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Aos meus estimados amigos e irmaos,

E' com prazer que lhes envio um esboco do livro que escrevi acerca de nossa familia(papai, mamae,  e nós, seus sete filhos). Eu sugiro que voce gaste algum tempo, pois e’ pequeno o livro e o leia completamente. Estou certo de que ele posui uma mensagem desafiadora pra voce e sua familia.

Este  opusculo intitula-se: POR QUE DEUS FEZ ISTO ? A Historia de Uma Familia Restuarada.

O meu maior desejo é que a leitura deste livreto venha lhe trazer grande edificacao espiritual e alerta-lo sobre os cuidados que devemos ter com nossa familia.

Apesar de ter aberto o meu coracao ao narrar detalhes tristes que aconteceram,  hoje, temos a certeza, que apesar de nossas falhas existe um Deus que nos ama profundamente e pode transformer nossas tristezas em grandes alegrias, nossas aparentes derrotas em grandes vitorias e nossas decepcoes em esperancas de novos tempos. Isto aconteceu conosco.

Espero que ao le-lo, voce consiga ser um participante conosco desta vitoria, e considere-se um de nossa familia, vivendo junto conosco um pouco dos momentos que vivemos. Assim voce podera' concluir tambem que servir a Deus e ama-lo de todo o coracao, poderemos contar com sua preciosa ajuda nos momentos dificeis de nossas vidas, assim como Ele fez consoco podera' fazer com voce e sua familia tambem.

Bem disse o profeta Isaias no capitulo 64, verso 4:

"DESDE A ANTIGUIDADE NAO SE OUVIU, NEM COM OS OUVIDOS SE PERCEBEU, NEM COM OS OLHOS SE VIU UM DEUS ALEM DE TI, QUE AGE PARA AQUELES QUE NELE ESPERA".

Voce esta' autorizado a repassar este email e bem como o esboco do livro pra quantos amigos desejar.

Os testemunhos aqui contidos sao reais e verdadeiros. Eles aconteceram de fato e nos somos testemunhas vivas do Poder de Deus que operou em nossa familia e em centenas de outras no Brasil ao ouvirem de nossos labios POR QUE DEUS FEZ ISTO? A Historia de Uma Familia Restaurada. 

Vi, com meus proprios olhos, centenas de pessoas aceitarem a Cristo depois de ouvirem este testemunho vivo, por variadas vezes, em pracas publicas, em igrejas, colegios, em shows e outros lugares mais.

Hoje seus personagens principais, papai e mamae, moram com Jesus. Louvado seja Deus porque eles ouviram o chamado e nos ensinou o verdadeiro Caminho que conduz a Salvacao Eterna. Louvamos a Deus por ter nos dado a chance de te-los como nossos pais e pelo grande exemplo que nos deixaram.   

Um forte abraco,

Pr. Thieme



M M - INTRODUÇÃO 
 
 

eu avô Emilio e seu irmão  Max Thieme  ficaram  órfãos de pai  e mãe ainda bem  pequenos  e, com cerca  de 6 anos, eles imigraram para o Brasil com uma família  de alemães no final do século 19. Soube que meu bisavô morreu bastante jovem, o que veio ocorrer tambem com minha bisavó  em consequencia da guerra na Alemanha .      

Inicialmente instalaram-se  no  interior  do Estado de  São Paulo,  indo  depois radicar-se  definitivamente  no Norte do  Paraná,  numa  fazenda próxima à cidade de  Arapongas, num lugarejo chamado Pirapó. Meu avô casou-se com uma jovem filha de alemães também, Margarida Evans, que imigrou para a mesma região quando ainda criança. Conheceram-se no Brasil, casaram-se e tiveram três filhos  e quatro  filhas, dentre eles, meu pai, Augusto Thieme. Isto foi o que chegou até nós referente aos nossos avós.   

 

Agradeço a Deus pelos pais que Ele me deu e glorifico-O porque mudou o destino de uma grande família. Este pequeno livro contará o testemunho real de nossa família que passou por uma profunda experiência de  transformação que vale a pena ser lida e contada. 

Estávamos perdidos, sem esperança mas Ele nos achou e nos salvou. A  Ele seja toda glória e louvor, pelos séculos dos séculos, Amem! 

Dedico esta pequena obra ao papai que se estivesse vivo, com certeza se deliciaria em ler esta linda história que o Senhor nos reservou. E a minha querida mãe que soube aguardar com paciência o dia de Deus na vida de papai, ajudando-o a superar seus traumas d’alma. Dia 22/1/2006 ela nos deixou para estar eternamente com o Senhor tambem. Com certeza ele juntou a multidao de salvos e ao papai tambem e gozam agora da presenca eterna do Senhor. Esta certeza tem invadido os nossos coracoes pois seus testemunhos puderam nos mostrar com clareza, o compromisso que eles tinham com Deus.  

Meus sinceros agradecimentos ao meu irmão mais velho, Osvaldo Thieme, que me inspirou a escrever este livreto, ap escrever um pequeno opusculo, tendo sido sempre um forte incentivador em valorizar nossos laços familiares. Parte desta obra contém suas próprias palavras, pois apenas as transcrevi, modificadamente, de um artigo por ele escrito aos presentes ao culto de gratidão pelas vidas das famílias Goulart e Thieme, ocorrido na Igreja Presbiteriana Independente de Vila Iara, Osasco-SP, em 1.993.  

O pregador especialmente convidado naquela ocasião foi o Rev. Josias Goulart, um dos membros daquela linda família que nos levou ao conhecimento de Cristo. Inspirado no título daquele panfleto, resolvi entitular esta pequena obra com a mesma pergunta que nasceu no coracao de Deus, levando meu irmao a intitular aquela homem a mame e papai, naquele culto de gratidão como: "POR QUE DEUS FEZ ISTO?".

 

Espero que ao ler este livreto você seja edificado e grandemente abençoado com as experiências de vida nele contidas e sirva de incentivo para a firmeza de sua fé e continuidade na vida cristã. As experiências aqui contidas são reais, e, para a Glória de Deus, estamos escrevendo-as enquanto vários de seus personagens ainda se encontram vivos.  
 
 

Papai partiu para estar com o Senhor no dia 21/1/1.990, deixando minha mãe,  Maria Tizzoti Thieme e sete filhos: cinco homens   e duas mulheres;  além  de  17 netos e quatro bisnetos(censo de 1.999). E mamae partiu para estar com o Senhor, recentemente, dia 22/1/2006, dezesseis anos e um dia depois que papai nos deixou e foi para a abencoada morada celestial, na presenca do nosso amado Senhor tambem que assim nos prometeu conforme ele mesmo citou segundo o Evangelho de Joao, Capitulo 14: “Nao se pertube o vosso coracao; credes em Deus, crede tambem em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se nao fosse assim, eu vos teria dito, vou preparar-vos lugar”. Glorias ao Senhor Jesus Cristo por suas preciosas e verdadeiras promessas. 

 

        ÍNDICE 
 

  1. UMA EXPERIÊNCIA AMARGA NA INFANCIA…......………. 03      
  2. DEUS PREPARA NOSSO CAMINHO ....................................15 
  1. A HISTÓRIA DE DAVID LIVINGSTONE.................................25 
  1. O RESULTADO DA ESCOLA BIBLICA ................................28
  1. A MINHA PRÓPRIA EXPERIENCIA COM CRISTO............... 37    

6.  A CONFIRMACAO DA HISTORIA DE DAVI LIVINGSTONE..45 
 
7.    UMA FILHA NASCIDA DO CORACAO ...............................  50 
 

1. UMA EXPERIÊNCIA AMARGA

NA INFÂNCIA 
 
 

    Morávamos  em Arapongas-PR,  numa  fazenda  localizada  num  lugarejo   chamado Pirapó.  Foi lá  que eu nasci e passei boa parte de minha infância. 

Meu avô, Emilio Thieme e seu irmão  Max Thieme perderam os pais muito cedo por causa da guerra que assolou a Alemanha. Por causa disto, passaram a morar com uma família que alguns anos mais tarde imigrou  para  o Brasil.  Foram  para  o  interior  do  Estado  de  São Paulo   onde permaneceram  14 anos, vindo depois a se fixarem no  Norte  do Paraná, onde ele comprou uma fazenda.

 

      Plantávamos café e tungue, principalmente. Período bom aquele até a década de 60 em que muitos  lavradores ganharam bom dinheiro com este arbusto chamado tungue. Árvores altas, frondosas e frutos grandes, em forma de bola, mais ou menos do tamanho de uma laranja média. O fruto possuia cerca de cinco ou seis castanhas internas que se pareciam muito com a “castanha do Pará” razoavelmente comercializada no Brasil. Porém, aqueles que tentavam ingerí-la sofriam penoso desarranjo intestinal. Depois de maduras, com sua  casca se fabricava o verniz, da semente  se extraia  o óleo vegetal e com a massa da semente, fabricava-se  o sabão.  Depois da década de 60 perdeu muito o seu valor comercial pois foi  substituído pelo  petróleo.  Nasci em 1.947 e nesse bom tempo eu vivia naquela fazenda.  Lembro-me que  quando papai ia à cidade vender os produtos agrícolas, como o  café, a batata, arroz, milho e o tungue, sempre trazia queijos “prato”, salames, doces  e  outros quitutes gostosos. Vivíamos uma vida  relativamente  boa na área financeira. Vovô  Emílio foi um dos pioneiros na instalação de uma pequena usina hidrelétrica para abastecer a fazenda.    As  casas  e terreiros  ficavam iluminados a noite toda, o que  para  nós,  a  garotada, era  uma  delícia.  O  irmão  mais  novo  de   papai, Emilinho, adolescente   e super-protegido pelos  pais,  pouco  trabalhava, vivendo  mais  no caminho entre a "fazenda e a venda",  buscando garrafas  de  bebidas alcoólicas  para o vovô. 

 Vivíamos  anos  de prosperidade  e  fartura.  Os sábados eram  quase  sempre dias  de  baile, de festa. Papai e meu tio  mais  novo  eram  os responsáveis  pela  música. O som da sanfona, violão  e  pandeiro inundavam  os vales de cafezais e tungue.  Na época  da colheita,  todos, grandes e pequenos, eram chamados.  Ás vezes o gelo das geadas ainda cobria as folhas dos  cafeeiros e  lá   estava  nossa família reunida na roça.  Invariavelmente sempre tinha um neném indo para a roça conosco,  que mamãe  deixava à  sombra de um cafeeiro e cuja guarda era disputada  pelos  mais crescidos  para  fugir das tarefas mais pesadas. 

      As famílias italianas vizinhas começavam a trazer  um pouco  de religião ao lugarejo. Eram os "terços" e as  "novenas", ora pedindo para chover, ora para não chover ou não gear, pois  a geada destruía os cafezais.    A palavra "crente" naquele lugar era sinônimo de total rejeição. Anualmente, durante as novenas, o padre realizava a festa da queima da Bíblia para evitar que o povo a lesse. Porém, as práticas religiosas  aprendidas não  foram suficientes para mudar a vida de papai, de meu  avô  e nem a de meus  tios.

      Com  os  bailes logo cedo vieram os vícios.    Meus irmãos mais velhos e eu, pré-adolescentes, já começávamos a presenciar papai e nossos tios  envolvidos com a bebida alcóolica. Por muitos anos os vícios dominaram papai, meus tios e meu avô, tirando-nos a paz. O anoitecer tão esperado das tardes de  sábados, tornou-se pesadelo muitas vezes, pois papai saia para os bailes e certamente voltaria bêbado e agressivo. Principalmente após as colheitas em que ele saia para ir á cidade vender os produtos agrícolas. Nestas ocasiões, não foram poucas vezes que tínhamos de contar com o apoio de parentes para poder traze-lo de volta ao lar quase sem dinheiro por te-lo gasto com os “amigos” dos bares e botequins. Antes de sua chegada em casa, tínhamos que em poucos  minutos  esconder todos os  objetos  com  os quais ele poderia ferir mamãe, a nós ou a si próprio. Os  fins de  semana  pareciam demorados a chegar, levando nosso tio caçula a visitar a "venda" mais vezes durante a semana. A alcunha de "sanfoneiro" já   estava sendo substituída pela de "pinguço"  em  plena juventude. Aliás, o vício não deixou tio Emilinho passar dos  34  anos, morrendo com uma cirrose hepática. E, infelizmente, pelo que soubemos,  sem  ter tido uma experiência com Deus, apesar da forte insistência atraves de variadas oportunidades de evangelização desenvolvida por papai.

 

      Vivi nessa fazenda  até  meus oito anos de vida, época em que nos mudamos  para  o  Oeste  do Estado do  Paraná. Com o resultado das boas colheitas em Arapongas, papai  comprou  um sítio no oeste do Paraná, na época  da  franca colonização  paranaense.

Inicialmente nos pareceu que aquela mudança aconteceria por força das  circunstâncias de  uma  desgraça ocorrida com a família envolvendo  a  morte  de minha avó e de um tio muito querido por todos, porém, mais tarde percebemos que foi por causa daquele sofrimento que a boa mão do Senhor nos alcançou. Ele atua das mais diferentes maneiras e usa as cirscuntâncias para nos atrair para Ele e nos salvar. 

 

      Tudo começou em Setembro de 1.955.        Eu tinha  apenas  oito anos de idade. Nesta noite, uma quadrilha de assaltantes invadiu  a casa de meus avós, e após assaltarem a casa, com atos de selvageria,   espancaram  a minha avó que já  estava com mais de 60 anos e quase cega. Após ter sido amordaçada por aquele  bando de covardes na frente de minhas primas de apenas 12 anos, minha avó foi ferida com coronhadas de revólveres  na cabeça.  Pavor e angústia  tomaram  conta  de todos nós.  Em  conseqüência  daqueles ferimentos  e do terror daquela noite, minha avó não suportando, veio  a falecer meses depois em 4/4/1956. Correu a  notícia entre os  moradores da  região que o assalto havia sido planejado por um  dos  genros que antes havia morado na cidade de Arapongas. Nunca  conseguimos saber  a verdade, pois éramos pequenos e meus pais  pessoas  simples. Em conseqüência do  assalto  e principalmente  das circunstâncias em que minha avó  foi  espancada, meu tio mais  velho,  ficou completamente descontrolado psicológicamente e enlouqueceu. Conseguiu um revólver calibre 38 e  se  embrenhou nas matas ao redor da fazenda  em  busca  dos bandidos durante  três dias, onde permaneceu sem se alimentar. Ele dizia que estava em busca dos ladrões, porém estava completamente louco e não sabíamos.

      Um  clima  de pânico  se instalou na fazenda. A polícia da cidade próxima  foi acionada  e,  por  tres dias, permaneceu  na região tentando prender os ladrões e também tentando encontrar meu  tio.  Porém,  sem  sucesso,  a  desgraça novamente nos bateu a porta. Este meu tio que enlouqueceu foi a  casa  de um outro muito querido da família que possuía um pequeno empório,  próximo da  fazenda.             Eram aproximadamente 6 horas da manhã do dia 20/9/1955, quando tio Neném foi à porta para  atender quem   batia, quando foi  surpreendido com dois tiros disparados pelo próprio cunhado,  vindo a falecer quase que instantâneamente. Logo a seguir um de seus empregados tentando socorrê-lo foi atingido também com mais  dois  tiros. Ambos  os tios envolvidos neste triste episódio se estimavam muito e ficou comprovado que este fato  ocorreu por  causa  dos desvios mentais  pelos quais o tio que assassinou estava passando. A obsessão pela prisão dos ladrões o levou a esta loucura.

    Este  fato chocou muito toda a família. Tio João,  foi enviado para o hospital Juqueri, em  Curitiba-PR,  onde permaneceu   por sete anos. Deixou para traz  uma  família com  sete filhos, todos pequenos para sua segunda esposa  criar.  Seus três filhos da primeira esposa falecida, ainda eram crianças  também. O ambiente ficou terrivelmente péssimo  com  todos  aqueles   acontecimentos funestos. 

      Foi  assim  que papai, sem  rumo,  resolveu  mudar  da fazenda para um sítio que havia comprado em Cruzeiro D'Oeste, cidade recém fundada no Oeste do Paraná. Lá ainda se podia ver muitas matas virgens.  Terra nova, muito boa. Tudo que se plantava, colhia. Os arrozais  cobriam  homens de boa estatura.  Estávamos a  cerca  de seis  quilômetros  da cidade.  Muitas famílias tinham se mudado para lá  para  cultivarem  seus  sítios,  e  as  cidades  em  formação  eram escolhidas  pelos  jagunços  que  tomavam,  a força,   as  propriedades   já  preparadas.

      Com  o dinheiro das boas colheitas, papai pôde comprar um outro sítio, do outro lado da mesma cidade.  Nós então, mudamos para o centro daquela cidadezinha para facilitar o acesso aos dois sítios. E aí com a proximidade de varios botequins,  papai voltou a beber e a se embriagar com mais intensidade. Com o dinheiro das colheitas papai comprou  uma  casa  velha de  madeira  próximo  à estação  rodoviária. Lembro-me da rua da frente que  em  razão  da erosão, consequência da região arenosa da regiao oeste do Paraná, aquilo parecia um verdadeiro despenhadeiro. Agora a desgraça estava bem à porta: ou papai  seria morto  pelos  jagunços ou em uma de suas bebedeiras  seria  tragado pelas fortes enxurradas que passavam por aquelas crateras. Mamãe, que a essa altura, já tinha assumido o controle do lar,  dava sinais de desespero.

    Outro fato terrível: meu avô,  desde muito moço  começou a ingerir bebidas alcóolicas, e uma delas com um alto teor alcoólico, a pinga*. Por isso logo ficava embrigado.  Obviamente,  alguns de seus filhos seguiram o seu exemplo se  enveredaram  pelo mesmo  caminho, também.  Ao atingir mais idade, meu avo teve seu cérebro grandemente prejudicado pelo álcool, causando-lhe derrame cerebral por duas vezes. Quando da primeira vez, o médico o proibiu  de continuar a beber, porém, lembro-me como se fosse hoje: os vidros de  remédio de um lado da cômoda e a garrafa de pinga do outro, em seu quarto. 

De nada adiantou a proibição médica e assim ele nos deixou para sempre. Pobre vovô Emílio. 

      Papai foi criado neste ambiente. Desde moço aprendeu o caminho da "venda" como era chamado "o bar"  nas cidades do interior. Suas datas preferidas para as "noitadas"  na bebida,  eram os dias em que ele fazia a venda das colheitas de café e tungue, os fins de semana e feriados. Ás vezes a família toda trabalhava um ano inteiro esperando o momento de receber o dinheiro obtido pelas colheitas realizadas, e qual era a  nossa  decepção: papai  "gastava" quase todo  o dinheiro  que recebia com os “amigos”, bebendo. Eu coloquei  "gastava" entre  aspas  porque  era impossível se gastar tanto em três ou quatro dias e noites de bebedeiras.   Com certeza  os "amigos"  se aproveitavam da situação em  que  ele  se encontrava. Sempre que papai  ia  à  cidade para vender  os  produtos  agrícolas,  nossa família  ficava  apreensiva.  Nós ainda éramos pequenos,   três meninos pre-adolescentes. Quando mamãe  percebia que  papai  não chegava,  nos mandava   procurá-lo  na cidade.  Depois  que mudamos para Cruzeiro d'Oeste  não  tínhamos mais  parentes por perto e éramos, geralmente, dois dos três mais velhos que íamos, as vezes à cavalo,  outras vezes de bicicleta e até a pé  para  procurá-lo pelos bares e botequins daquela pequena cidade. E muitas vezes, decepcionadamente, o achávamos completamente bêbado.

      Este problema se tornou tão grave na família Thieme que nosso tio caçula,  morreu bêbado  também,  aos  34 anos de idade. Casou-se aos  21  anos, na roça,  e permaneceu casado apenas um ano. Deste matrimônio  nasceu  um  filho que foi criado pela  mãe e avós.  Devido a constante  embriaguês de meu tio Emilinho, sua esposa não conseguiu  conviver  com ele por muito tempo. Além  disso,  ele ficava  violento tambem quando se encontrava sob o efeito da bebida alcóolica. Uma de suas irmãs  também se enveredou pelo caminho destruidor da embriaguês, vindo  a ter e a causar  muitos problemas. Papai também ficava violento, e por muitas vezes quase que a desgraça bateu em nossa porta. Porém, graças a Deus, que nos livrou dela.  

      Assim era  a  nossa vida. Em Arapongas não sentimos tanto o problema porque papai era mais moço, casado a pouco tempo, nós ainda pequenos, porém,   em Cruzeiro d'Oeste a situação ficou insuportável. Mamãe  não sabia mais o que fazer e já  pensava em se separar  de papai.  Num  desses dias tenebrosos, mamãe pediu a Deus  que  nos desse  uma  saída. Ela ficava muito sozinha quando papai  precisava ficar a semana inteira no sítio, que era meio distante da cidade. Nesse  clima de  verdadeira  angústia,  conhecemos nossos  vizinhos, uma família enorme, cuja casa era  separada  da nossa por  uma  simples cerca de balaústre (lascas de madeira emparelhadas).    Não  sei qual era a situação  financeira  daquela família.  Sei que era uma família grande e a maioria já adulto.

      Ficamos em Cruzeiro d'Oeste durante seis  meses, nesta primeira vez. Agora estávamos longe dos parentes e assim papai e mamãe pensavam que os problemas iriam diminuir. Porém neste período papai continuava a  se embriagar com mais intensidade o que provocava o aumento de nossa aflição nos fazendo ainda mais infelizes e inseguros. Parecia que  todo  o peso  do  mundo desabaria sobre nós. Incrivelmente, do nosso lado havia uma família que demonstrava muita tranquilidade e podiamos sentir a felicidade em que  vivia.  E aí nos vinham muitas perguntas : Porque  a  nossa  era  tão infeliz? Por que será que isto acontecia somente conosco? Poderia a felicidade estar separada por uma simples cerca  de balaustre ou de madeira? Qual era o segredo da família Goulart? Não sabíamos que tudo já estava preparado. Deus  iria  usar aquela  família para resgatar muitos de nossa grande  família  de alemães.  
 
 
 

2. DEUS PREPARA O NOSSO CAMINHO 
 
 

      A palavra de Deus diz em  Jeremias 29:11: "Eu sei os planos  que tenho  para vós, diz o Senhor, planos de paz, e não de mal,  para vos dar uma esperança e um futuro". Hoje nós  cremos  plenamente nesta palavra pois  Deus  preparou  nosso caminho. Em 1.956 mudamos da roça, em Arapongas, para a cidade em Cruzeiro  d'Oeste, e  nem ao menos esperávamos  o  que  Deus tinha nos preparado. Já  éramos  cinco  irmãos  na época: crianças e adolescentes.   O mais velho estava com apenas de doze anos.

    Ao  nosso lado  morava  uma  das  famílias Goulart,  Sr.  João Goulart, sua esposa e seus nove  filhos. Eram nossos  vizinhos, como dissemos no capítulo anterior. Não era ele o antigo presidente do Brasil,  não. Pode  até  ser que sejam parentes. Porém eles se  tornaram  mais importantes que qualquer presidente para nossa família. É que a família  toda  era evangélica e dava  excelente  testemunho  da genuína  fé cristã que praticavam. Eram membros da Igreja Presbiteriana Independente de Cruzeiro dÓeste. Quando os filhos chegavam  do trabalho,  após  o jantar, a família se reunia  e  realizava  um culto  doméstico a Deus, quase todas  as noites.     Cantavam  lindos hinos, oravam e estudavam  a boa Palavra de Deus. Com  o passar dos dias, começamos a perceber a diferença entre  a maneira  deles  viverem  e a nossa. A Bíblia nos afirma em Malaquias 3:18 “E vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que nao serve”. E que diferença pudemos perceber entre a nossa família  e outras que como a nossa vivíam apenas na religiosidade, e aquela vizinha. Não  se via mal testemunho naquela família, nem se ouvia gritarias e nem palavrões ou palavras obscenas. Pelo contrário, o que podíamos ouvir de nossa própria casa,  eram os hinos cantados pelas moças e rapazes que tinham uma bela voz.

      Porém,  nossa   vida continuava:  papai com seus problemas e mamãe, mariólatra (adorava muito  a  Virgem  Maria e outros “santos”). Logo souberam  que ali morava uma família de crentes. Ela nos  disse  que "até  seria bom se o papai se tornasse  um crente, pois talvez  assim  ele pararia  de  beber". Mas ela se considerava estar muito bem espiritualmente,  adorando imagens de escultura, tendo  uma  vida de pura religiosidade. Mal sabia ela, o mal que aquela idolatria trazia a nossa família. Nossa casa também possuia imagens e quadros de idolatria, trazendo ainda mais maldição a nossa família. E ela e papai não sabiam disto.

      O tempo foi passando e  aquela família  começou  a fazer amizade conosco e ajudar  papai para que pudesse parar de beber. Quando papai chegava bêbado ficava muito envergonhado por causa de seu estado lastimável. Se  trancava  no banheiro  e  não  saía  de  lá   de  jeito  nenhum.  Precisávamos  apelar  para a família Goulart para  nos  ajudar. Por muitas vezes alguns daqueles rapazes e moças foram à nossa casa para nos ajudar. Depois de dizerem algumas palavras de ajuda e conforto, uma das moças, a Geni, começava a cantar alguns hinos. Com certeza a letra daqueles hinos traziam uma grande mensagem e conforto para quem os ouvia e cantava. Um deles dizia :

       "SE   NO  MUNDO  TU SENTES CANSADO,  

        ENFADADO  TAMBÉM  DE  VIVER,  

        SE  NO  MUNDO  NÃO SENTE ALEGRIA,  

        CONFESSA QUE SEMPRE  JESUS TEM PODER. 

        EIS  AÍ A ESPERANÇA DE UM CRENTE 

        E  DE  QUANTOS COFIAM EM DEUS, 

        JESUS CRISTO É O AMIGO EXCELENTE

      QUE  SALVA E PERDOA

        E CONDUZ PARA OS CÉUS".  

Outro  que aprendemos logo depois, falava sobre  a  cegueira espiritual  em que o homem sem Deus se encontra e dizia :   

      OH QUÃO CEGO EU ANDEI        

      E  PERDIDO VAGUEI, LONGE,

      LONGE  DO  MEU SALVADOR!

      MAS  DO  CÉU ELE DESCEU,

      O SEU SANGUE VERTEU,

      PRA  SALVAR  UM TÃO POBRE PECADOR.

      FOI  NA  CRUZ,  FOI NA CRUZ,

      ONDE  UM  DIA EU VI, 

      MEUS PECADOS CASTIGADOS EM JESUS, 

      FOI  ALI PELA FÉ, QUE MEUS  OLHOS ABRI 

      E  AGORA ME ALEGRO EM SUA LUZ".  
 
 
 
 

Nunca mais me esquecerei destes hinos. Quando papai começava a ouvi-los, mesmo ainda bêbado, ele se animava, saia do banheiro  e se acalmava. Poderia até parecer uma cena engraçada mas era muito  triste para nós, pequenos, ver o papai naquele estado lastimável. Depois, vinham as discussões e  as  brigas entre ele e a mamãe.  Geralmente  quando  ele  chegava embriagado  mamãe servia sopa para poder colocar um  remédio,  um pó  amarelo,  que  segundo alguns médicos, iria ajudá-lo  a  deixar  de beber.  Porém  quando  ele descobria, vinha  o  pior.  Ele  ficava violento  e se mamãe ficasse por perto, ele jogava a sopa  quente com  prato  e tudo sobre ela. Graças a Deus ele nunca  acertou.

      Ele era muito magro e fumava muito  também. Dois maços de cigarro de papel era a sua média, além do  famigerado fumo de corda, do qual fazia o cigarro  de  palha. Quando  ele acendia o "pito" (nome dado ao cigarro  no  interior), nós fugíamos de perto dele.           Era um odor insuportável e ele  não tinha a menor preocupação em nos causar mal. Alguns anos antes, ele  havia estado em São Paulo para se tratar de um grave problema num dos pulmões por causa do cigarro, mas não parava com aquele maldito vício. Foi só ter melhorado um pouco, já voltou a fumar. Quase morreu em  conseqüência  do fumo. Ele era um escravo mesmo, exatamente como disse o Senhor Jesus: "Quem comete pecado é escravo do pecado.." Joao 8:31-39.

 

      Meus irmãos já   eram adolescentes neste  período  e  estávamos presenciando  todo aquele desajuste de papai. Mamãe contou-nos que certa noite acordou com os cânticos de Louvor a Deus entoados pelos nossos vizinhos e em uma prece pediu a Deus que Ele tocasse no coração de papai para que ele, um dia, pudesse estar cantando aqueles lindos hinos de louvor a Deus também. Mais algum tempo se passou e novamente papai chegou embriagado. Só que naquela oportunidade ele estava um pouco menos  que o normal. Subiu as escadarias de nossa humilde casa enquanto  a Geni Goulart, aquela jovem que me referi há pouco,   estendia  roupas  no  varal e cantava.

O quintal da casa de sua familia era grande e com sua linda voz cantava um pequeno hino que foi um dos  primeiros  que viemos a aprender. Ele dizia:  

          "SÓ O PODER DE DEUS          

           PODE MUDAR TEU SER

           A PROVA QUE EU TE DOU,

           ELE MUDOU O MEU

           NÃO VÊS QUE SOU FELIZ,

           SERVINDO AO SENHOR

           NOVA CRIATURA SOU, NOVA SOU".  

Por algumas vezes papai nos contou que ele parou a beira da  cerca de  balaustres   e   ouviu atentamente ela cantar aqueles hinos.  Deus começou a usar  aquele momento. Havia chegado um grande dia para nossa família.  Geni  percebeu que, mesmo meio embriagado, ele chorava a beira daquela  cerca. Aproximou-se  dele  procurando  confortá-lo e com  poucas e simples palavras o convidou a tomar  uma decisão  de  servir a Deus, e deixar aquela vida de pecado que ele vivia.  Hoje nós  cremos  que aquelas poucas palavras foram uma das  "grandes" mensagens que papai pode  ouvir, por que não dizer  a  maior  mensagem que ele jamais tinha ouvido acerca de um Deus que pode transformar a vida de qualquer terrível pecador:  Uma  moça de 17 anos apenas, se dispôs nas  mãos  de Deus como instrumento para levar um pai de família a uma mudança completa de vida.  Ali começava a transformação na vida de papai.

Mamãe crê que Deus ouviu a sua oração. Cremos também que naquele momento Deus abriu-lhe os olhos espirituais e papai conseguiu olhar e  ver  seus  cinco filhos que, com grandes chances, também iriam trilhar aquele  triste  caminho em que ele se encontrava. Com   um  futuro de desgraças  não  muito distante. 

      Graças a Deus, ele não resistiu  ao  toque  do Espírito Santo e entrando em casa pela porta dos fundos disse  à mamãe que “daquele dia em diante, ele queria ser um crente em Jesus Cristo.”  Aceitou o convite de ir à igreja evangélica no domingo seguinte e fomos todos juntos com  a família Goulart.  Interessante é que soubemos que o  pastor  da  Igreja Presbiteriana  Independente  de Cruzeiro  d'Oeste  não  costumava fazer apelo para conversão a Cristo nos domingos de  manhã, durante a Escola Bíblica Dominical, e naquele dia, ele o fez. Três pessoas atenderam ao apelo e duas delas  foram papai e mamãe. Começava  ali uma nova caminhada  para nossa família, conheceríamos o  evangelho através  da Escola Bíblica Dominical.

      Papai,  por algum tempo ainda teve problemas com a bebida alcoólica,  porém com  a  ajuda do pastor da igreja, dos  presbíteros,  diáconos  e membros,  abandonou-a completamente, passando  a  dar  um testemunho  vivo do poder de Deus que transformou sua  vida. 

Deixou de fumar imediatamente após a  sua  conversão, ficando  por  duas  semanas  de cama,   declarando  com entusiasmo para os irmãos da igreja que morreria mas não voltaria para  a velha vida.     

A conversão de papai a Cristo  foi  tão evidente e forte que nós, seus filhos, não podemos calcular  a quantidade de pessoas que vieram a conhecer o evangelho através da vida dele,  pois Deus  o transformou de um alcoólatra num evangelista. De um sanfoneiro de bailes onde sempre haviam brigas e confusões num músico para louvar a Deus, pois gostava  muito de cantar hinos acompanhado de sua harmônica da qual se separou dela somente quando veio a falecer. Hoje sentimos saudade dos hinos harmoniosos que acompanhava com seu acordeão. Quando cantava, como que em ato de gratidão a Deus, gostava de fazê-lo em alta voz para que os vizinhos também pudessem ouvir a mensagem salvadora do Evangelho,  como aconteceu com ele. Um grande número de famílias  de sitiantes conheceram o evangelho com o  poder  transformador  de Deus através de seus lábios. O norte e o  oeste do  Paraná e a cidade de São Paulo, para onde  nos  mudamos  em 1.964, e outros lugares deste país puderam ouvir através dos lábios desse servo de Deus, humilde e simples, a mensagem salvadora e transformadora do poder  de  Deus. Onde ele estava, falava do amor  de Deus. No ônibus, no trem, no trabalho, na rua, com os vizinhos  e muitos  outros  souberam das Boas Novas do Evangelho através de seus lábios que com grande entusiasmo anunciava que vale a pena  servir  a Deus. 

      Os dias  que se seguiram foram  maravilhosos:  uma  busca incessante  do  conhecimento da Palavra de Deus que  muito  nos ajudou  através do discipulado iniciado pela freqüência a Escola Bíblica e dos queridos integrantes da família Goulart que,  agora,  podíamos chamar de "irmãos". Mamãe andava entre a felicidade e a ansiedade sem  saber se de fato papai teria forças para ultrapassar  aquele período difícil. A Palavra de Deus afirma: "quem vem a mim, de modo  algum  o  lançarei fora". (João 6:37) Foi assim  com  papai.  A mudança para Cruzeiro  d'Oeste  estava explicada: era ali, o local do nosso encontro com Deus.  Seis  meses apenas e lá  estávamos de volta a Pirapó. Pouco tempo de moradia em Cruzeiro d'Oeste e de lá  volta um novo homem. Seu coração  havia sido transformado pelo poder de Deus.   A sua mente passava a pensar em coisas boas.     A vitória  chegou  para  nossa família. O corpo físico era o mesmo, mas as atitudes eram outras.

 

      Quando o caminhão tocou a buzina, avisando que tínhamos  voltado, os  familiares  correram para nos receber. A  saudação  de  papai começou  contando-lhes  que agora nós éramos servos de Deus.         

A  sua ansiedade  de  poder falar dos feitos de Jesus em sua vida,  o fêz esquecer-se momentaneamente  que  o caminhão não havia sido descarregado. O tempo de evangelizar  que papai  adotou  foi o "agora". Toda oportunidade deveria ser aproveitada. Para papai,  as  boas-novas, não poderiam ser deixadas para "depois". Alguns meses  depois   já   surgem  os  primeiros frutos:  uma  família  italiana  de vizinhos (aquela das novenas para chover ou para fazer sol, ou não gear) agora conhece um Jesus vivo através do  testemunho de papai, agora  resgatado do pecado. O mesmo caminho que ele trilhara  tantas  vezes para   ir a "venda",  agora  era usado para  ir a Escola Bíblica  de uma congregação Batista, levando toda a família. Agora ele já não trilhava aquele caminho sozinho: Toda a família lhe acompava. Valia a pena  a  caminhada.

      No retorno a fazenda de meus avós, viemos  com  a orientação   de  procurar  a Igreja   Presbiteriana Independente   de  Arapongas para que  continuássemos a ter apoio espiritual.    Lembro-me  do  primeiro   culto realizado  na fazenda  de nossa família, agora convertida a  Cristo. Além das orientações espirituais, o Rev. João de Godoy recomendou enviar  os "meninos" para a escola. Foi difícil a principio para papai,  mas não o foi para mamãe. Dois anos mais tarde enquanto o filho  mais velho, meu irmão Osvaldo,  era enviado para Arapongas para estudar, a família  retornava para  Cruzeiro d'Oeste. Agora sabendo  que  continuaríamos a contar com aqueles irmãos cuidadosos que já tinham nos ajudado anteriormente a superar nossos problemas e a crescer na fé.

            Aquela pergunta do panfleto "POR QUE DEUS FEZ ISTO?" deixa de ser uma mera pergunta e passa a signficar a resposta do amor de Deus para com toda a nossa familia e geração. Pois ao salvar papai, mamãe e a nós, os filhos, percebemos com clareza, que Deus salvará todas as nossas gerações seguintes também.

      Sabemos  que Deus  fez isto por seu infinito amor para conosco. Quando  nossas forças  tinham  sido consumidas, Ele nos tomou  nos  seus  braços fortes  e  nos salvou. A semente que a família  Goulart  plantou, germinou  e  cresceu. Rendemos aqui a nossa gratidão a  Deus por esta família que não mediu esforços para  nos  ajudar na caminhada da fé.  Não  dá  para  se  calcular  o  resultado  deste investimento espiritual! Um dia, lá  na Glória poderemos ver! 
 
 
 
 
 
 
 
 

3.  A HISTÓRIA DE DAVID LIVINGSTONE 
 
 

      Sinto  muita  alegria  ao escrever este capítulo  sobre  esta  história.  Nossa família  já   estava  freqüentando  assiduamente  aos  cultos e reuniões  da igreja.  Nos domingos de manhã levantávamos bem cedo e todos com alegria iniciava a caminhada em direção a Igreja. Iamos a Escola Bíblica  Dominical.   Realmente era uma  boa caminhada a pé  pois a igreja ficava cerca de 5 quilômetros  de nosso sítio. Porém, mesmo com o esforço da caminhada ficamos a contar os dias da semana, não vendo a hora de chegar o domingo. Na Escola Bíblica haviam professores para cada faixa etária(adultos, jovens, adolescentes e crianças). Fizemos logo boas amizades com muitos  membros da  igreja. Era um povo alegre e bem diferente dos de nossa  família sofrida  por  causa dos problemas vividos. Logo que  começamos  a freqüentar,  os  responsáveis nos matricularam nas classes bíblicas, e passamos a fazer parte daquele lindo povo. Muitos vieram procurar fazer  amizade  conosco.  O  convívio  nos  ajudou  muito  a  nos integrar rapidamente na igreja. Eu estava começando a aprender a ler. Queria  de qualquer maneira ler o livreto que recebi de presente da Escola Bíblica daquela igreja, cujo  conteúdo falava sobre a vida de um médico escocês, que  foi para  a Inglaterra estudar medicina e, convertendo-se a Cristo, tomou a decisão de ser um dos primeiros  missionários a ser enviado para a  África. Ele se chamava  DAVID LIVINGSTONE. Eu  não esperava  outra coisa a não ser a chegada do domingo  para  ouvir mais  sobre aquele médico missionário.  Quando chegava em casa, pegava de novo o  livreto  e  com a ajuda de meus pais e  irmãos,  continuava  a leitura. Lia soletrando, colocando meu dedinho indicador sobre as palavras.  Lembro-me  até  hoje daqueles momentos. Ficava  empolgado  com    aquela história de alguém que deu sua vida por amor a Cristo.  Aquilo marcou profundamente  minha  vida, e o exemplo daquele missionário está vivo até hoje em meu coração. Principalmente por saber que foi uma história verídica de  alguém que  entendeu  o  chamado de Deus e se deu  a  favor  de pessoas que nunca conhecera antes. Aprendi  que aquele servo amado, ao final de sua vida,   não  podendo mais  continuar  a obra que Deus havia lhe confiado,  cessou  seu trabalho neste mundo, morrendo serenamente, ao pé de uma árvore em território africano. Ali reclinou sua  cabeça  para não mais acordar para esta vida. Porém, com certeza que Deus nos dá através de sua Palavra, ele está  vivo  ao lado do Senhor Jesus Cristo, na glória do Pai. O povo africano o conheceu  muito bem.  Ele permaneceu lá  por muitos anos ajudando muitos doentes das tribos indígenas a permanecerem vivos. Falou e viveu o amor de Deus. Além do bem material que fêz, muitos conheceram sobre o amor de Deus e do evangelho através de seus lábios, atitudes e serviço. Apesar de alguns tê-lo criticado pelo seu temperamento rude e aventureiro, com suas virtudes falam até os dias de hoje, pois ele distribuiu amor por todos os lugares por onde passou e viveu.

      Diz-nos sua história que sua família não podendo continuar com ele na Africa, regressou para a Inglaterra, preferindo ele lá permanecer até sua morte, por amor a obra missionária. Soubemos que mais tarde ao ser substituído por outro missionário, este ao falar de Jesus às tribos indígenas onde David Livingstone havia estado, afirmavam: “Ele já  viveu aqui entre  nós. Este homem já  passou por  aqui.”  Eles  faziam referência  ao amor demonstrado por David  Livingstone,  pensando ser ele o próprio Jesus. Que maravilha, quando alguém entrega sua vida  a  Deus de tal maneira que permite a outros verem Cristo vivendo através de sua vida. Ele permitiu acontecer consigo o  que  o apóstolo Paulo afirma em Galatas 2:20: "Não  sou mais eu quem vivo mas Cristo vive em mim!". Aqueles hinos  ouvidos e aprendidos, aquelas histórias sobre o resultado do amor de Deus nos  corações  daqueles que o servem, como o foi com Davi Livingstone, fez-me  desde  pequeno  uma pessoa muito interessada pelas coisas de Deus e principalmente por Missões.  

 

4.  O RESULTADO DA ESCOLA BÍBLICA   
 

      Cerca  de  seis  meses depois voltamos para   Pirapó,  á fazenda de vovô, como dissemos no capítulo anterior. Num rápido encontro com meus primos que continuavam na  fazenda do meu avô, Deus prepara um momento singular na  vida de Antônio Ferreira que o marcará  para sempre. Ele era filho de tio Neném - que havia sido assassinado pelo meu outro tio. Antonio tinha um irmão chamado Hermes. Por causa da morte do pai e da falta do conhecimento do evangelho, desajustou-se  totalmente na  vida,  envolvendo-se também com bebida alcoólica  até  a  sua morte prematura em 1995. Foi assassinado durante uma briga envolvendo nossos próprios primos e seu corpo jogado num rio, conforme nos chegaram as notícias. Não se sabe ao certo até  hoje quem são os autores deste hediondo crime, porém, estamos certos de que um dia os assassinos serão descobertos porque “…nada há debaixo do sol que fique escondido ou encoberto” nos diz a Palavra de Deus.  Pobre Hermes! Oramos bastante por ele, e por algumas vezes preguei-lhe o Evangelho, juntamente com seu irmão mais velho que tambem o fez por muitas vezes  para que ele se  convertesse  a Cristo, mas  nunca  conseguiu  tomar  uma decisão firme e sincera! Depois que mudamos para São Paulo em 1.964, não consegui mais revê-los por mais de 20 anos. Porém, anos mais tarde chegava de mudança a São Paulo, juntamente com sua família, este meu primo Antônio. Com isso pudemos restabelecer nosso relacionamento novamente.  Em um dos passeios para o sítio de meu irmão mais velho, Oswaldo, anunciou-lhe também as boas novas do  evangelho e a falar da transformação que acontece em nossa vida quando passamos a servir a Deus. Num determinado momento, meu irmão parou o carro porque o “Toninho” (como o chamamos em nossa intimidade) começou a chorar e a confessar que estava sentindo também a necessidade de entregar sua vida a Deus para que Ele a dirigisse. E ali mesmo, Oswaldo teve o privilégio de levá-lo  a esse lindo encontro com Deus que transformou a vida de Toninho e depois de toda a sua família também. 

      Fiquei 20 anos sem contato com ele.  Tal  foi  minha surpresa, ao ouvi-lo dizer, num momento de reencontro,  que ele se lembrava de quando ainda éramos meninos e tínhamos  nos encontrado em Pirapó, na antiga fazenda de nosso avô, em baixo dos escombros de uma  casa  velha  de madeira. Contou-me Antonio que eu cantava um  dos hinos que havia aprendido na igreja e afirmou  nunca mais ter se esquecido de mim por causa daquele momento que passamos juntos, pois eu havia cantado um hino cujo coro dizia :

     FOI  NA CRUZ, FOI NA CRUZ,

             ONDE UM DIA EU VI, 

             MEUS PECADOS CASTIGADOS EM JESUS, 

             FOI  ALI  PELA FÉ,

             QUE  MEUS  OLHOS ABRI 

             E  AGORA ME ALEGRO EM SUA LUZ". 

E uma das estrofes dizia : "E ABRIGO SEGURO NELE ACHEI!".

            

      Aquela casa já  não representava mais um abrigo seguro, pois estava velha, caindo aos pedaços, porém em Jesus há   abrigo seguro sempre,  mesmo que estejamos embaixo dos escombros de uma casa velha.  

Nesta vida aqui tudo é passageiro e se  deteriora rapidamente com o tempo.  Mas em Jesus nós temos a vida eterna! A casa velha já não existe mais há  muito. O tempo se incumbiu de acabar com ela, porém, a nossa morada eterna  ninguém destrói. Tanto  nossa  família  como  a  dele  estão  salvas, todos servimos a Deus.  Nos  dizem   as escrituras: "Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem  a ferrugem  destroem  e onde os ladrões não  arrombam  nem  minam. Porque aonde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu tesouro" (Mateus 6:20-21).

      Feliz reencontro que perdura até  hoje,  com  uma sólida amizade e companheirismo. Há alguns anos Antonio é Presbítero da Igreja Presbiteriana Independente de Vila Brasilandia, São Paulo. Toda sua família  há  muitos anos goza das bençãos do Senhor também. Este é  o outro  lado da moeda na vida daquele que  serve  a  Deus. Aprendemos  desde  cedo as ricas palavras de  vida.  Nelas  fomos ensinados  a  viver e com isto nossos familiares, bem como aqueles que nos cercam, são abençoados também.  Como o Antonio, sua esposa e filhas, várias  famílias  da  roça, residentes  nos arredores dos sítios que possuímos,  se converteram  a Cristo. Todos os que tomaram esta decisão de servirem a Deus, vivem  hoje, depois de quase 40 anos, uma vida muito melhor, inclusive materialmente. Deus promove uma vida abundante para todos que se achegam a Ele.

      A  boa  Palavra de Deus produz naquele que a ouve  e  a  pratica, resultados preciosos. Deus nunca nos deixou faltar nada. Em suma, Deus nos tem  abençoado  ricamente,  e isto, todos  nós  reconhecemos  que devemos a Ele pela  mudança que  fez em  nossas vidas também. Entendemos muito bem que a benção não poderia ficar somente com nossos pais. E o principal é que temos a certeza da vida eterna com Deus e seus anjos, garantida pelo nosso amado Salvador em Sua Santa Palavra. Mesmo que venhamos a passar por momentos difíceis em nossas vidas, a boa mão do Senhor sempre nos guiará. Não existe nada melhor do que esta certeza de estarmos para sempre com o Senhor, colocada em nossos corações pelo poder do Espírito Santo.  Por outro  lado, a Palavra de Deus nos diz que os pássaros  comem a semente que  cai  a  beira do caminho e então ela não consegue germinar. Infelizmente assim  foi com alguns  de  nossos  parentes e amigos. Aqueles que não deram importância a Palavra de Deus que lhes foi pregada muitas vezes, pouco a pouco tiveram e estão tendo seus lares destruídos. E pouco a pouco estão se destruindo também. Se você que está lendo este livro ainda não tomou uma decisao de servir a Deus, hoje é o Dia Aceitável, nos diz a Bíblia. Nela, o Senhor Jesus o convida a  tomar uma decisão sincera de  servir a  Deus.  Se continuar com seu coração endurecido e não der  lugar  ao poder transformador do Espírito Santo, seu futuro não  será nada bom. Não  que eu deseje isto. Jamais! Mas porque a Palavra de  Deus afirma : "Quem nÊle crer não é condenado, mas QUEM NÃO CRÊ JÁ ESTÁ CONDENADO...A condenação é esta: A luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as obras deles eram más. João 3:18-19.  Quem  crer  e for batizado será  salvo, quem NÃO CRER JÁ ESTÁ CONDENADO" (Marcos 16:16). Você deseja a felicidade para seus filhos e parentes? Então  sirva  a  Deus enquanto está  vivo também. É assim que a Palavra de Deus nos ensina. A oportunidade dada por Deus ao homem é para esta vida apenas. Esta oportunidade não foi dada a Satanás e seus anjos quando cairam da presença de Deus. Por isto ele odeia os homens e faz tudo para que eles não se decidam entregar-se totalmente a Cristo.

      Uma  das famílias de nossos parentes não deu atenção e nem importância às coisas  de Deus. Quantas vezes  papai e nós falamos do amor de Deus a eles. O resultado desta negligência tem sido terrivel para toda a família. Os anos foram passando e os problemas se avolumando. Hoje estes moços estão envolvidos com jogos de azar, vícios, drogas, crimes e outras coisas ruins. É assim que acontece quando não se dá importancia ao Evangelho. Hoje vários deles choram de infelicidade. Diz a Bíblia que “...o salário do pecado é a morte”, Rm 3:23. Este  é o resultado funesto do pecado. É preciso nos dispormos a andar com Deus para que Ele possa dar  um  basta nesta natureza pecaminosa, enquanto estivermos vivos. Porém, a oportunidade é única nos diz a Sua Palavra. Em João capítulo 3, a Palavra de Deus chama esta decisao de "novo nascimento", isto é, nascer para Deus novamente. Em Efésios Capitulo 2, o Espírito Santo inspirou o apóstolo Paulo a escrever: "Ele vos deu vida, estando vós mortos em vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora...Mas Deus sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo".

Que maravilha, se nos achegarmos a Ele, Ele também se achegará a nós, porém se O deixarmos Ele também nos deixará, nos diz tambem a Sua Palavra em outro texto. Em Isaias 59:1-2, Deus usando o  profeta nos diz também: "Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça".  Porém, com certeza, Ele deseja o melhor para nós. Veja o que Ele nos diz em sua Sua Palavra em Jeremias Capítulo  29, Versos 11 ao 14:  Eu é que sei que pensamentos penso de  vós, diz o Senhor. Pensamentos  de bem e não de mal...E ireis e orareis a mim... Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. E serei achado de vós, diz o Senhor... e farei mudar a vossa sorte”. Até quando  Deus suportará  os nossos pecados? Peça perdão a Deus pelos pecados cometidos e se proponha servi-Lo de todo o teu coração, alma e entendimento. Tome esta decisão agora mesmo. A Bíblia nos diz que não devemos deixar esta decisão para depois pois o nosso amanhã pertence a Deus. O tempo de Deus, em sua Palavra, se chama HOJE. Se rejeitarmos de contínuo a presença graciosa do  Espírito Santo em nosso interior, não nos restará mais esperança. O retardar numa decisão de servir a Deus poderá acarretar no endurecimento de nosso coração e então fircarmos incesíveis a voz de Deus.  Haverá  tempo em que cessarão as oportunidades dadas por Ele. Por isso, devemos aceitar com urgência, este convite amoroso do Senhor Jesus Cristo, conforme descreveu Mateus:  "Vinde a mim todos vós que estais cansados e oprimidos  e Eu  vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei  de  mim que  sou  manso  e humilde de coração.” (Mateus 11:28-30). 

Para  sermos  abençoados,  foi preciso investir nosso tempo no aprendizado da  Palavra de Deus. Hoje vemos como valeu a pena. A Escola  Bíblica   onde domingo, após domingo, aprendemos da Santa Palavra de Deus nos proporcionou princípios preciosos para a vida. Este investimento de nosso tempo para conhecer melhor a Deus trouxe e continua a trazer  grandes bençãos para toda nossa a família.

 

Um desses princípios foi ensinado pelo próprio Senhor Jesus que afirmou em Mateus 7:24-27 :  "Aquele que ouve as minhas palavras e  as pratica, assemelhá-lo-hei a um homem prudente(sensato) que edificou a  sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, subiram  os rios e sopraram os ventos, mas a casa permaneceu firme porque foi construída sobre a  rocha.

Porém,  aquele  que  ouve  as  minhas  palavras  e  não  as  pratica, assemelha-lo-hei a um homem imprudente (insensato) que edificou a sua  casa  sobre  a areia. Caiu  a  chuva  e subiram  os  rios e sopraram os ventos e combateu aquela casa, e caiu aquela casa, e foi grande a  sua  queda.”

Se notarmos, as diferenças entre  os  dois  versículos iniciais e  finais  são  apenas: O homem que ouviu a palavra e a  praticou foi considerado prudente, por  isto,  o resultado foi precioso. O insensato ouviu  a  palavra porém não a praticou, por isso sua casa ruiu e foi grande a sua ruína.  O  texto  nos  diz em ambos os  exemplos  que  os  mesmos problemas  foram vividos por aquele que ouve e pratica  e  pelo  que  ouve  e  não pratica.  Só  que  os  resultados  foram completamente  opostos. O que ouviu e praticou quando chegaram os maus tempos (que surgem quando menos se espera) ele tinha base sólida para suportá-los. Porém, o que ouviu e nao praticou teve um resultado desastroso em sua vida quando chegaram os maus tempos. Sua casa, isto é, sua vida desabou, e foi grande a sua ruína, nos diz a Palavra de Deus. Somente uma  palavrinha  definiu  tudo: o não praticou.           

Deus  nunca prometeu um mar de rosas a alguém que aceita entregar sua vida para ser dirigida por Ele. Porém, sempre nos prometeu vitórias e livramentos em momentos que menos se espera. Os três problemas abordados no texto  acima, que Jesus disse, não trata de problemas relativos a natureza. Quando Ele fala em “caiu a chuva, subiram os rios e sopraram os ventos”, está falando dos diferentes graus de problemas que estamos sujeitos a enfrentar nesta vida. O principal é o resultado final. Deus ajuda aquele que  O ama e serve, a passar pelos temporais da vida em vitória. A opção, para sermos ou não vitoriosos, é  nossa.  Nós preferimos o melhor: estar aos  pés  de Jesus em todos os momentos. Passados mais de 40 anos, podemos afirmar com toda certeza: Valeu e continua valendo a pena! Vimos em muitas situações a Palavra de Deus sendo cumprida, como diz em Salmos 34:7  "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem  e  os livra”. Porém,  somente ao redor dos que “O temem” nos diz a sua Palavra.   
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

5.  A MINHA PRÓPRIA EXPERIÊNCIA COM CRISTO 
 

      Em 1.961 nossa familia iniciou o êxodo da roça para a cidade grande. O primeiro foi Oswaldo, meu irmão mais velho que foi para São Paulo.  Orlando foi o seguinte e eu fui em dezembro de 1.963.  Ao chegarmos lá fomos muito bem acolhidos por um de nossos tios e seus filhos que compartilharam suas camas,  casa  e aconchego para conosco. Esta família foi  grandemente  usada por  Deus para nos abençoar. Gostaria   de   render  aqui,  por   escrito,   nossos   sinceros agradecimentos a família MARINELLI pelo amor demonstrado a nós. Graças a Deus  eles foram o elo para que  nossa família pudesse  ir para São Paulo em busca de uma oportunidade melhor para todos.

      Oswaldo havia completado 18 anos,  terminado  o  curso ginasial e precisava continuar os estudos. Minha mãe percebeu que em  São Paulo isto seria melhor.  Ao  chegarmos lá ,  procuramos  a igreja da qual éramos membros no  Paraná   e fomos  amavelmente acolhidos.  O  pastor  da igreja  sabendo de nossas necessidades de emprego, conseguiu que meu  irmão  mais velho fizesse os testes para admissão num Banco, onde continua trabalhando até hoje, quase 40 anos depois. Eu, minha  esposa, e  muitos outros evangélicos também trabalhamos neste Banco. Feliz a  igreja que cumpre este papel social  abençoando seus membros.   Com isto muitos conseguem  logo  boas  oportunidades ao conhecer novas pessoas com bons propósitos em seus corações. O o padrão de vida do povo de Deus é maravilhoso, pois é o padrao ensinado através da Sagrada Palavra de Deus. A igreja sempre foi e sempre sera' o melhor lugar onde encontrar pessoas com quem  podemos contar. Por isto nos chamamos de irmãos. Aprendemos isto não somente na teoria, mas  principalmente  na  prática. E  isto  faz  diferença.  E que diferença! 

      Estávamos em São Paulo, agora toda a família  reunida. Meus pais estavam firmes em suas decisões de servir a Deus. Nossa situação financeira não era nada boa. Passamos  por  um período muito difícil. A  maioria  de  meus irmãos, como eu, éramos adolescentes.  Meu primeiro emprego foi em  um Banco também,  como  office-boy. O pouco que ganhava,  entregava para minha mãe para poder ajudar no sustento da casa. Apenas três dos  filhos  tinha  idade para trabalhar. Logo  depois  de  nossa chegada  a  São Paulo, mamãe teve o último  filho, Moisés.          Papai começou a ter problemas para conseguir emprego pois não  tinha  profissão.  Empregou-se  como  cobrador  de   ônibus, faxineiro  e  outras  profissões mais simples.  Porém  nunca  nos faltou  o  pão de cada dia. Deus sempre nos manteve,  apesar  das lutas e dificuldades que enfrentamos. Durante nossa adolescência e juventude mamãe e papai faziam o possível para que nenhum  de nós  se afastasse de Deus e da igreja. Procurei dar algumas fugidas para  o clube,  aos  domingos,  mas  mamãe  sempre  insistia  comigo  que reservasse este dia para estarmos juntos na igreja. E assim fizemos e hoje vemos o resultado daquele investimento. Precisamos gastar tempo para podermos aprender do Senhor.

      O  tempo  passou, consegui um emprego melhor, ter um salário um pouco melhor e alguns amigos nao evangélicos. Comecei a deixar a Igreja para ir ao Clube aos domingos e a tomar meus primeiros goles de bebidas alcoólicas. Porém, graças a Deus, logo comecei  a perceber  que  não poderia acontecer comigo e com meus irmãos  o  que havia acontecido com papai. A lição da dependência do álcool e dos resultados funestos que tivemos com papai, continuou sempre  viva  em minha mente. Sentia  muito  medo quando os colegas, de um dos Bancos onde trabalhei,  convidavam-me, ao final do expediente, para tomar chopes, batidinhas de  pinga, as chamadas "caipirinhas", que muitos acham que não tem problema algum beber,  mas foi assim que muitos alcoólatras começaram.  Mesmo tendo  participado  algumas vezes, algo falava ao meu coração que aquilo poderia ser o início da minha própria desgraça assim como o foi de meus familiares: vovo Emilio, tio Emilinho, meu primo Hermes, sem contar as tristes experiências vividas com meu próprio pai. Todos começam com um só gole e com aquele chavão super-conhecido “um poquinho não faz mal”. Porém senti que algo faltava em meu interior também. Sentia que havia um vazio em minha vida que eu já estava procurando preenchê-lo com coisas e atitudes erradas. A experiência de transformação de papai era  um exemplo  para  mim e aos poucos fui entendendo que  aquela  mesma experiência  deveria fazer parte de minha vida também.  Foi  na minha juventude, eu tinha 23  anos,  quando recebemos na igreja Presbiteriana Independente de Mauá, um  grupo de jovens que nos parecia meio maluco. Chegaram em  um  jipe que trazia jovem até pelo teto. O jipe era do Jorjão, o Jorge Polonca, um dos membros da Missão Jovens da Verdade (conhecida por J.V.), uma Missão  brasileira que trabalhava e continua trabalhando com jovens com objetivos evangelísticos. Eles haviam  iniciado  suas  atividades em 1968. Dois anos mais tarde foram a nossa Igreja atendendo a um convite para estarem conosco durante a Escola Biblica. Ao chegarem, montaram um cavalete,  prepararam papel  e tinta e retiraram do jipe o “Contra-Balde” - um balde de lixo  que  possuía  um cordão  de  tripa  de  carneiro, seca,  amarrada  na ponta de um cabo de vassoura. A outra estava  amarrada  no centro  do  balde,  num  pequeno pino,  para  esticar  o  cordão.    Explicaram   que  como  não  podiam  comprar   um   contra-baixo, resolveram  construir um "contra-balde", de onde  extraiam  excelentes sons.   Traziam um violão e, estampadas  no  rosto, muita mas muita alegria e disposição.

      A Escola Bíblica  dominical  tinha apenas começado  e  o dirigente convidou aqueles jovens  para  tomarem  a direção da programação. Alguns deles vestiam uma camiseta com uma frase na frente "DROGAS MATAM" e outra nas costas  "CRISTO  LIBERTA". Achamos  aquilo  muito  diferente  mesmo!    De  uma  forma   bem descontraída, apresentaram-se à igreja e iniciaram a  programação com muitas músicas. Eram uns 10 a 12 jovens ao todo. Uma coisa me chamou  muito  a atenção.     Eram moços e moças  muito  alegres  que transmitiam toda sua alegria contagiante enquanto cantavam. Eles  falavam  do  que viviam.  Ao  final de alguns cânticos, com músicas e  letras  bem diferentes dos hinos tradicionais da igreja, trouxeram uma mensagem do amor de Deus, de uma forma bem comunicativa e  contextualizada para  o  jovem. Enquanto cantavam,  o  Jaziel -  já   há  alguns  anos  Rev. Jaziel Fausto Botelho,  presidente  da  Missão Jovens  da  Verdade  -  pintava um quadro sobre  a  crucificação  de Cristo,  com as três cruzes do  Calvário.      Afinado o violão, o Jorjão e a Leo (Leonilda Medeiros, há alguns anos missionária na França) animavam  a juventude  da igreja trazendo canções bem contextualizadas.  Após alguns cânticos, uma ou duas pessoas deram  o  seu testemunho de conversão a Cristo e muitos  de  nós começamos  a ser tocados profundamente pelo Espírito Santo  sobre tudo  aquilo que víamos e ouvíamos. Podiamos ver diante de nossos olhos, jovens  que  vestiam sem medo a  camisa do  evangelho  para anunciarem um Jesus vivo.    Eu achei aquilo tudo muito diferente, e confesso, fui  tocado profundamente por Deus.

      Depois dos testemunhos, um dos jovens, o Jaziel pregou uma mensagem sobre a palavra  de  Deus, fazendo apelo a quem desejasse tomar uma decisão  sincera de servir a Deus. Confesso  que apesar de estar já  há   muitos  anos  na igreja, aquilo tudo era novo para mim. Como eu vários outros jovens tinham um conflito interno. Um dia nos sentíamos  bem,  porém  noutros  eramos  assaltados  por  idéias  contrárias. As luzes do mundo realmente nos fascinavam bastante, aliado ás dificuldades econômicas que sempre me deixavam bastante frustrado em meus ideais. Estávamos em 1.970.  Eu havia  começado a  namorar Abgail, e presenciei  tudo aquilo que agitou o Brasil da década de  70 para  cá:  Jovens  falando do amor de Deus. Foi uma verdadeira "loucura santa".

      Antes de  ter  uma experiência  viva  com o Senhor Jesus, lembro-me  muito  bem  que quando  o pastor da igreja me convidava para  orar  publicamente, sentia muito receio e quando ele começava a anunciar a oração, eu sempre procurava me encolher atrás de alguém para ver  se o pastor convidava outro em meu lugar. Porém, como sou avantajado no  tamanho, quase 1,90m nem sempre tinha sucesso e o convite acontecia. Faltava-me uma experiência verdadeira com o Senhor.    A  experiência  do papai era muito boa mas  era "dele".  Eu precisava  ter a minha própria experiência com Cristo. A experiência de encontro com Deus que papai teve foi dele nao valia para mim a não ser como incentivo para que eu tivesse a minha própria também.            Ao terminar  a reunião, confesso que me sentia bombardeado por  tudo que  tinha ouvido e visto.    Ao final, os jovens  foram  convidados para um acampamento durante os dias chamados de  "finados", 02  de novembro de 1.970.    Ao regressar de Mauá,   (onde Abgail morava) naquele domingo à noite,  para a Freguesia do Ó (onde eu morava na zona norte da Capital de São Paulo), sentei-me  no banco da frente ao lado do motorista e confesso, voltei  refletindo sobre tudo aquilo que havia visto e ouvido naquela manhã. Aqueles jovens conseguiram transmitir-me a mensagem a que se haviam proposto.      Chorei durante quase toda aquela viagem. Sentia que desejava servir a Deus mas algo me impedia. Nos dias seguintes animado com o convite recebido de acampar preparei-me para, com minha namorada ir a  Cumbica, próximo a São Paulo, para participar daquele acampamento do J.V. (sigla como é conhecida a Missão Jovens da Verdade). Apesar de algumas lutas, para lá  fomos eu,  Abgail, minha  namorada  na época,  e mais alguns  jovens  da mocidade de nossa igreja de Mauá. Entre as programações do acampamento, havia um período  chamado de "hora tranqüila"  em  que  os jovens podiam escolher um local agradável para um momento de oração e meditação, antes do café matinal. Eu  e um amigo da Igreja saímos para este tempo com Deus. Enquanto estávamos assentados  a  beira  de um lago,  dois  moços  do   J.V.  se aproximaram de nós com a Palavra de Deus em suas mãos. Depois de alguns momentos de reflexão,  fomos convidados  a  tomar uma decisão de aceitar a Jesus  Cristo  como nosso  Salvador pessoal.  

      Começava assim uma nova caminhada para mim. Deus  fez  algo maravilhoso ali, naquela manhã,  em minha vida. Assentado, a beira daquele lago tomei a firme decisão de aceitar o Senhor Jesus Cristo como meu Salvador e a entregar a direção da minha vida a Deus. E, daquele momento em diante inicei o meu envolvimento com a obra missionária, pois naquele momento eu havia experimentado  pessoalmente do poder transformador do Espírito Santo. Era o dia 02 de Novembro de 1.970. Neste  mesmo dia,  minha  namorada, que desde 1.972 é minha esposa, teve também uma experiência real  com o Senhor Jesus, também. Nós nem imaginávamos o que Deus tinha preparado  para nós! Deus tinha um plano com tudo aquilo que estava acontecendo conosco. 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

6. A CONFIRMAÇÃO DA HISTÓRIA DE DAVID LIVINGSTONE 
 
 

Depois que eu e minha esposa tivemos a nossa própria experiência de entrega de nossas vidas a Deus, como detalhei no capitulo passado, passamos a viver profundas experiências de envolvimento na Obra do Senhor. Por isso, nossa casa  tornou-se um lugar de  acolhida  de  missionários, pastores,  seminaristas  e  obreiros  do  Senhor.  Alguns   deles compartilharam  de nossa residência por bom tempo. Logo  que  nos casamos  continuamos muito envolvidos na obra missionária.  Quase todos  os  fins  de  semana  estávamos  viajando  para   realizar evangelismo  em  alguma  cidade brasileira  ou  algum  bairro  da própria  capital  paulista. Aos domingos, deixávamos  nossa  casa logo cedo e nos juntávamos a outros jovens nas dependências de  um salão  da  Missão  Jovens da Verdade na Rua  das  Carmelitas,  no Pque.D.Pedro II, em São Paulo, para sairmos juntos. Nosso ideal era a obra  missionária. Muitos desses companheiros de ministério  hoje são  pastores,  evangelistas  e missionários  em  outros  países. A Palavra de Deus nos ensina que devemos ser hospitaleiros, pois alguns sem saber, hospedaram anjos. Aliás, qualidade que admiro muito nas pessoas que servem a Deus. E já observei que uma boa parte das pessoas que se convertem a Cristo, tornam-se excelentes na hospedagem de irmãos

Pois bem, em janeiro  de  1.989 chegava  ao  Brasil,  o seminarista  David  Dombele, vindo de Angola, na África  para  se preparar  para  o  ministério eclesiástico, através do Instituto  Bíblico  Jovens  da Verdade. Por chegar durante o período de férias, nós o convidamos  para ficar  em  nossa casa por algum tempo até o início das aulas. Já tínhamos quatro filhos  mas  sempre  se consegue espaço para mais um. E foi isto mesmo. Quando as aulas começaram, mudou-se para as dependências do Instituto Bíblico. Porém, continou a vir nos fins de  semana  para permanecer conosco e nos ajudar  na  Comunidade Evangélica  da qual eu era pastor. Alguns meses se passaram e David  Dombele  se sentia  muito bem em casa. Dizia-nos que se sentia como se  estivesse  em sua propria casa. Graças a Deus!

      Num desses fins de semana que veio para estar conosco nos ajudando no ensino da Palavra de Deus, em nossa igreja, fomos graciosamente surpreendidos por ele. Note que o Senhor Jesus fez isto variadas vezes com os discípulos, e com os que o seguiam, preparando-lhes surpresas inesquecíveis. E assim foi conosco, quando Davi pediu-nos para termos uma breve reunião, e então nos declarou com  os olhos cheios de lágrimas que desejava nos convidar para sermos  seus “pais  adotivos”. Explicou que em sua cultura africana  quando  uma familia  acolhe um de seus filhos, o pai e a mãe daquela familia são considerados seus próprios pais.  Ficamos emocionados com aquela declaração de amor por parte daquele moço que já haviíamos aprendido a amar e admiriar. E assim ele tornou-se nosso “mais velho e novo filho”. A princípio pensei que a saudade de seus pais naturais, ou a falta de afeto deles, o tivesse levado a tomar aquela atitude. Mas mesmo assim, passamos a trata-lo como um filho verdadeiro mesmo. Confesso que pensei que aquilo seria por algum tempo apenas e como muitos outros nos consideravam seus pais, Davi estaria sendo mais um. De qualquer forma não  esperava por uma atitude de tamanha consideração.  Por  muito  que façamos  para  alguem, é profundo demais ser considerado  pai  e mãe.   Entretanto o tempo passou e sempre que  ele me encontra, não importa aonde e com quem  eu esteja,  ele  se dirige a mim, tratando-me de  pai.  Três  anos havia se passado  e  fui então convidado por David à  irmos á África, pois ele desejava se casar.  Não  pude ir, porém,    fiz  questão de  abençoá-lo em seu matrimônio como um filho mesmo. Casou-se e retornou ao  Brasil. Deus  deu-lhe  uma excelente esposa, a Emerance, que ao  chegar  dispensou-nos também   o tratamento de pai e mãe. Com isto ficou claro para  mim que  o que o jovem David Dombele fez não foi por causa de  uma  emoção, mas sim, fruto de uma decisão sincera.

      Os anos foram se  passando. Nasceu   sua primeira filhinha e gostosamente  passamos  a  ser tratados  de avós, pois nascera a linda Ravi. Creio em meu  coração  que esta adoção foi uma das mais lindas que alguem pode experimentar. Nós  os adotamos como filhos verdadeiros porque a adoção de  Deus é assim. Todos os meses o David Dombele nos liga  ou nos  visita como um filho mesmo. São estas  surpresas  agradáveis que  Deus nos reserva. A este ponto talvez você esteja  indagando porque  o  título deste capítulo “A CONFIRMAÇÃO  DA  HISTÓRIA  DE DAVID  LIVINGSTONE”. É que eu creio que Deus  não   deixa  nenhuma pergunta  sem  resposta.  Quando  eu era  menino,  ao  começar  a aprender a ler, fui muito influenciado pela vida e testemunho  de David Livingstone conforme descrevi no capítulo 3, A HISTÓRIA  DE DAVID  LIVINGSTONE.  Eu  tinha mais ou menos  sete  anos.  Estava começando  a aprender a ler e, como escrevi, tive o privilégio  de começar,  soletrando  a  história  da  vida  de   David Livingstone, no pequeno livro que ganhei da Escola Biblica.  Foi muito emocionante ser convidado a  ser pai  adotivo de um moço africano. Isto me comoveu   muitas vezes.    Como   Deus   escreve   nossa   história   com    tanta particularidade.  Passados mais de 40 anos daquela experiencia na Escola Biblica,  eu tenho agora o  privilégio de  conversar  com  o David Dombele e ele  contar-me  como  David Livingstone, seu xará,  amou seu povo e sua terra a ponto de entregar  também a  sua  vida  a  favor deles. Posso saber  agora também,  que  seu  busto encontra-se  em  muitas cidades africanas em memória  e  gratidão pelo  que  este  cristão e médico fez  pelos  africanos. Enquanto  levava o remédio para a cura do fisico,  suas  palavras continham o remédio para a alma também. “Que privilégio, David  Dombele, é,  para nós, sermos considerados seus pais. Você nos premiou com esta linda decisão. Nos sentimos recompensados por Deus, mesmo.”  Davi formou-se  em  seu curso teológico, concluiu o bacharelado e logo depois Deus preparou  sua  ordenação  ao  Sagrado Ministério. Já  há alguns anos o pastor David Dombele desenvolve o sagrado ministério para o qual Deus o chamou ainda quando estava na  África.  Estávamos muito contentes em ter um filho adotivo, afinal era um dos desejos de minha querida esposa também. Porém, não sabemos e não conseguimos entender todo o propósito de Deus para nossas vidas. Por muito que se tente entender como Deus age sempre haverá um momento a mais de nova surpresa. E assim foi conosco na área de adoção de filhos. Nossa experiência, pela vontade de Deus e nossa (todos nós juntos), não se encerra  com  o  Pr. David Dombele.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

7. UMA FILHA NASCIDA DO CORACAO 

Numa certa manhã do mes de agosto de 1991, minha  esposa estava  orando, quando resolveu meditar por alguns  instantes  na Palavra de Deus. Eu estava trabalhando. Abriu a Bíblia e sentiu o direcionamento de Deus para o Salmo 41, e começou a lê-lo: "Bem aventurado é aquele que atende ao pobre, o Senhor o livrará no dia do mal. O Senhor o livrará e o conservará em vida, será abençoado na terra e tu não o entregarás a vontade de seus inimigos. Não imaginava o que estava por vir durante o  dia.  

      Por volta das onze horas, enquanto minha esposa realizava os afazeres de casa, surgem de repente  em  nosso quintal dois  rapazes  bem  fortes. Ela assustou-se  com  a  presenca inesperada  deles  no  quintal  sem qualquer aviso, quando um deles, com muita dificuldade, pois não falava  português,   perguntou pelo Pastor Thieme. Após o  susto, ela  deduziu rapidamente que se tratavam de dois africanos.   Estavam chegando ao Brasil. A seguir ela telefonou-me e contou sobre os rapazes ao que respondi  em  tom  de  brincadeira, pois ela  já   sabia  de  meu comportamento em relacao a pessoas necessitadas, e eu também sabia como sempre minha esposa recebeu bem as pessoas e então eu disse: Tem alguma cama disponível ai? Coloque-os para descansar. Dê-lhes um bom prato de comida que por volta das 5 horas da tarde vou para casa. Ela ofereceu-lhes um delicioso almoço e quando cheguei eles estavam descansando.  

De acordo com o  texto  que minha esposa havia meditado, Salmos 41, a Bíblia diz que é “bem-aventurado   (feliz)  aquele  que  atende  o  pobre  na   sua necessidade. O Senhor o livrara no dia do mal.” Quando eu e  minha esposa  aceitamos  o  primeiro desafio de administrar uma obra  social  que acolhia crianças de rua (abandonadas), recebemos várias  crianças que  tiveram  de   permanecer  em  nossa  casa  para  receber  um tratamento  particular pois apresentavam um quadro de saúde muito  grave. Eram  crianças  muito  carentes, desnutridas  e  doentes.  Várias passaram  por nossa casa para receberem um tratamento  direto  de minha esposa, com a experiência de estar criando quatro  filhos. Entre  as crianças que recebemos, Bruna era uma das lindas meninas que já  haviam passado por nossa casa.  Porém,   Bruna representava algo mais. Nossos filhos e filhas rapidamente se simpatizaram com a pequena que conquistou o coração de todos. Tornou-se  o  xodó  de toda a família.  Completado  o  tempo  de permanência pretendido, havia chegada a hora de Bruna retornar para  a Casa-Lar da Instituição. Porém o clamor foi geral:  todos os filhos pediram para que Bruna continuasse mais tempo conosco e nós  concordamos. Passadas algumas semanas mais,  sentimos que havia algo diferente no nosso relacionamento com a pequena Bruna. Começamos a sentir um amor especial por ela e  foi aí  que decidimos em família que se a Bruna fosse  entregue  para adoção, nossa familia seria a primeira candidata. Para isso minha esposa escreveu uma carta para a Vara da Infância e da  Juventude demonstrando  o nosso interesse pela adoção. Na verdade a  adoção já havia acontecido no coração de todos e principalmente de Deus, nós cremos. Bruna  não poderia ser adotada por outra família a não ser a nossa. Os meses se passaram e agora você poderá  perceber o cumprimento do Salmo 41 em nossas vidas: "..aquele que atende ao pobre na sua necessidade, Deus o atenderá no dia da angústia..". O mais importante vem agora:

Após termos  recebido aqueles dois jovens angolanos que se  hospedaram naquele  dia  em nossa casa, nesse mesmo dia, por  volta  das  17 horas fui chamado novamente em meu escritório pelo telefone. Era minha  esposa  que  estava apreensiva na ligação e  me  dava  uma triste  notícia  que  foi uma bomba: estava  em  nossa  casa  um casal cujo homem era um advogado e diziam estar lá com um mandado judicial da Vara da Família para levar a Bruna. Eles haviam acabado de adotá-la.  Estavam com o documento em mãos de autorização para retirada da  criança. Minha esposa estava nervosa, não sabia o que fazer. Pedi que  ela dissesse  ao advogado para retornar por volta das 20  horas  para conversar comigo. Naquela mesma hora já  liguei para a Vara da Infância e da Juventude e percebi que nossa carta de  intenção de  adoção da Bruna não havia sido considerada. O juiz já   havia dado a pequena Bruna a este advogado por adoção definitiva. Nossa  filha  mais velha  sabendo  da situação, levou a pequena para a  casa  de amigos, próximo de nossa residência. Por volta  das 20  horas  recebemos o casal e, em oração, expusemos a situação:  a Bruna já estava adotada por nossa  família há quase um ano. Então solicitei que eles procurassem por outra criança. Naquele momento, aquele advogado nos respondeu:  “Vocês sabem que eu tenho um documento em mãos que me dá autoridade legal para levar a Bruna daqui hoje, e se quiser faze-lo poderei chamar pela polícia e fazer cumprir o mandato judicial, porem....ficamos em silencio total naquele instante... e ele continuou:  mas eu não vou fazer isso.”  Aleluia! Deus foi bom para conosco mais uma vez, e o casal nem viu a Bruninha. No dia seguinte tínhamos o pior para resolver: convencer o juiz a nos  dar  a adoção de Bruna. Seguimos para o Forum, com nossos  filhos   todos  apreensivos do Juiz não nos dar a Bruna em adoção. Conosco estava o Pr. Manuel Mendes da IPB de Itamonte, que  nos visistava nesta época. Foram quase duas  horas  de  muita conversa  e orações silenciosas. Enquanto conversávamos  tentando convencer  o  juiz  de que a preferência  deveria  ser  de  nossa família pois havíamos enviado uma carta demonstrando  nosso interesse,  nossa pequena  Bruna abaixa-se, abre a bolsa de minha esposa e pega  um pequeno  álbum de fotos recentes de nossa viagem à praia.  Ela estava toda feliz  observando  uma  foto em que eu estava no mar com  ela  no  colo. Quando menos esperamos ela se voltou para a promotora e disse, apontando e mostrando a foto : “Papai. Papai!”   Ao  ver  a atitude  da criança a promotora disse ao juiz: “Doutor,  essa criança já  tem  pai  e mãe. Não adianta mais. Libera esta criança porque estes são seus pais agora”. O  juiz   pediu que rapidamente subíssemos para o andar superior e  entrássemos com o pedido de adoção de Bruna, imediatamente. Nossa agonia cessou e em apenas dois meses eu recebi a autorização de emissão da Certidão de Nascimento dela, agora, com nosso próprio sobrenome. Vendo o  amor  de minha  irmã Alice pelos seus sobrinhos e sobrinhas  (não  apenas  meus filhos) resolvi prestar-lhe uma devida homenagem acrescentando ao nome  de Bruna, seu segundo nome, ficando o lindo nome  de  Bruna Alice  Thieme.  Cremos, sem duvida, que  a promessa de Salmos 41 se  cumpriu  em nossas vidas. Neste momento que escrevo esta parte do livro,  uma segunda-feira, bem cedinho, lembrei-me do culto de ontem à  noite (domingo)  quando  minha  esposa chamou-me  a  atenção  para  que olhasse  nossa pequena louvando ao Senhor, com as mãozinhas levantadas para os céus. Aprendeu bem cedo da preciosa Palavra de Deus. Creio que  quando  ela crescer  e  ler este relato, glorificará   muito  mais ainda a Deus.  Enquanto escrevo,  encontro-me muito  emocionado e em lagrimas! Alias, escrevo este lato com muitas lágrimas. Não de tristeza, é claro, mas de profunda alegria. Quero compartilhar com você o que significa uma adoção. Nós aprendemos muito, na prática, com as adoções de Davi Dombelle e Bruna. No caso de Davi, não houve mudança em seu sobrenome pois já era um moço formado e uma mudança em seus documentos, com certeza, lhe traria alguns atrapalhos. Porém, no caso de Bruna, enquanto estava em casa e ainda não  tínhamos concretizado sua adoção, vieram os pensamentos: como faríamos  aquela adoção?  Apenas receberíamos a Bruna para cuidar dela, ou  ela  seria  adotada mesmo  e  receberia também nosso sobrenome? E Deus me deu  uma  resposta muito profunda,  enquanto meditava em sua  palavra: “Como foi que eu te adotei? Você não recebeu o meu nome grifado no teu  também? Agora você não tem apenas o teu sobrenome,  mas  tem uma marca para toda sua vida. Onde você for, será  chamado de 'cristão'.  Meu nome estará  em teu nome. Você será  meu filho  com direito a tudo. Veja, você será Co-participante com o meu Filho primogênito, Jesus. Não haverá reservas entre nós.” Assim, entendi perfeitamente o  recado  de  Deus e Bruna foi adotada como nossa filha legítima, recebendo nosso  sobrenome.   Até a  hora  de  seu  nascimento  que   era obrigatório constar no seu registro de nascimento, fui  eu que escolhi e, assim recebi sua certidão de nascimento, emocionadamente,  do Cartório de Registro Civil.  Quero  deixar  grifado aqui  neste  livro  para  nossa pequena  Bruna (agora ela completou seis anos (1996)) que ela  é  nossa filha  legítima, gerada em nossos corações por Deus.  Eu  pensei nos meses precedentes a  adoção que nós iriamos abençoar a uma vidinha muito preciosa e Deus nos mostrou que não era apenas isto. Nós é que seríamos abençoados  por ela.  E, como já disse antes, quantas vezes já  nos derretemos em lágrimas  nos  cultos que  participamos ao vermos suas mãozinhas  levantadas,  olhinhos  fechados, glorificando a Deus como “gente grande.” Deus te  abençoe ricamente  minha  filha. Nós  te amamos muito e estamos muito felizes com sua chegada em  nossa família. Você é muito  preciosa para nós e para Deus. Ele nos deu um grande presente que e' voce, nossa preciosa Bruna!.  

Finalizando, gostaria de dizer que este livro deveria conter muito mais testemunhos sobre "o que Deus tinha preparado para nós e não sabiamos" em mais de 100 páginas. Porém, resolvi não incluir nesta obra outros preciosos relatos do que aconteceu nos "30 anos seguintes aos de minha conversao a Cristo e a de minha esposa tambem". A linda história de vitórias contiuou. E quanto aos outros quatro filhos, quais foram as bençãos? No trabalho, Deus age a nosso favor também? E será que estas bençãos chegaram a outros lares também? Provavelmente voce deve estar bastante curioso para conhecer mais, não e' mesmo? Com certeza você terá muitas lindas respostas em nosso segundo livro, com relatos verídicos. Com edificantes testemunhos, e vários deles resultados da agradável consequencia da pergunta deste livro "POR QUE DEUS FEZ ISTO?". 

Agora que você terminou a leitura desta história real, Deus deseja começar a escrever uma nova história com a sua vida e a de sua família também. Tudo vai depender de você. Pare por um instante, e faça uma oração sincera de entrega a Deus de sua vida e de sua família também. Aceite o Senhor Jesus Cristo como seu Salvador pessoal e Senhor da sua vida. Peça ao Espírito Santo para vir fazer morada em seu ser, como nos é prometido na Palavra de Deus. Procure uma igreja evangélica onde você possa continuar a aprender das Sagradas Escrituras. E, assim, com certeza, você vai ter uma linda história para contar a outros também. Dias depois que aceitei a Cristo como meu Salvador pessoal, pude encontrar um precioso verso bíblico que nunca mais me esqueci. Está em Hebreus 3:14 e diz: "Porque nos temos tornados participantes de Cristo, se retivermos firme até ao fim, a confiança que desde o princípio tivemos".  

Creio que a melhor resposta a pergunta deste livro: "POR QUE DEUS FEZ ISTO?", é a que  temos bem viva e clara em nossos corações : SIMPLESMENTE POR AMOR. Fomos e continuamos a ser alvos do amor de Deus. Como muitas outras famílias que tem lindas histórias, nós, da família Thieme. queremos render muitas graças a Deus pelo que Ele é, pelo que fez e continua a fazer por nós. Declaramos que tem valido a pena servir a este verdadeiro Deus que sempre cumpriu as suas preciosas promessas.  

Que Deus o abençoe. 

No Senhor, 

Pr. Alberto Thieme – revisto em 01/maio/2006

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