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23/02/06
PASTOR: MISSIONÁRIO: OBREIRO _ QUEM ELE É?
A Questão da Identidade Pastoral
INTRODUÇÃO – A CRISE PASTORAL
- Cuidando do Ser: Este é o título do livro, um título que o editor
pressupunha de que venderia bem
= mas, descobri que eu mesmo sei muito pouco sobre o ser, sobre a ontologia
= tenho algumas intuições...
Ontologia: Parte da filosofia que trata do ser enquanto ser, i. é., do ser
concebido como tendo uma natureza comum, que é inerente a todos e a cada
um dos seres. Médio Dicionário Aurélio.
- vocês entenderam? eu também não!
= os filósofos conseguem ver muitas coisas ao mesmo tempo quando falam do
ser e da ontologia
= eu sou pastor, estudei um pouco de psicologia, e sei algo sobre CUIDADOS,
mas, sei pouco sobre o ser enquanto objeto de estudo
- portanto, minha intenção é falar um pouco mais de cuidados, quero
falar mais de pastoral do que de ontologia – e tenho um palpite: A maioria
aqui presente prefere a discussão da pastoral do que da ontologia
- proponho 3 temas para este retiro:
1. Pastor: Quem ele é? A Questão da Identidade Pastoral.
2. A Vocação Pastoral! A Questão do Pastoreio e seus Desafios.
3. Família Pastoral ou Simplesmente Família? A Questão dos Papéis de
Todos na Família do Pastor.
TRANSPOSIÇÃO: Entendo de que muitos pastores vivem crises pastorais por
indefinições de identidade: Quem sou eu? quem sou como pastor? o que é um
pastor hoje? quais as expectativas das pessoas hoje? que expectativas eu
como pastor posso nutrir em relação ao ministério? qual é o meu futuro?
e outras questões.
- é mais difícil ser pastor nesta época do que em outras épocas? penso
que SIM, por observar alguns fatores (mais difícil do que em épocas de perseguição
e martírio dos santos, pois, nestas épocas é fácil decidir se me disponho
a correr o risco ou não):
- George Barna Research Institute:
Compra de bilhetes de loteria por cristãos: 27% - não compram
23 % - compram
= o relativismo moral que acompanha uma visão secular de realidade afeta
a Igreja e os ministérios pastorais
= Christianity Today apresenta uma pesquisa: 66% - não existe verdade absoluta;
entre 18 – 25 o número sobre para 72%
= mas, a fé cristã se prende a uma série de absolutos – portanto, não atrai
= se o pastor confundir o desprezo das pessoas pelas “verdades absolutas
do Evangelho” com a sua “função”, então ele entrará em crise... as pessoas
podem querer e gostar do pastor e das suas funções, mas, ao mesmo tempo
não concordar com as verdades absolutas da Bíblia.
= portanto, o pastor procurará sempre diferenciar sua missão do pessoal,
e procurará ensinar isto também aos seus fiéis
= tempos de transformações rápidas e constantes de todas as coisas: tecnologia,
medicina, culturas, favorecidas pela mídia em todas as suas formas
- falando sobre a crise pastoral, a revista Leadership escreve o seguinte:
“Advertência: a lista das espécies ameaçadas cresce a cada dia. Junto às
águias de cabeça branca, os coalas e as corujas pintadas, acrescentem outra:
os pastores ordenados impulsionados pelo que fazem”.
= um pesquisa publicada recentemente num livro chamado “Pastors At Risk”
apresenta que 70% dos pastores entrevistados disseram não saber se permanecerão
no ministério, “ele se sentem sem ânimo e freqüentemente ultrajados”.
= o psiquiatra Louis McBurney diz que a falta de auto-estima é o problema
número um que os pastores enfrentam. Por quê? A profissão é:
a.de muito trabalho; b. pouco reconhecimento; c. a cultura não valoriza
esta área de atuação; d. trabalha-se com pessoas que têm expectativas não
realistas, mas sim, místicas, míticas e mágicas; e. no fundo os próprios
pastores esperam muito mais deles mesmos e das próprias igrejas. McBurney
identifica a depressão como segundo problema pastoral mais comum.
- o que causa esta crise pastoral?
= a questão é: o que o pastor deve ser e o que deve fazer para que este
negócio dê certo? para que fique evidente de que aquilo em que se crê é
real e verdadeiro, além de muito importante?
= estamos perdendo uma teologia pastoral, de cuidados com o rebanho, de
convivência íntima e diária com as ovelhas, de “estar com” mais do que “fazer
com”; ensinamos um evangelho pragmático dos X passos de como fazer para
alcançar vitória e sucesso, mas, já não nos damos mais o tempo de ser simplesmente
o modelo de vida cristã para as pessoas e de como fazer.
= o pastor exerce sempre mais um ministério teológico, administrativo e
executivo do que pastoral.
- isto é evidente no “cuidado pastoral” que se torna cada vez mais
terapêutico, ou, não se faz Aconselhamento Pastoral
= “pastorear”, a antiga prática de cura das almas, torna-se cada vez mais
aconselhamento
= e na medida que o ministério se baseia em uma ciência social, e não ciência
teológica, a arte pastoral fica reduzida a uma capacidade humana
= tenho a compreensão de que os evangélicos abraçam sem questionar os modelos
de ministério não-teológico, especialmente a visão antropológica do ser
humano vem se instalando na pregação e na prática ministerial
= facilmente nos adaptamos às expectativas das pessoas, e perdemos a identidade
= também pode ser verificado de que os pastores exercem sempre mais a teologia
e a administração do que a pastoral quando se somam as horas sem fim de
reuniões, de papéis a serem preenchidos, de atividades administrativas,
sociais e de quase infinitas discussões sobre propósitos, estratégias e
projetos.
1. CONFRONTO DA IDENTIDADE COM AS EXPECTATIVAS
- identidade: descreve nossa origem, nosso estado e o nosso fim
- o início de todo o relacionamento é marcado por expectativas de suprimento
de necessidades pessoais
- apenas a convivência diária, o confronto com as limitações e as circunstâncias
adversas (portanto, frustrações) que nos ensinarão quais das expectativas
podem realmente ser realizadas
1.1. Da Igreja
- quando um igreja recebe seu pastor, ela nutre imagens e expectativas
que o próprio pastor provavelmente nunca escolheu e as quais ele terá dificuldades
de entender e ainda mais em executar
- na maioria das vezes, estas expectativas são criadas pelos predecessores
= alguns de reputação quase mítica, outros como bodes expiatórios e exemplos
para sinalizar o que não se deseja
- outro grande desafio são as expectativas não verbalizadas
1.2. Do Próprio Pastor
- que cristãos ajam e vivam como cristãos
- que os líderes liderem, que não atrapalhem
- que a congregação ame a Deus e a sua Palavra e a siga
- que cuidem bem do pastor e o respeitem
- que ele mesmo, o próprio pastor seja um bom professor e pregador
da Bíblia
= uma pesquisa citada por Ivan Pitzer de Souza diz que as pessoas esperam
do pastor: a. uma liderança autêntica; b. que o pastor não se limite ao
exercício religioso e teológico de sua função, que saiba ser prático em
seu trabalho com o povo; 3. que tenha preparo para a função do aconselhamento
pastoral, eventualmente até com treinamento profissionalizado para o aconselhamento.
- o pastor é aquilo que ele mesmo e as pessoas esperam dele?
= por esta pequena análise podemos observar de que as expectativas vão muito
além de nosso ser, de nosso saber, fazer e ter.
- o que fazer com este conflito no confronto da identidade com as expectativas?
= concentrar-se sobre o dom do Espírito e os talentos pessoais
= aprimorar habilidades prioritariamente necessárias para o exercício pastoral
específico
= cercar-se de pessoas da congregação que complementam os dons do Espírito
para que a igreja de Jesus seja edificada – nenhum pastor pode trabalhar
sozinho
2. A QUESTÃO CRUCIAL DA IDENTIDADE PASTORAL: A DIFERENCIAÇÃO ENTRE
CARGO E A PESSOA
- um pastor de área rural foi visitar um membro de sua igreja que estava
trabalhando no campo, e aproveitou o caminho para fazer cooper diário
= depois que conversaram e oraram, e o pastor iniciou o seu retorno correndo,
o lavrador gritou atrás dele: “Se você tivesse um emprego de verdade, não
precisava andar por aí correndo desse jeito!”
- quando pastoreávamos em Campo Largo, eu tinha que aparar de vez em
quando a cerca viva ao lado da rua – eu detestava isto por que sempre passavam
uns metidos que tinham que dizer aquela frase fatal: “Trabalhando um pouco,
pastor?”
- o pastorado é uma profissão de vida, onde o instrumento de trabalho
é a própria vida: Filipenses 2.17: “Entretanto, mesmo que seja eu oferecido
por libação (líquido de origem orgânica: leite, óleo, vinho...) sobre o
sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e, com todos vós, me congratulo”.
- O marceneiro aprende a manejar seus instrumentos - o pastor
aprende a manejar a sua própria vida, ou ele não é pastor
= o SER e o FAZER precisam estar em íntima correlação e coerência
= um piloto pode ser um excelente especialista na condução de uma aeronave,
mas, nos seus recreios, em países estranhos, ele pode ser uma pessoa moralmente
inapropriada e incorreta, e isto não influenciará na qualidade e especialidade
de sua profissão
= o ministério pastoral não pode ser bem sucedido se o pastor prega bem,
é um ótimo conselheiro, etc., mas, não é um bom marido e pai, leva uma vida
incorreta e inapropriada distante do púlpito e da Igreja – porque seu ministério
é feito com a sua vida.
- com este exemplo gostaria de deixar claro de que o CARGO do pastor
e a PESSOA do pastor estão muito inter-relacionados = o que até pode ser
diferente em outras profissões
= quando eu sou pastor eu exerço a minha profissão – eu deixo de ser pastor
no exato momento em que apenas executo atividades pastorais – executar atividades
pastorais (batizar, distribuir a ceia, ensinar, etc.) não faz de mim um
pastor, mesmo que pilotar (levantar vôo, cuidar de meteorologia, etc.) fazem
de alguém um piloto
= esta compreensão pode libertar-nos do equívoco conceitual do ativismo
desenfreado, isto é, de que preciso cumprir todos os itens descritos para
o meu cargo – o que eu não posso deixar, é de ser pastor com a minha vida:
em casa, no isolamento, em meus pensamentos, viajando sozinho, etc.
= tudo isto faz do pastorado um modo de vida sem recreios nem férias, e
pode ser extremamente desgastante – a não ser que eu aprenda a fazer do
cargo e da pessoa pastoral algo muito agradável
= Ex. Pr. Helmut Fürstenau, Pr. Peter Pauls que uniu seu pastoreio com sua
vontade social
= Ex. Heinz Ratzlaff voltou dos EUA disseram para ele: Se você entrar no
passar a aconselhar, você vai ter que deixar de pregar – caso contrário,
as pessoas não vão confiar em você – Heinz gostava muito de jogar vôlei
(ele foi da seleção paraguaia por um tempo), e assim ele comparecia a todos
os campeonatos de vôlei em Filadélfia, assistindo e jogando e sendo pastor
– ele foi procurado por muitas pessoas marginalizadas pelo sistema social
das colônias
- este é o outro lado que eu gostaria de deixar claro: Já que o pastorado
exige de que o meu CARGO seja exercido através da minha PESSOA, da minha
vida, eu preciso aprender a fazer o pastorado de um maneira que seja agradável
e saudável à minha pessoa
= tenho aprendido de que isto não é fácil, pois, muitas vezes as pessoas
têm outras expectativas para mim do que esta combinação CARGO – PESSOA me
permitem, e vez ou outra eu acabo me sentindo sozinho e não compreendido
= esta visão também pode nos libertar das lutas de poder que acontecem entre
forças de liderança na igreja.
3. A CRISE DE IDENTIDADE: SERVO DO SENHOR OU SERVO DO POVO?
3.1. A Identidade Pastoral de Paulo
- na carta aos tessalonicenses temos algo surpreendente (ao menos para
mim)
= 1 Ts 2.7 Paulo diz que ele fora gentil como uma mãe que cuida dos seus
filhos
= 1 Ts 2.11 Paulo diz que também fora um pai para os tessalonicenses
= Paulo tinha um senso de identidade pastoral muito profundo e intenso,
assim como foi a vida dele: lavrador, arquiteto, oleiro, general, mordomo,
embaixador, escravo, edificador, arauto, etc.
- gostaria de passear um pouco na vida de Paulo através de algumas
reflexões sobre a sua identidade pastoral
- aos Coríntios, Paulo declarou de que ele e seus colegas eram “o lixo
deste mundo... a escória de todos” 1Co 4.13.
= Corinto era uma cidade esplendorosa, com estátuas humanas com físicos
perfeitos, que glorificava o poder econômico e a profundidade filosófica
= Paulo certamente era um homem de baixa estrutura, curvo e calvo, talvez
quase cego e acometido de alguma doença
= ele confessa em 1 Co 2.3 de ter entrado em Corinto com temor, fraqueza
e muito tremor – ele não era diferente de qualquer um de nós
- penso de que não foi por acidente que a maioria das metáforas pastorais
de Paulo encontram-se em suas cartas aos membros da igreja de Corinto
= ele lutava com a sua identidade pastoral
= ele foi muito questionado naquela igreja
- em Tessalônica ele foi acusado de bajulação e desonestidade
= assim, na primeira carta Paulo enfatiza de que era honesto, acima de qualquer
suspeita, e seu discurso era marcado pela autenticidade e acompanhado do
poder de Deus
= ele foi gentil como uma mãe e encorajou como um pai – mas, embora desde
amor sacrificial, ele recebia e executava as ordens de Deus, e não as expectativas
das pessoas
- em outras palavras: a forte identidade pastoral de Paulo estava enraizada
em Deus
= 1 Ts 2.6: “Jamais andamos buscando glória de homens, nem de vós, nem de
outros”.
- em última análise, a nossa crise de identidade é um profundo anseio
de significado, busca de aceitação e reconhecimento, para evitar a rejeição
e o abandono infantilmente temido
= estudamos, trabalhamos, muitas vezes até oramos para alimentar o desejo
de ser significativos para mim mesmo e para as pessoas
= isto é um beco sem saída: a igreja pode dar aos seus ministros maravilhosa
satisfação – mas, se a nossa satisfação depende apenas do que o meio e a
igreja nos fornecem, então estaremos muito limitados para continuar
= nossas principais orientações e a nossa satisfação pastoral e pessoal
deverá vir de Deus
3.2. A Busca do Equilíbrio
- o desafio é manter o equilíbrio entre:
a. a identidade como Servos do Senhor
b. a identidade como Servos do Povo
= se nos virmos e vivermos cheios desta visão da identidade de Servos do
Senhor, então poderemos nos tornar antipáticos e insensíveis
= se nos virmos e vivermos cheios da visão de Servos do Povo, então mediremos
o nosso valor pela reação do povo, e ficaremos inseguros, procuraremos manipular
as pessoas e seremos facilmente manipulados para o bem ou para o mal – além
de que, nós mesmos nos tornaremos em manipuladores, impedindo muitas vezes
de que o Espírito Santo faça a sua obra
- Paulo combina os dois lados da equação pastoral:
= ele não busca o louvor da igreja ou de alguém, v. 6.
= mas, ele é brando “como uma mãe que acaricia os seus próprios filhos”
- Paulo considera-se propriedade de Cristo, e vive sob as ordens de
Cristo
= este é o fundamento de sua identidade pastoral
= em 1 Co 9.22 ele diz de que se fez tudo para com todos, mas, o “viver
para ele é Cristo”, e não o reconhecimento das pessoas por tudo que fez
CONCLUSÃO
- o que podemos fazer para nos desfazer das expectativas essencialmente
humanas:
= crescendo na experiência e vivência com Cristo – que estas sejam profundas,
constantes e revigorantes
= conhecendo a si mesmo, as necessidades pessoais não supridas que fragilizam
a estrutura, conhecer potenciais e fraquezas
= conhecer o outro, conhecer o funcionamento psicológico das pessoas, para
poder diferenciar suas boas intenções de suas ações inadequadas, para poder
entender como pessoas podem ficar confusas e obtusas, mesmo orando e buscando
as orientações na Palavra de Deus
= submeter-se ao espelho do outro, na pessoa de amigos confiáveis e neutros,
de supervisores ou outras pessoas que possam ajudar a refletir as ações
e decisões tomadas
( EM CONSTRUÇÃO ) Evangélicos Não dá mais para fingir que não vemos. Um a cada seis brasileiros já é evangélico - e o número continua crescendo. Se você quer entender o Brasil e antever o futuro, precisa antes saber como isso foi acontecer Por Sérgio Gwercman O texano Kenneth Hagin, nascido em 1917, era uma criança doente. Desde os 9 anos, ficou confinado na casa do avô. Aos 16, desenganado pelos médicos, infeliz e preso a uma cama, tinha poucas esperanças de ver sua vida melhorar. Um ano depois, em agosto de 1934, Hagin teve uma revelação. Ele compreendeu de repente o significado de um versículo do Evangelho de São Marcos. A passagem do Novo Testamento dizia: "Tudo quanto em oração pedires, credes que recebeste, e será assim convosco". Hagin então ergueu as mãos para o céu e agradeceu a Deus pela cura, mesmo sem ver sinal de melhora. Então levantou-se da cama. Estava curado. A mensagem, que Hagin popularizou por meio de mais de 100 livros, é clara: Deus é capaz de dar o que o fiel desejar. Basta ter fé e acreditar que as próprias palavras têm poder. Sendo assim, para os verdadeiros devotos, nunca faltará dinheiro ou saúde. Essa doutrina ficou conhecida como "teologia da prosperidade". A crença foi incorporada anos depois por várias igrejas. Ela é central no mais impressionante fenômeno religioso do Brasil contemporâneo: a explosão evangélica. No começo, essa explosão se deu em silêncio, praticamente ignorada pelas classes médias. Os templos evangélicos surgiam nas cidadezinhas perdidas e nas periferias miseráveis das metrópoles. Já não é mais assim. No primeiro dia de 2004, a Igreja Pentecostal Deus é Amor inaugurou no coração de São Paulo o seu novo templo. A obra tem tamanho de shopping center, arquitetura de gosto duvidoso e comporta 22 mil pessoas sentadas. É cinco vezes maior que a católica Catedral da Sé, lá perto. Há meio século os evangélicos são a religião que mais cresce no país. Nos últimos 20 anos, mais que triplicou o número de fiéis: de 7,8 milhões de pessoas em 1980 para 26,4 milhões em 2001, um pulo de 6,6% para 15,6% da população brasileira. Em algumas cidades, foram criados vagões de trem exclusivos para crentes, em que as pessoas podem viajar ouvindo pregações bíblicas. Em outras, não parece longe o dia em que eles representarão mais de 50% dos habitantes. Com mais de 400 anos de atraso, finalmente estamos sentindo os efeitos da Reforma protestante que varreu a Europa no século 16. UM TERRENINHO NO CÉU Evangélicos, é importante esclarecer, é a mesma coisa que protestantes. As duas palavras são sinônimas. Ou seja, evangélicas são praticamente todas as correntes nascidas do racha entre o teólogo alemão Martinho Lutero e a Igreja Católica, em 1517 (veja infográfico abaixo). O alemão estava especialmente chateado com o comportamento dos padres, que, segundo ele, tinham virado corretores imobiliários do céu, comercializando indulgências - vagas no Paraíso para quem pagasse. Lutero abriu a primeira fenda no até então indevassável poder papal sobre as almas do Ocidente. A ele se seguiram outros. Na Inglaterra, o rei Henrique VIII criou sua própria dissidência do catolicismo - depois batizada de anglicanismo - só porque o papa não queria que ele se divorciasse e casasse de novo. Na Suíça, Ulrico Zwinglio e João Calvino aprofundaram as reformas de Lutero. Zwinglio pregava o princípio que fundamentaria todo o movimento: o cristão deve seguir apenas a Bíblia (os católicos aceitam influências de teólogos, como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino). Já Calvino foi o responsável pela introdução do puritanismo, que combinava regras rígidas de conduta com uma fervorosa dedicação ao trabalho. No começo do século 20, o sociólogo alemão Max Weber publicou o texto clássico A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, no qual atribui a essa invenção de Calvino o sucesso do capitalismo em países evangélicos. Todos esses movimentos estimulavam o fim do monopólio da Igreja sobre a interpretação da Bíblia. Cabia a todo e qualquer cristão ler as Escrituras e tirar delas o que quisesse. Os protestantes recusavam a idéia de que um único líder - o papa - deveria guiar os rumos da religião. Foi isso que começou a fragmentação do movimento em diversas correntes, com pequenas diferenças doutrinárias. Surgem os batistas, os metodistas, os presbiterianos... Mas o Brasil colonial passou quase imune à avalanche protestante. Houve apenas algumas exceções, como os calvinistas franceses e holandeses que invadiram o país - o primeiro culto evangélico por estas terras foi celebrado por franceses no Rio de Janeiro, em 1557, só 57 anos depois da missa católica inaugural. Era proibido realizar cultos de qualquer religião que não o catolicismo no território português. A liberdade religiosa no Brasil só veio com a independência, na Constituição de 1824, ainda que impondo restrições de que as reuniões acontecessem em locais que não tivessem "aparência exterior de templo". No mesmo ano, alemães fundaram a primeira comunidade luterana do Brasil. Logo depois chegaram as correntes missionárias, como os metodistas, dispostas a pregar nas ruas para salvar almas. Eles caíram nas graças da elite intelectual republicana que, impressionada com a "ética protestante", defendia a presença de evangélicos como condição para a modernização do país. Mas os protestantes que prosperaram no Brasil pouco tinham a ver com a tal ética protestante de Weber. No início do século 20, a fundação de duas igrejas seria decisiva para definir o perfil evangélico nacional: a Congregação Cristã no Brasil, inaugurada em São Paulo pelo italiano Luigi Francescon, em 1910, e a Assembléia de Deus, aberta um ano depois em Belém pelos suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg. Apesar da origem européia, eles chegaram ao país via Estados Unidos, onde se envolveram com uma nova corrente protestante, o pentecostalismo, um grupo que crescia em popularidade por lá desde a virada do século. Começou aí o que o sociólogo Paul Freston chama de "a primeira onda do pentecostalismo brasileiro". O movimento era desaprovado tanto por católicos quanto pelos protestantes "históricos", como são conhecidas as correntes diretamente ligadas a Lutero e Calvino. Nem uns nem outros gostavam da principal característica da doutrina pentecostal: a exacerbação dos poderes sobrenaturais do Espírito Santo (a palavra "pentecostalismo" vem de uma passagem da Bíblia que diz que, num dia de Pentecostes - a Páscoa judaica -, o Espírito Santo desceu aos apóstolos e começou a operar milagres). O mais notável desses poderes é a capacidade que Deus tem de curar imediatamente qualquer problema de saúde - daí as cenas de aleijados abandonando muletas e míopes pisando nos óculos. O pentecostalismo cresceu na classe baixa, promovendo cultos de adoração fervorosa e improvisada, bem dissonantes dos protestantes tradicionais, tão formais quanto contidos. Para participar das novas congregações, os fiéis eram obrigados a se submeter a rígidas normas comportamentais. Os pentecostais eram os "crentes" estereotípicos: mulheres de cabelos compridos e saia, homens de terno e Bíblia na mão. As palavras essenciais para entender suas rotinas de vida são ascetismo, ou a recusa de usufruir os prazeres da carne, e sectarismo, o isolamento do restante da sociedade. Por trás delas, está a idéia de que o cristão deve se manter concentrado em Deus. Só assim ele pode evitar que o Diabo ganhe espaço na sua vida. Para os pentecostais, o mundo é simples: o que não é de Deus é o Diabo. A Deus é Amor, aquela que acabou de abrir um megatemplo no centro de São Paulo, é uma das mais rigorosas entre as pentecostais. Ela proíbe freqüentar praias, praticar esportes ou participar de festas. Às mulheres, é vetado cortar o cabelo e depilar. Crianças com mais de 7 anos não podem jogar bola, graças a um versículo bíblico que diz "desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança". Tantas regras têm compensação: para os pentecostais, o melhor da vida está reservado aos fiéis para depois da morte. Até a década de 50, esse modelo reinou sozinho no pentecostalismo nacional. Fez sucesso, mas ficou restrito a grupos relativamente pequenos. A chegada da "segunda onda", no entanto, traria uma novidade. É o que se convencionou chamar de "neopentecostalismo". Em 1951 desembarcou aqui a Igreja do Evangelho Quadrangular, inaugurando no país o pentecostalismo de costumes liberais. "Todas essas igrejas que fazem sucesso hoje são nossas filhas, netas ou bisnetas", diz o pastor Neslon Agnoletto, do conselho nacional da Quadrangular. De fato, inovações como os hinos com ritmos populares, a forte utilização do rádio e regras de comportamento menos duras, todos ingredientes indispensáveis do "evangelismo de massas", foram práticas importadas pela Quadrangular, fundada nos Estados Unidos em 1923. UM CRISTO, DUAS RELIGIÕESEntenda as principais diferenças entre o catolicismo e as religiões evangélicasCATÓLICOSParaísoA salvação está nas obras que se realizam durante a vidaDinheiroCondenam o lucro. A riqueza afasta os homens de Deus e do ParaísoDoutrinaAo lado da Bíblia, aceitam as reflexões de teólogos como base da doutrinaMariaAcreditam na santidade de Maria, a mãe virgem de DeusImagensConferem valor sagrado para estátuas que representam santosCelibatoO sacerdócio pode ser realizado apenas por homens com voto de celibatoLiderançaO papa é seu líder infalível, sucessor de São PedroInterpretaçãoA interpretação da Bíblia é exclusividade dos bispos e dos teólogosEVANGÉLICOSParaísoA salvação está na fé: basta aceitar Jesus para ter lugar no ParaísoDinheiroA prosperidade é sinal de que o fiel está predestinado à felicidade eternaDoutrinaRecusam qualquer ensinamento que não venha diretamente da BíbliaMariaRecusam a santidade de Maria, sua virgindade e sua ascensão aos céusImagensRejeitam qualquer forma de santidades e representaçõesCelibatoO sacerdócio é exercido por homens e mulheres, que podem constituir famíliaLiderançaRecusam a liderança e a infalibilidade do papaInterpretaçãoTodo fiel pode (e deve) ler e estudar sozinho a Bíblia DEUS É UM OFFICE-BOY Para resumir, neopentecostalismo quer dizer que Monique Evans, Gretchen e Marcelinho Carioca podem agora se considerar "crentes". Para isso, algumas adaptações aconteceram: saem os homens de terno e as mulheres de pêlos nas pernas, entram pessoas que se vestem com roupas comuns e não se animam a seguir normas rígidas de conduta (veja as diferenças entre pentecostais e neopentecostais). A primeira inovação foi riscar do mapa o ascetismo, o sectarismo e a crença de que a melhor parte da vida está reservada para o Paraíso. "A preocupação dos neopentecostais é com esta vida. O que interessa é o aqui e o agora", afirma o sociólogo Ricardo Mariano, autor de Neopentecostais - Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil. Outra diferença é a radicalização da divisão do Universo entre Deus e o Diabo. Para os neopentecostais, os homens não são responsáveis pelos atos de maldade que cometem: é o Diabo que os leva a pecar. Numa sessão de descarrego da Igreja Universal, o pastor explicou que, se o fiel enfrenta um problema há mais de três meses, é provável que esteja carregando um encosto. "Se a dificuldade completar um ano, daí não há dúvida: a culpa é do demônio", disse para a congregação. Ele não se referia só a entraves financeiros ou comportamentais. A receita vale para tudo, inclusive para doenças incuráveis. Assim, expulsar o demônio do corpo é a receita única para todos os males, de casamento infeliz até câncer no pulmão. O ritual é feito aos gritos de "sai, capeta", às vezes com lágrimas escorrendo pelo rosto e transes que terminam no exorcismo. Os cultos tornaram-se mais ativos, incluindo aplausos para Jesus e música gospel. Mas a inovação mais profunda do neopentecostalismo foi a aplicação da teologia da prosperidade, aquela exposta no primeiro parágrafo desta reportagem. Graças a ela, o neopentecostalismo ganhou o apelido de "fé de resultados". "A teologia da prosperidade faz o fiel encarar Deus como um office-boy", diz o cientista da religião e pastor Paulo Romeiro, autor de Supercrentes - O Evangelho Segundo os Profetas da Prosperidade. "O crente dá ordens e determina o que pretende. Não há qualquer reconhecimento das fragilidades humanas e de suas necessidades em relação a um Deus superior", afirma Romeiro. No Brasil, além da Universal, a Renascer em Cristo, a Sara Nossa Terra e a Internacional da Graça de Deus adotam a teologia da prosperidade. A força de enxurrada com que o neopentecostalismo cresceu desorganizou todo o protestantismo. "Há uma verdadeira perda de identidade no movimento evangélico mundial. O pentecostalismo flexibilizou suas exigências comportamentais e até os protestantes históricos passaram a aceitar a participação mais ativa do fiel no culto e algumas manifestações sobrenaturais", afirma o pastor batista Joaquim de Andrade, pesquisador da Agência de Informações da Religião. Mais e mais, boa parte do mundo protestante aceita a teologia da prosperidade. A onda de mudança foi bater até onde a Reforma de Lutero não tinha chegado: nas praias do catolicismo. A influência neopentecostal sobre a renovação carismática católica é tão grande que seu maior expoente no Brasil, padre Marcelo Rossi, é acusado de ter gravado hinos religiosos tirados de templos evangélicos. A árvore da féA palavra de um único homem - Jesus Cristo - gerou muitas religiões, divididas em três grandes ramos: o católico, o protestante e o ortodoxoMetade dos 2 bilhões de cristãos é católica e 10% são ortodoxos. Os outros 40% são evangélicos (ou protestantes). E as novas igrejas pentecostais e neopentecostais cresceram tanto que já são quase metade dos evangélicos - ou 19% da cristandade.CRISTOEmbora a Igreja atribua ao apóstolo Pedro a sua fundação, a cristandade primitiva pouco mais era que um punhado de grupos autônomos. Como o centro do mundo era Roma, era natural que a cidade fosse se tornando também a "capital" da Igreja, com o crescente poder do papaORTODOXOSQuando a cristandade se parte em duas, nasce essa nova religião, graças a discordâncias sobre questões teológicas pontuais, como o papel das imagens de Cristo. Menos centralizada que o catolicismo, a religião foi se fragmentando: as igrejas ortodoxas russa e grega são hoje as duas principais CISMA DO ORIENTEA separação do Império Romano entre o oriental e o ocidental, seguida da derrocada deste último, criou as condições para a primeira grande cisão do cristianismo, em 1054 - em grande medida uma disputa de poder entre o papa de Roma e o patriarca de Constantinopla, a capital do lado orientalCATÓLICOSOs católicos romanos mantêm-se subordinados ao poder centralizado do papa. Suas principais diferenças com os demais segmentos da religião estão relacionadas à crença em santos e às representações da imagem de Cristo. As maiores populações católicas, hoje, estão na AméricaPROTESTANTISMOEm 1517, Lutero denunciou falhas na condução do cristianismo.A polêmica acabou dando origem ao terceiro grande ramo do cristianismo, ao lado da Igreja Católica e da Ortodoxa. Como os protestantes (ou evangélicos) combatem a centralização papal, acabaram se fragmentando em muitas denominaçõesNEOPENTECOSTAISDiferem dos pentecostais pela liberalização dos costumes e a teologia da prosperidade. Embora sejam só uma folhinha recente num ramo secundário desta árvore, são responsáveis pela explosão mundial evangélicaPENTECOSTAISSurgidos nos EUA (onde batistas e metodistas são fortes), se espalharam por regiões pobres. Aceitam manifestações do Espírito Santo, como a capacidade de curar doentes. No Brasil, são conhecidos pelos costumes rígidosMETODISTASDiscípulos de John Wesley, que deixou a Igreja Anglicana para pregar nas ruas da Inglaterra. O nome é inspirado no grupo estudantil liderado por Wesley, chamados de "metódicos" por sua estrita observância religiosaLUTERANOSO movimento iniciado por Lutero está diretamente ligado aos primeiros ideais protestantes. A nova religião libera a comunhão com Deus para todos os indivíduos, sem a intervenção de sacerdotes, elimina os rituais considerados não bíblicos e permite a leitura da Bíblia na língua localBATISTASc omo surgiram na Inglaterra, podem ser considerados dissidência do anglicanismo. Rejeitam o batismo infantil e adotam o "batismo de fé" de adultos (que são imersos em água)ANGLICANOSA religião surgiu só para satisfazer o rei Henrique VIII, que queria se divorciar, contra a vontade do papa, e nomeou-se "Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra"CALVINISMOSe Lutero pregava mudanças dentro do catolicismo, João Calvino não tinha dúvidas: queria reformar a religião, em busca de uma maior observância à Bíblia e a princípios morais rígidos. Seus seguidores fundaram o presbiterianismo e o congregacionalismoFOLHAS SOLTASOs mórmons, adventistas e testemunhas de Jeová nasceram no protestantismo, mas geralmente não são considerados evangélicos porque, além da Bíblia, baseiam as doutrinas também em escrituras modernas PROMESSAS DE UM NOVO MUNDO Mas por que cada vez mais pessoas abandonam suas religiões para tornarem-se evangélicas? Nos anos 60, a nova religião era vista como uma forma de migrantes de zonas rurais enfrentarem a falta de valores e regras da sociedade moderna e estabelecerem relações de solidariedade na metrópole. Demorou dez anos para essa hipótese ser desacreditada por estudos que mostraram que as igrejas eram compostas igualmente pelos pobres nascidos e viventes na cidade e no campo. Houve espaço para teorias conspiratórias: o avanço evangélico seria um plano dos Estados Unidos (ou do Diabo) para dominar a América Latina. A hipótese foi defendida a sério pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, que na década de 80 enviou memorando ao Vaticano, citado no livro de Mariano, afirmando que a CIA, aliada à direita brasileira, acelerava a "expansão dessa religião alienante no continente para frear a proliferação da Igreja Católica progressista". Mas essas explicações não convencem ninguém e o avanço neopentecostal exigiu um novo foco nos estudos. Em seu mais recente trabalho, o ainda não publicado "Análise Sociológica do Crescimento Pentecostal no Brasil", Mariano afirma que as motivações para a conversão estariam nas soluções mágicas oferecidas. "Uma grande parcela da população não tem acesso ao serviço de saúde - e, quando tem, recebe atendimento precário e mal entende os médicos. É muito mais fácil, e faz mais sentido, acreditar que os problemas são causados pelo demônio e se tratar na igreja", afirma o sociólogo. Não é apenas a questão médica que está em jogo. A dualidade entre Deus e o Diabo é uma das mais eficientes respostas para a eterna pergunta sobre como é possível existirem tantas coisas ruins. Um presidiário pode culpar a influência do demônio pelo passado violento - uma explicação para o sucesso da religião nas prisões. Essa dualidade também pode estar na raiz da popularidade evangélica entre ex-viciados em drogas - e de sua comprovada eficácia na luta contra o vício. O apelo pode efetivamente ajudar ex-criminosos e ex-viciados a deixarem seus "maus hábitos" para trás. Com isso, os neopentecostais respondem satisfatoriamente às questões dos nossos tempos - coisa que outras religiões nem sempre conseguem fazer. Juntando tudo, o que se tem é uma religião que escancara uma ambição materialista e imediata na relação com Deus. Um apelo e tanto, que parece ter especial atração para os mais pobres. Estaríamos, portanto, diante de uma mudança naquilo que as pessoas esperam da experiência religiosa? "Não", responde o estudioso de religiões Antonio Flávio Pierucci, da Universidade de São Paulo. "A maior parte das religiões tem esse viés materialista. As pessoas sempre rezam com o objetivo de pedir e receber algo. A diferença é que os evangélicos assumem essa faceta sem se envergonhar." Seria injusto, no entanto, listar apenas explicações sociológicas para justificar a onda de conversões. Poucas religiões têm tanta disposição para atrair fiéis como os evangélicos. Templos são abertos nos mais distantes rincões e pastores dedicam-se com fervor. As igrejas estão à frente das demais no entendimento de que evangelizar é como convencer um consumidor a comprar. "Os depoimentos de fiéis na TV e no rádio são o apelo de marketing para demonstrar a eficiência dos serviços", diz Ari Pedro Oro, antropólogo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e organizador do livro Igreja Universal do Reino de Deus. As igrejas seduzem com um produto atraente e oferecem bom serviço. São religiosamente adeptas da mais pura e simples mentalidade empresarial. IGUAL MAS DIFERENTEAs igrejas neopentecostais se distinguem das pentecostais só nos detalhes - e detalhes fazem toda a diferençaPENTECOSTALISMONEOPENTECOSTALISMOQUEM É Congregação Cristã no Brasil, Deus é Amor, Assembléia de Deus, Brasil para CristoUniversal, Evangelho Quadrangular, Sara Nossa Terra, Internacional da Graça de Deus, RenascerPARAÍSOA vida na Terra é uma fase de espera.Qualquer sofrimento é mínimo se comparado às maravilhas do céuApós a morte, todo cristão será recompensado com o Paraíso. Mas é possível vivê-lo na Terra, recebendo as graças de DeusDÍZIMOO fiel deve dar à Igreja regularmente 10% de seu salário, como determina a BíbliaIdem, mas pagando o dízimo o fiel ganha o direito de exigir que Deus o recompensePRAZERESQuem é atraído por prazeres mundanos está se concentrando menos em Deus - e abrindo espaço para o DiaboNão há nada de errado em se divertir, desde que isso seja feito de forma moderada, sem excessosSEXOSexo serve para reprodução. Quem busca prazer sexual está se entregando ao demônioPrazer sexual é uma benção de Deus, desde que a relação aconteça entre marido e mulherVIDA SOCIAL Deve ficar restrita à comunidade. Álcool e música que não fala de Deus não são para crentesNão se deve beber nem fumar, mas não é necessário se isolar da sociedadeAPARÊNCIAAlgumas igrejas impõem trajes formais e proíbem a depilação e o corte de cabelo. Crianças não podem brincarA escolha da roupa é uma questão de gosto pessoal. Usar maquiagem e ser moderadamente vaidoso não é proibidoTABUSAdultério, homossexualismo e aborto são inaceitáveisIdem, idem, idem CRESCEI E MULTIPLICAI Em novembro do ano passado, um evangélico foi ao Programa do Ratinho pedir a devolução dos dízimos que havia dado à igreja. Argumentava que o pastor lhe prometera prosperidade em troca do dinheiro. Sem melhorar de vida, o fiel, como se fosse um consumidor lesado, foi ao Ratinho pedir o dinheiro de volta. Essa história ilustra de modo brilhante a relação que as neopentecostais criaram com seus fiéis-clientes. Elas prestam um serviço. E eles pagam. É bom lembrar que dar dinheiro a Deus, seja através da caridade ou de doações, é parte da doutrina de diversas religiões, incluindo todas do braço judaico-cristão. Com a teologia da prosperidade, no entanto, o dinheiro ganhou nova função. Agora é preciso dar para receber. Num de seus livros, Edir Macedo, o líder da Universal, explica que devemos formar uma "sociedade com Deus". "O que nos pertence (nossa vida, nossa força, nosso dinheiro) passa a pertencer a Deus; e o que é d'Ele (as bênçãos, a paz, a felicidade, a alegria, tudo de bom) passa a nos pertencer", afirma o bispo. É uma leitura polêmica do Evangelho. A idéia de que dar dinheiro é parte de uma relação de troca com Deus desperta calafrios em muitos religiosos. "É uma contradição. A Reforma protestante começou justamente porque Lutero se levantou contra a venda das indulgências", diz o pastor Paulo Cezar Brito, líder da Igreja Evangélica Maranata, uma pentecostal que rejeita a teologia da prosperidade. "Templo é dinheiro", diz a maldosa adaptação do ditado popular. "Deus é o caminho, Edir Macedo é o pedágio", diz outra. Na cabeça de muita gente, as igrejas evangélicas são ótimas opções de carreira para quem pretende enriquecer facilmente. Não dá para negar que muitos realmente ganharam dinheiro com a fé alheia - em especial os líderes das grandes igrejas (veja no quadro abaixo como se sobe na carreira evangélica). Como em qualquer empresa moderna, pastores hábeis que trazem muito dinheiro para a igreja ganham bem - ninguém confirma a informação, mas comenta-se que alguns salários se parecem com os de astros de futebol, na casa das várias dezenas de milhares de reais. Mas essas afirmações escondem também um preconceito. Em termos legais, não há diferença entre um templo evangélico e qualquer outro local de cultos religiosos. A Constituição garante a todos - evangélicos, católicos ou budistas - a mesma isenção de vários tributos, entre eles o IPTU e o Imposto de Renda. Além disso, o crescimento da concorrência faz ser cada vez mais difícil sobreviver entre tantas denominações evangélicas (conheça as cinco maiores igrejas). Calcula-se que uma congregação precise ter no mínimo 50 integrantes para recolher dízimos e doações em quantidade suficiente para cobrir as despesas mínimas, como aluguel e contas de luz e água. Nessas horas, ser a religião dos pobres não é vantagem. Por isso, cada denominação procura seu nicho de atuação. A Assembléia de Deus prefere abrir templos dentro de bairros isolados, enquanto a Universal opta pelas grandes vias de acesso - uma decisão que pouco tem a ver com a fé, segue mais a lógica da competição de qualquer mercado capitalista. PROFISSÃO DE FÉComo prosperar numa igreja evangélicaPara o fiel virar pastor, o importante é ter carisma. Até há pouco tempo, nem mesmo a formação teológica era exigida - algo que vem mudando. Certamente, as chances de um pastor ganhar dinheiro são proporcionais ao seu talento em arrecadar. Cada denominação estabelece seu sistema de organização e escolhe o nome dos cargos - o espírito de liberdade protestante ainda é levado a sério. No quadro abaixo, usamos como exemplo o "plano de carreira" da Igreja do Evangelho QuadrangularDiáconoÉ o encarregado pelo bem-estar durante os cultos. Cuida da organização do templo, atende novos fiéis e faz a triagem dos casos que serão encaminhados para o pastor. É a única função permitida aos leigos.O trabalho é voluntárioObreiroAuxilia o pastor comandando encontros religiosos residenciais, visitando doentes e pregando em novas congregações. Apenas os formados no Instituto Teológico da Quadrangular podem exercer a função. Não há salárioAspirante ao ministérioObreiros com carisma e vocação para pregar, com pelo menos quatro anos de experiência, são convidados a comandar cultos na ausência do pastor principal. Esse trabalho também é voluntárioPastor localDepois de dois anos como assistente, o sujeito pode comandar os cultos, administrar o templo e atender a congregação - e passa finalmente a ganhar por isso. A remuneração é proporcional ao tamanho do templo e, claro, à sua arrecadaçãoSuperintendentePastor responsável por um templo de importância local. Também é encarregado pelo monitoramento de outros templos menores da mesma regiãoDiretorIntegra a cúpula nacional, formada por dez pastores eleitos anualmente. Decide os rumos administrativos e religiosos da Quadrangular O FUTURO A DEUS PERTENCE? O maior país católico do mundo pode estar se tornando uma nação de maioria evangélica? Dificilmente, concorda a maioria dos especialistas. Mas eles discordam na hora de prever o ritmo do crescimento. De um lado, estão os que acham que o boom já passou e que a Igreja Católica, com a renovação carismática, equilibrou o jogo. Do outro, pesquisadores que vêem no frágil compromisso dos brasileiros com a religião um prato cheio para os neopentecostais. Cerca de 80% dos nossos católicos se dizem não-praticantes. É um enorme mercado para os evangélicos. Não é à toa que a maioria dos convertidos vem do catolicismo. Mas, na hora de afirmar a identidade e escolher um adversário, o pentecostalismo ataca o candomblé e a umbanda. E vai na jugular, às vezes escorregando para a intolerância religiosa. Em quase todos os templos é possível ouvir que essas religiões cultuam o Diabo. Também há casos de ataques a terreiros estimulados por pastores. Pode-se dizer que a briga contra as religiões afro-brasileiras, e não contra o catolicismo, o verdadeiro rival, seja uma estratégia de marketing. Quando enfrentaram os católicos, os evangélicos levaram um contra-ataque duro, que envolveu denúncias de charlatanismo e estelionato e ameaçou a sobrevivência das igrejas, além de provavelmente afastar fiéis. A popularidade dos evangélicos chegou ao fundo do poço quando um pastor da Universal chutou na TV uma estátua de Nossa Senhora Aparecida (os evangélicos não cultuam imagens). Mas, embora esses episódios possam dar a impressão de que o fanatismo religioso esteja em alta no Brasil, muitos especialistas defendem a tese de que o crescimento evangélico seja um indício do contrário: de que cada vez mais gente rejeita a religião. É o que sugerem pesquisas mostrando concentrações de evangélicos nas mesmas regiões onde há altos índices de pessoas "sem religião" - caso do estado do Rio e da zona leste paulistana. "As pessoas estão experimentando uma nova crença. Se perceberem que não está dando certo, que Deus não é tão fiel, podem desistir da busca", diz o sociólogo Pierucci. "Abandonar a religião oficial é o primeiro passo de saída do mundo religioso", afirma. Um indício de que a conversão ao mundo evangélico significa um arrefecimento do fervor religioso é o fato de que as neopentecostais exigem poucas mudanças nos fiéis. O resultado é que, quanto mais crescem, menos os evangélicos mudam a cara do país - bem ao contrário da revolução que ocorreu na Europa com as idéias de Lutero e Calvino. Prova disso é a programação da Rede Record, comprada pela Igreja Universal com o dinheiro do dízimo, que pouco difere das concorrentes. Talvez o trunfo evangélico para conquistar almas seja sua capacidade de adaptação. Com a rejeição à centralização da interpretação bíblica herdada da Reforma protestante, qualquer um pode abrir um templo e pregar como quiser. Assim, enquanto seus "irmãos" se expandiam em áreas pobres, a Igreja Bola de Neve cresceu 1 100% em três anos orando para os ricos. Seus dez templos, cuja marca registrada são as pranchas de surfe como púlpito e os hinos religiosos em ritmo de reggae, funcionam em áreas de classe média-alta de São Paulo e cidades de praia como Florianópolis, Itacaré e Guarujá. O público são jovens da classe A e B, com curso superior. Para quem está acostumado a fiéis pobres e pouco instruídos, a Bola de Neve é uma surpresa desconcertante. Para os evangélicos, somente mais uma prova de que a obra de Deus chegará a todos os corações. AS TOP FIVE DE DEUSAs cinco maiores igrejas evangélicas do BrasilASSEMBLÉIA DE DEUSOrientação: pentecostalFiéis: 8,4 milhõesFundação: 1911Principais áreas de atuação: Rio de Janeiro e São PauloCrescimento anual**: 14,8%IGREJA BATISTAOrientação: tradicionalFiéis: 3,1 milhõesFundação: 1889 (no Brasil)Principais áreas de atuação: Rio de JaneiroCrescimento anual**: não disponívelCONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASILOrientação: pentecostalFiéis: 2,5 milhõesFundação: 1910Principais áreas de atuação: São Paulo e ParanáCrescimento anual**: 4,8%IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUSOrientação: neopentecostalFiéis: 2,1 milhõesFundação:1977Principais áreas de atuação: Rio de Janeiro e São PauloCrescimento anual**: 25,7%IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAROrientação: neopentecostalFiéis: 1,3 milhãoFundação: 1951 (no Brasil)Principais áreas de atuação: Belo Horizonte e CuritibaCrescimento anual**: 15,8%*Fonte: Atlas da Filiação Religiosa e Indicadores Sociais no Brasil/IBGE**Entre 1991 e 2000 Revista Superinteressante de 17 de fevereiro de 2004 http://super.abril.com.br/revista/0197/capa/1971.html
Evangélicos
Não
dá mais para fingir que não vemos. Um a cada seis brasileiros já é evangélico –
e o número continua crescendo. Se você quer entender o Brasil e antever o
futuro, precisa antes saber como isso foi acontecer
Por Sérgio
Gwercman
O
texano Kenneth Hagin, nascido em 1917, era uma criança doente. Desde os 9 anos,
ficou confinado na casa do avô. Aos 16, desenganado pelos médicos, infeliz e
preso a uma cama, tinha poucas esperanças de ver sua vida melhorar. Um ano
depois, em agosto de 1934, Hagin teve uma revelação. Ele compreendeu de repente
o significado de um versículo do Evangelho de São Marcos. A passagem do Novo
Testamento dizia: "Tudo quanto em oração pedires, credes que recebeste, e será
assim convosco". Hagin então ergueu as mãos para o céu e agradeceu a Deus pela
cura, mesmo sem ver sinal de melhora. Então levantou-se da cama. Estava
curado.
A
mensagem, que Hagin popularizou por meio de mais de 100 livros, é clara: Deus é
capaz de dar o que o fiel desejar. Basta ter fé e acreditar que as próprias
palavras têm poder. Sendo assim, para os verdadeiros devotos, nunca faltará
dinheiro ou saúde. Essa doutrina ficou conhecida como "teologia da
prosperidade". A crença foi incorporada anos depois por várias igrejas. Ela é
central no mais impressionante fenômeno religioso do Brasil contemporâneo: a
explosão evangélica.
No
começo, essa explosão se deu em silêncio, praticamente ignorada pelas classes
médias. Os templos evangélicos surgiam nas cidadezinhas perdidas e nas
periferias miseráveis das metrópoles. Já não é mais assim. No primeiro dia de
2004, a Igreja Pentecostal Deus é Amor inaugurou no coração de São Paulo o seu
novo templo. A obra tem tamanho de shopping center, arquitetura de gosto
duvidoso e comporta 22 mil pessoas sentadas.
É cinco
vezes maior que a católica Catedral da Sé, lá perto.
Há meio
século os evangélicos são a religião que mais cresce no país. Nos últimos 20
anos, mais que triplicou o número de fiéis: de 7,8 milhões de pessoas em 1980
para 26,4 milhões em 2001, um pulo de 6,6% para 15,6% da população brasileira.
Em algumas cidades, foram criados vagões de trem exclusivos para crentes, em que
as pessoas podem viajar ouvindo pregações bíblicas. Em outras, não parece longe
o dia em que eles representarão mais de 50% dos habitantes. Com mais de 400 anos
de atraso, finalmente estamos sentindo os efeitos da Reforma protestante que
varreu a Europa no século 16.
UM TERRENINHO NO CÉU
Evangélicos,
é importante esclarecer, é a mesma coisa que protestantes. As duas palavras são
sinônimas. Ou seja, evangélicas são praticamente todas as correntes nascidas do
racha entre o teólogo alemão Martinho Lutero e a Igreja Católica, em 1517 (veja
infográfico abaixo). O alemão estava especialmente chateado com o comportamento
dos padres, que, segundo ele, tinham virado corretores imobiliários do céu,
comercializando indulgências – vagas no Paraíso para quem pagasse.
Lutero
abriu a primeira fenda no até então indevassável poder papal sobre as almas do
Ocidente. A ele se seguiram outros. Na Inglaterra, o rei Henrique VIII criou sua
própria dissidência do catolicismo – depois batizada de anglicanismo – só porque
o papa não queria que ele se divorciasse e casasse de novo. Na Suíça, Ulrico
Zwinglio e João Calvino aprofundaram as reformas de Lutero. Zwinglio pregava o
princípio que fundamentaria todo o movimento: o cristão deve seguir apenas a
Bíblia (os católicos aceitam influências de teólogos, como Santo
Agostinho e Santo Tomás de Aquino). Já Calvino foi o responsável pela introdução
do puritanismo, que combinava regras rígidas de conduta com uma fervorosa
dedicação ao trabalho. No começo do século 20, o sociólogo alemão Max Weber
publicou o texto clássico A Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo, no qual atribui a essa invenção de Calvino o sucesso do
capitalismo em países evangélicos.
Todos
esses movimentos estimulavam o fim do monopólio da Igreja sobre a interpretação
da Bíblia. Cabia a todo e qualquer cristão ler as Escrituras e tirar
delas o que quisesse. Os protestantes recusavam a idéia de que um único líder –
o papa – deveria guiar os rumos da religião. Foi isso que começou a fragmentação
do movimento em diversas correntes, com pequenas diferenças doutrinárias. Surgem
os batistas, os metodistas, os presbiterianos...
Mas o
Brasil colonial passou quase imune à avalanche protestante. Houve apenas algumas
exceções, como os calvinistas franceses e holandeses que invadiram o país – o
primeiro culto evangélico por estas terras foi celebrado por franceses no Rio de
Janeiro, em 1557, só 57 anos depois da missa católica inaugural. Era proibido
realizar cultos de qualquer religião que não o catolicismo no território
português.
A
liberdade religiosa no Brasil só veio com a independência, na Constituição de
1824, ainda que impondo restrições de que as reuniões acontecessem em locais que
não tivessem "aparência exterior de templo". No mesmo ano, alemães fundaram a
primeira comunidade luterana do Brasil. Logo depois chegaram as correntes
missionárias, como os metodistas, dispostas a pregar nas ruas para salvar almas.
Eles caíram nas graças da elite intelectual republicana que, impressionada com a
"ética protestante", defendia a presença de evangélicos como condição para a
modernização do país.
Mas os
protestantes que prosperaram no Brasil pouco tinham a ver com a tal ética
protestante de Weber. No início do século 20, a fundação de duas igrejas seria
decisiva para definir o perfil evangélico nacional: a Congregação Cristã no
Brasil, inaugurada em São Paulo pelo italiano Luigi Francescon, em 1910, e a
Assembléia de Deus, aberta um ano depois em Belém pelos suecos Gunnar Vingren e
Daniel Berg. Apesar da origem européia, eles chegaram ao país via Estados
Unidos, onde se envolveram com uma nova corrente protestante, o pentecostalismo,
um grupo que crescia em popularidade por lá desde a virada do
século.
Começou
aí o que o sociólogo Paul Freston chama de "a primeira onda do pentecostalismo
brasileiro". O movimento era desaprovado tanto por católicos quanto pelos
protestantes "históricos", como são conhecidas as correntes diretamente ligadas
a Lutero e Calvino. Nem uns nem outros gostavam da principal característica da
doutrina pentecostal: a exacerbação dos poderes sobrenaturais do Espírito Santo
(a palavra "pentecostalismo" vem de uma passagem da Bíblia que diz que,
num dia de Pentecostes – a Páscoa judaica –, o Espírito Santo desceu aos
apóstolos e começou a operar milagres). O mais notável desses poderes é a
capacidade que Deus tem de curar imediatamente qualquer problema de saúde – daí
as cenas de aleijados abandonando muletas e míopes pisando nos óculos. O
pentecostalismo cresceu na classe baixa, promovendo cultos de adoração fervorosa
e improvisada, bem dissonantes dos protestantes tradicionais, tão formais quanto
contidos.
Para
participar das novas congregações, os fiéis eram obrigados a se submeter a
rígidas normas comportamentais. Os pentecostais eram os "crentes"
estereotípicos: mulheres de cabelos compridos e saia, homens de terno e
Bíblia na mão. As palavras essenciais para entender suas rotinas de vida
são ascetismo, ou a recusa de usufruir os prazeres da carne, e sectarismo, o
isolamento do restante da sociedade. Por trás delas, está a idéia de que o
cristão deve se manter concentrado em Deus. Só assim ele pode evitar que o Diabo
ganhe espaço na sua vida. Para os pentecostais, o mundo é simples: o que não é
de Deus é o Diabo.
A Deus
é Amor, aquela que acabou de abrir um megatemplo no centro de São Paulo, é uma
das mais rigorosas entre as pentecostais. Ela proíbe freqüentar praias, praticar
esportes ou participar de festas. Às mulheres, é vetado cortar o cabelo e
depilar. Crianças com mais de 7 anos não podem jogar bola, graças a um versículo
bíblico que diz "desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança".
Tantas regras têm compensação: para os pentecostais, o melhor da vida está
reservado aos fiéis para depois da morte.
Até a
década de 50, esse modelo reinou sozinho no pentecostalismo nacional. Fez
sucesso, mas ficou restrito a grupos relativamente pequenos. A chegada da
"segunda onda", no entanto, traria uma novidade. É o que se convencionou chamar
de "neopentecostalismo". Em 1951 desembarcou aqui a Igreja do Evangelho
Quadrangular, inaugurando no país o pentecostalismo de costumes liberais. "Todas
essas igrejas que fazem sucesso hoje são nossas filhas, netas ou bisnetas", diz
o pastor Neslon Agnoletto, do conselho nacional da Quadrangular. De fato,
inovações como os hinos com ritmos populares, a forte utilização do rádio e
regras de comportamento menos duras, todos ingredientes indispensáveis do
"evangelismo de massas", foram práticas importadas pela Quadrangular, fundada
nos Estados Unidos em 1923.
UM CRISTO, DUAS RELIGIÕES
|
DEUS É UM OFFICE-BOY
Para
resumir, neopentecostalismo quer dizer que Monique Evans, Gretchen e Marcelinho
Carioca podem agora se considerar "crentes". Para isso, algumas adaptações
aconteceram: saem os homens de terno e as mulheres de pêlos nas pernas, entram
pessoas que se vestem com roupas comuns e não se animam a seguir normas rígidas
de conduta (veja as diferenças entre pentecostais e
neopentecostais). A primeira inovação foi riscar do mapa o ascetismo,
o sectarismo e a crença de que a melhor parte da vida está reservada para o
Paraíso. "A preocupação dos neopentecostais é com esta vida. O que interessa é o
aqui e o agora", afirma o sociólogo Ricardo Mariano, autor de Neopentecostais
– Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil.
Outra
diferença é a radicalização da divisão do Universo entre Deus e o Diabo. Para os
neopentecostais, os homens não são responsáveis pelos atos de maldade que
cometem: é o Diabo que os leva a pecar. Numa sessão de descarrego da Igreja
Universal, o pastor explicou que, se o fiel enfrenta um problema há mais de três
meses, é provável que esteja carregando um encosto. "Se a dificuldade completar
um ano, daí não há dúvida: a culpa é do demônio", disse para a congregação. Ele
não se referia só a entraves financeiros ou comportamentais. A receita vale para
tudo, inclusive para doenças incuráveis. Assim, expulsar o demônio do corpo é a
receita única para todos os males, de casamento infeliz até câncer no pulmão. O
ritual é feito aos gritos de "sai, capeta", às vezes com lágrimas escorrendo
pelo rosto e transes que terminam no exorcismo. Os cultos tornaram-se mais
ativos, incluindo aplausos para Jesus e música gospel. Mas a inovação mais
profunda do neopentecostalismo foi a aplicação da teologia da prosperidade,
aquela exposta no primeiro parágrafo desta reportagem. Graças a ela, o
neopentecostalismo ganhou o apelido de "fé de resultados".
"A
teologia da prosperidade faz o fiel encarar Deus como um office-boy", diz o
cientista da religião e pastor Paulo Romeiro, autor de Supercrentes – O
Evangelho Segundo os Profetas da Prosperidade. "O crente dá ordens e
determina o que pretende. Não há qualquer reconhecimento das fragilidades
humanas e de suas necessidades em relação a um Deus superior", afirma Romeiro.
No Brasil, além da Universal, a Renascer em Cristo, a Sara Nossa Terra e a
Internacional da Graça de Deus adotam a teologia da
prosperidade.
A força
de enxurrada com que o neopentecostalismo cresceu desorganizou todo o
protestantismo. "Há uma verdadeira perda de identidade no movimento evangélico
mundial. O pentecostalismo flexibilizou suas exigências comportamentais e até os
protestantes históricos passaram a aceitar a participação mais ativa do fiel no
culto e algumas manifestações sobrenaturais", afirma o pastor batista Joaquim de
Andrade, pesquisador da Agência de Informações da Religião. Mais e mais, boa
parte do mundo protestante aceita a teologia da
prosperidade.
A onda
de mudança foi bater até onde a Reforma de Lutero não tinha chegado: nas praias
do catolicismo. A influência neopentecostal sobre a renovação carismática
católica é tão grande que seu maior expoente no Brasil, padre Marcelo Rossi, é
acusado de ter gravado hinos religiosos tirados de templos
evangélicos.
A
árvore da fé E
as novas igrejas pentecostais e neopentecostais cresceram tanto que já são
quase metade dos evangélicos – ou 19% da cristandade. CRISTO ORTODOXOS CISMA
DO ORIENTE CATÓLICOS BATISTAS FOLHAS
SOLTAS |
PROMESSAS DE UM NOVO MUNDO
Mas por
que cada vez mais pessoas abandonam suas religiões para tornarem-se evangélicas?
Nos anos 60, a nova religião era vista como uma forma de migrantes de zonas
rurais enfrentarem a falta de valores e regras da sociedade moderna e
estabelecerem relações de solidariedade na metrópole. Demorou dez anos para essa
hipótese ser desacreditada por estudos que mostraram que as igrejas eram
compostas igualmente pelos pobres nascidos e viventes na cidade e no
campo.
Houve
espaço para teorias conspiratórias: o avanço evangélico seria um plano dos
Estados Unidos (ou do Diabo) para dominar a América Latina. A hipótese foi
defendida a sério pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, que na década
de 80 enviou memorando ao Vaticano, citado no livro de Mariano, afirmando que a
CIA, aliada à direita brasileira, acelerava a "expansão dessa religião alienante
no continente para frear a proliferação da Igreja Católica
progressista".
Mas
essas explicações não convencem ninguém e o avanço neopentecostal exigiu um novo
foco nos estudos. Em seu mais recente trabalho, o ainda não publicado "Análise
Sociológica do Crescimento Pentecostal no Brasil", Mariano afirma que as
motivações para a conversão estariam nas soluções mágicas oferecidas. "Uma
grande parcela da população não tem acesso ao serviço de saúde – e, quando tem,
recebe atendimento precário e mal entende os médicos. É muito mais fácil, e faz
mais sentido, acreditar que os problemas são causados pelo demônio e se tratar
na igreja", afirma o sociólogo.
Não é
apenas a questão médica que está em jogo. A dualidade entre Deus e o Diabo é uma
das mais eficientes respostas para a eterna pergunta sobre como é possível
existirem tantas coisas ruins. Um presidiário pode culpar a influência do
demônio pelo passado violento – uma explicação para o sucesso da religião nas
prisões. Essa dualidade também pode estar na raiz da popularidade evangélica
entre ex-viciados em drogas – e de sua comprovada eficácia na luta contra o
vício. O apelo pode efetivamente ajudar ex-criminosos e ex-viciados a deixarem
seus "maus hábitos" para trás. Com isso, os neopentecostais respondem
satisfatoriamente às questões dos nossos tempos – coisa que outras religiões nem
sempre conseguem fazer.
Juntando
tudo, o que se tem é uma religião que escancara uma ambição materialista e
imediata na relação com Deus. Um apelo e tanto, que parece ter especial atração
para os mais pobres. Estaríamos, portanto, diante de uma mudança naquilo que as
pessoas esperam da experiência religiosa? "Não", responde o estudioso de
religiões Antonio Flávio Pierucci, da Universidade de São Paulo. "A maior parte
das religiões tem esse viés materialista. As pessoas sempre rezam com o objetivo
de pedir e receber algo. A diferença é que os evangélicos assumem essa faceta
sem se envergonhar."
Seria
injusto, no entanto, listar apenas explicações sociológicas para justificar a
onda de conversões. Poucas religiões têm tanta disposição para atrair fiéis como
os evangélicos. Templos são abertos nos mais distantes rincões e pastores
dedicam-se com fervor. As igrejas estão à frente das demais no entendimento de
que evangelizar é como convencer um consumidor a comprar. "Os depoimentos de
fiéis na TV e no rádio são o apelo de marketing para demonstrar a eficiência dos
serviços", diz Ari Pedro Oro, antropólogo da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul e organizador do livro Igreja Universal do Reino de Deus. As
igrejas seduzem com um produto atraente e oferecem bom serviço. São
religiosamente adeptas da mais pura e simples mentalidade
empresarial.
IGUAL MAS DIFERENTE
|
CRESCEI E MULTIPLICAI
Em
novembro do ano passado, um evangélico foi ao Programa do Ratinho pedir a
devolução dos dízimos que havia dado à igreja. Argumentava que o pastor lhe
prometera prosperidade em troca do dinheiro. Sem melhorar de vida, o fiel, como
se fosse um consumidor lesado, foi ao Ratinho pedir o dinheiro de
volta.
Essa
história ilustra de modo brilhante a relação que as neopentecostais criaram com
seus fiéis-clientes. Elas prestam um serviço. E eles pagam. É bom lembrar que
dar dinheiro a Deus, seja através da caridade ou de doações, é parte da doutrina
de diversas religiões, incluindo todas do braço judaico-cristão. Com a teologia
da prosperidade, no entanto, o dinheiro ganhou nova função. Agora é preciso dar
para receber. Num de seus livros, Edir Macedo, o líder da Universal, explica que
devemos formar uma "sociedade com Deus". "O que nos pertence (nossa vida, nossa
força, nosso dinheiro) passa a pertencer a Deus; e o que é d’Ele (as bênçãos, a
paz, a felicidade, a alegria, tudo de bom) passa a nos pertencer", afirma o
bispo.
É uma
leitura polêmica do Evangelho. A idéia de que dar dinheiro é parte de uma
relação de troca com Deus desperta calafrios em muitos religiosos. "É uma
contradição. A Reforma protestante começou justamente porque Lutero se levantou
contra a venda das indulgências", diz o pastor Paulo Cezar Brito, líder da
Igreja Evangélica Maranata, uma pentecostal que rejeita a teologia da
prosperidade.
"Templo
é dinheiro", diz a maldosa adaptação do ditado popular. "Deus é o caminho, Edir
Macedo é o pedágio", diz outra. Na cabeça de muita gente, as igrejas evangélicas
são ótimas opções de carreira para quem pretende enriquecer facilmente. Não dá
para negar que muitos realmente ganharam dinheiro com a fé alheia – em especial
os líderes das grandes igrejas (veja no quadro abaixo como se sobe na carreira
evangélica). Como em qualquer empresa moderna, pastores hábeis que trazem muito
dinheiro para a igreja ganham bem – ninguém confirma a informação, mas
comenta-se que alguns salários se parecem com os de astros de futebol, na casa
das várias dezenas de milhares de reais. Mas essas afirmações escondem também um
preconceito. Em termos legais, não há diferença entre um templo evangélico e
qualquer outro local de cultos religiosos. A Constituição garante a todos –
evangélicos, católicos ou budistas – a mesma isenção de vários tributos, entre
eles o IPTU e o Imposto de Renda.
Além
disso, o crescimento da concorrência faz ser cada vez mais difícil sobreviver
entre tantas denominações evangélicas (conheça as cinco maiores igrejas). Calcula-se que uma
congregação precise ter no mínimo 50 integrantes para recolher dízimos e doações
em quantidade suficiente para cobrir as despesas mínimas, como aluguel e contas
de luz e água. Nessas horas, ser a religião dos pobres não é vantagem. Por isso,
cada denominação procura seu nicho de atuação. A Assembléia de Deus prefere
abrir templos dentro de bairros isolados, enquanto a Universal opta pelas
grandes vias de acesso – uma decisão que pouco tem a ver com a fé, segue mais a
lógica da competição de qualquer mercado capitalista.
PROFISSÃO DE FÉ Obreiro Aspirante
ao ministério Pastor local Superintendente Diretor |
O FUTURO A DEUS PERTENCE?
O maior
país católico do mundo pode estar se tornando uma nação de maioria evangélica?
Dificilmente, concorda a maioria dos especialistas. Mas eles discordam na hora
de prever o ritmo do crescimento. De um lado, estão os que acham que o
boom já passou e que a Igreja Católica, com a renovação carismática,
equilibrou o jogo. Do outro, pesquisadores que vêem no frágil compromisso dos
brasileiros com a religião um prato cheio para os neopentecostais. Cerca de 80%
dos nossos católicos se dizem não-praticantes. É um enorme mercado para os
evangélicos.
Não é à
toa que a maioria dos convertidos vem do catolicismo. Mas, na hora de afirmar a
identidade e escolher um adversário, o pentecostalismo ataca o candomblé e a
umbanda. E vai na jugular, às vezes escorregando para a intolerância religiosa.
Em quase todos os templos é possível ouvir que essas religiões cultuam o Diabo.
Também há casos de ataques a terreiros estimulados por pastores. Pode-se dizer
que a briga contra as religiões afro-brasileiras, e não contra o catolicismo, o
verdadeiro rival, seja uma estratégia de marketing. Quando enfrentaram os
católicos, os evangélicos levaram um contra-ataque duro, que envolveu denúncias
de charlatanismo e estelionato e ameaçou a sobrevivência das igrejas, além de
provavelmente afastar fiéis. A popularidade dos evangélicos chegou ao fundo do
poço quando um pastor da Universal chutou na TV uma estátua de Nossa Senhora
Aparecida (os evangélicos não cultuam imagens).
Mas,
embora esses episódios possam dar a impressão de que o fanatismo religioso
esteja em alta no Brasil, muitos especialistas defendem a tese de que o
crescimento evangélico seja um indício do contrário: de que cada vez mais gente
rejeita a religião. É o que sugerem pesquisas mostrando concentrações de
evangélicos nas mesmas regiões onde há altos índices de pessoas "sem religião" –
caso do estado do Rio e da zona leste paulistana. "As pessoas estão
experimentando uma nova crença. Se perceberem que não está dando certo, que Deus
não é tão fiel, podem desistir da busca", diz o sociólogo Pierucci. "Abandonar a
religião oficial é o primeiro passo de saída do mundo religioso",
afirma.
Um
indício de que a conversão ao mundo evangélico significa um arrefecimento do
fervor religioso é o fato de que as neopentecostais exigem poucas mudanças nos
fiéis. O resultado é que, quanto mais crescem, menos os evangélicos mudam a cara
do país – bem ao contrário da revolução que ocorreu na Europa com as idéias de
Lutero e Calvino. Prova disso é a programação da Rede Record, comprada pela
Igreja Universal com o dinheiro do dízimo, que pouco difere das
concorrentes.
Talvez
o trunfo evangélico para conquistar almas seja sua capacidade de adaptação. Com
a rejeição à centralização da interpretação bíblica herdada da Reforma
protestante, qualquer um pode abrir um templo e pregar como quiser. Assim,
enquanto seus "irmãos" se expandiam em áreas pobres, a Igreja Bola de Neve
cresceu 1 100% em três anos orando para os ricos. Seus dez templos, cuja marca
registrada são as pranchas de surfe como púlpito e os hinos religiosos em ritmo
de reggae, funcionam em áreas de classe média-alta de São Paulo e cidades de
praia como Florianópolis, Itacaré e Guarujá. O público são jovens da classe A e
B, com curso superior. Para quem está acostumado a fiéis pobres e pouco
instruídos, a Bola de Neve é uma surpresa desconcertante. Para os evangélicos,
somente mais uma prova de que a obra de Deus chegará a todos os
corações.
AS
TOP FIVE DE DEUS IGREJA
BATISTA CONGREGAÇÃO
CRISTÃ NO BRASIL IGREJA
UNIVERSAL DO REINO DE DEUS IGREJA
DO EVANGELHO QUADRANGULAR |
Revista Superinteressante de 17 de fevereiro de
2004
http://super.abril.com.br/revista/0197/capa/1971.html
História do Cristianismo
2004
17/02/04
Convido-os hoje para uma grande aventura. A caminhada que começou na cruz e que pretende levar o evangelho da cruz até a consumação dos séculos é uma jornada de muitas peripécias.
Este evangelho que é uma
loucura para os que vivem na carne, o evangelho da cruz, cuja mensagem
Se alguém quer
vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e
siga-me.(LK
9.23), dia a dia
crucifique seus próprios desejos e siga a
Jesus, não foi feito para conquistar as pessoas
automaticamente.
É preciso que elas sejam
tocadas pelo Espírito de Deus e aceitem se submeter ao Senhor Jesus, aceitem se
humilhar debaixo do seu Senhorio e da sua vontade.
As religiões engendradas
pela carnalidade e pela fantasia humana prometem um além cheio de prazeres
carnais como a fé muçulmana, mas a cristã é aquela que não promete solução de
todos os problemas humanos, pois “As raposas têm
seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar
a cabeça. (Mt.8:20), e O discípulo
não está acima do seu mestre, nem o servo, acima do seu senhor. (Mt.10:24 )
Uma aventura perigosa,
adversários surpreendentes, perigos inesperados. A igreja foi posta a caminho,
havia líderes capazes – às vezes mais, às vezes menos capazes, havia fiéis e
pessoas desejosas de adorar a Deus, mas várias vezes parecia tudo perdido.
Muitas vezes cristãos tiveram a sincera impressão de que com sua geração tudo
acabaria. Fora um sonho lindo, mas no futuro nada se saberia desta fé que os
movera, a arqueologia, pensavam, um dia irá desenterrar cemitérios com cruzes
sobre os túmulos e ninguém mais se lembraria da preciosidade que é a fé em Jesus
Cristo.
Quais foram os maiores
perigos? Perguntando doutro modo:
>> Qual é a
característica da fé no mundo judeu? Como se percebe que alguém tem fé? O que
acontece quando um judeu crê? àEsta pessoa passa a agir conforme o que a fé lhe
ensina. Pela mudança da trajetória de seu cotidiano. Porque o judeu crê, ele
pratica sua fé e obedece fielmente aos 615 mandamentos. Ele não fica teorizando
e teologizando a este respeito. Se Deus proíbe misturar carne com leite, então
ele obedece, compra dois conjuntos de louça e jamais usa leite naquela louça
destinada à carne. Jamais ofereça Strogonoff para um judeu.
Quando esta fé agora faz uma >> migração
para uma nova cultura >> ela não vai
permanecer do jeito que está. A nova cultura vai fazer uma releitura desta fé e
de seus postulados e enxergar alí verdades e fatos nunca vistos a partir da
cultura israelense, e porque todas as culturas foram pervertidas pelo pecado a
nova cultura vai introduzir elementos na fé cristã, inexistentes
anteriormente.
O que portanto acontece quando a fé cristã migra para dentro da
cultura grega? Os gregos adoram a especulação filosófica e não se
preocupam tanto com as conseqüências práticas das novas teorias que andam em
suas cabeças. Por isto os coríntios se convertem à fé cristã, mas continuam sua
vida devassa. Curtem as novas experiências espirituais e intelectuais, mas
muitos não imaginam que isto tenha algo a ver com a vida cotidiana. O cristianismo acabou profundamente
impactado em sua passagem pela cultura grega e saiu de lá transformado e
transtornado.
A próxima estação será a cultura romana. Roma, a cidade cuja
habilidade político-jurídica e burocrática tornou-a capaz de dominar o mundo, se
apropria do cristianismo e não o deixa igual. E em que sentido ela enriqueceu e
distorceu a fé cristã? Não perca a respectiva aula!
A próxima migração cultural ameaçou ainda mais a fé cristã: a passagem
pelos países de cultura germânica (Inglaterra, Alemanha, Suiça, etc). E
qual está sendo o impacto causado pelo Brasil sobre o Evangelho? Estamos
fazendo bem ao evangelho ou ele também está sendo seduzido pelas artimanhas de
nossos jeitinhos? Este conteúdo é estudado na Faculdade Fidelis nas disciplinas
de Cultura
Brasileira
e História
da Igreja Cristã no Brasil.
A passagem do evangelho pelas diferentes culturas está cercado de perigos
que podem desfigurá-lo. Está rodeado de potencialidades fantásticas que podem
desvendar facetas até então nunca vistas. Tenha certeza que o dia que os
ianomamis compreenderem o evangelho da cruz eles irão enriquecê-los com
interpretações inesperadas.
>>
Qual
o efeito das perseguições sobre o cristianismo?
>> Quem tem a ilusão de que as
perseguições sempre purificam o cristianismo dos cristãos falsos será
surpreendido pela história da igreja. As perseguições tem o poder de intimidar
os cristãos e dificultar o diálogo entre eles, retirando o efeito corretivo que
um grupo exerce sobre o outro. (Episódio: batismo de
adultos entre os menonitas no regime soviético). O estado totalitário também
tem um poder insuspeitado de seduzir e constranger os cristãos a agir assim que
sua consciência fique comprometida, p.ex. ameaçando suas famílias de modo que se
torna quase impossível o cristão permanecer de consciência limpa perante Deus
(Leia a este respeito os livros de A. Solschenizyn
“Arquipélago Gulag” e de Irmão André “O Contrabandista de
Deus”!)
>>
A igreja oficializada pelo estado. >> Depois de séculos de
perseguição a igreja cristã foi tornada a única igreja permitida no Império.
Memorize a data: 313! Os cristãos respiraram aliviados, certos de que a
mão de Deus guiara o imperador Constantino a adotar a fé cristã. E poucos
perceberam que este era o abraço de morte que marcou a igreja nos próximos 1.200
anos e a perverteu profundamente. Os valdenses primeiro e os anabatistas, em
1525, são os grupos que passam a enxergar o absurdo da união estado-igreja e a
pagar com seu sangue a necessidade de lutar pela separação da igreja do
estado.
>> Em 622 surge uma nova religião que em
apenas 100 anos conquista 70% do espaço onde antes moravam os cristãos.
>> Será que a fé cristã vai
resistir ao avanço desta religião que conseguiu uma sintonia perfeita com seu
povo e em pouco tempo converteu por bem ou pela espada toda a África do Norte, a
Palestina, a Turquia, Portugal e Espanha? Somente 700 anos mais tarde os
cristãos conseguem retomar uma parte do território conquistado pelos
muçulmanos.
Mas a maior ameaça ainda não
foi nomeada. Aquela que por diversas vezes conseguiu realmente virar a igreja
cristã de ponta cabeça: >> Heresia.
>> Por que ela é tão perigosa? Porque ela
vem de dentro da igreja e inicialmente parece ser apenas uma interpretação mais
interessante do evangelho. Foi isso que aconteceu p.ex. com o arianismo.
Ário descobriu um “novo” evangelho, um evangelho que foi imediatamente
compreendido e adotado por 90% da igreja cristã. A Bíblia afirma que Jesus é
filho de Deus e como tal, segundo Ário, Jesus só pode ser uma criatura criada
por Deus. E como criatura os crentes passaram a ver Jesus de modo muito mais
humano e mais próximo deles. Em pouco tempo todos adotaram esta interpretação e
Atanásio, o único bispo a permanecer no evangelho “antigo”, teve que fugir para
o deserto para não ser morto.
Por que as heresias são tão perigosas? Elas são interpretações apenas
levemente diferentes, mas que levadas às últimas conseqüências viram o evangelho
do avesso. E a perversão do evangelho na heresia é tão sutil e sincronizada com
a cultura local que é comum pastores e denominações inteiras acabarem sucumbindo
a elas. Com tristeza tenho visto estudantes concluírem o curso de teologia e não
perceberem que o evangelho da cruz é o contrário do evangelho novo que promete
prosperidade, sombra e água fresca aos espertos que tiverem aprendido a
constranger Deus com “técnicas” de
oração, truques de fé, que O obrigariam a agir conforme à vontade do crente. A
magia, ou seja, a ilusão de que o ser humano pode forçar Deus a agir a seu
favor, segundo suas vontade carnal, é uma concepção presente em todas as
religiões pagãs e tenta continuamente a se infiltrar no
cristianismo.
>> A dificuldade para compreender
exatamente o que a Palavra quer transmitir >>
As muitas lutas sinceras para realmente entender a mensagem do evangelho. A heresia nem sempre é fruto da safadeza humana em buscar apenas um Deus disposto a conceder vantagens pessoais sem pedir nada em troca. Quantas vezes as pessoas realmente lutaram para saber a verdade mais profunda do evangelho. Por exemplo na questão das naturezas de Cristo: Jesus de Nazaré era 50% Deus e 50% homem? Ou será que ele era um pouco mais Deus do que homem? Há aqueles que acham que Jesus era mais humano do que divino… Mas a verdade é bem outra! Não perca a respectiva aula!
A fé cristã, para chegar até o ano de 2004, teve que vencer muitas
dificuldades. Continuamente ela é pressionada. Grande é o engano daqueles que
pensam que o Brasil por não ameaçar o evangelho com a espada não esteja tramando
a subversão do evangelho da cruz. Acompanhe o curso e veja as tempestades que o
evangelho já enfrentou e esteja prevenido para ser mais um soldado que vai
defender a ortodoxia, a fé que deseja o evangelho autêntico e topa pagar o preço
para legar às futuras gerações a fé em Jesus conforme …………
Questões
decorrentes do estudo do livro
Por que a história da igreja
é importante para os cristãos? Porque o cristianismo é
uma religião histórica. Diferente de outras crenças, Jesus não é um pensamento
ou uma idéia, mas uma pessoa, ele é Deus que se tornou homem num certo momento
da história da humanidade. (Veja a resposta de Cairns na
pág. 13!)
O que é
história?
Segundo Cairns: 1o É um acontecimento (em alemão: “Geschichte
kommt von Geschehen”), evento único que não se repete de modo igual.
2o É uma informação a respeito de um acontecimento que
necessita de 3o uma investigação, de uma pesquisa para checar
os respectivos dados. 4o É uma interpretação, uma reconstrução
do que poderia ter acontecido. Assim sendo ela é sempre uma perspectiva muito
pessoal de cada historiador.
Cada geração tende a reescrever a história, pois há dados novos e
interpretações diferentes dos fatos que permitem uma nova visão. Isto vale
também para a fé cristã e a pessoa de Jesus de Nazaré. Jesus nunca mudou, mas
nenhuma geração o compreendeu plenamente e por isso é preciso interpretá-lo
novamente a cada nova geração.
O que influencia a
interpretação da história da igreja? >>A filosofia do
historiador. Cairns apresenta três tipos: 1o A perspectiva
pessimista. Veja o exemplo apontado na pág. 15! Será que Spengler não tem
razão? 2o A perspectiva otimista: o homem é visto como o fator
determinante da história. O progresso acontece por um processo. Olhando para
trás, não é fato que a humanidade evoluiu muito? Então estes historiadores
teriam razão. 3o A perspectiva otimista pessimista. Cairns se
vê incluído neste grupo. “Estes procuram encontrar a glória de Deus no processo
histórico. A história torna-se um processo de conflito entre o bem e o mal,
entre Deus e o Diabo, no qual o homem não tem qualquer esperança fora da graça
de Deus. A obra de Cristo na Cruz é a garantia final da vitória certa do plano
divino para o homem e para a terra, quando Cristo retornar. O curso da história
humana tem o seu centro na Cruz” e Deus é o Senhor da história, apesar da sua
escrita não ser para nós o tempo inteiro legível.
Qual é o valor do estudo da
história?
1o É de extrema
importância compreender o processo de transformação que a igreja sofreu no
passado para compreendê-la adequadamente no presente e estar prevenido
sobre seus desenvolvimentos futuros. P.ex.: por que há tantos grupos
religiosos diferentes nos EUA? Por que a Inglaterra foi o berço de tantas
denominações protestantes? Por que metodista se ajoelha (pelo menos nos EUA)
diante do altar para receber a Comunhão e presbiteriano permanece sentado?
Segundo Cairns “o reavivamento wesleyano foi o instrumento que salvou a
Inglaterra de uma revolução semelhante à Francesa” (pg.19) De que revolução a
Inglaterra foi salva? De que jeito? Saiba a resposta a esta questão na próxima
aula!
“O presente é certamente o
produto do passado e a semente do futuro”. É praticamente impossível uma nova
heresia hoje em dia que não seja apenas a reedição de uma heresia que já tentou
a igreja cristã no passado. Quem, no entanto, desconhece as heresias do passado
está fadado a não reconhecê-las em seus disfarces
“modernos”.
2o O conjunto de
práticas de fé e afirmações teológicas que nos são preciosas hoje, apesar de
calcadas na Bíblia, não estavam conscientemente presentes na Igreja Primitiva.
Elas são o resultado da busca incessante do povo de Deus em adorá-lo e
compreendê-lo melhor. Quais doutrinas, segundo Cairns, nós não
entenderíamos hoje sem o estudo da história da igreja?
4o Os exemplos
dos heróis da fé podem servir de estímulo e inspiração. Heranças não
se transferem geneticamente. É preciso se apropriar conscientemente delas. Uma
vez estudada a história da igreja, ela vai lançar raízes que permitem ao cristão
não soçobrar na tempestade e não se deixar levar pelos ventos de qualquer
teologia “nova”. Cairns fala que é “bom o cristão tornar-se consciente de sua
genealogia espiritual” (pg.18). O que ele quer dizer com isto?
5o “Quem
estuda a história da Igreja jamais se isolará em sua denominação”, segundo
Cairns. Ele abandona a perspectiva sectarista, bairrista, de achar que apenas a
sua igreja é que salva, que só a sua igreja teria um evangelho perfeito. Por
que?
Como dividir a história da
igreja?
A. Em sua relação com o
estado
==÷çè
=========÷çè
=================÷çè
============
perseguida
313 aliada
1525 Mov.anabatista,
igrejas estatais ou livres
(perseguida pelo estado,
aliada do estado, independente do estado)
B. Em seus grandes
cismas
===================֍=========֍============
1054 d.C.
1517d.C.
I. 1054 divisão da igreja
cristã em Igreja Católica Ortodoxa (oriental e grega) e
Igreja Católica Romana
(ocidental e latina)
II. 1517 divisão da Igreja
Católica Ocidental em Igreja Católica Romana (latina)
e
Igreja Protestante (germânica)
C. Observando a língua
falada e portanto a cultura dominante
1o A língua e a
cultura grega, até 400 depois de Cristo
2o A língua e a
cultura latina de 400 a 1517
3o Igreja
plurilingue de 1517 em diante
è===============÷çè================÷çè=========
língua grega
cerca 400 Latim 1517 plurilingue
D. Segundo os
acontecimentos da história secular
=======÷çè==============÷çè==============÷çè============÷çè===
313
496
800
1517
Constantino
Clóvis, Rei dos Francos Coroação
de Carlos Magno
Reforma
Protestante
protege e usa é batizado, protetor da
igreja o maior imperador
países germânicos
a igreja
(fim do Império Romano) conflito papa x
imper. se
libertam de Roma
=======÷çè==============÷çè==============÷çè============÷çè===
1789
1918
1989
11/09/01 ?
Revolução Francesa
desilusão quanto à
Muro de Berlim
a razão é entronizada
capacidade humana de Pós-modernismo,
e a supremacia da
“progredir” E domínio
globalização
igreja é contestada
mundial norte-americano começa,
também nas
missões.
É possível ler a história da
Igreja sob a perspectiva geográfico/política, social. A geografia e a
política tiveram influência no surgimento das igrejas?
1. Católica
Ortodoxa
(Oriental )(vide subdivisões )
2. Católica
Romana
(Ocidental) (quando havia somente Roma e colônias
emergentes)
3. Protestante (germânica em contraposição
ao mundo românico/latino)
Divisões da protestante:
·
luterana è
alemã e
escandinava
·
reformada è
Suíça = único país independente do
Império Germânico (a religião foi frequentemente instrumento para se diferenciar
de um dominador exterior à
razão política.
Polônia (católica romana para se
diferenciar da Luterana alemã e da Ortodoxa russa). Irlanda (católica romana para se
diferenciar da Anglicana inglesa e da Reformada escocesa)
·
Reformada: huguenotes
(mercadores, ofícios livres e pequena burguesia) (França)
·
anglicana è igreja oficial Inglaterra
(um pouco protestante para se distanciar de Roma)
·
igrejas
livres
surgem na Suiça com o anabatismo, mas se multiplicam na Inglaterra. São os
países em que mais forte era a democracia, isto é, o respeito à vontade
popular.
·
puritana à Inglaterra, o país mais
democrático do continente
·
à os EUA radicalizam a
democracia e tornam-se a Babel das religiões e movimentos
religiosos
Próxima aula:
02/03/04 Tarefa:
1o Esteja
preparado para responder a um teste rápido a respeito dos assuntos tratados
acima.
2o Leia Cairns
capítulos 1, 3, 4
-
Diz-se que o mundo estava preparado para a rápida propagação do evangelho. O que
favoreceu o crescimento da igreja na época dos apóstolos?
- A
igreja nasceu dentro do judaísmo. O que os cristãos aproveitaram do judaísmo
para propagar sua fé?
- Quais
são os méritos da igreja de Antioquia?
- Qual foi o motivo do Concílio de Jerusalém? Quais foram as conseqüências?
3o Que
argumentos há sobre a historicidade de Jesus? Os melhores que eu
encontrei até hoje são de Josh McDowell, no livro Mais que um
carpinteiro. Este pode ser um dos dois trabalhos que Você fará durante este
semestre. O primeiro trabalho deverá ser entregue até a última aula de abril,
quando também faremos uma prova descritiva. O 2o trabalho deverá ser
entregue até a última aula do semestre, quando faremos uma prova que englobará a
matéria de todo o semestre.
Somente estudantes de 1o semestre podem contar com a “graça”
da imperfeição na elaboração dos trabalhos e na entrega atrasada com uma “boa
desculpa”. Os outros já sabem que desculpas como “o computador emperrou no
último momento”, não são razoáveis. Prefira, portanto, entregar antes do prazo
do que com atraso! Trabalhos que por ventura sejam entregues com atraso
precisarão pagar um “pedágio” a cargo da decisão do professor, como por exemplo
serem reescritos incluindo mais uma fonte de consulta e exigindo assim um
dispêndio de tempo ainda maior.
4o Toda aula
haverá um teste rápido sobre o assunto tratado na aula anterior. Ele será
corrigido na própria sala de aula e tem o objetivo de revisar a matéria estudada
e fixá-la melhor. Atenção: Para cada teste não feito será lançado nota
zero, inclusive nos dias de ausência. No final do semestre
desconsiderei 5 zeros. Os outros entrarão na composição de uma das notas da
disciplina.
História de um dos primeiros
mártires da História da Igreja:
Policarpo, bispo de Esmirna, viveu no
segundo século d.C., de jovem ainda ouviu o testemunho de pessoas que tinham
conhecido o apóstolo João. Sabe-se de uma viagem sua a Roma em torno do ano de
155.
Vide biografia
http://www.geocities.com/Athens/Aegean/8990/martpol0.htm
Seguem em attach
- O texto da aula de hoje
- o texto sobre os Evangélicos
Até daqui duas semanas!
Prof. Udo