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Índice :
01 . Imitadores de Cristo
02 . Cristão ou discípulo?
03 . Discipulado — para o bem ou para o mal
04 .
Quem te viu, quem te vê
05 . Discipulado — na alegria e na tristeza 10/02/2012
06.
Demônio de si mesmo _ 14/02
07. Meus direitos . 18/02
08.
Regra de ouro: negativa ou positiva? 19/02
09. Carnaval _ 24/02
10. Bíblia do crioulo doido _ 05/03
11. Betel, não, El-Betel! _ 30/03
12.
A pedra já estava removida _ 10/04
13. Reencontro com Jesus na Galiléia _ 12/04
14. Tratamento personalizado _ 12/04
15. Tomé e você _ 19/04/2012
16. Jesus Na Paulista _ 19/06/2013
17. Amanhã é o dia... Será? 17/09
18. Caminhar é preciso - 22/09/2013 .


01. ) Imitadores de Cristo
 
Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo. (1Coríntios 11.1)
 
O discípulo não está acima do seu mestre. Mas e aquela história do “faça o que eu falo, não faça o que eu faço”? Não pode acontecer de um discípulo, praticando o ensino de seu mestre, apesar do seu mau exemplo, acabar se tornando uma pessoa de estatura moral superior?
Com mestres humanos, isso até pode acontecer. O próprio Jesus admite essa possibilidade ao recomendar aos seus discípulos que guardassem e fizessem tudo o que os mestres da lei e os fariseus lhes diziam, mas sem imitar-lhes o exemplo, pois esses líderes não praticavam o que pregavam (Mt 23.1-4).
Pode ser que pela misericórdia e graça de Deus o discípulo perceba as limitações do seu mestre humano e decida procurar outros modelos melhores a seguir, sobretudo Jesus, o nosso padrão. Felizmente, hoje mais do que nunca as pessoas podem receber influências de diversas fontes e, desse modo, ir mais longe do que seus mentores em sua jornada espiritual.
Mas é bem provável que ele absorva a autocomplacência e o cinismo do seu mestre e reproduza sua frouxidão na busca da vontade de Deus.
Por isso, dizer “não olhem para mim, olhem para Jesus” parece atitude sábia, mas na verdade pode camuflar falta de dedicação e firmeza no compromisso com Cristo. Ao invés disso, Paulo, escrevendo para uma igreja extremamente crítica, disse sem falsa modéstia: “Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo” (1Co 11.1).
Nossa seriedade no discipulado deve nos capacitar a ter a mesma ousadia.
 
       Norio Y.
 
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02. ) Cristão ou discípulo?
 
Em Antioquia, os discípulos foram pela primeira vez chamados cristãos. (Atos 11.26 nvi)
 
O que significa mesmo ser cristão?
Curiosamente, o termo “cristão” aparece só 3 vezes no Novo Testamento (At 11.26, 26.28; 1Pe 4.16), sempre dando a entender conotação depreciativa. Além disso, só começou a ser usado durante o ministério de Barnabé e Paulo em Antioquia, cerca de 15 anos depois do Pentecostes.
Até então (e por bom tempo depois), a palavra preferida da igreja para se referir aos que creem em Jesus era “discípulo”. Essa é também a principal palavra nos evangelhos para seguidores de Jesus. Desde o início do seu ministério, Jesus reuniu ao seu redor pessoas que o acompanhavam por toda parte e eram conhecidas como seus discípulos (Mt 4.18-22; cf. 5.1); e após a ressurreição, deu a eles a missão de fazer discípulos de todas as nações (28.18-20).
A relação mestre-discípulo é muito mais profunda do que a relação professor-aluno. O aluno assiste às aulas por tempo limitado e absorve conhecimentos e habilidades transmitidos de cérebro para cérebro. O discípulo é o aprendiz que, convivendo o tempo todo com seu mestre e imitando-o em tudo, vai absorvendo seu estilo de vida e caráter.
O discípulo de Jesus é quem atende a esse chamado de segui-lo em todos os passos. Ser discípulo, portanto, é muito mais do que meramente concordar com algumas doutrinas e princípios morais ensinados pelas igrejas. Significa imitar Cristo em tudo o que fazemos ou falamos até nos tornarmos semelhantes a ele.
Podemos dizer que somos discípulos de Jesus? Ou seja, somos cristãos de verdade?



03. ) Discipulado — para o bem ou para o mal
 
O discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem instruído será como o seu mestre. (Lucas 6.40 ara)
 
Uma coisa que pode nos ajudar a entender melhor a relação mestre-discípulo são os filmes sobre artes marciais, do tipo que passam nas seções de tarde da TV.
Neles o aprendiz de espadachim ou de alguma luta vai morar ou passa muito tempo com o mestre e, começando com serviços de faxina e cozinha, vai assimilando a filosofia de vida do seu mentor. Só depois que o discípulo começa a mudar sua atitude de vida, o mestre passa a compartilhar com ele alguns segredos de sua arte, mas de modo que a filosofia por trás da técnica seja assimilada junto. Primeiro o caráter, depois a habilidade. Primeiro o ser, depois o fazer.
E esses filmes em geral são maniqueístas. O mundo se divide em dois, entre o bem e o mal; o mocinho, discipulado pelo sensei bom, derrota os maus, treinados pelo sensei mau.
Qualidade artística e simplismo à parte, o argumento desses filmes nos retrata o que ocorre num discipulado: o discípulo não é maior do que o mestre; se, porém, for bem instruído, poderá chegar ao mesmo nível do mestre — seja no caminho do bem, seja no caminho do mal.
Em muitos círculos evangélicos hoje o discipulado é só um método de treinamento, em que um cristão mais maduro ajuda um irmão mais novo a crescer. Mas discipulado é muito mais do que isso. É mudança de mentalidade, transmissão de valores, formação de caráter. É reprodução da imagem de Cristo em nós.
 
       Norio Y.

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Oi, pessoal
 
    Ontem à noite estávamos eu e a Lucy assistindo ao telejornal em casa e criticando as mesmas coisas que a jornalista Eliane Cantanhêde aponta no artigo abaixo publicado na edição de hoje da Folha de S. Paulo.
    Com uma pequena diferença: ela fala sobre a repressão à greve dos PMs na Bahia por um governo do PFL, alidado do PSDB, em 2001, a fim de salientar a semelhança entre as duas greves e o contraste entre a reação do PT naquela ocasião e a reação hoje; nós lembramos que agora mesmo o PT aprova a repressão aos grevistas na Bahia ao mesmo tempo em que condena a ação da PM cumprindo decisão judicial em Pinheirinho (São José dos Campos) sob administração do PSDB.
    Infelizmente, tanto os que apoiam a presidente como os que se opõem a ela parecem anestesiados e, por isso, quase ninguém protesta contra o grande estelionato eleitoral de que o País foi vítima nas 3 últimas eleições presidenciais.
    Não estou dizendo que o PSDB ou algum outro partido faria diferente. Mas enquanto nos mantivermos calados diante dessa sem-vergonhice que impera no meio político, o Brasil se tornará cada vez mais uma nação de contraventores, mesmo com 20% da população se dizendo evangélica.
    Outra coisa: será que não temos reproduzido os mesmos erros dos políticos em nossas igrejas? (Essa é uma pergunta retórica.)
 
    Boa leitura (apesar de desagradável), boa meditação e um grande abraço a todos!
 
    Norio Y.
 
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04. ) Quem te viu, quem te vê
 
Eliane Cantanhêde
 
Na Bahia, o governador Jaques Wagner (PT) partiu para o confronto com policiais em greve, chamou o Exército e bateu o pé mesmo diante dos cadáveres que se amontoam por falta de segurança.
 
Em Brasília, o governo federal comemora alegremente o sucesso dos leilões de privatização dos aeroportos da própria capital, de Guarulhos e de Campinas, com resultado de R$ 24,5 bilhões, bem acima das expectativas.
 
Indaga-se: por que o PT condenou tão acidamente a repressão do governo do PFL-DEM a um movimento semelhante na Bahia em 2001? E por que não só criticou ferrenhamente as privatizações do governo FHC como as usou contra os adversários nas campanhas de 2002, 2006 e 2010?
 
Ou as greves dos policiais na era DEM eram legítimas e na era PT passaram a ser ilegítimas, ou o PT tem um discurso na oposição e uma prática na situação. Ou... o PT mudou.
 
Ou as privatizações eram ruins e agora são boas para o país, ou o PT de Lula e agora de Dilma aderiu ao vale-tudo eleitoral e mentiu, ironizou e foi sarcástico contra uma política que não apenas aprovava como agora aplica, feliz da vida.
 
Durante três campanhas seguidas, o partido recorreu ao mesmo discurso, atribuindo aos adversários tucanos a intenção até de privatizar o BB, a CEF, a Petrobras e a mãe de todos os eleitores. Era o PT antiprivatização versus o PSDB privatizante, o PT patriótico versus o PSDB impatriótico.
 
E agora, qual o discurso? Dilma e Lula deveriam pedir desculpas: ou mentiram aos eleitores ou estavam errados e agora reconhecem que greve de policiais era e é inadmissível e que a política de privatizações do governo adversário era e é correta. Suspeita-se que não vão fazer nem uma coisa nem outra. Vão deixar pra lá, como se nada tivesse acontecido.
 
Moral da história: greve no governo dos outros é bom, mas no nosso não pode; privatização no governo dos outros é impatriótica, mas no nosso é um sucesso do patriotismo.
 
 
 
(Folha de S. Paulo, 07/02/12)



05. ) Discipulado — na alegria e na tristeza
 
Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. (Mateus 10.25)
 
Impera hoje um cristianismo em que as pessoas buscam a Jesus em função das bênçãos que ele pode nos conceder: perdão dos pecados, bem estar emocional, sucesso nos estudos, no trabalho e no amor, saúde, prosperidade material, uma linda família... Tudo de que precisamos para cultivar um estilo de vida de classe média sem complexo de culpa.
Poucos estão prontos a encarar as implicações não muito agradáveis de obedecer à vontade de Deus num mundo rebelado contra o Senhor: arrependimento sincero, renúncia ao egocentrismo, mudança de mentalidade, comportamento diferente e toda sorte de pressão exterior e interior que uma conversão genuína deve gerar. Na verdade, devido ao tipo de mensagem que se prega hoje, poucos atinam com o lado difícil do evangelho.
Jesus, porém, sempre foi honesto quanto às implicações do compromisso cristão. Nunca reduziu o preço do discipulado a fim de aumentar o número de seguidores, por mais que amasse o mundo e desejasse sua salvação.
Assim, deixou bem claro que os discípulos estavam sujeitos a sofrimento e perseguição. “Se o dono da casa foi chamado Belzebu, quanto mais os membros da sua família!” (Mt 10.25) “Se me perseguiram, também perseguirão vocês. Se obedeceram à minha palavra, também obedecerão à de vocês” (Jo 15.21).
Ser discípulo de Jesus é andar sempre nos seus passos — na alegria ou na tristeza, na felicidade ou na dor. Como diz o hino:
Em sombra ou luz, seja onde for, a Cristo irei seguir,
Na terra aqui ou no porvir, por onde me conduzir.

06. ) Demônio de si mesmo - 14/02/2012
 
Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus porque por meio de Cristo
 
Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte. (Rm 8.1-2 nvi)
 
“Meu maior demônio sou eu mesma. Ou sou a minha melhor amiga, ou minha pior inimiga.” São
 
palavras da cantora Whitney Houston numa entrevista em 2002, quando já estava enrolada havia
 
alguns anos com drogas.
Não sei exatamente em que contexto Whitney disse essas coisas. Mas elas descrevem muito bem a
 
incapacidade de lidar com seus impulsos, que a levou a desperdiçar seu talento e a própria vida.
Vivendo intensamente uma vida em que experimentou a glória do estrelato seguida de queda
 
espetacular, Whitney retratou sua miséria espiritual em termos dramáticos. Mas suas palavras não
 
soariam naturais nos lábios de todos? Digo “todos” pensando não apenas nos outros artistas que
 
morreram prematuramente, como Jimmy Hendrix, Janis Joplin e Michael Jackson, mas em todos os
 
seres humanos literalmente.
Por causa da nossa “carne” (tendência natural para o pecado), não conseguimos fazer o bem que
 
queremos e acabamos fazendo o mal que abominamos. Pior, muitas vezes desejamos o mal e
 
rejeitamos conscientemente o bem, mesmo sabendo das consequências da escolha.
Paulo descreve essa escravidão em Romanos e conclui com lamento: “Miserável homem que eu sou!
 
Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?” E apresenta em seguida a única solução: “Graças
 
a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!” (Rm 7.24-25a). À medida que permanecemos em Cristo, o
 
poder do Espírito nos liberta do poder do pecado e da morte (Rm 8.2).
Infelizmente, parece que Whitney nunca descobriu isso, embora tenha começado a cantar música
 
gospel numa igreja evangélica.
 
        Norio Y.


07.
Meus direitos
 
Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas. (Mateus 7.12 nvi)
 
Outro dia saí de casa às 5:30 para um serviço de tradução. Pelos meus cálculos, chegaria com bastante antecedência ao local marcado para pegar um carro e viajar para Pouso Alegre-MG.
Mas logo percebi que havia algo errado: os ônibus convencionais não vinham e os micro-ônibus, todos lotados, passavam direto por nós. Corri então para o ponto de troleibus ali perto, consegui entrar no segundo carro, depois corri do trolei para o metrô e do metrô para o ponto de encontro. Entrei esbaforido no carro às 6 em ponto, hora marcada para partida.
No carro, ficamos sabendo pelo rádio que motoristas e cobradores de ônibus estavam em greve, deflagrada sem nenhum aviso.
Talvez sejam justas as reivindicações desses profissionais. Mas eles podiam violar os direitos de centenas de milhares de trabalhadores? E quem esperou meses por aquele exame médico em hospital público? E quem ansiou semanas por aquela entrevista de emprego?
Talvez sejam justas também as reivindicações dos policiais que ultimamente com frequência alarmante têm feito greves (ilegais), às vezes com saldo de muitas mortes. Mas que direito têm eles de deixar desprotegidos os cidadãos que lhes pagam o salário?
O problema é que hoje, num mundo dominado por egocentrismo, poucos se lembram da regra de ouro ensinada por Jesus. Você quer ter seus direitos respeitados? Ser tratado com respeito e gentileza? Então, trate os outros do jeito que deseja ser tratado.
O Brasil mudaria radicalmente se ao menos os evangélicos se lembrassem desse princípio tão básico.
 
       Norio Y.

08.  Regra de ouro: negativa ou positiva?
 
Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas. (Mateus 7.12 ara)
 
A regra de ouro foi apresentada bem antes de Cristo por pensadores e líderes religiosos de diversas culturas, em geral na forma negativa: “Não façais aos outros o que não quereis que vos façam”.
O problema é que o ser humano é egocêntrico por natureza. Focado sempre em si mesmo, pode até não fazer mal a ninguém, mas também não mover um dedo para fazer o bem. “Não mexam comigo, pois não perturbo a vida de ninguém!” Desse modo, milhões de cidadãos respeitáveis nada fazem contra injustiça e desigualdade ao seu redor.
Mas essa omissão também é contra a vontade de Deus. Em outras passagens, Jesus falou do servo mau e negligente que, com medo de errar, esconde a riqueza que lhe foi confiada, ou seja, fica imóvel e desperdiça a oportunidade de serviço que Deus lhe dá (Mt 25.14-30; Lc 19.11-26). Já Tiago diz explicitamente: “aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando” (Tg 4.17).
Daí a importância da forma positiva que Jesus usa. No contexto imediato, ele falou sobre a bondade do Pai (Mt 7.7-11), mostrando que quem desfruta o amor de Deus deve tomar a iniciativa de fazer o bem ao próximo. Sem se omitir. Dando primeiro, sem esperar receber. Esse estilo de vida resume o espírito da Lei e das profecias muito melhor do que a obediência literal a mandamentos específicos.
Essa é a atitude que agrada a Deus e que Jesus deseja ver em seus discípulos.
 
       Norio Y.


09. País do Carnaval ou Reino de Deus?
 
Pois tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo. O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre. (1João 2.16-17)
 
Existe alguma coisa no Brasil tratada com mais seriedade que o carnaval?
Certa vez tive muita dificuldade para explicar a um japonês que “escola de samba” não é colégio ou faculdade com milhares de alunos, nem o desfile de escolas de samba uma formatura em conjunto de diversas instituições de ensino. Para ele, a seriedade dos brasileiros na folia só encontra paralelo na dedicação dos nerds de seu país.
Milhões economizam o ano inteiro para esses 4 dias, pagam fantasia do próprio bolso, muitos abandonam emprego semanas antes da festa para ajudar a confeccionar alegorias, se dedicar aos ensaios e entrar em forma, no estilo “tô me guardando pra quando o carnaval chegar”. Alguns enredos de escolas são elaborados com assessoria de doutos especialistas, num trabalho de pesquisa de fazer inveja a muitos TCCs. E quando chega a hora, milhares de foliões formam conjuntos harmoniosos sem nunca terem ensaiado juntos. E com pontualidade suíça, pois o atraso é fatal.
Como manifestação cultural, o carnaval tem aspectos bonitos e interessantes. O grande problema é seu poder para levar as pessoas a viver em função de coisas efêmeras, não prioritárias, ligadas a prazeres carnais e vaidade, mesmo quando se abordam questões de importância fundamental.
Nesse contexto, não basta ao cristão ficar fora da folia. Ele deve ser reconhecido por uma dedicação a Cristo maior que a dedicação dos brasileiros ao carnaval. E isso não apenas por alguns dias do ano, mas todos os dias de sua vida.
 
       Norio Y.

10. Bíblia do crioulo doido _ 05/03/2012 .
Bíblia do crioulo doido
 
Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras. (Lucas 24.45)
 
Entra carnaval sai carnaval o enredo da maioria das escolas de samba lembra samba do crioulo doido.
Essa expressão — “samba do crioulo doido” — aplicada a histórias disparatadas, sem sentido, foi imortalizada por uma composição de 1968 que tinha esse título. O jornalista Stanislaw Ponte Preta ironizou a regra que obrigava as escolas de samba do Rio a basear seu enredo em fatos da História do Brasil, o que gerava monte de absurdos. Na paródia, Chica da Silva obrigou Princesa Leopoldina a se casar com Tiradentes. Este se elegeu D. Pedro II, viajou para São Paulo para falar com Anchieta e dessa conversa resultou a decisão de se proclamar a escravidão no Brasil.
Sempre achei a canção deliciosa. Fico, porém, incomodado com o fato de que em nossas igrejas o tempo todo tocam inúmeros sambas de crioulo doido, que não são engraçadas, pois fazem muito mal à nossa fé.
Você já tentou avaliar o conhecimento de membros de sua igreja sobre a história bíblica? Aliás, como vai o seu conhecimento sobre a história do povo de Deus na Bíblia?
Não raro, líderes jovens não sabem qual a relação, por exemplo, entre Abraão e Moisés, Jacó e Israel. Já tive membro em minha igreja que não sabia quem veio primeiro, Moisés, Davi ou Jesus. Há alguns anos, lecionando Novo Testamento numa faculdade teológica, eu estava falando sobre o contexto de Tiago, quando uma aluna (esposa de pastor) candidamente perguntou se o livro de Apocalipse já tinha sido escrito na época.
Isso não é culpa do sistema educacional brasileiro. Tem a ver com o trabalho de ensino na igreja que, aliás, se bem desenvolvido, poderia fazer diferença na educação do País.
Os discípulos de Jesus não davam esse tipo de vexame, pois, como bons judeus, conheciam bem a história do seu povo. Mas nem por isso tinham visão correta dos fatos históricos — gloriosos uns e vergonhosos outros — de Israel. Em consequência, apesar de sua fidelidade a Jesus, não conseguiram entender a cruz como qualquer outro judeu.
Por isso, quando Jesus ressuscitou, teve de gastar bom tempo numa aula de recuperação na tarde de domingo, explicando a dois discípulos no caminho a Emaús o que o Antigo Testamento ensina sobre o seu sofrimento (Lc 24.25-27). A aula foi repetida depois para um grupo maior com conteúdo mais amplo: a pregação da mensagem de arrependimento a todas as nações também estava prevista nas Escrituras (24.44-49).
Lucas nos informa que Jesus expôs o ensino de todas as divisões em que os judeus classificavam os livros do Antigo Testamento. “Moisés” ou “Lei” são os cinco primeiros livros da Bíblia; “Profetas” incluíam Josué, Juízes, 1Samuel a 2Reis e todos os proféticos, exceto Daniel. “Salmos” é outra forma de se referir a “Escritos”, que incluem todos os demais livros.
Em outras palavras, a História da Salvação por meio da cruz, ressurreição e o reinado de Jesus Cristo é o tema que dá unidade ao conjunto complexo e um tanto caótico de livros com autores, conteúdo e gênero literário bem diversificado, produzidos ao longo de séculos.
Você pode detestar História. Mas talvez comece a amá-la se entender que ela é o palco da revelação de Deus. O Senhor criou e governa o universo e dirige a história da humanidade, bem como a vida de cada pessoa sobre a face da terra. E “na plenitude dos tempos”, ou seja, no momento certo da história, enviou seu Filho para nossa redenção, que será completada no dia em que todas as coisas serão unidas debaixo da autoridade de Jesus Cristo (Ef 1.9-10).
A História não é um amontoado sem nexo de acontecimentos, nomes e datas. A História tem sentido. Nossa vida no tempo e no espaço tem sentido.
 
       Norio Y.

11. Betel, não, El-Betel! ( 30/03/2012)
Nesse lugar construiu um altar e lhe deu o nome de El-Betel, porque ali Deus havia se revelado a ele, quando fugia do seu irmão. (Gênesis 35.7)
Existe hoje um problema que afeta quase todas as igrejas: qualquer atividade que dê certo tende a se tornar permanente.
Pensa-se que para uma igreja ir bem, precisa ter acampamento, retiro, bazar, confraternização, noite de artes, passeio... tudo que rendeu bons frutos no passado.
Até coisas diferentes que inventamos na tentativa de inovação acabam se tornando tradição.
Assim, o calendário vai ficando cada vez mais carregado, e a liderança, sobrecarregada.
Ao que parece, quando Deus nos abençoa através de algum programa, muitos pensam que devemos repeti-lo para que possamos continuar sendo abençoados.
Com essa ideia equivocada, muitas vezes insistimos num trabalho mesmo quando a fórmula já está esgotada e não desfrutamos o mesmo sucesso de antes.
É verdade que aparentemente há base bíblica para essa prática.
Jesus marcou encontro na Galiléia com os discípulos após sua ressurreição (Mc 14.27-28), pois queria reunir novamente ao seu redor aquelas ovelhas feridas numa região em que haviam tido experiências memoráveis (16.6-7).
E no Antigo Testamento, num momento em que Jacó temia o extermínio de sua família (Gn 34), Deus o chamou de volta para Betel, onde havia se manifestado anos antes ao jovem malandro que fugia de Esaú (35.1-7).
Mas o local (ou o programa) não garante automaticamente a bênção de Deus, por mais extraordinária que tenha sido a experiência no passado.
Os discípulos não conseguiram pescar nada enquanto não seguiram a orientação de Jesus (Jo 21.1-14). E Jacó orientou sua família a se purificar antes de se apresentar a Deus (Gn 35.2-4) e experimentar grande livramento (v. 5).
Chama atenção também o nome que Jacó deu ao lugar em que se reencontrou com Deus e edificou um altar: El-Betel, isto é, “Deus de Betel”.
Não bastava a Jacó retornar a Betel, a “casa de Deus”.
A casa poderia estar vazia...
A volta a Betel só valeu a pena porque Jacó se purificou, reconheceu sua condição miserável e teve um novo encontro com o Deus que anos antes havia lhe concedido bênção imerecida. Não importa onde fica o seu Betel.
Não importa qual a atividade em que o Senhor veio ao seu encontro de modo mais real em sua vida, qual o trabalho que evoca em você as mais gratas recordações.
Vamos buscar não a Betel, mas ao Deus de Betel.
Norio Y.
12. A pedra já estava removida
 
E, olhando, viram que a pedra já estava removida; pois era muito grande. (Marcos 16.4)
 
As mulheres que foram ao túmulo de Jesus naquela manhã estavam muito preocupadas.
Além de toda a dor emocional e espiritual das últimas horas por causa da crucificação do Mestre amado, elas tinham ainda um problema bem prático: como remover a pedra colocada na entrada do sepulcro. É provável que elas tivessem visto também o lacre colocado na pedra e o destacamento de soldados romanos montando guarda. Será que aqueles soldados que executaram Jesus permitiriam que elas lhe embalsamassem o corpo?
Quando, porém, chegaram ao local, viram que toda aquela preocupação era desnecessária: a pedra já estava removida.
Muitas vezes, a exemplo daquelas mulheres, alimentamos preocupações desnecessárias. Bem, para sermos justos com aquelas mulheres e com nós mesmos, não raro a situação parece justificar toda angústia. Não enxergamos nada além de trevas ao redor. Não conseguimos entender o propósito de Deus por trás dos problemas que nos afligem. Sentimos que Deus não está mais no controle de tudo.
Mas se permanecermos em Jesus e sua Palavra, descobriremos no devido tempo que o Senhor vive e reina, tem a chave da vitória sobre o pecado e a morte e dirige a História do universo, ao mesmo tempo em que cuida de cada uma de nossas necessidades.
Veremos que bem antes de tomarmos consciência e entendermos o plano de Deus — muitas vezes de modo bem diferente do que pensamos e apesar de nossa incredulidade — a pedra já estava removida.
 
       Norio Y.

13. ) Reencontro com Jesus na Galiléia
Então Jesus lhes disse: “Não tenham medo. Vão dizer a meus irmãos que se dirijam para Galiléia; lá eles me verão”. (Mateus 28.10 ara)
Há um detalhe facilmente despercebido nos relatos sobre a ressurreição: as mulheres que foram ao sepulcro receberam dos anjos e do próprio Jesus ordem para avisar aos discípulos que o Senhor iria encontrá-los na Galiléia (Mc 16.7; Mt 28.7, 10).
Durante a última ceia, Jesus já havia avisado aos discípulos que naquela noite todos iriam abandoná-lo, mas depois da ressurreição ele planejava reencontrá-los na Galiléia (Mc 14.27; Mt 26.31-32).
Aliás, foram essas palavras que levaram Pedro a dizer que nunca iria abandonar o Mestre e ouvir de volta que naquela mesma noite iria negar Jesus três vezes.
Por que esse reencontro na Galiléia?
Jesus sabia que mesmo após sua ressurreição, os discípulos estariam frustrados e envergonhados por causa da derrota vexatória na hora do vamos ver.
Tinham prometido dar a vida para Jesus, mas todos se acovardaram.
Provavelmente não se sentiam dignos de continuar servindo o Senhor, mesmo sendo perdoados por ele. Jesus os leva então para Galiléia, terra em que foram chamados para o discipulado e tiveram experiências memoráveis.
Avisou sobre a derrocada e marcou o reencontro antes da cruz, deixando claro que, mesmo sabendo da fraqueza dos discípulos, ele os amava, confiava neles e os queria de volta.
Talvez você esteja como os discípulos naquela ocasião, sentindo na carne a incapacidade de permanecer firme e cumprir a promessa de ser fiel até a morte.
Quando o chamou, Jesus já sabia que isso iria acontecer.
E como naqueles dias, ele convida suas ovelhas feridas para um reencontro.
Norio Y.

14. ) Tratamento personalizado


Vão e digam aos discípulos dele e a Pedro: Ele está indo adiante de vocês para Galiléia. Lá vocês o verão, como ele lhes disse. (Marcos 16.7 nvi)
De todos os discípulos de Jesus, Pedro devia ser de longe o mais desolado naquelas horas após a crucificação.
Sempre pronto a colocar-se à frente dos companheiros, ele foi o mais veemente ao prometer lealdade até a morte durante a última ceia (Mc 14. 29-31).
Até tentou defender o Mestre no Getsêmani de modo desastrado e depois ainda reuniu coragem para ir à casa do sumo sacerdote.
Ficou intimidado, porém, ao ser confrontado e negou Jesus três vezes.
Na terceira vez até se dispôs a ser amaldiçoado por Deus se estivesse mentindo (14.71).
Não é à toa que, ao cair em si, desmoronou e chorou desesperadamente.
Se aqueles fatos tivessem ocorrido no Brasil, acho que a história teria se espalhado rapidamente e, toda vez que Pedro saísse à rua, ouviria alguém imitando o galo cantar...
Por causa dessas circunstâncias, quando Jesus ressuscitou, enviou uma mensagem especial para Pedro: “Vão e digam aos discípulos dele e a Pedro”.
Não só isso, mas também naquele mesmo dia apareceu especialmente para ele (Lc 24.33-34). E na Galiléia, separou tempo para conversar em particular com aquele discípulo que ainda estava machucado (Jo 21.15-22).
O Bom Pastor que conhece e chama suas ovelhas pelo nome (Jo 10.3) deu a Pedro tratamento personalizado para restaurá-lo.
E hoje também, conhecendo as virtudes e as fraquezas de cada um, sabendo o que sentimos e pensamos, ele nos chama com amor eterno.
Você já conversou com o Jesus ressurreto?
Norio Y.
15. Tomé e você
“Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei”. (João 20.25 nvi)
Nosso amigo Tomé, sem dúvida (desculpe-me o trocadilho), é um dos personagens bíblicos mais mal compreendidos de todos os tempos.
Por estar ausente na primeira vez em que Jesus apareceu aos discípulos reunidos, não conseguiu acreditar que o Mestre estava vivo.
Ficou estigmatizado para sempre e, por causa disso, até “participou” de um famoso comercial de detergente na década de 70...
Mas por que Tomé não estava naquela hora com os demais discípulos?
Não temos como saber. E devemos lembrar que Maria Madalena, Pedro e os dois discípulos a caminho de Emaús tiveram o privilégio de encontrar Jesus ressurreto quando também estavam separados do grupo e justamente porque estavam separados (Jo 20.10-18; Lc 24.13-35)
Em outros contextos, Tomé se mostra um discípulo leal, pronto para morrer por Jesus, porém com dificuldades de entender o Mestre (Jo 11.16; 14.5).
Mas algum discípulo conseguiu mesmo entender Jesus?
Tomé acabou se tornando símbolo de cristão incrédulo, que precisa ver para crer.
Mas todos os discípulos precisaram ver o Jesus ressurreto para crer (Lc 24.36-43).
A única exceção um pouquinho mais honrosa é João, que correu para o sepulcro, viu as roupas de Jesus no túmulo e creu (Jo 20.3-9) — mas ele também precisou ver alguma evidência para crer.
Antes de emitir julgamento precipitado e severo sobre Tomé, devemos refletir: no lugar dele, eu teria feito melhor?
Norio Y.
16. ) Jesus na Av. Paulista?
 
Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus. (Filipenses 2.5)
 
Se Jesus vivesse em São Paulo hoje, ele participaria das manifestações de protesto dos últimos dias? Se não, por quê? Se sim, com que bandeira? Por 20 centavos? Por educação, saúde e segurança no padrão FIFA? Contra a Copa e as Olimpíadas no Brasil? Ou contra corrupção e impunidade? Ele depredaria algum patrimônio público ou privado? Como ele agiria em relação aos que pensam de modo diferente?
 
O complicado é que em sua vida e ministério, há atos e palavras que os diversos lados da controvérsia podem tomar como base para legitimar sua posição.
 
Os que apoiam as manifestações logo vão se lembrar da purificação do templo. Mas os evangelhos registram “apenas” duas purificações. Jesus deve ter visitado o templo de Jerusalém diversas vezes ao longo de sua vida, mas só expulsou os negociantes em duas oportunidades, uma no início do seu ministério (Jo 2.12-22) e outra em sua última visita (Mc 11.12-18). Conhecendo a história e a natureza humana, o comércio do sagrado sob vista grossa (e com participação nos lucros) das autoridades religiosas não devia ser menos abusivo por ocasião de outras visitas, mas ele não tomou nenhuma atitude radical.
 
Jesus também era muito crítico em relação à espiritualidade dos mestres da Lei e fariseus. Reinterpretando a Palavra à sua maneira, não hesitava em violar o sábado aos olhos dos seus inimigos (Mc 2.23—3.6), além de desrespeitar algumas tradições dos líderes religiosos (Mc 7.1-16). Mesmo assim, participava regularmente dos cultos no templo e nas sinagogas, onde aproveitava cada oportunidade para pregar o evangelho e realizar milagres.
 
Ele aprovou a destruição parcial do teto da casa em que estava para que um paralítico pudesse ser curado e salvo (Mc 2.1-5). Também causou enorme prejuízo aos donos dos dois mil porcos sacrificados para que um endemoninhado pudesse ser libertado (Mc 5.11-13). Mas nem sempre os fins, por mais nobre que fossem, justificavam os meios, pois ele devolveu ao dono o jumentinho da entrada triunfal (Mc 11.1-3).
 
Alimentou de graça, por duas vezes, milhares de famintos, mas não os transformou em massa de manobra e se recusou a ser proclamado rei por eles (Jo 6.1-15). Mandou recolher a comida que havia sobrado para que nada se perdesse (Jo 6.12), mas elogiou o gesto de Maria que em alguns segundos desperdiçou com ele um perfume que valia o salário de um ano de trabalhador e que poderia ajudar muitos pobres (Mc 14.1-9).
 
Fez crítica contundente ao rei Herodes, chamando-o de “raposa”, mas recomendou que se pagasse imposto a César (Lc 13.32; 20.25). Tinha entre seus discípulos um zelote (extremista que pegava em armas por um Estado judeu purificado), mas também um publicano (cobrador de impostos que explorava o povo e se vendia a uma potência estrangeira). Ora dizia “quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha” (Mt 12.32); ora dizia “quem não é contra nós é por nós” (Mc 9.40)...
 
Como entender essa atitude aparentemente contraditória?
 
Os evangelhos deixam evidente que Jesus nunca usou seus poderes e direitos para tornar sua vida mais fácil, muito menos para escapar da cruz.
 
Por exemplo, a tentação no deserto tinha como objetivo desviar Jesus do caminho da cruz, induzindo-o a se tornar um Messias populista que atende aos interesses materialistas do povo, mas ele a rechaçou e permaneceu firme em seu plano original.
 
A aparente violação do sábado nunca foi em benefício próprio, muito menos por capricho pessoal, mas sempre para ajudar os necessitados.
 
A reinterpretação da Lei e a rejeição da tradição dos líderes religiosos não foram meramente para fazer prevalecer suas ideias e tornar sua mensagem mais palatável ao povo; muito pelo contrário, foi para guiar o povo de Deus à compreensão do verdadeiro espírito dos mandamentos e à opção pela porta estreita.
 
Numa ocasião, Jesus deixa bem claro que estava isento do imposto do templo por ser Filho de Deus, mas preferiu pagá-lo a fim de não escandalizar os coletores de impostos (Mt 17.24-27).
 
No Getsêmani, diante do número exagerado de soldados e guardas do templo que vieram prendê-lo, Jesus se absteve de pedir a intervenção das mais de doze legiões de anjos, mandou Pedro guardar a espada, curou o homem que teve a orelha decepada e intercedeu pelos discípulos para que eles fossem poupados (Mt 27.47-56; Lc 22.51; Jo 18.1-9). E por fim, diante da farsa do julgamento de cartas marcadas, ficou em silêncio e se entregou à vontade do Pai.
 
Em suma, a atitude de Jesus foi definida pelo seu caráter e pelo objetivo de sua vida, que era a redenção da humanidade. Em busca desse alvo, abriu mão de seu poder e autoridade como Filho de Deus e espontaneamente deu sua vida por nós. Ao longo de toda a sua vida e ministério, ele certamente viu uma infinidade de coisas erradas e em algumas ocasiões agiu de maneira que faz vibrar os ativistas, mas em outras adotou uma conduta que decepciona os que gostam de ações mais agressivas. Podemos dizer que ele manteve, o tempo todo, os olhos fitos na cruz e em cada momento escolheu o que fazer na medida em que isso ajudava ou atrapalhava sua missão.
 
Não tenho a pretensão de dizer o que Jesus faria se vivesse hoje em São Paulo. Mas como seu discípulo, devo refletir: Qual o maior problema do Brasil? Por que nosso País está desse jeito? Qual deve ser o objetivo da minha vida nessa situação? E qual a atitude nesse contexto de manifestações de protesto que mais contribui para eu imitar Jesus e alcançar o alvo da minha vida?
 
E qualquer que seja a ação concreta que eu vier a empreender, ela deve ser fruto da minha opção pela cruz ao invés dos meus interesses e direitos.
 
       Norio Y.
16. ) 17/09/2013 _ Amanhã é o dia... Será?
Falo como cidadão comum, que não conhece os meandros das leis que os especialistas parecem tornar intrincadas e ininteligíveis de propósito, sabe-se lá com que finalidade.
Independentemente da decisão sobre os embargos infringentes que o STF vai infligir ao País nesta quarta-feira (18/09), precisamos lembrar:
1.    A Justiça deve julgar de maneira correta e imparcial com base na lei, sem se deixar levar pela pressão nem da maioria do povo e da mídia, que tem pressa em ver os mensaleiros condenados e pagando pelo seu crime, nem do governo, do PT e de parcela nada desprezível da sociedade que torcem por novo julgamento e absolvição dos réus.
2.    O nosso poder judiciário continua muito falho de modo que o povo tem razão em sentir que, no Brasil, cadeia é privilégio apenas dos 3p (pobre, preto e prostituta), enquanto os poderosos, mesmo quando são condenados, de recurso em recurso vão adiando ad aeternum o cumprimento da pena, contratando advogados a peso de ouro, muitas vezes com o próprio dinheiro que ganharam de modo desonesto.
3.    Temos muitas leis obsoletas e injustas no Brasil, ou porque a realidade é complexa e a sociedade mudou muito desde que a legislação foi criada (como é o caso do nosso Código Penal que vigora há 70 anos), ou porque os legisladores eram incompetentes e produziram leis imperfeitas, ou ainda porque os legisladores ao que tudo indica tinham mesmo a intenção de criar normas injustas.
Dotar o nosso País de leis justas e zelar para que elas sejam cumpridas devia ser a preocupação dos evangélicos, em especial dos políticos evangélicos, muito mais do que conquistar o poder, aprovar leis que privilegiam igrejas e tentar impor à sociedade laica uma ética supostamente cristã.
 
      Norio Y.
18. Caminhar é preciso
    Pelo fato de ter dado o voto de desempate a favor dos mensaleiros, o ministro Celso de Mello acabou se tornando para muitos o vilão-mor do País que (dis)torce a Justiça a favor dos corruptos poderosos.
    Mas não era ele até ontem um dos mais sensatos e sábios ministros da nossa Corte Suprema?
    E para os mensaleiros, seus advogados e simpatizantes, o julgamento do mensalão até ontem não era o “julgamento da exceção”, comparável a monstruosidades jurídicas da ditadura militar?
    Penso que não devemos crucificar Celso de Mello por ter contrariado o desejo da maioria do povo brasileiro. Embora seu voto tenha se revestido de dramaticidade especial por ter sido o último e ainda por cima apresentado após uma semana de muito suspense e intenso debate, com os dois lados tentando de alguma maneira pressionar o decano do STF, no cômputo geral ele vale tanto quanto os outros cinco dados na mesma direção.
    A verdade é que temos no Brasil leis injustas, malfeitas e obsoletas (ou “anacrônicas”, avaliação da regra sobre embargos infringentes na visão de dois ministros do STF, um que votou contra e outra que votou a favor). Se a norma em que um juiz baseia sua decisão é ruim, é grande a probabilidade de uma sentença ruim, por mais que o magistrado se esforce por fazer um julgamento correto.
    O que devemos fazer então?
    Sócrates teria dito: “É preciso cumprir as leis (sentenças) injustas, para que os cidadãos não se neguem a cumprir as justas”. Data vênia o grande filósofo, isso é só uma parte do nosso dever. Precisamos ir muito além. Ao invés de nos conformar com a situação e desistir de nossa luta por um Brasil melhor, precisamos no mínimo batalhar por leis mais justas e mais adequadas para nossos tempos. Por exemplo, nosso Código Penal está obsoleto, pois data de 1940, e no Congresso caminha a passos de cágado um projeto de lei que visa à sua reforma. Por que não tentamos melhorar o seu conteúdo e acelerar a aprovação?
    E nessa luta, o tempo que os mensaleiros e seus advogados tentaram e tentam ganhar à espera de uma situação mais favorável também deve ser usado a nosso favor. No próximo ano temos eleição. Vai ser interessante chegarmos à época da campanha eleitoral com o mensalão vivo na memória do eleitor.
    Não penso apenas em alternância no poder e renovação do legislativo. Acho que podemos tentar algo antes disso. Algumas decisões apressadas do governo e do Congresso após o susto pregado pelas manifestações de junho mostram que nossos políticos normalmente estão pouco se lixando para o que o povo pensa, mas são capazes de fazer tudo pelo seu naco de poder — até mesmo de votar a favor de uma boa causa.
 
    Vem, vamos embora
    Que esperar não é saber
    Quem sabe faz a hora
    Não espera acontecer
        (Geraldo Vandré)*
*     Nunca imaginei que um dia poderia lembrar essa música contra políticos (que se dizem) da esquerda...
 
      Norio Y.
19.

      
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Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras? (Lucas 24.32)
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