho não sabe nada e que me deve obediência cega. Travo esta luta comigo mesmo porque sei que a luta que ele trava consigo próprio é ainda muito pior e se não tiver ninguém ao seu lado será catastrófico.
 
Luto com todas as minhas forças, pois não quero que meu filho seja como eu. Não quero que as experiências que eu vivi sejam vividas por ele. Contudo, procuro ser um pai presente, mas não opressor. Tendo ser amigo e democrático, não um ditador. É claro que meu filho escuta muitas vezes a palavra não e ela faz parte da formação de todo ser humano e uma coisa que tenho aprendido na minha vida é que é a palavra que mais iremos escutar neste mundo.
 
A adolescência é a fase das mudanças radicais. Já não sou adolescente, mas reconheço que preciso mudar a cada dia. Vejo que e impossível para mim permanecer o mesmo. Meu próprio corpo muda. Contudo, há valores que não podem ser mudados. Há princípios que são para toda vida. Estes eu aprendi em criança. Lutei contra eles na adolescência e hoje transmito-os aos meus filhos. Espero que eles sigam o meu exemplo, mas que não cometam os mesmos erros que eu cometi na fase mais tumultuada e mais gostosa da vida que é a adolescência.
 
Adolescer é crescer.
 
Adolescer é amadurecer.
 
Que meu filho saiba trilhar este caminho. Que ele tome as decisões certas, mas por mais que ele erre e vai errar muito, poderá contar sempre com o meu amor incondicional como eu também um dia contei.

Estou a pregar sobre o livro de Jonas.
Sendo assim, segue a primeira mensagem que preguei sobre o mesmo.
 
Abraços,
 
 
Marcos
 
 
65. O Senhor Fala
Jonas 1.1-2 (27/10/06)
 
O livro de Jonas é muito actual. Contudo, é um livro desconhecido pela maioria. Todos sabem que ele foi engolido por um grande peixe. O chamam de profeta fujam, mas poucos se aprofundam no estudo do livro. Jonas é apaixonante. Ele é “o mais interessante de todos os profetas da Bíblia. Isto porque Jonas é seguramente o mais parcial, extravagante e humano de todos eles.”[1]
 
Estudar o livro de Jonas é reflectir sobre a graça de Deus. É reflectir sobre a vida da igreja e ver que muitas vezes, ela age como agiu o povo de Deus no passado e o seu profeta. Fecham-se para o mundo e vivem enclausurados para si mesmo e por isso deixam de ser bênção para os demais.
 
Não esqueçamos nunca que os “profetas estão solidamente enraizados na situação político-social, tanto de Israel como das nações vizinhas.”[2] Por causa disto, o profeta vive todas as questões políticas dos seus dias. Ele tem suas preferências. Suas preferências fazem-no esquecer que o povo de Israel deveria ser bênção para todos os povos.
 
Israel deveria ser bênção para todas as nações (Gn 12.1-3). Portanto, podemos dizer que o livro de Jonas, “gira em torno da extensão da graça de Deus aos gentios. É mais uma aplicação de Gênesis 12:3. Boa parte daquilo que ensina se centraliza no caráter de Deus conforme a revelação do mesmo já feita em Êxodo 34:6.”[3] Quando paramos e reflectimos sobre isto podemos ver que é possível ter uma ortodoxia correcta e viver distante dela. É por este motivo que Von Rad diz: “A verdadeira falta de Jonas consiste em que, apesar de sua ortodoxia, se mantém separado. Isto aconteceu tanto no barco como em Nínive: quando a vida e a morte estavam em jogo, colocou-se à margem, num lugar extremamente inconfortável.”[4]
 
A igreja necessita parar e rever à sua atitude. Deve deixar seu complexo de inferioridade e assumir uma postura séria diante do mundo. É o momento de olhar para fora e ver que nosso chamado é para ser luz para as nações (1 Pe 2.9). Somos o povo que foi resgatado para glorificar a Deus. Contudo, enquanto aqui vivermos, nossa adoração nos direcciona ao nosso próximo. Quando olhamos para o livro de Jonas, vemos que nossa visão deve ser alargada. Precisamos compreender que o nosso chamado é para sermos bênção para todos os povos.
 
Antes de continuarmos, vejamos qual era o contexto de Jonas.
 
Jonas é filho de Amitai (amizade), profetizou na época de Jeroboão II de Israel, portanto viveu aproximadamente no ano de 750 a.C. Ele é citado em 2 Reis 14.25. Ele profetizou para o reino do norte de Israel. Aquele era um tempo muito difícil. O regime de Jeroboão II era terrível. Ele era um rei perverso que fez o que era mal aos olhos do Senhor (2 Rs 14.24). Apesar disto, Jonas profetiza que o Senhor iria restaurar as antigas fronteiras, o que aconteceu (2 Rs 14.25-28).
 
Aquele era um tempo de ameaças. Israel corria o risco de ser extinto como nação (2 Rs 14.27). A pobreza imperava na nação (2 Rs 14.26), praticamente não havia hierarquia social. Apenas uma pequena minoria era rica (2 Rs 15.20). Apesar disto, o governo investia fortemente em armamentos e por isso expandia seu militarmente. Foi um tempo de restabelecimento e conquista (2 Rs 14.25;28). Neste ambiente de guerra, Jonas partidarizou-se com o seu país e passou a odiar os seus adversários e o maior destes era a Assíria, que tinha Nínive como capital.
 
Já vimos o contexto de Jonas. Agora vejamos um esboço do livro para que possamos compreender o plano do autor e também ter uma compreensão global da obra.
 
O esboço que utilizaremos é simples, mas nos aponta bem o conteúdo da obra. Vejamos o que temos:
 
Comissionamento e Fuga – Capítulo 1
Redescobrindo a oração – Capítulo 2
Obediência e Salvação – Capítulo 3
Aprendendo sobre o amor do Senhor – Capítulo 4
Tendo isto em mente, vejamos as implicações do livro de Jonas para as nossas vidas. Vejamos o que ele nos ensina.
 
1 – O Senhor sempre toma a iniciativa de falar ao seu povo 1
 
Aqui é que começa a história. O texto inicia com Deus falando. É assim que deve ser. O povo de Israel deve viver a ouvir a palavra do Senhor e deve viver sob a autoridade da Palavra. Este foi o problema do povo de Israel. Deixou de viver sob a orientação da Palavra. Agora a Palavra vai deixar Israel. Jonas é enviado para pregar aos pagãos. Ele é enviado para ser bênção aos que não fazem parte do povo de Deus.
 
Ele, que profetizava a expansão territorial. Agora é chamado para pregar aos que ele ideologicamente considera inimigo. Ele é comissionado pelo Senhor para manifestar a graça do Senhor e também o que o nome de seu pai e o seu próprio significam. Seu pai chamava-se Amitai, que significa amizade. Ele é Jonas, que significa pomba. Representa a paz. Ele é chamado pelo Senhor para levar a amizade e a paz à nação cruel da Assíria. Ele é chamado para manifestar a autoridade do Senhor.
 
O texto nos mostra que a iniciativa é do Senhor. Foi o Senhor quem falou: “Levanta-te, vai a grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença.” Aqui está uma palavra com autoridade. Note que o Senhor levantou profetas porque a religião havia se corrompido. O povo tinha virado às costas ao Senhor. O povo tinha perdido sua autoridade e por isso não servia de bênção mais aos povos à sua volta. O povo de Israel havia perdido o respeito das outras nações. Havia perdido sua autoridade. Este também é o problema da igreja actual. “O que está a faltar para a igreja actual é uma palavra com autoridade. A palavra com autoridade não se encontra aqui; a igreja a perdeu e por isso o mundo tem rejeitado a igreja. A igreja já não tem o respeito do mundo. A igreja perdeu sua autoridade porque não está a pregar a mensagem que o Senhor lhe entregou para proclamar ao mundo. Sendo assim, o que está a faltar hoje é uma palavra com autoridade, uma palavra que venha de fora; uma palavra que não seja do homem, não o que o homem pode produzir, mas algo que vem do outro lado de Deus para o homem.”[5]
 
Deus fala a Jonas. Deus o chama e o envia. É o Deus a agir na história e através da história. Não é a palavra do homem. Não é uma religião fechada, enclausurada, mas aberta para ser bênção aos demais. Jonas estava impregnado de história. Era alguém que olhava somente para dentro. Estava hermeticamente fechado. Jonas era nacionalista. E o seu nacionalismo o fechou na sua história. O facto é que: “O excesso de história na perspectiva histórica de Jonas lhe roubara o desejo de viver na história. Isto porque ninguém vive só de história. Sem trans-história a própria história perde seu valor histórico. O temporal só tem sentido se for vivido com a perspectiva do eterno.”[6] É aqui que o Senhor aparece e fala. É aqui que o Eterno se manifesta e rompe com o temporal.
 
Deus vem ao encontro do homem com a sua Palavra. Toda a iniciativa é de Deus. No Éden é o Senhor quem busca a Adão (Gn 3.9). Quando o povo estava no cativeiro o Senhor veio e chamou Moisés (Ex 3.4-9). Deus vem ao nosso encontro. Ele toma a iniciativa de nos resgatar. Jesus veio ao mundo ao nosso encontro. Ele veio para nos salvar. Ele convida a todos que estão casados, sobrecarregados a se achegarem a Ele (Mt 11.28-30). Deus toma a iniciativa. Ele chama-nos. Ele se manifesta ao homem. Ele fala com autoridade. A iniciativa nunca é nossa é de Deus.
 
Foi o Senhor quem disse a Jonas: “Levanta-te”. É o Senhor que fala connosco. É Ele quem nos comissiona e nos entrega a sua mensagem.
 
2 – O Senhor sempre vai falar através dos seus eleitos 1
 
Deus sempre vai levantar seus arautos para manifestar a sua mensagem. Deus não fala através de estranhos. Ele fala através do seu povo. Ele fala através daqueles que Ele comissionou. É interessante ver na Bíblia que muitos daqueles que foram chamados por Deus para falar ao povo, questionavam: “por que eu?” O que é maravilhoso no nosso texto é ver que Jonas tem prazer em falar ao seu povo, mas quando é para falar aos de fora ela não diz nada. Simplesmente foge. Contudo, é bom notarmos o seguinte: “O livro de Jonas nos mostra que a prerrogativa de Deus é fazer aquilo que Ele deseja fazer. Deus tem um trabalho para ti fazeres e talvez, quando isto chega a ti como vontade de Deus a tua pergunta é: Por que eu? Tu serás uma pessoa sábia se obedeceres imediatamente. Não entre em vários problemas, discutindo com Deus, rebelando-se contra Ele, porque eu aviso-te, Deus tem meios para realizar os seus caminhos.”[7]
 
Deus age na história através do seu povo. Israel foi o povo escolhido para ser bênção para as demais nações (Gn 12.3). O povo ficou fechado, se enclausurou, mas o Senhor veio e mostra ao povo através de Jonas que a mensagem do Senhor é para todos os povos e não apenas para Israel. Jonas é um missionário transcultural. Ele tem que deixar seu país e seguir a uma outra nação para falar com autoridade a mensagem do Senhor.
 
Deus nos escolheu e nos fez seus embaixadores para que possamos anunciar a sua mensagem (Mt 28.18-20; 1 Pe 2.9). “Deus quer utilizar-se de pessoas humanas para transformar situações e vidas. O Deus de Israel não é um Deus que, com uma varinha de condão, interfere magicamente nos destinos humanos, dispensando qualquer atuação de seres humanos. Para atingir seus objetivos, Deus convoca Jonas.”[8]
 
Da mesma maneira que o Senhor convocou a Jonas, Ele está a nos convocar hoje. Ele está a chamar a sua igreja para proclamar a sua mensagem. Já ouviste o convite do Senhor?
 
Deus vai se manifestar aos demais através de ti. Estás disposto a obedecer o Senhor?
 
Preste atenção, o Senhor vai falar através de ti. Ele sempre usa os seus eleitos. Jonas sabia que ser enviado pelo Senhor implicava manifestar a graça de Deus. E foi por isso que Ele relutou, pois sabia que a Palavra de Deus era poderosa para salvar o povo de Nínive (Jn 4.1-2). Contudo, hoje a igreja permanece quieta. Está calada como estava calado o povo de Israel. A igreja está na retaguarda como havia ficado o povo de Israel. A igreja fala para dentro. Grita que o pecado está a destruir o mundo, mas não faz nada para que a mensagem do Senhor saia dos seus portões. Agimos como agia o povo de Israel nos dias de Jonas. Contudo, a grande questão é porque a igreja age assim? “A igreja está na retaguarda porque duvida da Palavra de Deus. Como Jonas que duvidou que fosse o Senhor a dizendo: “Vai a Nínive”, Jonas foi para outra direcção. A raiz do nosso problema é não acreditar na Palavra de Deus.”[9]
 
É interessante notar que quando é algo que nos agrada a Palavra faz sentido. Quando é algo que não gostamos fugimos dela. Assim fez Jonas. Contudo, Deus age e age através do seu povo. Ele vai falar através de mim e de você.
 
3 – O Senhor fala através do seu escolhido para manifestar graça aos povos 1-2
 
Jonas é enviado a Nínive. Mas porque esta cidade?
 
Nínive era uma cidade idólatra. Tinha como sua deusa Ishtar, que era conhecida como a rainha dos céus. Esta deusa foi adorada em Israel (Je 7.18). Ela era a deusa da guerra e do amor. Amor aqui referindo-se a sexo. A existência da cidade era marcada pela violência e imoralidade.
 
Quando lemos o nosso texto não fica claro o tipo de maldade que a cidade produz. Sendo assim, mais uma vez pergunto: Por que Nínive?
 
“Nínive ficou famosa por ter sido a capital de um dos povos mais cruéis do Antigo Oriente, os assírios. Descobrimos algo mais sobre a maldade de Nínive e crueldade dos assírios na mensagem do profeta Naum. Os assírios são comparados a um leão que despedaça as suas vítimas, que estrangula para encher o seu covil de despojos (Na 2.12s). Nínive é a “cidade sanguinária, toda cheia de mentira, repleta de despojos, onde não cessa a rapina” (Na 3.1).”[10] Estamos a contemplar o pecado na sua expressão máxima. Violência, sexo e todo o tipo de crueldade. É em locais assim, o super abunda o pecado que a graça de Deus se manifesta. Veja o que diz Paulo quando escreve aos romanos: “Veio porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rm 5.20). Por que Nínive? Porque o Senhor deseja manifestar a sua graça!
 
A mensagem da ira de Deus é também a mensagem da graça de Deus. Isto porque o Senhor não resiste a um pecador arrependido. Jonas sabia disto. Por isso, ele tenta fugir de Deus. Nós somos chamados para anunciar a ira do Senhor a esta cidade pecadora. Somos chamados para proclamar a graça de Deus. Precisamos compreender o que o Senhor Jesus disse nos seus dias: “Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas sim, os pecadores ao arrependimento.” (Mc 2.17). O propósito do “ministério de Jonas em Nínive é demonstrar a intenção do Senhor estender sua graça as nações do mundo.”[11] Este propósito é porque o Senhor não tem prazer na morte do ímpio. Quando o Senhor envia sua mensagem, ela é acima de tudo um chamado ao arrependimento. Jonas compreendia bem isto. Ele sabia quem era o seu Senhor (4.1-2), e nós conhecemos o Senhor?
 
Deus não se agrada da morte do injusto. É isto que o Senhor nos diz através de Ezequiel: “Desejaria eu, de qualquer maneira a morte do ímpio? diz o Senhor DEUS; não desejo a antes que se converta dos seus maus caminhos, e viva? Porque não tenho prazer na morte do que morre, diz o Senhor DEUS; convertei-vos, pois, e vivei.” (Ez 18.23;32). A mensagem do Senhor é uma mensagem de vida. Ele deseja que todos se arrependam e tenham vida. Não importa quão cruéis eles sejam. Não importa quantos pecados cometeram. Deus deseja que o injusto seja justificado. Isto só acontecerá se o seu povo proclamar a mensagem da graça.
 
Deus envia Jonas a cidade de Nínive, a capital do império para condenar o pecado da cidade, mas sua mensagem é acima de tudo uma mensagem de esperança para todo aquele que se arrepender, pois o Senhor deseja que todos vivam.
 
Jonas é investido de autoridade. Autoridade do Senhor, para deixar a sua terra e entrar no território inimigo e proclamar a mensagem do Senhor. Ele é enviado para anunciar que a graça e a bênção do Senhor é para todos. Este também é o nosso desafio.
 
Guisa de Conclusão
 
O livro de Jonas é tremendo. Mostra-nos um profeta humano a viver todos os dilemas que nós vivemos. Creio que é por isso, que não gostamos tanto dele. Ele é a nossa própria imagem. Suas incongruências, seus preconceitos demonstram que nós também somos assim. Seu conhecimento teórico é correcto, mas sua prática é duvidosa. Será não somos assim também?
 
Como diz Eugene Peterson: “A história de Jonas é subversiva. Ela se insinua indiretamente por meio da comédia e do exagero e invade nossas idolatrias de carreira aprovadas pela cultura, e enquanto estamos entretidos e alegres, com as defesas inertes, ela cativa nossa imaginação e nos leva a um caminho que conduz à renovação de nossa santidade vocacional.”[12]
 
Chamar-nos de volta ao caminho é compreendermos o seguinte:
 
      A iniciativa é sempre do Senhor. Ele dá o primeiro passo na restauração das pessoas.
 
      O Senhor sempre utilizará o seu povo. Nós somos os seus mensageiros e devemos em obediência anunciar os seus arautos.
 
      O Senhor manifesta a sua graça através do seu povo.
 
Que possamos ser renovados e ver que necessitamos ir ao encontro dos que estão destruídos pelo pecado e anunciar-lhes a mensagem transformadora da graça do Senhor.
 
Que Deus nos abençoe.
 
 
 
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[1] D´ARAÚJO FILHO, Caio Fábio. Jonas o sucesso do fracasso, 1ª Edição VINDE Comunicações, Niterói, 1991
 
[2] BALANCIN, Euclides Martins e STORNIOLO, Ivo. Como ler o livro de Jonas. Deus não conhece fronteiras, 2ª Edição Edições
 
Paulinas, São Paulo 1991
 
[3] KAISER JR., Walter C. Teologia do Antigo Testamento, 2ª Edição Edições Vida Nova, São Paulo 1998
 
[4] RAD, Gerhard Von. Teologia do Antigo Testamento II, 1ª Edição ASTE São Paulo, 1974
 
[5] KENDALL, R. T.  Jonah an exposition, 2ª Edition Paternoster Press, Carlisle, 1985
 
[6] Op. Cit.
 
[7] Op.Cit.
 
[8] KILPP, Nelson. Jonas – Editora Vozes, Petrópolis, RJ Editora Sinodal São Leopoldo, RS 1994.
 
[9] Op.Cit
 
[10] Op.Cit
 
[11] Op.Cit.
 
[12] PETERSON, Eugene H., A Sombra da Planta Invisível, 1ª Edição, Editora United Press Campinas SP 2001

 

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