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MINAS GERAIS


CHALÉ .

SERÁ QUE DEUS PRECISA DE NÓS?

Por Lázaro Soares de Assis *

 

1. INTRODUÇÃO

 

        Nos últimos anos temos assistido à ascensão da Teologia centrada no homem e nos seus interesses. Uma clara distorção do enfoque bíblico-teológico ortodoxo, que sempre focalizou Deus como Centro absoluto de suas investigações e considerações. Na verdade, o que está se delineando diante de nós é uma extrema popularização do Antropocentrismo, inclusive no ambiente religioso.

         - Deus precisa de Você! Está é uma afirmativa extremamente comum em nossos dias.

         Mas será que, realmente, Deus precisa de nós?

         O que nos ensina a Bíblia sobre este assunto?

         No presente trabalho, estaremos investigando um pouco do ensino bíblico acerca da Pessoa de Deus, bem como algumas das informações que a Bíblia nos dá acerca de nós mesmos. Analisando tais informações, seguramente estaremos em condições de responder à pergunta-chave de nosso estudo.

 

 

2. A PESSOA DE DEUS

 

Vamos começar a estudar a Pessoa de Deus, analisando um pouco das informações de que dispomos a respeito de Sua Natureza. Obviamente, Deus  pode ser revelado e crido, mas jamais  assimilado em Sua plenitude, tampouco pode ser analisado num tubo de  ensaio de laboratório. Se nem os céus, nem os céus dos céus podem conter a Pessoa de Deus ou o conhecimento pleno acerca dEle (cf. 1Rs 8:27 e 2Cr 2:6; 6:18), quanto mais nós, seres finitos.

O Catecismo de Westminster tenta dimensionar Deus quando diz: "Deus é espírito, infinito, eterno e imutável em Seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade" – o grifo é nosso.

         A vida de Deus é intimamente ligada ao próprio fato  da existência de  Deus. Há coisas que existem e no entanto não têm vida, como é o  caso  do Pão  de Açúcar, na cidade do Rio de Janeiro, os Alpes  Suíços,  a Cordilheira dos Andes, o Monte Everest ou a Serra do Caparaó. Mas Deus não só existe, Ele é vivo; Ele possui vida. Ou melhor, Deus é a  própria vida (Jo 5:26). D’Ele, n’Ele e para Ele emana tudo e todos  os seres  criados, animados e inanimados. São abundantes os  textos das Escrituras que falam da vida de Deus (e.g. Jr 10:10-16).

Vida é um termo que não pode ser plenamente definido. A ciência define-a  como uma correspondência entre os órgãos  e  o ambiente.  Porém, quanto a Deus, significa muito mais  que  isso, visto que Deus não tem ambiente vivencial como temos aqui. A vida de Deus é Sua atividade de pensamento, sentimento e vontade. É o movimento total e íntimo de Seu Ser que O capacita a formar propósitos sábios, santos e amorosos e a executá-los.

         O ensino de que Deus é um ser pessoal, contrapõe-se  ao ensino  panteísta, segundo o qual Deus é tudo e tudo é Deus;  que Deus é o Universo e o Universo é Deus; que Ele não existe independentemente daquilo que se alega ser Sua criação.

Pode-se definir personalidade como existência dotada de autoconsciência  e  do poder de autodeterminação, ou  ainda  como existência dotada de sentimentos, inteligência e vontade. Não se deve,  portanto, confundir personalidade com corporalidade ou existência  corporal material, composta de cabeça, tronco  e membros, tratando-se do homem. Corretamente definida, a personalidade abrange as propriedades e qualidades coletivas que caracteri­zam a existência pessoal e a distinguem da existência impessoal e da vida normal. A personalidade, portanto, representa a soma  to­tal das características necessárias para descrever o que é um ser pessoal.

O nome é uma das mais fortes evidências da personalidade de um ser. Ao revelar-Se a Moisés, Deus revela Seu Nome  (cf. Êx 3:14). Essa revelação é muitíssimo importante. Em nossas Bíblias em português, o verbo hebraico hyh (hayah) é geralmente traduzido como “ser”. Na verdade, hyh (hayah) é um verbo muitíssimo importante para nossa compreensão, pois significa basicamente ser, mas também tornar-se, vir a ser, existir, acontecer. Por isto, o Nome próprio de Deus é exatamente hwhy (YHWH), ou seja, “Aquele-Que-Existe” ou “O Auto-Existente”, o Nome inefável, o impronunciável Nome Próprio de Deus.

Para melhores esclarecimentos, precisamos analisar melhor a questão do Nome Divino.

Muitas vezes, quando se levanta este questionamento, muitos ficam preocupados e automaticamente relacionam esta discussão com os pretensos “Testemunhas de Jeová”. Obviamente, nossa discussão nada tem a ver com a aludida seita, pois na presente dispensação somos chamados a ser testemunhas de Jesus (veja At 1:8). Ademais, a Bíblia declara que “Quem não honra o Filho não honra o Pai que O enviou” (cf. Jo 5:23b). Eles (as pretensas “Testemunhas”), são, na verdade, falsas testemunhas. Portanto, nossa discussão nada tem a ver com as pretensões deles.

Feitas as observações acima, queremos demonstrar de forma clara e inequívoca o grande erro que se encontra na confusão entre o Nome de Deus e Seus Títulos.

Iniciemos  analisando a utilização de  "nomes divinos" por parte dos próprios judeus. É por demais irônico que exatamente  eles, que foram justamente os primeiros a adotar a  concepção da  Unidade de Deus tenham aposto a Ele um número  surpreendente de designações. Este fato, inclusive, tem sido objeto de várias especulações, tanto por parte de historiadores bíblicos, de filólogos  e mesmo de antropólogos culturais. Entretanto,  costuma-se concluir que todas essas discussões resultaram de  conclusões pouco firmes e em escassos esclarecimentos. A hipótese mais razoável, possivelmente, é de que cada um dos inúmeros nomes de  Deus que aparece na Bíblia representa, meramente, um atributo  físico ou moral dEle, expresso em termos humanos.

Em linhas gerais, alguns eruditos judeus costumam afirmar que Deus tenha dito a Moisés: "Quando estou julgando a  raça humana chamo-me Elohim. Quando combato os que praticam  o  mal, chamo-me Sabaot. Quando relembro os pecados do homem, chamo-me El Shadai. Quando me apiedo do mundo, chamo-me YHWH”.

Essa  aparente  "confusão" mesmo por parte do povo da Bíblia, possui uma razão histórico-cultural. Deus havia estabelecido:  "Não tomarás o Nome do Senhor teu Deus em vão;  porque  o Senhor não terá por inocente o que tomar o Seu Nome em vão."  (Êx 20:7). Dessa palavra do Senhor, adveio uma extrema reverência do judeu  para com o Nome hwhy (YHWH), o Nome Próprio de nosso  Deus.  Essa reverência era tamanha, que o Nome veio a ser pronunciado em raríssimas ocasiões. Desta forma, para não correrem o risco de cair em  desobediência  ao mandamento de Êx 20:7, o Nome era  sempre substituído por Nda (adon), ”Senhor” ou ynda (adonai), "meu Senhor", esses, por sua vez, notadamente, títulos. Também com relação à leitura e cópia do texto sagrado, haviam cuidados especiais. Em relação à cópia,  é curioso o fato de que era reservada uma pena  de ouro apenas  para escrever o Nome. O Nome de Deus, para os copistas  e os judeus em geral, é um Tetragrama que eles consideram impronun­ciável (inefável). Desta forma, optava-se por Títulos e não pelo Nome, pois este estava revestido de extremado respeito.

Na auto-revelação de Deus, Ele próprio disse: “... este é o Meu Nome..." (Êx 3:15). Está claro, pois o Senhor não disse: “... este é um dos meus nomes...". Muito pelo contrário. Ele  uti­lizou um pronome demonstrativo singular a fim de enfatizar a Revelação  de Seu Único Nome. Aliás, a Bíblia em parte alguma fala sobre  nomes diferentes aplicados  a Deus. Deus só tem um Nome: hwhy (YHWH),  Javé, (Yahweh). Jeová.é uma corruptela obtida com as vogais de ynda  (adonai).  Com exceção deste, os outros "nomes" não passam de títulos  ou descrições. 

         No escopo de nossa proposta, ainda precisamos analisar a questão dos atributos de Deus.

         A palavra atributo, vem do latim ad, "para" e tribuere, "atribuir". Ou seja, "aquilo que é atribuído a alguém ou a alguma coisa". Na Teologia cristã, esse termo veio a ser utilizado  para indicar  aquelas qualidades morais ou  propriedades  (atributos) atribuídas a Deus, como partes de Sua Natureza.

Geralmente, analisa-se os atributos de Deus sem atentar devidamente a uma qualificação Divina que se reveste de enorme significado: a Solidão de Deus. Talvez você esteja questionando: Mas, Solidão!?

Sim, Solidão.

Solidão é aquele atributo divino que nos mostra que uma vez que Deus é Eterno, Todo-Poderoso, Onipotente e Auto-Existente, conclui-se que Ele também é Auto-Suficiente. Ou seja, Ele Se basta a Si mesmo! Vejamos os textos bíblicos que nos mostram esta verdade:

Dt 33:26: “Não há outro, ó Jesurum, semelhante a Deus, que cavalga sobre os céus para a tua ajuda e, com a sua alteza, sobre as mais altas nuvens!”

1Sm 2:2: “Não há santo como é o Senhor; porque não há outro fora de Ti; e rocha nenhuma há como o nosso Deus”.

2Sm 7:22: “Portanto, grandioso és, ó Senhor Jeová, porque não há semelhante a Ti, e não há outro Deus, senão Tu só, segundo tudo o que temos ouvido com os nossos ouvidos”.

1Rs 8:60: “... para que todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus e que não há outro”.

1Cr 17:20: “Senhor, ninguém há como Tu, e não há Deus além de Ti, conforme tudo quanto ouvimos com os nossos ouvidos”.

Sl 73:25: “A quem tenho eu no céu senão a Ti? E na terra não há quem eu deseje além de Ti”.

Is 45:5: “Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim, não há deus; eu te cingirei, ainda que tu me não conheças”.

Is 45:6: “Para que se saiba desde o nascente do sol e desde o poente que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro”.

Is 45:22: “Olhai para mim e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro”.

Jl 2:27: “E vós sabereis que eu estou no meio de Israel e que eu sou o Senhor, vosso Deus, e ninguém mais; e o meu povo não será envergonhado para sempre”.

Ora, se não há outro semelhante a Deus, isto demonstra que desde toda a eternidade, Deus, o Único Deus é totalmente Único. Ele não necessitava, nem necessita de nada, nem de ninguém, pois Ele Se basta a Si mesmo.

Entretanto, precisamos nos lembrar que Deus, por um livre desígnio de Sua própria vontade, resolver criar o homem. As Escrituras nos revelam o propósito fundamental desta criação é o louvor da glória de Deus: Rm 11:36; Ef 1:6,12; Hb 13:15.

 

 

3. O HOMEM

 

         Agora que estudamos um pouco sobre Deus, vamos dar seqüência falando acerca do homem. Vamos partir da seguinte pergunta:  O que é o homem?

            O patriarca Jó, pelo menos ao que parece, foi o primeiro dos  homens  mencionados  na  Bíblia   a  interrogar acerca do homem.  Foi ele quem perguntou a Deus: "Que é o homem,  para  que tanto o estimes, e ponhas sobre ele o Teu coração, e cada manhã o visites, e cada momento o provês?" (Jó 7:17,18). Essa  inquirição também  foi realizada pelo salmista: "Que é o homem  mortal  para que Te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites?" (Sl 8:4). E também: "Senhor, que é o homem, para que o conheças, e  o filho do homem, para que o estimes?" (Sl 144:3).

         Seguramente o aspecto de transitoriedade da vida humana é algo marcante. O corpo humano e inegavelmente volátil. Alguém, certa vez, definiu a transitoriedade da vida humana nas seguintes  palavras: "O homem é um embrulho postal que a parteira despachou ao  coveiro." A Bíblia, não obstante, fala do homem físico natural como um ser cuja existência física está limitada aos poucos anos que Deus lhe deu na terra.

         As  Escrituras  apresentam a vida terrena do  homem  em termos de absoluta transitoriedade: uma sombra (Jó 8:9), os  dias de  um  jornaleiro  (Jó 7:1), um correio (Jó  9:25),  palmos  (Sl 39:5), a urdidura de um tecelão (Is 38:12) e vapor (Tg 4:14).

         A  Bíblia registra alguns nomes para designar  o  corpo humano, quanto a transitoriedade de sua existência e posição  que ocupa no plano eterno de Deus. A Bíblia o chama "casa", "tabernáculo" e "templo". (1Co 6:19; 2Co 5:1-4).

         Os  filósofos pagãos falavam do corpo com  desprezo,  e consideravam-no um empecilho ao aperfeiçoamento da alma, pelo que almejavam o dia quando a alma estaria livre de suas  complicações e  enredosas  roupagens. É especialmente curiosa  a  postura  dos gnósticos neste sentido, pois afirmavam veementemente que a matéria é a essência mesmo do mal, fato pelo qual levou alguns dentre eles a adotarem uma posição "docética" (do verbo gr. dokeo, parecer) em relação ao Senhor Jesus, pois segundo eles, Jesus  jamais poderia ter Se feito homem, pois isso anularia Sua Divindade.

         No  entanto,  as Escrituras Sagradas não  apresentam  o corpo  do homem em termos semelhantes. Pelo contrário, em toda  a parte,  a  Bíblia trata do corpo do homem como obra das  mãos  de Deus, que deverá ser apresentado a Deus (Rm 12:1) e que deve  ser usado para a glória de Deus (1Co 6:20). Uma coisa de suma  importância  a ser observada é o seguinte: porque o livro de  Levítico trata  de forma tão acentuada de leis que governam a vida  física dos  israelitas?  Obviamente, para ensiná-los que o  corpo,  como instrumento da alma e do espírito, deve conservar-se forte e santo.

         Evidentemente,  o corpo é terreno (1Co 15:47),  e  como tal, um corpo de humilhação (Fp 3:21), sujeito a enfermidades e à morte (1Co 15:53), de maneira que gememos por um corpo celestial (2Co 5:2). Mas, na vinda de Cristo, o mesmo poder que vivificou a alma,  transformará o corpo, completando assim a Redenção do  homem.  E a garantia de que essa mudança ocorrerá é o Espírito  que nele habita (Rm 8:11; 1Co 5:5).

 

 

4. CONCLUSÃO

 

         Pelas considerações apresentadas neste pequeno trabalho, podemos concluir que Deus não precisa de nós. Nós, sim, precisamos desesperadamente dEle, pois sem Ele, somos simplesmente pó e cinza (Gn 18:27). Se há alguma virtude em nós, esta reside unicamente no fato de que somos alvo do amor de Deus (Jo 3:16) e por causa deste amor, podemos ser Santuário do Deus Vivo!

         A Ele a glória pelos séculos sem fim!

 

 

* Lázaro Soares de Assis (prlazaro@terra.com.br) é Ministro do Evangelho. Apascenta a Igreja Evangélica Monte Moriá, em Chalé, Minas Gerais. É fundador e diretor da FATEM (Faculdade de Teologia Monte Moriá). Além de Bacharel em Teologia, Filosofia Cristã, e Educação Religiosa, possui Mestrado em Teologia com Especialização em Aconselhamento Pastoral. É ainda Doutor em Divindade, em Teologia, e em Filosofia e Ciências da Religião. 30/09/2003

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